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Etapa Ensino Médio Língua

Portuguesa

A obra de Camões
– Épica II
1ª SÉRIE
Aula 24 – 3º Bimestre
Conteúdo Objetivos

● A épica camoniana – Os ● Compreender e analisar uma


Lusíadas. obra fundamental do cânone
ocidental.
● A estrutura formal da obra.
● Analisar a estrutura do poema
épico Os Lusíadas.
Para começar
Técnica LEMOV:
Puxe mais

A imagem ao lado reproduz uma página do


jornal O Estado de S. Paulo, de 26 de julho
de 1974. Nele há a reprodução do Canto I,
da obra Os Lusíadas, de Luís Vaz de
Camões.

Por que a obra está reproduzida? Quais


são as suas hipóteses a respeito?
Para começar
Técnica LEMOV:
Puxe mais
A imagem ao lado reproduz a página
original do jornal, que foi censurada.
Por isso colocou-se a reprodução de
uma obra literária, no caso Canto I de
Os Lusíadas, que sinalizava para o
público leitor que havia algo que não
poderia ser publicado, por
determinação dos órgãos de censura
da época. Essa questão será retomada
no “Aplicando”.
Foco no conteúdo
Os Lusíadas
Os Lusíadas trata da descoberta do caminho das Índias por Vasco
da Gama, em uma viagem de dois anos, 1497-1498, concretizando
um sonho acalentado por Portugal durante muito tempo. Nesse
sentido, Vasco da Gama não é um herói épico tradicional: ele é
símbolo de todo um povo; é, ao mesmo tempo, um herói individual e
coletivo. Na verdade, o personagem central do poema é o povo
português, o “peito ilustre lusitano”.
O título Os Lusíadas significa os lusitanos, os lusos, aqueles cujas
façanhas heroicas, glorias, vitórias e derrotas, pelos mares e pela
história, a epopeia camoniana celebra.
Foco no conteúdo
A viagem de Vasco da Gama é o pretexto para que seja narrada a
história de Portugal, desde a formação do Estado independente até o
governo de D. Manuel, quando sai a frota, por “mares nunca dantes
navegados”. Mesclada à história de Portugal, Camões introduz uma
série de outros assuntos: o afastamento da Pátria, o enfrentamento
do desconhecido, os perigos do mar, episódios lírico-amorosos (por
vezes com o amor tratado como um ser superior, divinizado),
descrições de batalhas etc., entremeados pelo maravilhoso pagão:
os deuses do Olimpo dividem-se e disputam as naus que singram o
oceano.
Foco no conteúdo
No que se refere à estrutura narrativa, o poema é formado por dez
cantos, divididos em cinco partes, como nas epopeias clássicas.
Estrofe 1
Proposição: é a
As armas e os barões assinalados
apresentação do
Que, da Ocidental praia Lusitana,
poema, parte em que o
Por mares nunca dantes navegados
autor se propõe à
Passaram ainda além da Trapobana
tarefa de realizá-lo,
Em perigos e guerras esforçados
destacando o tema e o
Mais do que prometia a força humana,
herói. São as estrofes
E entre gente remota edificaram
1, 2 e 3 do Canto I.
Novo Reino, que tanto sublimaram
Foco no conteúdo
Invocação: o poeta invoca as musas para que o auxiliem na
empreitada, recorre às Tágides, ninfas do rio Tejo, pedindo-lhes
inspiração e força,
engenho, arte e estilo Estrofe 4
adequados à grandeza E vós, Tágides minhas, pois criado
da tarefa proposta. São Tendes em mim um novo engenho ardente
as estrofes 4 e 5 do Se sempre, em verso humilde, celebrado
Canto I. Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
Foco no conteúdo
Dedicatória: as epopeias eram geralmente dedicadas a uma
personalidade poderosa. Camões dedica sua obra a D. Sebastião, rei
de Portugal à época da publicação da obra, em 1572. São as estrofes
6 a 18 do Canto I.
Estrofe 15
E enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que pelo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras, e do Oriente os mares,
Foco no conteúdo
Narração: (estrofes 19 do Canto I até 144 do Canto X) – o poeta
desenvolve o tema, narrando as peripécias da viagem e a história de
Portugal.
Canto I, estrofe 19
Já no largo oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
De branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Foco no conteúdo
Epílogo: o poeta justifica o fim do poema, num tom melancólico, que
contrasta com o anterior, pois ele já vislumbra o fim das glórias de
Portugal, perdidas no gosto da cobiça e da rudeza. São as estrofes
145 a 156 do Canto X.
Estrofe 145
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dua austera, apagada e vil tristeza
Foco no conteúdo
Estrutura formal
Camões optou por um tipo de estrofe chamada oitava real, isto é,
estrofe de oito versos, com um esquema de rimas que se repete 1.102
vezes ao longo do poema: A – B, A – B, A – B, C – C.
O verso utilizado é o decassílabo heroico: dez sílabas, com cesura na
6ª e 10ª sílabas. É o verso preferido dos poetas portugueses do século
XVI porque, sendo mais longo, é muito mais flexível, prestando-se a
maior variedade de combinações que a redondilha (medida velha).
No total, Os Lusíadas contém 8.816 versos decassílabos, divididos em
1.102 estrofes. Veja um exemplo do esquema de rimas a seguir.
Foco no conteúdo
As armas e os barões assinalados A
Que, da Ocidental praia Lusitana, B
Por mares nunca dantes navegados A
Passaram ainda além da Taprobana, B
Em perigos e guerras esforçados A
Mais do que prometia a força humana, B
E entre gente remota edificaram C
Novo Reino, que tanto sublimaram C

