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TRUIIERSA

trupe de tradução de teatro antigo


apresenta

MEAEIA
de

ru R r7T rô eç

»rnrçÃo E cooRDENlçÃo cERAL


TEREzA vrncíNre RrBErRo BARBosA

Apoio Pós-Lit/ CAPES/PRPql PROEX/FALE/UFMG/Fapemig


Companhia Brasileira de Metalurgia Ateliê Êditorial
e Mineração - CBMM
Copyright @ zor3 by Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa (traduçáo)

Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.6ro de r9 de fevereiro de 1998. É proi


bida a reproduçâo total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (cru)


(Câmara Brasileira do Livro, Sp, Brasil)

Eurípides
Medeia / deEarípides; direçáo e coordenação
geral Tereza Virgínia fubeiro; tradução Trupersa
(Tiupe de tradução de teatro antigo).
-
São Paulo: Ateliê Editorial, zor3.

IsBN 928-85-748o-658-7
Título original: Medeia.
Bibliografia.
Medeia da Trupersa: (Jma Experiência de Tradução em Cena -
OlimarFlores-lúnior . ....7
r. Teatro grego I. Barbosa, Terezayirglnia
Ribeiro.
Prefácio. .. '..'13
73-07688 cDD-882.or
Mponre .......41
Índices para cat:ilogo sistemático:
r. Teatro: Literatura grega antiga 882.01 Radionovela Baseada na Argoná:utica de Apolônio de Rodes e

naMedeiadeEuríPides .....155
Amor,AbismadoAmor . . . . .L55
Capítulol. ..156
Direitos reservados à
ArrrrÊ E»rrorr.c,r_ Capítulo2.
2 . ..t65
Estrada da Aldeia de Carapicuíba, 897
06709-300 - Granja Viana - Cotia - Sp
Capítulo ,
Telefax (rr) 46rz-9666
www.atelie.com.br / contato@atelie.com.br
Capítulo4....
4 ..183

2O13 Ficha Técnica de Medeia 191

Printed in Brazil
Foi feito o depósito legal
Bibliografia ...-195
MEDEIA DA TRUPERSA: UMA
ExPERTÊNcIA DE TRADUçÃo
EM CENA

Olimar Flores-lúnior
Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais

O mito bem conhecido: Medeia é a mulher que, hábil em ma-


é

gia e encantos, mas sucumbindo ela mesma ao encanto da paixão,


comete em seu nome uma série de atrocidades - dentre elas o fratri-
cídio -para acompanhar o amado em uma terra estrangeira; mais
tarde, traída e forçada ao exílio em vista da conveniência e das am-
biçoes do marido, mata os próprios filhos para purgar no sofrimento
deste homem que é o pai das crianças o ultraje da rejeição e a dor do
abandono. Todavia a tragédia de Eurípides, como aliás toda tragé-
dia, dá à monstruosidade dos crimes perpetrados em seu entrecho
uma outra dimensão, na medida em que recupera neles o resultado
do jogo complexo das forças que subjugam o homem, cada homem
e cada mulher, no curso de sua existência; são forças que, conquanto
possam ser obra de um deus, parecem nascer do homem, imprevi-
síveis, imponderáveis e insidiosas, e que o homem só controla - se

é que ele as controla - ao preço do próprio dilaceramento, que não


raro coloca em perspectiva a hierarquia dos valores. Assim, face ao
drama do herói dilacerado - no caso, uma heroína -, o espectador
se surpreende a si mesmo dilacerado e, preso na tensão entre terror
e piedade (como já observava Aristóteles), frui o impasse do julga-
§.
i'i
MEDEIA MEDEIA DA TRUeERSA: uiue sxpstlÊNclA DE TRADUçÃo eu ceNa

mento: se a tragédia em seu efeito próprio depende inteiramente riência próprias, à trama objetiva do palco. Ainda que - se náo pelo
da consciência de uma ficção plantada na mais profunda realidade método, ao menos por princípio - nenhuma arte possa ser o resulta-
da nostra res agitur (segundo o calque latino lembrado por Albin do de um solepsismo radical, o teatro, de um ponto ao outro de sua
Lesky), ela então, de alguma maneira, nos acusa e nos designa, a nós cadeia de significação, e em todas as suas camadas, é antes de tudo
que estamos instalados na distância da plateia, como cúmplices e um fenômeno coletivo.
juízes do crime que ela poe em cena. É justamente no âmbito do esforço de recuperar esse traço
Mas debruçar-se sobre as contingências e vicissitudes do ser maior do teatro grego, através da tradução da Medeia de Eurípides
humano não é privilégio da tragédia. O mundo em que o homem que ora vem à luz, que se inscreve o trabalho da Trupersa, grupo que
habita e o mundo que nele habita, com a instabilidade que permeia uniu numa empresa comum jovens de orientação acadêmica à gente
um e outro fazendo vacilar crença e moral, ocupam não só o espaço do teatro, sob a coordenação experiente de Tercza Virgínia Ribeiro
da cena, como fornece, por exemplo, o material que move o discur_ Barbosa, professora de língua e literatura gregas da Faculdade de
so filosófico ou a explicação da história. O próprio da tragédia não Letras da Universidade Federal de Minas Gerais', que contou ainda,
é portanto o quê, mas o como. A meio caminho entre a experiên- sobretudo para os aspectos propriamente cênicos do projeto, com a
cia em primeira pessoa e a reflexão objetiva projetada em exemplos colaboração da não menos experiente atriz e diretora Andréia Ga-
abstratos, atragédia revela, na atualidade do espetáculo, uma outra ravello (que aliás desempenha o papel de Medeia na montagem da
ordem de theoria: contemplando a trama que se oferece aos seus peça). Trata-se sem dúvida de um grupo heterogêneo e, em alguma
olhos e ouvidos, o espectador sofre uma dor que só é sua na medida medida heteróclito que, no entanto, sem comprometer a unidade
em que é de outro e pode assim ter dela uma compreensão que o formal do estilo e do registro linguístico do produto acabado, sou-
simplesmente vivido não comporta. Na aisthesis do teatro, através befazer da diversidade um elo forte e enriquecedor no desenvolvi-
de uma "subjetividade por procuração" fundada pelo pacto ficcional mento de um trabalho cuja originalidade repousa precisamente na
e operada pela ação das personagens, o espectador engaja sua pró_ tentativa ideal de abordar o fenômeno antigo pelo prisma de seu elã
pria verdade como uma síntese possível da verdade do grupo a que fundador. Apenas por isso, essa nova tradução de Medeiajá merece
ele pertence. ser saudada.
Nesse sentido, uma peça de teatro -
de teatro grego em parti_ Na base desse laboratório - e o termo parece se adequar ple-
cular -, tendo em seu horizonte a expectativa mesma desse engaja- namente aos fins e ao método do projeto - estão uma constatação
mento, éo produto de uma carpintaria complexa: a lenda heroica ou e, solidária a ela, uma hipótese. A constatação: a grande maioria
a saga dos deuses que compÕem os mitos tradicionais, funcionando - se não a totalidade - das traduções do teatro grego em língua
como o depositário da identidade de todo um povo, é a matéria_ brasileira parecem visar antes o texto escrito, ou seja, a forma fixa
-prima onde geralmente tudo tem seu princípio; matéria plástica que na sua origem mais remota estava inteiramente subordinada
que recebe sua forma a partir das intenções de um poeta para em
seguida passar pelavoz e pelo gesto dos atores e do coro e atingir r. Para uma amostragem de seus muitos trabalhos, veja-se o recente Sófocles, Os lcneutas'
enfim, no espaço de um edifício público, um grupo de espectadores os Sátiros Rastreadores. Fragmentos de um drama satírico reconstruido para a contem-
poraneidade com base nos aparatos de Stefan Radt e Hugh Lloyd-fones com traduçáo e
que reagem simultaneamente, no foro de sua sensibilidade e expe_ comentário de Tereza Yirgínia Barbosa, Belo Horizonte, Editora urrrc, 2012.
MEDEIA
A: uMA ExpERrÊNcre or rneouçÃo EM cENA ll

ao drama, à açao; a hipótese que se segue a essa constatação iden-


pel e ganhou a cena, e a cena é, nesse sentido, o espaço de verificação
tifica-se com a possibilidade vislumbrada de que um texto teatral
das ürtudes do texto (re)escrito.
traduzido, ainda que texto escrito, guarde as marcas do movimen-
Pelo princípio mesmo de sua proposta, a empreitada não podia
to da cena original, ou que pelo menos o favoreça. Acrescente-se
ser coisa fácil.A tragédia grega que hoje goza da reputação de arte
a isso o dado de que a grande maioria das traduções tenham por
difícil, reservada a uma minoria dita - e que se diz - esclarecida,
trás de seu texto final a mão de um único tradutor, e o que em
uma arte cujo pleno entendimento parece semPre reclamar alguma
princípio não seria mais do que um detalhe anódino e circunstan_
erudição, era na Atenas do século v a.C. um espetáculo para gran-
cial adquire, no caso da tragédia grega, uma maior relevância. Na
de público. Para ele concorriam largos subsídios do estado e a sua
verdade, em tais condições, a tragédia se aproxima perigosamente
produção mobilizava o conjunto dos cidadãos; muito mais do que
do diálogo filosófico, reavivando uma simpatia que nem sempre
uma opção delazer esporádico, que se opõe à regularidade neces-
foi pacífica: não terá sido um mero acaso o fato de que, a tomar
sária das atiüdades produtivas, o teatro, realizado no contexto de
por certos testemunhos como o de Diógenes Laércio, platão tenha
grandes festivais de caráter religioso, era em sua origem uma expe-
sido poeta de tragédias antes de se "conyerter" à filosofia e tenha,
riência cívica, de caráter propriamente político: como já se escreveu,
após essa "conversão", submetido as propriedades da arte miméti-
na Grécia de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, a cada peça encenada é a
ca por excelência ao crivo de uma crítica rigorosa; por outro lado,
cidade inteira que se faziateatro. Por outro lado, seria um equívoco
Aristóteles, o mais ilustre dentre os alunos de platão, observa o
definir a tragédia grega como uma "arte popular", no sentido que
carâter eminentemente filosófico da tragédia, no que - sublinha o
emprestamos hoje a esse termo. Se a comédia (e em alguma medida
estagirita - ela é superior à história por dizer esta o que aconteceu,
o drama satírico), em vista mesmo dos efeitos a que visa, incorpora
e aquela o que pode acontecer segundo as regras da verossimilhan-
em sua trama a atualidade e os elementos de um quotidiano mais
ça e da necessidade.
prosaico e comezinho, a tragédia preserva em sua fatura a solenida-
No intuito de restituir o próprio da tragédia, a Medeia da Tru_
de dos temas e dos personagens que dão substância ao seu enredo.
persa substituiu a figura de um único tradutor que sozinho comu-
Nesse contexto, a ação e a palawa dos reis e dos heróis, memória
nica o poeta antigo com seu novo público e que sozinho decide as
atemporal de uma outra época, bem como a presença de deuses e
formas da porosidade que devem conduzir um texto determinado
semideuses, ganham vida com o artifício de certas formas poéticas e
à sua versão traduzida, por um colégio de tradutores que explora a
de uma dicção que, sem obliterar a inteligibilidade imediata da cena,
matriz de uma história bem conhecida alargando o espectro de sua
não corresponde inteiramente aos meios da comunicação habitual.
recepção e de suas possibilidades interpretativas através de uma es-
O pathos da tragédia se constrói portanto, também no registro da
pécie de "convergência de sensibilidades múltiplas". Logo, no lugar
linguagem, entre estranhamento e participação.
de algo próximo de um exercício filosófico individualizado, o que se
Está posto o problema: como traduzir (e representar) uma tra-
tem ao fim do processo é o resultado de uma experiência plural e,
gédia grega quando se quer tradtzir não apenas os temas universais
em certo sentido, catártica, que por antecipação imprime no novo
que ela evoca mas também a stta maneira de tratá-los? Como in-
texto os efeitos que ele deverá produzir em cena. E, de fato, no caso
terpelar a sensibilidade moderna com um material antigo no breve
dessa nova e inovadora companhia o projeto da tradução saiu do pa-
tempo de um drama que, como a própria vida, não permite voltar
MEDEIA

a uma página virada nem tampouco consultar uma nota explicati- ,


va? Como garantir a fruição espontânea de um objeto preservando
P REF ACIO
nele aqueles elementos que parecem nos escapar e se refugiar num
outro mundo, num mundo de uma alteridade aparentemente já in-
transponível, sem dissipar a carga de sentidos que lhe é própria? São
questôes que o projeto da Trupersa levanta e tenta responder com
esta Medeia. Um pouco indiferentes ao juízo do especialista e à opi-
nião do erudito, o acerto dessa resposta, sua pertinência e eficácia,
apenas pela experiência direta do texto, no papel ou no palco, se
deixarão julgar.
Por fim, considerando que o que se nos oferece aqui é apenas
uma de um repertório de trinta e duas tragédias gregas conservadas
integralmente (e de outras tantas comédias, convém lembrar), per-
manece aberto diante da Trupersa um yasto terreno a ser explorado,
de muitas e diferentes possibilidades. Antes que eu coloque a máscara e a tragédia comece...

Esta tradução da Medeia de Eurípides é fruto de três anos de


conyivência bastante próxima entre a Pós-Graduação em Estudos
Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas
Gerais (Fale-uruc) e a Pós-Graduação em Estudos da Tradução da
Centro de Comunicação e Expressão Universidade Federal de Santa
Catarina (rcer-ursc). A aproximação dos dois programas de pós-
-graduação foi proporcionada pelo Programa Nacional de Coopera-
ção Acadêmica, mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Nivel Superior (Capes). Com a pesquisa realizada, temos, enfim, a
satisfação de oferecer para os leitores o que chamamos de "tradução
brasileira coletiva funcional e cênica" de teatro grego clássico. Um
produto cujo diferencial explicaremos com detalhe.
Até o momento - e excluídas as adaptações üolentas que modi-
ficam, reescrevem e mutilam os textos antigos -, o teatro grego, em
todo o território brasileiro, vem sendo dedicado a uma elite intelec-
tual de acadêmicos e artistas selecionados. As razões são muitas e en-
tre elas destacamos a que julgamos ser a mais pesada na escolha dos
13
PREFACIO
MEDEIA

pecíficos da tradução de textos dramáticos e os testemunhos dos tradutores


atores, diretores e encenadores: a tradução erudita e sofisticada que
que o fazem deixam muitas vezes pensar que a metodologia usada no pro-
lhes chega às mãos não se adequa à encenação para o grande público.
cesso de traduçáo é a mesma com que são abordados os textos narrativos.
De fato, o que temos traduzido, embora de excelente qualidade
E, todavia, mesmo uma reflexão superficial sobre o assunto é suficiente
acadêmica e mesmo artística, exige leitura delicada, lenta, cuidadosa
para mostrar que o texto dramático náo pode ser traduzido como um texto
e dedicada. Seu enfoque é quase exclusivamente linguístico. São tex-
narrativo. Para começar a leitura de um texto dramático é diferente. Ele é
tos para se apreciar na solidão e não mais no meio de muitos, em um lido como algo incompleto enâo como uma entidade inteiramente acabada,
estádio ou em um grande teatro aberto como aqueles que se veem em pois é só no espetáculo teatral que todo o potencial do texto é atualizado.
ruínas na Grécia. E quando ocorre serem estes textos oralizados no flu- O que coloca ao tradutor um problema central: traduzir o texto como um
xo contínuo da encenação, o entendimento do léxico, a assimilação da texto puramente literário ou tentar traduzi-lo na sua função de mais um
sintaxe complexa e a projeção de uma encenação hierática, sobretudo elemento de outro sistema mais complexot.
se pensarmos que o público não pode reler ou rever a cena nem resol-

ver a angústia dos termos obscuros deixados para trás durante o espe- Pois bem, leitores e estudiosos da teoria de Bassnett, resolvemos

táculo, quando ocorre serem eles encenados, o ato de comunicação e encarar de frente a incompletude e a função do texto trágico grego.
a cumplicidade do espectador com o ator simplesmente não acontece. E quando falo "nós", falo em nome da trupe de tradução e ence-
Não se condene, contudo, a tendência vigente. Tais traduções nação Trupersa. Nós pleiteamos e sonhamos ver o teatro chegar a
foram feitas por e para um público diferenciado: os helenistas e es- muitos. Por isso nossa pespectiva é outra. Traduzimos para o teatro,
tudiosos de teatro preocupados com os rigores acadêmicos, a fide- encenamos e queremos encenar Medeia - com o texto grego tradu-
lidade histórica, os requintes filológicos e as discussões filosóficas. zido na íntegra em todos os seus detalhes gramaticais - nas regiões
Sem dúvida, assim como estão, estas traduções ensinam muito e é mais carentes do país, queremos falar para todas as gentes brasi-
com elas que todos aprendemos o nosso grego para poder traduzir. leiras; aliás, em parte essa meta vem sendo cumprida: já estamos
Mas acrescente-se: desde sempre a tradição nos estudos clássicos encenando, pois o texto, antes de se fixar no papel, foi testado em
para o teatro privilegia o texto e vê a sua espetacularização como parques e praças da periferia de Belo Horizonte sempre com público
possibilidade remota. Tal posicionamento supõe um contentamen- heterogêneo e, segundo alguns, despreparado para textos eruditos;
to por obter equivalências semânticas bem-sucedidas e sofisticadas depois em faculdades e universidades, desde a UFMG até aquelas em-
soluções tradutórias entre o grego e o português as quais, porém, brenhadas nos mais remotos lugares de Minas Gerais. Até agora,
não almejam ver palavra corporificada saltando do papel. Há ainda
a
felizmente, o texto agradou. Sim; o texto foi traduzido diretamente
um entrave e, para relatá-lo tomamos palavras da comparativista e do grego e tornou-se acessível para todos. Para isso, seguimos, de
pesquisadora de tradução Susan Bassnett: perto, todas as pegadas de Eurípides; usamos as mesmas roupagens,
metáforas, hipérboles, quiasmos enfim, guardamos suas preciosi-
No que respeita aos estudos tradutológicos orientados para os modos dades para oferecê-las a todos, em português. O nosso processo de
literários, se é certo que a maior parte se centra nos problemas envolvidos
na tradução de poesia lírica, também é verdade que os textos dramáticos
têm sido muito esquecidos. Há muito poucos dados sobre os problemas es- r. Susan Bassnett, Esturlos de Tradução: Fundamentos de uma Disciplina, trad. Vivina de
Campos Figueiredo, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,2003, pp. 189 190.
MEDEIA P REFAC I O t7

manipulação ateve-se não somente aos recursos linguísticos, esti- lar', de teor perfeitamente adequado para o contexto dionisíaco da
lísticos e literários, mas à escolha lexical, ao uso dos arcaísmos e ao hybris. Neste sentido, também quebramos aprimazia do texto escri-
aproveitamento de intertextualidades pertinentes para uma elocu- to - que afirma uma única leitura como a maneira certa de repre-
ção atualizada dos atores. sentar - e introduzimos uma interpretação imiscuída da brasilidade
da canção popular.
oür< eioi Fev [^ror nqiôeç, oiôo ôà 10óva
Igualmente recuperamos falas de poetas queridos, um deles foi
geúyovraç qpoç xai onavl(ovrcç glÀcov;
Mario Quintanaa e com ele traduzimos os versos 934-g4o, abaixo.
roút' évvoqOeio' fl oOópr1v ôpouÀlov
noÀÀr1v é1ouoo rcoi párr1v 0ugoupévr1.
ênei tupávvotq yÍç U' qTrooteÍÀot ôorcei
rôpoi ráô' êoti ÀQota, yLyvóorco roÀôç,
Crianças? |á não tenho? E não sei que somos
pllt' êpnoôôv ooi prlte xoLpávoLç 10ovôç
fugidos da terra e precisamos de amigos?
voíerv: ôoxÕ yàp ôuoprev4c eivoL ôópoLq
Aí, pensei e percebi a insensatez que tenho. ..
rlgeiç gàv êr yr1ç trloô' ônopoúprev 9u111,
tao descuidada... por nada tao desalmada.
naiôeq ô' ónoç
ôv êxtpagóor ofl 1epí,
aitoú Kpáovto trlvôe pr1 geúyetv 10óvo.
A intertextualidade, claramente costurada na tradução dos ver-
sos 882-883, provoca no ouvinte uma sensação de conforto. Ele es-
fá pros tiranos está resolvido: devo ir daqui da terra
cuta o lugar da brasilidade e o lugar do estranho ao mesmo tempo; - para mim, também isso é o melhor; eu sei, nào
lembra-se de Tom fobim e de Vinícius de Moraes, vê que estamos yolr atravancar o teu caminho, nem a terra
no mesmo barco; todos, brasileiros ou gregos, temos nossos mo- dos chefes habitar; pelo jeito, sou rival da casa real.
mentos de insensatez no amor. O ouvinte, assim, prevê que vem por Nós, desta terra, partimos em fuga, mas
aí uma tempestade, que Medeia hâ de fazer |asão chorar de dor, pois os meninos, para que sejam criados por tua mão,

foi ele quem, primeiro, semeou o vento e, por isso, colherá a gran- pede a Creonte: não sejam banidos deste cháol

de tormenta. Afinal, tudo o que aparece em Medeia acontece ainda


Homenagens à parte, voltemos à nossa metodologia. Intencio-
hoje, nos moldes de Agamben em seu renomado ensaio O eue E
nalmente ensaiamos todo o tempo numa escola que abrigou, tem-
o Contemporâneo?2 A estratégia da intertextualidade visou a nossa
porariamente, menores infratores. Nosso trabalho, no princípio, foi
tentativa de realizar um teatro que fosse popular e elitista para to-
insuportável. As crianças fugiam das classes, interrompiam os ato-
dos. O leitor poderá observar outras mais imperceptíveis, com a do
v. 4r4, "A minha vida há de ser gloriosa. Famas vão rolar!", quando,
de leve, nos remetemos à marchinha carnavale sca As Águas Vão Ro-
3. "As águas váo rolar: /Garrafa cheia eu náo quero ver sobrar./Eu passo a mão nâ sâcâ, saca,
saca-rolha/E bebo até me afogar. Deixa as águas rolar!/Se a polícia por isso me prender/E
na última hora me soltar,/Eu pego a saca, saca, saca-rolha/E bebo até me afogar./Deixd as

águas rolar!"
a. Cf. Mário Quinlana, Caderno H: Mário Quintana,Tania Franco Carualhal (ed.), São Paulo,
z. (iiorgio Aganrben, O Que E o Contemporâneo? E Outros Ensaíos, trad. Vinícius Nicastro Editora GIobo, 2006,p.107: "Poeminha do contra/ Todos esses que aí estão/ atravancando
Honesko, Chapecói SC, Argos, 2009, pp. 5Z -23. o meu caminho,/ eles passarão. ../ eu passarinho!"
MEDEIA
PREFACIO 19

res, entravam correndo na sala de ensaio, atrapalhavam, macaquea_


vam cenas. Ouvíamos batidas na porta todo o tempo; uns alunos somente para marcar que o texto pode surgir em cena a partir de

se faziam espias delicados, outros, mais atrevidos, soltavam gritos uma "traição" do autor pelo diretor6.

assustadores e inesperados nas janelas. Com o tempo, porém, al- Neste ponto, a terminologia metaforica "fidelidade e traição"
para o processo de tradução cabe bem. Realmente, em tempos em que
guns deles pediram para assistir aos ensaios. Atualmente, muitos já
sabem trechos do texto euripidiano de cor. Essa novidade deu-nos o modelo já está ultrapassado, o jogo humano que se reflete em todas

ímpeto dionisíaco e por isso me dispus afalar, em nome do grupo, asinstâncias da vida e do qual não se foge alarga-se. Sabemos que to-

sobre o processo, como foi e onde ele nos leyou. dos traímos e que, igualmente, todos somos fiéis. Resta saber a quem,
quando e por que traímos e somos fiéis. A consciência do ato, a sua
Entendemos o texto teatral como uma composição de palavra
propriamente dita e de execução cênica - de autoria diversa e múlti_ transparência nos justificará. A oscilação de um sentido interpretado
(garantido ou traído), contudo, é guardada por um núcleo essencial (o
pla - que pode, inclusive, contradizer o registro da expressão escrita
qual é controlado frouxamente pela escritura muda ou pela situação
no momento de representação. Pelo menos é o que demonstra Sallie
Goetsch na análise da montagem da tetralogia Les Atrides produzi-
motivadora da ação). Mas é preciso admitir: o texto escrito é apenas
da pelo Théâtre du Soleil e dirigida por Ariane Mnouchkine'. Nessa
um dos componentes do teatro a ser encenado e ainda assim, para o
texto escrito - se ele for bem escrito - não há uma só maneira certa de
montagem, segundo Goetsch, Mnouchkine, engajada em propósi-
tos essencialmente feministas, enfrenta o um grupo de peças viris e Ier. É fato, a partitura teatral tem a mutabilidade como um dos seus

másculas e sucumbe ao machismo do seu autor. Goetsch se decep- constituintes básicos; cercear possibilidades e estabelecer fetiches sub-
juga e mutila o alcance do conjunto escrito. Pensando assim, não só é
ciona com isso.
impossível congelar o texto teatral como também é inaceitável sacra-
Não vimos o espetáculo, infelizmente, mas nos parece inte_
ressante que a própria crítica comente seus desapontamentos e, ao
lizâ-lo aponto de bloquear a imaginação cênica de modo a obliterar
fazê-lo, deixe manifestos alguns pontos fracos em sua argumenta- abeleza poética focalizando somente as questões filológicas, sintag-
máticas e sintáticas. "A tradução é muito mais do que a substituição
ção, por exemplo, o incômodo pelo fato de que, apesar de Ésquilo
de elementos lexicais e gramaticais entre línguas", "ela pertence mais
informar que as Erínias eram figuras femininas, a diretora Mnouch-
propriamente à semiótica"'. Os diálogos (e monólogos) que se desen-
kine - contra toda expectativa - tenha optado por delinear esses vin-
gadores como seres "perturbadoramente assexuados". O ponto de
volvem em cena são fruto do espaço, do tempo e estão, por sua vez,
integrados a situações extralinguísticas8. Se, nos dizeres de Bassnett, a
interesse é que a eliminação da sexualidade (que, para a helenista,
parece ser antifeminista), para nós soa como libertária. Afinal, por tradução é um processo semióticoe, então a tradução de teatro o é à
potência máxima. No teatro, os sentidos migram.
que esses entes tão execráveis deveriam manter-se sempre femini_
nos? Enfim, não vamos discutir o espetáculo aqui. O exemplo serviu

6. Sallie Goetsch, Playing Against the Text, "Les Atrides" and the History ofReading Aeschy-
lts, The DramaReview, vol. 38, no 3 (Autumn ' 1994)'pp.76 e 85.
5. Vencedora da 39, edição da Bienal de Veneza, 2007 com o prêmio ,,Leão de Ouro,, pelo 7. Susan Bassnett, op. cit., pp.54 e 35, respectivamente.
conjunto de sua obra. 8. ldem,p.l9l.
9. Hipótese de liriLevy apudSwarl Bâssnett, p.71.
MEDEIA PREFACIO 27

Num palco, o ator e o encenador teriam de decidir como interpretar pe francesa já mencionada antes, a truPe do Théâtre du Soleil. Sim,
a expressáo com base no seu conceito de encenaçâo bem como do sentido confessamos: traduzimos por um processo coletivo o qual acredita-
global e da estrutura da peça. A interpretação seria expressa através da in- mos ser, devido ao seu caráter coletivo, um feito altamente criativo.
flexão da vozro.
Fomos inspirados pelo trabalho de Ariane Mnouchkine e pela ideia
do processo colaborativo de inspiração político-social. Vestimos a
O poder do ator é inegável. Os artifícios que ele tem para dar
máscara de um diretor de tradução e representamos o papel de um
vitalidade e vigor às suas próprias intençôes, independentemente
organizador de hermenêuticas que pariu um organismo vivo.
do texto escrito, nos levam a supor uma neutralidade quase total
Na primeira etapa buscamos trabalhar com jovens pesquisado-
da partitura. Sejamos francos: precisamos libertar os personagens
res (graduandos, mestrandos e doutorandos) a fim de garantir para
gregos, deixando-os falar para todos e deixando todos falarem por
o texto traduzido frescor, vivacidade e atualidade' Estes novos he-
eles; só assim veremos a sua novidade escondida. "A tradução tem
lenistas (Ana Araújo, Ana Cristina Fonseca dos Santos, Alexandre
um papel crucialdesempenhar ao contribuir para melhorar a com-
a
Cardoso Nunes Magalhães, Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes,
preensão de um mundo cadavezmais fragmentado"rl. E o que pode
Douglas Cristiano Silva, Flávia Freitas Moreira, Gustavo Henrique
ser lido nas brechas das frases, que sugestões o texto propõe na sua
Montes Frade, losiane Félix dos Santos, Maria de Fátima Lanna,
incompletude é matéria de interpretaçáo multifacetada, passível de
Marina Pelucci Duarte Mortoza, Priscilla Adriane Ferreira Almeida,
captura de diferentes modos nas diferentes idades, nos diferentes
Vanessa Ribeiro Brandão), entre os quais se contam também atores,
gêneros e nas múltiplas culturas, daí a necessidade do múltiplo na
atrizes, escritores, poetas, cantores e bailarinos, foram introduzidos,
leitura, na interpretação e na realizaçáo do jogo teatral.
durante o processo de tradução, nas técnicas de atuação e, em du-
Portanto, para nós, o texto teatral não é de um só, nunca, nem
plas observando sempre que possível a lógica de manter um re-
-
mesmo quando e se foi escrito por uma única mão, pois, de saída,
presentante do sexo masculino e um do feminino -, assumiram os
não há teatro sem plateia e ainda se houvesse, na interpretação do
papéis na peça na categoria que chamamos de atores de tradução.
ator, toda a intenção fabricada textualmente pelo autor pode ser so-
Obtivemos, assim, uma fala andrógina e individualizada para cada
lapada, pois em cena o ator é rei. Ele é o único dono da palawa quan-
personagem. O trabalho dos atores foi dirigido pela professora de
do a cena acontece; emrazáo disso, estabelecemos que prescindir do
grego responsável pela criação do método e pela traduçáo,Teteza
ator na tradução é temerário (aliás, recorde-se: Ésquilo, Sófocles e
Virgínia Ribeiro Barbosa, e pela atriz Andréia Garavello. O proce-
Eurípides foram homens de teatro antes de serem poetas). E nós, que
dimento eliminou um problema graye na transposição da escrita de
sabemos grego e na grande.maioria somos "letrados", para aliüar a
teatro em qualquer língua, a dicção particular da personagem forja-
tensão, nos aliamos às gentes de teatro. Elas podem amenizar o pro-
da em bigorna poética que revela somente, pelo uso das palavras, o
blema de verter a Antiguidade nos nossos dias por várias estratégias.
caráter peculiar de cada uma. Voltaremos a esste Ponto.
As nossas foram adyindas da observação de uma prática da equi-
Antes, todavia, pensemos; se admitirmos que Platão temrazáo,
na passagem da República 392a394e, ao propor que o texto teatral é
uma narrativa onde é hábito o autor se esconder sob uma máscara,
ro. Susan BassneÍt, op. cít.,p.48.
t, Idem,p.2. personaque atua, personagem, se aceitamos a suposição do filósofo,
MEDEIA PREFACIO

então o ocultamento (camuflagem, simulação, ilusão) é um meca- E os meninos, os meus, pedirei que fiquem

nismo importante no teatro. Isso nos pareceu muito interessante não pra largar em terra hostil
com inimigos humilhando os meus meninos
e tomamos o mestre como referência para nossa tradução. Decidi_
mas é que assim, com ardis, mato a menina do reil
mos: ficaríamos todos escondidos - atores e tradutores - tal como
postulou Platão; do mesmo modo o tradutor se ocultaria o mais pos-
O trecho, vê-se nos negritos, mostra uma "repetição
sível. A própria Medeia, como personagem, apresenta a técnica do
ofensiva"12, recurso frequente no discurso oral. Mecanismo fácil
ocultamento com fins práticos:
de ser reproduzido, sem dúvida. O seu uso gera um efeito de ora-
v.368-37o lidade, de prosaísmo no falar; entretanto, exortamos o leitor a ob-
servar: o uso do vocábulo fiqÍôo no verso 783 nos leva a perceber
ôorceÍç yàp óv pe tóvôe O«oneúoaí note
que ele é atribuído ambiguamente tanto à filha de Creonte quanto
ei pr1 tr repôaívouoov ii telvc.rptevrlv;
à "esposa" de fasão. Acrescente-se que naiôo. é também o mesmo
oúô' ôv npooeinov oúô' âv tvápl, lepoiv.
termo usado para os meninos de |asáo. O requinte sofista não é en-
Acaso achas que o bajularia genho praticável em fala comum; estamos, sem dúvida, diante de
semtirar vantagem ou sem tramoia? uma elaborada redação poética. Temos aqui a prova de um entre-
Nem falaria com ele. Nem nele tocaria com as mãos. cho literário simulando-se oral. Os versos são considerados uma
interpolação por causa da repetição". Nós, ao contrário, acredi-
O trecho citado ocorre logo após a saída de Creonte, quando tamos ser uma estratégia sutil de escamotação forjada pelo poeta.
Medeia ganha do rei mais um dia de permanência. Vê-se que o dito E seguindo as pegadas do autor, perseguimos obstinadamente as
da princesa colca não confere com o que ela realmente quis dizer, formas de mostrar - em texto escrito - os diversos registros e a
todos sabem. Saindo de cena Creonte, sua "máscara', de indefesa e oralidade (com suas aglutinaçoes, repetições, uso dos Pronomes
vítima é retirada à frente do coro. Situações assim se repetem ao e sintaxe truncada) marcas que julgamos essenciais para colocar a
longo da peça no nível das personagens, que se constituem como a escritura num nível de acessibilidade quase imediato. Não obstan-
palawa do autor oculta em máscaras. te, preservamos a sofisticação da escritura euripidiana. E não nos
Mas em tão profundo grau se enraíza o encobrimento que ele esqueçamos, tudo é ilusão: o escrito se mascara de oral; o oculto
chega, inclusive, a atingir o ato de produzir um texto escrito que se mascara de revelado e, por tais engenhos, o ocultamento que
finge ser texto oral. Abaixo temos um exemplo: se deu na Antiguidade, por parte do autor, julgamos, foi respeita-
do. Ademais, a tradução foi assinada por um organismo múltiplo,
v.l8o-Z8l misturado e enorme, a Trupersa, e com isso exibimos a camufla-
noiôoç ôà ;reivar roüç êpoüç oiqoopot, gem do tradutor.
oú1 ôç Àrnoúo' ôv noÀepÍaç êni 10ovôç
ê1Opoiot noiôoq toüç êpoüç rco0uBpíooL, ru. Eurípides, Medea, Comentário de Denys L. Page (ed.), Oxford' Clarendon Press, l96l'p.129.
dÀÀ' óq ôóÀoror naiôc poorÀé«rq rtóvco. 4. Etxipide, Médée, Édition, introduction et commentaire de Robert Flaceliêre, Paris, Presses
Universitaires de France, 1970.

