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Aristófanes, Lisístrata
Estudo e Tradução
Dissertação de Mestrado
Área de Língua e Literatura Grega
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo
Lisístrata tem um enredo simples que se resume nos seus dois planos: 1) a
tomada da Acrópole pelas esposas mais velhas de Atenas e 2) a greve de sexo
pelas esposas mais jovens de toda a Grécia. Tais ações têm por objetivo acabar a
guerra do Peloponeso. Mas a efetivação desses planos se faz pela assimilação das
mulheres à Acrópole, em uma metáfora que torna as portas da cidadela as das
mulheres, e cria, assim, o duplo jogo político e sexual dos projetos femininos na
peça. Sua temática, porém, é muito complexa, considerando-se, principalmente,
que ela foi a primeira peça de Aristófanes a ser representada após a fortificação de
Deceléia, na Ática, pelos peloponésios (413 a.C.) e após a fracassada expedição
ateniense à Sicília (415-413 a.C.), e que ela traz, pela primeira vez, mulheres como
protagonistas e porta-vozes do poeta, que trata agora a questão da guerra pelo
ponto de vista da cidade e, assim, renova o palco cômico com a exploração da
potência sexual feminina, através de paradigmas míticos e aspectos ritualísticos,
que combinam os traços de separação e ginecocracia correspondentes aos planos
sexual e político respectivamente , que autorizam a intervenção das mulheres na
polis para a restauração da normalidade rompida pela guerra. Há ainda outros
paradigmas que assimilam as mulheres aos inimigos de Atenas os tiranos, os
espartanos e os persas e criam um paradoxo nas suas ações, que se voltam para a
paz, porém são vistas pelos homens, que são partidários da guerra, de modo
temerário. Mas esse clima de desconfiança parece também dizer algo da sua época,
em que havia uma conspiração contra a democracia ateniense. A importância de
Lisístrata é renovada a cada leitura de seu texto, e uma tradução em Português que
valorize sua riqueza temática e lingüística é fundamental foi esta meta que se
buscou atingir neste trabalho.
Introdução 01
1. Lisístrata e a guerra 07
2. Lisístrata e as mulheres 19
2. A tomada da Acrópole 62
cidadela? 75
a. As mulheres áticas:
b. Os homens áticos:
96
c. Os homens espartanos:
Conclusão 114
Argumento I 122
Argumento II 123
Liberatropa 127
Bibliografia 194
Introdução
sonora.
1
HENDERSON, Jeffrey. Lysistrata. Oxford: Clarendon Press, 1987.
2
peça toda.
Pela tradução da peça, chega-se, por diversas imagens, que vão sendo
ateniense em uma mulher. Assim, sua porta, o propileu, torna-se a porta das
infelizes em casa pela falta dos seus maridos, que estão distantes, na guerra.
Dois planos são definidos para a ação das mulheres: um, a médio prazo,
termos que indicam a relação sexual, e.g., binein, o verbo mais comum para
da polis estava entregue aos velhos cidadãos, que estão isentos do efeito de
uma greve de sexo. Mas, em Esparta, as mulheres têm maior autonomia do que
em Atenas, é por isso que será delas que dependerá o sucesso deste plano.
mulheres, a greve de sexo pelas esposas - que não teriam motivo para isto,
mulheres sozinhas. Mas em Lisístrata está claro que apenas a relação lícita do
sexual.
4
Tróia" com guerreiras bem armadas para a guerra e para o sexo no seu interior.
implicações, que resultam na união das mulheres à cidade. Assim é que ele,
mulheres, e elas mesmas afirmam isso: são amantes da bebiba, do sexo e são
agora sob o poder das mulheres. Além disso, simboliza ainda o despir-se para
tudo isso, o falo aparece ereto nas cenas finais usado pelos homens mais
jovens.
Esparta está presente na peça toda, seja de forma evidente ou por alusões. É
pelos velhos do coro, que temem que elas e os espartanos tramem a instalação
do tear para a libertação da cidade (v.585); nas cenas finais é deles o canto que
examinada através dos dois planos de ação das mulheres, que são
esposas jovens de toda a Grécia. Para tornar mais clara a novidade que se
pontos.
1. Lisístrata e a guerra.
ações. E mesmo quando acontecimentos reais vêm juntos com estas ações
Neil O‟Sullivan1, a comédia antiga não quer ser acreditada, pois está
ilusão de que se estaria assistindo a algo real. Mas Thiercy2 nos esclarece que
não sempre com intenção de interromper a ficção cênica, seja por efeito
muitas vezes, eles assim o fazem para fixar ainda melhor esta ilusão cênica,
precípua: fazer rir.3 O riso, para Henri Bergson, é uma espécie de corretivo que
próprio da vida. Porém ele alerta para o fato de que, ao rir de um “desvio”, nós
pelos desvelos do bom senso, e então gostamos de rir, o que explica o caráter
lúdico do riso.4 A comédia privilegia a atualidade dos fatos para que se possa
rir deles, pois é condição fundamental que eles sejam conhecidos de todos, e,
1
O‟Sullivan, N.,“Aristotle on dramatic probability”, C J, 1995, pp. 47-63.
2
Thiercy, P. Aristophane: fiction et dramaturgie, 1986, p. 140.
3
Cf. Couat, A. Aristophane et l’ancienne comédie attique, 1889, p.67.
4
Bergson, H. O riso: ensaio sobre a significação do cômico, 1987, Passim.
10
quanto mais atuais, maior efeito cômico provocará nos espectadores. Jaeger
chama a atenção para que somente a poesia seja capaz de nos mostrar a vida de
por isso há o paradoxo de que nenhuma época histórica, nem mesmo as mais
Babilônios (426), Acarnenses (425) e Aves (414), mas não se sabe qual a sua
agosto e foi um ano regular de 354 dias, também tiveram atraso; e assim as
nas Lenéias de 411 a.C. aparece nos versos 489-92, onde Liberatropa defende a
5
Jaeger, W. Paidéia: a formação do homem grego, 1989, p. 287.
6
Henderson, J. Lysistrata, 1987, pp. XV-XXV.
11
que na peça é pensada como tendo se iniciado em 418 a.C. e não em 431
a.C. como o começo da guerra (v. 512 ss) e o encômio dos velhos do semicoro
demagogo favorável à guerra e “os que atacam os cargos públicos” com quem
ele é alinhado são as facções que sempre tinham sido responsáveis pelo
em Atenas. E Pisandro pode, por uma cronologia, ter deixado Atenas bem
12
antes das Grandes Dionísias, quando seus planos revolucionários não podiam
Samos, pelo meio de janeiro de 411 a.C., e, pelo meio de fevereiro do mesmo
para que Lisístrata tenha sido representada nas Lenéias: em 1133 s, quando
mínimo, três anos.9 Mas, continua Dover, a situação mudou quando Alcibíades
7
Cf. Id., ibidem.
8
Dover, K.J., Aristophanic comedy, 1972, pp. 169-70.
9
Id., ibidem.
13
fevereiro, era largamente sabido que havia possibilidade de dinheiro persa para
parodiar os Mistérios.
debatida recentemente, naquela época, é difícil imaginar que numa peça como
que ele parece mais renunciar do que explorar as oportunidades para aludir a
pergunta do coro dos velhos: “Quem dos generais de Samos ajudaria com a
10
Id., ibidem.
14
tora?”, que apenas parece demonstrar, além das esperanças de salvação que
questão numa ocasião de mau agouro apresentada pelas mulheres; em 507 ss,
mutilação das hermas refere de modo geral a qualquer dos mutiladores que
paródia dos Mistérios, não da mutilação das hermas, embora os dois casos
tenham sido debatidos juntos, como parte de uma grande conspiração contra a
pessoa de Alcibíades.
1247-72) todas elas ligadas à deusa Ártemis, pelas suas legendárias devotas,
11
Henderson, J., op. cit., 1987, pp. XV-XXV.
12
Moorton Jr., R.F. “Aristophanes on Alcibiades”, GRBS, 1988, pp. 345-59.
15
diretamente com as mulheres, como inimigas de Atenas, seja pela visão dos
homens, que se dizem defensores da cidade, seja pela assimilação delas aos
que uma transação com o sátrapa persa, Tissafernes, estava se fazendo. O que
a peça mostra é que todo o dinheiro disponível para Atenas estava no Tesouro
das Lenéias de 411 a.C., certamente, era para a reconciliação em toda parte, na
tentado trazer de volta Hípias cuja tirania os velhos da peça temem que os
13
Op. cit., 1987, pp. XV-XXV.
14
Reckford, K.J. Aristophanes’old-and-new comedy, 1987, pp. 301-11.
16
volta a tirania. E que a ação das mulheres se estrutura também neste evento
que cercam o final da tirania de Hípias, que era o tirano por excelência para o
escólio, que os homens velhos de Lisístrata citam quando dizem que não se
15
Forrest, W.G., “Aristophanes, Lysistrata 231”, C.Q., 1994, pp. 240-1.
16
Bowie, A.M., Aristophanes: mith, ritual and comedy, 1993, pp.178-204.
17
fato:
tinha sido torturada por Hípias, após o assassínio de Hiparco. Assim, ele não
duvida que ela se agacharia não em uma faca de queijo, mas a um tirano
tyrannos, „tirano‟.
