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Disciplina: Literatura Brasileira

Professor: Anísio Assis

Capítulo: Tendências CONTEMPORANEAS

Tópico: O Modernismo e o Brasil depois de 30

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O termo contemporâneo é, por natureza, elástico e costuma trair a geração de


quem o emprega. Por isso, é boa praxe dos historiadores justificar as datas com que
balizam o tempo, frisando a importância dos eventos que a elas se acham ligadas. 1922,
por exemplo, presta-se muito bem à periodização literária: a Semana foi um
acontecimento e uma declaração de fé na arte moderna. Já o ano de 1930 evoca menos
significados literários prementes por causa do relevo social assumido pela Revolução de
Outubro. Mas, tendo esse movimento nascido das contradições da República Velha que
ele pretendia superar, e, em parte, superou; e tendo suscitado em todo o Brasil uma
corrente de esperanças, oposições, programas e desenganos, vincou fundo a nossa
literatura lançando-a a um estado adulto e moderno perto do qual as palavras de ordem
de 22 parecem fogachos de adolescente.
Somos hoje contemporâneos de uma realidade econômica, social, política e
cultural que se estruturou depois de 1930. A afirmação não quer absolutamente
subestimar o papel relevante da Semana e do período fecundo que se lhe seguiu: há um
estilo de pensar e de escrever anterior e um outro posterior a Mário de Andrade, Oswald
de Andrade e Manuel Bandeira. A poesia, a ficção, a crítica saíram inteiramente
renovadas do Modernismo. Mário de Andrade, no balanço geral que foi a sua conferência
"O Movimento Modernista", escrita em 1942, viu bem a herança que este deixou: "o
direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e
a estabilização de uma consciência criadora nacional". Mas, no mea culpa severo com
que fechou suas confissões, definiu o limite abre parêntese historicamente fatal) do grupo:
"Se tudo mudávamos em nós uma coisa nos esquecemos de mudar: a atitude interessada
diante da vida contemporânea.(...)Viramos abstencionistas abstêmios e transcendentes.
(...) Nós éramos os filhos finais de uma civilização que se acabou, e é sabido que o cultivo
delirante do prazer individual represa as forças dos homens sempre que uma idade morre.
O experimentalismo estético dos melhores artistas de 22 fez-se quase sempre in
abstrato, ou em função das vivências de um pequeno grupo, dividido entre S. Paulo e
Paris. Daí o viés primitivista-tecnocrático de uns e o Verdeamarelismo de outros refletir,
ao menos na sua intenção programática, a esquemas culturais europeus: "art nègre", a
Escola de Paris, as idéias, ou as frases, de Spengler, Freud, Bergson, Sorel, Pareto, Papini
e menores.

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O processo de atualização das fontes leva, quando feito em um clima agitado de