3
MEDEIA
PREFACIO

Particularmente, vale notar ainda que, na tragédiagrega,


a esca_
motagem vai além da máscara. com apenas três atores permitidos palavras do autor, o que mostra a importância do texto conferido
(excetuando, é claro, o coro), utilizava-se a cada função-papel. Dessa forma, os textos das personagens têm
o artifício das máscaras,
que possibilitava sem grande dificuldade a permuta marcas particulares para cada uma, eles mesmos se apresentam
de personagens
yariados em poucos corpos, o que, por como personagens feitas de letras, palavras, sintaxe: "espírito e le-
sua vez, admitia a contin_
gência de um só homem fazer o papel de algoz evítima tra". Pois bem, usamos como meta procurar respeitar estes registros.
no mesmo
espetáculo e, nesse caso, para avoz, traço de identidade Em Medeia, por exemplo, mantivemos para o pedagogo as suas ex-
mais óbvio,
esperava-se, naturalmente, gue ela fosse também mascarada pressôes de controle do ouvinte. Ele fala com cacoetes lexicais e por
nas di_
versas formas possíveisla. este modo particular de falar, ele segura o interlocutor com freio e

Provavelmente rédea curtos. No grego, a repetição e o controle do ouvinte se dão,


a estratégia de um indivíduo representar mais de
um papel na mesma peça seria um resquício da tradição homérica por exemplo, com o pronome demostrativo neutro - tóôe / isto -
que atribuía falas para papéis variados, em discurso direto colocado como última palavra de um verso. Como nem sempre foi
e formu-
lar, pela performance de um só rapsodo. Contudo, entre Homero viável manter o pronome demonstrativo na frase (traduzimo-lo, no
e o teatro há uma diferença notável: na poesia homérica verso 73 por um advérbio), recuperamos o cacoete lexical pela repe-
um mes-
mo texto aplicava-se a diferentes papéis. por exemplo, uma tição da interjeição hã, no final da frase. Vejamos (w. 6r-62 e 67 ss.
meima
sentença pode ser atribuída ao Atrida e ao Laertida. Isso respectivamente):
significa
que a fala não os distingue, eles não têm nem um vocabulário
nem flaóa1o1óç
uma sintaxe própria. O que os diferencia não são as afirmações
a eles ó pópoç, ei 1pi1 ôeonótoq eineiv róôe:
concedidas, mas a voz (modalizada, modificada ou alterada)
que os óç oúôàv oiôe tóv veotép<rrv rcox«irv.
anuncia e os epítetos que os qualificamrs.
Registre-se, portanto: se os rapsodos cantam com uma IIcrôcrycoyóç
única
voz (ainda que impostada de diferentes modos), no teatro, flrcouoo tou Àeyovtoç, oú ôoróv rÀúerv,
o ator e
sua voz erigem - juntamente e sobretudo com o texto _ reoooüç npooeÀ0óv, évOc ô{ naÀaltepoL
a diferen_
ça de um papel'u. Insistimos: as diferenças das personagens, com a 0áooouor, oegvôv dprgi fletpr'1v1ç üôop,
escrita parti'ilarizada para cada uma, foram antes garantidas óç toúoôe noiôoç yrlç éÀôv Koprv0[oç
nas
ouv pritpi preÀÀoL trlo'ôe roípavoç 10ovôç
Kpeov. o Fevror püOoç ei oagils óôe
14. Mark Damen, "Actor and Chilacter in Greek Tr agedy,,
oür oiôo: pouÀoípr1v ô' âv oür eivo.r tóôe.
Theatre lournal, vol. 41, n. 3, 19g9,
p.317.
r5' fennifer wise, Dionysus writes: The Invention ofTheatre Ilo.rôoyoyóç v. 85
in Ancient Greece,Ithaca/London,
Cornell University Press, 1998, p.4g.
16' G. capone, L'Arte scenica degli Attori rragici Greci, padova, tÍç ô' oü1i Ovqróv; áptt yryvóorerç tó6e,
casa Editrice Dott, 1935, p.
19, postula a apuração na técnica vocar, quer para
falar continuâmente nwÍôrego sô (eiiai óq rôç trç oútôv toü netraç ;.rcÀÀov gÀei,
apotáden, apneustí), quer para umâ recitação simpres (katalogé),
uma dicção mjodramáti- [o[ pàv ôroioç, oi ôà rcai xepôouç 1ápw]
ca (parakatalogé) ou um canto (mélos). A importància da
voz par a o hypokrités é,segundo
o estudioso italiano, inquestionável. ei toúoôe y' eúvqç oüvex' oú otépyeL not{p;
PREFACIO

Pedagogo majestático e tudo mais), os mensageiros como mensageiros. Isso


Que tonta - se convém dizer isto dos patroes, hâ? - foi importante para nós. Em Medeia os velhos haveriam de falar
náo sabe nada das desgraças mais recentes. como velhos criados ou velhos reis; sutilezas preciosas registradas
na língua de origem nos dirigiram e foram elas que estabeleceram as
Pedagogo diferenças. As amas, expressando-se como mulheres nervosas, inde-
Escutei por aí, sem parecer que ouvia, cisas, pragmáticas, agradecidas ao pouco que a vida lhe deu, servi-
quando ia pra praça dos jogos, onde os bem velhos se ram-se de sintaxe suspensa, reticências, contradiçóes, aglutinaçóes.
sentam, ao redor da santa fonte Pirene,
Vejamos um exemplo (v. r8S):
que essas crianças, dessa terra coríntia,
com a mãe, o rei Creonte vai expulsar
ôpáoto tóô' : ôtàp gópoç ei reÍoo
pra longe. Se a história é certa,
ôéonorvcv êpr1v:
isso nâo sei. Queria que não fosse assim, luâ?
próX0ou ôà 1óptv trlvô' ênrôóoo.
ôrotaupoütcr ôpcooÍv, óto.v trç
Pedagogo
pü0ov rpogepcov neÀoç op[Iefl.
E qual dos mortais náo?! Só agora sabes isto,ha?
orcoroüç ôà Àey«rv rcoüôév tr oogoüq
Que todo mundo ama a si mais do que ao próximo, toüç npóoOe ppotoüç oúr âv âpóptotç,
[uns com justiça, outros por vantagem] se é mesmo que, oÍrrveç üpvouq êni pàv Octrlarç
por causa da cama, o pai não gosta mais destes.
ênl t' elÀan[vaLç xoi ncpà ôelnvorç
4üpovto Blqr tepnvàq ôrcoóç:
Retornemos à questão dos atores versáteis com base nos rap- otuyíouç ôà ppotóv oúôeiç Àúnoç
sodos homéricos; claramente os profissionais do teatro, à época, r1üpeto poúo1 xai nol,u1ópôorç
estavam bem treinados para emitir o canto para suas personagens riiôaiç naúerv, é( óv Oavatot
de forma distinta por meio da modiflcação de uma única voz. De ôervol te tú1or ogoÀÀouor ôó;rouç.
qualquer modo, entretanto, se não fosse possível um registro mais raltot tóôe pàv repôoç qxeioOsr
agudo ou grave, uma languidez ou rispidez,havia a garantia de um poÀnaior ppotoúç: Ívq. ô' eüôernvot

texto apropriado e diverso para cada papel". Veja-se, então, a im- ôoÍteç,ti patqv telvouor porlv;
ro Íapov yàp ã1et Íepvrv ôg' qúroú
portância de traduções que preservem as marcas sutis das diferenças
ôortoç nÀrlpurga ppotoiorv.
entre as personagens, ainda que admitamos que o texto dramático
não seja autônomo e que o ator tenha uma participação basilar na
Farei isso! Mas periga eu não convencer
construção da personagem cênica. minha senhora. -.
Neste raciocínio, as amas são construídas pelas palavras que Farei esse ingrato favor; mesmo
elas proferem como amas, os reis como reis (com o uso do plural com aquele olhar de leoa parida, a mirada de touro
pros escravos, quando um - pra dizer palavra - chega
perto... Pra quem diz "sinistro e nada sábio são os
r7. Mark Damen, oP. cit., p. 322.
PREFACIO
MEDEIA

antigos" náo posso dizer que erra...


foi: repetir o verbo "fazer" que, em nosso entender, reproduziu,
Uns, hinos pra festas e mais banquetes pela repetição, a insistência por forjar uma decisão tomada sem
e ainda jantares pra vida, uns, convicção.
descobri ram prazenteiras cançoes, E o coro? Como falaria o coro? O que temos neste coro de Eu-
mâs pra aliviar tristeza cruel nenhum rípides? Ora, são mulheres e deviam se portar como mulheres (as
vivente descobriu - nem co'a Musa, nem que cuidam da cozinha, das notícias domésticas * e da casa real em
na harmonia das cordas - encantos. litígio -, das dores femininas); são, pois, mulheres, mas mulheres de
É com isso que os mortos e as sortes terríveis um porto, o porto de Corinto, ou seja, elas seriam aquelas que esta-
derrubam as casas. Mesmo assim, vantagem é cuidar vam disponíveis para os marinheiros recém-chegados, submetidas a
destas coisas com melodias. Pra isso, boas festas...
eles, ávidas por notícias de outras terras. Cantam em coro, mas não
convidados... Por que aPrumar um grito pra nada? O
sáo coesas em seus pensamentos.
presente tem sua própria alegria,
é mesa cheia pros viventes!
Xopóç l.v. 131 e ss.
érÀuov grovav, ércÀuov ôà poàv
No trecho, a ama simula uma "indeterminada determinação", tôq ôuotávou
tanto pelo modo hesitante de falar quanto pela lacuna profícua KoÀ1iôoç: oüôeno rinroq;
para preenchimentos visuais corporais de sua hesitaçáo' Enquan-
e Al.I' óyeporc, l.e(ov. cn' ôpgtnóÀou
to se mostra oscilante, ela, ao mesmo tempo, fazver os perigos que yàp õoto peÀo0pou poav
vai enfrentar ao exortar sua senhora a sair de casa. A fala se cons- érÀuov, oüôà ouvrlôopoL, ó yúvar, áÀyeor
trói, a princípio, com uma assertiva seguida de adversativa: "farei ôópratoç, énel por gÀío rércporor.
isso, mas..." (v. rsl); o procedimento se repete indicando o valor
da açáo que o sujeito falante realizara; "darei esse ingrato favor" e, Xopóç w. 173 e ss.

ainda, esse sujeito enunciador de realizações acrescenta, para tal, rôç àv êç õyrv ràv operepov
as dificuldades pelas quais passará: o olhar de Medeia como leoa
étr0o1 pú0ov t' oúôoOevt«rv
ôé(cLr'ôpgav,
e touro. Atitude típica de alguém que quer valorizat seu trabalho,
eí noç pcpú0u[ov op-
que fará o que the foi ordenado sob o peso de toda incerteza de su-
yàv roi À1go gpevróv peOeirl;
cesso e que, assim, procura garantir de antemão o perdão para seu pr1ror ró y' êpôv npóOu-
fracasso. A ama mostra sua aporia pelo discurso e igualmente pelo pov gÍÀoLorv àzéottrr.
comportamento cênico, ou seja, a dubitatio é uma rubrica para a dÀÀà pooá vrv
cena. Observe-se, porém, que Eurípides usou dois verbos diferen- ôeüpo nópeuoov oi-
tes, no futuro ôpooto/ farei e ônrôóoo/darei' Um problema surgiu. xov é(<o: giÀo xoi róô' oüô4,
No português, o verbo dar (nossa opção por ser mais enxuto e por oneúoqoá tL npiv xorcôoar
isso mais imediato, mais dramático) aqui seria bitransitivo, "dar roüç õoo:
algo a alguém". Esse alguém não aparece no texto. Nossa solução név0oç yàp pteyátroç tóô' óppator.

I
ME DEIA
PREFACI O 31

Xopóç v.636
é bastante longo. A narrativa contínua, 94 versos em primeira pes-
orepyor ôé pe oc.rgpooúva, ôóprlpro raÀl.totov Oeóv:
soa (isto é, um relato onde o narrador presencia os fatos elencados),

Coro foi mantida. Napeça Medela, o discurso do mensageiro é apresenta-


Ouvi voz... Eu ouvi um berro do sempre pela primeira pessoa do plural, exceto nos últimos versos
da desgraçada colca. E de sua fala. O detalhe é interessante e mostra o tom majestático que
não foi nada brando... o informante quer apresentar em seu enunciado. A narrativa dire-
Mas me conta, ô velha: saiu das portas duplas, cionada para informar e imprimir no público (e nas personagens da
de dentro do palacete... Um grito peça) um efeito terrível é efr,caz. A pessoa que descreve a morte dos
eu ouü! Não me alegro não, ô mulher, com as
reis é confiável, sabe das coisas por vê-las, como um servidor seja
dores desta casa. Tempera mais doce.
na casa de Creonte seja como ele fora, anteriormente, na casa de
Medeia. O dado é importante, pois durante sua fala - por interesse
Coro
ou por amizade - ele é cúmplice da antiga senhora e busca provocar
- Como ela há de chegar à nossa
vistaereceberavoz nela sentimentos de regozijo. Ao fim, faz-se de conselheiro. Desse
das palavras ditas? modo, a personagem que informa tem controle total da situação,
- Se esse ânimo pesado, o impulso e o direciona o sentimento de seus ouvintes (v. t167 - que visão terrível
propósito ela pudesse do peito disporl de ver/ôervôv flv Oeop' iôeiv; ur. t76-77 - vozería estridente/ptéyav
- Por certo, meu zelo náo deixa... K@KUtóv); o tom moralista no encerramento da fala nos autorizou
não deixa os amigos.
a fazer uma interpolação no yerso l.224. Repetimos o provérbio bem
- Mas anda! conhecido: a volta do castigo fno lombo de quem dá]. No geral, por
E a ela, traga aqui.
conseguinte, a fala do mensageiro évalorizadapor meio de um certo
- Que de casa saia fora! Esta voz é amiga.
Apressa-te, antes que malfaça empolamento grosseiro e do uso de frases de efeito. Coloca-se como
aos de dentro: uma cena à parte do jogo teatral e pudemos presenciar várias ve-
este luto transborda. zes que a encenação do mensageiro, no meio da peça, foi espetáculo
particular que arrancou palmas do público.
Coro Mas não trataremos das personagens uma a uma; digamos so-
Seja eu amada com o tempero dos deuses, mais belo dom! mente que o marido desertor devia se transformar em apaixonado
enrustido para terminar como um triste abandonado, a irritadiça
Da mesma forma os mensageiros, estes precursores da "impren-
Medeia passava de mortal traída a deusa poderosa com discurso fir-
sa marrom" tal como os delineia Eurípides, deveriam pular para fora
me e autoritário, Creonte e Egeu seriam instrumentos para Medeia
das palavras do texto e se materializar. Ei-los afoitos, rápidos, exage-
arquitetar seus planos.
rados e interessados em vantagensls. Em Medeia o texto do <íyyeÀoç
Além disso, para efetivar a tradução de um mundo antigo, todos
e todas deveriam falar como estrangeiros arcaicos de um mundo re-
r8, Para a tradução da fala do mensageiro valemo-nos do estudo da Irene J. F.De long, Narra-
moto (porque grego antigo) que, sem embargo, habitam um mundo
tive in Drama: the Art ofthe Euripídean Messenger-speech,Leiden,E i' Brill, 199I.
MEDEIA pnlrÁcro 33

muito próximo (porque mítico e eterno). Mas como Âristóteles (Re- Infelizl Como?! Arre! Foste pedra ou ferro?
tórica,3, r4o4) afirmou que na tragédia, texto de dicção elevada, Eurí-
pides teria utilizado a linguagem de todos os dias, essa referência nos Deixa pra IílTodo permeio agora é inútil!
manteve atentosle. Vestimos o disfarce textual para dizer o sublime
Como então se livrar, entre outras, de
ora de modo excelso ora de forma banal, para estar no ponto máximo
mais esta tão merencória dor.
de tensão entre o oral e o escrito, o poético e o prosaico. Os arcaísmos
próprios da linguagem trágica, se não foram recuperados no momen-
to exato de sua ocorrência, foram preservados e retirados da música, A Marca do Antigo na Nossa Cultura Dilacerada: o orapaypróç
das interjeiçoes e dos ditos populares. A interjeiçáo"ar"l"arre,'(da-
tada por Houaiss como sendo de r5oz), por exemplo, utilizada por É claro que, depois da traduçáo das duplas de atores de traduçao
Guimarães Rosa2o, (w. 9or e rz8o) serviu-nos para recuperar o ü,pc, e levadas em consideração as idiossincrasias de cada papel, ao dire-
partícula interrogativa épica de impaciência; outros termos emprega- tor de tradução cumpria a harmonização do léxico, da sintaxe, do
dos, como "permeio", no verso 8zo, ou ainda "merencória" (v. nr4), tom de cada papel. Este diretor agiu, por alguns rnomentos, tal qual
tomado da velha Aquarela Brasileira composta por Âry Barroso em maestro que afrna, controla e harmoniza, segundo critérios próprios,
1939 garantiram para a tradução um efeito de antiguidade. todos os resultados já ordenados que o levaram a agir, efetivamente,
como um diretor de tradução.
ô.p', ó terv', oütco roi noÀüv (óweç 1póvov Concluída a tradução, o texto foi submetido àatriz regente An-
dréia Garavello, também leitora da língua grega, para uma primei-
tôÀorv', ôq óp' floOo Trerpoç i) oiôapoq ra avaliação e, a partir daí, recomeçou todo o processo: tradutores
ouviam seus textos pela boca de outrem e com surpresas - ora fe-
ir«l: neptoooi novteç oúv preoq Àóyor..
lizes ora enfurecidos - faziam eles mesmos, conjuntamente com a
atriz, os ajustes necessários para a encenação. Nesta etapa o texto
nóç oõv Àúer zpôq toiç á.ÀÀorq
r1vô' érr Àúrqv ôvropotátqv
foi posto à prova do concreto antes de ser adotado no cotidiano da
preparação dos atores profi ssionais.
Aral ôÔ crianças, que assim seja por muito tempo. Ajustes feitos, o texto traduzido foi entregue para memoriza-
ção e encenação aos atores de fato. Este foi o momento mais críti-
co: a ocasião de se verificar a qualidade de palco para cada verso.
r9. De fato, o iamboé mais coloquial dos metros. Prova disso é usarmos mais iambos na con- Quantas palavras pesavam, mal soavam, arrastavam-se no chão!
yer§a uns com os outros e raramente apenas quando fugimos do tom
- coloquial - os hexâ-
metros (1449a 23-28) (Aristóteles, Poética, traduçâo e comentários de Ana Maria valente, Quantas modificaçoes a cena exigiu! Quantas contendas entre
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007). todos! Atores de traduçao e atores de cena buscavam seu estrela-
zo. João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, Rio de faneiro, Editora )osé Ollmrpio, 1976,
pp.70 e 144 rcspectivamente: "Aí Zé Bebelo reparou em mim: -professor, ara viva! Sempre
to. Nunca se ouviu tanto a palavra "meu"! E, todavia, nada soava
a gente tem de se aüstar..."; E"Arre qte ele não desconfiava, não percebia!,, Igualmente, como se supunha ter sido traduzido. Assustados, sofremos, ama-
nap. 134:"Permeio com quantos, removido no estâtuto deles, com uns poucos me âcompa_
nheirei, daqueles jagunços, conforme que os anjos-da-guarda".
mo-nos e odiamo-nos.

t
34 MEDEIA PREFAC IO 35

Do ponto de vista intrinsecamente coletivo do ritual religioso, verbalizados em alta voz; ousamos em cena adotar palavras supos-
social e político dedicado ao deus Dioniso, levar os atores-tradu- tamente inadequadas (palavrões, por exemplo) e por ambiguidades
tores e atores de cena de uma cultura personalista como a nossa maldosas, não criadas, mas preservadas. Mantivemos, porém, a be-
ao exercício tradutório conjunto foi um gesto de crueldade, pura leza sem ambiguidades da segunda pessoa - a qual não impedia em
omofagia. Tivemos que intensificar o papel/função do diretor de nada o entendimento, mesmo para pessoas com pouca escolarida-
tradução, que passou a agir não mais como um regente, mas como de; preservamos arcaísmos recuperados da música popular e dos
um sacerdote cruel na prática do sacrifício. A severidade se ins- falares de outras regiões do país mais preservadas da urbanidade.
taurou pela intervenção drástica no texto dos tradutores/atores. Além do já citado "merencório", surgiram termos como "palpi-
Apavorados, cheios de medo (qóÊoç) vimos a cor do dilaceramen- tar", "pejo", "sorvedouro" e "entojado" - polêmicos para os jovens,
to ritual dionisíaco. Os versos foram desconstruídos, mutilados, evocadores para os mais velhos; modulamos os tons, marcamos os
reintegrados: urna bacanal! Nada do resultado anterior foi man- ritmos, encenamos o texto, várias vezes. As metáforas, hipérboles,
tido integralmente; o diretor de tradução, professor de língua e metonímias, em resumo) as figuras de linguagem foram uma ob-
literatura grega, com técnicas inspiradas nas teorias literárias de sessão. Todas, exceto aquelas que nos escaparam, foram mantidas.

desconstrução, alteridade, estranhamento e hospitalidade realizou fulgamo-las direções para a cena, jogo de esconde-esconde cheio de
o sparagmóslonapaypóç (dilaceramento ritual) de forma que fos- surpresas. É que o teatro quer ocultar efazer ver por todos os meios
se possível desintegrar, despedaçar as personalidades na tradução possíveis e impossíveis. Em tudo isso, a técnica é simples: o poeta
coletiva. Que voz nenhuma sobressaísse nem fosse identificada! A é am expert na "fabricação de imagens" (em grego: eidolopoíesis/
decisão final competru aos atores de cena. elôoÀonoíqo'rç") que têm poder de manifestar, ao mesmo tempo,
Pensamos que este foi um processo para alcançar uma elocu- uma presença real e uma irremediável ausência daquilo que se pre-
tendeu representar2'. Imagens que revelam e que escondem. Estas
çáo trágica sob o patronato de Dioniso, o deus da exuberância e da
ausência, da vida, da destruição e da morte. Por isso guardamos na imagens, nomeadas como visões, seriam produzidas na própria
tradução ambas as facetas desse deus, a privação e a exuberância. poesia e não somente na cena. Mas, ao traduzir, como notá-las no
Cenas cômicas e cenas trágicas lá estão, como o autor determinou texto grego? Isso também é simples. Bastou-nos procurar o alicerce
pela presença de alguns marcadores: as ironias, os usos linguísti- sobre o qual se assentariam as estruturas do poema, ou, em outros
cos, as lacunas, tudo pronto para ser preenchido por outros mar- termos, a terra em que se plantaram palavras para se fazer brotar
cadores, os não linguísticos, visto que, se existe apenas um desses imagens, a gleba das palavras metáforas.
elementos, o texto não se completa. Decerto, o texto teatral exige o Aristóteles (Retórica, r4rob), em uma obra dedicada à eloquência,
concurso ativo e criativo de muitos na sua produçáo, realízação e pondera que este modo de falar por meio de metáforas é, para todos,
espetacularização.
Procuramos flexibilizar o vocabulário suavizando a erudição
tt Platâo, A Repúúllca, traduçáo e notas de M. H. da Rocha Pereira, Lisboa, Fundação Calouste
acadêmica dos recém-formados tradutores, objetivando a clareza. Gulbenkian, 1983, O trecho a que nos referimos é Repúblíca.599a7; a ideia se repete no
diálogo SofsÍa,265b1.
Mas não abolimos o estranhamento poético, guardamo-lo na sin-
zz. Cf. J-P. Vernant, "The Birth of Images", em: Froma I. Zeitlin (org.), Mortals aruL Immortal,
taxe invertida de alguns trechos que são mais bem entendidos se Princeton, University Press, 199 1, pp. 164- 185. A passagem a que nos referimos está na p. 1 68.
36 MEDEIA P REFACI O 37

natural e agradável, pois tem a serventia de, antes de qualquer outra A tônica foi criar :uma tradução funcional cênico. Os vazios ma-
coisa, ensinar de maneira visual, rápida, eficaz e, ainda mais, sem ob- terializam a fragmentaçáo (sparagmós) dionisíaca interna que leva
viedade, guardando a sensação de estranhamento. Mais à frente, nessa a uma sucessão de ações e pensamentos às vezes concluídos e al-
mesma obra, Retorica, t4r2a, o filósofo de Estagira esclarece que "é gumas outras vezes nitidamente inconclusos. Inserimos o pronome
forçoso que as metáforas provenham de coisas apropriadas, mas não pessoal de primeira pessoa para recuperar os particípios, evitamos
óbvias, tal como na filosofia é próprio do espírito sagaz estabelecer a perífrases, mesóclises, formas oblíquas dos pronomes e gerúndios
semelhança com entidades muito diferentes"23; por esta mecânica o que materializam ações extendidas, organizações mentais refletidas
poeta insere no discurso o elemento surPresa que, por sua vez, gera o e prolongadas no português. Deixamos as lacunas, Preservadas por
prazer,pois o texto construído por metáforas é mais encantador. reticências e frases curtas e suspensas: elas serão preenchidas em
No mesmo tratado o discípulo de Platão acrescenta que para cena com gestos e outros signos. Tentamos adequar a imediatici-
ele a metáfora é o estratagema de linguagem de onde derivam mui- dade planejada traduzindo, por exemplo, o futuro (formas conden-
tas outras formas de transferência (tradução) de sentido (Retórica sadas e de ritmo curto na fala antiga) e, em momentos, também o
4tza).Importante para nós ao pensarmos em nosso tema de pes- particípio pelo presente histórico, artifício imperioso para recuperar
quisa, a tradução, é que, para Aristóteles, a metáfora serve para "dis- o fluxo imediato e impactante da tragédia.
por 'o objeto diante dos olhos' (Retórica, r+rrb)" de muitos modos, Descobrimos coisas inusitadas, particularidades clue talvez
de substanciação, de processo e de resultado'n. não sejam imagináveis hoje. Por exemplo, falando de mães e Íilhos,
Resta-nos oportunamente avisar que quase nunca trabalhamos após a tradução notamos que nessa peça nào há - uma vez sequer
a métrica; não criamos neologismos, nem tentamos recuperar a so- - o registro da palavra filho/uióç; curioso, não?" Vocês diriam que
noridade grega. Aqui nossa tradução foi domesticadora: nossos sons talvez a palavra não existisse ou não fosse de uso comum à época.
são brasileiros e amiúde recolhidos, como dissemos, em poetas de lnformo, porém, que Chantraine não confirma essa hipótese'u. A
nossa língua. Por algumas ocasiões homenageamos nossos colegas palavra existia e era de uso comum, exceto para os trágicos' In-
professores e tradutores primorosos em suas saborosas, acertadas e
inspiradoras traduções: faa Torrano, Mário da Gama Kury, Trajano 25. Das peças de Eurípides, vamos encontrâr o termo somente em Troiana.s, w.987 e 747:
Vieira e Maria Helena da Rocha Pereira. .Resos, v. 539; no Fragmento 424i Orestes, 1689.
26. Traduzimos e transcrevemos trechos do Pierre Chantraine, Dictionaire Étymologique de
la Langue Grecque (pp. 1153-I154): "uióç: 'Íilho' (Hom., ior. att. eÍc.), também úóç (at.),
forma mais arcaica uiúç (lacon., uetense) e üÚç (lnscr. ot.) e úç contrato (lbid.); acus. uiúv
23. Arlstóteles, Retórica, tradução e notas de Manuel Alexandre |únior; Paulo Farmhouse (cretense), uía (Hom.), uiéa (Horn., raro), usualmente uióv (Hom. jon.-aÍ. etc); gen. uiéoç
Alberto; Abel do Nascimento Pena, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda' 1998' (Hom., jon. af.), uioç (Hom., tessáIio), uiioç (poetas helenísticos e tardios), uioÚ (Corcira
Texto grego da Aristotle, Ars Rhetorica, W. D. Ross (ed ), Oxford, Clarendon Press' 1959: século vt a.C., Od.22,238, jon.-at. etc.); dat. uiét, uiei e uiL (Hom.), uiei e uirl Çon.-af.); nom.
ôef ôà [eràgspeLv, roeánep eipqtor rpórepov, àrô oirelov xoi pr'1 qcvepcirv, oiov rci àv
rpLÀ
pl. uióeç, uieç e uieiç (Hom.), u'reÍç e uioí Çon. aú.); Útr1eç (poetas helenísticos e tardios); acus.
ooogíg tô ópotov rai âv noÀü ôLé1ouor Oeopeiv eúo'ró1ou. uiúvç (Creta), uiéoç e uÍcç (Hom.), uieiç e uioÚç Çor. at.); gen. uitlv (Hom.), uiétov e ulóv
24. Idem, texto grego da Aristotle, Árs Rhetorica: (jon.-at.); dat. uláor e uioiot (Hom.), uiéot e u'toiç Çon.-at.), [... ]". Como se vê a palavra per-
tré.yo ôi1 rpô ógpátov toúto noLeiv óoo ÊvepyoÚvro o'11çLaivet, oiov tôv àyo0ov ávôpo 9ávct corre textos antigos e tardios de regiões diversas. Chantraine continua o verbete afirmando
"àv
eivo.r retpúyovov pretogopá, (áp<pto yàp réÀeta), àÀÀ' oú olpLcivet Évépyerov: àÀÀà rô que "a palavra uióq'filho'é corrente no ático, rara nos trágicos, ela compete com loiq que
Ooüoav é1ovtoç tlv àxprr1v" Êvépyeto,xoi to "oà ô' óorsp á9etov" éÀaÚ0epov ÊvépyeLo' rcc é atestada somente em Herócloto". Há um registro de seu uso no diminutivo, útôtov, em
i "toüvteüOEv oúv'EÀÀqveç g(avrsç nooiv:" (Bur. IÀ, v 80) rÔ g(ovreç évépyeto rai petarpo Vespas de Aristófanes (v. 1356), um hápax; o ático utiliza, para o diminutivo, mais frequen-
pá: ta1ü yàp Àeyet. temente a forma üiôoüq.
MEDEIA PRF,FACIO 39

crível, não? Como matar o que não existe? Nessa perspectiva, de postura dionisíaca dos rituais antigos, com a inclusão de nossa pa-
fato, Medeia não mata seus filhos, ela mata todos os correlatos que ródia, se conserva.
determinam a relação matriz e filial: os herdeiros, a prole, os re- Finalmente, esperamos que a Trupersa - Raça Dourada de Gre-
bentos, frutos, crias, a estirpe, os descendentes... Essa particulari- gos Brasílicos - possa oferecer não somente este texto, mas muitas
dade do texto em questão nos levou a repensar a cultura antiga, as outras peças para ocuparem as praças do vasto Brasil afora! Agra-
relações familiares, a narrativa teatral e mesmo a construção poé- decemos a todos pela oportunidade. À Capes, ao Pós-Lit-Fale-
tica da tragédia. Pelo mesmo motivo, evitamos, o mais possível, -UFMG, ao Programa Artista Visitante da urrrc, à pcBr-upsc. Aos
o uso do vocábulo "filho". Não conseguimos, contudo, eliminá-lo integrantes, colaboradores, leitores, apoiadores e espectadores da
totalmente. Por fim, nossa opção pendeu sempre por palavras de Trupersa, aos colegas e amigos Antônio Orlando Dourado Lopes,
impacto, de corpo, estranhamento, distanciamento, massa cênica, |acyntho Lins Brandão, Leda Martins, Marcos Antônio Alexandre,
feminilidade; nos moldes que emprega Aristófanes no agón entre Olimar Flores Iúnior (consultor e revisor eleito pelos participantes
Ésquilo e Eurípides em Râs. Havia uma preocupação de ajustar da Trupersa) e Teodoro Rennó Assunção por seu apoio, suas críti-
cada termo ao contexto poético e cultural do texto grego. cas e sugestões sempre muito bem-vindas. Por ora, que se inicie o
Mas não paramos por aí. Ao fim do espetáculo, tal como faziam espetáculo de leitura!
os gregos, paraexorcizar a dor gerada, na esteira dos antigos que in-
tegravam ao festival de tragédias espetáculos de drama satírico e de
comédia, inserimos uma paródia - de autoria de Ana Cristina Fon-
seca dos Santos e Andréia Garavello - da peça euripidiana. A peça
cômica, intitulada O Lado Obscuro do Amor, foi escrita e gravada
como uma radionovela da Trupersa e foi publicada pelos Cadernos
Viva Voz da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas
Gerais. No final deste volume publica-se uma nova versão da mesma
obra, com trechos revistos e acrescidos pela direção de tradução sob
o título Amor, Abismado Amor. Assim, de ruínas do trágico cons-
truímos o riso. A nossa intenção: domesticar a dor e regenerar, pelo
riso e pelo rebaixamento, a alegria. Detalhes sobre o processo ficarão
para outra etapa. Cabe somente recordar que o drama satírico foi
durante cerca de 15o anos parte integrante dos festivais de tragédia e
que os gregos não se propunham a oferecer para seus espectadores
espetáculos trágicos sem desconstruí-los pelo riso2'. Assim sendo, a

27. Bernd Seidensticker, "Dithyramb, Comedy and Satg-Play", em Justina Gregory (ed.), Á
Companion do Greek Tragedy, OrÍord, Blackwell, 2005, p. 44.
MEAEIA MEDEIA
43

TpoEóç AMA
E'í0' tógú,' Apyouç ytq üunruo)uL orcugoç Pudera o casco da nau Argos nunca ter batido asas pra terra
Kólyav éç aiuv rcuavéaç Zuytil,4ya6aç, colca de rochas sombrias e moventes...
p46' êv vunqLot IIQ,íou neoeiy rore Pudera, nos vales do Pélion, nunca ter caído cedro, cortado pra
rprq1eíoa neúrcr1, pq6' éperp,Ítoat yépaç aumentar com remos as mãos dos melhores homens, os que
à,v6põv d.prcréuv oi rõ tayXpuoov 6époç trouxeram acapa de puro ouro para Pélias... Aí, quem sabe,
IIe).íq perfl,)ov. oú yà.p dv ôéoroLv' êp4 minha senhora
M4ôeLa nú py ou ç yr1 ç éil"euo "Ia),rcíaç Medeia não tinha varado terra lolca, muralha coríntia;
ép on L 0u põv ê.rcnlay eio "Iaoov o de amor ferida no peito... por |asão!
ç:
oú6' d,v rcruyeíy neíoq,oot llú,ruôaç rcopaç Nem tinha instigado as filhas de Pélias a matar o pai.
nuré.pa rcarQrcu r4v6e y4v Kopw1íav Nem vivia nesta terra de Corinto com marido e fiIhos.
<gil.ov re rãty npiv à1mlarcoúoq, rcai raqaç <e não tinha - primeiro * enganado os amigos nem os
rcairpiv 7tàv efue rc&v0a6' oú pteptrràv piov> conterrâneos, com certeza não tinha ali pejosa vida>
(üv &.v6pi rcui rércvorcry ú,v\avouoa pàv Fugitiva, benfazeja pros cidadãos dessa terra;
guyotç rú"írarç trtv ugírcero y)óvu ela favorecia fasão em tudo.
aúrQ re nqyrq, (upgépouo"Iq,ooyt: E isto é a grande segurança:
rinep yeyíor4 yíyveru oarrlpíu, que a mulher do marido não discorde.
õrav yuvq rpàç üv6pa p4 ôryoorary1. Mas agora tudo é ódio. Padece pelo que mais ama.
vuv 6' éX)pd ruvra, xai vooeí rà gílrura. Claro! O traidor de seus próprios filhos
rpo6oüç yàp uúrou rércya \eonórLv r' êpt7v e de minha patroa, fasão, deita e rola
y u yo tç'Iuoav p uor)"
rcoíç eúv a(era t, na cama real: casou com a filha de Creonte,
yqpaç Kpeovroç raí6', ôç aiouyvq y)ovoç. o que comanda a região.
Mq\eru 6' 4 6úor4voc 7uyaopévr1 E Medeia, ainfeliz desonrada,
poq pàv óprcouç, oworcq)"ei 6à 6etw4 grita as juras, invoca a mão direita
nior: peyíorr1v, rcai 1eoüç ptuprúperat - o grande pacto - e pros deuses dá
oi'aç d.po$r1c é('Iaoovoç rcupd. provas de que paga ganhou de Jasão.
rceí'rou 6' üorroç, oritp' úgeío' &,Ly4ôóoLv, E jaz, emjejum, corpo entregue às dores,
rày noryrot ouvrqrcouoa \urcpúotç ypóvov derretida em lágrimas todo o tempo,
ürei rpôç dv6pàç lio1er' r16rcqpévq, desde que se viu enganada pelo homem.
oür' óytp' ênaípouo' oür' &,rú),uoaouoo(yqç Não ergue o olho, nem tira a cara da terra:
npóoottov: tiç 6à rérpoç ii 1a),uootoç é como rocha ou onda de mar,
rclu 6 a;v àrco u u v ou 0 er ou ytév4 g íla v, que escuta aborrecida os conselhos dos amigos.
fiv p4 ro're orpéryaoa ril,Àeurcov 6ep4v Yez em quando vira pescoço branquinho e,
aúr1 npõç aúd1v rarép' &noryrb(y gi),ov pr'ela mesma, lastima o pai querido
rcui yaíuv oírcouç 0', oüç npo6oúo' àgírcero ea terra e a casa, coisas que, traindo, largou
I

45

Uer' av6pàç óç ocpe vúv drLyuoaç éXeL. com um homem que agora a desonrou.
é,yvorce 6' q ra),uwa ouyEopaç üno A infeliz aprendeu na desgraça
oíov nmpQac p4 aroÀeineo1ut X1ovóç. o que é abandonar a terra pálria.
oruyei 6à rai6aç or)6' ópãto' eúqpaíverat. Abomina os filhos e nem the agradavê-los'
ôé6orca 6' aúr7v p4 n pou),eúoyy véov: Temo que ela planeje algo novo:
papeia yàp gp4v, or)6' &lé(erut rcarcÕç é que um coração pesado, que sofre, não
raoXouo' (êyQ6a rr1v6e) \erpLaivot 'ré vw resistirá nada, <conheço elal> e temo que ela
pq 9qrcrôv üoy1 gaoyavov 6L' iiraroç empurre uma espada afiada contra o fígado
[oryy1 6opouç eiopão', ív' éorparar \éXoç,] [ou - na calada, entrando em casa, onde
ii rcai rupavvouç "róv re yqpavru rcravy está arrumada a cama] - mate o tirano
rcürercq, peí(a oupgopdv ),a871 rwu. que se casou e aí lhe venha uma desgraça maior.
6ewr1 yup: oüroL pq6íoç ye ouypulàv E ela é terrível: não vai ser fácil
45 éX9puv uç ar)r11 rca)"),ivrcoç qoerut 45 quem caiu no ódio dela cantar triunfante.
d.l),' oí6e naí6eç àrc ryoyrtv nenaupévoL Mas estas crianças, acabada a correria,
or e íyou o t, l.t1r p õ ç oú I àv ê.vv o ou yev o r vão para a mãe sem saberem de seus males:
rcorctly: véa yàp cppovriç oúrc d.lyeiv qr)"eí. mente jovem não gosta de sofrer.

Iluôayayoç PEDAGOGO
rqlqtày olrav rcrffpa 6eonoiv4ç ê1.r4ç, Ô prata velha da casa! Serva de minha patroa,
ri npàç ru)"q,wt qv6' üyouo' ép1píav por que ficas nos portões, carregada de solidão,
éorqrcuç, aúrq 9peoyevq ouu'rfi rcarca; chorando sobre ti mesma os próprios males?
rútç ooú yovq M4ôeru leíneo1u 1éler; Como assim?! Medeia está só e te quer longe?

Tpogoç AMA
rércvay ôna6à rpéopu rCov'Iaoovoç, Idoso companheiro dos meninos de Jasão'
Xp1oroíot ôoú"oq (uUqopà rà \eonorÕv pra um bom servo a desgraceira dos senhores
rcarcãtç rí'rvoyru, rcui cppevõv d,y9otrre'rat 55 desaba com força e abate os corações.
éyà yàp àç rour' ércpépr1rc' &,Lyq6óvoç Assim eu cheguei numa tal dor, que me veio
tóo9' i'prepoç p' únrfl,Oe yy1 re rcoúpavQ o desejo de - pra terra e pro céu - vir aqui
hé{ar poÀoúo71 ôeupo 6eonoív\Ç rúXuç. dizer a sorte da senhora.

IluÂayoyoç PEDAGOGO
oüno yàp 4 ru)"awa tauerw yóat; Então, a infeliz não desistiu dos gemidos?
46

TpoEoç AMA
(41ã o': êv d.pX71 n1pa rcoú\éna preooí. Te invejo: a coisa só começou e nem chegou ao meio...

Ilaôayayoç PEDAGOGO
rit l,tdtpoç, ei
Xp\ \eoróraç eitreív ró6e: Que tonta - se convém dizer isto dos patrões, hã? -
tbç oú6àv oí6e rãtv vtatépu;v rcorrcríy. não sabe nada das desgraças mais recentes.