Invertemos a ordem dos dois últimos versos, por assim nos parecer
mais significativos;
Bowie nos explica que esta passagem tem dois sentidos: 1) há a inversão
Acrópole. Eles foram forçados a partir no sexto dia, quando seus filhos foram
mas, comenta Bowie, ela se mostra mais forte do que os Pisistrátidas, porque
desce, mas para ludibriar seu marido. Em 1150-53, Liberatropa recorda aos
aos apelos de Iságoras, rival de Clístenes, mas foi ele mesmo que foi sitiado
pelo povo e forçado a partir depois de dois dias. No começo da peça, quando
19
O que faz lembrar ainda mais a cena do filho de Buquerina, que aparece sujo e
a Hípias, explica Bowie, têm relação política, mas também faz um jogo sexual
e às Amazonas em 676-9:
sexual (vv.674-5):
Cv. (...) mas até barcos vão construir e ainda vão tentar
combater no mar e navegar sobre nós, como Artemísia.
gracejos na comédia.
nas ações das mulheres e nas reações dos homens, pois, pressentindo o ataque
um exame falso da situação, já que não é nem o rei espartano Cleômenes, nem
os Pisistrátidas que estão na Acrópole, mas suas esposas, e suas ações querem
conhecimento de Aristófanes nesta época, e que este trabalho poderia ter sido
18
Henderson, J.,The maculate muse: obscene language in attic comedy, 1991, n. 274.
19
Op., cit., pp. 178-204.
20
Op. cit., pp. 240-1.
21
(490-405 a.C.).
22
2) Lisístrata e as mulheres
teve que dosar, num nível mais elevado, o potencial burlesco da comédia e a
dom envenenado dos deuses aos homens que Dezotti22 mostra como uma
noiva especial, porque é divina pela sedução das aparências, humana, pela fala,
e animal em seu “espírito de cão”, explicando que sua natureza híbrida está nas
Amorgos parecem ter seguido o mesmo caminho, este último tendo composto
repete-se a posição que a comédia também aderiu desde sua origem, com o
21
Silva, Maria de Fátima, “ A mulher, um velho motivo de cómico”, in: Oliveira, Fco. de., e Silva, M.F. O
teatro de Aristófanes, 1991, pp. 207-244.
22
Dezotti, Ma. Celeste Consolin, Pandora cômica: as mulheres de Aristófanes, tese de Doutorado, 1997, p. 8.
23
Silva, M.F., op., cit., pp. 207-244.
23
relação a toda esta herança cômica, sabia que não podia erradicá-la
(vv.1-3):
Ve. (...) elas chegarão; é sem dúvida difícil a saída das mulheres.
pois uma de nós ao marido inclina-se,
outra desperta um escravo, o filhinho
uma faz dormir, essa o banha, alimenta-o aquela.
24
Id., ibidem.
25
Id., ibidem.
24
plenas. Embora uma mulher de nascimento cívico fosse também uma cidadã
Eurípides: "o povo autóctone da célebre Atenas" (vv. 29-30) e "Erictônio, filho
referido na Lisístrata, (v.1082) “Coro. Mas eis que também vejo os nascidos
assim Pandora, a cidade adapta-se à raça das mulheres, mas nega a existência
conhece cidadã, a língua não tem nome para a mulher de Atenas, e há o mito
nome de Atenas28.
obras: uma tragédia e uma comédia Íon e Lisístrata, onde “há a questão da
26
Cf. Ehrenberg, V., L’état grec, 1976, pp. 78-99.
27
1990, pp. 7-25.
28
Loraux, N., op. cit., pp. 7-25.
25
Delfos para reintegrar seu oikos sobre a Acrópole, onde ela completará o
v.107).
exemplo de uma certa comiseração pela mulher diante da guerra, quando ele
goza os benefícios da paz, que negociara para si e que se recusa a repartir seja
com quem for, abre uma exceção para uma noiva, que não tem culpa da guerra
29
Ibidem.
30
Ibidem.
31
Op. cit., pp. 207-244.
26
cidade.
que se deu em 413 a.C., ano em que também se deu o final desastroso da
paz e guerra, que tinha desenvolvido nas outras peças, de um ponto de vista
do poeta.
diferente da das outras peças heróicas de Aristófanes por ser mais prática. Pois
uma ausência delas. Nenhuma delas questiona sua função ordinária ou procura
de algum modo mudá-la, mas elas só querem voltar a sua vida normal que
vizinhança.
perderam suas esposas parece um tanto fantástico, mas o fato de homens serem
sexualmente:
Da vida real pode ser retirada a queixa das esposas de que a ausência
qual elas retiravam sua identidade cívica e tinham sua segurança. Henderson
afirma que seria difícil acreditar que esposas cidadãs tivessem muitas ilusões
sobre a injustiça de um sistema social que lhes negava uma voz pública em
520):
34
Ibidem.
29
lembrar que em 411 a.C. a sacerdotisa de Atena Polias era chamada Lisímaca
e a de Atena Nikê, era Mirrina , elas são empreendidas por mulheres em suas
rainha cária Artemísia, que lutou contra os gregos mais valentemente do que os
Ártemis
e assim ligada à guerra , mas também ela é deusa dos partos associada mais
maior santuário, e onde ela substituíra uma antiga deusa asiática da fertilidade)
caracterização das mulheres da peça. E, sem dúvida, ela é a divindade que está
647);
arréfora, que só esta passagem evidencia ser aos sete anos de idade e não na
adolescência. Assim é que muitas emendas a estes versos foram propostas por
35
Florenzano, M. Beatriz Borba. Nascer, viver e morrer na Grécia antiga, 1996, pp. 21-40.
31
um dos títulos de Atena, ele veio por fontes tardias, e outros deuses e heróis
Sourvinou-Inwood ( C.Q. n.s. 21, 1971, pp. 339-42)- “eit’ aletris ê. deketis
moleira; e aos dez anos para a nossa patrona/ fui ursa nas Braurônias, deixando
mulher, que traz à cabeça um grande objeto cilíndrico, que pode ser o kaneon,
36
Walbank, M.B., “Artemis bear-leader”, CQ, 1981, pp. 276-281.
32
e esses objetos estão cobertos por fios de cordas em que se encontram caroços
instrumento de sedução das mulheres (vv. 44, 47, 51, 219, 220), que, como
greve de sexo, já que elas deixam o palco para a entrada do coro, párodo, e a
Walbank38 nos explica que, se tomarmos Pândroso não como uma das
filhas de Cécrops, mas como um epíteto, este nome também pode ser aplicado
a Ártemis, a “Toda-Orvalhada”.
(vv. 678-9) e da rainha cária Artemísia por cuja captura viva os atenienses
37
Op. cit., pp. 185-224.
38
Art. cit., pp. 276-281.
33
considerarem terrível que uma mulher pudesse lutar contra Atenas, que já
velhos de acabarem com os recursos (v. 652 ss), e com referências específicas
tropa persa mais guerreira era a da rainha cária Artemísia, e, em Maratona, foi
a deusa Ártemis a maior aliada dos gregos, para a qual todo ano, no dia 6
as duas menções seguidas aos carístios (vv. 1059 e 1181) são ligadas à
490 a.C. tinha sido a primeira a resistir aos persas e a sofrer com isto. A
patriotismo em Aristófanes.
e) No canto dos velhos sobre Melânio (781 ss), que é retratado como
Hipólito, caçador e misógino, e que lembra Melântio, o homem negro, que luta
com Xântio, o homem louro, e o vence por uma apatê, „fraude‟, que
39
Ibidem.
34
ss):
Leônidas, como javalis, e invoca Ártemis caçadora, “que mata as feras”, para
deuses que irão servir de testemunhas, para que eles não esqueçam a
podemos ver uma alusão muito forte à Ártemis, pois pedindo à musa Lacônia
emenda na linha 1314, de filha de Leto (Latous pais) em vez de filha de Leda
(Lêdas pais), e assim Ártemis seria a corega e não Helena,40 como figura na
40
Ibidem.
35
representações, como corega das ninfas, que Larson41 diz ser o símbolo mítico
elas era de ansiedade e de medo. O que faz da figura de Ártemis ainda mais
para inspirar desejo amoroso nos homens. Tomando-se então Ártemis como a
os ritos de passagens dos jovens, que ainda não deixaram a caça selvagem e os
comentários que a colocam no mesmo nível das mulheres áticas, pelo menos
homens (vv. 551 ss), mas no juramento feito pelas mulheres para selarem o
abandonavam seus lares para se soltarem nas montanhas como feras selvagens,
a Oscoforia parece ter sido um rito de passagem que teve por padrão mítico a
história de Teseu e Ariadne, que se liga ao deus Dioniso. Este deus está
presente na peça:
37
associa ao feminino, por darem, ambos, origem à vida, mas também no fogo
dos velhos do coro , pela imagem do jorrar do vinho puro como fogo líquido,
ou a efervescência do sangue46;
mas que, dessa vez, será apaziguada por Diallagê, „Reconciliação‟, que faz
Os outros deuses
na peça, no final do agón, dos papéis feminino e masculino, pois Zeus, que é
homem.
termos de união dos sexos, pois Ártemis e seu irmão gêmeo, certamente
irresistível até mesmo para o deus da guerra, Ares, que é seu amante, e que não
é citado, mas o contexto da peça o pressupõe.
