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AGRUPAMENTO

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS
DE ESCOLAS D. CARLOS
FERREIRA I
DE CASTRO Português – 8.º ano
Escola Básica Ferreira
D. CarlosdeI Castro 2020/2021
2022/2023
Nome: __________________________________ N.º: ____ Turma: ____ História Breve da Lua
de António Gedeão

Auto em 1 quadro

Ilustrações de Maria Zulmira Oliva

[Texto da contracapa]

Decerto já não te lembras da sensação do maravilhoso que experimentaste quando, pela primeira
vez, olhaste a Lua que se ergue no céu. A Lua, no seu esplendor, é um feitiço que justifica o lugar de
relevo que a Poesia lhe tem concedido. Mas é também um objeto físico e, como tal, motivo de interesse
para os estudiosos da Natureza. Neste auto que vais ler (e por que não representar?), o Autor imaginou
para ti uma história divertida em que Poesia e Ciência dão as mãos.

FIGURANTES

NARRADORA
CAMPONÊS
SENHOR DO MUNDO
JERÓNIMO
AGAPITO
ASTRÓNOMO
RAPARIGA

A cena representa uma paisagem campestre,


arborizada, à hora em que a Natureza emerge do sono
noturno, permanecendo o céu ainda estrelado. Nesse
céu, que deverá observar-se numa ampla superfície, a
Lua está ausente e apenas deverá aparecer no
momento exato em que o texto o indica.

Ouvem-se cantos de aves.

Quando a cena se inicia estará presente a Narradora,


mulher nova e insinuante, de face para os espetadores.
Silêncio.
1
NARRADORA

Vou contar-vos uma história Ó mãezinha, tu já viste

que espero que vos agrade. a Lua como está suja?

A história não tem idade; Parece que tem ‘ma c’ruja,

vem de tempos recuados uma vaca ou lá o que é!

conservada na memória Gostava de a ver ao pé.

dos nossos antepassados. E tu, mãe?

Ainda eu era pequena, De que te riste?

mas recordo-me tão bem!


Das tuas suposições.
de estar com a minha mãe
Não é c’ruja nem é vaca,
em certa noite serena,
nem macaco nem macaca,
eu, aconchegada a ela,
nem nada do que supões.
ela, aconchegada a mim,
olhando pela janela Contou então minha mãe,
o firmamento sem fim. sempre bondosa e amiga
No profundo céu estrelado a tal história muito antiga
subia o disco da Lua que vou contar-vos também.
como um balão prateado Diz essa história que outrora
enquanto um gato, na rua, a superfície da Lua
miava de rabo alçado. não era como é agora.

(À medida que a Narradora fala vai-se elevando no céu, muito lentamente, uma enorme Lua cheia,
impecavelmente branca, sem manchas.)

Mostrava-se então polida, mexia as pernas, andava,


branquinha, macia e nua abria a boca, falava,
como uma prata estendida. que até par’cia impossível!
Assim era, até que um dia,
É claro que isto é ‘ma história.
por milagre ou por magia, E essa história também diz
tudo num sopro mudou. quem foi o desinfeliz
A superfície esmaltada que teve a suprema glória
apar’ceu toda manchada de ser o primeiro na Lua.
e assim, p’ra sempre, ficou. Ó que sorte malfadada!
Uma enorme mancha escura Mas a história continua
representava a figura a ar oda acabada.
Pois lá vai.
de uma humana criatura, Era uma vez
perfeitamente visível: o pobre de um camponês…
era um homem que lá estava, 2
(Simultaneamente com as últimas palavras da Narradora entra o pobre Camponês. Caminha curvado ao
peso de um molho de lenha, para e retoma o passo. Ouvem-se vozes alegres de aves, na alvorada,
enquanto o céu continua a cintilar de estrelas. O pobre Camponês para a descansar.)