Tpogóç AMA
rí 6' éorru, ãt yepaLé; y.t4 g1over gpaout. Que é, ô velho? Não recuses contar.

IIuL6ayayoç PEDAGOGO
oú6év: yeréyvav rcai rd, rpóo1' eipqpeva. Nada; aliás, já até rne arrependi do que disse.

Tpogoç AMA
6S p4, npôç yeveíou, Kputre ouv6ou)"oy oé1ey: 6S Pelo teu queixo, não faças mistério pra tua companheira de
oLyr1v yap, ei Xp|, rÕv6e 04oo1tou 7Tept. servidão: guardo isso em silêncio, se for preciso.

IIaôayayoç PEDAGOGO
íircouoa rou )"éyovroç, oú \orcdsv rclúeru, Escutei por aí, sem parecer que ouvia,
neoooüç npooe)")rbv, év1u 6q nu).akepoL quando ia pra praça dos jogos, onde os bem velhos se sentam,
9q,ooouoL, oeyvàv apEi llery7v4ç ü6ap, ao redor da santa fonte Pirene,
óç rouo\e taí6uç y4ç é),av Kopw1íaç 7o que essas crianças, dessa terra coríntia,
oüv yqrpi pé)")"u rfio\t. rcoípavoç y1ovôç com a mãe, o rei Creonte vai exPulsar
Kpéov. ó 1.tév'ror pu9oç ei oaglç ii6e pra longe. Se a história é certa,
oúrc oíôq; poú,oíp4v 6' i*v oúrc eívut róôe. isso não sei. Queria que assim não fosse, hã?

Tpogóç AMA
rcaà rq,ut "Iaoov raí6 aç é.(avé(erat E como |asão suporta ver os fi.lhos sofrerem tal?
75 nuoyovraç, ei rcai p4rpi \rugopd,v éXer; A briga dele não é com a mãe?

IIaLôayoyoç PEDAGOGO
tq)"aLà rcq, w õy ),eireru rc4 ôeuytarav, As velhas pelas novas! As alianças são deixadas
rcoúrc éor' é.rceívoç roío6e \ópaotv gí),oç. e aquele não é amigo desta casa.

ü
48 49

Tpogóç AMA
anuÀ,opeo9' üp', ei rcurcôv npoooíoopev Ara! Estamos perdidos, se o novo mal
yéov nq,),q,1ãt, npiv rc6' ê(qvrlr1rcévat. soma com o antigo, antes dele acabar.

IlaÂayayoç PEDAGOGO
aràp oú y', oú y&,p rcaLpàç ei6évu ro6e Mas tu, ó, ainda não é hora da patroa saber
\éotrowau r1oúyuQ rcai oíya loyov. disto, hã? Fica quieta e segura a língua!

Tpogóç AMA
õ rércv', d.rcoue1' oíoç eiç úyuç naqp; Ô meninos, escutai como é vosso pai!
õ).oLro pàv 1.r4: ôeonór1c yap êor' é1,tóç: Não que morra - é meu senhor -
drd.p rcarcoç y' àv éç gilouç dliorcerou. mas sendo mau pros amigos... é culpado...

Ilaôayoyoç PEDAGOGO
ríç 6' oúXi 0v4rÕv; üpnyryvtborce$ró6e,
I
85 E qual dos mortais náo?! Só agora sabes isto, hã?
tbç nocç rLç aúràv rou né),uç pa),),ov qt)"eí, Que todo mundo ama a si mais do que ao próximo,
[oi 1,tàv 6rcaíuç, oi 6à rcui rcépôouç XapLv] [uns com justiça, outros por vantagem] se é mesmo que, por
ei rcúo6e y' eúvffc oüyerc' oú orépyu rur4p; causa da cama, o pai não gosta mais destes.

TpoEóç AMA
ír', eõ yüp i.otaL, ôapa'rav éorr;, rércya. Idel Que seja pra beml Pra dentro de casa, crianças!
oü ô' pulrcra roúo6' êprlptboaç ép
tbç E tu, guarda-os bem longe, o mais possível
rcai p4 ril"a(e p1rpi ôuo?uptoultévy1. e não te achegues da mãe entojada.
(ôry yàp eí6ov õyt1tu vw'ruupouyév7v É que já vi o olhar dela: toureira
roío6', tiç rL \puoeiououy: oú6à naúoerqL - pr'estes aqui, como que... Matutando algo. E não vai acabar
oug' oí6a, npiv rcaraorc4rltai rwr.
Xo).ou, com a sanha - vê bem - antes de atacar alguém. Que faça issol
éy9poúç ye pévrou pr1 gilouç, ôpuoeÉ u. Mas contra os rivais, não contra os amigos!

M(6eru MEDEIA
i(í), ilh...l ôÔ eu!
\úoruvoç éyà pd,éa're nóyay, Infeliz! Sofro em vão!
itít y.roi ytor, trõtç dv ôLoiptuv; ilh. .. ! ôÔ...1 mmôI, mmoi, como queria morrer!
TpoEoç AMA
tó6' gí),or ruí6eç: pirqp
ê,rceivo, É isso aí, filhos queridos! A mãe...
rcweí rcpaôiuv, rcwei ôà Xú.ov. no coração palpita! A zanga palpital
100 oneu6*e 1ãooov ôtbparoç e[ou Apressai-vos, rápido, pra dentro de casa,
rcai p4 neluoqr' óypamç éyyüç e não chegai junto do seu olharl
pq6à ryooé)"14r', &,),),à gulaooeo?' Nem passai perto, mas vigiai!
rlypLov fi)oç oruyepav re Eúow Gênio difícil... Natureza odienta
gpevôç aú9uôouç. de peito arrogante!
105 ire vuv, Xapeí9' ôç rayoç eloa: 105 Ide agora! Correi, ligeiro, pra dentro!
6q)"ov &n' d.pXqc à(atpoyevov 'Stá claro o começo... Suspensa, a nuvem de
vérpoç oilttoy1ç cbç raX' dvuryet lágrimas ferverá logo com maior calor!
pei(ou 1upQ: rí nor' êpyaoeraL E então, que farão as furibundas
pey a)"ó or)"ayXv o ç 6u orcu'ranuu oro ç e enormes entranhas!?
Ilo yuXq 6qy0 eíoa rarcoíoLv; 110 A alma mordida pelo mal!?

MrlEew MEDEIA
aiqí, Aiai!
énq9ov r),uptav é.ra1ov yeyalav Desgraça! Sofri, sofri grandes e
üfi' ó6uppriv. ã; rcarapuroL merecidos pesares. Ô malditos - que morram -
raí6eç õ)"oLo)e oruyepuç prurpàç filhos da mãe odiada!
oüv rurpi, nai nã,ç 6optoç éppot. Com o pai e toda a casa desapareçam!

TpoEóç AMA
115 itit 1,Loí por, ià r)"qyav. 115 iôÔ, mãel Iômôi, desgraçada!
ri 6é oot naí6eçrurpõç &yn),urciaç E por que - pra ti - os filhos entram na culpa
peréyouoL; rí roúo6' éy1etç; oLpot, do pai? Por que odeia estes? Ôi eu!
rércvot, p4 n na040' aç r)nepalyÕ. Como me dói, meninos! Que não soframl
6ewd, rupavvav L4puru rcuí roç Vontades terríveis de tiranos!
il, íy' e.pyó pevo t rolÀd, rcp arottv'reç Quão pouco se dominam! São muito mandões; e
yuletr tb ç ó py àç yerup a)")"ou o ty. que dificuldade é acalmarem o rancor...
rô yd,p ei1ío9u (4v én' iloorcLv Pois acostumar a viver entre iguais
rcpeíooov: é1toi youv êni pi1 peya)"o4 é o melhorl E eu quero mais é,
óppdry r' eil4 rcaray1paorcew. sem grandezas, na dureza envelhecer...
125 rãtv ydp peqiov ttpãna pàv eineív 125 Pois então! Pra vencer, que se diga antes
roüvopa vrcq, Xpfio1ai rc yarcpQ o nome da Cautela! Usar dele é muito
lQoru pporoíotv: rà ô' úneppal)"ovr' melhor pros vivos: exageros dão vantagem
oú6évot rcatpôv \úvqrou 9vr1roíç, nenhuma pros mortais.
yeí(ouç 6' ütqç, óruv ôpyn1y1 A cegueira maior é quando,
6aí potv o[rco 6, dtréôoxev. irritado, um demônio visita a casa. ..

Xopoç CORO

é,rcluov Eovav, éduov 6à poixv Ouvi voz... Eu ouvi um berro


rdç \uoruvou da desgraçada colca. E
KoLXíô o ç: oú 6 énut fi r to ç; não foi nada brando...
135 à,ll'õ yepaLa, )"é(ov. &,n' àp«pmó)"ou Mas me conta, ô velha: saiu das portas duplas,
ydp éoto pe)"u1pou poav de dentro do palacete... Um grito
ércLyov, oú6à ouv46opat, õ yúvat, üLyeot eu ouvi! Não me alegro não, ô mulher, com as
$(1iy.aroç, ênei por gLlía rcércpurat dores desta casa. Tempera mais doce.

Tpogoç AMA

oúrceioi \ópoL: gpoúEu ra6' iiô4. Casa? Não há! Agora desgraçou tudo!
140 rõv ptàv yàp éXu Lérctpa rupavvov, É assim: um tem a cama dos tiranos,
i16' év )alupoqr1rcet prcd1v a outra derrete a vida nos lençóis, a senhora.
ôéorowa, gílav oú6evàç oú6àv Não há, dos amigos, nenhum.
napa1aMoyévq çpéva pú0o4. Nem um coração aquecido com palavras...

Mr16eru MEDEIA

uiuÍ, Aialil
üa you rcegatraç g),ô( oitpuviu Atravesse a minha cabeça a chama celeste!
paír1: d 6é por (4v é.u rcépôoç; 145 O que eu ganho ainda estando viva?
geu cpett )uvurq rcataluouíyuv Phul Que na morte me percal
B Loràv oruy epdv npolmoúoa. Que uma vida de desgraça abandone!

Xopoç CORO

õ Zeu rcai yã rcui cpãtç,


d.rcç, Ouça Zeus! Terra e luz...
&ydl oíav d.\úoravoç em que tom canta
pélru vú1,tcpu; a desgraçada ninfa!
ríç ooí norc rd4 àn).a- Que desejo é esse, em ti,
tou rcoíraç époç, tit paraia; do leito fatal, louca!?
ofi €ú o€ t 9otyorcou r e).eu - Tens pressa do fim? Da morte?
ru: p46àv ro6e )"íooou. Nada assim suplique.
ei ôà oàç nóotç Se o teu esposo
rcuwà, )"éy4 oepí- venera estas camas frescas,
(e6 rcefuq ró6e pfi yapaooou: não te aflijas!
Zet)ç oot ru6e ouvõm1oet. Zeus, disto, te fará justiça.
p\ )"iav Lacrimosa demais!
rarcou 6upo1,tévu oày eúyaroty. Pelo teu homem, não te amoflnes!

Mr16eru MEDEIA
16o ãt peyú,a @ép rcai nóryr' Aprep,t t6o Ó grande Têmis e soberana Ártemis,
leuooe9' & naoyo, peyaloq óprcoç vede o que sofro,
êv 64oapéva ràv rcaruparov atrelada ao marido por juras solenes.
nóow; fiv nor' éyà vúygav r' êoí6otpt' Que eu possa Yer algum dia o maldito
q,úroiç peÀ a0 po r ç 6 rurcvaLo ea noiva arruinados no palacete deles.
1tév o u ç,
165 oí' épà rpoo1et rol1.tao' &6meív. 165 El-es, antes, tiveram a coragem de me ultrajar.
õ nwep, tit nolry, õy rcoow aioyprÍtç Ô pai, ôÔ píúria, que me expulsastes pela vergonha
ràv éptàv rcreíyoto' dnevao94v. de ter matado meu irmão!

Tpogoç AMA
rcÀue}' oíu léyu rcürutpoarut Escutai de que modo fala e urra...
@épw eúrcraíat Z1voç, ôç óprcav Têmis sagrada e Zers das juras,
0v4roíç'ray íaç v ev ó T.uorut; o dito juiz pros mortais,
oúrc éo'rw (itrr'tç év rwL ptrcpQ não é corn pouco
6 éono ru a Xoloy rcuraraú oet. que a senhora acalma azanga...

Xopóç CORO
trãtç i*v êç iiry: ràv úperépav - Como ela há de chegar à nossa
{.l0or pú1on r' aúôa1éwov vista e receber avoz
175 6é{arc'ôptguv, das palavras ditas?
eí noç papu9uptov ôp- - Se esse ânimo pesado, o impulso e o
yàv rcui )"r1yu gpevãv pe9et4; propósito ela pudesse do peito disporl
yqrot ro y' épàv rpó9u- - Por certo, meu zelo não deixa...
ptott Eí),orcw &néoro. não deixa os amigos.
&))"d. paoa vru - Mas anda!
56

6eÕpo nópeuoov oí- E a ela, traga aqui.


rcov é(a: Eí),u rcui ra6' aü6q,, - Que de casa saia fora! Esta voz é amiga.
oreúoqoa u npiv rcq.rcCooat Apressa-te, antes que malfaça
roüç éoo: aos de dentro:
név9oç yd.p peyú,aç ro6' ôpparut. este luto transborda.

Tpoqoç AMA
\paoot ra6': àràp gopoç ei rcíoa Farei isso! Mas periga eu não convencer
185 \éonowav êp4v: 185 minha senhora...
póX9ou 6à yapru rriv6' énôtboa. Farei esse ingrato favor; mesmo
rcodrot rorca\oç 6épypa ),eaívqÇ com aquele olhar de leoa parida,
d.roraupoúrut 6yaoív, órav rq a mirada de touro pros escravos, quando um
pu0ov rporpépav ril,aç ópp40y1. - pra dizer palavra - chega perto...
orcuLoüç 6à )"éyov rcoú6év u oogoüç Pra quem diz "sinistro e nada sábio são os antigos"
roüç rpóo1e pporoitç oúrc d,v d.paprorç, não posso dizer que erra...
oírweç í)yvouç êni yàv )ot),íq.Lç Uns, hinos pra festas e mais banquetes
ê.ttí r' tapà ôeirvoq
ei).ootívatç rcui e ainda jantares pra vida, uns,
qiipovro píq repnvàç àrcoaç: descobriram prazenteiras cançôes,
oruyíouç 6à ppoú» oú6eiç lunuç 195 mas pra aliviar tristeza cruel nenhum
qúpero porioy rcai roLuXóp\oLç viyente descobriu -
nem coã Musa, nem
q6uíç ruúew, ê( rbv 1avarot na harmonia das cordas - encantos.
6ewod re úpL ogu),),ouot 6ópouç. É com isso que os mortos e as sortes terríveis
rcoúroLru6e pév rcep\oç àrceío)ou derrubam as casas. Mesmo assim, vantagem é cuidar destas
pú"raíu pporoúç: íyot 6' eü\etnvot coisas com melodias. Pra isso, boas festas... convidados. '. Por
6aireç, il paqv reívouot po4v; que aprumar um grito
rà rupàv ydp éXu répy: à,9' aúrou pra nada? O presente tem sua própria alegria,
6urcôç il,r1 pa pa p poroío:. é mesa cheia pros viventes!

Xopóç CORO
205 iaXàv d,rov roluotoyov Um choro, ouvi! Triste... Tão gemido...
yóov, ).Lyupd.6' uXeu poyepà Uma agonia clara e doída reclama
poq rõv ê.v )"éyu rpo\orav rcarcóvupgov: na cama o esposo ruim... Infiel.
9eorcÀureí ô' d.ôma <ru04> Injustiça sofreu e aos deuses exora
noúouoot rdv Z4vàç ôp- a promessa deZets,
rcíav @é1.tw, ü vw é.paoev Têmis, a que lhe fez andar
58

'ELL|.6' êç avrínopov 210 pela Hélade... Para o outro lado


ü' ü).qvuxtov étp' ú.pupàv do mar ... Da noite... Para o salino...
Ilówou rc).y6' &,nepurov. Sorvedouro vazanle sem fim.

Mr16eru MEDEIA
Kopiv)ru yuvairceç, é(fl,1ov 6oyav Mulheres de Corinto, eu saí de casa;
215 tt4 ltoí rL pLépnyqo)': oíôa ydp no)"),oüç ppoútv 215 Não me censure ninguém. Sei que muitos mortais
oeyvoüç yeyÕraç, rcüç yàv oyparutv d,no, ficam reservados - uns longe dos olhos, outros às portas e
roüç 6' êv 1upaíoq: oi 6' à<p' r1oúXou noôôç quem fica quieto ganha
ôuorc),eruv é.rct4 ouvro rcai p q?u piav. má fama, é um fraco. Não há
6írc4 yàp oúrc éyeor' év ôg1a),ptoíç ppoxiv, justiça nos olhos dos mortais: antes de
220 óor4 npiv av6põç on),uyXvov êrcpa1eiv oagrlç conhecerem bem o interior de alguém,
oruy ei 6 eôoprctb ç, oú 6àv 4 6 rcr1 pév oç. só de olharjá odeiam quem nada fez. Ao
Xp4 6à (évov yàv rcupra npooyapeiv nó)"er: forasteiro só cabe achegar-se muito à cidade;
oú6' d.otàv liveo' óouç aú0a64ç yeyàç ao de dentro que, arrogante, por estupidez
rLrpàç no).írarç êoriv à,pa1íaç üno. é cruel com os cidadãos, não aprovo.
225 époi 6' üd"rrov npayya rpooreoàv ró6e Sobre mim, porém, esta coisa inesperada desabou
VuX1v üéE)aprc': oíXopat ôê rcai píou e arrasou minh alma. Vou embora, perdi a
Xapw pe9eioa rcar1aveív Xp11Ç,t, Eí),ar. graça na vida e quero morrer, amigas!
év r$ yàp fiv poL navru, yLyvrborca rcalãtç, Aquele que era tudo para mim, sei bem,
230 rcarcrcroç &,v6p,itv ércpépay' oúyàç roorç. 2jo me saiu o pior dos homens, meu marido!
rotyrav 6' ijo' éor' éptryuXa rcai yvtby4v é.Xet De tudo que é vivo e tem vontade,
yuv aircéç éo pLev d,O)"Ltbrurov mulheres somos as mais lamentáveis criaturas.
Euróv:
üç nptítra pàv 6ei yp4yaruv úneppd,fi Primeiro, a preço exorbitante, é preciso
róoLv npiuo9aL 6eoróu7v re otitparoç comprar um marido, um déspota de corpo
),apeív: rcarcou yàp roúr' ér' ülyrcv ro«óy. tomar: da desgraceira a mais dolorosa desgraça.
zJ) rcav rQ6' ayàv pé.yrcroc, 4 rcurcàv Àapeív 235 E a maior batalha é esta: conseguir um imprestável
ii yprloróv: or) yd.p eúrcleeíç anú"Layai ou um bom, é que o divórcio não é bem visto prãs mulheres e
yuva$iv oú6' oÍóv r' avrivaolur nooLy. nem o tal marido podem recusar.
êç rcuwa 6' 4e4 rcui vóptouç &,gryyév4v Aí, ao se deparar com novos costumes e leis,
6eí pavrw eívat pi1 trtu1oúouv oírco1ey, é preciso ser adivinha: não se aprende em casa
240 ónoç e*prcra Xp4oetu (uveuvéry. 240 como melhor servir o companheiro. E se,
yàv ru6' 1yiv ê.rcrovoupévuoru
rcav eõ lida acabada, a nós o marido leva bem,
nóotç (uvoLrcy Ui Fíq Eépav (uyóv, sem violência, aí, no cabresto, a vida
(4),aràç aiúv: ei 6à pq, )aveiv é invejável. Se não, é útil morrer.
Xpeáv.

r*
61

d,v4p 6', iirav roíç évôov üy94rar (uvtitv, Mas o homem, quando se irrita com os de casa,
é(a yo),àv énoruoe rcap\íav dorlÇ sai e fora faz cessar o fastio do coração

[4 ,rpôç Ei)"ov tLv' 4 npàç ifi"Lrca qaneft]: [seja com um amigo, seja com um colega].
]á nós somos obrigadas a mirar uma só alma.
1yív 6' avuyrc4 rpôç píuv !/uNqv p).éneLv.
E dizem que nós vivemos uma vida segura,
LéyouoL 6' qUaç ôç drcív\uvov píov
(õpev rcar' o[rcouç, oi 6à yapvavrat ôopí, em casa, e eles guerreiam com suas lanças.
250 rcarcãtç Epovoúv'reç: áç rpiç iiv nup' q.orí6q
250 Bobagem! Como queria junto do escudo
três vezes lutar a parir uma só vez!
or4vaL 1éloLy' dv pallov ij rcrceív üru(.
d,),)"' oú yàp aúàç rpàç oà rccíp' íircu Loyoç:
Mas uma mesma história para mim e para ti não dá.
Tu tens essa cidade, a casa do Pai,
ooi ptàv noÀq 0' ii6' êori rcai rarpàç 6opoL
piou r' óv1oLç rcui gil.r'tv ouvouoíq, vantagens na vida e a companhia de amigos;
já eu, solitária e sem pátria, afrontada
255 à.yà 6' ép,lt oç üno)"tç oúo' úppi(optar
pelo marido, arrastada da terra bárbara,
npõç d,vôpóç, êo y4ç puppapou ).e).y1oyévr1,
sem mãe, sem irmão, sem família,
oúyrpép', oúrc d6e),Eóv, oúXi ouyyev1
de porto em porto busco refúgio dessas desgraças.
yúopyíoao)ar 14o6' éXouoa ouygopac.
roooú'roy oi,v oou -ruyXaveru poú"4ooyaL, Então, o que eu queria de ti é isto: se eu tiver alguma chance e

iiv proL nopoç r4 yrlyavq r' é(eupe0y1 z6o encontrar um meio engenhoso de,
róow 6írc4v rd;v6' avrrceíoqo9ou rcqrcãtv
com justiça, fazer meu marido pagar por esses males...
[e também o tal presentinho... A menina com quem casou]
[ràv 6ovra r' aúrQ 1uya'rép' ii r' Éy1yarc],
Não conteis nada! Mulher é cheia de medo,
oryuv. yuvil yd,p úM,a pàv Eopou n)"éu
rcarc4 r' i.ç &,)"rcr1v rcd oí64pov eioopdv:
fracaparaver batalha e ferro,
265 mas quando acontece ser, na cama, injuriada,
265 õrav 6' éç eúv4v 4ôrc4pév4 rcupy1,
aí não existe outra mente mais sanguinária.
oúrc éorw ü))"4 gp4v prLurgovtoúpa.

CORO
Xopóç
Isso farei, pois é justo dar troco ao marido,
6paoa rq6': êv6írcaÇ yàp érreío7y rooLv,
Medeia. E lamento, não admiro tua sorte.
M(6ew. rev)eív 6' oü oe )auya(a rúXaç.
Mas vejo chegando Creonte, desta terra o rei
ôpÕ 6à rcai Kpéowa, u1o6' cÍvarca yr1Ç,
270 e dos novos planos o mensageiro.
or e iyov'r a, rcouv ritv üyy elov p o uleu pma v.

CREONTE
Kpér,tv
Por ti, a tenebrosa, a com o marido irritada'..
oàr1v orcu1porôv rcod róoet 0uyou1,tévr1v,
Por ti, Medeia, ordenei que passes longe desta terra
M4ôu', àyeinoy qoôe y4ç é(a nepuv
fugida, levando contigo os dois filhos
<puyaôa, LaPouoav ôLood oüv oaurfi rércva,
rcai p4 u pé).).eLv: riç êyà BpaBeüç )"óyou e... sern demorarl Como eu decido a questão,

I
63

rcuô' eiyí, rcoúrc üre4tL npàç 6opouç raÀn éisto. E não estarei de volta ao palácio sem
npiv üv oe yaíüç r€.pltóv@v é(a pa),a. antes te jogar fora dos limites da terra.

Mrl6eLu MEDEIA
uiuí: ttuvúL4c 4 ralaw' anollupar Aiai! Arruinada! Completamente destruída!
êy1poi yd.p é(ruu ruwa ôr1 rcoÀ,utv, Os inimigos já, íçaram todas as velas
rcoúrc éotLy ürqç eúnpoootoroç é.rcpuoLç. e não há porto seguro contra a ruína.
z8o ép1oopu 6à rcd rcarcãtç raoXouo' óp1oç: Mas... Perguntarei, ainda que sofra muito:
tivoç p' ércq,rL y4ç àroore)"),etç, Kpéov; Por que me expulsas dessa terra, Creonte?

Kpéov CREONTE
6é6oLrcq o' (oú6àv 6eí rapapmioyew ),óyouç) Medo de ti - não preciso embaralhar palavras -
p4 yoí rL \paoy1c raí6' d,v4rceoroy rc0rcóy. de que não causes à minha filha incurável mal.
ouypa)")"erar 6à ro),),ü rcu6e ôeíypara: Muita coisa junta motiva isto:
285 oogrl négurcaç rcai rcarcõv nd)"av il6p4, 285 tua sábia natura, uma perícia pra muitos males...
Luryl 6à Lerctpav av6pàç êorep1prévry e um doer-se quando privada das cobertas do homem.
rclúo 6' à,ret)"eív o', tíç ànayyéL),ouoí yor, Ouço-te ameaçar a noiva, o donatário dela e o noivo -
ràv 6owq, rcai yqyawa rcai yapoupév7v contaram pra mim - tramas algo fazer...
\puoeLv'rt. raÕr' o,)v npiv rq1eiy Eula(oyat Disso, sem dúvida, antes me protejo.
rcpeiooov 6é y,Lot vüv npoç o'&.reX1éo1au yúvar, Melhor, pra mim, molestar-te, agora, mulher,
ii pLa).9urco9év9' üorepov peraorévew. que amolecer e depois choramingar.

Mq6eru MEDEIA
Eeu geu. Phu! Phul
oú yúy pe npCorov ú,),à nd,lqrctç Kpéov, Não é de agora. Muitas vezes, Creonte,
ép)"arye ôo(u peyú,a r' eípyaorat r<arca. a fama me trava e me faz muito mal.
Xp4 6' oüro0' óonç &.prigpav neEurc' uvi1p Um homem, esperto de nascença, nunca deve
295 naí6uç nep woÕç érc61ôq.orceo1aL oogoúç: 295 nutrir crias sábias demais,
Xapiç yd.p a),),tlç rtç é,Xouorv d.pyíaç pois, fora a fama de vadios que levam,
rp)óvov rpàç &orÕv a),gavouot \uoyevfi. ganham a inveja e hostilidade dos cidadãos.
orcqLoíor yàv yap rcawd, npoorpépav oo<pd É que aos broncos, quando trazes um novo saber,
6o(eLç aXpeíoç rcoú oogàç neEurcévat: pareces inútil, não um sábio nato;
«itv 6' q,õ \orcouvrav ei6évq,L'rL rouçil.oy 300 e mais, se te acham superior porque julgas
rcpeíooutv vo1,uo1eiç ê.v nó),u Lunpõç gav71. sutilezas saber e, na cidade, ofensivo te mostras.
65

éyà 6à rcaútr1 rffoõe rcowutvãt rúX7ç: Eu mesma compafiilho dessa sorte:


ooE4 yd,p oõoa, roíç yév eip' énígAovoç, Porque sou sábia, há quem me ache odiosa.
koíç 6' rlouXula, rcíç ôà 1arépou rpórou, [Há quem me ache tranquila, há quem o contrário, há
roíç 6' aõ npooawrlç: eipi 6' oúrc dyav oog4l até quem me ache áspera. E eu nem tão sábia sou assim]
oü 6' aõ 9opy1 pe: pq rí nÀ4ppeÀàç na0y1ç; E tu ninda temes que eu te faça sofrer algo fora de tom?
oúX,io6' íXet pot, 1ti1 tpéoy1c i11tuç, Kpéov, Não penses assim de mim... de nós - sem medo, Creonte!
tóor'éç rupavvouç üv6paç ê.(apapravew. como prejudicar homens que são reis!
oit yà,p rí p'
46írcr1rcac; ê(é6ou rcópr1v Em que tu foste injusto comigo? Casaste a moça
órqt oe 9upàç fiyev. ú,À' épôv roow com quem teu coração mandou. Mas o meu marido,
prorÍt: oü 6', oípa6 orttgpovíov é6paç ra6e. ele eu odeio! E tu, creio, foste sensato.
rcui yúy rà pàv oõv oít g1ovãt rca)"ãç é.Xent: Mesmo agora, não invejo, que tudo te vá bem:
vupgeúer', eõ npuoooLre: rqv6e ôà X1óva faz o casamento - que bem ajas!, mas, nesta terra,
éaré p' oirceíy. rcai yàp q6Lrc4pévot deixa que eu more nela! Mesmo injustiçada
otyq oo peo1 a, rcp e rcoóv av v mó 1.tev o t. silenciamos, fomos vencidas pelos mais fortes.

'
Kpéav CREONTE
)"éyetç &rcouoaL paÀ1arc', &,1),' éoa qpaxhv Falas doçuras de ouvir, mas no fundo,
óppa\ia pot prl rL pou),euoy1c rcqKoy, me dá horror que trames algum mal.
rcoQ\e 6' qooov 11 napoç rénot1ot oor: Por tais coisas fio menos em ti;
yuvilyà,p ô(u?upoç, rbç 6' uüraç &v4p, és mulher, impulsiva, tal qual macho,
pQav cpuÀuooew 4 otom7)"àç oog4. porém, é mais fácil vigiar um sábio calado.
e,À)"' é|fi' àçrayora, p\ ).óyouç),éye: Então, ligeiro! Sai sem falar palavra.
ôç raÕr' &,pupe, rcoúrc éXetç réXvqv óraç Isto agrada. E não terás manhas pra
peveíç nap' q1tív ouou Euopevi1ç époí. ficar entre nós sendo hostil a mim.

Mq6eru MEDEIA
p4,npóç oe yovarav rr1ç re veoyapou Kopqç. Não! Aos teus joelhos! Pela moça, a norra noiva!

Kpéo» CREONTE
),oyouç àvuloiç: oú yà,p iiv neioaq ttoré.' 325 Perdes palawas: náo convencerás jamais.

M46em MEDEIA
e,),À' é{d,qç pe rcoú6àv ai6éoy1 lrcaç; '
Então me expulsas e não respeitas minhas preces?!
67

Kpérov iCR.E..ONTE

g'tlãt ydp oú oà ya)"trov ff 6o,7touç éyoúç. Náo te.amo imais dO,que rneu palácio...

Mr16eru MEDEIA
õ ra'rpíç, «i»ç oou rcapra vúv pveíav éXa. 'Ô terra natal, corno aEora tenho nítida'mernória de ti!

Kpé«ttt CREONTE
nl1v yàp'rércyay i.1,totyt. cpíl,rmov noLu. ...,este é o maior amo,r,para rnirn,,depois da prole.

Mfi6eru ,M.EDE,'IA
geõ tpeü, pporoiç ipareç ôç rcarcàv yéya. Fhu! Aos mortais... Que grande mal são os arnores!

Kpéav CREONTE
iinaç üu oípu6 rcai napaortiaru rúXur. Penso que as 'sortes tarnbérn ajudam...

Mri6eLu M]EDEIA
Zea, pq ),uAot ot rõyô' ôç aíircç rc,axõty. Zeus, não te'esqueças do culpado dessa desgraça!

Kpéat C.RtsONTE
épr', ôr paraía, rcai 7,t' &,na),),«{ov róyay. Vai, ô,Iouca, e me liberta de pelejas!

Mr1ôeru MED.E.IA
novoúpev fipeíç rcoú nóyov xeypr1pe1a. Pelejamos nós! E de pelejas, não carecíamos disso!

Kpéov CREONTE
raX' ê{ ôna\rbv yerpôç bolr,pn píq. 335 Serás expulsa, corno vês, pelo povo, mulher!

Mriôeru MtsDEIA
pfi 64rw roÕró y', à.)"),q, a' üwopat Kpéov. Isso não, por favor! Te imploro, Creonte!

Kpétttv CREONT
iirtov nupé(er{,, ritç éouçaç, õ y,úvar. Farás confusão, corno é de costume, ô mulher.
69

Mr16eru MEDEIA
<peu{oúpe9': oú rcu?' ircéreuoot oott ruXeiv. Escapamos... Não era isso que te supliquei.

Kpétov CREONTE
d 6ai pru(71rcoúrc àrotl),otoo71 Xepóç; Mas quê! De novo, nem forçada, desapareces deste chãol

Mq6eru MEDEIA
340 1tíuv pe yeívat r4vô' é.aoov 4yépav i40 Mas me deixa ficar só mais este único dia,
rai (uytrepavaL qpovrí\' g <peu(oupe1a, para organizar a cabeça quanto ao exílio
nouoíy r' agopltilv roíç ê.poíç, érei tari1p e a segurança dos meus meninos, já que o pai
o ú ô àv r p or
4.tq, p1Xuv 4 oao1 a í w q..
-r
prefere não preparar nada para os filhos.
oírcupe ô' aúrouç: rcqi oú toL raí6av nadlp Tem dó! Tu também és pai! Tens teus
345 réguraç: eircôç 6é o<pw eüvoLuv o' éXew. filhos! Por isso mesmo, tem boa vontade!
roúpou yup oü 1,tor <ppovriç, ei geu(oúpe1a, A preocupação não é por mim, é se escapamos!
rceívouç 6à rc)"oda oupgopq rceyp4pévouç. E choro por estes, os fadados à desgraça!

Kpeav CREONTE
iircrcra rcúpàv ),r1p' égu rupavvrcótt, Minha ordem muito pouco foi tirânica,
ai6ouyevoç 6à rú,)d.6q 6ÉE0opu: acanhado muitas vezes me apaguei;
rcoà yúv ópÕ é{ayapravav, yúvau
1tàv também agora me vejo errar, mulher.
óy,Loç 6à reu(y1 rcu6e. npouvvénot 6é oo4 Contudo terás isso. Mas te previno,
eí o' q 'tttoúoot )"apràç óyerat 9eou se alguém te vir sorver a chama luminosa do deus
rcai raíôuç êvràç qo6e rcppóvrov X1ovóç, e os filhos dentro dos limites deste chão,
9av[j: ),ú,ercraL pu)oç ayeu64ç õôe. morrerás: esta palavra foi dita sem mentira.
vuv 6', ei y,Léven 6eí, ptílt.v' êrp' 4pépav piuv: [e agora, se carece ficar, fica só um dia;
oú yap u \puoerç 6ewôv ,itv gopoç 1.t' éXet. e que não faças terrores dos quais tenho medo].

Xopóç CORO
[6uorave yúva6] Mulherl Infelizr.
rpeu Eeú, pd,éu rõv oõtv àXéov. Arre! Inútil por dores tão tuas!
noi nore ryéryy; ilva npo(evíuv Por onde, enfim, vagarás? Qual estrangeira
360 ii 6ópov fi X1óva oar1pa xo«titv casa, qual chão redentor de males
ê.(eupqoerç; rbç eiç dtropov oe rc),ú6aya 1eoç, acharás? Como um deus te embarcou,
Mq 6eru, rcarcãsy énó peu oev. Medeia, nessa onda infinda de males?
M4ôeru MEDEIA
rcarcãtç nérpurcruL ruwuffi: tiç dwepeí; 'Stá feito! Maldade pra todo lado. Quem vai negar?
365 &,1),' oürL ruúry1 raúra, pfi \orceíré ra, 365 Mas de modo algum penseis que ficará assim.
ér' eio' &ytitvtç roíç veoo'ri vul.tgioLç Ainda há lutas com os noYos noivos
rcodroíot xr16eúouo: oú oltLrcpoi nóvot. e penas nada pequenas para estes nubentes.
lorceiç yàp dv pe róv6e 1areuoqí nore Acaso achas que o bajularia
ei p4 rL rcep\uivouoav ii rcyvayév4v; sem tirar Yantagem ou sem tramoia?
oú6' dv rpooeínov oú6' dv 4yayrlv yepoív. Nem falaria com ele. Nem nele tocaria com as mãos.
ó ô' Éç roooúroy yopíaç &,7írcero, Mas ele chegou a tal nível de loucura,
aor', é(ôv aúrQ rüp' é),eív poú,eupara que quando foi possível barrar meus planos
yrlc Êrcpu).óvu, r4vô' ê<pfircev 1pépav da terra me banindo, deixou passar este dia para
peívai p', êv 11 qeiç úv é1.uitv éX1ptitv vercpoüç eu ficar. Nele três dos meus inimigos deitarei
375 04oa, raúpq re rcoà rcóp1v róow r' Épov. 375 mortos: o pai, a moça e o marido, o meu'
noL).d4 6' é,Xouoa 1uvaoipouç uuroíç ó6ouç, Tenho, muitas rotas, mortais para eles,
oúrc oí6' oroíq rpCorov éyXetp,it, EíLar não sei de qual primeiro lanço máo, amigas.
nórepov úguryo ôÕya vuprprcôv nupí, Uma: lumino a casa dos noivinhos com o fogo;
[4 94rcràv aoa guoyavov ü' iiraroç,] duas: afiado punhal atravesso pelo fígado,
380 ory71 6opouç êopao', ilv' éorparu ÀéXoç; entrando em silêncio na casa, onde se estende a cama.
&,),),' év rí ltot npóoavreç: ei )"qcp9(oopat Porém um único problema há: se eu for pega
ôo you ç órep puivou oa rcai rcXvot pév4, invadindo o palácio e tramando,
9qloúoot 04oco roíç é1.toiç êX9poiç yil"av. sou morta e faço rir meus inimigos.
rcpurrcra rlv eú1úav, fi negurcapev Superior é a via direta, para a qual peritas
385 oogoi pakora, Eupparcoq uúroüç êleiv. 385 nascemos: pegá-los com venenos.
eíê,v: rcoà ôl re?vuor: tíç pe 6é(erut nófuç; Eia! Mas, e aí? Mortos, que cidade me acolherá?
ríç y1v d.ouloy rcai 6opouç éXeyyúouç Que estrangeiro guardará meu corpo,
(evoç rapaoXàtt puoeru roúyàv 6éyaç; oferecerá por asilo terra e palácio seguro?
oúrc éon. y.teívao' oõv éu oyLrcpàv ypovov, Não há. Então, para que alguém surja como
r1v yév rq r1yív núpyoç d.ocpu).\ç gavy1, 390 torre sólida, pouco tempo ainda me resta.
6olq péretg rov6e rcai ory71 góvov: É isto, na tramoia levo, na calada, esse crime.
qv 6' ê(eluúvy1 (upgopa y' &,pqyavoç, Se as circunstâncias me deixarem sem saída,
aúfi (igoç lapoúoa, rcei yé),),a 1aveív, eu mesma pego a espada, na bica da morte,
rcrevõt oge, ril,y4ç ô' eíg npàç'rô rcaprepov. e mato! Da audácia vou ao extremo.
oú yà,p pà rqv \éorowuy íiv êyrb oépa Não! Pela soberana que eu reverencio
pa)"rcra nayruy rcui (uvepyàv ei)"opt4v, mais do que todos, e que tomei como cúmplice,
'Ercar1v,
1,ruyoíç vq,íouooty éoriaç êpfiC, Hécate, que habita no seio do meu lar,

I
73

NqíPov. 15 aúr6u, ror)pàv àLyuvei rcéap nenhum dos que agora riem vai ferir meu coração.
rrcpo,ÜÇ^6' é7! oE,, rcai Luypoitç 04oo yapouç, Amargas para ambos - e deploráveis - eu, essas bodas, farei'
TrtKPov 0e KrlÔoçrai quyàç épàç X1ovóç. Amarga tarefa também é a minha fuga desta terra.
dlÀ.' úa geíôor, un6àv ãtv êrioraoar, Mas, vai! Nada evites do que sabes,
Miô:':' Poú"evçpi6q rcai 'rexvt syévT: Medeia! Planeja e trama! Caminha
i:prr' é5 rà 6eru6u. vuv dyàv er)yuXiaç.
para o terrível! Agora é batalha de coragem.
ôpEc ix naoxe\, or) yéÀora ôtí o' ogÀeiv Olha o que sofres... não precisas te condenar ao riso
roíç ZrcugeíotÇ roioô,,Iuoovoç yayoq, da laia de Sísifo e pelas bodas de |asâo,
yeyaouv éo0lo1 narpàç'H).íou'r' tÍro. És nascida de um pai nobre e do Sol!
érícrrq.ou íà rcai negúrcayev Tu sabes! E mais, somos nascidas
yuvdtKۍ,
lr, Tru,
eÇ Fev éo0l' d.prrlpvtbrarat, mulheres : p ar a nobr ezas, ínfi.mas,
rcqrciov 6à nuv'rçu, rércroveç oogúrarat. mas as mais hábeis artesãs de todos os males.