49
Dillon, M., “By gods, tongues, and dogs: the use of oaths in Aristophanic comedy”, G & R, 1995, pp. 135.
39
Paradigmas míticos
As Amazonas
seu poder, não há pilhagem e elas prestam contas de como o dinheiro será
administrado (vv.488-96);
50
Op. cit. 178-204.
40
equivaleria a matá-lo;
mulheres como habilmente conduzidas para a tirania (v. 630), mas Liberatropa
militares;
homens a ela, que ele diz serem percebidas a partir da menção ao fogo de
Lemnos (v. 299), pois se o crime das mulheres dessa ilha foi o pior dos crimes,
Pelo menos dois estudiosos vêem o mito e o rito acima referidos como
estruturas embrionárias para os planos de Lisístrata levando-se em
41
consideração que Aristófanes teria escrito uma peça chamada Lemniai51, são
que se segue é formado de acordo com o dele, mas, as lacunas existentes são
Mito Festival
a) Afrodite, ofendida, por alguma razão, a) a pungente erva arruda tem um emprego no
odor fétido;
d) o rei Toas foi o único homem que d) há a conjectura de que havia uma apopompê
não foi morto, pois sua filha Hipsípile como a da Skira, na qual o sacerdote de
ginecocracia;
51
Cf. Ehrenberg, V. The People of Aristophanes, 1951, p. 376.
52
Op. cit., pp. 178-204.
53
Martin, R., “Fire on the moutain: Lysistrata and the lemnian women”, C A, 1987, pp. 77-105.
42
em um festival licencioso;
i) tal festival envolvia jogos nos i) havia jogos com uma veste como prêmio;
j) a cidade onde isto ocorreu foi chamada j) as duas principais cidades de Lemnos eram
a) Cheiro ruim. Na peça, que é uma das mais odoríferas das comédias
de Aristófanes, nos termos de Martin, pois traz todas as formas dos verbos ozô
e osphrainomai (vv. 687, 616, 663, 943, 206, 618); os cheiros acentuam a
associam ao alho; elas, por sua vez, dizem exalar cheiro de mulheres
da Acrópole;
Anagirunte;
tipo de sacrifício feito aos mortos, e ele sela o juramento que conduz à
poder pelas mulheres, quando elas tomam a Acrópole, que simboliza o centro
político de Atenas.
com a chegada dos espartanos e dos próprios maridos jovens atenienses, que
próprios homens de Lemnos são os que trazem o fogo de fora para o interior da
ilha.
espartano, que primeiro é visto como uma lança (v.985), para depois se tornar
um bastão de arauto (skytalê), que é enviado para discutir a paz (v.991).
44
“vestimenta com forro de pêlo de ovelha”, pela livre khlaina (v.1155 s); a
reunião de homens e mulheres começa com a reposição das vestes dos homens
os planos das mulheres têm efeito sobre a família, e a cidade é tida como uma
feminina, pois seu nome tem “mirto” no radical, e mirto e palavras com a
era a planta sagrada de Afrodite, usada nas coroas dos pares nupciais. A
do local ou a uma planta que do mesmo modo exala odor fétido; Mirrina
também era o nome da sacerdotisa de Atena Nikê em 411 a.C. em Atenas; esse
nome tão comum (Mirrina ou Mirina) era também o de uma Amazona, o que
faz lembrar que a razão do atraso de Buquerina foi o fato de não encontrar o
seu cinto (v.72), e o cinto da rainha das Amazonas era procurado por Héracles
Hípias era Mirrina. Assim, parece que Aristófanes pode ter jogado com todas
essas indicações, pois todas elas são possíveis na peça.
45
nos confins da Ática, que tem o ponto exato em lykopodes („pés de lobo‟), o
real nome que os Alcmeônidas se davam, durante seu exílio naquele local.
ss): o Melânio do canto dos velhos (vv.785-96) é uma figura efébica e tem
recusa a largar a caça e seguir uma vida normal, e o elogio dos velhos à atitude
afastamento da sociedade, por ódio, mas não de todos os homens, somente dos
perversos como estes do coro, e ele era muito amigo das mulheres (v.820), a
personagem importante faz com que a parte ritual seja fundamental na peça, e,
continua ele, se a comédia grega for considerada não como algo alheio ao
„drama social‟ que se estende do culto real à arte literária”, seria mais fácil
por trazer duas máscaras distintas e a parábase ser um quase-agón, além disso
a comédia antiga teria, segundo ele, partes ritualísticas dentro de sua própria
kômos56.
de ano. “Quatro alegres vacas eram dirigidas uma após a outra para dentro do
santuário de Khthonia, onde elas eram sacrificadas por mulheres velhas usando
são todos, afirma Bowie, desvios da prática normal e que caracteriza este rito
Mulheres espartanas
as das outras cidades gregas; três itens, afirma Powell58, mostram isto: 1) a
posição financeira dessas mulheres elas possuíam seu próprio dote; 2) seu
exercício físico fora de casa as mulheres eram treinadas da mesma forma que
abertas nos lados, que deixavam suas coxas a mostra quando elas marchavam,
estavam ausentes, pois tudo indica que eram as mulheres e não os velhos que
58
Powell, A., Athens and Sparta: constructing greek political and social history from 478 bC., 1988, pp. 214-
246.
48
4);
suas odes, e no canto final (v.1296 ss), notamos a assimilação desse coro
pode ter influenciado o retrato das mulheres da peça nas espartanas, bem como
59
Le Corsu, F. Plutarque et les femmes dans les vies parallèles, 1981, pp. 15-20.
60
Id. ibidem.
49
realística dos efeitos de paz e de guerra, não na colheita, mas na vida humana.
casamento, ou a mistura dos dois. A paz era concebida então como a união da
devastação física, que era infligida de preferência na terra e seus frutos do que
humano para o plano agrícola pode ser visto no comentário terno de Trigeu
sobre suas vinhas arruinadas em termos que poderiam ser aplicados a crianças.
com Esparta e unidade interna em Atenas. Embora não fosse obrigado a isso,
Aristófanes aceita as restrições físicas impostas por sua cidade na peça; mas
ele não abandona inteiramente sua primeira formulação, pois, nas outras peças,
Aristófanes dotou pelo menos um corpo feminino com uma mente não
meramente igual mas superior a dos homens da peça. Liberatropa tem estatura
de uma heroína trágica, mas ainda que um tal modelo positivo feminino tenha
63
Cf. Ibidem.
51
1124/5:
sem resistência diante da verdade, que condiz com a sua vocação sexual para
receber em si. E, como Dezotti65 lembra, a mulher, desde Pandora, era ligada
intermediação:
(431; 1107);
(v.1114 ss);
(767 ss);
além de ser contraposta às peças de paz, Acarnenses e Paz, deve também ser
64
Sissa, G., “Filosofias do género: Platão, Aristóteles e a diferença dos sexos”, in: História das mulheres no
Ocidente, v.1 A antigüidade, 1993, 79-123.
65
Op. cit., p. 08.
52
Lisístrata, quando se faz diversas críticas aos decretos dos homens e suas tolas
Pluto são uma inovação se comparados aos das peças anteriores a 411a.C.
Dillon nos diz que mesmo os temas familiares das primeiras peças são
esp. 640-47);
c) a guerra tem um foco mais realista, pois a sua causa não são mais
66
Art. cit., 1987, pp. 97-104.
53
97); até o inefável é quase dito, quando Liberatropa é cortada, em sua fala,
Aristófanes pelo fim da guerra do Peloponeso, porém ela nos adverte que a
trégua (Cf.Tucídides, 8, 53, 1-54, 2), mas que isto nada prova quanto às
intenções do poeta. E afirma que, sendo o riso “uma força criativa que revela a
67
Milanezi, S. “Introduction”, in: Aristophane, Lysistrata, 1996, pp. VII-XXIX.
II. O plano de ocupação da Acrópole de Atenas.
que deixa para segundo plano a realidade do dia-a-dia, embora esses dois
real devido a “um raciocínio silogístico, cuja conclusão lhe serve de chave para
68
Thierchy, P. Aristophane: fiction et dramaturgie. Paris, 1986, p.13.
69
Id., ibid., p. 93.
55
Este prólogo é diferente dos das peças anteriores, pois ele não segue o
seguirá, para a audiência, mas, ao contrário, ele vai se ampliando aos poucos.
dos espectadores, permite que se veja uma gruta pouco profunda.71 O prólogo
(vv.1-253) é composto de uma única cena, mas ela pode, segundo Mazon, ser
pé da Acrópole, pela manhã, à espera das outras mulheres que ali ficaram de se
reunir, e que, aos poucos, vão chegando; a segunda parte (vv. 97-180) é uma
unam para acabar com a guerra e assim forcem seus maridos a voltarem para
casa. Elas, no início, recusam o plano de greve de sexo, mas acabam aceitando;
seu plano acaba de ser executada: a tomada da Acrópole pelas mulheres mais
velhas.
70
Id., ibid., p. 100.
71
Cf. Mazon, P. Essai sur la composition des comédies d’Aristophane: Lysistrata. Paris, 1904, pp. 111-125.