CAMPONÊS
Ó miséria derradeira! Ando a apanhar garavatos
Anda um pobre como eu por essas serras além
a fossar a vida inteira e só recebo maus tratos
p’ra não ter nada de seu! sem carinhos de ninguém.
Ó triste da minha vida! Fui assim desde criança.
Ó pesar do meu viver! Sem culpa já nasci torto.
Tanta gente bem comida Agora, perdida a esp’rança,
e eu sem nada p’ra comer! só me resta cair morto.

(Entra o Senhor do Mundo, exuberante, sacudido e dominador, o rosto quase invisível pela abundância
de barbas e de cabelo. Entra, de sandálias, com passos largos e apressados, como quem tem muito que
fazer. A entrada do Senhor do Mundo é anunciada por um ribombar de trovões, que logo amedronta o
Camponês, e durante a sua presença em cena ouve-se continuadamente um rumor de trovoada.)

SENHOR DO MUNDO (estacando ao encarar com o Camponês, e recuando num pulo)


O quê? Que vejo? Que é isto?
(pausa de espanto)
Que é que tu fazes aqui?
CAMPONÊS (tremendo)
Senhor! Senhor!
SEN. (escarninho)
Pelo visto
não te arreceias de mi!
CAM . (na mesma)
Senhor!
SEN. (irado)
Não há cá senhores!
Agora te chega o medo?
Não sabes que não concedo
nem piedade nem favores
aos humanos pecadores,
e que mais tarde ou mais cedo
pagarão com suas dores?
P’ra ninguém isto é segredo. 3
CAM . (sempre aterrorizado) SEN. (irado)
Senhor! Só por esta vez! Pois que é que havia de ser!?
Tende de mim compaixão! (com dignidade)
Sou um pobre camponês Essa Lua que além vês
que anda a ganhar o seu pão! irá ser tua morada.
SEN. (sempre irado) CAM. (aflito)
Para ganhares o teu pão tens a Senhor! Só por esta vez!
semana contigo. Não merece Sou um pobre camponês!
compaixão SEN. Já sei. Não digas mais nada.
quem não respeita o que digo. (mais irado) Procuravas esconder-te
Não sabes que hoje é domingo? Como tal (olha em redor como quem procura o que há
não se trabalha? de decidir. Apontando para a Lua)
Não sabes que eu se me vingo não há mas de mim ninguém se esconde.
ninguém que te valha? Vais ficar num sítio onde
CAM. (patético) toda a gente possa ver-te.
Ó miséria sem futuro! Para sempre na memória
Tristeza do homem pobre! teu exemplo ficará.
Nunca passa do pão duro, Será essa a tua glória.
dos trapos com que se cobre. (bravamente, apontando para a Lua)
Alegria é coisa vã. Já!
Não há esp’ranças que despontem. CAM. (tremendo) Senhor!
Sempre o dia de amanhã SEN. (mais forte) Já!
vem igual ao dia de ontem. CAM. (no máximo do susto) Senhor!
Meu senhor, tende piedade! SEN. (definitivamente) Já!
Se hoje é domingo e aqui ando
(Com o ribombo de um trovão, a cena
não é por minha maldade
escurece quando o Senhor do Mundo
que me oponho ao vosso mando.
pronuncia o ltimo Já Quando a cena de
É tudo necessidade.
novo se ilumina, o Senhor do Mundo e o
Necessidade, até quando?
pobre Camponês desapareceram, e a lua
SEN. (sempre irado)
cheia, no local em que estava, patenteia
Não tenho nada com isso!
agora as suas manchas, onde se evidencia,
Pecaste? Vais ter castigo!
até forçadamente, a figura do pobre
Tenho tudo ao meu serviço
Camponês com o molho de lenha às costas,
e ninguém brinca comigo!
em atitude de caminhante. A Narradora,
O castigo que vais ter
que permaneceu no palco durante toda a
será, p’ra vergonha tua…
cena anterior, volta-se para o público e diz,
SEN. Olha p’ra ali.
apontando para a Lua) 4
CAM. (parvamente) É a Lua.
NARRADORA

E lá está ele, coitado! da letra e do desempenho


E dali ninguém o tira! da história breve da Lua.
O que vale é que é mentira Mas a peça continua.
porque foi tudo inventado. Eu vou lá dentro e já venho.
(pausa) (sai)
Espero que tenham gostado

(Entram dois homens do povo, Agapito e Jerónimo, que logo se percebe virem a discutir a respeito da Lua.
Jerónimo é ignorante; Agapito não é tanto.)

