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RESUMO: O presente artigo visa abordar as poéticas de Jorge de Lima e Murilo Mendes sob a perspectiva da
crise e esvaziamento espiritual do sujeito na modernidade industrial do século XX e sua reconciliação com o
sagrado, ao considerar a poesia como um lugar crítico e uma experiência ética, vivencial e transformadora do
sujeito.
ABSTRACT: The presente article aims to examine the poetics of Jorge de Lima and Murilo Mendes from the
perspective of the crisis and the spiritual emptying of the subject in the twentieth century industrial modernity
and his reconciliation with the sacred, considering poetry as a critical place and as na ethical, experiential and
transforming experience of the subject.
KEYWORDS: Murilo Mendes. Jorge de Lima. Poetry. Crisis of the subject. Sacred.
Guavira Letras (ISSN: 1980-1858), Três Lagoas/MS, n. 26, p. 116-128, jan./abr. 2018.
econômica industrial, o sujeito vivenciou uma crise sem precedentes que o esvaziou psíquica
e espiritualmente, além de ter seu papel social subjugado a uma função meramente maquínica,
ao mesmo tempo em que seu futuro era penhorado pela moratória ilimitada dos juros.
Se por um lado o materialismo industrial impeliu o sujeito a lidar com os novos meios
de produção, obrigando-o a retornar sua consciência sobre si e a reinventar outros modos de
resistir ao servilismo massivo, por outro lado, o avanço tecnológico proporcionou a ele
múltiplas experimentações e expansões no campo da linguagem e da arte, desde o advento do
rádio, da fotografia e do cinema, por exemplo.
Ainda assim, em meio a esse conturbado cenário, é inegável que nossa experiência
cultural tenha sido sensivelmente empobrecida em meio à nova realidade, como salientou
Walter Benjamin em um ensaio de 1933:
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maneira é possível pensar essa crise do sujeito através da própria poesia, tomando-a, desde já,
em sua magnitude substancial e como experiência transformadora desse mesmo sujeito?
Assim sendo, a presente abordagem da poesia de Jorge de Lima e Murilo Mendes visa
examinar o modo pelo qual suas respectivas experiências poéticas foram movidas por essa
crise e mal-estar do sujeito em meio ao sucateamento cultural, a iminência do desastre, e o
esvaziamento moral.
Todavia, a partir dessa perspectiva, torna-se imprescindível verificar como ambas as
poïèsis foram forjadas através da tensão entre a negatividade profana e a espiritualidade cristã,
sendo vivenciadas tanto ao nível do corpo e substanciadas no plano da poesia, utilizando o
diálogo de Sören Kierkegaard e Georges Battaille como um substrato conceitual e teológico
sobre a dimensão da poesia moderna em consonância com a poética do sagrado em Jorge de
Lima e Murilo Mendes.
Em trecho retirado de uma entrevista a Paulo Mendes Campos 2, percebe-se que Jorge
de Lima demonstrava uma consciência muito clara sobre essa inquietude, com relação ao
papel do poeta e o poder de intervenção social da poesia, em meio ao advento da eletricidade
e da velocidade - espinhas dorsais da modernidade industrial – e as transformações
decorrentes que impactaram o mundo nas décadas de 20 e 30, sobretudo:
2
“A crise é de vida espiritual”, entrevista de Jorge de Lima ao Diário Carioca, Rio de Janeiro, 29/02/1948,
conforme LIMA (1997, p. 76).
3
Ver mais sobre o assunto em LIMA (1973, p. 109-113).
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atrelasse a um movimento ou instituição, ou comprometesse a liberdade individual de suas
posições. Em segundo por acreditarem que o cristianismo deveria estar, essencialmente,
voltado para uma consciência ou ética individual que se funda na relação com o outro (o
próximo) dentro da própria esfera social da vida comum.4
De modo semelhante à consciência do papel de poeta defendida por Jorge de Lima, em
carta à Laís Ribeiro datada de 9/4/1969, Murilo diz:
4
Para maior conhecimento, indico a leitura do livro Recordações de Ismael Nery, onde Murilo escreve uma
espécie de biografia do artista e amigo que, além de influenciá-lo na convergência entre as perspectivas
filosófica, existencial, estética e espiritual. Nesse livro, Murilo Mendes (1996, p. 65-84) explica como tomou
conhecimento da teoria essencialista de Ismael que, certamente, influenciou a concepção poética do poeta
mineiro, ao fundir a arte e o Evangelho.
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Parece, Senhor, que me desdobrei,
que me multipliquei,
que a chuva dos céus cai dentro de minhas mãos,
que os ruídos do mundo gemem nos meus ouvidos,
que batem trigo, chorando, sobre o meu tronco nu,
que cidades se incendeiam dentro de minhas órbitas.
