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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES


Disciplina: História das ideias literárias
Discente: ...................

Resenha do texto “Do Grotesco e do Sublime”, de Victor Hugo

O texto “Do Grotesco e do Sublime”, escrito por Victor Hugo, aborda o desenvolvimento do
romântico na literatura por meio da apresentação detalhada e linear da criação e evolução da expressão
artística em conjunto com a existência humana. Em outras palavras, a poesia surge em paralelo com o
surgimento do homem, de modo a sempre acompanhá-lo e refletir acontecimentos da história humana –
organização social, guerras, surgimento de religiões, distintas nações e povos, impérios, etc. Compara-se as
fases da vida humana com as fases do desenvolvimento da poesia, sendo os tempos primitivos (infância)
representados pelo lirismo, os tempos antigos (idade adulta) pela epopéia e os tempos modernos (velhice)
com o drama.
Ao que o ser humano evolui, se transforma e se modifica, a poesia se transforma de modo conjunto; e
a partir do surgimento do cristianismo nos tempos modernos passa-se a explorar a relação entre corpo e alma
e a existência de dois conceitos antagônicos, mas complementares entre si: o sublime e o grotesco. O
sublime está ligado àquilo que está acima do homem, como a natureza, a luz, o celestial e a transcendência;
enquanto o grotesco relaciona-se com o ser humano em seu lado sombrio, o feio, o infernal, os vícios e
paixões.
O autor apresenta que “a poesia completa está na harmonia dos contrários”, deste modo, o homem
moderno representa uma junção balanceada entre grotesco e sublime, bem como de corpo e alma. Nas
palavras de Hugo, “é da fecunda união do tipo grotesco com o tipo sublime que nasce o gênio moderno”.
Neste sentido, ao considerar a coexistência dos dois lados, é destacado que ambos possuem grande
importância e, ao serem combinados, são capazes de produzir grandes e memoráveis obras.
Levando em consideração o grotesco, é possível destacar a passagem em que Hugo cita a tragédia
grega e sua naturalidade e originalidade, considerando a presença ocasional da comédia. O cômico e a sátira
possuem sua origem no aspecto do grotesco, o qual já estava presente na Antiguidade apresentando além
daquilo considerado “disforme” ou “horrível”. Como forma de contrastar com o aspecto sublime, aponta-se
o grotesco como um amplo leque de possibilidades à arte, trazendo a possibilidade de comparação e uma
oportunidade de nova perspectiva sob o aspecto do belo, tornando-o mais apreciável.
No que tange o contraste entre o grotesco e o sublime, Victor Hugo apresenta que o sublime
representa a alma “tal qual ela é”, por meio da pureza advinda da moral cristã; enquanto o grotesco
representa “o papel da besta humana”, um aspecto mais cru e inerente à humanidade fora das normas e
convenções sociais. Ao passo que o belo apresenta um único e simples tipo, o feio apresenta múltiplos e
multifacetados, se sobressaindo e se harmonizando com a criação humana como um todo.
A expressão humana por meio da arte é destacada ao que o autor discorre da relação constante entre a
humanidade e a poesia, onde as idades e eras andam em paralelo: a poesia divide-se em três idades que
possuem correspondência com épocas da sociedade. Os períodos primitivos associam-se aos líricos, fazendo
referências à eternidade e trazendo um caráter de ingenuidade, os tempos antigos associam-se aos épicos
solenizando a história e com um caráter de simplicidade, e os períodos correspondentes aos tempos
modernos apresentam a característica do drama, em conjunto com o caráter da verdade.
Ainda sobre o contexto histórico, Hugo também discorre acerca das diferenças no que tange os
personagens e temas abordados na literatura de cada período: a ode é marcada pela idealização vivida por
personagens como colossos, a epopéia apresenta aspectos de grandiosidade, vivida em histórias interpretadas
por gigantes, e o drama moderno centra-se nos aspectos da realidade, tendo como personagens figuras
humanas. Respectivamente, a bíblia, Homero e Shakespeare podem ser usados de modo a ilustrar cada um
desses três períodos, sendo fontes para suas épocas.
De modo semelhante ao que se observa até os dias de hoje, Hugo afirma que a sociedade expressa na
arte aquilo que vivencia, e que as fases do lírico, épico e dramático podem ser aplicadas a tudo na vida e na
natureza – haja vista o ciclo da vida onde nascimento, ação e morte ocorrem em tudo e todos. Nas palavras
do autor, a sociedade começa cantando seus sonhos, segue cantando sobre o que faz e por fim passa a pintar
aquilo que pensa.
Ademais, há ênfase no papel da ascensão do cristianismo na era moderna, tido como um responsável
em grande medida pela exploração da dicotomia entre grotesco e sublime. Ao passo que a religião difunde
as ideias de um ser humano bipartido em corpo e alma, em mortal e imortal, em sagrado e pecaminoso, em
bom e mau, cria-se o drama, e, com ele, uma forma de expressão poética completa e mais próxima da
realidade humana.
No que diz respeito à experiência de leitura e estudo do material, entende-se como uma leitura de
maior complexidade e dificuldade de interpretação, que requer uma leitura atenta e minuciosa. Apesar disso,
o texto é extremamente rico e de grande relevância para os estudos da disciplina, possibilitando uma visão
geral mais ampla da literatura e dos processos de formação e desenvolvimento de suas ideias ao longo da
História.

REFERÊNCIA:

HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime. Editora Perspectiva, 2004.

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