JERÓNIMO Tu és AGAPITO Pois que por burro me tomem


teimoso, Agapito!
mas nisso não acredito.
(apontando a Lua)
Querias tu que fosse alguém
Então não vês que é um homem?
que ali estivesse estampado!
Ó filho da tua mãe!
Eu sou teimoso, está bem,
mas tu és burro chapado.

(Entra o Astrónomo, figura de sábio, bem disposto e divertido, velho, despenteado e simpático.
Transporta um tripé e um óculo comprido que, na altura própria, instalará em cena.)

ASTRÓNOMO Ora vivam, meus senhores!


Uma noite como esta Sou astrónomo, e notável.
não é feita p’ra rancores. Conheço o céu ponta a ponta
‘Stá a Natureza em festa. e os astros todos sem conta
O arzinho cheira a flores. tão bem como o meu nariz.
(noutro tom) JER. (de boca aberta, a Agapito)
Par’ceu-me que discutiam Que é isso de ser astrónimo?
qualquer coisa sobre a Lua. AGA. Não sejas parvo, Jerónimo!
JER. É verdade. (batendo bem as sílabas)
AST. E que diziam? As-tró-no-mo é que se diz.
Se calhar não se entendiam. JER. E isso que é? Não percebo!
AGA. Cada um ficou na sua. AGA. Já foi dito. Não ouviste?
AST. Talvez possa ser prestável Se não percebes, desiste,
com minha sabedoria. não faças papel de gebo.
Dedico-me à astronomia. 5
AST. Mas vamos então lá ver. A luz vem por este lado,
Afinal de que se trata? e é por aqui que se espreita,
AGA. Este cabeça de lata por esta abertura estreita.
não há meio de perceber, E vê-se tudo aumentado.
coitado, não compreende, JER. (aparte, a Agapito)
que a mancha que além se estende Tu não tens medo, Agapito?
(aponta para a lua) Achas que isto não dispara?
ou sombra ou lá o que seja, AGA. Tem vergonha nessa cara!
não pode ser a figura JER. Parece-me isto esquisito.
de nenhuma criatura, AST. (espreitando pelo óculo)
de algum homem que lá esteja. Cá está ela! Cá está ela!
AST. ‘Stá certo, e até calha bem A Lua dos meus amores!
que vos vou tirar as teimas. Venham vê-la, meus senhores,
Eu cá não sou de toleimas e digam se não é bela.
mas, melhor do que eu, ninguém (a Jerónimo)
conhece o mundo celeste, Ora espreite por aqui.
vocês são homens de sorte! JER. (espreitando, com grande espanto)
desde o sul até ao norte, Hi…..ii…..iiii!
desde leste até oeste. Agarrem-me senão caio!
(dispondo-se a montar o óculo sobre o tripé Começo a sentir-me aflito.
para a observação da Lua) Espreita aqui, Agapito.
Ora dai-me aqui ‘ma ajuda Se não me acodem, desmaio!
para assentar o tripé. AGA. (espreitando)
JER. Essa coisa p’ra que é? Oh! Mas isto vale a pena
AST. Já vai perceber. Caluda! ver-se com todo o vagar.
JER. (pegando no óculo) AST. Tem muito que apreciar
E este grande canudo? que a Lua não é pequena.
AST. Pegue nele com cuidado. JER. (a Agapito) E o tal homem que lá ‘stava
AGA. Tu não podes ‘star calado? AGA. Vem cá tu. Vê lá se o vês.
Era bom que fosses mudo. JER. (espreitando) Só vejo covas à brava.