Os versos 1, 3 e 5 apresentam palavras que rimam, ou seja, que


apresentam uma sonoridade comum:
assinalados/navegados/esforçados. O mesmo acontece com os
versos 2, 4 e 6, e com os versos 7 e 8.
Foco no conteúdo
Canto III – Episódio Inês de Castro
Camões não é o único nem foi o primeiro a dar tratamento literário à
história de Inês de Castro, mas a sua versão paira sobre todas as
outras, anteriores ou posteriores. Vários fatores concorrem para que o
episódio seja um dos mais admirados de Os Lusíadas: a pungência da
história, devida tanto à piedade que inspiram Inês e seus filhos quanto
ao amor constante, inconformado e revoltado de D. Pedro; a gravidade
da questão envolvida, que opõe o interesse pessoal e os interesses
coletivos (a “razão de Estado”); e, finalmente e sobretudo, o encanto
lírico de que Camões cercou a figura de Inês, a quem atribui longo e
eloquente discurso, impondo-a como um dos grandes símbolos
femininos da literatura, e não só da literatura de língua portuguesa.
Foco no conteúdo

A Crônica d’el rei D. Pedro, de Fernão Lopes, narra um dos episódios


mais terríveis da História portuguesa, retomado no Canto III, da
obra Os Lusíadas, de Camões, o episódio de Inês de Castro. D.
Pedro era tomado de amores pela bela Inês de Castro, de origem
castelhana e com ela tinha um relacionamento e filhos. Temeroso
que esse romance pudesse trazer problemas para a sucessão
portuguesa, o pai de D. Pedro manda assassiná-la. Esse episódio faz
parte do imaginário popular português, tendo sido citado em muitas
obras literárias e dado origem à expressão “Inês é morta”, que
significa “não adianta mais”.
Na prática

(Fuvest – SP) VOCABULÁRIO


Tu, só tu, puro amor, com força crua, molesta: lastimosa; funesta.
Que os corações humanos tanto abriga, pérfida: desleal; traidora.
Deste causa à molesta morte sua, fero: feroz; sanguinário;
Como se fora pérfida inimiga. cruel
Se dizem, fero Amor, que a sede tua mitiga: alivia; suaviza;
aplaca
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
ara: altar; mesa para
E porque queres, áspero e tirano,
sacrifícios religiosos
Tuas aras banhar em sangue humano.
(Camões. Os Lusíadas. Episódio de Inês de Castro.)
Na prática

a) Considerando-se a forte influência da cultura da Antiguidade


clássica em Os Lusíadas, a que se pode referir o vocábulo
“Amor”, grafado com maiúsculas no 5º verso?