XoPóç CORO
410 fiY61 Íord!úv iepãtv
xapoúot nuyai, 410 Contra as fontes, rios sagrados avançam,
nqvro ra)"ru otpégetat:
rcqi õirca rcai
revira a justiça e tudo o mais,
àu6pau pàv 6ó1,o, poulai,leõv 6' Nos homens dolosos planos, a fe
oUKeTt lÍloTtÇ üpoorr1.
nos deuses não mais agrada.
rqv 6' êPà'.eÜrc^ercw éxen prcràv orpétyouot gapaL: A minha vida há de ser gloriosa. Famas vão rolar!
épx{rw r4tà Virá honra para a raça mulheril:
luvotmeíE yéyet: a
oúr<én 6uorcela6o, e não mais essa dissonante
420 gúpa YuvaírcuÇ é{er. fama tangerá as mulheres.
420

U|uoy,6ê,nulxqevéav L4fuuo' d.oôdtv Nos velhos cantores, as Musas cessaráo


TUY e(av u4veuqou àtrrcroouyory.
o hinear de minha descrença.
o! fiP
i:rrn:or
A|rq.O€ aeoTÍty
yvóHq túpaç
eOrôày
Sim, em nossa cabeça, o canto
425 divino de lira Febo, o regente de sons
@oípoç &yT.rutp
&teléutv: ênei dtruXqo' àv üpvov desafinou. Mas soará um hino:
dp?ir.rr.Yu:vÇ- pat<pàç 6, aiàv éxer contracanto do tiPo masculino...
fto^^d q,pe?-ÉocÍv
U€Y E longa vida se há de ter para muito dizer
av\pov re uoíPq.l.v eineiv. da sorte, da nossa e da deles, os homens!
oÜ 6' érc Pàv okr.tv nutpíav én),euoaç E tu, que navegaste da casa Pátria
paLvoyévq tcpoôÍq 6tôiprouç ópíouoa Irov- de coração desvairada, que cortaste duplas
rou térpqs: izi 6i
66ro pedras de mar: sobre um chão
vaítrc X)oví, rc"ç àváv- estranho habitas, do leito
6pou rcoiraç o)"éoq,oot Lércrpov, sem macho, cama arruinada,
raÀq.ruq, guyàç ôà Xti;- miserável, fugitiva e desonrada
paç ürLpoç ê).auvy1. és levada de tua terra.
peparce 6' óprcov yuprç, oú6' ér' ai6àç Foi-se a graça do juramento, nada de vergonha
'E)")"aü rq peya),q péveu ai1epía 6' àvé-
440 na grande Grécia fica, etérea voou.
rrot ooi 6' oüre narpàç 6opoL E tu nem a casa do Pai,
ôúorave, pe)oppíou- infeliz, tens
o9u poX)av rupa, oõtv re )"ércrpav para ancorar as cargas do teu leito,
il,lapaoil,eru rcpeío- e uma outra rainha
445 ouv \óyorcw ànéora. 445 em tua casa se imPôs.

'Iaoav
JASÃO
ou v[rv rcarci\oy npÕ'rov &.)),à ro)),arcrç Não foi essa a primeiravez. Várias vezes notei
rpayeíav ôpy1v ritç &.prlXavov rcarcóy. que um modo rude é um mal sem meios.
ooi yàp napôv yqv rqv6e rcai 6ópouç éXew Estava à tua disposiçáo ter esse chão e essa casa,
rcoúrpo4 gepoúoy1 rcpercoóvav pou).eú para, se suportasses com leYeza as decisóes dos mais fortes'
Lóyav pu'raíav oüyerc' érctteoli X)ovóç. Por palavras vãs estás sendo banida da terra.
rcapoi 1tàv oú6àv npaypa: pfi raúoy1 norà Pra mim, isso não é nada. Não cessarias jamais
),éyouo"Iaoov' titç rcarcrc-róç éot' uvr1p. de dizer que |asão é o pior dos homens. ]á
ü 6' éç rupavvouç êorí oot ).ú"eypLéva, as coisas que por ti são ditas dos tiranos...
rav rcép6oç 4you (4yLouyév1 guyfi. Toma por lucro seres punida só com o exílio'
455 rcàyà pàv aiei paorleav 1upoultévutv Eu aqui sempre aplacava a ira dos coléricos
455
opyàç àg11pouv rcq,í o' êpoú,opt7v pévew: reis, queria que permanecesses, mas
oü 6' oúrc &víeLç papíaç, ).éyouo' àei tu não te afastavas da loucura, falando sempre
rarcdtç rupavvouç: roLyàp é.rctreoy1 y1ovoç. mal dos tiranos. Por isso serás banida da terra.
ópoç 6à rc0rc rCov6' oúrc uretp1rcàÇ gíLoLç Mas eu ainda não cheguei ao ponto de abandonar
46o 4rctt, rõ oôv 6ê npoorcoroúpevoç, yúvaL, 460 os que quero bem e providencio-te isto, mulher:
titçUir' àXp1ytov oüv rércvorcLy ércnéoyÇ sem nada não serás exilada com as crianças,
p1r' év6er1ç rou: ró),),' égil,rcerut cpuyil nem precisando de algo. Muitas coisas ruins o exílio
rcarcà {üv aúry1. rcai yd,p ei oú pe oruyeíç, traz consigo. Enquanto tu me abominas,
oúrc dv \uvaipqv ooi rcarcÕç qpoveiv norc. eu não seria jamais capaz de te querer mal.

Mq6eru MEDEIA
465 ti rayrcarcrcre,'roúto yap o' eheiv éyro 46s Ô ruindade cara! É isso o que minha língtla
ylrbooy1 1,téyrcrov eiç àvav\píav rcurcóv, tem a dizer de pior sobre tua enorme covardia.

r:.tF J
$"0eç ryàç 4paç, fl"1eç éy1rcroç Wyrbç; Vieste até nós, vieste, mesmo sendo odiado?
[9eoiç re rcdpoi ruvrí r' av1prbruov yéver] [Pelos deuses, por mim e por toda a raça humana]
oürot 1paooç ú6' êoriv oú6' eúrú,yiu, Com certeza, isto não é coragem e nem ousadia,
470 Eí)"ouç rcarcaç \paouvr' êvavríov p)"éneLv, 470 fazer o mal a um amigo e ainda olhar na cara.
e,),L' 4 peyior4 rritv êv ú,v0ptbtoq vóoov É de todas a maior das doenças humanas,
nq.oõty, &loúôu'. eú 6' énoíqoaç polúv: canalhice. Mas que bom que vieste:
éytb re yd,p ),é(aoa rcougw?7oopar eu te maldizendo vou aliviar a alma,
!/uxtly rcarcCoç oà rcui oü ).urqoy1 rclúov. enquanto tu vais sofrer, escutando.
êrc «7y ôà npdtrov rpÕrcv üp(opat ).éyew: 475 Começo a dizer do comecinho:
éoooq, o', tbç iouo:'El),4vav óooL te salvei, como sabem todos os gregos que
rq.úrõy ouvercép1ouv ApyQov orcagoç, contigo embarcaram no navio Argo,
nepg1éwa raúpav ruprvóav érrcrau1v enviado para pôr no jugo os touros que sopram
(eúfl,aLa rcai orepoúvra 0uvaoryov yuqv: fogo e para semear aÍetra da morte.
480 \parcowa 0', ôç nuyXpuoov ayttreyav 6époç 48o E o dragão que rodeava e guardava o velo de ouro,
oreípatç éoq(e nolun)"órco4 aunvoç ov, todo em enroladas espirais, sempre em vigília,
rcteiyao' d,veoyov ooi gaoç oarrlpLov. eu matei, erguendo para ti a luz salvadora.
aúrq 6à turépa rcai 6ópLouç rpo\ouo' éptoüç E eu mesma, meu pai e minha casa traindo,
rqv 174)"uítrw eiç'Ialrcôv ircópqv vim para Iolco, aos pés do Monte Pélion,
485 oüv ooí, rpó9upoç pa),),ov 11 oogorcépu: 485 contigo! Mais dedicada do que esperta...
IIú"íav t'
àtércrew', aonep ülyrc.rov 1otytív, E matei Pélias, de mais doloroso morre!
nq,í6av ür' aúrcu, nuyra r' é(eiÀov 6óptov. pelas próprias filhas e retomei o palácio.
rçq,i roú0' úE' 41,tãtv, tb rc0rcrcr' &.v6pdtv, rq,1àtv E isso por nósl Ô pior dos homens,
rpoú\arcaç 4paç, rcawd, 6' ircrqou; ),éXr1, nos traíste e arrumaste um novo leito,
490 rocí\av yeyúrutv: ei yàp fio7' ünaq é,u, mesmo tendo filhos! Se não tivesses filhos, era
ouyyvrbor' d,v fiv oot rcu6' êpao?4vat leXouç. perdoável o desejo por tal cama. Foi-se a fe
óprcov ôà gpou\q río-rq, oú6' éya pu1eív nas juras e não tenho como saber nem
ei )eoüç vopí(etç rcàç.rór' oúrc üpXew é,rr se deitam novos ritos entre os homens.
ii rcand rceio)u 1éoyr' &,v1ptbnoLç rà vúv, Mas tu sabes bem: não cumpriste as juras que me fi.zeste.
ürei oúvorc)a y' eiç éy' oúrc eüoprcoç üv. 495 Phu! Mão direita que tu muitas vezes pegavas!
geu 6e(Ld. Xeíp, 4c oü rólÀ' il,aypavou e estes joelhos! Como em vão fomos usadas
rcq,i rrbv\e yovarov, dtç paqv rceXpritopte1u por um homem mau. Erramos pela esperança.
rcarcoú npõç à,v6póç, il,ni\av 6' 1paproytev. Mas vá! Como amigo conversarei contigo:
üy', ,itç gíÀq yà.p óvtt oot rcowritooput devo esperar que tu faças algo de bom?
(\orcouoa pàv rí rpoç ye ooú Que seja! As perguntas te fazem parecer ainda pior.
rya(eLv rculltç; 500
ópro4 6', i.parq1eiç yàp uioXiav gavyfi: Agora, pra onde me viro? Pra morada paterna,
vúv roí tpanapqt; níórepq npàç rurpàç 6opouç, que abandonei por ti junto coã pátria, vindo pra cá?

I
79

oüç ooi rpoôoúoa rcai rarpav acprcópr1v; Ou pras infelizes filhas de Pélias? Que beleza!
4 rpàç ra)"uívuç lle),w,ôaç; rcaÀÕç y' iiv oõv Me receberiam no palácio, eu llue matei o pai delas' '.
505 6é{awro 1.t' oírcoq õv rurépu rcanércrq,yoy. Ainda tem isto: aos amigos de minha casa
éXet yàp oüro: roíç 1,ràv oilrco)ev Eíloq me mostro hostil, eles Pra quem
êX9pd, rca9éorqx,', oüç ôé p' oúrc éXpr1v rcarcÕç eu náo precisava fazer mal,
6pav, ooi Xapru <pépouoa nú.epbuç éXa. graças a ti, por ti levada, tenho inimigos.
ro ry a p ye noÀlaíç y axa p iav'EÀ14 v i6 o»
É verdade que, muitas vezes, me fizeste feliz
510 é9r1rcuç &vil rãtv6e: )aupaoràv 6é oe no lugar dessas gregas. E aí? Te tenho como marido
510
é.yt noow rcui rrcrôy q ru),aw' êyrit, maravilhoso e confiável, eu a desgraçada'
ei geú(oyaí ye yaíav êrcpep)"qpévq, eu deixarei a terra, banida,
Eí)"ov éprypoç, oüv rércvotç povq póvotç: de amigos vazia e apenas com crianças, -
rcq,)"óv y' óveôoç rQ veu;ori vuy,LEíq,
bela afronta para o novo noivo - apenas
515 rraXoüç &)"qo9w naíôaç ii r' éooou oe. mendigos aYagar, os meninos e a que te salvou!
515
ri ZeÕ, d 64 ypuoou 1.ràv i)ç rcíp\fl,oç {1 ôÔ Zeus, por que do ouro que é falso
rercp4pt' av1pdtnowtt üraoaç oaE4, claros e seguros sinais há pros homens,
&l6põv 6' iírq ypr1 ràv rcarcõy üeÂévq,L mas de machos quando é preciso discernir um mau,
oú6eiç yaparcr4p êynégurce oúptau; marca no corpo não há?

Xopóç CORO
ôew7 'nç ôpyfi rcui ôuoíuroç né).e6 Um terrível e incurável amargor chega quando
520
óruv gílot giÀoru ouppú,ao' épw. amantes contra amantes em brigas se lançam.

'Iq.ot ty
JASÃO
6eí p', ritç éorce, pi1 rcarcõv cpúvur Léyew, É preciso, parece, que o meu falar não brote mal,
d)"),' róore vaàç rce}vàv oiarcoorpó<pov que, como zeloso timoneiro de navio,
rc L ).a íg ou ç rcp aon é6 o q ún ercôp a pLeív
d.rcp o
pelas beiradas dos panos, eu me esquive
525 tr1v oqv oúyapyov, tb yuvau yloooalyíuv. do teu falatório, mulher, de tua língua nervosa.
525
êyà 6', éneôi1 rcq,i ),íqv nupyoíç Xupw, Por mim, já que tanto exaltas tuas graças,
Kúnpw voyi(a r4ç ê[t4ç vaud,qpíuç declaro: dentre deuses e homens, Afrodite é
otbretpav eíyu 9eõv re rc&v1pdtruv povrlv. a única salvadora desta minha "vida à deriva'.
ooi ô' éou 1tàv vouç ),erróç d.^L' é.níE1ovoç
- |uízo fino é o teu, mas corre por aí um odioso
530 ).oyoç 6rc),0eív, rbç"Epaç o' 7vayrcaoev discurso... de como o Amor te forçou,
'ró(o4 &gurcro4 roúyôv êrcoã;oar ôépaç.
com seus dardos invencíveis, a salvar minha pele.
d).).' oúrc d.rcp$dtç uútõ 14oopu líuv:
Mas não colocarei isso com tanto rigor.
óny1 yàp oõv c)iv1oaç or) rcarcÕç éyet. Pelo modo como outrora me ajudaste, não és má.

tl I
8r

peiÇt ye péwor 14ç êtt4ç ourqpíaç


Mas, de qualquer forma, pela minha salvação
eil.4gaç ii 6é6orcaç, õtç éyà gpuottt.
mais recebeste do que deste, isto eu vou provar:
xprbrov pàv'E)")"a6' q.và pappapou
X1ovàç em primeiro lugar, em vez de chão bárbaro
yaiuv rcarorceíç rcai ôírc4v iníoraoat
habitas a terra grega, conheces a justiça,
voptotç re ypfio1u U4 npàç ioXúoç yapLv: fazes uso das leis, não do favor da força.
nuweç 6é o' lio)ovr' oúoav"E))"r7veç oogr1v
Todos os gregos notam tua sábia essência,
540 rcai 6ó(av éoXeç: ei 6à yr1ç fu, éoXarory
540 tens fama. Se os limites finais da terra
õporcw qrcetç, oúrc àv í1v ),oyoç oelev.
habitasses, não haveria palavra sobre ti.
eirl 6' éporye p7re ypuoôç êv 6ópoLç
Eu por mim, aceitava nem ter ouro em casa,
pt4r' Opgéaç rca).Ltov úpvqoar
1til,oç, nem canção mais bela que a de Orfeu cantar,
ei ptrl 'riorlptoÇ rl úXry yévorcó poL.
se um marcado destino não me tivesse chegado.
rooaú'ra pév oot t6tv épõv róvav trept
Tais coisas sobre os meus sofrimentos
é),e{': iÍpÀ),av yàp oü rpoú1qrcaç ),oyav.
falei pra ti só porque fizeste um embate verbal.
ü ô' ê.ç yapouç poL paoú"rcoüç àveí6roaç,
As coisas que reprovaste pelo meu casamento real,
év rQ6e 6eí(o ryúra pàv oogàç yey(bç,
aqui mostrarei: fui antes de tudo sábio,
énera odtgpov, eírq, ooi yéyaç
Ei),oç depois prudente e por fim um grande amigo
narci roiç êpoíotv
- dil", éX, rlouyoç.
rcoci
para ti e para meus meninos. Quietal Tranquila!
énei prercorqv 6eup"Ialrcíuç y1ovõç
Quando vim da terra de Iolco para cá,
rd,)"d4 éqéÀrcov ou yg o pd,ç d.ptrlyav ou
ç, mil desgraças despencando, sem solução,
rírcuô' iiv ei)pqpt' qúpov eú.ruXeorcpov
que achado achei mais feliz do que esse de casar
ii taiôu yrlpaL paoú,éaç guyàç
WTrbç; com a filha do rei? eu, um exilado?
55s oúy 11 oü rcví(g, oõv yàv êy1aipov ),éXoç
55s Não foi rechaçando tua cama - o que te corta -
Kafl|ç 6à vuyErlç íprepa nerl7yprévoç
pelo desejo de nova noiva, que fui atingidol
oú6' eiç üpt).).av no)"úrercyov onouô7v éXav:
Nem tenho pressa por um monte de crias,
üLq yàp oí yeyrtreç oú6à peycpopLat:
já as que nasceram são suficientes, não reclamo.
&.))"' ritç, rõ pàv péyLorov, oircoi1tev rcalÕç
Mas como - o melhor - viveríamos? Ao miíximo,
560 rcai p4 onuvL(oíy.Leo0u, yLyvr.borcav õ.rL
560 e não precisados? Então, eu, sabendo que
tr€lqra geúyeL nãç uç Érctroôàv gí),ov,
l
todo amigo, qualquer um, foge para longe de um pobre,
naí6aç 6à 1pétyary' a{íoç ôóy.rcv éydtv
desejei criar dignamente os meninos da minha casa.
oneípaç r' dôe)"goüç roíoLy Érc oélev -rércvoq
Aí, semeio irmãos para tuas crianças
eç raúrà 0eí4v, rcai (uvapt7oaç yevoç
e na mesma os ponho todos. E, reunida a famíIia,
565 eú6a4tovoí4v. ooí rc yàp rallav .rí ôeí;
565 seremos felizes. Pra que precisas de crianças?
eptoí re Àúer rciot pú),ouo: rércvo4
Pra mim resolve tudo, com os frutos que virão
rà (Õvr' ôvr1oaL. prÍtv pepoú),euput rcarcÕç;
os que vivem lucram. Então?l Calculei mal?
oú6' d.v oü gaír1ç, ei oe pi1 rcví(or ).eXoç.
Nada dirias, se não tivesse arranhado tua cama.
&,).)"' Éç roooúrov íjrce7' utor, ôp1oupév7ç A tal ponto chegais, mulheres, que

I
83

eúvfiç yuvaírceç ravr' éyew voyí(erc, corÍr urna cama arrurnada julgais tudo ter.
?jv6' uõ yévqru (u1tgopa uç ê.ç ),éyoç, Mas se; algtrm infortúnio pra cama acontece,
rd,lQoru rcui rcocllrcru Íol:€1tLóraro( a coisa mais desejável e mais bela vira a,mais hostil.
tí9eoàe. ypfiv nÍp' ü),),o1év ro1ev pporoüç Preciso era rresÍno que os viventes.de outro modo
nai6uç rercyoõoAan, 04Lu 6' oúrc eívu yévoç: crianças gerassem e que náo houvesse raça feminina.
575 Xoüro4 drt oúrc fiv oúôàv &v,1prbrotç rcarcóv. Só assim não havcria mal nenhum paraahurnanidade.

Xopóç CORO
'Iqoou e{t pàv roúo6' ércoop4ouçloyouç: Jasão... Nestas palavras caprichaste bem,
õpaç 6' éporye, rcei napà yvtityt4v éprit, no entanto, ainda assim, eu refuto o argumento: és
|orceiç rpo6oüç oilv d),oyov oú 6íxwru \púv. tu quem traíste e não pareces fazer justiça a tua esposa.

M46eru MEDEIA

fi rc)")"à ro)"),oíç eip iLucpopoc pporãtv: É. Muito - muitos rnortais - sou diferente.
e de
58o êpoi yàp iionç ü6moç tiv oogàç Leyew 580 Pra mim, quem é injusto mas se fazhábl,
tr ég urce, n)"e íotr1v (q p iqv ô g)"wrcav e L: no falar, castigo maior merece
yloooy yàp aú$» rrÍ6rc' eõ tepwrd"eív porque contorna a injustiça com a língua, blefa
rolpq nuvoupyeiv: éot ô' oúrc üyav oogoç. e manobra com ousadia. É sábio, mas não o bastante.
dtç rcai oú: 1,t4 vuv eiç étt' eúoX4pav yévy1 Nem tu... Agorinha, a falar não me dás
585 Àéyew re 6eruóç. êv yàp ércrevei o' énoç: impressão boa, de terrível. Uma palavra te derruba:
Np1v o', eínep fio1a p\ rcurcóç, neíoawu pe tu deyerias, se náo fosse mau, ter rne convencido
yupeív yapov úv6', il),à yA oryff <pí),av. a aceitar esse casamento, antes de se calar para os amigos.

'Iaoav lesÃo
rcaLúç y' dv, oípa6 re6' urqpéreq lóyq, Muito bem ficarias nessa conversa, eu sei,
ei ooL yapov rcureitov, íirLç oúôà vuv se te contasse do casamento. Logo tu a que não
sso ro)"pqç ye1eívu rcap\íuç 1téyav yolov. deixas ir do coração esse grande amargor.

M(6eru MEDEIA
oú roúró o' eíyev, eM,d pappupov LéXoç Não foi isso! Foi que na velhice
npàç yfipuc oúrc ú6o{ov é(épawé oot. a cama bárbara acaba em má reputação.

JASÃO

eõ yuy ró6' ío1t pq yuvaLrcàç oüyercoc Agora sabe bem isto: não foi por mulher
84
8S

yqptai ye ).ércrpa puoú,eav i* vuv éXut, que me liguei ao leito real, este que agora tenho,
&,).)"', üorep eínov rcqi rapoç, orioaL 1é)"av
595 e sim, tal como falei antes, para te proteger
oé, rcqi'rércyoru roíç éyoíç óptoonópouç e pelas minhas crias, com mesmo sangue,
Eírour tupuvyouç nq,í6aç, épupa 6tbpaow. gerar meninos reis, salvaguarda da casa.

Mq6eru MEDEIA
lt4 ),urpàç eú\aípav píoç
!-rot yévorco Que não seja para mim uma boa vida triste,
pq6' õ)"poç óouç r\v ép4v rcví(u Epévu. enem a riqueza arranhe o meu coração.

'Iuoav
JASÃO
6oo oío0' ooEorépo( gofln;
rbç pereú(y1 rcai
Sabes que mudarás e parecerás mais sábia!
rà Xpqorà yr1 oot ),urp&. gaíveo)aí nore, Um dia a yantagem não te parecerá penosa.
ptq6' eúruXouou \uoruyqÇ eívat \orceíy. Tens sorte, não te faças de sem sorte ...

Mr1ôeru
MEDEIA
íi\pt(', fueôi1 ooi y.tàv éor' &,nooryogr1, É, me insultal Enquanto tu tens um refúgio,
éyà ô' épqltoç rqv6e Eeu(oupat X)ova. euvazia sou banida dessa terra.

'Iaoa»
JASÃO
6os uúq ra6' efi"ou: 1t4ôév' ül),ov airuÍt. 6os Isso tu mesma escolheste: não culpa ninguém.

M46eru MEDEIA
ri 6pãoa; pãtv yapouou rcai npo\oúoa oe;
O que eu fiz? Acaso me casei e te traí?

'Iaoo»
yesÃo
upàç'ru pavv o rç àv ooiou ç àp a pév 11. Pragas ímpias contra os tiranos praguejaste!

M46eru MEDEIA
rai ooíç à,paíu y' ouoa ruyyava 6ópotç. E acabo sendo uma praga pra sua casa.

'Iaoav
JAsÃo
dtç oú rcpLvoÕ1,1u rÕvôé oot rd, n)"eíova.
Deste jeito não continuo mais discutindo.
61o &LL', ei't poüq1 rqrciy ii oauryl rpuy4ç
6to Mas, se queres algo pras crianças ou pra ti mesma
87

npo oaçé)"q pu Xprl paratt éptõv ÀaB:etu, no exílio: receber uma ajuda de minhas posses,
),éy': ritç étotyoç fup1óvq ôoúrtut Xepi fala. Estou pronto pra ceder corn rnão generosa
{évoç rc néptrew orSltpoÀ,', oÍi Ep&ooooí o' eõ. e dar aval pros estrangeiros, eles vão te tratar bem.
roúmc yfi CIil,ouoa ptopaveíç, yúvut:
rcoci Se não quiseres isso, serás uma tonta, mulher!
6t5 ),qÇuou 6' ôpy4ç rcep\aueiç d,1teívovu. No que cessas a ntdeza, ganharás ma,is.

M46et;a MEDEIA
oür' dtt {ét,otot roíol oolç Xpqauípe9' dv Não precisarernos destes seus estrangeiros,
oür' iiy n 6e{aípeo0a, p1E' rlpiv 6í6,ou: nem nada recetreremos. Não nos dês nada!
reurcou y&,p &l6pàç 6ãtp' óv1o: oúrc éXet. Os presentes de um hornem mau não têrn serventia.

'Iaaatt JAsÃo
&,1)"' oõy é1tà 1tàu ilaípovuç puprupo,put Mas então as divindades tomo por testemunha
6zo ôç nav9' únoapyeív ool rc rcai rércvoç 0é)"a: de que em tudo quero ajudar: a ti e também às crianças.
ooi ô' oúrc"d,pé,orcet r&yu?', d))"' aú0a6íq IVIas o que é born não te satisfaz e com arrogância
gí)"ouç ara)y1: roryàp &,Àyuvy1 rÀ,éov. afastas os arnigos. Por isso sofrerás muito.

Mr16eru MEDEIA
ybpu nó9q ydp rfie veo6p4rou rcópqç Vai! O desejo pela rnoça recém-domada
uipfi ypoví(av ôap&rcov ê.{tbnrcç. te pegou e perdes ternpo f,ora do palácio.
6zS vúpgeu': iotttç oàtt 1eQ 6' eip1oerat Casa! Talvez - se urn deus disser -
1t&,p
-
yapeíç rorcÕroy tóore 0pqveío1at yuytov.
- entras num casório de que te arrependerás.

Xopóç CORO
i.pureç únàp plàv üyuv é),1oweç oórc eú6o{íav Amores demais, demasiados, nern virtude nem renome aos
oúô' d,peràv napé\orc:av &v6puaw: ei ô' üLq éLAot 6jo 63o homens garantem quando chegam. Se ao menos cornedida
Kúrptç, oúrc ril")"q 0eàç eüXaprç oíJrutç. Afrodite - outro deus não há tao gracioso - chegasse!
pqnor', (o 6éonow', én' ê.1toi
Xpuoéo» |amais, senhora, sobre mim, do dourado
ró(av d.geiqç ipépE arco descarregue, crismada de paixão
ús Xpíouo' ügurcrov oloróv. 6es certeira flecha.

orépyot 6é pe oagpooúva, 6tbp4pa rcot))"rcroy 1eõy: Seja eu amada com o tempero dos deuses, mais belo dom!
pr1ôénot' &.pgtloyouç ôpyàç drcópeora re veírcr1 Que.jarnais contestados arroubos vençam um íntimo
64o 9upôv ércr),r1{wo' érepoq êni )"ércrpo4 6qo atordoado. Que sobre outras carnas
r
89

npooBalu 6ewà Kúrptç, &nrú"éyouç 6' se lance, terrível, Afrodite. E que honrados sejam
eúvàç oepi(ouo' ôStgptov os lençóis sern brigas e que, aguda,
rcpívor léy4 yuvamãu possa ela julgar os leitos das mulheres.

64s
'õ nmpíç, õ 6rbputu, pi1 6+s Ó pátria! Ó domínios meus! Que eu náo
6qr' ündlç yevoípav seja sem terra, forasteira
àv dprlxavíaç éyouoa que só tem falta de recursos,
\uotépurov uiÕ, uma vida destituída e
oircrporamv <y'> &Xéav. um mais pobre lamento. Neste dia,
65o )avatg )avaxp napoç \apetqt 65o pela morte, morte, fosse
t n, ,Y
qpapQ(vTavo E<Qfluoo(ooc uo- eu antes executada. Das misérias
X9av 6' oúrc ü)"Àoç ünep9ev ft não há outra mais alta que
yúç narpíaç oúpeo)at. da terra pátria ser privada.

, t, t t
etoouev, ouK €\ eTtp@v Vimos! Não é por palavra
6ss g,n9ov éyo Epaoao)ar: 6ss de outros que tenho o meu frasear:
oà yd,p oú rókç, oú Eílav uç pois nem cidade nem amigo algum
oircnpeí na1oúoav se compadeceu de ti, doída em
\uttóraroy ra9éo». dores as mais sofridàs.
d,yaprcroç tilofi' ó«p nupeouv Pereça o desgraçado que convive
pfi gíLouç u1,tút rca1upav &voí- com o amigo sem o honrar, depois
(uvra rcly16u gpt:vdtv: éyoi de abertas as trancas de um peito justo.
1,ràv gí)"oç oürot' éorat. Este, pra mim, amigo náo é.

Ailteúç EGEU

M46eru, Xaípe: rcu6e yàp rpooíyrov Medeia, viva! Ninguém conhece cumprimento
rcotl),tov oú6eiç oí6e rpoogaveív Eílouç. mais belo do que este para saudar os amigos!

Mr16eru MEDEIA
raí oogoú Llavôiovoç, 'Ô Egeu, filho do sábio Pandíon!
66s ,ío
Xuípe rcai oú, 66s
Aiyeu. ro1ev fiç 14o6' é.nroqaEq ré6ov; Viva! Rodas o chão desta terravindo de onde?

Aiytúç EGEU

@o ípou roilaàv érc)"Lnàv Xp4orq p tov. Deixei o velho oráculo de Febo.


t|*

Ntufi:üar.ar IWEEtsI,A

ú õ' ôçt;gwÀôv yfig CIeonrcg\'õu êo,r&fuyç; E 'B,or que foste ao,orácuilo rro ulmfu,igo doT r'nrndoi

.EGE|I]
Aityeuç
nwi\av êpeutt:rÍ:v onépyt' ólna,ç yé,,vorca por,. Pergur.rtei,cormo corlsryuiria seirceear :frIhos'

Mr,n6ew MED.'E,IA

Feftos deuses! Âté hoie esterldesa viida senr4l.re sem icrias?


npôç ileúv, üna4 yd.p 6eúp' d,ei reiverç Bíov;

Alyeúç T,GiEdJ.

&,nu ôéç éapev 6«ípt wo ç'r ru aç rúx,/l. Se,tm crias s,ormos,,! Âcas'o da div,fuardade.

M{yõuu MEDEIA
Tens esposa,ou eo :inexPerienúe.na carmc?
,õúptaproç oiwqç 4 ÀéXouç ünerpoç d|v;

Aiyetlç tsGEU
,,, Livre do,leito,conizurgdil:lúo solmos. ..
oúrc é.oyàv eúvfiç ü(uyeç yapqÀ,íou.

Mipõeru IIIÍEDEIA

ri 6rpa @oípoç eíré oor naí6ov ré,pr; Entáo,, o'que .Febo te dissie'em relaçáo aos menir'ro§3

Aíyd)ç tÊGE'.['

oogúrep' fi rcar' üv6pa oupBú,eív én4. P,alavras sábias demrais pna h.orme,m ennender"

Mrl6etu MEDETÁ,

1épq pàv qpaç Xpqopàv eiiévou 1eoú; É permitido,Çue,eu rsai'ba o oráqilo do'deuo?

Aiyaíiç E,.GEÜ

p&,À,rcr', éneitot rcai o,og'ffÇ \eitur g,pevóç. Claro! Mas, olha,é certo, exige:sagacidade!

N,Ít76sw IVI'EEEI.A

ri 8:4r' éXprloe; lé.(av, ei CIépttç ú*iant Elrtáo,q'ual foi êrr.esBosta? D,ize.l'§e for pernritido :e§cutar'''
93

Aiyeúç EGEU
&,orcoú pe ràv rpoúXovru 1tfi lüour nó6u... Náo liberar o cambito que sai do saco.

Mr16ew MEDEIA
,rpi, au rí 6pa,oy1c ff rív' é(íkg ylóva; Até que tenhas. feito o quê? Ou até chegares aonde?

A\1eúç EGEU
npiv ü,t narpQuv aõ1tç éodav pil"a. Até voltar à casa paterna.

Mr16eru MEDEIA
oit 6' tbç ri pfi(o;v r4r,6e vauoroleíç X1óva; E tu navegas para cá em busca do quê?

Aiyeúç EGEU
IIn9eúç rq éo16 14ç ü:vu{ Tpo(r1viwç. Há um certo Piteu, rei da terra de Trezena.

M(6em MEDEIA
naiç, rbç )"éyouot, Ilé).onoç, eúoepéoraroç. O filho de Pélops, Dizemque é muitíssimo piedoso.

Aiyeúç EGEU
68s roútp 9eoú puureupu rcoLyÕoat 1éla. , 85 Quero lhe contar o oráculo do deus.

Mr16eru MEDEIA
oogàç yà,p úvfip rcai rpiBav rà roru\e. O homem é sábio e tem experiência nessas questões.

Ailteuç EGEU
rc&,poí ye nuyray gíLraroç 6opu(évav. E para mim é o mais querido aliado de todos.

M4ôew MEDEIA
à)),' eúruyoi4ç rcui n)yorç óoav épqç. Então boa sorte! E que consigas tudo o que desejas!

Aiyet)ç EGEU
rí yàp oôv óppa ypdtç rc ouvrér1X' õ6e; Mas por que essa cara e esses olhos?
95

ltlfiSew ME,DEIA.

Atyoú, ,x,&rew. aç .àoxí g,tot ruút:rav noorç. Egetr, tenho o p.ior rnarido de todos.

Ãiyeuç EGEU

r i g{1ç;,oaE6ç gtor o&ç gp:&1y11v,6oo0aytíuç. Quê? Dize pra mirn bem claro.os tetrs desalentos.

'Mfi6etw
MEDEI.{
&6 ueeí,p' T.&u«ttt oú6ày,ɧ t ptott nu,Atby. nasâó só me rnaltrata e de nrim não sofreu nada!

Atya)ç EGEI.]

ri ypff1pw,6pá;aa;ç g pu(e'pa t.ituEéortport. Mas fez o quê? Exptriea direitinho.

Mí18ew IVÍEDEIA

vwdit(' àro' ryptÍo,6oonót n,,Eó pt etw éyu. Ele pôe urna rnulher; acima de mirn, corno senhora da casa.

Aiyelç EGEU
.oit naa reroil,pr1rc' .:épyov aíoytorov tú§e; Não! E te\r€ coragem de agir de'ssa furrna tão v,ergor,rhosa?

NÍÍ16aw MEDEIA
oarp' ío0': êt,n1tot,6' àopàv oi np,à rofr,g,iilot. Sabe benr: nós, os aÍnoÍes do passado, sor,nos d,esprezados.

Aty*trq EGBU

nótepott,Épao1aiç'ff aàv é:y1wip av iléyo ç; Das duas ulma: urn amor ou ódio de tua carna...

Mtl'6ua MEDEXA

péyav y' épora: roràç oúrc égu gil"otç. Um grande arnor! Etre r,ráo é mais confiáv'el Para os amigos.