AST. (perante o óculo já montado no tripé) Ali é que eu não andava
Este tubo tem ‘mas lentes que até entortava os pés!
de feitios especiais. AST. Pois essa opinião sua
São vidros mas excelentes, é mais certa do que pensa
polidos e transparentes porque a superfície imensa
como límpidos cristais. do astro chamado Lua
(referindo-se a cada um dos respetivos é toda aos altos e baixos
extremos do óculo) com montanhas e crateras. 6
JER. E há lá uvas aos cachos ‘Stá vendo as sombras no chão?
e nos buracos há feras? Vê a minha e vê a sua?
AST. Não. Na Lua não há vida, Aí tem as manchas da Lua.
nem plantas nem animais. Percebeu a explicação?
(declamando) É como barca perdida, AGA. Bem gostava eu de saber
desolada e adormecida as coisas que o senhor sabe!
nos espaços siderais. AST. Todo o tempo é de aprender
(voltando ao mesmo tom) ão tem água nem tem ar. desde a hora do nascer
AGA. Então o que é que ela tem? até que a vida se acabe.
AST. Tem rochas. JER. ‘Stará tudo muito certo
JER. E tem luar. mas eu não vou às primeiras.
AST. Isso é da luz que lhe vem do Sol AGA. Sempre foste muito esperto.
quando bate nela, AST. Não está pensando decerto
como se a luz incidisse, batesse e se que eu esteja a dizer asneiras.
refletisse JER. Pois se até já me disseram
nos vidros de uma janela. que há tempo os jornais falaram
Essa luz que o Sol lhe dá nuns tais homens que estiveram
quando bate nas montanhas na Lua, foram, vieram,
e nas crateras tamanhas e se por lá não ficaram
forma essas sombras estranhas que nós foi só porque não quiseram.
notamos de cá. AST. E você não acredita?
Com as formas que apresentam não admira JER. (rindo) Ah! Ah! Ah! Que grande fita!
que as tomem como sendo formas de AST. Pois então fique sabendo
homem, mas são coisas que inventam. que foi mesmo como disse.
AGA. Ouves, Jerónimo? E então? JER. (rindo) Ah! Ah! Ah! Mas que tolice!
Quem é que tinha razão? Não acredito nem vendo.
Diz lá com sinceridade. AGA. Mas que teimosia a tua!
JER. (abanando a cabeça e torcendo o nariz) Só se os puseram na Lua
Essa coisa das montanhas com dois coices de jumento.
mais me parecem patranhas (rindo) Ah! Ah! Ah! Que até rebento!
do que falas de verdade. AST. Se não quer acreditar
AST. (despindo o casaco) Então façamos isso agora é lá consigo
de conta que o casaco é a montanha. mas que é certo o que lhe digo
Dali vem o Sol que a banha. posso jurar e jurar.
(Acende-se um projetor que dará no chão as A notícia que lhe deram
sombras do casaco e das pessoas. O é de todo verdadeira.
Foram à Lua, vieram,
Astrónomo suspende o casaco pela gola)
e de espanto emudeceram
e eu pego-lhe aqui na ponta. (para Jerónimo) a humanidade inteira. 7
(Entra a Rapariga das Fases. Veste um trajo comprido, amplo e liso, com a frente branca e as costas
pretas, de tal modo que vista de frente se vê toda branca; de costas toda preta; de perfil, metade branca e
metade preta.)