polêmicas e manifestos, a potenciar o que a cibernética chama entropia, isto é, a uma
perda de conteúdos semânticos na passagem do emissor para o receptor da informação.
Este, faminto de novidade, não digere bem as mensagens: apanha-as lacunosamente e,
como age em situação de emergência teorizadora, deforma e enrijece os fragmentos
recebidos. É o que os "antropófagos" fizeram com Freud, já treslido pelos surrealistas; e
os homens da Anta com as posições mítico-nacionalistas de Sorel, Pareto, Maurras.
Mas a realidade, que tem mais tempo, é mais forte, mais complexa e mais paciente
que os açodados deglutidores. As décadas de 30 e de 40 vieram ensinar muitas coisas
úteis aos nossos intelectuais. Por exemplo, que o tenentismo liberal e a política getuliana
só em parte aboliram o velho mundo, pois com puseram-se aos poucos com as
oligarquias regionais, rebatizando antigas estruturas partidárias, embora acenassem com
lemas patrióticos ou populares para o crescente operariado e as crescentes classes médias.
Que a aristocracia do café, patrocinadora da Semana, tão atingida em 29 iria conviver
muito bem com a para nova burguesia industrial dos centros urbanos, deixando para trás
como casos psicológicos os desfrutadores literários da crise. Enfim, que o peso da
tradição não se remove nem se abala com fórmulas mais ou menos anárquicas nem com
regressões literárias ao Inconsciente, mas pela vivência sofrida e lúcida das tensões que
compõem as estruturas materiais e morais do grupo em que se vive. Essa compreensão
viril dos velhos e novos problemas estaria reservada aos escritores que amadure ceram
depois de 1930: Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo, Carlos Drummond de Andrade. .
. O Modernismo foi para eles uma porta aberta: só que o caminho já era outro. E, ao lado
desses homens que sentiram até a medula o que Machiavelli chamaria a nossa veritd ef f
ettuale, houve outros, voltados para as mesmas fontes, mas ansiosos por ver o Brasil dar
um salto qualitativo. Socialistas como Astrojildo Pereira, Caio Prado Jr., Josué de Castro
e Jorge Amado; católicos como Tristão de Ataíde, Jorge de Lima, Otávio de Faria, Lúcio
Cardoso e Murilo Mendes, todos selaram com a sua esperança, leiga ou crente, o ofício
do escritor, dando a esses anos a tônica da participação, aquela "atitude interessada diante
da vida contemporânea", que Mário de Andrade reclamava dos primeiros modernistas.
Enfim, o Estado Novo (1937-45) e a II Guerra exasperaram as tensões ideológicas; e,
entre os frutos maduros da sua introjeção na consciência artística brasileira contam-se
obras-primas como A Rosa do Povo, de Drummond de Andrade, Poesia Liberdade, de
Murilo Mendes e as Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos.

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Tópico: Dependência e superação

Reconhecer o novo sistema cultural posterior a 30 não resulta em cortar as linhas que
articulam a sua literatura com o Modernismo. Significa apenas ver novas configurações
históricas a exigirem novas estruturas artísticas.
Mas, se desviarmos o foco da atenção da ruptura para as permanências, constataremos
o quanto ficou da linguagem reelaborada no decênio de 20. A dívida maior foi, e era de
esperar que fosse, a da poesia. Mário, Oswald e Bandeira tinham desmembrado de vez
os metros parnasianos e mostrado com exemplos vigorosos a função do coloquial, do
irônico, do prosaico na tessitura do verso. Um Drummond, um Murilo, um Jorge de Lima,
embora cada vez mais empenhados em superar a dispersão e a gratuidade lúdica daqueles,
foram os legítimos continuadores do seu roteiro de liberação estética. E, mesmo a lírica
essencial, antipitoresca e antiprosaica, de Cecília Meireles, Augusto Frederico Schmidt,
Vinicius de Morais e Henriqueta Lisboa, próxima do neo-simbolismo europeu, só foi
possível porque tinha havido uma abértura a tôdas as experiências modernas no Brasil
pós-22. A prosa de ficção encaminhada para o "realismo bruto" de Jorge Amado, de José
Lins do Rêgo, de Érico Veríssimo e, em parte, de Graciliano Ramos, beneficiou-se
amplamente da "descida" à linguagem oral, aos brasileirismos e regionalismos léxicos e
sintáticos, que a prosa modernista tinha preparado. E até mesmo em direções que
parecem espiritualmente mais afastadas de 22 (o romance intimista de Otávio de Faria,
Lúcio Cardoso, Cornélio Pena), sente-se o desrecalque psicológico "freudiano-
surrealista" ou "freudiano-expressionista" que também chegou até nós com as águas do
Modernismo.
Em suma, a melhor posição em face da história cultural é, sempre, a da análise dialética.
Não é necessário forçar o sentido das dependências: bastaria um sumário levantamento
estilístico para apontá-las profusamente; nem encarecer a extensão e a profundidade das
diferenças: estão aí as obras que de 30 a 40 e a 50 mostram à saciedade que novas
angústias e novos projetos enformavam o artista brasileiro e o obrigavam a definir-se na
trama do mundo contemporâneo.