Parece, Senhor, que as noites escurecem dentro de meu ser múltiplo,
que eu falo sem querer por todos os meus irmãos,
que eu ando cada vez mais em procura de Ti. (LIMA, 1997, p. 429).
Note-se aqui que o poeta revela a consciência do seu ofício diante do desastre ao
assumir a condição de estrangeiro e visionário - como aquele que habita a fronteira entre o
visível e o invisível, ao transcender da matéria ao espírito -, e o que incorpora a dor e o pranto
dos homens, ao clamar pelos exilados e excluídos, pelos condenados e oprimidos das cidades
em chamas. Ao mesmo tempo em que o seu corpo é a poesia que transfunde as chagas de um
mundo em queda, o poeta traz em sua palavra a escuridão internalizada do próximo, elevando
seu canto profético à procura de Deus, vislumbrando a poesia como a religião primordial da
humanidade. 5
É como se o corpo do poeta catalisasse o disforme e a contradição, superpondo os
planos e imagens a cada verso, assinalando o estilhaçamento e a angústia da condição humana
que deseja reconciliar-se com Deus. Assim, o corpo do poeta torna-se um receptáculo do
mundo e dos céus, ao expressar os dramas do homem moderno em sua busca pelo sagrado,
alinhando a ordem de intimidade com Deus à vida comum, quando a poesia passa a
compreender que tal alinhamento se dá pela fusão da imanência (pagã) à transcendência
(cristã), ao expandir a vida comum a uma perspectiva sobrenatural e supra real. 120
Em ambas as poéticas de Jorge e Murilo, ao mesmo tempo em que a relação entre o
sujeito e o sagrado é elevada a uma perspectiva transcendente, beatífica e sobrenatural, essa
dimensão é confrontada, ora pela violência, ora pela sensualidade, inscritas ao nível do corpo
e dos afetos. Tais manifestações não apenas configuram a condição humana em face da
finitude terrena, mas, sobretudo, traduzem as tribulações pelas quais o sujeito vivencia em seu
processo de reconciliação com Deus pela fé, desde a queda adâmica.
5
Ver mais sobre esse tema no livro Todas as religiões são uma só, em BLAKE (2007).
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A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia. (MENDES, 1994, p. 296-297).
Na primeira estrofe, o poeta reafirma sua conexão com o sagrado, sentindo-se como
fragmento do Absoluto. Como se o princípio divino da criação emanasse de Deus através da
sua poesia, o poeta sente-se parte integrante do enraizamento terreno, da volubilidade dos
mares e da abstração etérea dos astros. Em seguida, sob a perspectiva material, ele é a alma
vivente que se corporifica, se transforma e evolui, inteligível, refletindo os sonhos e desígnios
de Deus, que têm seu início em Adão, até culminar na plenitude e perfeição de Cristo.
Na última parte do poema, o poeta compreende que a vida humana, mesmo regida pelo
poder absoluto e sagrado de Deus, é o acirramento permanente entre o corpo e a alma, ao
sentir-se atraído pela beleza e sensualidade da carne dentro mesmo do templo de Deus.
Movido pela chama elementar do sexo, o poeta consubstancia toda a mecânica divina da
ordem do espiritual até a espessura visível e material da natureza humana, na ordem da vida
hodierna e comum, como sendo a essência da sua poièsis.
Sob a perspectiva da poesia moderna, houve um momento em que a crise moral e
espiritual do sujeito foi potencializada pela polarização entre a negatividade pagã e a
espiritualidade cristã, gerando uma cisão irreversível no ocidente. Acentuada pela
disseminação do gnosticismo, o qual tomou grande proporção, a poesia moderna reafirmou a
negatividade profana em detrimento do cristianismo, considerando, sobretudo, que este se via,
historicamente, enfraquecido como instituição. Evidentemente, é possível rastrear as marcas
dessa cisão desde a poesia romântica de William Blake e Novalis, passando por Baudelaire e 121
Nerval, até o surrealismo de Lautréamont e Bréton, já no século XX, quando estes quatro
últimos se aproximaram, declaradamente, da gnose, do ocultismo, e do agnosticismo. 6
Historicamente, esse processo assumiu proporções substanciais desde o Iluminismo à
era industrial, sendo, mais tarde, determinantemente corroborado pela crítica direta de
Nietzsche, Marx, Freud e Durkheim às instituições religiosas, principalmente ao catolicismo
apostólico romano. Some-se a isso o surgimento de uma mentalidade progressista forjada pela
lógica materialista e tecnocrata, o que acentuou ainda mais o esboroamento e a
descontinuidade do tempo e do espaço, visando desmontar a concepção da existência fundada
na totalidade metafísica do homem, do mundo e do cosmos em unidade com o Deus.