RAPARIGA Desculpem a intervenção. AST. (para a Rapariga)


Calhou passar por aqui Se não erro, lá na sua,
e mesmo sem qu’rer ouvi o que a menina pretende
toda a vossa discussão. é conseguir ver se entende
AST. Falávamos sobre a Lua. as quatro fases da Lua.
RAPARIGA Eu sei, eu sei. E o senhor Não é isso?
falava como um doutor RAP. Exatamente!
muito seguro da sua. Se isso não lhe der maçada.
Sinto-me cheia de sorte AST. Não me maça mesmo nada.
e aproveito a ocasião Fico até muito contente.
p’ra lhe pôr uma questão, (pigarreia e começa o discurso)
no caso que não se importe. Deve lembrar-se da escola
AST. Poder ensinar alguém que a Lua é ‘ma grande bola,
p’ra mim é sempre uma festa. como os astros todos são,
RAPARIGA Pois então aqui a tem. e que andam à volta da Terra.
A minha dúvida é esta. Não se atrasa nem emperra.
Nunca percebi porquê Cumpre a sua obrigação.
nem sempre a Lua se vê JER. (a Agapito) Parece-me isto mentira.
co’a forma que deve ter. AST. E além disso também gira
Não sei onde ela se esconda como se fosse um pião.
para às vezes ser redonda Se a Lua não se movesse, se estivesse
e outras vezes não ser. ali parada, (aponta para a Lua)
JER. Ande lá, ande. Responda. qualquer forma que tivesse
AGA. Também me interessa saber. não se mudaria em nada
JER. (aparte, para Agapito) quando a luz do Sol lhe desse.
‘Stou a ver que esta seresma Assim, o aspeto que tem
julga que a Lua é a mesma, nas várias ocasiões depende das posições
mas são várias, pois não são? dela, do Sol, e também
AGA. Ai, Jerónimo, Jerónimo! da Terra, evidentemente.
Não nascest par “astrónimo”. Fiz-me entender?
Cala a boca, parvalhão! RAP. Certamente.
Compreendi muito bem.
8
AST. Daqueles vários aspetos AST. E depois?... (aponta para Jerónimo)
que nos são apresentados JER. (encolhendo-se) Não faço ideia.
há quatro casos concretos É melhor passar adiante.
que têm nomes completos AST. (apontando de novo para a Rapariga)
e bastante apropriados. Depois…
Em cada um se acentua RAP. É a lua nova..
a situação que lhe cabe. AST. E agora, finalmente… (aponta para
Chamam-se as fases da Lua Jerónimo)
como toda a gente sabe. JER. ‘Scusa de me pôr à prova.
(apontando para a Rapariga para que lhe AST. (apontando para Agapito) E depois…
responda) AGA. Quarto crescente.
As fases são… AST. (satisfeito) Aqui estão as quatro fases.
RAP. Lua cheia. Ora aprendam, meus rapazes,
AST. (apontando para Agapito) Segue-se… e a menina igualmente!
AGA. Quarto minguante.

(Durante toda esta última conversa, e sempre na altura própria, a lua cheia que se via no céu passa a

quarto minguante, depois desaparece quando se fala em lua nova, e por fim passa a quarto crescente. As
imagens aparecem no céu à medida que vão sendo proferidas as respetivas designações. Após o último
verso volta a aparecer no céu a lua cheia conforme estava antes de se falar nas fases.)

AST. (noutro tom, falando para a Rapariga)