Tópico: Dois momentos

Não é fácil separar com rigidez os momentos internos do período que vem de 1930 até
nossos dias. Poetas, narradores e ensaístas que estrearam em torno desse divisor-de-águas
continuaram a escrever até hoje, dando às vezes exemplo de admirável capacidade de
renovação. Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Joaquim Cardozo, Vinicius
de Morais, Marques Rebelo, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Otávio de Faria, José
Geraldo Vieira, Tristão de Ataíde, Gilberto Freyre e Augusto Meyer, além de outros
falecidos há pouco ( Cecília Meireles, Lúcio Cardoso, Cornélio Pena, Augusto Frederico
Schmidt ), são escritores do nosso tempo; e alguns destes ainda sabem responder às
inquietações do leitor jovem e exigente à procura de uma palavra carregada de húmus
moderno e, ao mesmo tempo, capaz de transmitir alta informação estética.

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No entanto, rumos novos foram-se delineando depois da Guerra de tal sorte que, a esta
altura, já se percebem, pelo menos, dois momentos histórico-culturais no interior dêsses
quarenta anos de vida mental brasileira.
Entre 1930 e 1945 barra 50 , grosso modo, o panorama literário apresentava, em
primeiro plano, a ficção regionalista, o ensaismo social e o aprofundamento da lírica
moderna no seu ritmo oscilante entre o fechamento e a abertura do eu à sociedade e à
natureza ( Drummond, Murilo, Jorge de Lima, Vinicius, Schmidt, Henriqueta Lisboa,
Cecília Meireles, Emílio Moura...) Afirmando-se lenta, mas seguramente, vinha o
romance introspectivo, raro em nossas letras desde Machado e Raul Pompéia (Otávio de
Faria, Lúcio Cardoso, Cornélio Pena, José Geraldo Vieira, Cyro dos Anjos (...) : todos,
hoje, "clássicos" da literatura contemporânea, tanto é verdade que já conhecem discípulos
e epígonos. E já estão situados quando não analisados até pela crítica universitária. A
sua "paisagem" nos é familiar: o Nordeste decadente, as agruras das classes médias no
começo da fase urbanizadora, os conflitos internos da burguesia entre provinciana e
cosmopolita (fontes da prosa de ficção). Para a poesia, a fase 30 barra 50 foi
universalizante, metafísica, hermética, ecoando as principais vozes da "poesia pura"
européia de entre-guerras: Lorca, Rilke, Valéry, Eliot, Ungaretti, Machado, Pessoa ...
A partir de 1950 barra 55, entram a dominar o nosso espaço mental o tema e a ideologia
do desenvolvimento (310). O nacionalismo, que antes da Guerra e por motivos
conjunturais conotara a militância de Direita, passa a bandeira esquerdizante; e do papel
subsidiário a que deveria limitar-se (para não resvalar no mito da nação, borrando assim
critérios mais objetivos), acaba virando fulcro de todo um pensamento social. Renova-
se, simultaneamente, o gosto da arte regional e popular, fenômeno paralelo a certas idéias-
força dos românticos e dos modernistas que, no afã de redescobrirem o Brasil, também
se haviam dado à pesquisa e ao tratamento estético do folclore; agora, porém, graças ao
novo contexto sócio-político, reserva-se toda atenção ao potencial revolucionário da
cultura popular.

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Os resultados artísticos são desiguais, mas ficaram alguns excelentes poemas