56
sinais de impaciência pelo atraso das outras mulheres, e demonstrando que não
muito cedo).
era aberto apenas um dia por ano. No entanto um seleto colégio de mulheres
dionisíacas.
nomes significativos das duas interlocutoras, que aparecem, pela primeira vez,
para os espectadores.
57
filho pequeno, estendendo essa última tarefa em três ações: fazer dormir,
Então a líder das mulheres fala para Vencebela que faz o papel de
bufão no prólogo todo da importância do assunto que tem a tratar com todas
que serve para demonstrar a visão de Aristófanes no que diz respeito ao gosto
das mulheres pelo sexo. O assunto do encontro é algo grande, mega, que pode
Liberatropa admite, logo se reuniriam. Mas é algo que foi investigado por ela e
agitado por muitas insônias, o que leva Vencebela novamente a uma confusão:
necessário agitar tanto. Mas então Liberatropa toma a palavra da amiga para o
que lhe convém, é algo muito delicado, que exige muito cuidado, a ponto de
o que foi afirmado por Liberatropa, pois, segundo seus projetos, ela se refere
72
Cf. Henderson, J. Lysistrata, commentary (ad loc.).
58
ao corpo das mulheres e às suas ações. E então ela amplia o grupo de mulheres
(33-35, 39-40).
são tais aparatos mesmo que irão salvar a Grécia, e, numa rápida exposição,
femininas.
para o encontro. Liberatropa faz uma crítica ao povo da Ática, que faz tudo
indiscreto de Vencebela (que pode ser vista como o símbolo do vinho velho).
Buquerina, que traz no nome algo de odor e de sexo, embora não se esclareça a
qual dos dois grupos ela pertença, é a única a falar. Desse modo mostra-se
número de três pode ser para contrapor às três áticas. Contrastando com o
59
certamente, ela não estaria atrasada para o encontro. Sua beleza física é
diferenciada nas duas cidades Atenas e Esparta. As outras duas mulheres são
personagens mudas, uma vez que quatro atores que falam já estão em cena73.
Pilo, cidade da Messênia, que havia sido tomada pelos atenienses desde 425
73
Cf. Macdowell, D.M., “The number of speaking actors in old comedy”, C Q, 1994, pp. 325-35.
74
Cf. Silva, Alberto P. Lisistrata (ad loc.).
60
a.C. (Tucídides 4, 2-41) e foi recuperada por Esparta em 410 a.C.75. Pilo
significa “porta”, e, pela conotação sexual desta palavra na peça, bem como o
seu emprego nas cenas finais com Reconciliação, ela também afirma o papel
batalha, toma o escudo (expressão que certamente alude ao sexo, cf. hyssakos)
batalha.
brasa de um amante foi deixada, já que os falos de couro, olisboi, não estavam
-Vencebela diz que empenharia seu vestido para beber o saldo naquele
gosto das mulheres pela bebida , mas ela faz o papel de bufão no prólogo
todo e, assim, não diz nada de sério. Reafirma-se a sua simbologia do vinho;
sido cortada ao meio, como um linguado peixe que tem os olhos e a boca em
75
Cf. Milanezi, S. “Introduction et notes” (ad loc.).
61
uma única face. Os pactos solenes eram feitos entre as partes de uma vítima,
mas aqui o risível está na vítima ser um peixe, considerado animal profano. O
-Lampito diz que escalaria o Taígeto, se dali pudesse ver a paz, o que
como faz uma ligação ao canto final da peça, atribuído a um espartano, que
tratado com elas, que, de qualquer maneira, inclui, ou melhor, exclui o que
numa cena quase trágica, no que transparece o apego das mulheres ao sexo.
sexo muito mais que os homens, e comprova isto, contando que as tradições
mitológicas narram uma lenda em que, de acordo com ela, Zeus e Hera
outras encarnações, tanto homem quanto mulher. E sua resposta foi que, nas
apenas um décimo.76
mulheres também o fazem. Elas agem sobre o plano familiar e sobre o plano
obedecem então aos mesmos princípios. É por isso que só mulheres casadas
amor conjugal que está em questão, e as mulheres sabem bem que seus
maridos podem tomá-las à força, mas que eles jamais terão prazer, se elas não
lhe garante que isto também já fora providenciado, pois as mulheres mais
reunir com as esposas mais jovens, Liberatropa demonstra que tinha certeza da
aceitação das mulheres, i.e., ela confiou em Lampito para que as outras
aceitassem. Nota-se então que os seus projetos foram arquitetados bem antes
do começo da ação, assim, o que vem a público não é todo o seu plano, pois
não se sabe o que ela poderia ter tramado com as mulheres mais velhas, uma
76
Thiercy, P. Op., cit., p.218, nota 62.
63
vez que, para elas, os motivos para desejarem a paz seriam outros que os da
mulheres jovens, i.e., a volta dos maridos para casa. Liberatropa se alinha
melhor com as mais velhas, que são as responsáveis por toda a ação política,
plano. Mas de que modo jurariam, i.e., o que iriam sacrificar? Com um escudo
cavalo branco (leukon hippon)? Não, nada de sacrifício com escudos e vítimas
sangrentas para uma questão de paz. Elas tomariam uma grande taça negra
pote trazido pela escrava cita, lá de dentro, elas o adoram e se referem ao pote
como a uma vítima do sacrifício e ao vinho como o sangue que jorra dela. Até
no primeiro elemento, mêlos, o nome da vítima real, uma ovelha. Seu sentido
literal é “degolar uma ovelha” “oferecer uma ovelha em sacrifício”, mas, nessa
77
Cf. Henderson, J. “Older women in attic old comedy”.TAPhA, 1987, pp. 105-129.
78
Gardner, Jane F. “Aristophanes and male anxiety - the defence of the oikos”, G & R, 1989, pp. 51-62.
64
selarem o acordo com a decisão da guerra pela luta singular entre Menelau e
mulheres mais velhas acabavam de tomar a Acrópole. Lampito parte mas deve
que vai com as outras mulheres se reunir com as que tomaram a Acrópole, para
65
recusariam aos maridos se eles não estavam em casa. E ainda mais, se somente
outros meios de satisfação sexual. Strauss chama a atenção para a ausência das
conseguiriam uma mudança política tão radical de seus maridos, já que elas
alado das Aves, ou dos personagens divinos de Paz, tendem a ser percebidas
por alguns estudiosos como incoerência dramática. Porém uma leitura mais
apurada do texto original, vai demonstrar que o maravilhoso, que é uma faceta
mas que também, como não poderia deixar de ser, muito entrelaçada ao
da percepção de Aristófanes.
79
Strauss, Leo, Socrate et Aristophane, 1993, pp. 247-270.
66
uma divisão perfeita dos versos para a evolução dos dois planos, a tomada da
e de inversão ou ginecocracia.
2. A tomada da Acrópole
dos homens à Acrópole, e ela, como se já soubesse do que eles iriam tentar, diz
que não há tão grandes ameaças ou fogo que eles cheguem portando, para que
elas abram as portas (v. 250), a não ser se perjurarem. Com a expressão "abrir
através desse jogo de portas da Acrópole e porta das mulheres, com o emprego
do início da peça, nota-se que ele se desenvolve diante dos espectadores até
sabendo-se que a peça completa se compõe de 1321 versos. Mas, durante sua
sexo das esposas jovens, através dessa metáfora que faz da Acrópole o seu
somente sua ação é que torna isso possível, será mais apropriado o termo
guerra ou de sexo.
especial, porque ela é restritiva a Atenas. O fato de a cidade está sem homens
jovens é o motivo pelo qual as jovens esposas estão fazendo greve, e o poder
de Atenas está nas mãos dos homens mais velhos. Assim o coro de Lisístrata é
(Strymodôros), que é nomeado nos vv. 258-9, o que indica que ele não canta
com os outros, e que é o corifeu que já pronunciou os dois versos (254 e 255)
quanto ao sexo, já que ele é composto por dois semicoros antagonistas e com
último esforço para chegar até a orquestra. O primeiro semicoro entra então
feixe de troncos de oliveira verde, e a sua fala, que exalta os feitos antigos de
80
Matz, David., “Ensuring that the flea wears wax slippers when teaching Aristophanes”, C J, 1991, pp. 55-8.
81
Op. cit., pp. 111-125.
82
Cf. Erenberg, V. The people of Aristophanes: a sociology of old attic comedy, 195, pp. 297-317.