Aty:euç EGEU
tha rt"ort,,e:lrúe.p,.ü.)"éyeÉ,'áüÍiy,íi,ü14,óç. Então deixa ele ir, se é assim tão nrirr,r quanto dizes!

Mr1.ôata MEDEIA
&v6p titv tuo.&wutt «ft6aç üp6wCI,4 ila\etu, EIe anseia ligar-se - por aliança - corn gente d,os tiranos.
97

Aiyeúç EGEU
6í6au 6' aúrÇ: ríç; népu:é por loyov. Quem lhe ofereceu uma? Termina de contar.

Mq6eru MEDEIA
Kpéau ôç üpXeL qa6e yqç Kopru1íaç. Creonte, o que governa esta Corinto.

Aiyeúç EGEU
ouyyvaord, pévr?Íp' fiv oe luneío0a6 yúvat. É, mulher... é compreensível teu sofrimento.

Mr16eru MEDEIA
ó)"lú"ot: rcai npóç y' ê.(ú,aúvo1.tat y1ovóç. Acabou! EIe ainda me expulsa dessa terra!

Aiyeúç EGBU
npàç rou; tóô' d,),)"o rcawày att ),éyerç rcarcóy.
Quern? Cada hora uma coisa ruim nova!

Mr16em MEDEIA
Kpéov pr' ê)"qúvu guyaEa yr1ç Kopw1íaç. Creonte! Está me banindo de Corinto. Exilada!

Aiyeúç EGEU
êQ ô'Taoav; oú6à ruúr' ény1veoa. E fasão permite? Isso eu não aProvo.

M46em MEDEIA
loyq pàv oúyL rcaprepeív 6à poú,erut. No dito, não; ele, com paciência, aguarda o que quer.
&)")"' üvropaí oe qo6e npàç yeveru\oç Mas te imploro, pox esta tua barba
710 yovutav re rÕv otity irceoíq. rt. yiyvoyar, e por teus joelhos! Eu suPlico!
oírcapov oírcrqov pe r4v ôuo\aipova Tem piedade, piedade de mim que sou desgraçada
rcai p4 y'
i.pqyov ércieooúoq.v eioí6y1c, e não me vejas corno desolada e decaída!
6é(at ôà ybpq xui 6ópoq égéouov. Recebe-me comohóspedeem turterra, no teu lar.
oüroç épaç ooi npôç 9edtv re),eoqópoç Assim, teu desejo será realizado pelos deuses!
715 yévorco naí6ay rcaúrõç iilpnç 1útory. Crianças hajam para ti! E tu morrerás feliz!
715
eüp4pa 6' oúx oío0' oíov 4üp1rcaç ró6e: Não sabes ainda que achado fizeste!
rocúoo yé o' õvr' iiurou\a rcai nuíEon yovdç Acabarei com tua falta de filhos e de fllhos
otreípuí oe 0r1oa: rcw6' oi6a gappurca. te farei semear gerações! Conheço bons remédios!
98

Aiytúç EGEU
no))"Õv ércuu r4v6e oot \oitvar Xapw, Por muitos motivos te farei este favor;
720 yúvaL npó9upoç eipu npÕra pàv ?erív, de bom grado, mulher. Primeiro, pelos deuses,
720
é.neLroc rodôo» ,õv hayye).)"1 yovaç:
e depois pelos filhos que anuncias que nascerão.
éç roúro yàp 64 gpou\oç eip rd.ç éyrb. Estou agora todo voltado para isso.
oüra ô' éXet yor: oou yàv il"1oúo7ç X1óva, Para mim é assim: vem para minha terra
retp&oopaí oou npo(eveiv 6írcurcç cóv. que tentarei te hospedar com justiça.
rooóy\e pévro t oo t .fipooq Uüíva, yúvat:
[Só quero deixar bem claro, mulher:
érc r1oôe pàv yrlc oü o' dyew poú"qoopat,
desta terra não planejo te levar.
aúrl ô' é.avnep eiç éy.toüç éÀ071ç ôopouç, Mas se tu mesma fores ao meu palácio,
peveiç üoú"oç rcoü oe p4 pe1Õ uvt. terás asilo e nunca te entregarei!]
érc rfioôe 6' aúrl yr1ç à,nu)")"aooou nó6ot:
Tu mesma afasta o pé desta terra.
&vairLoç yd,p rcai (évoq eívat 1éla. Não quero que meus hóspedes me culpem.

Mr16eru MEDEIA
éorqt ruô': dÀ,),à ilotç ei yévorcó pot Assim será. Mas se eu tivesse garantia
toúroy, éyory' dv roty.rq npàç oe1ev rculthç. disso, ficaria completamente bem contigo.

Aiyeuç EGEU
1,tãtv oú nénoúuç; fi d oot rô 6uoppéç; Não acreditas em mim? Qual o problema?

Mqôeru MEDEIA
nérofiot: Ile),íou ô' éX1póç ê.ori ltot 6ópoç Confio. Mas a casa de Peleu é minha inimiga e também
Kpéav re.'roúroq ô' óprcíorct pàv (uyeiç Creonte. Mas, comprometido com um juramento,
l
üyouo: oú pe9eí' dv érc yaiaç ê.pé: não me abandonarias aos que me carregam para além desta
).óyorç 6à ouppd,ç rcui 1etbv &vtbporoç terra; combinado só com palavras, sem juramento pelos
cpí)"oç yévor' iiv rc&nrc1purceúpaow deuses, poderias virar amigo deles, por uma demanda oficial.
raX' dv ní9orc: ú,pd, pàv yàp &o1evr1, Logo concordarias. Eu sou fracal
740 roiç 6' il"poç éori rcai 6ópoç rupuvvLrcóç. Eles têm riqueza e realezal

Aiyeuç EGEU
rú")"qv é6e{:aç êv Loyorç npop41iav: Mostras, mulher, muita prudência:
oú),', ei ôorceí oot, 6pdv ra6' oúrc d,gíorapar. Se é o que achas melhor, não me recuso.
époi re yàp raô' éoriv d,ogu)"eorepo(, Para mim é até mais seguro:
r --

oK|tyiy rw' éy9poíç ooíç éyowa \ercvu,tu4 ganho um pretexto para mostrar a teus inimigos
74s rà oóv r' üpupe pd.llov: é{7you 1eouç. e o teu lado fica mais fi'rme. Indica os deuses'

M46ua MEDEIA
ópvu né6ov Iffc rurépa 0"'H)"Lov naqàç fura pelo chão da Terra e pelo Sol, pai
roúpou 0e6ty re ouvrfieiç &ruv yévoç. do meu pai! Invoca toda a raça dos deuses!

Aiyeuç EGEU
ríp4pa \paoew i rí pi 6paoen; )"éye. Fazer ou nâofazet o quê? Fala.

Mrl6eLu MEDEIA
pqr' aúrôç êrc yrlc oqç étt' ê,rcpu)"etu rorc, Nunca tu me expulsarás da tua terra'
zso ltqr', ülloç iiv rq uí;v éyÕv éy1pÕv üyew Nunca, se algum outro inimigo meu quiser me carregar'
X,pn(n, ye9qoew (dtv êrcouoírp rpónq. permitirás de boa vontade enquanto estiveres vivo!

Aiyeuç EGEU
õpvupt fqíow'H)"íou 0' ayvàv oé)"uç |uro pela Terra e pela sagrada luz do So1,

9eoúç rc navraç êppeveiv ü oou rc)"t)a. por tàdos os deuses, manter-me fiel ao que ouvir de ti'

M46ew MEDEIA
àprceí: ri ô' iíprcq rQ6e yr1 'p1,révtov nu)oLç; É suficiente. E o que sofrerias se faltasses com o
juramento?

Aiyeúç EGEU
ii'roíot \uooepouor y íyveru ppoútv. zss O que sucede aos mortais que cometem impiedade'

Mr16eru MEDEIA

Xaíputv nopeuou: tay'rq yàp rcu),aç éXet. Segue feliz! Está tudo bem!
ú),w oilv tbç ruyLor' agi(oyat,
rc&ryà Eu logo chegarei em tua cidade, se
rpu(ao' ii pé),),a rcui ruXoúo' ü poü,opar. faço o que devo e consigo o que quero'

Xopóç CORO
&),),q. o' ó Maíqç rupnaíoç tÍva{ Entáo! Que o deus, filho de Maia,
re)"q.oerc 6óyo4 õv r' ênívowy seja teu guia, rei! Que te leve pra casa!
oneu\etç rcaréyav npa{ewç, énei Que possas, os teus cuidados, realizar. Pois I

yevvaioç avqp, homem de bem,


AiyeÕ, rap' êpoi 6eôórc4our. Egeu, te considero.

Mr16eru MEDEIA
õ Zeu Aírcq re Z7võç'H),iou re Eríç, ôÔ Zeus, |ustiça de Zeus e luz do Sol!
765 vúv rca)").ívrcot rõy à1trlv éy9pÕv, g1,ur, 765 Agora belas vitórias sobre meus inimigos,
yev4oópeo)a rceiç óôàv pepqrcupev, queridas, teremos! É a rota que trilhamos.
vuv ê)"riç éX1poüç roiç ê1toüç reíoew \ircqv. Agora tenho chance de justiça. Os inimigos vão pagar.
oõroçyàp evip rt pufuor' ércúpvopev Este homem surgiu como um Porto
hp7v négavrat rCov é.ytdtv pouleuparav: pros meus planos, o que mais me preocupava.
é,rc ro06' úvaryópeo)u Nele atracaremos bem nossa PoPa,
ryupv(rr1v rcoclav,
polóweç üoru rcai ró)"npu lla),),a6oç. indo à cidade de Atenas, à vila de Palas.
$A 6à nqvrq, r&p« oot Bouleúparu |á te conto todos os meus Planos.
),é$,t: ôeyou ôà pfi npõç fi6ovi1v )"óyouç. Recebe o desprazer destas palavras:
néytyao' é7.rãtv r w' oircerúy'Iaooya mandamos um dos meus domésticos a |asão;
éçóyw ê).9eív rlv êpfiv airqoopat. que venha me ver, pedirei.
polóvn 6' aúrtit pa),9arcoüç ),é{cs ),oyouç, Quando chegar, lhe direi palavras ternas:
dsç rcui 6orceí pot roúrà rcai rca),õç yapei que acho justo tais coisas e que está tudo bem,
y&youç rupurtvrttv oüç rpo6oüç q1td,ç éyet as bodas tirânicas, essa traição conosco,
rcai (ultrpop' eíyqt rcai rcalõç ê,yvtoo1téva. que acho adequado e entendo tudo muito bem.
naí6aç 6à peívur roüç à,yoüç air4oopau E pedirei que os meus meninos possam ficar
oúX tbç )"mouo' &v rd"eptíuç êni X9ovàç e que não sejam insultados por inimigos
éX9poíor raíôaç rcüç é.1toitç rcu1uBpíoau enquanto vou abandonada pra terra hostil,
&,t)"' d:ç 6olom naí6a Baotléaç rc'ruvo. e aí, assim, com ardis, mato a filha do rei.
népya yàp aúrcüç 6ãp' éyovraç év yepoív, Eu os enüarei com Presentes nas máos
785 [vúpçn gépovraç, r(tt6e pfi guyeiv X1ova,] 785 pra noiva, uma desculpa pra não fugir desta terra:
lertoy rc ré,r)"oy rcai n),órcov Xpuo7À"arcv: um manto fino e uma coroa trançada de ouro.
rcüvrep )"apoÕoa rcóopov à,1tgfifi Xpoí, Se elapegar o enfeite e cingir a pele,
rcurcãç ô)"eírou nú4 0' ôç üv 0iyy1 rcópr1ç: acaba mal. Ela e todo aquele que tocar a jovem:
rcrcio\e ypioa gapyarcoq 6ap4paru. banharei os presentes com aqueles venenos!
àworu1q, pévrot rov6' &na),laooa )"oyov. Assunto encerrado.
tit rfu 6' oíov épyov éor' épyaoréov Lamento fazer esse trabalho, a partir daí
múvreÕ9ey 4pív: rércva yà,p rcarurcrevít vamos ter que matar os meninos,
rd7.t': oür4 éorw óorq é(arpqoerat: os meus. Não há ninguém para os salvar.

/
6ópov re navra ouyXéao"Iaoovoç
Quando tiver borrado toda a casa de Jasão,
é(eLp yaíuç, gtlra«ot nai\otv góvov rrou embora dessa terra, pra fugir do crime dos
geúyouoa r),q,o' i.pyov &,voottbrurov.
rcod
meninos que amo, eu que ouso a obra mais profana.
oú yà,p yelao)u rl1àv é( éX1pÕt, gil,at.
Não suporto, amigas, ser motivo de riso pros inimigos,
írro: rí pot (4v rcép6oç; oüre pot narpiç
Vamos! Que ganho em viver? Não tenho pátria,
oür' oírcoç éorw oür' ànooqo<pi1 rcq,rcríy. nem casa, nem refúgio contra os males.
1pupruvov ro0' 4virc' é(ú"ípnawv Errei então quando abandonei
ôópouç rarpri;ou ç, &vô pô ç"EM,qv oç lóyo rç
o palácio paterno persuadida pela lábia do grego.
rerc9eío', ôç qpív oüv lee reíoer 6írc4v.
Que, pelo deus, se nos pague o que é justo!
oh' ê{ épou yàp raíõaç óye-ruínore Ele não mais verá meus meninos
(ayrotç rà )"ornàv oüre 14Ç veo(uyou
vivos daqui pra frente, nem com a noiva
8os vú1,rgqc rercytbou naí6', énei rcarcfiv xarcãç
8os recém-casada terá crias e é preciso que a horrenda
9ayeíy og' à,vayrcr1 rcíç é1toíot <pupparco4. morra de morte horrível com meus venenos.
p46eíç ye gaúl7v rc&,o1evr1 voltt(érot
Que ninguém me considere tola e fraca,
p46' 1ouXuíuv, d.)"),à 1arépou rpoTtou, nem resignada, mas, de outro modo,
papeíav éX1pofç rcai gí),orcLv eúyevff:
pesada para os inimigos e leve para os amigos.
rãv yàp roLoúray eúrcleéorarcç píoç. Tem mais fama a vida de quem é assim.

Xopóç CORO
éneírep qpív róvô' ércoívaoaç À"óyov,
Depois que nos contaste este plano,
oé r' tbgeleív 1élouoa rcai voyoq pporãv
desejando te ajudar e cumprindo as leis dos vivos
{u),),appavouou õpav o' &,nevyéno rot6e. suplico: nào faças tal coisa.

Mri6eru MEDEIA
oúrc éonv ü)),04: ooi ouyyvtbp7 )"éyen
6à Náo tem outro jeito. Te perdoo por dizer
Bts ra6' éorí, pi1 ttuoXouoav, ôç éycb, rcarõç. 8t5 essas coisas, não sofres tanto como eu.

Xopóç
CORO
d.)),à rcraveív oõv otréppa ro).pl1oetç, yúvut;
Mas ousarás matar tua semente, mulher?

Mr16eru
MEDEIA
oüru yüp &tt pu),rcru 64X0eir1 róorç. Assim mais forte mordo meu marido!
Xopóç CORO
oü 6' àv yévotó y' &,0),rcrar4 yuvr1. E tu te tornarias então, a mais miserável das mulheres.

Mr16eru MEDEIA
íra: reprcooi nuweç oúv yéoq )"oyot. Deixa pra lá! Todo permeio agora é inútil!
&,).)"' eía yúpet rcai rcóy("Iaoova Mas, ó, vai e traze |asão,
ê,ç rav'ra yàrp 6i ooi rd. nrcrà Xpópe9a pois para todo assunto de confiança recorremos a ti.
lé(y1ç 6à p1ôàv rõv êpoi 6e6oyyévr,tv, Não contes nada do que Planejei,
einep gpoveíç eít \eoróratç yuvrl r' éguç. se entendes bem tua senhora e és mulher.

Xopóç CORO
'EpeX1e:tôu à raÀuàt, ó),prct Os filhos felizes de Erecteu foram outrora
rcai 9eõv naíôeç purcupav, iepaç 825 filhos dos deuses bem-aventurados,
Xtbpotçà,rop?1rou r' &no, qepBópevot por sagrado e inviolado chão nutridos
rc)"eworaray ooEíuv, aiei 6à lapnporarou com notável Sensatez desde sempre, caminham
$o puívovreç úFpõç ui1époç, év9a ro0' &yvàç üo macio pelo mais brilhante céu. Lá onde dizem que,
évvéa IILepi6aç Moúoaç )"eyouot puras, as nove Musas Piéridas
(av1àv Appovíav gurtloat: fizerambrotar a loura Harmonia.

8ls roú rcq))"waou r' üü K4gLoou poaíç 8ss E pela bela corrente que escorre do rio
ràv Mrpw rcL11(ouo: &,guooapévuv louvam a cipria Afrodite, que fecundou
Xtb p ocç rcorcany eú ooc t per p íou ç &v épav o chão a soprar Yentos temperados:
84o &,épaç 46urvóouç: aiei 6' üuBa),),opévav 84o brisas de hálito doce sempre lançando
yairarcw eútbô4 poôéav rÀórcov àv9eav nos cabelos o aroma das rosas, guirlanda florida. '.
ry 2ogíq rapé6pouç néptreru"Eparaç, Ela os amores, ajudantes da Sensatez, solta,
8<S nuvro íaç àperuç (uv epyou ç. 8+s para em toda parte a virtude Provocar.

rõç oõv iepõv rorapõtv Mas como a cidade


4 nú"q 4 9eãv dos rios santos, chão abrigo
TToUTuUoç oe Xtítpa dos deuses, a ti, a infanticida,
rày rqôolérerpav é- abrigará?
8so (e6 ràv oúyóoiav, yer' uorãv; 8so A facínora das cidades?
orcéyuL rercéusy nloç Imagina os golpes nas crianças,
yav, orcéqu govov oíov uípy1. imagina que chacina construída!
p4, npàç yovurov oe row- Não! Aos teus pés! Nunca!
tq nawaç ircereúopev, Por tudo te imPloramos:
8ss úrcvu goveúoy1Ç. 85s não chacines as crianças!
ro)ev 1paooÇ 4 gpevôç 4 Donde a coragem do Peito
yetpi frércvavf oe1ey para prender na mão
rcapôiq re lqyyl os frutos teus e ao coração
Eewàv npoouyouoa róÀ.- terrores resoluta ttazer?
pav; nÕç 6' óyparu npoopalouoa E como lançar enxutos
rérctoLç dôarcpuv poí- os olhos na prole?
puv oX1oetç goyou; oú 6uvuoy1, Terás a sina do crime? Náo Poderás!
noi6o» ircer&,v nttyóv- Das crianças caídas implorando...
rav, réy{u Xépa goruíav a mão manchada de sangue...
86s r),apow 0upÇl nas entranhas... Perenes.'.

'Iaoav JASÃO
iirco rceleuo9eiç: rcai yd,p oõ,oa 6uopev4c Venho por chamado e mesmo com a rixa
oü riiv &.paptoLç roú6é y', d,l ' &rcoúoo7tut: que tens não erraste nisso, te ouvirei'
rí Xp4pa poú)q rcawõy é.( êpott, yúvat; O que mais queres de mim, mulher?

Mr16eru MEDEIA
'Iãoov, oüroúpaí oe'rÕv eip1pévav
|asão, pelo que disse, Peço-te:
87o ouyyv«b1.tov' eívau ràç 6' êptd.ç ôpyd,ç Eépew me perdoes. Minha sanha convém aturar
o', érei vÇ;v nú,1' úneípyaoru
eircóç qíÀ.u. depois de nós dois tanto amor vivermos'
éyà 6' épaury16à),oytov &,gmópqv Eu, por mim mesmo ao bom senso cheguei
rc&)"o ô ó p4 oa: ZXer). iu, r í pu ív o puL e me xinguei: "Tonta! Fiquei louca?
rcai \uopevaíva roíot pou),et)ouoLv eõ, Destratei quem só me queria bem!
áX0pà.6à yaíuç rcoryavoq rca1íoraput 87s E, rival da terra, me arvoro contra os chefes
róoeL 0', ôç 4pív ôpq r&. ouyt<poptbraru, eo marido, fezo mais conveniente para nós:
quLe

yfipaç rúpavyoy rcai rcaoryv4rouç réxvotç casar com a Princesa e gerar irmãos
éyoíç gureu ov; oúrc &na),),uX1q oo ltuL para os meus frutos?! Não vou me livrar
1upoú rí ruoyts; 1eõv rop(óvro» rcalõç; àa raiva? Que sofro? São bons os arranjos divinos'
-
oúrc eioi 1,rév y.roL
-
raí6eç, oíôa ôà X9otta Crianças? Já não tenho? E não sei que somos
cpeúyovraç qpaç rcai ottuví(ovraç gílav; fugidos da terra e precisamos de amigos?"
raõr' eío' y1 o0o prlv d.pou)"íav
é,vv or70 Aí, pensei e percebi a insensatez que tenho
nú")"fiv éyouoa rcai par4v ?uptoupévq. tao descuidada por nada tão desalmada'
yúv oõv ênqwrit oagpoveív ré pot 6orceíç Mas agora aprovo tudo: me pareces Íer razáo
88s rc46oç ú6' 4pív rpoo),aprbv, éyà ô' üEpav, 885 ao propor alianças para nós. Eu fui a fraca

fi Xp4u pereívu rí;vôe rõv pou)"eupurav que devia fazer parte dos planos
rcai (ulmepaívew rcqi rupeoruvat )"éXet e me unir a ti, ficar ao lado da cama cuidando
vúpgn re rcq\euouoav ii6eo0aL oé1et. da noiva e ter satisfação Por ti.
d,7),' ào1tàv oíott é.opev, oúrc ê.prÍt rc0rcóv, Enfim, somos o que somos, náo direi ruins,
89o yuvuírceç: oürcouv Xp4v o' óyotoÕo)at gúow, 89o mas mulheres. Então, não deves imitar meu gênio,
oú6' &yrrceivew vqru' dvri v4níutv. nem pagar criancice com criancice.
napÉpeo1u, rcui gapev KoK:õç Epoveív Deixa! Falo até: naquela hora
rór', d),)"' iil1.tewov vuv pepoú)"eupu ra6e. pensei errado. Mas agora planejei melhor isso:
fo rércyq,'rércva, 6eúpo, ).eírere oréyaç, ô, crianças! criançasl Aqui! Saí de casa!
8gs er', d,oraooo1 e rcui npooeítrare
Ê.{é),0 8gs Vinde para fora! Abraçai e falai
narépu pe9' 1pãtv rai 6ruil,ay040' üpa com o pai, conosco, e, assim, trocai
14ç ryóo9ev éX9paç àç gíÀouç prlrpàç péra: frente aos amigos a rixa antiga da mãe.
onoy6q,i yitp 1pív rcai pe1éot4rcev yo)"oç. São tréguas! Por nós, a raiva está longe.
Tapeo1e ptpàç 6etruç: oí1toL rcarcúv Pegai a mão direita. - Ô ruindade.
tbç é.vvoottyat ô4 n rÕt rcercpuptpévov. Como pensar em alguma tramoia! -
op', t tércy', oíjra rcai nolüv (Gtvreç ypovov Ara! ôÔ crianças, que assim seja por muito tempo,
gílTv ôpé(er' àlev4v; ra)"uw' éytb, de braços abertos, úvereis!
dtç à,prí\arcpuç eip rcui gopou il,éa. Desgraçada eu! Quão lacrimosa estou,
Npóvcp 6à veírcoç narpàç ê(arpouyévq cheia de medo. Mas em tempo findou a rixa com o pai
905 ótyttt úperuav rqv6' é.n),1oa 6arcpúa;v. - esta cena de ternura me enche de lágrimas!

Xopóç CORO
rcayoi rcar' õooav y)"oryàrt t;:pp404 \urcpu: Também dos meus olhos brota pranto molhado.
rcui yilnpopur1 peí(ov ii rà vuv rcarcóv. Que não venha mal maior que este agora!

'Iaoav JasÃo
uivãs, yúvut, roô', or)6' êrceiya yéyEopat: Alegro, mulher, com isso, nem condeno o de antes.
eircàç yd,pôpyàç 0r1)"u norcío)at yévoç É normal na raça ferninina rancor
y ultou f napqnolútvroçf &,)")"o íou róoet. contra o marido - afinal outras bodas escondi.
&ll' éçrà )"Qov oôv ye1éorqrcev xéap, Mas teu coração mudou Para melhor;
éyvaç õà rlv vrcCooav, &l),à rQ XpovE, reconheceste, em temPo, a decisão acertada.
poú,1v: yuvamàç épya ruwa otitgpovoç. Isso é coisa de mulher sensata.
úyív ôé, rq,íôeç, oúrc &.gpovríorutç nar\p Pra vós, crianças, não sem usar a cabeça, o pai
nd"),lv é.)qrce oüv 1eoíç oor4píav: por ajuda dos deuses, trouxe imensa salvação!
i-.

113

oípuL yà,p ópaç qo6e yffc Kopw1iuç Acredito que dessa terra coríntia, vós
rd. rpõsr' éoeo9w oüv rcuoryvrlrotç ért. os primeiros sereis e ainda... com irmãos!
d.))"' aú(aveo1e: r&),),q. 6' à.(epya(erut Mas... crescei! O resto resolverá o pai - e
rur1p re rcoü 9eõv õouç ê.oriv eúpevqc. os deuses - o que for propício.
[6oryt 6' úpuç eúrpageíç iip4ç ú).oç Que vos possa ver bem crescidos chegar até o fim
po).ovraç, éX9põv rõv ê.yttÍtv óneprépouç. da mocidade mais fortes que os meus inimigos.
u'iirr1, rí y.)"r,tpoíç \arcpuorç réyyerç rcópaç, Mas vê esta... por que lavas as pupilas
orpéryuou ),eurc1v épralw nap1i6a; com frias lágrimas e viras o branco rosto?
rcoúrc dopev4 rcv6' ê.( épou 6éyy1 Àoyov; Não recebes com satisfação estas palavras?

M46eru MEDEIA
oú6év. rércvav rÕvô' é.vvoouyév1 répr Nada! Estou pensando na prole... esta aqui...

'Iaoav 1esÃo
)apou yuy: eõ yd,p rãv6e 94oopar népt. Ânimo, agora! Vou cuidar bem destes aqui.

M46eru MEDEIA
6puor,t ra6': oürot ooíç &,trorqoa Lóyotç: Farei isto! Não vou desconfiar mais das tuas palavras.
yuvrl 6à 0r1lu rc&,ri ôurcpuorç écpu. A mulher se faz fêmea é pelas lágrimas.

'Iaoav JesÃo
rí 6q, ru)"anq,, rcío\' êrurcrévetç rércyoq; Queê... infeliz! Gemes por estes brotos?

M46uu MEDEIA
érLrcroy aúrouç: (4v 6' tir' ê.(r1úyou rércvu, Eu os pari! Quando pedias: "que viva a prole']
éo$,0é p'
oírcoç ei yev4oeru raôe. me bateu uma angústia, será mesmo?
d)"),' õvnep oüyerc' eiç êpoüç iircetç loyouç, Mas pelo que Yens conversar comigo,
rd pàv )"il"ercrqL ríty 6' ê.yà 1wqo)4oopat. uns já foram ditos, os outros, recordarei agora:
ê.nei rupavvotç y4ç U' &,rooreí)"at ôorcei ]á pros tiranos está resolvido: devo ir daqui da terra -
935 rc&poi ru6'Êori )"Çtora, yryvtbotcto rcal,áç, para mim, também isto é o melhor, eu sei não
p1r' éynoôàv ooi p1re rcoryavoç X9ovàç vou atravancar o teu caminho, nem a terra
yaíew: 6orcÕ yd,p ôuopevqc eívu 6opotç dos chefes habitar; pelo jeito, sou rival da casa real.
1peíç pàv é* y4ç rfioô' &,nupoupev cpuyyl, Nós, desta terra, partimos em fuga, mas
7Íqí6eç 6'
ijnroç iiv ércpaEÕoL oy1XepL os meninos, para que sejam criados por tua mão,
atroú Kpéovra rqv6e p\ geúyew X1ova. pede a Creonte: não sejam banidos deste chão!

'Iaoav y.r.sÃo

oúrc oí6' à,v ei reioaLprL nerpd,o)u 6à Xp4. Não sei se o convenço; é preciso tentar.

Mr1ôeru MEDEIA
oü 6' dlld, ofiv rcéleuoov üvreo)m rarpôç Então... tu, a ela, tua mulher, manda pedir
yuvaírca nai6aç qv6e p4 geúyew y9óvu. ao pai não serem os meninos banidos deste chão.

'Iaoav JesÃo
yukora, rcoü neíoew ye 6o(a(a og' Ê.ytit. Claro. E acho mesmo que vou convencê-la.

Mq6em MEDEIA
eírep yuvarcóv <y'> éort rÕv &l).ov pía. É, se ela é uma mulher como todas as outras...
oú.)"4yopaL 6à roÕ6é oor rc&yà róvou: Tomarei então contigo, também eu, essa peleja:
répyo ydp aúry 6ap' ii rca)")"rcrerierqr mandarei para ela presentes os que muito
rãty yttv év dv1ptbnoto:, oíô' éytb, rd,tt mais belos existem agora pros homens!
fierrov re rénlov xai ilórcov Xpuorfi,arovl Jâvejo: fino vestido e tiara de ouro!
raí6aç Eépowaç. d)"1' tjoov raXoç Xpeàv As crianças levarão. Rápido! Preciso de
rcóo1tov rcopí(eLv 6eúpo npoonolav rwoç um dos servos pra cuidar do enfeite.
eú6aLpov4oet 6' oúXév, d),)"à pupíu, Se alegrará não uma, mas mil vezes:
&l6póç r' d,píorou ooú ruyoõo' ôyeuvérou achou em ti um excelente homem, e amante,
xem4pév4 re rcoopov iiv no9"'Hlrcç e mais, possui um enfeite que o Sol, pai do
narpàç nurfip 6í6onw ércyóvotow oíç. meu pai, costuma dar aos seus descendentes.
La(uo9e qepvàç rao6e, naíôeç, éç yépuç Tomai nas mãos estes mimos, meninos, e levai,
rcai ry1 rupavvq parcapíq vúytgy1 6orc dai à bem-aventurada noiva do rei.
Eépovreç: oürot ôtlpa peprrd 6é{erau Sim, presentes não desprezíveis receberá.

'Iaoo» IASÃO
rí 6', õ puraiu, rõv6e o&,ç rcevoíç yépaç; E por que ficas, de mãos vazias, ô louca?
6orceíç oravi(ew 6õpa paoíLetov rér)"r,tv, Achas que o palácio real está sem roupas,
iorceiç ôà ypuoou; oEk, ltit 6iôou ru6e. sem ouro, achas? Guarda! Não dês isto.
r77

elnep yd,p rlpaç dSoi ),óyou rwàç Se por nós, consideração tem a mulher,
yuvq, npo11oer Xpqyarav, ou«p' oíô' ê.ytb. na frente dos bens nos coloca, isso sei.

Mr16eru MEDEIA

U4 Uot oú: reí1ew 6Õpa rcai 1eoüç lóyoç: Nem vem! Um dito há: "presentes comovem deuses",
965 Xpuoàç 6à rcpeíooav yupiav )"óyov pporoíç. 965 e pros mortais: 'b ouro vale mais que mil palavras".
rceivr1Ç ô 6aíyov [rceiva vúv aü\et 1eoç, A índole é dela, o deus só aumenta. Ela tem
véa npavveil: rõtv ô' épãtt, naí6av guydç reinado novo. O eílio dos meus meninos
yuXqç dv d,),Àa(aipe?', oú ypuooú póvov. por uma vida mudamos e não só pelo ouro.
e,ll', õ rércv', eioe),)óvre nlouoíouç 6opouç Mas, filhotes, entrai pelo rico palácio,
ruarpõç véav yuvaírcu, \eotrórw 6' ép1v, do pai; à nova mulher - à minha senhora -
ircercúer', é(uLreío1e pl guyeív y\ova, implorai, pedi que não sejais banidos da terra,
rcóo7tov ôôóvreç rcu6e yd.p pa)"rcra õeí, dando enfeites, mas isso é o mais importante:
éç Xeip' érceív7v 6ãtpa ôé{ao)at ra6e. que ela, em mãos, receba estes presentes.
í0'dtç ruXrcra: y1rpi õ' ,fov épq tuXeív Ide o mais rápido! Para mãe atingir o alvo,
eúayyd"u yévorc1e rpa(aweç rcaltlç. sede bons mensageiros, agi bem!

Xopóç CORO
vuv ê),ní6eç oúrcéu pot naíôav (óuç, Agora pra mim esperanças de vida prãs crianças
oúrcérL: orcíXouot yàp éç govov fi6r1. não há - não mais! |á marcham para a morte.
ô é(tru v ú pg a ypu oéutv dv a6 eo 1.tãv A noiva receberá dourados adereços.
6é{*w \úoravoç rirav: Receberá, infeliz, um castigo. Na cabeleira brilhosa colocará,
9Bo (av1q 6' dpgi rcopq 04oeL'rôv Aôa 980 com as próprias mãos,
rcóo1tov aúrd yepoív. o adorno infernal!

reíoet yap4 &,1tBpóotóç r' aúyd, nénlov O charme imortal, seduzl E também o brilho...
ypuoóreurcróv re oré,rpavov repfiéo9ut: a túnica de ouro, tecida, coroa para usar...
985 veprépotç 6' 46q napa vuyEorcop4oer 985 Paramentada noiva será para os lá debaixo!
roíov eiç é.prcoç reoeírat Em tal rede cairá
xui proípav 9oourou 6úoravoç: drqv 6' e por um fatal destino, desgraçada:
oúX úrercgeú(erat da ruína não escapará.

oü 6', ãt rulqv, ,ã rcurcóvup<pe E tu, ô irresponsável, ô mal-casado,


rc4ôetrtàv tupatvt'tv, Amigo de tiranos
ttottoiv oú rcareôàç Aos filhos... não sabes...
119

óle1pov prcrq rpooayerç à,Lóyp re um flagelo na alma... preparas


oq oruyepôv 9avqrov. morte odiosa a tua noYa esPosa'
6úorave, poipuç óoov napoíXy1. Infeliz! Que destino terrível crtzatâs.

peraorévopar 6à oàv üÀryoç, Choro por tua dor,


(o ru).uwa naí6av Ô desgraçada mãe
pãrry, il. goveúoetç de filhos que sangrarás.
úrcvu vupgôíav élercev leXfuttt, ü Uma prole por uma cama nuPcial
oot npolmàv dvopaç que teu marido, violando as leis,
d,llq (uvorceí nóorç ouveuvq. divide com outra.

IIaôayayoç PEDAGOGO

\éotroru', &qeívru raí64 oí6e oot guy|ç, Patroa, liwaram estes teus meninos do exílio!
rcai 6úpa vúUgq puoÀiç &,o1.rév4 yepoív E os presentes a princesa noiva, contente, com as duas mãos,
1OO5 é6é(ar': eip7l4 6à r&rcei9ev rércvoq. recebeu. Paz! Nas coisas e pras crianças!
éa: rí ouyyu9eio' éotqrcuç i1vírc' eúruXeíç; Eia! Por que estás perturbada, quando ésfeliz?
[rí o1v éoqeryaç éy,ma).w raprlí\a Quê?! Viras o rosto para trás
rcoúrc &opévq úv6' é( à.you ôéX11 ).oyov;l e recebe descontente, de mim, esta notícia?

Mq6eru MEDEIA

aiaí. Aiaiii.

IIUôayoyoç PEDAGOGO

roô' oú (uvq6ix roío: ê.(4yyt)tyévorç. Isso não combina com as coisas anunciadas.

M46em MEDEIA

aiai pal' aõ01ç. Aiai ainda e de novo!

Ilaôayayoç. PEDAGOGO

pCov rw' dyyé)"fuiv rúX4v Será que anunciei alguma desgraça?


oúrc oi6a, 6ó(11ç 6' ê.oga),4v eúayyéLou; Não sei... da fama de arauto, escorreguei?

Mr16eru MEDEIA

iiyyetluç oí' iiyyeÀ"aç: oú oà pé1tgopat. Disseste o que disseste. A culpa não é tua.

J
Ilaôayoyoç PEDAGOGO
rí 6ai rcarqgàç iiltpu rcui \urcpuppoeíç; Por que a vista baixa? Derramas lágrimas?

Mr16em MEDEIA
rc),Àr1 p' dvayrcrp npéopu: ruÕra ydp leoi É muita precisão, velho. Os deuses e eu,
rcdyà rcurcãç Epovouo' é1tqXuv4oap7v. com más intenções, planejamos tudo isso.

IluÂayayoç PEDAGOGO
1apoet: rcarct rot rcai oü rpôç rércvav én. lols Coragem! Voltarás ainda! Sim, por teus frutos!

M46eru MEDEIA
ü),),ouç rcaru(us npóo1ev 11 rú,aru' éytb. Antes arrastarei outros. Desgraçada que sou!

IlaÂayayóç PEDAGOGO
oüror ptov4 oü oity àne(uy1ç rércyay: Não és só tu que te separas dos frutos: é preciso,
rcoúgutç gépew ypil 0v4úv óvr« oupgopaç mortal sendo, aceitar o azar comleveza.