recolhidos nas séries de Violão de Rua (3 vols.), alguns textos dramáticos de Ariano
Suassuna, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Dias Gomes, roteiros fílmicos e
algumas letras épicas de música popular.
Em contrapartida, a "guerra fria" e a condição atômica, que desde 1945 dividem o
mundo em sistemas e, já agora, subsistemas hostis, foram introjetadas pelas classes
conservadoras que empreenderam uma reação sistemática contra as áreas políticas e
culturais que encarnavam a linha nacional-populista. Na hora da provação, o pensamento
dialético procura desfazer-se dos equívocos que o confundiam na fase anterior e voltar à
análise das suas fontes teóricas.
Em caminho paralelo, progride o surto da mais recente metodologia ocidental: o
estruturalismo. Em conexão com esse método e, não raro, com os traços tecnicistas que
dele receberam os seus divulgadores, aparecem, a partir de 55, a poesia concreta, o novo
romance, pari passu com a aura mítica generalizada em torno dos meios de comunicação
de massa e certo difuso fetichismo da máquina, aliás compreensível se atentarmos para a
explosão industrial dos anos Sessenta nos Estados Unidos e na Europa, centros de decisão
para as elites sul-americanas. O áspero diálogo entre os ideólogos do Tempo e os
analistas do Espaço será, talvez, o fato cultural mais importante dos nossos dias.
A literatura tem-se mostrado sensível às exigências formalizantes e técnicas que,
por assim dizer, estão no ar. Um formalismo pálido, entendido como respeito ao metro
exato e fuga à banalidade nos temas e nas palavras, já se delineava com os poetas da
chamada "geração de 45", onde se têm incluído, entre outros, Péricles Eugênio da Silva
Ramos, Domingos Carvalho da Silva, José Paulo Moreira da Fonseca, Geir Campos,
Mauro Motta, Lêdo Ivo e João Cabral de Melo Neto.

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Coube ao último a tarefa e o mérito de ter superado os traços parnasiano-simbolistas que


não raro anemizavam a força inventiva dos demais, e ter atingido, pelo rigor semântico e
pela tensão participante, o lugar central que ora ocupa na poesia brasileira. Na ficção
(312), o grande inovador do período foi João Guimarães Itosa, artista de primeira plana
no cenário das letras modernas: experimentador radical, não ignorou, porém, as fontes
vivas das linguagens não-letradas: ao contrário, soube explorá-las e pô-las a serviço de
uma prosa complexa em que o natural, o infantil e o místico assumem uma dimensão
ontológica que transfigura os materiais de base.
Dos movimentos de vanguarda, o Concretismo e a Práxis, se dirá a seu tempo no tópico
dedicado à poesia.
As pontas de lança (João Cabral, Guimarães Rosa, vanguarda experimental) não
estão isoladas: inserem-se num quadro rico e vário que atesta a vitalidade da literatura
brasileira atual. Se o veio neo-realista da prosa regional parece ter-se exaurido no decênio
de 50 (salvo em obras de escritores consagrados ou em estreias tardias), continua viva a
ficção intimista que já dera mostras de peso nos anos de 30 e 40. Escritores de invulgar
penetração psicológica, como Lígia Fagundes Telles, Antônio Olavo Pereira, Aníbal
Machado, José Cândido de Carvalho, Fernando Sabino, Josué Montelo, Dalton Trevisan,
Autran Dourado, Otto Lara Resende, Adonias Filho, Ricardo Ramos, Carlos Heitor Cony
e Dionélio Machado têm escavado os conflitos do homem em sociedade, cobrindo com
seus contos e romances-de- personagem a gama de sentimentos que a vida moderna
suscita no âmago da pessoa. E o fluxo psíquico tem sido trabalhado em termos de
pesquisa no universo da linguagem na prosa realmente nova de Clarice Lispector, Maria
Alice Barroso, Geraldo Ferraz, Lousada Filho e Osman Lins, que percorrem o caminho
da experiência formal.
Enfim, caráter próprio da melhor literatura de pós-guerra é a consciente interpenetração
de planos (lírico, narrativo, dramático, crítico) na busca de uma escritura geral e
onicompreensiva, que possa espelhar o puralismo da vida moderna; caráter convém
lembrar - que estava implícito na revolução modernista.