69
rebeldes que ali estão instaladas. E o segundo semicoro desfila, por sua vez, na
de ódio e de guerra para excitar ainda mais o ardor de seus coristas (vv. 281-
Acrópole, o que expressa a lenta caminhada dos velhos em contraste com o seu
conjunto sobre a panela e recuam cegos pela fumaça que dali escapa no mesmo
supra).
tetrâmetros iâmbicos). Ele depõe o pesado sarmento que trazia sobre o ombro,
para forçar as portas. Os coristas talvez sigam o corifeu só com os olhos, pois
nada indica que eles haviam se movido mais, quando o coro das mulheres
entra.
coro único, ou pelo menos, com uma só máscara. Os versos 319-320 (dois
entrarem no embate com eles. Assim, não parece que o coro das mulheres se
elas entram sem serem percebidas pelos velhos, uma vez que eles só se dão
conta de sua presença a partir do verso 352, quando a coriféia se dirige a eles.
temor das mulheres velhas em chegarem tarde e não poderem salvar as suas
amigas que estão na Acrópole, e conclamam socorrê-las com água, uma vez
que os velhos as querem queimar. Elas chegam portando vasos, que são
atraso delas é devido à confusão de gente na fonte para apanhar água, ainda
que elas tenham ido ali muito cedo (v.327). Assim, a demora não se deve ao
passo delas, pois como está expresso, elas voam (v. 321).
envoltório das flores também está ligada ao vinho; mas Krityla, que tem a
72
raiz ligada a krinô, que significa “separar”, “selecionar”, foi traduzida por
encontrem as outras, que estão na Acrópole, queimadas, mas que elas possam
ponto, pois, já que às mulheres jovens foi feito o apelo que os homens
voltariam para casa e elas não dormiriam mais sozinhas; às mulheres mais
velhas o mais importante deve ter sido esclarecido, que deveriam acabar a
guerra e fazer com que os homens parassem com suas más deliberações.
que Atena seja aliada das mulheres. Os velhos já haviam pedido um troféu à
deusa, i. e., a vitória sobre as mulheres. Atena, embora seja uma deusa
primeiro plano, é que ela seria partidária das mulheres. Pois, como Nicole
Loraux83 mostra, até o nome de Atena para a cidade é uma forma de excluir as
Aristófanes pelo nome “Tritônia” ou “Tritogêneia” mostra que ele quis pôr em
83
Op. cit., 1990, pp. 7-25.
84
Devereux, G., Mulher e mito, 1990., pp. 123-191.
73
segundo ele, Zeus poderia ter perdido o cordão umbilical. As outras referências
988 ss fala do desrespeito para com a deusa daqueles que cobrem o falo com o
correta; Cavaleiros 1189 afirma que foi ela quem determinou que se
surpreso e assustado, foge e se refugia nas filas de seu grupo. O coro inteiro
depois fazem face ao inimigo. Em sua fala, as mulheres mostram que não têm
nenhum ódio aos homens, como estes têm a elas, mas restringem seus insultos
aos homens perversos (v.350). Elas os chamam de impiedosos por eles estarem
com alusões obscenas. Tais características devem proceder dos concursos dos
74
kômoi, que percorriam as ruas e lançavam insultos aos passantes, uma vez que
este coro de Lisístrata é o único que traz duas máscaras distintas, tendo por
queixo, para que se calem, de quebrar a vara sobre elas alusão obscena,
apagar sua fogueira, com toda a conotação obscena que ela traz, e jogam a
água de seus vasos neles. Levando-se em conta que os vasos podem significar
“vaginas”, a água poderia ser urina, já que na cena seguinte, os velhos dizem
que suas roupas estão encharcadas como se eles tivessem urinado nelas. E as
nupcial era uma forma de purificação dos noivos, que, durante todo o ritual do
85
Cf. Cornford, F.M., Op. cit., pp. 27-28.
75
dos Dez, que formavam um Conselho, para tomar medidas urgentes, após a
na Ática.
das mulheres e sobre seu gosto por cultos exóticos de Sabázio, os quais tinham
„liberdade‟86
vem para a Grécia de Biblo e Cipro, e seu culto já estava bem estabelecido no
séc. VII a. C.. Em Atenas ele foi associado com Afrodite, mas não tinha
86
Cf. Henderson, J. Op. cit., 1987, Commentary (ad loc.).
76
políticas deveriam cessar , uma vez que o culto de Adônis podia expressar
as mulheres de Atenas87.
dia (v.387). Os dois cultos referidos pelo magistrado podem ser associados a
"viva Sabázio"(v. 388) evidenciam alegria, enquanto que o "ai ai Adônis" (v.
393) e o "batei-vos por Adônis" (v. 396) expressam dor, porém ambos indicam
incontinência do ódio dos homens pelas mulheres. Embora fique claro que,
87
Cf. Reed, J., “The sexuality of Adonis”, C A, 1995, pp. 317-346.
77
segundo os fatos, os homens teriam sido sábios em ouvir o sinal das mulheres,
no final de sua fala, o magistrado põe a culpa de tudo na licença delas. Esta
mulheres.
mulheres é muito maior ainda, pois aquelas do coro jogaram água neles, a
nelas. O que alude a outra incontinência dos velhos e também à sua impotência
resposta ao coro dos velhos. Dessa vez ele põe a culpa da licença das mulheres
de praticar adultério. E, ele afirma, que é dessas coisas que nascem tais
desígnios nas mulheres, i.e., eles mesmos as ensinam a serem maliciosas. Essa
unidade dos dois planos da peça, pois, atribuindo-se todas as ações femininas a
sua luxúria, ainda que se tenha em mente a ignorância dos homens dos
sua mulher, mas também à relação sexual entre um pênis pequeno e uma
dinheiro da polis estivesse acessível, eles não se deteriam por uma greve de
recai no ato de forçar (ekmokhleuô), que se repete por três vezes em dois
versos (429 e 430), e que, neste plano, substitui os termos para a relação
portas, não é necessário violência, mas bom senso e saber, i.e., o fim das
loucuras dos cidadãos, referido pelas mulheres do coro no párodo (vv. 442/3).
88
Cf. Henderson, Op. cit., 1991, pp. 93-99.
79
pode ter alguma relação com o número de atores falantes no palco). São
citas inteiramente.
do coro de velhos, as mulheres respondem que querem ficar quietas como uma
mocinha, sem "mover uma palha", o que traz uma alusão obscena, no emprego
89
Cf. Walbank, M.B. Art. cit., 1981, pp. 276-281. Ver também o capítulo I, item 2, supra.
80
Nesta peça o agón compreende dois elementos que não se encontram em outro
dois semicoros. É natural que ele comece com um breve diálogo entre os dois
que as mulheres são mais hábeis para guardar o dinheiro da Acrópole. Na sua
evidência de que Lisístrata foi representada nas Lenéias de 411 a.C. (ver
apoderarem do dinheiro. Mas que então não terão mais essa chance, pois as
condensado ainda.
mulheres em casa (vv.507-520), que estavam cientes das más deliberações dos
homens na Assembléia, embora estes não lhes permitissem abrir a boca. E elas
se preocupavam com o que eles inscrevessem na estela acerca da paz (vv. 512-
14) o que indica que elas se referem ao repúdio à paz de Nícias de 421 como
dos homens. Mas eles mandavam que elas fossem cuidar do tear, pois a guerra
90
Cf. Samons II, L.J., “The „Kallias decrees‟ ( I Gi 3 52) and the inventories of Athena‟s treasure in the
Parthenon”, CQ, 1996, pp. 91-102.
82
Quando então elas tomaram conhecimento de que não havia mais nenhum
seus desígnios, para apenas se ofender quando ela alude a que os homens agora
imediata daquilo que se disse. E ela manda que ele se cale. A partir de então se
Assim é que, através do pretexto do magistrado que diz não silenciar para
alguém que porta um véu na cabeça, ou seja, para uma mulher, Liberatropa
retira seu véu e o coloca nele, e uma velha entrega-lhe um cesto com o
material de tear, e mandam que agora ele passe a tear, que é o trabalho
Grego.
antode (vv. 541/2-8) tem a função de marcar essa transformação dos papéis,
que é um pedido à Liberatropa para que não enfraqueça “pois até agora vós
tendes uma boa navegação”, elas se dirigem a sua líder por andreiotatê, „a
(v.565), que, segundo ela e uma das velhas, tem o mercado ocupado com
apetrechos de guerra (vv. 555-564) o que indica uma confusão total na polis
Todo drama sempre envolve uma luta. O agón, junto com as cenas que
começar com uma querela ou luta que conduza tão rapidamente quanto
Lisístrata tem uma contenda entre dois semicoros e também uma luta
Aqui ele representa o antagonista. Próximo ao final do agón (vv. 589 ss),
Liberatropa faz uma séria e até patética descrição do que a guerra significa
esposa, mas o tempo das jovens donzelas é curto para encontrar casamento;
uma vez que passa, ela pode ficar sentada e observar presságios do amante que
91
Cf. Cornford, F.M., Op. cit., pp. 27-8.
85
inesperado para pôr o antagonista fora do palco. Ele nos lembra que no final da
primeira metade do agón (v. 530 ss.) as mulheres entregam um véu e um cesto
rei Penteu, antagonista de Dioniso nas Bacas, é vestido como mulher, antes de
isso, podemos recordar o rei Toas de Lemnos, que era tido como filho de
Dioniso e teria sido disfarçado nele, enquanto Hipsípile, sua filha, vestia-se
como uma Bacante, para livrá-lo da morte, mas também fazendo o rei
verso 614 ao 705, sendo o verso 659/60 exatamente a transição para um tom
92
Cf., Id., ibid., p. 36.
86
papel do coro na comédia antiga, uma vez que a parábase era por ele proferida.
segundo momento, de 411 a. C.(deixando Aves, 414 a.C., como uma transição
93
Duarte, Adriane da Silva, Palavras aladas: as Aves de Aristófanes, DLCV/U.S.P., 1993, pp. 192-3.
87
desse coro forçou o poeta a dar a sua parábase uma forma insólita: ela é
coro das mulheres). E o que em outras peças tinha sido o tema essencial dos
94
Cf. Id., ibidem.