Mr16ew MEDEIA
6paoa ru6'. &.),),à paive \oparav éoa Farei isso. Mas vai para dentro de casa
rcqi nani nópouv' oía Xp4 rca9' 4pépav. 7o2o prepara pras crianças as coisas de cada dia.
e
to rércvor rércva, ogritv ptàv é.ou 64 no)"tç Ô, prole, prole! A cidade é vossa! De ambos!
t! ),móvreç &,0),íuv épà
rcai ôÕ7,t', év E também a casa, onde me deixais vencida.
oirc4oer' uiei y7tpàç ê,orcp4pévot: Vivereis, pra sempre privados de mãe.
éyà 6' éç ü),).4v yuíav eíp 6fi guyuç, Iá eu... irei para outra terra, exilada
npiv ogrQv ôvqo9m rcdnôúv eú6aípovaç, 1o2s antes de tê-los desfrutado, de vê-los felizes,
npiv )"ourpd, rcai yuvaírca rcai yu1,q).íouç antes dos banhos, esposa e cama
eúvà,ç &y1)"at )"uyna6aç r' àvaoXe1eiv. nupcial e de levar a tocha do casamento.
õ 6uoror),awa qç ép4ç uú1aõíaç. Ô teimosia desgraçada esta minha!
d.),),aç üp' ú1,túç, õ úrcv', ê.(e0petyu1.r4v Meninos, vos criei à toa.
ü))"oç 6' épóX1ouv rcai rcme(av1r1v nóvoq, To:,o À toa sofri, me acabei em trabalhos,
orcppàç éveyrcoúo' ê,v rórcoq &,lyq6óvaç. Suportei no parto dores... excruciantes.
11 p1v no1'
fi ôúorrlvoç eíXov é)"ríôaç A mísera, sim, tive um dia esperanças em vós.
rú")"üç yqpopoorc7oeru r' éptà
ê.v r)1tív, !.De-narclhic-9t-uidarem de mim e, )quan do morresse,
. . -Uuitas
rcq,i rcar9otyoúoav Xepoiv eõ neprcreÀ.eív, v de, com as mãos, m;;nterra;eml-----/ -
..vft' I
t23

1035 (4),aràv &v1ptbnorcr: vuv 6' ó).d.e 6i1 1035 invejada por todos... Foi-se agora
ylurceía Epovríç. ogriv yd,p ê.orcpqpév4 a doce imaginação. Privada de vós,
Àunpàv 6mÇo píorov &,lyewov r' épóv. sofrida, levarei uma vida dolorosa e só.
úpeíç 6à p1rép' oúxér' iiypaoru qí),oLç Vós, olhos queridos, - nunca mais - vereis
1o4o óyeo?', éç ill),o oy4p.t' &rooravreç píou. a máe. Ireis para um outro modo de vida'
geu geu: il trpoo\éprceo9é p' ó1tpaory, rércya; Phu, phu! Por que me olhais nos olhos, filhos?
rí npooyeld.re rôy rayúorqrov yélav; Por que o riso de um ultimo sorriso?
aiaí: d 6paou; rcap\ia yàp oíXeruL, Aiai! Que faço? É, o coração baqueou,
yuvaíxeç, õppa Euôpàv citç eí6ov rércvttv. mulheres, ele viu - dos filhos - al:uLz dos olhos'
oúx dv 6uvaíy4tt: yatpéra pouleúparu Náo! Poderia?! Adeus, Planos
rà rpóo9ev: üta naíôaç üc yaíaç êpoúç. 1045 de antes! Levarei meus meninos desta terra'
rí 6ei pe rarépu rtivle roíç roúrov rcurcoíç Por que, carece ferir o pai com esses males
luroúouv aúd1v 6iç róoa rcrdo1at rcarcq; e ter pra mim o dobro da desgraça?
oú 64r' éyaye: Xatpéra pouleupara. Não mesmo! Adeus Plano! Mas o que
1O5O rcakot rí nuoXa; poú)"opm yé)"ar' ôqleÍv 105o mesmo eu sinto? Quero virar chacota?
êX9poüç pe9eíoa roüç ê1loüç d,(41tíouç; Deixar meus inimigos imPunes?
rú,y4réov ru6'; &.M,ix rr1ç êpr1ç rcarr1ç É preciso ousar! É fraqaezaminha
rô rcai npooéo9at pu\9arcoüç Loyouç Epeví. isto de jogar palawas moles no peito.
Xapetue, naí6eç, êç 6oyouç. ifuq ôà yil
Correi, meninos, Pra casa. Quem não
9éytç napeivat roiç éyoíor ?upaow, pode assistir os sacrifícios há de
uúxp pe),4oer: yeípa 6' or) 6wg0eptil 1055 se inquietar! Não hei de amaciar a máo!

fie.pi 6fizu,?upé, tti oú y' épyaoyl ra6e: Ah! Ahl Ai, não, coração! Não faças isso!
éaoov aúroúç, dt ruLav, cpeíoat rércvav: Deixa-os, ô desgraçado! Poupa a prole!
ércei pe9' fipÕv (ãweç eúgpuvoúoí oe. Lá, vivendo conosco, eles te farão feliz!
ptà roüç nap' Aô11 veprépouç &,Laoropaç, Pelos espíritos do inferno, os vingadores de Hades!
oürot nor ' éorat roú0' tinaç êy)poíç êyà Nunca, mesmo, eu deixarei meus inimigos
ruí6aç rap1otts roúç êproüç rca1uppiout maltratarem meus meninos.
nawoç og' dvuyrcq rcaràqyeíy: hei ôà [De qualquer jeito, eles têm que morrer! É preciso'
Xp1,
4peíç rcevoupev oínep é.(egúoapev. Nós os mataremos, nós, que os geramos!
navroç nénparctu raúra rcoúrc érc<peú{eru.l ro65 De qualquer jeito, está feito e náo há fuga.]
rcai 611 'ni rcpuri oúgattoç, év néilom ôà Então de coroa na cabeça, nos vestidos,
vúpqrl rúpavvoç ólÀwou, oag' oí6' êy«b. a noiva tirana morre! Vejo tudo claro.
eíp yàp 64 rl1poveoratqv ó6àv
&,)")"', Mas irei pelo caminho mais sofrido
rcai rouo\e néyrya rl1poveorépuv én, e mando-os também, sofrendo mais ainda.
raí6aç rpooemeív poulopaL: 6or', rércyoL Quero falar com os meninos. - Dai, brotos,
'it
1O7O 6ór' &,otraooto9at pr7rpi ôe(àv 1O7O dai a mão direita Pra saudar a mãe.
Xépa.
125

,ío gÀrar4 yeíp, gílrmov 6é pot orópa Que mão mais querida! Que boca mais querida pra mim!
rcai oy4pa rcai rpóootrov eúyevàç rércyow, Que feitio e rosto nobre é o da prole!
eú\atpovoirov, &,)")t' érceí: rü 6' êv0u6e Sede felizes! Mas lá! A festa daqui
narqp à.geíLer'. õ ylurceía npooBol4, vosso pai levou. Ô doce enlace!
õ pul9urcàç Xpàç nveupu 0' ii\Lorov rércyay. 1075 Ô pele macia... cheiro bom de menino!
yapetue yopeír': oúrcér' eipi npoop)"énew Correi! Correi! Não consigo mais olhar
oíu re fnpàç ôpqçf úlL* vrcã;pu rcurcoíç. para vós. Sou vencida pelos males
rcai pav9ava pàv oíarolpqoa rcarcu, e sei que o que vou fazer é raim;
9upàç 6à rcpeíooav útv é1tõsv pouleuparusv, do decidido, porém, a paixão mais forte é.
iionep yeyíorov aírnç rcurcãv Bporoíç. toSo Isso, sim, é causa dos males maiores prbs mortais!

Xopóç CORO

nollanç ii6q ôà Lenrorépov Passei muitas vezes por capciosas


pú)av éyolov rcai npàç à,1tíM,uç falas... entrei nas maiores
fi)"1ov peí(ouçil Xp4 yevedv
contendas que coube
9filuv êpeuvãv: ao feminino inventar...
1085 eD,à yàp éorw poúoa rcai ripíu 108S Há para nós uma musa também,
íi n p o oo 1t Àeí oo cp íuç év erc ey, que conversa, por sábia que é,
naoarct pàv oü, ruúpov 6à yévoç, não com todas, mas com poucas.
<píuv> év ru)"laíç, eüpotç üv [oaç <Uma> entre muitas, acharias talvez,
oúrc dnópouoov tà yuvarcãtv. não distante das musas...
rcuí gr17.ttpporõv o[rwéç eiow Digo mesmo: entre os viventes, os !lue,
napnav ürerpor p46' êcpúreuoav de todo, inexperientes, não geraram
naí6uç npogépew eiç eúruXíav crianças, carregam melhor sorte
rãtv yeway&av. que aqueles que as têm.
oi y.tàv drercvot 6t' àtteryooúvqv E os que, por imperícia,
ei'9' fi6ü Bporoíç eír' &vtupôv - pra bem ou pra mal dos que vivem -
raí6eç relé9ouo' or)Xi ruXoweç acabam, por sorte, sem prole,
no),)" õ v 1tóX0 a v &,n é,yo v ra u de muita lida se livram.
oíot ôà rércvav éot: év oírcoç Há quem, em casa, tem uma
y)turcepõv ptraor4 y', êoopõt pe)"ér71 doce floração de botôes. Olho pra eles
7700 rcurarpuyo 1.tévouç ràv ünawa ypóvov, 7100 no cuidado cansados o tempo todo:
npõrov pàv ótrtoç 9pétyouot rcalãtç primeiro, para bem nutrir a prole
píoúv 0' üro1ev Lehyouor rércvoq: e daí, depois, pra deixar sustento pra eles.
én 6' ê.rc roú'rov ek' éri g).aúpotç E ainda, depois disso, sejam fracos,

t rii]rll,
127

ek' éni yp1oroíç sejam fortes,


poX)oúot, ro6' àoriv üô4lov. penam sem Yer.
t1o5 êv 6à rà rowrav )"oio1rcv ii64 11O5 Mas um mal, último de todos,
nd.on rcarepÕ 9vqtoíor rco«óy: pra todos os mortais enuncio:
rcui 6fi yàp ülq píoróv 0' 4õ,pov eis que então, vida bastante tiveram
oõpu r' êç 4§qv iilu9e rércvav - corpo e vigor - chegou nos meninos!
Xp4oroír' éyévovr': ei 6àrcup(oat Valiosos ficaram! Só que, do nada,
6aípav oüraç, gpou\oç éç Aôou um deus qualquer assim os arranca pro Hades:
9avuroç npogépav otbpara rércvav. foi a morte que carrega os corpos da prole.
nõç o{tv Àúu rpàç roiç ül),oq Como então se livrar, entre outras, de
r4v6' én Lrjr1v &vmporarqv mais esta tão merencória dot
nqíEav é,yercey a de filhos que
1115 1vqroíot 9eoü ç üupal)"ew; 7115 os deuses aos mortais mandam?!

Mri6eru MEDEIA
rpílau na)"u rot rpooyé.vouoa rfiv túy1v Amigas, há muito espero a soluçáo do acaso
rcapu\orcãt r&rceí9ey oí npop1oerut e aguardo o que lá se passará.
rcai 6fi 6é6oprcq, róy6e rdtv'Iuoovoç Então... Vejo agora um dos ajudantes
oreíXovr' ônq6ãv: rveúpa 6' 4pe9rcyévov de Jasão. Ele se aproxima sem fôlego:
1120 \eirvuo: tiç u rcuruàv &yye)"eí rcarcóv. 7720 parece que anunciará um novo mal.

i\yyeloç MENSAGEIRO

[,õ ôewõv épyov napavópaç eipyaopév1,] Ô obreira de terríveis trabalhos! Ladina!


M1ôeru, geúye geúye, p4re vutav Medeia, foge! Foge, ê não Percas nau
Àmoúo' d,n1v1v p1r' óyov re\oor$ff. nem carro de rodas por terra!

M(6eru MEDEIA
rí 6' ü(úv ltot rfio\e ruyXuveL guy7c; Que coisa me vem que me valha a fuga?

Ayyeloç MENSAGEIRO
1125 ó)"a)"ev q rupuwoç àpríaç rcop7 1125 Acabou de morrer a filha do tirano
Kpéav 0' ô Eúoaç gappurcav rtby oútv ütro. Creonte, e também o pai... por teus Yenenos.
Mr1ôew
MEDEIA
rcq).)"rcroy ehraç yu1ov, êv 6' eúepyératç Belíssima história contaste! Entre meus benfeitores
rà ).ourày iiô4 rcai gíloq é,poíç éoy1. de agora em diante estarás; aliás, entre meus amigos!

Ayye),oç
MENSAGEIRO
113O rí gylc; gpoveíç pàv ôp1d. rcor) paivyr, yúvar,
113O Que dizes? Pensas bem? Não endoidastes, mulher? És mesmo
iirLç, rupavvav éoríoty 71rcrcpévq,
quem flagela o lar dos tiranos!
Xaíperç rc)"úouoa rcoú goByl rd. roru\e; Ouves essas coisas e te alegras sem temer?

Mr1ôeru
MEDEIA
épt n rc&yà níot ooíç éyqyrioy Tenho algo, eu também, como resposta
)"óyorcw eineív: d,).1ü pr1onépXou, gíÀoç,
para dizer a tuas palawas. Mas não te afobes, amigo!
),é{ov 6é: nõ;ç dfi"ovro; 6iç rcoov yàp &v
Fala: Como morreram? Diverte-nos
11i5 répryeruç 4paç, ei re?ydoL nayrcarcoç.
11i5 duas vezes mais se morte cruel tiveram!

){yyeloç MENSAGEIRO
érei rércvutv oõtv Q,0e ôírruXoç yovrl
Depois que chegaram tuas duas crias
oàv narpi, rcai napff),0e vupgrcoüç 6ópouç,
com o pai e adentraram os aposentos ninfeus,
íio)r1pev oírep ooíç ércapvopev rcaxoíç
nós, os servos aflitos por teus males,
6pãeç: ü' arov 6' eú0üç fiv nolüç ),óyoç
alegramo-nos. Logo, de escuta, muita conversa havia...
114O oà rcod róoru oàv veírcoç éoreío1u rô npív. 114O por ti e teu marido, pelas brigas de antes, pelas tréguas!
rcuvei ô' ó pév nçXeíp', ô 6à (av1ôv rcupa De nós, um beija a mão, o outro a cabeça dourada
naí6av: éyà 6à rcuúràç fi6ov4ç üno
das crianças; eu mesmo, de prazer tomado,
oréyaç yuvamõv oúv rércvoq üp' éoróp4v.
fui, com os meninos, pra junto das mulheres.
\éononot 6' r1v vuv dvri ooú 1aupa(oyev,
E a senhora que agora admiramos no teu lugar,
1145 npiv pàv tércyay oCov eioôeív (uvapí6u,
1145 antes de enxergar o par de filhos,
rpo9u pov eíX' ôg1a),yôv eiç'Iaoova:
tinha os olhos de desejo em Jasão;
írerca pévror rpourcalúyar' ópparu
ao depois, sim, cobriu o olhar,
)"eurcqv r' &,néorpety' épnalnt tuprlí6a,
virou de lado o alvo rosto,
nai\oy puoaX9eío' eioo6ouç. nootç 6à oàç enojada com a entrada dos meninos. Mas teu marido
115O opyaç r' &,gy1pu rcai yo).ov yec.vr6oç,
115O a agitação e a zarrga da mocinha acalma,
)"éyuv ra6': Oil 1tq ôuopevlç éoy1 gíÀoq,
falando assim: "Não maltrates os meus queridos!
nuúo77 6à 9upou rcoà nat).w orpéryetç rcapu,
Contém a sanha e volta tua face pra eles,
gÀ"ouç voyí(ouo' oüonep üv nóotç oé1ev,
considera amigos os que o marido quer pra ti
ôé{X 6à 6í;pa rcui nuputrqog nurpôç
aí, recebe os presentes e pede pro pai
131

1155 guyàç &geívuL ttutoi roío6' ê.1.tfiv pp:; abolir o exílio destes meninos... um favor pra mim..."
q 6', [oç éoeíôe rcóopov, oúrc 4véoXerc, E ela, assim que vê o adorno, não se contém!
d)")"' liveo' dv6pi navra, rcai npiv érc ôopav Então, acordou tudo com seu homem, e antes que
yarcpdv dneívu raú,pa rcai raí6uç oé1ev da casa pai e teus filhos se fossem longe,
)"apoúoa nénlouç no rcílouç 4 pnéoXero, tomou os coloridos panos e se enrolou
tt6o e colocou a coroa de ouro - os cachos dos dois lados;
Xpuooúv're 9eíoot oréguvov à,pEi poorpúXotç
),aprp Çt rcarórrpq oX4 pari(erat Ko ptqv, com o espelho brilhante ajeita a cabeleira,
iiyuXov eircà rpooyelãtoa otbparcç. sorri para a imagem sem vida do corpo.
rcd.nerc' &,vao'rã,o' êrc 1póvav \ÉpXerur Então se levanta do trono, atravessa
oréyuç, d,ppàv paívouoa naÀleúrcq no6í, o quarto, pisando delicado com o alvo pé,
1165 6 ó p o 4 t)nepXaí p ou oa, nollü rú).arc tç tt65 hipercontente com os presentes, muitas, muitas vezes
révoyr' õppaa orconoupév4.
êç ôp9àv de pé, reta, espiava com os olhos.
roúv0év6e pévror ôewõv fiv 1eay' i6eív: Porém, daí mesmo, que visão terrível de ver:
a cor muda. Tomba pra trás e
Xpoàl yàp d),)"a(aoa LeXpia ralLv
yopeí ryépouoq, rcút)"a rcai pil"6 E9avet corre. Tremente nos membros, difícil avança
117O 9póvorcw ê.preoouou p4 Xupai neoeív. 117O e por pouco chega. Cai nos tronos, pra não cair no chão.
rcaí nç yepuà npooró)"ov, 6ó{uoa rou Aí uma velha - das porteiras - acha que
ii IIavàç ôpyàç 4 rwoç 1eínt yoleív, o furor vinha de Pã ou de um deus qualquet
àva),olu(e, npív y' ópq 6à, orópu grulhou antes mesmo de ver pela boca,
r' escorrendo, branca espuma e dos olhos,
Xrttpoúvra )"eurcôv dEpov, óppatav otno
1175 rcopaç orpégouoüv, aíya r' oúrc évõv ypo'f: 1175 as pupilas reviradas. Sangue, na pele, não tinha;

eír' &,vripo),nov fircev ôLo),uyr1ç ptéyuv Aí chega um contracanto de grulha: vozeria


rcarcuróy. eú0üç 6' 11 pàv êç rarpôç 6opouç estridente. Uma direto para o palácio do pai
rttppqoev, 4 6à rpàç rôv apríaç noon, se enfiou, outra ao recém-casado

gpaoouoa rúprprlç oupgopuv: anqoq 6à contou a desgraça da noiva e toda a


ttSo oréy4 nurcvoío: é.rcrúnu 6puyt4paow ttSo casa ressoou por muita correria e jâialâ,
quase na volta final, tocando a linha de chegada
46rt 6' é)"íooav rcãs),ov ércnlé1pou \poptou
ruXüç pa6rcrqc reppóvav d,v íinrerc, o atleta veloz, quando do silêncio
fu' é{ fuuu\ou rcui puoavroq ópparoç e dos cerrados olhos, a infeliz acorda. Gemeu
ôewàv oreva{ao' fi ra\aLv' 7yeípero. terrível. Duplas dores marcham contra ela:
trB5 6m)"ouv ydp uúrfi t41t' ê.neorpareúero: tt85 o trançado de ouro ajustado em roda da cabeça assombroso,
escorria de cada lado:
Xpuoouç pàv uprpi rcpari xdpevoç nlorcoç
9auyaorôv [er vúptu rapcpayou nupóç, madeixas pasmosas, fluidos de fogo voraz.
néruLor ôà lerroí, oãtv rércyusv 6u.,pr1paru, E os mantos delicados, presentes dos filhos,
leurc\v é\untoy oaprca rr1ç \uoôaípLovoç. devoravam a carne branca da mofina.
E ela, ressurreta, foge. Ardente levanta do trono.
119O
EeúyeL 6' úyotorúo' érc 1póvav rupoultévr1,
oeiouou Xuírr1v rcpdra r' ü),),or' üLLooe, Agita o cabelo e a cabeça pra cá e pra lá,
phyar 9elouoa orégavov: dll'
úpaporaç como quem quer jogar longe a coroa: mas firme e

oúv\eopa ypuoôç eíXe, rup 6', ênei rcópt4v atrelado estava o ouro. O fogo, pelos cabelos,
éoeLúe, pullov 6iç róoaç élaprero. 1195 ia-e-vinha, brilhava duas vezes mais forte.
rfuyeL 6' éç o(tôaç ouygopq vrcapév1, Aí, vencida na desgraça, cai no chão
r),4v rQ rercóvT L rcapru 6uopa0qç i6eiv: desfigurada de ver de menos Pro Pai.
oür' ôyyarav yüp 6rfi"oçfiv rcaruoruoLç Dos olhos, de fato, o feitio visível não era,
oür' eúguàç rpooanott, aípu 6' é( drcpou nem do rosto bem feito. E o sangue do alto
éoru(e rcp aà ç ou pn eE u p 1.rév ov nu p i, descia - da cabeça maranhado em fogo -
oaprceç6' dr' ôoréo» uorereurcwov \arcpu 7200 as carnes dos ossos, tal qual choro de pinho,
yv a9o q &.64)"o q g ap parcov &,nép peou invisíveis mordidas dos venenos escorriam:
ôewàv 9éupa: ndot 6' qv gopoç 9ryeív horrorosa visão. Todos tinham pavor de tocar
vercpoú: rúyqv yàp eíyopev \ôqorcqLov. a defunta: a sorte por maestro tivemos.
naqp 6' ô d"1pav oul,rEopaç &yvaoíq O coitado do pai, na ignorância do sucedido,
12O5 üEvo napú")àv 6Õpa npoonkveL vercpQ . 12O5 no que entra em casa, cai sobre a morta.
Epr't|eô' eú0üç rcai nepmru(uç Xépüç Gritou logo e, no ato, cbs braços enlaça,
rcuveirpooau\õv roru6': '"A" ôuor4ve raí, beija e clama assim: "ó mísera criança,
ríç o' ã6' &,rípaç \uryóvav dntbleoev; que deus sem honra te sacrificou assim?
dç rôv yépowa rúppov ôpgavàv oé)ev Quem mefazvelha tumba privada de ti?
1210 d)qon; oíyot, ouv9avorptí oot, rércyov. 1210 Oi moil Morresse eu contigo, filha!"
hei 6à 1prlvav rcai yóav énuúoarc, Depois de prantos e choros acalmou-se
Xpnfuv yepuLàv é(avaorfioaL 6épaç mas, no que procura o velho corpo levantar,
rpoodye9' üorc rcrcoôç épveoLv \agvrlc prega assim como a hera no ramo de loureiro,
LenroíoL rérÀoq, ôewà õ' fiv ralaiopura: finas vestes, triste luta:
1215 ô pàv yà,pii1el' ê.(uvuorrlout yóvu, 1215 então, ele ia pra levantar o joelho,
4 6' &we),u(ur': ei 6à rpàç píav üyot, ela puxava mais... Se tenta com força,
ouprcaç yepaàç éonupaoo' dtt' ôotétttv. as carnes anciãs despregam dos ossos'
XpovE 6' dnéor1 rcui pe1qy' ó \uopopoç Com tempo, pereceu e, malfadado, entrega
tyuX4v: rcarcoú yà,p oúrcér' fiv únéprepoç. a vida: jânâo estava mais em cima do mal.
1220 rceíytu 6à vercpoi nuíç re rcui yéputv rur\p 7220 Estirados defuntos, filha e velho Pai
he),aç, ro9ewl \arcpúotot ou 1.tgopal. [junto, desgraceira que clama lágrimas].
rcai yor rô yàv oôv ê,rcroôàv éota )"óyou: E eu, ó, o teu assunto , pralâ da história fique:
yàp arirl hUíoç énoqoE7v.
yvtítoy1 pois sabes a volta do castigo lno lombo de quem dá].
rà 0v4à.6' oú vuv npCorov qyoultuL orcruv, Uma sombra são as coisas dos mortais.
1225 oú6' dv rpéouç e[no4.tL roüç oogoitç pporÕv 1225 Como antes não julgo. Sem medo digo:
\orcoúvraç eíyat rcai peptptv7ràç loyotv 'bs sábios dos homens e os que se acham

I
roúrouç pey iorqy pu) p íqv ó glrcrcuveLv. bons de lábia, estes merecem a enorme loucurdi
9vqrõv yd,p oúôeíç éorw eú\uiyav &v4p:
Sim, dos mortais, nenhum homem é feliz:
ó)"pou 6' érqpuewoç eúruXéorepoç
um, no fausto atolado, talvez mais sortudo fosse
123O tÍ,)")"ou yévorc' üv üLloç, eú\uípav 6' üv oü, 123O que o outro, mas feliz não.

Xopóç
CORO
éoLX' ô 6aípov ro))d rgô' év 1prépq
Foi hoje que o demônio - parece - muita
rcarcà (uv urr eLv à.tt 6 írco ç'Iaoov t.
desgraça, injusta, impôs a ]asão
[ã il,q1tov, üç oou ouytgopd4 oimípopev,
fô azarada, como choramos tua desgraça,
rcópr1 KpeovroÇ, 1rLç eiç AL6ou 6óyouç
filha de Creonte, que foste prhs moradas
1235 oíy71 ya p«ov é,rcau rrby'Iatoo v o ç. l 1235 de Hades ern razáo de bodas com |asão].

Mr16em
MEDEIA
gÃ"au 6e6orcrar rcüpyov t);ç rayora por
Queridas, o ato está decidido. Até rápido demais pra mim:
ruí6aç rcravoúoy 14o6' d.gopptao1u X1ovoç, no que mato os meninos, saio fora dessa terra.
rcai yi1 oyú"fiv üyouoav êrc\oÕyaL rércyq.
Sem fazer nada, não entregarei as crias,
üLÀy1 g ov eu oa t 6u opev eo-r é p q Xe p í.
para serem executadas por mão mais hostil.
124O nuwaç og' &,vayrcq rcur9q.yeív: érei 6à Xpq,
De todo jeito hão de morrer, carece! Então,
124O
4 peiç rcrevoú pevoírep ê(egr)oupev. nós mataremos, nós que os geramos. Mas, eia, coração! Em
à)"),' eí' ôrli(ou, rcap\ía: ri pé)")"opev
guarda! Por que demoramos
rà 6ewd, rc&vayrcaía pi1 rpaooeru rcurca; pra desgraceira urgente e terrível não cumprir?
dy', tu talawa Xeip éy4, hapà (ícpoç,
Vai, minha mão danada, pega a espada,
1245 lap', épre npàç pa),pi6a ).ur4püv piou, 1245 pega, segue até a meta doída da vida,
rcui y4 rcarcrc1fiÇ p4ô' &vu1tv1olffç úrcvav,
náo faz mal, não te lembres das crias,
cbç gíLru9', óç ér1rcrcç, d)")d, r(v6e ye nem quão amados, nem que geraste... Esquece,
)"ofiou ppaXeíav r1pépav raí6av oé1ev só por um curto dia, os teus meninos.
rcürercot 9prlvet: rcai yd.p ei rcreveíç ocp', iipaç Chora depois! Mesmo que os mate, ainda
125O giÀoL y' éguouv: \uoruXrlc 6' éyà yuv4.
725O são amores nascidos - que mulher azarada soul

Xopóç
CORO
ià lq, re rcai napqarlc
tô Terra - e tambem raio
rcari\er' íôere ràv
&r<riç A)"íou,
fulgente de Sol - mirai e vede a
ó)"opévuv yuvairca, npiv go:íav
mulher perdida, antes que pras crias
rércvoq rpoopu)"eiv yép' aúrorcróvoy:
a criminosa mão suicida lancel
ouç yàp ypuoéuç &,nà yovaç
1255 Da tua dourada laia ela brotou,
86 r37

ép)"aorev, 1eou 6' aíya <Xapai> nkyeLy e do deus, o sangue <Por terra>
rpopoç r)n' àvépav. derramou, pavor de mortais.
&,))"q vry õ
\rcyevéç, rcaretp-
cpaoç Mas a ela, oh divina luz! ImPedel
ye rca'ranuuoov, é.{e),' oírcov ru.),q,r Retém! Expulsa da casa a odiosa
vav govíav t"Epwüv únalaoroputv. e sanguinária Erínia da vingança.
parav póX1oç éppeL rércvav, Em vão a labuta com os filhos se Perde
parav d,pu yévoç gi),tov érerceç, ãt Em vão - ara! - araçaamada que pariste!
rcu qv eúy )" moú oa Zu pnlqy a6 a» Ôal Ela deixou as rochas sombrias,
r er p d,v à.(ev utr ar av éo p ú" av. a pétrea, inóspita Passagem.. .

1265 6etÀuía, rí oot gpevopupilç Miserável... Por que pra ti no ventre grave,
Xó)"oç trpooníryet rcai (apevflc <góvou> a ira despencou e vomitas <sangue>
góvoç &,peíperat; e devolves sangue? Difícil a sujidade nos mortais,

Xú"enà yàp pporoíç ó1,Loyev4 pLa- esse sangue aparentado..' Vem com elejunto
opqr', ineru 6' tlU' ar)rorpovratç (uvq- o genocida... agonias concordes que
127O 6d,0eó0ev nírvoyr' fui 6opotç dyr1. 127O dos deuses tombam sobre as casas.

IIaíç FILHO
itb por Ih! O moi, moi mãe... eu?!

Xopoç CORO

urcoúeq poàv d,rcouetç rércvay; Ouves um grito? Ouves? Dos meninosl?


ià il.upott,
ãt rcarconXàç yúvar. Ih! Ô mulher de má sorte, ô infeliz!

IIaíç a FILHO 1

oi'ytot, tí 6puoa; roí gúyto 1t4rpóç


Xépaç; Ô quê, pra mim? Que faço? Como escapo das mãos da mãe?

IIaLç p FILHO 2
oúrc oí6', rÍ\e),Ee gíÀrar': ô),),úpeo1u yap. Meu querido irmão... não sei! Estamos mortos, certo?

Xopóç CORO

nupel9o 6ópouç; upfi(uL rpóvov õorcei pot.rércvoq Entro em casa? Parece preciso salvar as crianças"'
De morte...
138 r39

[IaÍç u FILHO 1
1276 vuí, rpôç 1eãv, &,pq{m': êtt 6éovu yap.
1276 Sim, pelos deuses, salvai! É preciso mesmo!
IIaíç p FILHO 2
tbç éyyüç 46rt y' éopêv &,prcúav (íEouç.
Iá estamos Perto do fio da faca" '

Xopoç CORO
rq)"q,w', titç üp' r1o0a ruérpoç fi oí6apoç, ürq rércvov Infelizl Como?! Arre! Foste pedra ou ferro? Ou quem ceifa
ôv érerceç üporov uúúXetpr 1toípq rcreveíç.
com a própria máo os frutos que Por sorte gerou?
1281
tzBt
yíav ôq rcLúa píav rãv rapoç Uma só, uma mulher só, ouvi que outrora,
yuvaírc' év gil,otç yépa pa),eív rércvoq,
lançou mão contra os frutos queridos:
'Ivà paveíoav êrc 1eãtv, ii?' q Aàç
foi ino, a que os deuses, demente fizeram, quando
1285 6apap vru é(éneprye \apmav ü)"atç:
tzSS a mulher de Zeus, a ela enxotou de casa em vagâncias:
rkvet 6' d, ra),q,w' éç &,).puv góvq rércvav ôuooepei, e ela, pelo ímpio crime dos frutos, cai na salsugem'
infeliz'
dmqç úrcpreívaooc royríuç róôa, Das falésias, das alturas de mar, esticou o pé,
6uoíy re ruí6ow ouy1ayoÕo' &nóllurq,r.
morta, com dois filhos, perece. Que então de mais terrível'
rí 64r' oú yévorc' à,v éu 6ewóv; õ yuvarcãsv ).éyoç pode haver ainda? Ô muito pelejada cama de mulheres'
1291 no)"úroyoy, iioa pporoíç épe(uç í!64 rcarca. que males já paristes pros mortais!
1291

'Iuoov
ll.sÃo
yuvuírceç, ai rfio6' é.yyüç éorare oréy4c, Mulheres Próximas de nosso teto,
ap' év \óporcw 11à 6eív' eipyuopévr1 será que eú, a agente de horrores, Medeia, ainda
1295 M(6eru rorciô' q pe9éor7rcev guyy; está em casa ou já se Pôs em fuga?
6eí yap vw (rot l4C ye rcpuE1rlvat rcarut
Ela que se esconda debaixo da terra
ii nrqvôv &par oÕpt' êç ai1epoç pa1oç, ou suba o corPo alado ao denso céu
ei p4 rupavvav \tbyaow ôtboer 6írc4v.
senão... ah! Pagará pena ao palácio real!
n éno fi ' &,norcr eíy ocou rco t p av ou ç X0 o v õ ç Assassina de reis, ela acredita que
&,9Qoç aúrfi rd:v6e ger)(eo)uL 6opuv; fugirá impune desta casa?
il"),' oú yüp uúr4c Epovrí6' rbç rércvu;v éya: Eu me importo com os meninos, com ela não'
rceív4v yàv oüç é\paoev ép(ouo: rcant(oç, Aqueles a quem aquela fezmal, mal farão a ela'
épÕv 6à nqi\av fil1ov ércoritoav píov, mas eu vim salvar a vida dos meus filhos
tt4 Uoí u 6puoao' oi trpoo1rcovreÇ yévet, para que os parentes próximos não me façam
p1r p Q ov ê.rctr p aooovr eç d.v ó o Lov rp óv ov. sofrer como vingança do crime canalha da mãe'
1305
Xopoç CORO
ãt r),r1pov, oúrc oío0' oí rcq,rcÕy é),r1),u0uç, Ô infeliz, não sabes aonde chegaste na desgraça,
'Iã.oov: oú yd,p rouo6' d,v ég1éy{a ).oyouç. fasão! Pois não terias dito essas palavras...

'Icroav
1asÃo
rí 6' i.or:; oü rou rcüp' &rorcreivat lé)"et; Que foi? Acaso queres me matar também?

Xopóç CORO
tai6eç rc1ydoL ptpi pqrpQq oé1ev. Teus meninos... mortos pela máo da mãe.

'Iaoav
JASÃO
t31o oí1toL, rí )"e(eLç; óç U' d,nrb),eouç, yúvut. Ôi mmm... ôi, que dizes? Como acabaste comigo, mulher!

Xopoç CORO
ritç oúrcér' óvray oÕy rércvay gpóvu(e 6q. Pensa nos teus filhos como gente que já se foi!

'Iuoav
JASÃO
nou yap vLv ércreru'; évrõç ij '(a1ev 6ópav; Onde então ela os matou? Dentro ou fora de casa?

Xopoç CORO
rú)"aç avoi{uç oõtv.rércvav óryy1 góvov. Portas abertas! Verás o sangue dos teus filhos!

'Iuoav
JASÃO
Xu)"ãre rc1116aç óç raXrcru, rpóoto),o4 Tirai as trancas! Porteiros, rápido,
1jls í6a ôrr).ouv rcarcóy,
érc),ue9' ú.p1toúç, r)tç 1315 soltai os trincos! Como? Vejo o duplo mal!
roüç pàv )uvóvraç, rlv 6à <\paoaoav raôe, Os mortos e ela que fez tudo. Ela que
góvou re nq,í6oy rÕy6e> reíoapar 6írc4v. pelo crime destes meninos eu farei pagart.

Mr16eru MEDEIA
ri ru.oôe rcweíç rc&,vupoX.Àeúetç rú),q,c, Pra que forçar a trava e arrombar a porta?
vercpoüç é.peuvã;v rcàpà qv eipyuoy.tévr1v; Tu procuras os mortos e a mim, a que tudo fez?
tq,úou nóyou roÕ6'. ei 6' êpou ypeíav éXeLç, Para com isso! Se precisas de mim, fala, se queres,
1320 ),éy' eí u poúÀy1, Xetpi ô' oú yuuoetç roré: 132O qualquer coisa, mas não tocarás coã mão, jamais!

I
143

roóv6' óX1po rarpôç"H),roç rur4p Esse carro o Sol, pai do meu Pai,
6í6onw qpríu épupa nokpíaç Xepoç. nos deu: proteção contra a mão inimiga.

'Iaoan JASÃO

ãtpíooç, ti péyrcrov éX0íor4 yúvur Danação! Ô inimiga maior dos deuses, de mim,
9eoíç re rcàpoi navrí r' &,v1ptbtrav yfuet, de toda a raça humana! Ô mulher!
1325 iirq rércvorct ooío: éppu),eív (igoç 1325 A que pariu e conseguiu enfiar a espada
hlqç -rercoúou rcüy' iÍraô' &ntb)"eouç. nos próprios filhos e me deixou sem prole.
rcai rq,úra 6paoao' ífi,úv rc rpoop)"éneq A que depois de fazer tudo...
rcai yaíav, í,pyov rlãoa ôuooeBéorarov; Ainda contemplas o Sol e a terra?!
il"or'. éyà 6à vuv gpovrit, úr' oú gpovdtv, Depois de praticar o cruel trabalho! Que se foda!
ór' é.rc 6ópav oe pappupou r' &,nõ X)ovàç Só agora percebo, não Percebi antes,
"il)"4v' êç oírcov qyópqv,rcarcõv peyu, quando do palácio, do chão bárbaro
nq.rpoç re rcai y1c npo\órw ii o' é9péryaro. te trouxe pra casa grega. Grande desgraça.
rày oày 6' &),aorop' eiç ép' éorc7yav 1eoí: Traidora do pai e da terra que te nutriu!
rcrayoÕou yixp 6i oàv rcq,ow rapéorrcv Tua danação os deuses jogaram em mim:
tà rcaÀÀírpqpov eioép1ç Apyottç orcagoç. mataste teu irmão, em seu próprio lar
(pfto pàv érc muity6e: vupgeu1eíoa 6à e embarcaste na nau Argos de bela proa'
nap' dv6pi rQôe rcui rcrcouou rércva, Começaste assim, dePois, casaste e
1,toL
eúvqç ércarL rcai léXouç oE' d,ntb),eouç. por este homem aqui, pra mim, geraste filhos,
oúrc éony iirq roÕr' dv'il,),qüç yuvq e por uma cama, um leito, os destruíste.
1340 ér)"4 ro0', íov ye npoo1ev 4{íouv éyr) 1340 Não há mulher grega, nenhuma,
y4yat oé, rcr16oç êX1pàv ô),é1púv r' ê,ytoi, que faria isso, as que eu deixei para trás ao me casar
),éawav, oit yuvaírcu, r4ç Tupoqvi6oç contigo - aliança inimiga e fatal pra mim.
Zrcúll1 c é.Xou oav dy p tu;r é p av Eu o w. Leoa! Não mulher, tens a natureza
&.),),' or) yd,p i*v oe pupíotç ôyeí\eow mais selvagem do que Cila, a etrusca.
\urcoryu rcúv6' épregurcé oot 1paooç: Mas nem com dez mil insultos sentirias minha
é.pp', aioXponoÉ rcq,i rércyov pLatcpóve. mordida! Essa arrogância está em ti, enraizada! Some, sem-
éyoi 6à úv éptàv 6aípov' aia(ew nupa, -vergonha, suja de sangue... dos meus filhos!
ôç oüre )"ércrpa» veoyayov ôv7ooyat Eu só posso gemer - aiai - um deus qualquer. . ' eu, que nem
oit raí6aç oüç écpuoa rcà.(e?peryay4v gozareido leiio de recém-casado nem posso dar "adeus" aos
1i50 i.{a npooemeív (õvraç &,)")"' &,nril,eoq,. filhos que gerei e criei ainda em vida. Perdi'

M46eru M§DEIA
yarcpdv üv ê{érewu roío6' éyqyríoy Muito me estenderia para contrariar
),óyonLv, ei pl Zeüç radlp ipíorarc essas palavras, se Zeus Pai não soubesse
oí' é( épou nénov1uç oía r' eipyuoa: o que recebeste de mim e o que para mim fizeste.
oü 6' or)rc épe)),eç úp' ú,uyaoaç ),éy4 Tu não irás ultrajar a minha cama,
repnvôv \ru(eru píorov àyye)"útv éytoi nem levar uma boa vida rindo de mim! Nem princesa,
oú6' 4 rúpuvvoç, oú6' õ ooL npoo1eiç yul.rouç nem aquele que te arranjou bodas, Creonte,
Kpéav úvq'rei qo6é p' êrcpa),eív X1ovóç. impune, não me expulsa desse chão!
rpàç raúru rcqi léawqv, ei poúLy1, rcu)"eL Por isso, se queres, me chama de leoa,
rcoà Zrd)")"av rl Tuporlvàv qrc7oev rérpuv: de Cila, a tirrênia que mora nas pedras.
136o rqç ofic yü,p dtç Xp4v rcap\íaç dv17yayqv. 460 Foi preciso: contra-ataquei teu coração!