Só agora é que reparo
no trajo que tem vestido.
RAP. É bonito e é bom tecido,
e até não foi nada caro.
AST. Fica-lhe mesmo à feição.
RAP. E realça o tom da pele.
AST. Pois eu vou servir-me dele
para lhes dar ‘ma lição.
(pega na mão da Rapariga e condu-la até ao fundo da cena)
Ora coloque-se aqui
voltada para este lado
(fica voltada para a direita do público)
O Agapito põe-se ali.
(aponta-lhe a boca da cena onde Agapito fica colocado de costas para o público, distanciado da Rapariga, e
agachando-se, se for preciso, para não a encobrir da vista dos espetadores. Continua, acenando para
Jerónimo) 9
O amigo aqui, perfilado,
(dirigindo-se para a Rapariga)
e voltado para si.
(dirigindo-se a cada um por sua vez)
A menina faz de Lua,
a Terra é o Agapito,
e o Jerónimo atua
como o Sol, o mais bonito.
(afastando-se do conjunto e iniciando a exposição que vai seguir-se)
Pois venha o Sol, sem demora.
(um projetor, como se viesse de Jerónimo, ilumina a frente branca do trajo da Rapariga)
Eis a Lua iluminada.
(aproxima-se do intervalo entre a Rapariga e Jerónimo e coloca-se exatamente nesse intervalo)
Se a Terra estivesse agora
neste espaço colocada
veríamos lua cheia,
redondinha como um queijo,
do mesmo modo que a vejo
(aponta para a Lua do cenário)
neste céu que nos rodeia.
(vem até junto de Agapito)
Mas se a Terra está daqui
já isso não é verdade...
Co’o Sol colocado ali,
quem olhar daqui p’r’aí
(aponta para a Rapariga que durante a cena se mantém sempre com o corpo de perfil, voltada para
Jerónimo)
só vê da Lua metade.
(A Lua do cenário passa a metade de )
Tudo fica ‘sclarecido
olhando p’r’o seu vestido.
Perceberam?
(só a partir deste momento os figurantes se retiram das posições em que estavam)
RAP. Muito certo.
AGA. (a Jerónimo) Quero crer que te convenças.
JER. Nunca tinha descoberto
a razão destas diferenças.
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RAP. (falando para o Astrónomo) devia dizer que «cresce».
Uma dúvida me resta. (acentua bem o c inicial)
Quando vejo só metade, JER. Que coisa tão curiosa!
que pode ser esta… AGA. Acho isso extraordinário!
(aponta para o céu onde está ) AST. É exatamente o contrário
...ou esta, porque a Lua é mentirosa.
(muda a imagem para ) Se tem a forma de um D
eu tenho dificuldade
(aparece a imagem )
em perceber de repente
isso quer dizer que cresce,
se essa metade brilhante
e quando parece um C
quer dizer quarto minguante
ou dizer quarto crescente. (aparece a imagem )
AGA. e JER. Isso, isso, diga lá. significa que decresce.
Nós também qu’remos saber. RAP., AGA. e JER. (em dicção cantada em coro)
AST. Pois vou responder-vos já Ai que giro que isto é!
e jamais se hão de esquecer. Que coisa tão graciosa
Se a lua parece um D de trocar o C co’o D!
(projeta-se a imagem ) Como a Lua é mentirosa!
‘stava bem dizer «decresce», Ai que giro que isto é!
(acentua bem a primeira sílaba de “decresce ) Vamos todos dar ao pé
e quando parece um C porque a Lua é
(projeta-se a imagem ) mentirosa!

(Cantam e dançam todos repetindo os últimos três versos, enquanto a luz esmorece até se apagar de
todo. Entretanto poderá surgir no céu uma lua caricatural, com olhos, nariz e boca, piscando o olho.)

FIM

11
Português – 8.º ano
AGRUPAMENTO
ESCOLADE ESCOLASD.
BÁSICA FERREIRA
CARLOSDE CASTRO
I
Escola Básica Ferreira de Castro 2020/2021 Guião de leitura
Nome: __________________________________ N.º: ____ Turma: ____ História Breve da Lua
de António Gedeão

I. Lê, com atenção, a lenda indígena que se segue


sobre a origem da Lua.

Manduka namorava com a sua irmã. Todas as


noites ia deitar-se com ela, mas não mostrava o rosto e
nem falava, para não ser identificado. A irmã, para
descobrir quem era, passou tinta de jenipapo1 no rosto de
Manduka.
Manduka lavou o rosto, porém a marca da tinta não
saiu. Então ela descobriu quem era. Ficou com vergonha,
muito zangada e chorou

muito. Manduka também ficou com vergonha, pois todos passaram a saber o que ele tinha feito. Então
Manduka subiu para uma árvore que ia até ao céu. Depois desceu e foi dizer aos Jurunas2 que ia voltar
para a árvore e não desceria nunca mais. Levou uma cotia3 para não se sentir muito só.
Aí transformou-se na lua. E é por isso que a lua tem manchas escuras, por causa do jenipapo que a
irmã passou em Manduka. No meio da lua costuma aparecer uma cotia comendo coco. É a outra
mancha que a lua tem.