95
Cf. Id., ibid., pp. 194-6.
88
explica o fato de que o coro cômico seja duas vezes o tamanho do coro trágico.
dois semicoros têm máscaras distintas: doze são homens, doze são mulheres.
uma máscara, ele afirma que o fato de tal coisa ser possível na comédia é um
Cornford97, de que, na mais antiga forma de comédia, o agón tenha sido uma
mulheres na Lisístrata.
96
Op. cit., p. 82.
97
Ibidem, pp. 85-96.
89
injúrias. Pois se supõe que o ritual original continha um combate entre duas
partes representando Verão e Inverno, com seus dois campeões, um deles era
apresenta o tipo original de coro, fica evidente que ela vai conter também uma
mais primitiva nesta peça, que os anapestos não eram uma parte importante da
antagonismo entre si, conseqüentemente, elas não têm um líder comum que
pela estrutura da peça em seus dois planos (Cf. Capítulo I, item 2, supra).
98
Ibidem.
99
Ibidem.
90
dez tetrâmetros trocaicos Mazon nos diz que é a única parábase em que o
queixam que é indigno que mulheres censurem cidadãos, que tagarelem sobre
guerra e que ainda os queiram reconciliar com os espartanos “em quem se deve
público, mas, desta vez, será para lutar que os velhos deixarão seus mantos, no
início (v. 615), suas túnicas em seguida (v.663). Mas com as mulheres parece
Carey100 sugere que elas removem só uma peça de roupa no verso 686,
e que, em 637, elas apenas põem seus vasos no chão, na preparação de sua
primeira estrofe lírica. Ele se justifica dizendo que não há paralelo na Comédia
embora seja uma representação cômica, não vida real, para todas as suas
mundo de fora. E amplia seu comentário na peça, afirmando que, mesmo que o
que não seria digno de censura neles, caso elas também chegassem à nudez
completa.
mesmo sendo mulheres, devem ser ouvidas, por trazerem melhores propostas
do que as atuais. E elas pagam a sua parte, fornecendo os homens para a polis,
enquanto que os velhos só dão prejuízo, tendo gasto os recursos da época das
domínio da tirania, esperem o pior da ação militar das mulheres. Este primeiro
plano, para ele, é preliminar à tomada do poder político pelas mulheres, pois o
100
Carey, C, “Notes: Aristophanes. Lysistrate 637”, JHS, 1993, pp. 148-9.
101
Strauss, Leo. Socrate et Aristophane, 1993, pp. 247-70.
92
com os espartanos, como fez Liberatropa. Tal ação iria requerer sigilo absoluto
limitado à greve de sexo. Seria então a mudança de regime uma proposta séria
de Lisístrata? Mas uma proposição séria seria compatível com uma comédia
total? Pois ele explica que, apresentando como ridículo não só o que é injusto,
102
Ibidem.
103
Ibidem, pp. 396-7.
III. O plano de greve de sexo.
desde o começo do párodo, mas foi aludido constantemente pelas imagens das
mulheres. O quadro agora será revertido, pois a greve de sexo ocupará a cena,
enquanto que a ocupação, que já fora completada pela vitória das mulheres
nela.
Aristófanes, vista, por muito tempo, com reservas pelos estudiosos mais
antigos. Mas, segundo Byl104, nesta segunda metade do século XX, os críticos
104
Byl, Simon, “La survie de la comédie d‟Aristophane. Une face du miracle grec”, LEC, 1991, pp. 53-66.
94
geral, afirmam que Lisístrata é a peça mais obscena que já surgiu no teatro,
mas exprime o amor da paz e da vida, que só se perpetuam pelo amor físico e
pelo prazer retirado dele, e que o riso de Lisístrata manifesta a saúde vital dos
Em outro artigo105, Byl afirma que a obscenidade, que pode ser ligada
Reckford106 afirma, um até implica o outro, e neste plano, como nos genuínos
105
“La comédie d‟Aristophane. Un jeu de massacre”, LEC, 1989, pp. 111-126.
106
Reckford, Kenneth J. Aristophanes’old-and-new comedy, 1987, pp. 301-311.
95
dobrado.
exílio em Leipsídrion, como eles agora, por terem sido derrotados pelas
mulheres, surpreendentemente, feita pelos velhos, que dizem que elas são
hábeis nos trabalhos manuais, podendo até construir barcos para atacarem os
homens, como a rainha Artemísia, e são mais hábeis ainda na hípica, pois
tem um sentido ambíguo (v. 681): os "pescoços" podem ser os das mulheres,
obscena dos velhos com outra, que se refere a tosquiar, deixar o pêlo rente, que
pode significar castração, elas também retiram uma peça da roupa (vv. 687/8)
e os ameaçam de fazê-los parir como o escaravelho fez com a águia que punha
narra que o escaravelho vinga-se da perda de seus filhotes (ou da morte de uma
lebre) quebrando os ovos da águia, os quais tinham sido postos, por segurança,
no colo de Zeus; mas quando o escaravelho pingou uma bola de fezes no colo
do deus, sem pensar, ele saltou e espalhou os ovos. A moral é que não há
águias põem seus ovos durante uma estação em que besouros estão ausentes,
mas que também é uma óbvia alegoria de como um ser passivo e modesto
pode derrotar outro, forte e orgulhoso; assim, pode ser lida como um código
passagem. E isto é uma referência clara ao plano de greve de sexo, uma vez
serve para reforçar a idéia de que o plano de greve depende das espartanas e
suas aliadas, pois são as amigas das responsáveis pelo primeiro plano, as
mulheres mais velhas do coro, que afirmam não temerem os decretos dos
a) as mulheres:
107
Rothwell Jr., Kenneth. “Aristophanes‟Wasps and the sociopolitics Aesop‟s fables”, CJ, 1995, pp. 233-54.
97
conseqüências de seus próprios atos, elas querem voltar para seus maridos,
antes mesmo que se mostre algum indício do resultado da greve neles. Mas,
pelo que já foi visto, não poderia ser de outra forma, uma vez que as mulheres,
família; nesse caso, nada mais justo do que fazer da Acrópole a casa das
mulheres, o que era o outro plano delas. Também não se mencionam mais
Vencebela e outras mulheres citadas no início da peça, mas, entre as que são
98
conhecidas.
casadas, como nas Tesmofórias, tinham acesso, não sendo permitida a entrada
de homens.
das outras mulheres; sua prece a Afrodite e a Eros, no agón, para que eles
ereção em todos eles, apresentado após esta cena até o desfecho da peça, e que
se pode considerar como uma peste lançada pelos deuses, já que também não é
situação somente para as outras mulheres, como se ela não fizesse parte do
grupo.
que este episódio da tentativa de deserção das mulheres vem à cena do mesmo
das mulheres, que a interroga; e, ao declarar que as mulheres querem fugir para
para fugir; e uma terceira tramava voar sobre um pardal também um símbolo
categoria bem explorada pela Comédia em jogos obscenos, bem como pode
e mais precisamente por três, já que a quarta só acrescenta sua queixa sobre o
barulho das corujas: a primeira vem protestando que sua lã de Mileto se gasta
confirma o ódio cego dos homens pelas mulheres, enquanto que as mulheres
ponderam seu ódio aos homens perversos. Os dois cantos são seguidos de uma
espécie de pnigos rápido, que acompanha uma ameaça de luta entre os dois
coros, duas vezes terminada por um gesto obsceno, que relaciona o ato de
b) os homens áticos:
da Acrópole implorando por sua mulher, ela consente em descer para abraçar o
filho, que Penétrias trouxe nos braços de um escravo cita, para convencê-la a
isto. E, descendo até a gruta de Pã, Buquerina finge que vai ceder, mas o
abandona bruscamente.
história de Melânio, que vivia feliz longe das mulheres, longe do casamento,
Buquerina: que não tem mais prazer na vida desde o dia em que sua mulher
afirma que é um nome famoso entre as mulheres, e que Buquerina não o retira
ainda que Buquerina representa a vagina. Assim, é interessante notar que ela
da peça, pois não dá muita atenção ao que sua mulher pede, que os homens
parem de lutar e façam as pazes, mas responde que sim a tudo para conseguir
que Penétrias só fala quatro versos neste intervalo até a chegada dela; mas
Aristófanes pode também ter jogado com esse tempo. E quando Penétrias já
não aguenta mais, ela volta para dentro da Acrópole, deixando-o a gritar com
suas convulsões dolorosas. Antes disso ela o relembra das pazes, ele responde
que deliberará sobre ela. O que serve para ilustrar que a greve de sexo das
108
Mastronarde, Donald J., “Actor on high: the skene roof, the crane, and the dogs in attic drama”,CA, 1990,
pp. 247-94.
103
em toda a Grécia por um juramento, que ele não considerou, quando este foi
Então dá-se um dueto entre Penétrias e o coro dos velhos: ele, deitado
sobre uma esteira de juncos, atira gritos dolorosos num ritmo lasso. Os velhos
pelo coro de velhos, lança contra sua mulher uma maldição burlescamente
c) os homens espartanos:
Na segunda parte desta cena, pois não parece haver intervalo entre a
ele os sucessos da greve em Esparta. Eis que começa uma longa falofória, pois
na mesma situação. É a partir desse diálogo que Penétrias fica ciente da trama
(vv. 1007-8). Mas em Esparta a greve foi um sucesso, tanto que fez com que
de paz. Mas só assim seria possível uma negociação, pois Atenas não poderia
no mesmo ano.