'Iaoav
JASÃO
rcuúr1 ye ).unfi rcai rcq.rcÕy rcoruavóç eí. Também tu sofres, és companheira nas desgraças.

Mr1ôem MEDEIA
oag' ío9u )"úet 6' üÀryoç,41v oü p4'yye^qç. É claro! Mas a dor me salva, se tu não zombas de miml

'Iq.ootv
JasÃo
rl rércvu, pryrpôç r);ç rcarcqC ê.rcupoare. Ô, filhos, que mãe horrível recebestes!

Mrl6eta MEDEIA
,ã naí6eç, dsç d.eo1e narpQq vootp. Ó, meninos, acabastes coh doença do pai!

'Iaoav
IesÃo
465 oüroL vw qpl 6e{ru y' drrbleoev. 865 Não, não foi nossa mão que os destruiu...

M46eru MEDEIA
d,),),' üppq oí rc ooi veo\pffreç yuptot. Mas o ultraje das novas bodas consumadas!

'Iaoo»
JesÃo
)"eXouç oEe rcfi{íaoaç oüverca rcraveíy; E por uma cama achaste razoâvelmatá-los?

Mr16em MEDEIA
opLrcpõv yuvarci rfipa rcur' eíyaL 6orceíç; Achas que é dor pequena pra uma mulher?
146
r47

'Iuoov
JASÃO
íirq ye otbrppav: ooi 6à raw' ê.oriv rcarca. Sim, se controlada. Pra ti, tudo é mal.

M46eru MEDEIA
oi'6' oúrcér' eioí: rcúro yap oe 6q$rur. já não são mais: sentes a mordida, com certeza!
Esses

'Iaoa»
JASÃO
oi'6' eioív, o[ytot, ot{t rcapq yLaoropeç. Sáo, sim, ah, são! Na tua cabeça, vingadores do sanguel

Mr1ôeru MEDEIA
iloaoLv (ior$ fip(e n4pov4ç 1eoí. Sabe deus quem começou a briga!

'Iqoov
IAsÃo
íouot 64ra o4v y' &,nórruoroy cppévu. Sabe mesmo! Da tua mente abominável.

MrT6eLa MEDEIA
orúyer: nrcpàv ôà pa(w êX1uípo oé1ev. Podes odiar! Detesto esse teu papo azedo.

'Iuotov
JasÃo
1i75 rcui p4v éyà o4v: pú6Lu ô' arul).ayaí. E eu o teu! Divórcio fácil.

M46eru MEDEIA
rCoç oõv; rí 6puoa; rcapra yàp rcàyà 0é)"a. Sim? Como? É o que mais quero! O que faço?

'Iaoov
JesÃo
9ayu vercpoúç ltot roúo6e rcq) rc)"aúoou rapeç. Deixa eu enterrar e chorar esses mortos.

Mr16eru MEDEIA
oú ô4r', ênei ogaç ry16' éyà 1arya yepí, Não, mesmo! Eu, com essa mão, os enterrarei
rpépouo' éç"Hpaç repevoç Arcpaíuç 1eou, e levarei ao santuário de Hera, deusa altiva,
tjSo ritç 1t4 rtç uúroüç ro)"eyíav rca?uBpíoy1 para que nenhum inimigo viole o túmulo
1380
úppouç &vq.orísv: yy1 6à q16e Zrcúgou e os insulte. Nessa terra de Sísifo
oepvi1v éopr4v rcai ré),r1 rpooayopev promoverei uma festa venerável e rituais
148

rà ).ourôv dvà rou6e ôuooepouç Eovou. - ora em diante - por esse blasfemo crime.
aúr4 ôà yaíav eípL d1v'EpeX1éoç, Quanto a mim, irei para a terra de Erecteu,
Aiyeí ouvorc7oouou rQ llav\íovoç. ]385 morar com Egeu, filho de Pandíon.
oü ô', róorep eircóç, rcar)uvff rcarcôç rcarcrlç, Quanto a ti, infame, na infâmia morrerás:
Apyouç rcapa oàv )"enyavq nen).qypévoç, com destroços do teu navio Argos na cara enfiados,
trmpàç rcleurd,ç rõv ê.1,tõtv yupurtv iôtbv. vendo a estaca flnal deste teu casamento comigo!

'Iaoav IesÃo
d,l)"u o"Epruüç ôléoerc rércyo» Que a ti destruam as Erínias dos filhos!
govia re Aírc1. Justiça, pelo sangue!

Mqôeru MEDEIA
ríç 6à d"úu ooú 0eõç ii 6aiyav, Qual deus, qual divindade te escutará?
rou yeu\óprcou rcai (ewaruarou; O perjuro, o que engana os hóspedes?

'Iuoov
IesÃo
geu En, ptuoupà, rcui naôolérop. Phu! Suja! Matadora de criançasl

Mrl6eLa MEDEIA
oreíXe npôç oilrcouç rcai 9anr' ii),oXov. Corre pra casa e enterra tua mulher!

'Iaoav
IesÃo
1395 oretxu, 6rcoõy y' dl,topoç rércyoy. 1395 Corro! Infeliz pelos dois filhos!

M46eru MEDEIA
oüna 0p4veíç: péve rcai y4paç. Não te lamentes mais: espera ainda a velhice. ..

'Iaoav
JASÃO
õ rércya gílrata. Oh, filhos tão queridos...

Mfi6eru MEDEIA
yqrpí ye, ooi 6' oü. Pra a mãe! Não pra ti.
'Iaoo» IASAO

rcdnur'ércotveç; Por isso mataste!?

M46eru MEDEIA

oé ye nrlpaívouo'. Pra te humilhar...

'Iaoav lAsÃo
Ôh, mmm... ô! queria eu, o mísero, beijar a boca amada dos
toyor, gtliou Xpnfu oróyarcç
14oo noú6av ô ra),aç npootrú(ao9at. 14oo meninos.

Mq6eru MEDEIA

vúv oge npoouu\qç, vuv àona(y1, Agora chamas por eles,


rór' d,raoupevoç. felicita os outrora rechaçados.

'Iaoav JASÃO

6óç yot rupàç )eõv Dá-me, pelos deuses,


pa)"arcoú ypaàç yaúou rércvav. tocar a pele macia dos filhos!

M46eru MEDEIA

oúrc éou: par4v énoç éppmrut. Náo dá. Palavras jogadas em vão.

'Iuoav JASÃO

14os ZeÕ, roô' &rcoúetç tbç ànetrauvóye9' 1405 Zeusl Ouves isso? Ouves como somos
oía re nuoXopev àx rqc ltuoapdç rechaçados! Quanto sofremos desta imunda,
rcai naôoEóvou rr1o6e )"eaív4Ç; infanticida, desta leoa?
&,)")"' ônóoov youv napa rcai \úvapat Mas, ao menos, quanto me resta e Posso
rq6e rcqi 1pqvít rc&nfiea(a, isso hei de chorar e clamar aos deuses,
1410 Uoqrupo4evoç \uíyovaç oç y.tot 1410 os divinos atestam:
r ércv a rcr e iv oto' &,norcolú mataste os meninos e me Proíbes de
K e

ryuuouí rc yepoív 9uryat rc vercpoúç, tocá-los e enterrar os corpos com minhas mãos.
oüç yrpor' i.yà Eúoaç ógelov A eles, pudera eu não ter gerado
npôç oou Eüpévouç ênL6éo0qr. pra depois vê-los por ti abatidos...
r53

Xopoç CORO
1415 rollrTv rapiaç Zeüç ê.v Olúy.nrtp, t41s De muito éZeus curador,
nd")"à 6' &,il,rraç rcpaívouor 1eoí: muita coisa, pelo avesso, reviram os deuses" '
rcai rà,6orc40éyr' oúrc *e),éo04, o que se esPerava não se cumPriu,
rÕv 6' &6orc4rav ropov 4t,pe 0eóç. mas um deus achou uma saída do inesperado'
ruóv6' ànép7 ú6e npayya. Tal foi, tal é: assim frndou esse ato.
Ou

Zeus no Olimpo muito distribui


e muito os deuses realizam além da expectativa.
O esperado não se cumPriu
e do inesperado deus achou uma saída.
Assim termina esse ato.
Ou

De muitas coisas Zeus, no Olimpo, é soberano


e muitas vezes os deuses nos assombram com suas façanhas:
não se cumpre o que é desejado
e do inesperado o deus faz o caminho.
Assim termina a história.
RADIONOVELA BASEADA NA
ÁRcoN Áurtcl, DE APorÔNro PB
RODES E NA MED EIA DE UNÍPIDES

AMOR, ABISMADO AMOR,

Este texto pode ser gravado Para ser transmitido em rádio ou


encenado ao vivo, em performance. No caso de encenação, o posi-
cionamento dos atores/cantores pode ser: três atrizes/cantoras do
lado direito. Microfone de pedestal; três atores/cantores do lado es-
querdo. Microfone de pedestal; locutor e locutora (cori-feio & cori-
-feia, representando o sátiro Sileno e a Ninfa Maia) posicionados
atrás de uma pequena mesa com microfone no centro do palco'
Sugerimos que o figurino e os adereços remetam para a indu-
mentária grega antiga: túnicas, sapatilhas, perucas ou cabelos pen-
teados. A comédia Lisístrata, de Aristófanes, pode oferecer material
rico para isso. Alguns objetos de cena podem ajudar na comicidade:

1. Estetexto é a segunda versáo do texto paródico para Medeia intitulado O Lado Obscuro
do Amor. A nova versão foi reústa e ampliada para publicação com o título o oascLrRo E
ÁBrsMÁDo lUor. O texto foi escrito por Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andreia Gara-
vello e Tereza virgínia Ribeiro Barbosa. Agradecemos a todos em especial a Maria Cecília e
Manuela com seus palpites pitorescos.
155
ancoxluIICA DE eporôNro"' 157
156 MEDEIA RADIoNovELA BASEADA Ne

Broadcasting Corpora-
um punhal, um pente para Iasão, placas para ações da plateia (aplau- coRr-FEIo: (Tom ágil e travesso') E a Tebas
emocionante
dir, rir, chorar, resmungar etc.), panelas diversas. tion, 435 AC MHz, apresenta agora a mais
o aroma
temporada de histórias de Calliandra brevipis'
do amor!
que desperta em você as forças impetuosas
CapÍruro r alegria de despertar estes
coRI-FEIA: Sim, queridos ouvintes' na

ABERTURA: Trinta primeiros segundos de A Cavalgada das Valquí-


alegres sentimentos, estamos na vossa
companhia e des-
Que-
t
frutaremos de minutos apaixonados e frementes'
rias, de Richard Wagner ou A N oite no Monte Calyo, de agra-
em nome do patrocinador deste programa'
remos,
Modest Petroüch Mussorgs§ou ainda aquela que a trupe
decer sua atenção - que será pura emoçáo'
encenadora j ulgar melhor.
E' a nossa transmis-
coRI-FEro: (Locutor agora mais entusiasmado')
coRI-FEro: (O locutor e a locutora assumem ocultamente o partido MHZ antes de Cristo
são se dá pela Rádio Tebas' 453 ^c
de Jasão e Medeia, respectivamente. Como sátiro, o locu- Ele trocará
(dúvida quanto à velocidade da transmissao'
tor é lascivo, a locutora, como, em geral, toda ninfa grega,
os números de medida durante toda
radionovela) inica
é sensual.) Rádio Tebas 877 Mhz AC, em seu momento Este programa
emissora que agrada a gregos e troianos'
de especial abismada paixão abismal. São vinte horas e
tem o aPoio cultural de:
z5 minutos de areia na nossa ampulheta. Tempo bom,
com ph! ! ! (convém
temperatura em elevação. Ao fim da tarde, instabilidade coRos: (cantando) Frigoríficos Aristóphanes
"com ph" seja
que a expressao
por outra pessoa ou
falada
atmosferica levando a possíveis tempestades tropicais.
grupo ou em tom/ritmo difurente' como um adendo' às
fingle da rádio.
vezes até um pouco inconveniente'
de uma informaçao
coRI-FEIA: (A locutora deve marcar certa cumplicidade erótica com
que na verdade não acrescenta nada)'
o locutor; deverõo ambos colocar-se como estereótipos,
não pense
mulher carregada de emoção; homem, pragmático.) (de- coRI-FEIA: A propósito, para você que curte coz\nhat'
os Frigoríficos Aristóphanes com
ph são
sesperada) Tropicais; Tempestades tropicais você disse; pequeno, .a
encontra a mals
Na Grécia; O mundo está mesmo virado de cabeça para única rede de frigoríficos em que você
Nada de carne
baixo. É ou não é queridos ouvintes; (Mostrar placa de fresquinha carne de râs (som de brejo)'
genuína carne de
comando parq a plateia: Éea) eoa noite, senhoras e se- de sapo, gia ou batráquio' mas a mais
ph há quinhentos
nhores, sátiros e ninfas, bacantes, toda a nobrezaterres- rãs. Os Fiigoríficos Aristóphanes com
anos só,.J"b"- carne de qualidade'
Frigoríficos Aristó-
tre, e, claro, os Deuses Olímpicos! Esse público mara-
os diasl
vilhoso, todos que nos assistem ao vivo, aqui direto do phanes com ph na mesa nossa de todos
nosso auditório. (Mostrar placa de aplauso.) Mais uma ainda está tentando se
coRI-FEIo: E, falando em cozinhar' Tebas
ano passa-
vez temos a honra de lhes oferecer os instantes mais esquecer do horripilante caso que ocorreu
envolvendo a
pungentes da minha, da sua, da nossa Rádio Tebas! do - todos devem se recordar -' um caso
t
ancorylurrcÀ DE eporôNto"' t59
I
158
RADToNovELA BASEADA Ne

princesa Medeia, que se meteu a Cozinheira louca e fez coRI-FEIA: (Manifestando enfado com o parceiro.) E por que ela
deliciosa e encantada sopa - ao menos, todos concor- fez o que fez? Olha que de tudo que é vivo e tem von-
daram, ao provar a iguaria. Aos ingredientes básicos so- tade, nos da taça feminina somos as mais lamentáveis
paríferos ela acrescentou uma criação engenhosa, carne criaturas2.
frita de reil (muda o tom e mostra a placa ARGH!).
coRr-FEIo: Deixa de poesia subversiva, acabam com nosso patrocí-
CORI-FEIA: Pasmem os senhores, o banquete foi mesmo a carne de nio, disso, vai, estamos no ar.. ' Sim, queridos ouvintes, t
Pélias frito. Uma calamidade ainda por ser apurada! As hoje nós nos preparamos para uma jornada através de
denúncias foram muitas, os amigos devem se lembrar uma história de amor intenso, paixão e crime: a tragédia
que a população convidada para o repasto encontrou no da pobre rica princesa Medeia e do princês ]asão! Uma
meio da sopa - entre os bagos e os ovos - dentes, dedi- história que vai tocar até o mais duro coração esparta-
nhos, e... deixa pra lá, não vamos rememorar as coisas nol Vocês verão - melhor dizendo, ouvirão.'. - como
passadas. Lastimável, porém, é que, como sempre, as os deuses olímpicos, apenas por capricho, fazem o que
autoridades de Iolco abafaram o caso e, indulgentes e querem com os mortais. E tudo com o latrocínio, náo,
incompetentes e inconsequentes e negligentes, temendo não, com o Patrocínio de:
os poderes malignos da Mad cooker, deixaram a mulher
coRos: (cantando) Frigoríficos Aristóphanes com ph!l!
solta, negaram sua extradição e dizem mais - dizem
-
que o princês |asão mexeu o pauzinho para evitar a cap- coRr-FEIo: (Ao falar dos patrocinadores, ele sempre capricha') E
tura da indiúdual alô, alô, cori-feial Não se esqueça também de anunciar
que o Frigorífico Aristóphanes com ph recomenda que
CORI-FEIO: O tema é polêmico, minha querida ninfeta Cori, não há
o churrasquinho de rãs seja regado com o mais suave
provas concretas. Sabe-se somente que Medeia, no fes-
e agradável néctar dos sátiros, aperitivo para todas as
tival culinário de Corinto, ganhou o prêmio A Concha
horas, maravilha com o churrasquinho de râ, a cachaça
de Ouro do Concurso Anual de Sopa de Carne Nobre.
Bode Velho, a bebida, em tempos pós-modernos, prefe-
É, a moça sofisticou. |á foi logo usando carne de rei...
rida de Dioniso e de seus camaradasl
esperta!
coRos: Co'a Aguardente Bode Velho
CORI.FEIA: Fascinante! Ninguém pode com a raça mulheril!
Toda moça fica bela.
CORI-FEIO: A Rádio Tebas denuncia e cobra soluções. Mas o que Co'a Aguardente Bode Velho
se passa numa mente criminosa tão vil e traiçoeira, tão Todo homem é martelo.
monstruosa (a fala precisa soar ambígua, pois remete Co'a Aguardente Bode Velho
para Medeia e para a cori-feia)t Que mistérios, fobias, Você pode contar,
medos, psicoses...

z. Ew ípides, M e dei a, w. 23 I -232.

I
I
MEDEIA RADToNovELA BAsEÀDA Ne ancoNlurrcA Dr-,tporôNto... 16r

Aguardente Bode Velho CORI-FEIO: Eu vos peço perdão, ó Erato, senhora dos versos eró-
Sua amiga na hora H. ticos! E para vós, todas as Musas divinas que tendes o
coRI-FEIA: E atenção, caros ouvintes, a Rádio Tebas orgulhosamen-
Olimpo como morada, peço-vos: insuflai poesia, der-
te apresenta: ramai belas palavras em nossas cabeças, ó altaneiras, ó
excelsas...
coRos: (Música tema de E o Vento Levou.) Amor, abismado
MUSA: (Muito irritada.) Chegal Você é surdo? Pare já com esse
amor! (Coro em posiçao de súplica).
lenga-lenga! Morada no Olimpo, pois sim! Estamos em
coRI-FEIo: Este, caríssimos, é o instante de pedirmos aos deuses
greve, não vamos mais inspirar ninguém. E você aí em-
inspiração. E, ao patrocinador, um gole de Bode Velho!
baixo, Cori-feio Sileno, anuncie (em tom de desprezo
E esta é pro santo! Você, ouvinte, aina sua casa, coloque
zombeteiro) em sua radiozinha: agora nem temos onde
uma garrafa de Bode Velho na mesa, um gole no copo, morar! Um absurdo! Não temos nem mais onde mo-
erga a mão direita e clame comigo: Ó, Musas do Sagrado
rar, com a crise na Grécia levaram nosso monte para a
Monte, fazei de nossa voz a vossa própria voz. O ninfas Alemanha, nosso templo foi para a Inglaterra, enfim, es-
da terra e sátiros da floresta, incendiai e arrebatai aos
tamos sem pátria. Restava-nos uma ruazinha simpática
que vos invocam com vosso furor dionisíaco. Ó Musa
numa cidade esplêndida, com um céu luminoso!
Calíope de bela voz, canta o destino trágico de um amor
construído com tijolos de ódio, ó Melpomene canta a CORI-FEIO: Ah, sim, Madri!
argamassa rancorosa que levou à ruína todo um reino, MUSA: Não, meu caro senhor, o nome da cidade é Belo Hori-
e o cimento ciumento que selou para sempre a voz de zonte. Veja que lindo nome, Apolo que o diga... Pois
tantas infelizes. Canta, ó, Euterpe, Musa... que conste de sua pauta de notícias: a prefeitura permi-

Som de harpa. Voz em eco interrompendo afala.


tiu a venda da Rua das Musas, a nossa rua! E tudo por
causa da construção de um hotelzinho barato. Noticie,
rvlsl.: (Firme, melodiosa e professoral.) Chega de vocativo! Pas- por favor, a gramatica grega ordena: em Rua das Mu-
I
tores agrestes, üs infâmias e ventres só! Nós sabemos sas existe uma regência de genitivo bem marcada e Rua
i
como dizer muitas mentiras semelhantes ao fatos, maaa- DAS Musas. (Mostrar placa: chorar.) Agora estamos sem
as... (muda o tom, torna-se mais pragmática) Íemos mais monte, sem rua, sem lenço e sem documento. Ó, a mo-
o que fazer. Vocês mortais, ora sempre pedindo, ora im-
dernidade fragmentou nossa divina morada, arrancou
plorando sempre, é uma lamúria sem fim. ó, Musa, can- nosso cetro. É que "o ouro vale mais que mil palavras" e
ta... Canta, ó, Musa... Musa canta ó... O, canta Musa... foi-se nossa rua... A pós-modernidade dirá: Musas sem
Canta, Musa Ó... Não importa o lugar das palavras na terra, sem teto, sem rua, sem aural Portanto, não nos
frase, a ordem dos sedutores não altera o oviduto, assiur
peça nada. Acabamos de fundar o Movimento das Mu-
é o grego, mas o sentido é o mesmo: "Chega mais, dona
sas Sem Terra: lrust! E estamos em grevel
Musa, manda uma inspiração aí, valeu?"

I
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MEDEIA RADToNovELA BASEADA Ne ancoNlurrcA DE eporÔNro.'. 163
I
I

coRr-FErA: Eu concordo, Musa querida. Acho até que nossos patro- MUSA: Não, ninfa Maia, como o MacGyver. Vocês não têm aí
cinadores haverão de apoiar o set mmtê. E se quiserem um fio de microfone, uma fita isolante e um chiclete?
passar um tempinho aqui na Rádio enquanto a turma Então contem história! Das mentiras criem a ficçáo, da
a
organiza um piquete... ficção o sonho e a paixão! Vocês sáo muito humanos...
h
uuse: Não é necessário, cara ninfa! Um amigo nosso, profes- Milhares de anos se passaram e eles continuam os mes-
mos... Bebe um gole de Bode Velho, Cori, e vai, come-
sor de grego, até nos cedeu um quartinho com vista para
história... Ah, outra coisa, Ulisses seguiu o
l
o shopping... É o bom lacynthinho... Antes honrado e ça logo essa

respeitoso para conosco, habitava em nossa rua; hoje, exemplo de Zeus, viu?

é clandestino na própria casa - e nós com ele. Mas lá coRos: Tomou cachaça hoje? Cachaça Bode Velho. Toda moça
no quartinho tudo está arrumadinho, sabe? A roupa de fica bela, todo homem é maftelo.
cama é cretense, o ventilador é da marca Hércules, as
coRI-FEIo: Ô produção, não mandei rolar o comercial! Estou pa-
flores da jarra ele escolheu especialmente para nós...
rindo agora a poesia! O que por primeiro cantar? Por
Lindos narcisos amarelos. Coitado do Jaz, embora por
segundo o que trautear?
nós ele corra grande risco, até criou o blog das Musasl
coRr-FErA: Ô, Sileno Cori-feio querido, o pessoal tá certo, é hora
coRI-FEIo: Entendo o problema; porém, estamos no ar, madames.
dos patrocinadores, Cori...
Em meio a tanta desilusão e tristeza, o público precisa
dos nossos versos e o presente tem sua própria alegria, é cono: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal-
mesa cheia pros viventes!3 O, Polímnia, cante conosco, dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar:
senhora dos muitos hinos, ó Musa Erato, minha preferi- sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser fe-
da, venha... liz. "Não há ó gente, ó não um mar como o de Poseidãol
Navegar é preciso, viver, não é preciso!" Yacht, Yacht,
MUSA: Por Zeus, cale-sel Que coisa mais chata: ó Musa, can-
Yacht!
ta... canta ó Musa... Musa, Musa. Ou você para ou
vamos calar sua yoz para sempre. Seja engenhoso, coRI-FEIo: Estou pronto, tenho já a história elaborada. Sim, caros
multiversátil. ouvintes, agora me lembro! Estavam os Argonautas em
missão para os lados da velha Rússia, terra de bárbaros,
coRr-FErA: (feminista) Como Ulisses, Musa, aquele que deixou a mu-
1á nos mares da Geórgia...
lher esperando por ünte anos, se aconchegou com Calip-
so numa ilha paradisíaca, dormiu com Circe no Spa Eeia, Trecho de Georgia on my Mind de Ray Charles.
passou um tempo com as Sereias, flertou com feácia Nau- lrusa: Oh, homem, eles não estavam na Rússia...
sicaa e voltou pra casa como se nada tivesse acontecido?!
coRr-FEIo: Oh, sim. Eu peço perdão, senhora. Na velha unss, tal-
vez...
3. ldem,w.20l-202. t
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RADtoNovELA BASEADA N-t ancoNlurICA DE eporôNro"' L65

MUSA: Não, estúpido. Raça se Sísifoa, sois ventres só, argh. Eles CepÍruro z
estavam na Cólquida.

CORI.FEIO: Pelo tirso das bacantes! É claro. Estavam naquela üagem ABERTuRA: Trinta primeiros segundos de A Cavalgada das Valquí-
que passava pelo Mediterrâneo e chegava até o Bósphoros rias, de Richard Wagner ot A Noite no Monte Cqlvo, de
lr
com ph, o canal da vaca amante de Zeus e seguia até o Modest Petroüch MussorgskY ou...
Ponto para, de mansinho, aportar na Cólquida.
coRI-FEIo: Você está ouvindo agora a Rádio Tebas, que para seu
CORI-FEIA: Ponto e vírgula... lar traz os momentos mais especiais da paixão abismal
de Medeia a princesa colca filha do rei Eetes' São vinte
MUSA: Exatamente, meu caro. Por Zets, pela vaca Io e pelo
horas e z5 minutos de areia na nossa ampulheta' Tempo
Bósforo, pelo menos ele acertou o lugar. Vamos, irmãs,
instável, temperatura em elevação. Chuvas e trovoadas
o profe |aça nos espera para o chá.
devido a possíveis tempestades tropicais.
CORI-FEIO: Mas, senhoras, esperem... Esperem... a história... Não
coRI-FEIA: Tempestades tropicais; A1ô, amáveis ouvintes! Boa noi-
me deixem só à beira do caminho!
te, senhoras e senhores, deuses, sátiros e ninfasl Mais
CORI-FEIA: Senhores ouvintes, desculpem-nos. Sem Musas, vamos uma vez temos a honra de lhes oferecer os instantes
pesquisar na Argonáutica do Apolônio pra escrever a mais pungentes da minha, da sua, da nossa Rádio Tebas!
história. E, enquanto as filhas da Memória tomam seu 435 M:HZAC. Assim continuamos com mais um capítulo
chazinho, que tal um cafezinho com Amor-em-pedaços, de (trilha deE o Vento Levou) Amor, Abismado Amor,
hein? aqui na nossa rádio rsc sob o patrocínio de Calliandra
CORO: É hora de tomar um cafezinho, quentinho, temperadi- brevipis, o aroma que desperta em você as forças impe-
nho... Café Sileno Seleto, fácil de preparar, instantâneo, tuosas do amor! Queremos, em nome do patrocinador
forte, quente e delicioso. deste programa, agradecer sua atenção - que será pura
emoção. Para você mulher cheirosa...
CORI-FEIO: Então, caros amigos, com este agradável cafezinho e, co-
mendo os amores por pedaços, desejamos-lhes boa noi- coRI-FEIo: ...e gostosa! E por falar em gostosuras, seja sábado, do-
te, bons sonhosl E embalados por nossas canções, con- mingo, segunda, terça, quarta quinta ou sexta, dê uma
tinuem sintonizados na Rádio Tebas, a melhor emissora passadinha pelos Frigoríficos Aristóphanes com ph,
de todos os séculos. Rádio Tebast 543 ruuz tc. onde você encontra a melhor carne para sua reifeiçãol

CORO: Rádio Tebaslll coRos: (c ant ando) Frigorífi cos Aristóphanes! !!

coRI-FEIo: Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne de rã servida


com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzeiro do Sull
Felicidade total!

4. Idem,w.405el38l

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I
RADToNovELA BASÉADA Ne ancorulurrcA DE eporôNro"' 767
II
MEDEIA
I

coRos: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escaldan- coRI-FEIo: E enquanto isso, enquanto ficavam naquela detapazia-
tes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna, da pagodeira debaixo da janela e no jardim"' Nas al-
piscina, shows e tudo que você precisa para ser feliz. turas do Monte Olimpo, Hera e Atena conspiravam a
favor do moçoilo protegido, o príncipe fasão'
coRr-Fnro: Não há ó gente, ó não um mar como o de Poseidãol Na- lr
vegar é preciso, viver, não é preciso! Mas. .. esta história HBne: Atena, querida fiIha de Zeus, meu marido, temo por |a-
de amor e sofrimento entre fasão e Medeia ficou inter- são. Bom rapaz aquele menino. Perdeu seu reino para t,
rompida exatamente quando o príncipe lasão e seus o Pélias, partiu de Iolco em aventuras e foi para a Cól-
companheiros Argonautas estavam de viagem para Cól- quida buscar recursos e resgatar o manto de puro ouro
quida, terra da neta do sol, a selvagem Medeia, violenta do pai morto. Carece, querida, encontrar um meio de
com carnes e cozidos - e vocês conhecem a fúria dessa ajudar o menino! Você, deusa estrategista, olhos de co-
mulher desprezada - feiticeira, alquimista, a senhora ruja, que sugere? Como podemos ajudar Jasão a dobrar
das especiarias, mestra em mil temperos, a bela e aterrí- o cruel Eetes? Como poderia ele devolver o manto rou-
vel princesa Medeia. bado? Ele, um pirata de mares, homem desagradável e
arrogante, semfinesse nem noblesse?
coRI-FErA: Bem, gente, quando os jovens aportaram, dirigiram-
-selogo paÍa a suntuosa residência do rei Eetes e nos ATENA: ZerolJmt Concordo comvocê, madrasta' Concordo em
magníflcos jardins escutaram, lá de dentro, voz encan- gênero e número e na primeira declinação de tema em
tadora... alfa puro. Além do mais, nosso amado príncipe Jasão é
macho forte, reprodutor sem igual, novilho de primeira!
MEDEIA: (Música de Rosana.) Como uma deusa... você me man-
tém, e as coisas que você me diz, me levam além... sBne: É. E você sempre tem boas ideias! Nunca me esqueço do
cavalo de Pau na guerra de Troia" '
coRI-FEIA: Pararam estupefatos, admirados! Que voz solar, que
quentura... ATENA: Isso é passado, madrasta. Vamos pensar e caminhar em
silêncio, em absoluto silêncio...
coRI-FEro: Sim, Maia, demasiado caliente. A ponto de romper a
barreira dos dentes do jovem |asão... HBne: Atena, querida fitha de Zeus, meu marido, ]asão já che-
gou aos jardins de Eetes...
IesÃo: Gente boa, confesso que essa voz é boa pra caramba,
embala legal... Acho que tô dentro e quando eu entrar e ATENA: Psit! Em silêncio, Hera, em silêncio"'
a voz me olhar... Atena Hera pisam em folhas secas, o silêncio é completo' Durante
e

coRo MASCUuNo: Jasão tá dentro, de certeza, ela vai notar: ele é o a caminhada, ao fundo deixa-se rolar o play de Estrada do Sol de
cara, bicho! Moreno alto, bonito e sensuall / Por certo Tom lobim.
a solução dos seus problemas/ Carinhoso, com nível ArENA: Eureka! Vamos para a ilha de Chipre, onde nasceu Afro-
social... dite de olhos esPertos e fala doce!

I'
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eporÔNto"'
I
RADToNovELA BASEADA Ne aacoNlurlcA DE 769

HERA: Atena, filha querida de Zeus, meu marido, adoraria dar Perseu... Chifres para Europa'.. A coxa pra Dioniso" '
uma escapadela e vingar as traições cruéis de seu pai, Evoé pra cá, Evoé ptalá'. Vida ativa tem seu pai e, can-
mas agora não é o momento apropriado... sado dessa trabalheira toda, ele chega sempre dizendo:
ATENA: Posso continuar com minha estratégia? Afinal, estraté- Hoje não, Hera, estou acabado... Desculpe, Hera, tenho
gia vem do grego: estrategía e significa a arte de coman- hoje uma terrível dor de cabeça'.. Entenda, amor, temos
dar, então, comando eu! E não terminei nada ainda. O hoje a final de Atenas contra Esparta... E se eu insisto" ' t
plano é o seguinte: feitiço contra feitiço, encanto paga Som de raios e troYão.
encanto, flecha de amoÍ traz angústia e dor! Direto.
unRe: Isso aí, ouviu? Raios e trovôes' Isso me incomoda tanto' "
Vamos ao Shopping De Milus, lá avançamos e invadi-
Uma só vez, o entendimento de Zeus-porta-égide embo-
mos - para além da Taprobana - chegamos à diretoria
tei... Afrodite me auxiliou e à volta dele esparzimos um
da fábrica, capturamos a Poderosa Afrodite - não tenho
doce e suave torpor. .. Que noite, Atena, que noite!
grande apreço por ela, mas, para este caso, é disso que
precisamos. E ela sabe de tudo que é jogo pesado, filtro coRI-FEA: A propósito, sevocê, ouvinte, tem esse tipo de problema
de amor, poções mágicas, chazinhos e cartas. heraclistoris em casa, se seu marido não é mais o deus
grego por quem seu coração disparou, se ele passa o do-
nnne: Pega leve, Atena, a gterra já acabou. Mas escuta, Afrodi-
mingo de pijama, o cabelo cheira a churrasco e o bafo é
te joga cartas? Então ela joga no trabalho , é? loga bridge,
de alho. .. Apimente sua cama indo ao...
será? Por que ela nunca me contou nada? Eu adoro car-
tas: bridge, paciência, trvco, poker, burro, buraco, copo coRos: (cantando) Dioniso Sex Shop.
d'água. O que uma esposa como Hera deveria fazer en-
coRI-FEIA: Dioniso Sex Shop onde você vai encontrar tudo que
quanto seu marido faz filhos por toda parte, em toda precisa: algemas, óleo de massagem comestível, lingerie
mulher, se bobear até em árvore? Haja paciência... Em
sexy, Yelas perfumadas, vibradores e, claro, phallus de
deusas, em mortais, em princesas, em pastoras, em yaca,
todos os tipos e tamanhos. Depois da Dioniso Sex Shop
em bezerra, nele mesmo... Vai gostar de fazer filho, viu!
seu casamento nunca mais será o mesmo' Ligue o8oo
Você deve saber disso bem, não é Atena, é filha da cabe- 69, meia mole, meia dura.
ça dele. ..
Som de telefone tocando.
ArENA: Não gosto que fale assim de meu pai, o grande Zeus. Ele
não é moleque, é caveira! Tenho orgulho de ser sua filha coRI-FEro: Só um minuto, Cori, meu bem. A1ô, rádio rsc, em que
posso ajudá-la?
e olha que nasci da cabeça dele e não da coxa, do pé, da
chuya... ouvINrE: blablablablabla......
nnna: Eu sei, eu sei. Uma parte pra cada criança. E para mim, coRI-FEIo: Oh, sim, madame. Eu entendo perfeitamente o seu pro-
o que sobra? A memória é pras musas... A chuva pra blema. Seu marido só olha para atrizes de televisão' E

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t
l,
EIA RADToNovELA BASEADA N,c. ancoNíurrcA DF. e.por,ôt.lro... 17r
I

nem mesmo beija mais a senhora??! Maníaca? Ninfo o mesmo que a senhora chegue cansadinha, exausta pro
quê? Oh, não dá conta, é? Uma vergonha, uma lástima. lado dele.
Um momento, princesa.
OUVINTE: blablablablabla......
CORI.FEIA: Querida, nós temos o produto perfeito pra você. É o No templo, num cantinho reservado, recôndito e escu-
CORI-FEIO:
novo Batom beijimbeijimblaublau sabor cereja. Seu ho-
ro, adornado com cortinas fucsia e aromas de canela,
mem não vai resistir. A senhora pode adquiri-lo facil-
som ambiente de marimbas...
mente na Dioniso Sex Shop bem na esquina de Satírico
com Parreiras. OUVINTE: Marimba?!
OUVINTE: blablablablabla...... CORI-FEIA: É, querida, aquele instrumento feito de pau-santo ou
pau-rosa, pauzinhos que ao serem tocados com baque-
CORI-FEIO: A senhora não sabe como chegar lá? É simples. A senho-
tas produzem um som doce e melodioso. E a senhora
ra tem cps? Ah, não? De avião, não? Ah, de barco, é?
encontrará ninfas adoráveis a seu dispor para ensinar,
Remando! Não, madame... Produção, solta o playt
entende? (Jn hermoso popurri interpretado por extraor-
Vem viajar, rrem navegar, vem conhecer mares escal- dinárias nynfas...
dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar:
OUVINTE: blablablablabla......
sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser
feliz. CORI-FEIO: Testar? Não, não é possível, senhora, lamento. Sem ÍesÍ-
-drive. Sim, de nada, é sempre um prazer saber que te-
CORI-FEIO: É isso aí, minha rainha, a senhora pega o Yacht Cruzei-
mos ouvintes interessados como a senhora!
ro do Sul rumo a Atenas. Lá chegando, desce no Pireu,
pega um ônibus para Delfos. Chegando lá, em Delfos, a Barulho de telefone desligando.
senhora pergunta pelo templo de Dioniso... CORI-FEIA: Voltemos, Sisi, ao Olimpo, lembra?

