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Prefácio de Cromwell, Romantismo e A Dama das Camélias

Por: Felipe Costa Espíndola Mat.: 11513567

No prefácio de Cromwell Victor Hugo, notório escritor francês, discorre sobre o


desenvolvimento das narrativas e dos modos de representação em paralelo
com a evolução da própria humanidade. Para tanto, em seu ensaio, se utiliza
de um tom irônico e também reflexivo ao ilustrar o desprezo dos intelectuais e
críticos de sua época por prefácios e notas de rodapé em um gigantesco
prefácio, que é a sua obra.

Logo no Início do texto, Hugo nos alerta:

“O Drama que se vai ler nada tem que se recomende à atenção ou à


benevolência do público. Não tem, para atrair o interesse das opiniões
políticas, a vantagem do veto de censura administrativa, nem mesmo,
para conciliar-lhe de início a simpatia literária dos homens de gosto, a
honra de ter sido oficialmente rejeitado por um infalível comitê-de-
leitura” (HUGO, p.13).

Deixando claro que aquele é um texto que não tem aporte institucional nenhum
e que seu grande feito talvez é ter sido rejeitado por um grupo de intelectuais à
época e que, portanto o texto tem somente a si para se sustentar diante do seu
leitor. O que vem a seguir é um breve panorama e das humanidades e seus
enfrentamentos da realidade através da representação. Hugo faz isso também
caracterizando uma representação da própria humanidade nos traços do
desenvolvimento de um indivíduo, como juventude e maturidade.

Ao referir-se à juventude da humanidade, Hugo destaca a forte influência de


deuses na vida dos indivíduos e do senso de comunidade que os abarcam e o
quanto que isto serve para contrastar com a subjetividade europeia moderna
de seu tempo e os movimentos como romantismo. Em certa passagem, é dito
que para acabar com a vida de um homem nas sociedades antigas, era preciso
arrasar sua família, pois a noção de indivíduo era muito mais atrelada a uma
existência coletiva do que em sua época, para ele, nos primórdios da
humanidade sociedade é comunidade.

Depois de um tempo, muitas gerações, as esferas da sociedade vão se


tornando mais largas e aí então “A família vira tribo, a aldeia vira cidade, os
chefes de estado são agora pastores de homens e mulheres, seu cajado tem a
forma de um cetro (...) o dogma vem emoldurar o rito.” (HUGO, p.17). Os
deuses passam a ser substituídos pelas religiões, que dá seus primeiros
passos para exercer seu poder político também.

Aqui, a poesia épica e o caráter monumental dos gregos, retratando homens e


mulheres gigantes, em especial a obra de Homero, descrito como um dos
grandes nomes na Grécia antiga, é vista por Victor Hugo como ponto
importante para o desdobramento cultural no império romano, após sua
conquista “Roma decalca Grécia, Virgílio copia homero e como para acabar
dignamente, a poesia épica suspira dignamente nesse último parto” (HUGO,
p.19). Em paralelo a essa incorporação da cultura grega por Roma havia o
crescimento monumental da influência do cristianismo pelo império e é nesse
ponto que o autor se ancora para discorrer sobre uma das maiores invenções
do cristianismo:

“Nesta época (era do cristianismo romano), e para não omitir nenhum


traço do esboço o qual nos aventuraremos, faremos notar que, com o
cristianismo e por ele se introduzia nos espíritos dos povos, um
sentimento novo, desconhecido dos antigos e singularmente
desenvolvido entre os modernos, um sentimento que é mais que a
gravidade e menos que a tristeza: a melancolia.” (HUGO, p.22).

O peso da culpa cristã mais os avanços da filosofia e da ciência a partir de um


ponto de vista mais humano, numa época em que a teoria dos humores ainda
era levada em consideração pode ter sido crucial para este desenvolvimento
melancólico dos modernos, que pode estar sendo cada vez mais aprimorado
pela geração millenial tendo em vista que é cada vez maior o número de casos
de depressão, ansiedade e melancolia em jovens nascidos no século XXI.

Entender por que Victor Hugo atribui a criação da melancolia ao cristianismo e


ele literalmente fala isso, é tão importante quanto saber que os modernos
foram os que a desenvolveram. E isto ajuda em parte na compreensão do que
foram movimentos artísticos, políticos e filosóficos como romantismo e o
modernismo na Europa do século XVIII e XIX, a outra ponta vem da definição
longa e rica em detalhes das representações de grotesco ao longo da história.
O grotesco é a caracterização do disforme, do horrível, é o que propicia o
cômico e também o bufo. Seria talvez o grotesco o elo entre o drama,
observado por Hugo como um escapismo fantástico ou um modo de encarar a
dureza da realidade, o que é verdadeiramente humano. Em linhas gerais “O
grotesco é o descanso do belo (...) o sublime sobre o sublime dificilmente
produz contraste”. (HUGO, p.31). Esta aproximação entre grotesco e sublime
pode nos dar mais pistas sobre o drama inserido na modernidade romântica
europeia.

Obra chave da literatura francesa “A dama das camélias”, inaugura o


romantismo nas letras em formato de romance e dramaturgia e passeia
também por outros gêneros literários, sendo facilmente harmonizada a estes.
No drama com traços autobiográficos, escrito por Alexandre Dumas Filho conta
a história dos encontros entre um jovem estudante de direito e uma cortesã por
quem se apaixona. Há nesta narrativa elementos recorrentes no romantismo
como a idealização da figura da mulher, a mulher inalcansável, o personagem
narrador (no caso do romance) e uma grande reviravolta, na maioria das vezes
positiva, no fim da narrativa. No Brasil anos mais tarde, José de Alencar viria a
escrever Luciola, que a muito se assemelha em questões de narrativa com a
obra de Dumas, acrescido agora de um forte teor nacionalista.

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