Observa-se, desse modo, que este plano de greve de sexo não teria
que a paz se fizesse já estava sendo dado, pois os embaixadores das duas
a) o coro é hermafrodita.
dois coros inimigos e termina por uma vitória pacífica do coro das mulheres
(vv. 1014-42).
uma pura invenção de Aristófanes. Ele afirma que esses dois coros enquanto
separados se procuram o tempo todo, seja por ódio ou por desejo, e se reúnem
Então se pode supor que Aristófanes mostrasse, nessa época, uma preferência
109
Solomos, Alexis, Aristophane vivent, 1972, p. 184.
106
guerra:
Na realidade, foi o que ocorreu com ela, pois o episódio comentado no item 2
b expôs seu sacrifício de repelir seu marido, i.e., a metade de si. Talvez não
seja fantasioso supor que a idéia dos andróginos no Banquete de Platão tenha
tema e à ação da peça. Deve-se, antes de tudo, ter em mente que se trata de um
Assim, o que se tem são acúmulos de promessas que não se cumprem no final:
110
Wilson, Nigel, “Two observations on Aristophanes‟ Lysistrata”, GRBS, 1982, pp. 157-61.
107
o canto começa por anunciar que irão fazer e falar bem de todos os cidadãos, já
que os males presentes são bastantes, o que não se cumpre, pois, a partir daí,
o que só é dito desta forma talvez pelo caráter andrógino do coro, mas
Henderson112 nos diz que esta passagem é a mais direta indicação de que havia
(paz) impedida pela perversidade dos homens (guerra) no fim do discurso, pois
se afirma que, se algum dia a paz se mostrar, não será preciso restituir o que
outras alusões podem estar contidas nesta passagem, como o real descrédito de
Acrópole.
Esta primeira estrofe se liga à prévia promessa dos coros de não mais
se prejudicarem entre si, o que talvez seja outra promessa falsa, considerando-
111
A tradução é de Sousa, José Cavalcante, in: Platão, Diálogos, 1987.
112
“Women and the athenian dramatic festivals”, TAPhA, 1991, pp. 133-147.
108
casa, já que o anterior era a cidade, âmbito por excelência masculino, embora
muito tempo na sua casa furtassem seus bens (no oikos), para partilhá-los
com o possível amante, e que as visitas sem convites podiam ser vistas como
Então esse canto pode significar ainda, por suas diversas implicações
que assimila a Acrópole às mulheres. Assim, vê-se que seu entrelaçamento aos
planos da peça é tão denso que forma uma confusão, e, uma leitura menos
atenta faz parecer que este canto está quase fora da ação da peça alguns
b) a falofória é geral.
113
Op. cit., 1987, pp. 306-7.
114
Art. cit., pp. 51-62.
109
Uma longa cena em trímetros (vv. 1072-1188) nos faz assistir ao fim
Acrópole.
descrição do coro, parecem ter jaulas para porcos em torno das coxas, pelo
características masculinas e femininas: ela tem que ser “terrível e delicada, boa
e má, venerável e doce, multi-experiente” (v. 1109), para fazer com que os
árbitro das negociações entre eles. E assim ela traz a personagem muda
jovem servirá como um mapa nas discussões sobre colônias das duas cidades
mulheres no seu interior, pois ela é uma mulher com as cidades da Grécia em
seu corpo. Assim, até mesmo nessas imagens maiores, os planos estão
linguagem da polis a que os homens não atentarão, envolvidos que ficam pelas
partes genitais da moça, ao contrário das negociações com os velhos, que não
Malíaco, controlada pelos espartanos desde 426 a.C.; mas ekhinos significa
com o ânus Pilo ( de pylê „porta‟, cidade da Messênia, que ficou no poder
dos atenienses desde 425 a.C. e foi recuperada por Esparta em 410 a.C.) , e as
pernas dela Mégara ( a palavra skelê „pernas‟ está por teikhê, „muros‟) é
dividida entre eles, já que se trata de um par. Há a discussão de que toda esta
de qualquer maneira, eles foram os mais atingidos pela greve de sexo das
linguagem agrícola , que também seria uma violação, mas como só se trata de
115
Edwards, Anthony T., “Aristophanes‟comics poetics: tryx, scatology, skômma”, TAPhA, 1991, pp. 157-
179.
112
alimento, só que agora é o trigo em grãos, que também figura nos rituais e
sacrifícios feitos por mulheres, e o “pão substancial para ver” talvez se refira
significar a vagina, uma vez que o porco, por sua pele áspera, lembra os pêlos
púbicos das mulheres. E, no final deste canto, há a citação dos pobres que
devem tomar do trigo que será distribuído para eles na casa dos convivas, mas
eles não devem se aproxiamar das portas, pois ali há uma cadela de guarda.
Como a cadela foi utilizada diversas vezes, na peça, para significar o órgão
Das partes estudadas por Cornford, Lisístrata não tem sacrifício, mas
sua tocha. Com efeito ele os caça e talvez ponha fogo na peruca de um corista.
vinho, que faz com que eles fiquem mais sensatos em seu relacionamento com
para que ela permita a duração das pazes entre eles, e invoca a musa Memória
116
Griffith, R. Drew, “Architecture of a kiss: the vocabulary of kataglôttismata in attic old comedy”, GRBS,
1994, pp. 339-43.
114
pelo sacrifício de Ifigênia, feito por Agamêmnon para partir com a frota grega
também dançam. Tais moças parecem ser Febe e Hilaíra, conhecidas como
que os homens também são guerreiros. O caráter especial da ode é que canta
Castor e Pólux, Helena, que, pelo adjetivo agna, „casta‟, refere-se à virgem
poemas espartanos, dos quais alguns foram conservados até a nossa época, e
toma os ritmos de marcha, que eles executam pela flauta, quando atacam os
1303/4-11):
coro; e as moças poldras, que em Alcman, tem sua figura eqüina reiterada a
cada estrofe, com ênfase na condução do coro (o que nos leva novamente a
(...) eu canto
a luz de Ágido, vejo-a
como sol, cujo brilho
Ágido testemunha para nós;
a mim nem louvá-la
nem censurá-la a ilustre corega
de modo algum permite; pois ela
parece ser melhor, como
em meio a um bando, um cavalo
vigoroso, vitorioso, de passo sonoro,
117
Scarcella, Antonio M. Il messaggio di Aristofane e la cultura ateniese, 1973, p. 48.
117
povos indo-europeus, os ritos e lendas que têm por objeto os sexos na sua
a selvageria sexual, que deve ser domada através de ritos de iniciação. Dizia-se
das Sereias, “virgem” que tinha feito voto de castidade, mas que se apaixonara
por Mecíoco, e não querendo quebrar seu voto, cortou os cabelos, como forma
um cavalo para que ela morresse de um modo que se ignora, por ela não ter
expressar, através dessa obra, o que havia de belo na arte lacedemônia, e o fez
estas com o instinto guerreiro. Pois a peça toda funde o amor e a guerra, como
que esse coro, na parte lírica e fora dela, quer expressar algo dessa convivência
entre amor e guerra, que havia no espírito dos espartanos, já que Esparta foi o
118
Ghiron-Bistagne, Paulette, “Le cheval et la jeune fille ou de la virginité en Grèce ancienne”, C.Gita,
1994/5, pp.3-17.
Conclusão
da Grécia fazem uma greve de sexo, para forçarem seus maridos a acabarem a
Guerra do Peloponeso.
entrelaçamento das duas ações das mulheres nesta comédia. O tema central da
peça é a guerra dos sexos, já que as mulheres de Atenas declaram guerra aos
seus maridos, considerando-se que esta ação sexual tem uma maior função de
fase da guerra e uma função não menos importante de assegurar o riso a partir
do obsceno, que agora estava rejuvenescido com a nova mulher cômica, uma
vez que o sexo entre marido e mulher, praticamente, já não existia neste
de sexo, não representa apenas a recusa delas ao ato sexual puro e cru, mas a
toda a vida doméstica de que a esposa era parte essencial. O casamento é tido
120
administrar as coisas do lar que ela quer agora ser tesoureira dos bens da
Acrópole, uma vez que ela não é mal instruída, embora seja mulher, pois
ouvira os ensinamentos do seu pai e dos mais velhos, para que, como esposa,
perceba as más deliberações da Assembléia de que seu marido faz parte. Ela
também sabe que, no ato sexual mesmo, o homem não sentirá prazer nenhum,
seu início, 431 a.C., ou mesmo sete anos, a contar de 418 a.C, com o
com os espartanos e desfrutar sozinho dos prazeres que ela trazia; e como já
tinha enviado, quatro anos depois, Trigeu (Paz 421a.C.) ao céu para libertar a
guerra, trazendo de volta a fartura dos campos; agora, dez anos depois, o poeta
nível maior ainda, das ações das duas outras peças sobre paz um ato
nas duas outras, são homens que agem Diceópolis e Trigeu) em esferas
diferentes, está claro (o plano privado e o céu), mas em assuntos que lhes
competem (guerra e paz), assim seus temas não se tornam tão complexos
quanto o de Lisístrata, que, como Paz, quer uma paz pan-helênica e que, como
debatida por elas só a elas pertence, que é a misoginia de Eurípides, que revela
outra peça cômica traz mais pontos em comum entre suas mulheres e as de
mesmo do poder político, elas é que dariam as ordens daí por diante,
querem o poder, mas, os maridos de volta aos seus lares, de onde a guerra os
tinha levado. Assim é que, feita a sua tarefa que é “liberar a tropa”, Liberatropa
desaparece, voltando a ser uma das esposas silenciosas, enquanto que nas
da peça, pois o que elas fizeram foi uma revolução completa na sociedade, já
que nada do que os homens haviam feito deu certo. Então a questão não era
reúnem na Assembléia trata das más resoluções dos homens nas assembléias,
seu corpo. Mas essa nova imagem tem uma dimensão política maior, por
espartanos:
mulheres em suas invocações aos deuses (nai tô siô „pelos dois deuses‟, i.e.,
paz , e são os espartanos, que chegam para fazerem uma paz , sob quaisquer
dêmos; o mesmo verso se repete quase exatamente, quando ela recorda aos
125
Atenienses x Espartanos.