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Tópico: A ficção

Os decênios de 30 e de 40 serão lembrados como a era do romance brasileiro. E


não só da ficção regionalista, que deu os nomes já clássicos de Graciliano, Lins do Rêgo,
Jorge Amado, Érico Veríssimo; mas também da prosa cosmopolita José Geraldo Vieira,
e das páginas de sondagem psicológica e moral de Lúcic Cardoso Cornélio Pena, Otávio
de Faria e Cydos Anjos.
Antes dos modernos, Lima Barreto e Graça Aranha tinham sido os últimos
narradores de valor a dinamizar a herança realista do século 19. Com o advento da prosa
revolucionária do grupo de 22 (Macunaima, Memórias Sentimentais de João Miramar,
Brás, Bexiga e Barra Funda), abriu-se caminho para formas mais complexas de ler e de
narrar o cotidiano. Houve, sobretudo, uma ruptura com certa psicologia convencional
que mas carava a relação do ficcionista com o mundo e com seu próprio eu. O
Modernismo e, num plano histórico mais geral, os abalos que sofreu a vida brasileira em
torno de 1930 (a crise cafeeira a Revolução, o acelerado declínio do Nordeste, as fendas
nas estruturas locais) condicionaram novos estilos ficcionais marcados pela rudeza, pela
captação direta dos fatos, enfim por uma retomada do naturalismo, bastante funcional no
plano da narração-documento que então prevaleceria.
Mas, sendo o realismo absoluto antes um modelo ingênuo e um limite da velha
concepção mimética de arte que uma norma efetiva da criação literária, também esse
romance novo precisou passar pelo crivo de interpretações da vida e da História
para conseguir dar um sentido aos seus enredos e às suas personagens. Assim, ao realismo
"científico" e "impessoal" do século 19 preferiram os nossos romancistas de 30 uma visão
crítica das relações sociais. Esta poderá apresentar-se menos áspera e mais
acomodada às tradições do meio em José Américo de Almeida, em Érico Veríssimo e em
certo José Lins do Rêgo, mas daria a obra de Graciliano Ramos a grandeza severa de um
testemunho e de um julgamento.
No caso do romance psicológico, cairiam as máscaras mundanas que
empetecavam as histórias medíocres do pequeno realismo belle époque (de Afrânio
Peixoto ou de Coelho Neto exemplo). O renovado convite à introspecção far-
se-ia com o, esteio da Psicanálise afetada muita veo pelas angústias religiosas dos novos
criadores (Lúcio Cardoso, Otávio de Faria, Cornélio Pena, Jorge de Lima).
Socialismo, freudismo, catolicismo existencial: eis as chaves que serviram para a
decifração do homem em sociedade e sustentariam ideologicamente o romance
empenhado desses anos fecundos para a prosa narrativa.
De resto, não estávamos sós. Passado o vendaval de ismos que sopraram a revolução
da arte moderna, tornou-se comum em toda parte uma ficção aberta à vida do uomo
qualunque, cujo comportamento começou a parecer bem mais fascinante que o dos estetas
blasés do Decadentismo. Difunde-se o gosto da análise psíquica, da notação moral, já
agora radicada no mal-estar que pesava sôbre o mundo de entreguerras. Na década de 30,
os romances de Dos Passos, de Hemingway, de Caldwell, de Faulkner, de Steinbeck, de
Lawrence, de Malraux, de Moravia de Vittorini, de Corrado Alvaro, de Céline, deram
exemplos de um realismo psicológico "bruto" como técnica ajustada a um tempo em que
o homem se dissolve na massa: são os romances contemporâneos do fascismo, do
racismo, do stalinismo do "new deal".

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Entre nós, verificava-se o mesmo: é ler Graciliano, Jorge Amado, Érico


Veríssimo, Marques Rebelo.
Ao lado das reações políticas, stricto sensu, há um retorno das consciências religiosas às
suas fontes pré e antiburguesas. Escritores cristãos como Bernanos, Saint-Exupéry, Julien
Green, Evelyn Waugh e Graham Greene nortearam a criação das personagens por uma
linha de conflito entre o "mundo" e a graça divina. Do realismo subjetivo que essa postura
em geral propicia deram então exemplo os romances dos já citados Otávio de Faria, Lúcio
Cardoso, Cornélio Pena e Jorge de Lima.
De um modo sumário, pode-se dizer que o problema do engajamento, qualquer
que fosse o valor tomado como absoluto pelo intelectual participante, foi a tônica dos
romancistas que chegaram à idade adulta entre 30 e 40. Para eles vale a frase de Camus:
"O romance é, em primeiro lugar, um exercício da inteligência a serviço de uma
sensibilidade nostálgica ou revoltada."

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