Assim, eis que o sujeito se viu, nesse momento, deslocado da concepção cosmogônica
e transcendente do sagrado, ao perceber a existência sob a perspectiva do corpo, pela força
instintiva do desejo em imanência com o mundo. Pois, ao passo em que esta totalidade
metafísica é rompida, o indivíduo se redescobre a partir de uma dupla acepção de ser ao
mesmo tempo sujeito e objeto, quando é separado da natureza e devolvido à imanência das
coisas finitas, de maneira que essa percepção o angustia, deixando-o terrificado. Assim,
acuado em sua finitude e desespero, o sujeito passa a criar sentido para sua existência
integrando-se ao mundo das coisas por meio do trabalho, em tensão com a ordem íntima da
matéria, que é por onde se passa sua relação com o sagrado.
6
Como demonstrou Raul Antelo, a partir de um ensaio sobre Murilo Mendes, ao trazer um trecho de uma
entrevista em que o poeta alinha as bases históricas e filosóficas da negatividade profana desde o século XVIII
até sua influência no surrealismo francês. Verificar em ANTELO, Raul. “Murilo, o Surrealismo e a Religião”
disponível em:http://www.cce.ufsc.br/ñelic/boletim8-9/raulantelo.htm.
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Por outro lado, ainda que o processo de industrialização tenha provocado efeitos
irreversíveis na concepção do homem ao acelerar o tempo e desdobrar os espaços, mantendo-
os simultaneamente interconectados, é o seu medo da morte que o angustia, na medida em que
a fragmentação do real o impede de apreender o sentido de totalidade de sua existência,
retirando a „ordem íntima‟ e sagrada que o reconciliava com o mundo.
Sobre a relação entre a negatividade e a poesia, Georges Bataille, em A literatura e
mal, afirma que a poesia moderna é marcada por um paradoxo que corresponde à natureza
humana mais profunda, ao expressar a essência dualista e dinâmica de nossa condição,
configurada pela tensão entre o bem e o mal, como ele exemplificou em vários poetas, com
destaque para William Blake e Charles Baudelaire. Segundo Bataille:
O sagrado é essa efervescência pródiga da vida que, para durar, a ordem das coisas
encadeia e que o encadeamento transforma em desencadeamento, ou, em outros
termos, em violência. Sem trégua, ele ameaça romper os diques, opor à atividade
produtiva o movimento precipitado e contagioso de um consumo de pura glória. O
sagrado é precisamente comparável à chama que destrói a madeira ao consumi-la. É
o contrário de uma coisa, um incêndio ilimitado que se propaga, irradia calor e luz,
queima e cega. (BATAILLE, 2015b, p. 44).
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Segundo ele, seja a melancolia ou a angústia, a depressão ou o desespero que histórica
e atavicamente atormentam o ser humano, todos esses males são apenas fluxos de um
processo existencial do sujeito em sua relação com o mundo, de modo que este mal-estar deve
ser visto como um processo de edificação da sua consciência ética, que só alcançará a
libertação por meio da fé e da elevação espiritual.
Todo conhecimento cristão, por estrita que seja de resto a sua forma, é inquietação e
deve sê-lo; mas essa mesma inquietação edifica. A inquietação é o verdadeiro
comportamento para com a vida, para com a nossa realidade pessoal e,
consequentemente, ela representa, para o cristão, a seriedade por excelência; a
elevação das ciências imparciais, muito longe de representar uma seriedade superior
ainda, não é, para ele, senão farsa e vaidade. Mas sério é, eu vo-lo afirmo, aquilo que
edifica. (KIERKEGAARD, 1979, p. 189).
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Junto de ti, homem, ser processional que só vês tua sombra,
pousa a mão no teu ombro o Anjo que te protege.
Mas, ora esvoaça à direita, ora esvoaça à esquerda
o grande e belo Anjo exilado da Luz.
Adiante de ti - perfurada e sangrando,
a mão do Redentor te aponta o caminho certo;
dentro de ti - seres anteriores a ti - luminosos ou negros
vão contigo e tua sombra.
Quando adormeces e ficas durante o sono - invisível e inocente,
e o livre arbítrio voa de teu cadáver,
a estranha procissão espera que tu te acordes
para prosseguir a marcha.
Por isso é que te cansas sem motivo nenhum.
Por isso é que andas de costas para o caminho certo.
Por isso é que tropeças e tateias como um ser sem leme.
Por isso quando pensas estar sobre o abismo do Inferno,
a mão perfurada e sangrenta te conduz para cima. (LIMA, 1997, p. 429).
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Minha história se desdobrará em poemas:
Assim outros homens compreenderão
Que sou apenas um elo da universal corrente
Começada em Adão e a terminar no último homem. (MENDES, 1994, p. 255).