Atenas. O fato de que mulheres e espartanos apareçam juntos nesta função será
O que se pode afirmar de Lisístrata é que ela, antes de tudo, traz uma
(LIBERATROPA)TRADUÇÃO
Argumento I1
depois de convencê-las a jurar que não teriam relações com os maridos, antes
que eles parassem de guerrear entre si, despede as estrangeiras, que haviam
deixado reféns às portas; e ela, com as concidadãs, vai ao encontro das que
tinham tomado a Acrópole. Mas acorrendo velhos cidadãos com tochas e fogo
a usar violência, ela, tendo saído, os retém. Então, tendo eles sido repelidos e
sendo ela indagada com qual intenção elas fizeram tais coisas, Liberatropa
permitiriam que os homens fizessem guerra com ele, e, em segundo lugar, que
elas seriam muito melhores tesoureiras e logo fariam cessar a presente guerra.
ter conseguido fazer cessar tais coisas; mas os velhos, permanecendo, cobrem
as mulheres com injúrias. Depois disto, algumas delas são flagradas desertando
1
Dos oito manuscritos medievais que contêm o total ( R e Mu) ou grande parte ( os demais) do texto de
Lisístrata, os Argumentos I e II não se encontram em p. ( Cf. Henderson, J. Lysistrata: Introduction p.LI,
1987).
128
pedindo, elas se controlam. Chega um dos cidadãos, Penétrias, que não resistiu
à falta de sua mulher, que está atenta à reconciliação e, blefando, zomba dele.
claramente suas condições a respeito das mulheres. E tendo sido feito acordo
entre eles, enviam embaixadores com plenos poderes. Os velhos então, tendo
eles as levem para casa. Foi representada durante o arcontado de Cálias, após o
“liberar a tropa”.
Argumento II
Personagens da peça1
Lampito (La.)
Ateniense (At.)
131
Personagens mudas
1
A edição utilizada para a tradução é de HENDERSON, Jeffrey. Lysistrata. Oxford: Clarendon Press, 1987.
132
Liberatropa
Liberatropa
Eu te saúdo, Vencebela.
Vencebela
E eu a ti, Liberatropa.
maliciosas...
20 Li. Mas é que mais úteis do que estas, outras coisas havia
para elas.
Li. Grande.
40 as da Beócia, as do Peloponeso
Li. São essas coisas mesmas que espero que nos salvem,
Li. Mas, ó querida, verás que sem dúvida muito áticas elas são,
nem de Salamina.
de Acarne, chegam.
De onde são?
Li. De Anagirunte
Buquerina
136
cheguem.
Lampito
mas, coríntia.
de mulheres?
Li. Eu mesma.
La. Fala-nos
o que queres.
é preciso abandonar...
130 Bu. Por Zeus, nem eu, mas que a guerra continue.
Ve. Outra, outra coisa que quiseres. Até se for preciso, pelo fogo
Li. E tu então?
Mulher
Vota comigo.
se faria a paz?
nos arrastarem?
180 La. Tudo dará certo; pois eis que ainda falas bem.
Ve. Liberatropa,
nós?
Todas
os homens imediatamente?
do meu caminho
e socorre a deusa.
320 como fogo que arde; é preciso que nos apressemos mais.
e Colhida sufocadas
328/9 de argila,
ant. Pois tendo ouvido que velhos imbecis corriam para a cidade,
342/3 os cidadãos;
Cm. Por que nos temeis? Não parecemos ser muitas, suponho?
Cv. E por que, ó inimiga dos deuses, tu vieste aqui trazendo água?
Cv. Eu, para que tendo feito uma fogueira queime tuas amigas.
Cm. E eu, para que com esta água possa apagar tua fogueira.
Cv. Não sei se sem mais delongas te assarei com esta tocha.
Conselheiro
Por que estás com a boca aberta, ó infeliz? E tu para onde olhas,
ajudarei a forçá-las.
dispostos em ordem.
não há bílis?
Cm. Mas, ó meu caro, não se deve ao acaso levar a mão sobre
templo sagrado.
485 abandonando-o.
Co. Sim, sem dúvida, por Zeus, desejo saber delas primeiro isto,
as trancas?
Li. Para que salvemos o dinheiro e para que não luteis por ele.
façam
colocarão a mão.
Co. Vós?
Co. É funesto!
Co. Mas de onde veio a idéia de vos preocupar sobre a guerra e a paz?
Velha
os homens,
- pois vós não nos deixáveis abrir a boca, - no entanto não nos éreis
agradáveis mesmo.
160
estando,
assunto;
do tratado
meu marido;
vossa;
tão tolamente?”
E ele tendo me olhado com raiva logo dizia que se eu não tecesse
a trama,
522 se deliberáveis tão mal e nem nos era permitido vos aconselhar?
um outro dizia.
525 em comum
esperar?
Li. Cala-te.
e em seguida cala-te.
mascando favas.
virtude prudente.
550 avançai com ira e não vos molheis; pois até agora vós tendes
Afrodite
soprar,
em nossos maridos,
igualmente
coribantes.
560 arenques.
a cavalo
565 Co. Como vós então sereis capazes de reter tanta desordem
tomando-o,
outro,
570 outro.
em um banho
colônias,
distinguir que elas são para nós como novelos caídos ao chão
tendo tomado,
para o povo.
Co. Não é terrível que estas tratem tais assuntos com varas e novelos,
Caronte te chama,
695 como o escaravelho com a águia que punha ovos, eu te farei parir.
Pois não terás poder sobre nós, nem quando decretares sete vezes,
705 vos agarre por uma perna, e vos lançando quebre o vosso pescoço.
Cm. Ió Zeus!
Li. Por que gritas por Zeus? É assim mesmo que as coisas estão.
Volta aqui.
imediatamente a parteira.
M3 É um pequeno menino.
Li. Não, por Afrodite, não tens, mas antes pareces ter
Desejais vossos maridos talvez; mas tu não crês que eles vos
e as montanhas habitava;
e tinha um cão
a de Melânio.
<.................>
rápido.
Mulher
177
Li. Eu no entanto,
Penétrias
Pe. Eu.
Li. Um homem?
850 Pe. Em nome dos deuses, chama Buquerina agora para mim.
Li. Ó salve caro amigo; pois o teu nome não é sem glória
Desce aqui.
Criança
pai.
885 Pe. Para mim ela até parece bem mais nova
e tu mesma entristeces?
deixas estragar.
pelas galinhas?
e cessardes a guerra.
isto se faria?
915 Pe. Que para mim se volte; não te preocupes com um juramento.
Bu. Levanta-te.
nada.
184
Pe. Deliberarei.
965 alongado
em seguida, subitamente,
Arauto Lacedemônio
985 Pe. E é por isso que chegas trazendo uma lança sob o sovaco?
990 Al. Não, por Zeus, não; não fales bobagem outra vez.
De Pã?
1030 Cm. Bem, farei isto; mesmo sendo naturalmente mal humorado.
Cv. Por Zeus, tu me foste mesmo útil, pois há muito ele me escavava,
e vou te beijar.
Cv. Bem, azar para vós; pois sois por natureza bajuladoras,
1040 Mas agora faço as pazes contigo, e daqui por diante não mais
vos farei mal nenhum nem serei disto afetado por vós.
Coro
Embaixador Lacedemônio
Embaixador Ateniense
1090 Ea. Não só isso, por Zeus, mas sofrendo disto nos acabamos.
191
como embaixadores.
Coro Salve, ó mais viril de todas; eis que é preciso agora tu seres
El. Somos injustos; mas este ânus não sei dizer o quanto é belo.
El. Pilo,
pelo menos.
cada um se vá.
1197/8 bens agora em casa, e declaro que nada está tão bem selado
ant.2 os escravos
Ateniense
às alianças,
Ó virgem caçadora.
da doce tranqüilidade,
1295 Ea. Então mostra tu, após uma nova, uma outra canção.
às margens do Eurotas
e os cabelos se agitam
1316/7 Vamos, com uma mão contorna de uma fita a cabeleira e com pés salta
1320/1 E por sua vez a deusa toda guerreira, a do Templo Brônzeo, canta.
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