Você está na página 1de 3

“D.

Dinis” - Mensagem, obra de Fernando Pessoa


Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,


Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Herói do poema:

 D. Dinis foi o sexto rei de Portugal, nasceu em 1261 e reinou o país de


1279 a 1325, ano da sua morte, tendo governado Portugal durante 46
anos.
 Enquanto rei, D. Dinis assinou o Tratado de Alcanises com Castela em
1297, tratado de paz que definiu os limites do território continental
português.
 Este rei tinha o cognome “O Lavrador” devido ao seu interesse na
agricultura e na promoção de políticas para o desenvolvimento económico
do país, tendo mandado plantar o pinhal de Leiria, que futuramente seria
utilizado para a construção das naus utilizadas nos Descobrimentos
Marítimos Portugueses.
 Para além deste, tinha outro cognome, “O Trovador”, pois era
reconhecido como um monarca culto, patrono das artes e da literatura,
tendo promovido o desenvolvimento da poesia lírica em língua galego-
portuguesa, pioneira do português moderno.

Análise Temática:

D.Dinis é um poema da obra Mensagem, escrita por Fernando Pessoa, e


encontra-se na primeira parte da obra que é intitulada de “Brasão” e este poema
é o sexto da subparte “Os Castelos”.

O poema é dividido em 2 partes correspondentes às 2 estrofes que o compõem.


Na primeira parte são apresentadas as ações de D. Dinis como poeta e
impulsionador das navegações.

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo


O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

D. Dinis “escreve um seu Cantar de Amigo” (v.1), ou seja, as suas cantigas de


amigo, e é dos primeiros a fazê-lo na nova língua que nasce com Portugal,
remetendo para o seu cognome “o Trovador”, que é um poeta de origem nobre
que canta poesia lírica.

Ele é também “plantador de naus a haver” (v.2), remetendo para o seu cognome
“O Lavrador” e para o seu caráter visionário, pois é aqui que temos o primeiro
indício de que
D.Dinis é o herói que ignora a sua própria missão, que, sem saber, planta a
madeira que servirá para construir as naus. Ao mandar plantar o pinhal de Leiria,
D. Dinis antecipa o futuro, mesmo que não o saiba.

Sendo que o que vai acontecer é um mistério, ele só “ouve um silêncio múrmuro
consigo: / É o rumor dos pinhais” (vv. 3 e 4), isto significa que ele pressente um
futuro que nascerá dos pinhais que plantou que darão origem a um grande
Império.

A expressão “ouve um silêncio múrmuro consigo”, realça a atitude pensativa do


rei que ao escrever a sua cantiga de amigo pressente já a epopeia marítima dos
portugueses, e a expressão “rumor dos pinhais” sugere que esse sussurrar
pressentido por D. Dinis era a fala misteriosa dos pinhais que já se mostravam
importantes na imaginação do rei-poeta.

São esses pinhais que “como um trigo / De Império, ondulam sem se poder ver”
(vv. 4 e 5). Aqui o poeta utiliza uma comparação para comparar os pinhais a
campos de trigo à espera de serem colhidos para fazer pão e esse pão são as
naus que farão nascer os Descobrimentos. Conseguimos perceber ainda melhor
esta comparação devido à utilização do verbo “ondulam” que se associa ao
termo “ondas”, associado ao mar onde estes Descobrimentos irão acontecer.
A segunda parte relaciona-se com a pátria e ao que esta enfrentará com os
Descobrimentos.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,


Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

O sujeito poético vê Portugal como um país “jovem e puro”(v.6) na sua veia


poética, como um “arroio”, ou seja, uma pequena corrente de água que, assim
que nasce, busca o mar tal como o destino glorioso de Portugal se encontrará
no mar, no “oceano por achar”(v.7).

Em seguida “a fala dos pinhais” (v.8) é comparada ao barulho ainda incerto do


mar, “marulho obscuro” (v.8), sendo que este barulho é já “o som presente desse
mar futuro” (v.9) havendo um paradoxo reforçando a ideia de que mesmo que a
descoberta do mar seja algo incerto, é o futuro dos portugueses.

O último verso do poema “É a voz da terra ansiando pelo mar.” (v.10) é uma
conclusão que mostra que os portugueses vão deixar o seu passado (a terra) e
ir de encontro ao seu futuro (o mar).

Mensagem e Lusíadas:

Em Mensagem, D. Dinis é importante pois dá importância à poesia e é capaz de


prever o futuro, sem o saber, uma vez que terá sido outro instrumento da
intervenção divina, o que podemos perceber através das suas ações, como o
pinhal de Leiria que foi bastante importante para a construção das naus utilizadas
nos Descobrimentos, o que fez com que o sujeito poético sentisse necessidade
de o integrar na sua obra

Intertextualidade: N’Os Lusíadas, D. Dinis é um rei pacífico que fundou a


Universidade de Coimbra e renovou o país.

Você também pode gostar