Vocabulário:
1. Fruto do jenipapeiro (árvore que dá frutos comestíveis e tinta);
2. Indígena dos Jurunas, tribo tupi do Xingu;
3. Animal do Brasil, parecido com o coelho.

1. Segundo a lenda que acabaste de ler, como surgiu a lua?

2. Que consequências tiveram os atos irresponsáveis de Manduka na imagem da lua?

II. Escuta a canção com atenção (“Lendas e Mistérios”, de Maria Cecília e Rodolfo). De seguida,
responde às questões que te são colocadas.

1. Que motivo fazia com que o casal ao qual se refere a canção se encontrasse às escondidas?

2. Quem foi o seu único aliado?

2.1. Qual é a explicação dada para o facto de a Lua ficar cheia uma vez por mês?

3. Na tua opinião, será esta história verídica? Justifica com uma expressão textual.

12
III. Já reparaste que há, na língua portuguesa, muitas palavras e
expressões relacionadas com a lua?

1. Faz corresponder, no quadro abaixo, cada expressão da coluna A ao seu


significado equivalente na coluna B.

A B

a) Andar no mundo da lua 1) Fazer promessas muito difíceis de cumprir.

b) Cara de lua cheia 2) Lugar imaginário onde “vivem” os lunáticos.

c) Ser de luas 3) Andar distraído, alheio ao que se passa à sua volta.

d) Lua de mel 4) Primeiros tempos após o casamento.

e) Lua 5) Exaltar.

f) Nascer com o rabo virado para a lua 6) Pedir o impossível.

g) Peixe-lua 7). Ter variações de humor.

h) Ladrar à lua 8) Ter sorte.

i) Luarento 9) Insultar quem está ausente, em vão.

j) Pedir à Lua 10) Espécie de peixe.

k) Pôr nos cornos da lua 11) Satélite da Terra.

l) Prometer à lua 12) Querer o impossível.

m) Querer a lua 13) Lugar ou período de tempo em que há luar.

n) Reino da lua 14) Rosto arredondado.

13
IV. Antes de começar: algumas curiosidades…

1. Tal como o título da peça indica, a vontade do autor parece ser a de divulgar a história da Lua e algumas
das suas curiosidades.

1.1 Após a realização de uma breve pesquisa biográfica sobre António Gedeão, tenta explicar o que
terá motivado esta “lição de astronomia”.
AUTO (Lit.): Composição dramática de cunho
moral ou pedagógico. in Dicionário da Língua
2. Repara nas definições de «auto»
Portuguesa, Porto Editora, 2011.
que se seguem e refere quais as Antiga composição dramática com argumento
características apresentadas que em geral bíblico ou alegórico. in Grande
identificas em História Breve da Lua. Dicionário da Língua Portuguesa, José Pedro
Machado.

2.1. Investiga e procura descobrir que outra funcionalidade tem um “auto” e que se verifica nesta peça.

3. A peça História Breve da Lua, de António Gedeão, não está dividida em atos e cenas, como é comum no
texto dramático.

3.1. O que determina a mudança de ato? E a de cena?

3.2. Qual é a única referência da peça relativamente à sua estrutura externa?

3.3. Qual é a utilidade das didascálias (ou indicações cénicas)?

4. Quantos atores seriam precisos para representar esta peça de teatro? Justifica.

4.1. No início da peça, são-nos apresentados figurantes e não personagens. Porquê?

5. Lê, no quadro a seguir, as principais características do texto dramático. De seguida, retira do texto
exemplos de algumas dessas características.