b) Explique o verso “Tua aras banhar em sangue humano”


relacionando-o à história de Inês de Castro.
Na prática Correção

a) Considerando-se a forte influência da cultura da Antiguidade


clássica em Os Lusíadas, a que se pode referir o vocábulo
“Amor”, grafado com maiúsculas no 5º verso?
A maiúscula inicial de Amor deve-se à personificação, ou
melhor, divinização do sentimento amoroso. Trata-se de
uma alegoria, corrente na Antiguidade e retomada por
poetas classicizantes como Camões. O amor, na tradição
literária, aparece seja divinizado ou personificado, seja
transformado em força cósmica, como também ocorre em
Camões.
Na prática Correção
b) Explique o verso “Tua aras banhar em sangue humano”
relacionando-o à história de Inês de Castro.
O último verso da estrofe transcrita significa que Amor, não
contente com as lágrimas que faz os amantes verterem,
exige mesmo que seus altares (“aras”) sejam banhados
com o sangue de suas vítimas, tal como deuses em cujo
culto se sacrificavam não só animais, como também
pessoas. No caso da história relatada por Camões, Amor
teria sido homenageado com o sangue de Inês, como se o
sacrifício da amante de D. Pedro fosse uma exigência
daquele deus perverso.
Técnicas LEMOV:
Aplicando Todo mundo escreve +
Hábitos de discussão
Luís Vaz de Camões tornou-se um ícone cultural sob diversos aspectos,
sendo citado e homenageado em diversas manifestações culturais.
Considerando essa afirmação, em duplas ou trios, retomem as
discussões realizadas no início da aula e façam uma busca online em
sites de pesquisa, tendo em conta a seguinte citação: “O poema de
Camões ficou no imaginário coletivo como lembrança de um tempo em
que os cortes dos censores promoveram sua publicação. Restou como
símbolo de resistência”.
A que ela se refere, qual é o período histórico e a importância da obra de
Camões nesse contexto?
Anotem os resultados de suas pesquisas e elaborem um texto expositivo
de no máximo 15 linhas com as informações levantadas pela turma.
Técnicas LEMOV:
Aplicando Correção Todo mundo escreve +
Hábitos de discussão

2) A citação mencionada na questão é da historiadora


paulista Maria Aparecida d’Aquino, publicada na
dissertação de mestrado Censura, Imprensa, Estado
Autoritário (1968-78). No período do regime militar
no Brasil, a censura aos órgãos de imprensa fez
alguns jornais tentarem fazer com que seus leitores
percebessem que havia conteúdos sendo censurados.
Uma das estratégias encontradas foi preencher os
espaços das matérias censuradas com poemas de
Gonçalves Dias, Cecília Meireles, Olavo Bilac, Manuel
Bandeira.
Técnicas LEMOV:
Aplicando Correção Todo mundo escreve +
Hábitos de discussão

No dia 2 de agosto de 1973 saiu um trecho do épico Os


Lusíadas, de Luís de Camões. Chamou tanto a atenção que o
jornal decidiu manter a receita. Entre 1973 e 1975, a obra
Os Lusíadas foi publicada outras 660 vezes, tornando-se um
símbolo de resistência.
O que aprendemos hoje?

● Compreendemos e analisamos uma obra fundamental


do cânone ocidental.
● Analisar a estrutura do poema épico Os Lusíadas.
Tarefa SP
Localizador: 98331

1. Professor, para visualizar a tarefa da aula, acesse com


seu login: tarefas.cmsp.educacao.sp.gov.br
2. Clique em “Atividades” e, em seguida, em “Modelos”.
3. Em “Buscar por”, selecione a opção “Localizador”.
4. Copie o localizador acima e cole no campo de busca.
5. Clique em “Procurar”.

Videotutorial: http://tarefasp.educacao.sp.gov.br/
Referências
ABAURRE, M. L.; Pontara, M. Literatura: tempos, leitores e leituras.
2. ed. São Paulo: Moderna, 2010.
AQUINO, Maria Aparecida. Censura, Imprensa, Estado Autoritário
(1968-78). Dissertação de Mestrado. USP. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012023-
195651/pt-br.php. Acesso em: 21 jun. 2023.
MOISÉS, Massaud. A literatura Portuguesa através dos textos.
14. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Literatura em contexto: a arte literária
luso-brasileira. Ensino Médio – volume único. São Paulo: FTD, 2012.
SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria da Educação. Currículo Paulista
do Ensino Médio. São Paulo, 2020.
Referências
Lista de imagens e vídeos
Slides 3 e 4 – http://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,dia-
nacional-da-liberdade-de-imprensa-acervo-estadao-preserva-paginas-
marcadas-pela-censura,70004086704,0.htm
Material
Digital

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