OUVINTE: blablablablabla...... CORI-FEIO: Sim, caros ouvintes, continuemos nossa história. Hera e

CORI-FEIO: Isso, isso mesmo, ele divide espaço com Apolo, quando Atena, num rroo rápido da Oympic Condor Airlines, em
um tira ferias, o outro assume o comando. E pra subir a
um segundo aterrissaram em Chipre.
senhora aluga um burrinho. A mula é mais em conta... MUSICA: (um segundo de El Condor Pasa, ao fundo barulho de he-
Se não conseguir, tudo bem, dáprasubir a pé. licóptero mesclado com as falas: h1péroke! katapletikós!
OUVINTE: blablablablabla...... magnifique!)

CORI-FEIO: Não, princesa, éum excelente exercício, a senhora vai ATENA: Comandante Hermes, vamos logo para o heliporto da
voltar em ótima forma, seu marido vai curtir à beça, De Millus Afrodite Factory.

HERA: Chegamos, Atena. Belo pouso, Hermes, belo pouso. i

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I
i
[,
MEDEIA RÀDroNovnLA BAsEADA Ne eRcoNlurtcA DE eporôNro... 173
I

ATENA: Vamos, Hera, à diretoria. diã da fidelidade, a que devo a honra de sua entrada im-
petuosa com a guerreira Atena?
uúsrce: (Trilha sonora de Missão Impossível, passos de salto alto
correndo, portas abrindo efechando, parada.) HERA E ArENA Çuntas): É Jasão. Jasão precisa de um filtro, um feiti-
AFRoDITE: Zeus! A que devo a honra?! Ahigh society do Olimpo? ço, uma cartada bem jogada...

ATENA: É. Apesar de não gostar muito de seus meios, o moço


nrne: Viemos jogar bridge, querida.
merece...
AFRODTTE: Bridge? Truco!
AFRoDITE: Hum, hum, merece, Atena, conheço o caso. Sei
ATENA: Madrasta, tem dó! Dá um tempo. Quem comanda sou bem... mas... não posso fazer nada. Entrei na pós-
eu e eu não falei deste tipo de cartas, falava de cartas -modernidade... Agora vale o amor self-service: tudo
sibilinas, por favor, dá um tempo, senhora. Poderosa rapidinho, nada duradouro, nada de grandes, terríveis,
Afrodite, renda-se! destruidoras paixões. Novas empresas, novos negó-
AFRoDITE: Ares amado, deus da guerra, que loucas! Não entendo cios... Não posso fazer nada.
nada. Expliquem-se, vocês estão em meus domínios. MúsICA: (Segundos da 5" sinfonia de Beethoven, f movimento.)
coRo FEMTNTNo: "Eu sei que eu sou/ bonita e gostosa/e sei que você coRI-FEIA: Senhores ouvintes, desculpem-nos. Com este clima, sem
me/ olha e me quer..." o entusiasmos de Afrodite só nos resta fazer uma pausa,
nrne: (Sussurrando.) Venenosa eh, eh, eh, eh... certo? Que tal um cafezinho?

coRI-FEro: Ai que mulher! Não, caros ouvintes, ai que deusa! eue cono: É hora de tomar um cafezinho, quentinho, temperadi-
cintura profunda, que seios.. . E abeleza, o amor, a bru- nho... Café Sileno Seleto, fácil de preparar, instantâneo,
ma calorosa do oceano... forte, quente, delicioso.

AFRoDTTE: É que nasci da espuma das ondas, rrrev rapaz, mas, por coRr-FEro: Então, caros amigos, com este agradável cafezinho, de-
favor, não entre em conversa de deusas, sim? sejamos-lhes boa noite! Bons sonhos! E continuem sin-
tonizados na Rádio Tebas, a melhor emissora de todos
coRI-FEIo: Claro, claro, senhora dama do grande lago salgado!
os tempos. Rádio Tebasl 543 mnz l.c.
coRr-FErA: Ei, sátiro louco, isso aqui não é a história do Rei Artur.
Guarde seus anacronismos para si, guarde também essa
sua língua nervosa... CanÍruro 3

coRr-FEIo: Perdoem-me, senhoras. Perdoem-me, queridos ouvin-


tes, nenhuma analogia seria suficiente. Me empolguei. ABERTuRA: Trinta primeiros segundos de A Cavalgada das Valquí-
rias, de Richard Wagner ot A Noite no Monte Calvo, de
AFRoDTTE: É de praxe, querido, é de praxe... Fica caladinho, vai...
Modest Petrovich Mussorgsky ou...
Mas Hera vingativa, grande deusa esposa de Zeus, guar-
n
:
t
774
l
RADToNovELA BASEADÀ Ne aacoNlurrcA DÊ, eporôNro... 175
I
CORI-FEIO: Boa noite! Essa é a sua Rádio Tebas, de volta ao seu lar tará ele para casa? Desvalido, sem recurso, de porto em
com os mais estupendos arroubos da paixão abismal de porto, à deriva?s
Medeia. São vinte horas e z5 minutos de areia na nossa
MúsrcA: (Segundos da 5" sinfonia de Beethoven, f movimento.)
ampulheta. Tempo chuvoso, temperatura em elevação.
t1
Tempestades boreais. coRr-FErA: Não, não é possível! O pátria! Ó domínios meus! Que
t
|asão não seja sem terra, forasteiro que só tem falta de l,
CORI-FEIA: Boreais; Estimados ouvintes, hy hi! Boa noite, deuses,
consolou.
sátiros e ninfas, senhoras e senhores, children! A nos-
sa Rádio Tebas está no art. 735 MHz AC de pura paixão! ATENA: Pois, claro que nãol Eu, Atena, sou pós-antiga, Afrô, e

Vocês ouvirão hoje o penúltimo capítulo de (trilha den exijo que você retorne às raízes!
o Vento Levou) Amor, Abismado Amor, aqui na nossa
AFRoDITE: Ai, que coisa mais chata, mais cult, imagina olhar a vida
rádio rsc sob o patrocínio de Calliandrabrevipis, o aro- toda pra um só rostoT, um só marido'.. Mil vezes eu
ma que desperta em você as forças impetuosas do amor
queria...
ferido! Seja você uma mulher emanente...
HEnL: Aí, Atena, foi seu pai quem ensinou...
CORI-FEIO: ...e saborosa! E por falar em saborência, seja segunda,
terça quarta quinta ou sexta, sábado e domingo, dê uma AFRoDITE: Mas se for um jogo... hum... Acho que You cooperar- '.

passadinha pelos Frigoríficos Aristóphanes, com ph, Vou falar com meu anjinho Eros de dardos quentes...
Talvez, ele se interesse em brincar... Pode ser que use
onde você encontra a melhor carne para sua reifeição!
suas velhas flechas envenenadas de amor ardente... Em
Nada de carne de sapo!
Medeia.... São infalíveis. Eros.... Yem na mamãe, bizu-
COROS: (cantando) Frigoríficos Aristóphanes! !!
zu! Ah, e traga suas flechas de amor, meu bebê...
CORI-FEIO: Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne nova e fresca coRo FEMTNtNo:(Cantando.) Flechadas de amor, flechadas de
servida com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzeiro do amor, O que fazer com tanto ardor, flechadas de Eros,
Sull Felicidade Sobrenatural. flechadas de Eros, você vai ficar louca... Com tantos
COROS: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escaldan- esmeros.
tes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna,
coRI-FEIA: A propósito, se você é uma pessoa sozinha, as Flechadas
piscina, shows e tudo que você precisa para ser feliz. de Eros trazem seu verdadeiro amor em três dias, uma
CORI-FEIO: Lembrem-se, companheiros de emoções - são tantas hora e trinta segundos.
emoções -: nossa história terminou com a nução da Po-
coRo FEMININo: E de joelhosl
derosa Afrodite que - parece - mudou o feitio de amar,
pós-modernizou... O que será de Jasão, meu Zeus? Vol-
5. ldem,v.528.
6. ld.em,w.645-647.
7.ldem,v.247.
\

I
tt
!
!,
MEDEIA RADIoNovELA BASEÀDA N,c' ancoNlurlcA DE epor'ôNro"' t77
I

Telefone tocando. nnne: Então... tu, a ele! Teu marido Hefesto, manda forjar um
planol
coRI-FEro: Um instante, querida, temos uma ligação. Alô? Rádio
Tebas, em que posso ajudá-lo? MúsICA: (Primeiros quatro segundos do coro dos ferreiros de Ver-
di, emllTrovatore.)
ouvrNrE: blablablablablablabla
AFRoDITE: Hum, me deste uma ideia. . . Cupido, cupidinho. . . (ma-
coRI-FEro: Ah, você quer saber se nós temos regras contra atirar
ternal).Eros (imperativa), olha menino, tive uma ideia:
uma flecha do amor em gente casada? Não, é claro que
vou pedir pra Hefesto pra fazet, pra você, um pomo de
não, você sabe: o amor é cego, você pode pedir uma Fle-
ouro, igual ao do Harry Potter! Eu sei que ele faz, ele faz
chada de Eros para quem você quiser.
tudo que ![uero, de ferro, de ouro e de prata.
ouvINrE: blablablablablablabla
coRI-FEIo: E foi com essa promessa sedutora, a dourada Afrodite
coRr-FEro: Senhor, nós não aproyamos o uso de violência. É só uma (suspiro) conseguiu ajudar Hera, Atena e |asãol
flechinha. Nem dói. É como uma injeção.
coRI-FEIA: Hã! Então, na Cólquida, onde vive a princesa Medeia" '
ouvrNrn: blablablablablablabla
coRo FEMINtNo: (Cantando.) "Como uma deusa.. '"
coRr-Frro: Amostra grátis?! Não, senhor, não temos. Igualmente,
coRI-FEIo: Lembrem-se, amigos, Jasão... Nos jardins esplêndidos
senhor, a Rádio Tebas agradece a sua ligação.
do cruel rei Eetes... Ouvia... Está tudo pronto: depois
Onde estávamos? Ah, com ela... ai... Afrodite, Afrô, Olimpo,
de toda essa divina conversa entre as deusas do
minha fror...
nossa Rádio Tebas z4z MHz AC contará o clímax desse
AFRoDTTE: (Chamando ao longe.)Eros, Eros! Querido! Vem na ma- Amor, Abismado Amor. Estamos na Cólquida, senhores
mazinha, pitucucho. Eu tenho aqui uma coisa pra você! e senhoras, terra de gente bárbara.

coRr-FErA: Tristemente informo, amigos queridos, infelizmente, coRI-FEIA: Vejam! O cruel rei Eetes conversando com o lindo, gato,
Eros não ficou muito feliz emsaber que sua mamãe que- gostoso, jovem, confiante e viril, o princês Jason!
ria que ele flechasse o coração de Medeia. Ele agora não
coRo MASCUttvo: (Cantando música-tema.) Eu sou sexy de doer,
seliga muito nesse lance de arco-e-flecha, gosta mais de
sou sexy de doer, Tão sexY, Yeah!
surfar na internet, e nesse exato momento ele estava exa-
tamente curtindo aatualização do seu BFF no Facebook. coRr-FEIA: Não consigo ouvi-los!
Então ele pergunta o que ganha atirando uma Flechada coRr-FEIo: Não interessa, Cori Maia, lá vem Medeia... Olha que
do Amor em Medeia... coisa mais quente, mais cheia de raça... Pense Medeia,
rvrúsrca: (Primeiros cinco segundos do primeiro movimento da olhe pro rapaz... O destino do amor está ao alcance das
5a
Sinfonia de Beethoven) suas máos... Sim, ouvintes, Medeia caminha inocente-
mente quando...
II

t
MEDEIA RADToNovrLA BAsEADA Ne aRco.nríurrcA DE eporôNro'.. 179
I
Som de Jlecha atingindo alvo. coRo MAscuLINo: Cara, você tá ferrado! As provas do rei são cabu-
MEDEIA: Oh! O que está acontecendo comigo? É um ataque do losas! Touro-cospe-fogo, dragão... chi, véi, melou. Não

coração? O Afrodite que amas o riso, o que está me vai conseguir mesmo.
acontecendo? IASÃo: (Fingindo chorar.) De boa, véi' Algo me diz que aquela
coRo FEMTNINo:(Cantando.) "Alõ cupido, vê se me deixa em paz, filha do rei vai me dar uma força. Sacô o jeito dela! Tá no
Meu coração já não aguenta mais, Hey, hey, é o fim, Alô jeito, tudo no lugar, hot giil, cara! E como diria o Peleu, i
cupido, pra longe de mim!" panela velha é que faz comida boa. E ela tá aÍé gostosi-
nha pra idade dela. E também'.. Eu nunca conheci mi-
CORI.FEIA: Vai, gente, aumenta o som! Ei-los, já consigo ouvi-los!
nha mãe.
IASÃO: E aí, Rei? O que é que tá pegando? Tu é sangue bom, aí. Me
coRo MASCUTTNo: Ih, véi, que é isso' Eu já te contei o que aconteceu
arranjaaiacapa de ouro, na moral, e a gente vai embora de
com um tal ÉdiPo! Se liga.
boaça, mano. Cê não táfazendo nada com ela mesmo...
coRI-FEIA: A propósito, se você tem algum problema como com-
CORI.FEIO: Mas não pensem vocês que o príncipe fasão vai conse-
plexo de Édlpo, complexo de inferioridade, complexo
guir a capa de ouro puro assim tão Írícil. Ainda mais com
de superioridade, complexo da melhor idade, complexo
esse discurso desrespeitoso.
de Golgi, números complexos, venha ao consultório de
EETES: Ô moleque! Que pensas? Só um valente levará a capa psicanálise do Dr. Hipócrates. O único lugar onde você
d'ouro deste país! Valente que tiver coragem para en- pode matar seu pai, sua mãe, seu primo bem-sucedido,
frentar provas. E provas es-cal-dan-tesl aquela harpia chata, seu camelo e até seu vizinho, qual-
quer um que te incomodar. Consultório de Psicanálise
JasÃo: Beleza, véi. Manda ver. Vou prapraia me esquentar.
do Dr. Hipócrates: você nunca mais será o mesmo.
MEDEIA: Ai de mim, querida Senhora da Lua Negra! Eu conheço
Telefone toca.
as provas capciosas do meu pai. Meu amor vai morrer,
se eu não ajudar! Ó, Hécate, mas se eu ajudo meu pai coRI-FEIo: Um instante, querida, temos mais uma ligação. Alô? Rá-
me mata - e frita! Meu coração diz que eu amo esse mo- dio Tebas, em que Posso ajudar?
reno... tão másculo! Ai, por que, por que meu coração
ouvINrE: blablablablablablabla
dialoga assim comigo?8
coRr-FEIo: Ah, entendo, você não tem complexo de Édipo, e ne-
CORI-FEIO: Rápida como Hermes, a minha, a sua, a nossa Rádio Te-
nhum dos complexos mencionados, sei, qual o seu com-
bas 248 v,:r:.Z AC leva vocês, caros ouvintes, à praia, junto
plexo então? Complexo do Alemão? Que doença é essa?
da nave Argos, aumenta o som!
Ah, é onde a senhora mora. Entendi, então qual seu pro-
blema? Complexo de Electricidade? Não se preocupe'

L ldem,v.1043.
;
:

I
RADToNovELA BASEADA N,q ancoNlurrcA DE eporÔNro... r8r

Dr. Hipócrates concerta sua cabeça, não importa qual é MEDEIA: Meu amor pode me levar a qualquer lugar. Por esse
o problema. amor eu salvei, traí, matei, piquei, cozinhei, roubei,
usurpei, mas, acima de tudo...
ouvINrE: blablablablablablabla
coRo FBMINTNo: (Cantando a música de Cauby Peixoto.) "Eu dei. '.
coRI-FEIo: Hã? Seu minotauro também precisa de ajuda? Ele pensa
eu dei. .. nunca pensei em dar assim..."
que é Cérbero? Ah, isso é mais diffcil, é um estudo re-
cente, mas ele pode tentar. Dr. Hipócrates, eu ouso di- MEDETA: Ei! Quem deu fui eu!
zer, é melhor que o próprio Freud. coRr-FEro: Oh, desculpe. E deu mesmo. Mas, antes disso (ou de-
ouvrNrl: blablablablablablabla pois, não tenho certeza), com seu conhecimento e suas
poções (lembrem-se: ela é a senhora dos temperos!) ela
coRr-FEIo: (Para a locutora.) Obrigado, sua ligação, ela é muito im-
salvou Príncipe ]asão de um destino atroz, capturou o
portante para nós. Onde estávamos?
pomo dourado... Digo, a Capa de Ouro, escapou do
coRr-FErA: Ai de mim, ai de mim! Oi moi! Que desespero ser sábia ódio de seu pai e... argh' Não posso dizer isso, todo
quando a sabedoria nada valels Isso não importa agora. mundo sabe, não Preciso dizer!
Preparem-se! EIa está vindo!
coRr-FEIA: Queridos ouvintes, o que ela fez? Eu não sei, eles não
coRI-FEro: Sim, ela é o demônio em pessoa, a Princesa Medeia, a sabem, diga, Cori Si, diga vá....
Cozinheira Louca...l Gostosona, mas louca, gente!
coRI-FEIo: Claro que sabem! E se não souberem não digo' Depois
coRo FEMTNtNo:(Cantando.) "Como uma deusa..., Você me man- de tantos filmes do Harry Potter, todo mundo sabe que
tém..., e as coisas que você me diz, me levam além, tão quando se diz "você-sabe" significa a pior coisa possível!
perto da lendas..." Ou impossível. Não, não digo. É um ato indizível!
coRI-FEIo: (Interrompendo.) cnncl! Todo mundo já decorou a coRI-FEIA: E dizível, vai, conta! E veja, meu bem, isso NÃo é uma
música dela. Coisa irritante, não se pode mais dizer Me- história do Harry Potter. Eles NÃo sabem o que aconte-
deia... ceu. Conta logo!

coRo FEMTNINo: (Cantando.) "Como uma deusa..." coRI-FEIo: (Música de fundo: The Butcher Boy.) Indizível! Entre-
coRI-FEro: (Interrompendo.) resra! Será que estamos falando gre- tanto, o show tem de continuar. Pois bem, Medeia ma-
go? Lembrem-se: estamos encenando uma tragédia aqui. tou e cortou em pedacinhos seu próprio irmão, Apsirtos
Ela já é a cozinheira louca, e jâ-já será uma Mãe Louca! e, para atrasar seu pai, que a perseguia, foi jogando cada

Ou uma vaca louca? Rê rê. Acho que agora me excedi... pedaço do corpo do irmáo nas águas do Mediterrâneo:
Medeia... Medeia... Muito bem, onde você estava? primeiro um braço, p/o/, depois o outto, ploft, uma per-
rra, ploí|, outra perna, ploft, a barriga, plofi, e por fim, a
cabeça: strunguncaPlofi .

9. Idem,w.292-293.
!
i
i,
MEDEIA RADToNovELA BAsEADA Ne ancoxáurICA DE eporôNIo... 183
II

MúsrcA: (Dois segundos de Ãguas de Março de Tom lobim.) coRr-FEIo: Não!ll!!!! (Seguida de raios e trovões, baixinho.) É com
coRI-FEIA: A propósito, se você gosta de cozinhar, ou até mesmo
ph... Até amanhã!
guerrear, vai precisar de algumas ferramentas de corte
e escudo, e não há lugar melhor para adquiri-los do que
CerÍruLo 4
no Ferro Velho Hefestos. Lá você encontra tesouras, fa-
cas, machados, punhais, serra elétrica, alicates de cutícu-
la, tudo em ótimo estado por um preço melhor ainda. E ABERTuRA: Trinta primeiros segundos de A Cavalgada das Valquí-
os escudos, então? |á houve até morte por causa de um
rias, de Richard Wagner ou A Noite no Monte Calvo, de
Modest Petrovich Mussorgsky ou. . '
deles. Se não acreditam, perguntem a Odisseu-Ulisses,
ah, não, a... Aquiles. coRI-FEIo: Noite escura, amigos... Obscura! Abismal! Essa é a sua
Rádio Tebas, de volta ao seu lar com os mais intempes-
coRos: (Ao fundo, coro dos ferreiros, da óperallTrovatore de
Verdi.) Ferro Velho Hefestosl Serrar, cortar, martelar tivos arroubos da paixão abismal de Medeia. São vinte
horas e z5 minutos. Tempo quente, temperatura em ele-
é o nosso negócio! Até mesmo Odisseu-Ulisses vai
vação. Tempestades passageiras, manhã de sol quente.
comprar!
coRI-FErA: Falando em Odisseu-Ulisses, ouvintes, não percam, coRr-FEIA: Calorão hein, gentel Boa noite, Sol! Boa noite, Hefesto!
amanhã, no mesmo horário de Amor, Abismado Amor,
Vamos senhoras e senhores, children, pela derradeira
não percam a nova, espetacular, irressistível radionove-
vez ouviremos Medeia! A nossa Rádio Tebas está no
la Odisseu Estci de Viagem... A única radionovela com art 735 MHz AC de paixão efervescente! Vocês ouvirão
proporções homéricas jamais produzida desde a crise hoje o último capítulo de (trilha deE o Vento Levou)'
grega e o naufrágio de Argos...
Amor, Abismado Amor, aqui na nossa rádio tsc sob o
patrocínio de Calliandra brevipis, o aroma que desperta
Som de palmas no portão. em você as forças impetuosas do amor ferido! Para você,
FEITICETRA crRCE: Odisseu! Odisseuuu! Odisseuuuuuuu! mulher esquentada...

Som de grilo. coRI-FEIo: ...e queimadal E por falar em queimação, seja segunda,
terça quarta quinta ou sexta, sábado e domingo, nunca
coRr-FEro: Não percam mais essa emocionante, apaixonante, nave-
deixe a sua a melhor carne de rã passar do ponto Para a
gante novela Odisseu Está de Viagem um patrocínio de:
reifeição!
Frigoríficos Aristóphanesl!! Frigoríficos Aristóphanes
com ph! ! ! Frigoríficos Aristóphanes! !! coRos: (Cantando !) Frigoríficos AristóphanesM

Som de grilo. CoRI-FEIA: Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne, nova e fresca
servida ao ponto com a cachaça Bode Velho no Yacht
cono: Frigoríficos Aristóphanesltt (Voz triunfante): Com efel
Cruzeiro do Sull Felicidade Sobrenatural.
184
MEDEIA RÀDroNovELA BAsEÀDA ue ancorvlurÍcA DE epor,ôNro... r85

coRos: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal- coRr-FErA: E o Creonte, também dançava o "Créu"?
dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar:
coRI-FEIo: Não, ele dançava o "kuduro". E quando |asão colocou os
sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser
olhos nela...
feliz.
yesÃo: (Cantando I'm Too Sexy) "Eu sou sexy de doer, Sou sexy
coRr-FEro: Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne de rã só pode
ser servida com a cachaça Bode Velho no yacht Cruzei-
de doer, Tão sexy, aú..."
ro do Sul! Felicidade Total. Bode Velho na hora H! coRIFEU: (Interrompendo.) Bastal Chega de música tema! Todo
Bem, voltamos, afinal,história precisa acabar... Enfim,
a mundo já sabe que Jasão é bonitão, gostosão etc. e tal. Se
o Príncipe |asão casa-se com Medeia, prosseguem continuarem eu chamo as bacantes para um jantarzinho
com sua vidinha de casal feliz, e cometem mais crimes básico. Entenderam?
terríveis. coRI-FEIA: Resultado: Príncipe |asão seduziu a Princesa Creaza,
coRr-FErA: É. Foram piores que Bonnie and Clyde... que Lampião e famosa por dançar o créu. Claro, caros ouvintes, quem
Maria Bonita... poderia resistir àquele jovem, ambicioso e viril?

coRI-FEro: E sem jagunçada, sem jagunçada! Depois de matarem coRI-FEIo: Finalmente o Príncipe |asão conseguiu realizar seu mais
Pélias (interrompendo a coRr-FErA: O coitado foi pica- verdadeiro e profundo desejo. Casar com uma mulher
do, temperado e cozido) o casal, naturalmente, fugiu, de mais jovem? Garantir o futuro dos filhos? Entrar no Big
Iolco para uma herdança do sol para Medeia, cidade à Brother? Não, caros ouvintes. Pensem, pensem...
beira-mar... coRI-FEIA: Sim, pensem, amigos, fasão casou-se com a princesa
coRr-FErA: É. Fugiram para a cidade de Corinto. Lá, em Corinto, Cretza, famosa por dançar o Créu, pois ela é filha de
f,nalmente estavam felizes. Tiveram dois filhos e tudo Creonte, que por sua vez é o Rei de Corinto. Então...
corria bem, naquele tédio próprio do casamento, mas coRr-FEIo: Podemos concluir que fasão quer ser o novo Rei de Co-
estavam felizes, até que:
rinto. Rapaz egoísta e esperto. Esse |asão, hein? Ô meni-
coRo FEMTNtNo: (Cantando Garota de Ipanema de Tom lobim.) no danado!
'Olha que coisa mais linda/ mais cheia de graçal é ela
coRI-FEIA: Pobre Medeia! Pobres crianças!
a menina / que vem e que passa/ num doce balanço/ a
caminho do mar". coRr-FEro: É verdade. Que maldade para com eles, não? Deixa-
dos assim, sem proteção paterna e sob as ordens do Rei
coRI-FEro: Não, caros ouvintes, não se trata de alguma propaganda
Creonte, que logo mandou expulsar Medeia e os filhos
de resorts no Rio de |aneiro. Ainda estamos em Corin-
de Corinto. Pobre mulher, sem marido e sem lar.
to, onde vive a princesa Cretza, famosa por dançar o
"Créu", e seu pai, o Rei Creonte. coRI-FEIA: A propósito, se você já está cansado de morar com sua
mãe, cansado de dividir quarto no pensionato, se você está
r
l,
MF,DEIA EADA NA tncottÁurtca »B epor,ôNro... r87
I
sem um lar não pode deixar de üsitar o Residencial Hés- Barulho de torcida de futebol.
tia. Lá você não encontra apenas uma casa, mas um lar.
coRos: (Cantando.) "Se a criança chorou/ dorme, dorme, meni-
coxo; (Cantando.) Residencial, residencial, residencial Héstia! na/ a dor breve passou/ mamãe tem auricedina".

coRI-FEIA: Residencial Héstia: o único onde você pode escolher MEDETA: Pô, sacanagem. Isso vale cartão vermelho, juiz. Eu sem-
uma casa já com o marido dentro. Velho como o Rei pre comprava esse remédio pra eles. Oh, vem cá na ma-
Egeu, é verdade, mas pelo menos não vai espancar você. mãe...
i
Além do mais, a casa é novinha.
coRr-FEro: Salvos pelo gongo! Mas, como debaixo de angu tem
MEDETA: Um ultraje! Uma zombaria. Olho por olho, dente por torresmo, para o azar do bonitão, eis que aparece, justo
dente. Ah, |asão, agora tu vai ver com quantos paus se agora, |asão.
faz uma naul
coRo MASCULINo JesÃo: (Cantando.) "Meu carro é vermelho/ só
E
coRo FEMTNINoI.(Cantando.) "Tai, eu fiz tudo pra você gostar de uso espelho prá me pentear..."
mim/Ah meu bem, náo faz assim comigo nãol você tem,
MEDETA: Chega, |asão. Foi a gota d'água. Acabou. Tudo está aca-
você tem/ que me dar seu coração".
bado.
coRr-FEro: (Narrando como jogo de futebol.) Preparem-se, caros
IasÃo: Mulher enlouquecida! Péssima mãe, e cozinheira tam-
ouüntes, para ouvir e sentir o terror e a piedade da pró-
bém. Por Zeus, por quê? Você não era assim. Por quê?
xima cena. Medeia, enlouquecida, trama o ardil ardiloso
ardilosamente. Creonte, num erro técnico, deixa Me- MEDETA: (Cantando como As Frenéticas) "Você fez de mim uma
deia ficar mais um dia. Ela prepara o terreno, ajeita o hipócrita"
manto de ouro, mira diretamente seu alvo, apelas pros coRo FEMININo: "Você fez de mim uma cínica"
deuses, respira fundo e... chuta (aofundo som de torcida
MEDETA: "Yocê fez de mim uma mulher sem larl uma marvada..."
de futebol) . E balança a rede em Corinto. . . sacudindo a

torcida, num lance individual digno do Fenômeno, Me- coRo E MEDETA: (Ainda cantando com coreografia esfuqueando.)
deia marca dois de uma só vez: mata a princesa Cretza "por isso eu sou vingativa,/ vingativa, vingativa, / por
que nunca mais dançará o Créu, e o rei Creontel (som de isso eu sou vingativa / e tenho até asco de você...."
torcida).É o fim, é o fim, caros ouvintes... coRr-FErA: Meu Zeus, que vejo! Vejo a mulher malvada com a faca
Barulho de torcida de afiada avançar e cravar a lâmina fundo no coração do
futebol.
menino! Oh!!!l Zeus pai dos homens e deuses, ela avan-
coRI-FEIA: O fim? Ainda não, ouvintes, aos 44 minutos do segundo
çaagorapara o outro, mira o fígado, ohll!! Como pôde?
tempo, Medeia, completamente tomada, quer realizar o
Mas como a cidade dos rios santos, chão abrigo dos deu-
impossível, o abominável, e prepara a mão e o punhal,
ses, a ti, a infanticida, abrigará? A facínora das cidades?
levanta pra dar o bote final... Mas, de repente:

I
t
t,
RADToNovELA BASEADA NA ÁRcoNÁurrcA DE eporôNro... 199

Imagina os golpes nas crianças, imagina que chacina COROS: verdade é malvada eu sei.
Que a
construída! Não!10
MEDEIA: Vivias penando em mim.
CORI-FEIO: Faz parte do mito, ninfa Maia. E assim, nesse banho de
COROS: parápapapa.
sangue, termina nossa novela. Aliás, como terminam to-
das as nossas novelas, tragicamente. E não foi diferente MEDEIA: Ficavas contente em ver.
em Amor, Abismado Amor. Você que perdeu, nào perca
COROS: parápapapa. t
a nossa edição emVale a Pena Ouvir de Novo, e não dei-
xe de se inscrever no concurso "Mostre seu Talento", já MEDEIA: Que há muita gente que se enganou a si, sem saber por
temos milhares de inscrições, Píndaro, Simônides, Ba- quê....
quílides e Esquilo. Você não pode perder essa chance de TODOS: "Ninguém poderá julgar-me, nem mesmo tu..."
entrar para a História aqui, na minha, na sua, na nossa
CORI-FEIO: Boa noite e bons pesadelos...
Rádio Tebas 52 AC MHZ. Apoio cultural:
CORI-FEIA: E não se esqueçam, encontramo-nos amanhã, aqui para
COROS: (Cantando.) Resort e Pousada do Ciclopel
novas emoções com a flutuante, molhada, espetacu-
A propósito, se você está estressado e sua família está lar, irressistível radionovela Odisseu Está de Viagem. ..
cansada também, não deixe de conhecer o Resort do Ci- A única radionovela em mar aberto, jamais produzida
clope. Lá você terá as férias com que sempre sonhou: desde a crise grega e o naufrágio de Argos...
tranquilidade para você e aventura para as crianças
Som de palmas no portão.
numa ilha paradisíaca. Resort e Pousada do Ciclope,
onde a única estrela é Ninguém. FEITICETRA crRCE: Odisseu! Odisseuuu! Odisseuuuuuuu!

CORI-FEIO: Enfim, vamos ficando por aqui, mas deixamos vocês ou, Som de grilo.
vindo a Rádio Tebas, na companhia das últimas palavras coRr-FEro: Não percam mais essa emocionante, apaixonante, nave-
de Medeia. gante novela Odisseu Está de Viagem um patrocínio de:
MEDEIA: (Cantando lerry Adriani) "Que a verda-
A Verdade, de Frigoríficos Aristóphanesll! Frigoríficos Aristóphanes
de, lhe faz mal, eu sei. / O que ela faz é a mim e nào a com ph! ! ! Frigoríficos Aristóphanes! !!
ti./ Não, não, ninguém poderá julgar-me, nem mesmo Som de grilo.
tu..."
cono: Frigoríficos Aristóphanesltt (Voz triunfante): Com efe!
COROS: Que a verdade é malvada eu sei.
coRr-FEro: Não!lMl! (Seguida de raios e trovões, baixinho.) É com
MEDEIA: Meus erros eufiz aomeu modo e onde estavas tu? ph... Até amanhã!

to. Idem,w.846-853
/
FICHA TECNICA DE MEDEIA

ATOREX DE TRA^UÇÃO
MEAEIA: Gustavo Montes Frade, Marina Pelucci Duarte Mor-
toza
IAXÃO: Dougla§ Cristiano Silva
AMA: Ana Araújo, Douglas Cristiano Silva, Vanessa Ribeiro
Brandão
PEAAGO|O: Priscilla Adriane Ferreira Almeida
XORO: Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, Maria de Fátima
Lanna
E|EU: Flávia Freitas Moreira, Gustavo Montes Frade, Mari-
na Pelucci Duarte Mortoza
KREONTE: Flávia Freitas Moreira, Gustavo Montes Frade,
Marina Pelucci Duarte Mortoza
MENSA|EIRO: Priscilla Adriane Ferreira Almeida, Marina Pe-
lucci Duarte Mortoza
<DILHOS: Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes

DE TRAAUÇÃO
^rREÇÁO
T er eza Virgínia Ribeiro Barbosa
191
prcna rÉcNrcA DE MEDEIA

ASSISTENTES DE AIREÇÃO DE TRAAUÇÃO Cenário: Renato Martins e Helvécio Izabel


Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, Marina Pelucci Duarte Produção: ]anaina Morse/ ]oubert Silva
Mortoza Assistência de produção: Carlos Eduardo Gomes

AIREÇÁO ARTÍSTICA
FICHA TÉCNICA DE O LADO OBSCT/RO DO AMOR
Andréia Garavello / Vinícius Albricker
(O Lado Obscuro do Amor é a primeira versão do texto paródico

enrÍSUCe para Medeia. Neste liwo, apresentamos esta versão revista e


ASSTSTENTE DE
^IREÇÁO ampliadapara publicação com o título Amor, Abismado Amor.)
fosiane dos Santos Félix
rExro - Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andréia Garavello,
RF,VI>ÃO FINAL
T ercza Virginia Ribeiro Barbosa
Manuel.a Ribeiro Barbosa AToRES E vozEs Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andréia
-
Garavello, Bruno Pontes, Everson Soto, Flávio Gonçalves,
TEXTO GREGO
|osiane Félix dos Santos
EURÍPIDES. Medea. David Kovacs (ed.). Cambridge, Harvard Aporo rÉcNrco - Caio Teodoro, Carlos Eduardo de Souza Go-
University Press, http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text mes, Priscilla Adriane Ferreira Almeida, Priscilla Gontijo,
?doc=Perseus:text:r.999.or. orr3 Vanessa Ribeiro Brandão

FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO MEDEIA


Elenco:
Andréia Garavello - Medeia
Guilherme Colina/ Geison Bezerra da Silva- Iasão
Geraldo Peninha - Pedagogo/ Creonte/ Egeu
Gaia Bouchardet - Ama
Alexandra Stella - Mensageiro
Raposa Lopes/ Graziele Sena - Coro
|osiane Félix - Corifeu
|ay Barcelos/ |uliana Birchal/ féssica Tamietti - Coro
Criação musical: ]osiane Félix e Marco Flávio Alvarenga
Preparação vocal: Marco Flávio Alvarenga
Preparação corporal e coreografias: Dulce Beltrão
Figurinos: Léo Piló
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BIB LIO GRAF IA

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La Poétique. Traduçáo e notas de Roselyne Dupont-Roc et fean Lallot.


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Esquer da: Andréia Garavello. Poetics.Introdução, comentários e apêndices de D. W. Lucas. Oxford,
Foto de Clara Garavello Baião de Amorim. Clarendon Press, 1968.
Poetics.Introdução de Gilbert Murray. Tradução de Ingram B1'water.
Acima. Da esquerda para a direita, sentido horário: In: http://www.gutenberg.org/dirs/etexto4/poetilo'txt acesso em novem-
Alexandre Cardoso Nunes Magalhâes, Carlos Eduar- bro de zoo8.
do de Souza Lima Gomes, Alexandra Stella, Priscilla
.r.nrsrórErss. Retórica. Tradução e notas de Manuel Alexandre Júnior; Paulo
Adriane Ferreira Almeida, Gustavo Montes Frade,
Farmhouse Alberto; Abel do Nascimento Pena. Lisboa, Imprensa Nacio-
)osiane Félix, Gaia Bouchardet, )éssica Tamietti de
nal/Casa da Moeda, 1998.
Almeida, Tereza Virginia Ribeiro Barbosa, Maria
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de Fátima Lanna, Marina Pelucci Duarte Mortoza e
Douglas Cristiano Silva. Foto de Barbara Zanco. BARBosA, Tereza Virgínia Ribeiro. "As Rinhas de Galo como Exercício Para a

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196 MEDÊIA B IBLIO GRÀFIA
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