O TEXTO DRAMÁTICO
Principais características do texto dramático:

a. É um texto para ser lido, mas que se destina a ser representado para um público, isto é, a ser visto e
ouvido. Pode ser escrito em prosa ou em verso.

b. Porque se destina à representação, contém indicações cénicas (ou didascálias), descrevendo o cenário ou
dando sugestões sobre o tom de voz, os gestos, as movimentações no palco, o comportamento das
personagens. Estas indicações surgem entre parênteses e/ou em itálico.

c. O diálogo é o modo de expressão dominante, estando, geralmente, ausente a narração. Podem ainda
surgir apartes e monólogos.

d. Está dividido em atos (embora haja obras constituídas por um só ato). Entre cada ato há, geralmente,
uma pausa na representação (um intervalo). Por sua vez, os atos podem dividir-se em cenas. Estas começam
e acabam com a entrada e a saída das personagens em palco.

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V. LEITURA

A. Atenta no excerto da chegada das personagens Jerónimo, Agapito e o astrónomo (pp. 5-6) e
responde ao questionário que se segue.

1. Na didascália inicial do excerto, são-nos dadas informações sobre duas personagens.

1.1. Identifica essas personagens e caracteriza-as, por palavras tuas.

1.2. Os dois homens estão a “discutir a respeito da Lua”.

1.2.1. Por que razão é a Lua motivo de disputa entre ambos?

2. A meio da discussão que opõe Agapito a Jerónimo, “Entra o Astrónomo”.

2.1. Distingue os seus traços físicos das suas características psicológicas.

2.2. O Astrónomo parece ser a pessoa indicada para resolver o desentendimento entre Agapito e
Jerónimo. Justifica.

3. Entretanto, o Astrónomo começa a “[…] montar o óculo sobre o tripé para a observação da Lua. ”

3.1. De que modo explica a montagem e o funcionamento do óculo?

3.2. Como caracterizarias o registo de linguagem por ele utilizado?

3.3. Jerónimo e Agapito revelam atitudes totalmente opostas em relação a este instrumento?

3.3.1. Explica-as, apoiando-te em elementos textuais.

4. Em que estação do ano ocorrerá a ação deste texto dramático? Justifica, transcrevendo do texto
elementos que comprovem a tua resposta.

5. Que conclusões podemos tirar da leitura deste trecho? Classifica as seguintes alíneas como
verdadeiras (V) ou falsas (F) e justifica as tuas opções.

a) A ciência vence a ignorância.

b) O conhecimento científico consiste em ter uma visão espontânea da Lua, vendo na sua mancha a
sombra de uma figura humana.

c) O conhecimento científico elimina a beleza que envolve os corpos celestes.

d) A realidade é mais bela do que a fantasia produzida pelo desconhecimento.

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B. Atenta no excerto da chegada da Rapariga (pp. 8-9, incluindo a longa didascália) e responde
ao questionário que se segue.

1. Apesar do excerto constituir uma verdadeira “lição


de astronomia”, sabemos que não se passa numa
escola. Porquê?

2. Que lição de astronomia é aqui dada? Explica os


ensinamentos do astrónomo por palavras tuas.

3. Por que razão, na segunda fala de Agapito, surge


uma palavra entre aspas?

VI. ESCRITA

O texto dramático que leste apresenta uma explicação científica para a existência das fases da Lua.
No texto seguinte, encontras uma outra forma – um poema-receita – de apresentar uma informação
científica sobre a origem das estrelas.

Receita para fazer uma estrela

Primeiro misturam-se os ingredientes com


redobrados cuidados:
hidrogénio e hélio
e alguns metais pesados

Vai-se acrescentado massa


(é como se fizesses pão)

até que chega um momento


em que esta entra
em combustão
e começa
a brilhar

E está a estrela
pronta a usar.

Jorge de Sousa Braga, Pó de Estrelas, Assírio & Alvim, 2004.

Experimenta também tu dar uma explicação científica, seguindo estes passos:

a. começar por escolher a pergunta a que vais responder;


b. de seguida, investiga a resposta científica;
c. finalmente, transforma essa explicação num poema, num texto dramático, numa história...

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