Efetivamente, na poesia de ambos, essa negatividade humana não deve ser vista
apenas sob a perspectiva da tradição pagã, ao passo que ela está inserida dentro do contexto
adâmico do cristianismo, isto é, da queda e expulsão do Éden. Deste modo, na medida em que
a poesia naturaliza a irracionalidade dessa paixão e negatividade trágicas para o nível da vida
comum do sujeito, ela visa, dessa maneira, libertar o imaginário do racionalismo materialista
e ordinário, lançando-o ao maravilhoso e transcendente, isto é, consagrando esta tensão e
anseio pela promessa da vida eterna, sob a égide da natureza infinita de Deus, como se esse
conflito fosse parte do processo beatífico de reconciliação com o sagrado.
Sob a perspectiva teológica de Jorge e Murilo o cristianismo se passa, antes de mais
nada, na individualidade do sujeito e sua prática cotidiana com o outro. Mais do que um
substrato literário, o sentido da leitura do Evangelho requer sua aplicação vivencial, como
uma ética colocada em prática no convívio diário e social com o outro, em detrimento de
qualquer institucionalização dogmática e restritiva de seu conteúdo.
Sim, creio numa única, imensa, geral e verdadeira revolução: que é a Revolução de
Cristo, que apenas começa e em que as outras revoluções sociais sejam elas quais
forem, francesa ou russa, serão unicamente minutos dentro dessa eterna revolução, 125
que só terminará no dia do Juízo Final. [...] Trazendo à Humanidade, muitas vezes
distante da verdade, atrações momentâneas da vida, a realidade da Dor, a realidade
da Morte, que jamais será afastada da realidade de Cristo, que a todo o instante nos
espera, no final de todos os momentos. (LIMA, 1997, p. 96).
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direção a Deus pela fé. Todavia, trata-se da fé como uma decisão espiritual consciente, que
cultiva sua transformação ética ao nível das práticas comuns e cotidianas com o outro, e não
como um mero fideísmo.
Como disse o poeta Jorge de Lima, a consciência cristã está em saber que este
movimento será posto à prova todos os dias, como modo de fortalecimento da fé pelas
tribulações e compreensão de que esta luta engendrada no corpo e na consciência corresponde
à luta entre as potestades e as hostes celestiais, como na carta de Paulo aos Efésios (6:11-12,
Cf. BÍBLIA SAGRADA, 2011).7
Ainda em face dessa perspectiva, pode-se dizer que, além de serem movidas pela crise
e mal-estar do sujeito, as poéticas de Jorge e Murilo expressam essa visão cristã da existência
que compreende a vida terrena como um dilaceramento entre as forças do bem e do mal, ao
nível do corpo e da consciência. Guardadas as respectivas singularidades, ambas as poéticas
assinalam, sob a ótica teológica e beatífica, que a compreensão dessa luta e acirramento
corresponde à nossa própria transformação espiritual, isto é, à nossa metanoia, na medida em
que vivemos para superar a consciência secular, espiritualizando-a através da inquietude das 126
tribulações.
Pode-se dizer que na concepção poética de ambos a poesia deixou de ser um lugar
estético para ser cultivada como uma experiência onde o corpo e a linguagem se fundem
numa inscrição vivencial que já não delimita fronteiras entre a práxis e poièsis. Ou seja,
ambas as poéticas fundem a esfera ética e a dimensão estética, abrindo-se ao cultivo de uma
experiência cotidiana que transcende a esfera existencial e social, lançando-as a uma
dimensão universal, e reconectando o sujeito com o sagrado através dessa mesma experiência.
Em ambos é possível identificar uma radicalidade expressional marcada pelo
acirramento e pelos excessos que transformam o sujeito, de modo que o cultivo da experiência
poética seja visto sob a perspectiva desta crise e contradição que delineiam o sujeito moderno
e a poesia, como este fazer-se a si mesmo através de suas respectivas poièsis, e não por uma
busca ascensional do sagrado através da poesia.
Em síntese, a teologia cristã de ambos não está voltada para um ascetismo e
transcendência, em detrimento da carne reduzida ao signo do pecaminoso, mas a um
cristianismo que compreende a experiência humana a partir da tensão permanente entre a
queda, o instinto e o sentimento órfico, acirrados pelo desejo de reconciliação, transcendência
7
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.”
(BÍBLIA SAGRADA, 2011, p. 1548).
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e libertação em Cristo, de modo que esse acirramento esteja dialeticamente consubstanciado
no plano da poesia.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Laís Corrêa de. Murilo Mendes: ensaio crítico, antologia e correspondência. São
Paulo: Perspectiva, 2000.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
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BLAKE, William. Sete livros iluminados. Tradução de Manuel Portela. Lisboa: Antígona,
2007.
LIMA, Alceu Amoroso. Memórias improvisadas: diálogos com Medeiros Lima. Petrópolis:
Vozes, 1973.
LIMA, Jorge de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa - volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1994.
Recebido em 09/01/2018
Aprovado em 29/04/2018
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