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PROPOSTA DE REDAÇÃO 3- ARTIGO DE OPINIÃO

O GÊNERO 
No jornal, na revista, no periódico, na TV e no webjornalismo, artigo de opinião é um texto dissertativo ou expositivo que forma um corpo
distinto na publicação, trazendo a interpretação do autor sobre um fato noticiado ou tema variado (político, cultural, científico etc.). 
Ao contrário do editorial, que nunca vem assinado e traz sempre a opinião do veículo em que circula, o artigo geralmente vem assinado
pelo articulista e não reflete, necessariamente, a opinião do órgão que o publica. 
A estrutura composicional desse tipo de texto varia bastante (não é obrigatório que tenha uma estrutura canônica tradicionalmente
ensinada na escola: Tese inicial, Argumentação e Conclusão), mas sempre desenvolve, explícita ou implicitamente, uma opinião sobre o
assunto, com um fecho conclusivo, a partir da exposição das ideias ou da argumentação/refutação construídas.  
Em suma, a partir de uma questão polêmica ou não e em um tom/estilo de convencimento, o articulista (jornalista ou pessoa entendida no
tema) tem como objetivo apresentar seu ponto de vista sobre o assunto, usando o poder da argumentação, defendendo,
exemplificando ,justificando ou desqualificando posições. 
PROPOSTA 
Você deverá produzir um artigo de opinião para uma revista de circulação nacional.
Leia os textos de apoio a seguir, que servirão de suporte para o desenvolvimento da proposta, pois, a partir deles, você terá alguns itens
para construí-la. 
Imagine-se no lugar de um jornalista que, analisando diversas opiniões a respeito da nova ordem do atual prefeito da cidade de São Paulo-
João Doria- de apagar todos os grafites da cidade para torna-la mais limpa- resolve , então, escrever a sua opinião sobre o assunto, para que
seja divulgada em uma revista de circulação nacional na qual trabalha 
 
Um artigo de opinião, além dos elementos descritos anteriormente, apresenta outras características, como: 
• um título provocador ou reflexivo. 
• verbos predominantemente no presente. 
• linguagem objetiva (3ª pessoa) ou subjetiva (1ª pessoa). 
Você pode, ainda, utilizar alguns procedimentos argumentativos, como: 
• relações de causa e consequência. 
• comparações entre épocas e lugares. 
• retrocesso por meio da narração de um fato. 
• antecipação de uma possível crítica do leitor, construindo antecipadamente os contra-argumentos. 
• estabelecimento de interlocução com o leitor. 

Texto 1
Na penúltima edição da Bienal Internacional Grafitti Fine Art, realizada em
São Paulo, em janeiro de 2013, um dos convidados para a série de debates
promovidos pelo evento foi Paulo Mendes da Rocha, arquiteto e urbanista brasileiro
de prestígio internacional. Questionado sobre o que pensava sobre o grafite,
Mendes da Rocha, na época com 84 anos, afirmou: “Me parece a voz mais candente,
hoje, das artes gráficas em geral”.
Ao lembrar que há milhões de anos o homem já deixava nas cavernas
evidências visuais de sua passagem pela Terra, o arquiteto concluiu: “A grande
novidade foi a invasão do espaço público pelas camadas mais populares de todas as cidades do mundo. Portanto, para mim, salve o grafite!”.
A difusão global do grafite destacada por Mendes da Rocha é um fenômeno iniciado nos Estados Unidos na segunda metade dos
anos 1970, graças ao surgimento, em cidades como Nova York e Los Angeles, de expressões artísticas que convergiram para estabelecer os três
elementos do Hip-Hop: o rap (sigla para “música e poesia”), composto pelo DJ e o MC; os b-boys e b-girls, garotos e garotas que dançam ao
som do rap; e o próprio grafite. (Adaptado de http://brasileiros.com.br/2017/01/ao-apagar-grafites-indiscriminadamente-doria-ignora-um-
dos-vertices-hip-hop/. Acesso em 22/01/2017)
 
Texto 2
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou neste sábado (14) que vai retirar todos os grafites na área conhecida como
“Arcos do Jânio”, na área central, e também limitar as obras expostas na avenida 23 de Maio, na zona sul da capital paulista, onde participou
da terceira ação do “São Paulo Cidade Linda”, programa de zeladoria da gestão.
Desta vez, Doria deixou de lado o uniforme verde dos garis e colocou a roupa laranja. Com o motocompressor, óculos de proteção,
máscara e avental, apagou os desenhos de uma mureta da 23 de Maio.
“Pintei com enorme prazer três vezes mais a área que estava prevista para pintar exatamente para dar a demonstração de apoio à
cidade e repúdio aos pichadores”, disse.
Durante o ato, pediu para os moradores de São Paulo filmarem, fotografarem e denunciarem pichadores: 
Se preferirem continuar pichando a cidade, terão o rigor da lei. É tolerância zero
Segundo a Lei de Crimes Ambientais, a pena prevista para quem pichar um monumento urbano varia de três meses a um ano, além
de multa.
Apesar de reconhecer “grafiteiros e muralistas” como artistas, Doria afirmou que vai limitar as obras espalhadas pela 23 de Maio.
“Os grafites serão mantidos em oito espaços já definidos previamente pela Secretaria de Cultura. Os demais, que já estão
envelhecidos ou infelizmente foram mutilados por pichadores, serão pintados”, afirmou. (Adaptado de
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/01/14/doria-manda-apagar-grafites-dos-arcos-do-janio-e-da-av-23-de-maio.htm.
Acesso em 22/01/2017)

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PROPOSTA DE REDAÇÃO 3- ARTIGO DE OPINIÃO

Texto 3
Em meio à guerra contra os pichadores na cidade, o prefeito João Doria (PSDB) anunciou que vai criar um programa de grafite de rua
para promover grafiteiros e muralistas na cidade de São Paulo. De três em três meses a Prefeitura vai "liberar" espaços na capital para este
tipo de arte. Os artistas serão escolhidos por meio de uma comissão montada pela Secretaria Municipal de Cultura.
Poderão ser grafitados imóveis públicos e privados, que serão procurados pelo poder público para autorizar o uso do espaço. O primeiro ponto
do programa, batizado de Museu de Arte de Rua (MAR), será no Baixo Augusta, na região central.
O prefeito ressaltou que a Avenida 23 de Maio, que teve grafites apagados pela gestão, não passará pelo programa. Ele disse que o
local terá apenas os sete grafites que foram considerados "preservados" pela Prefeitura - antes eram oito, mas um deles, do artista Eduardo
Kobra, foi pichado e também será apagado.
Durante o anúncio da medida, Doria voltou a dizer que apoia grafiteiros e muralistas, mas que pichadores não são bem-vindos. "Isso vai nos
ajudar a embelezar São Paulo, recuperar várias áreas, a criar visibilidade adequada para o trabalho artístico de grafiteiros e muralistas", disse.
O secretário de Cultura, André Sturm, disse que a comissão receberá as propostas dos grafiteiros e seus currículos, mas não haverá
necessidade de enviar a prévia dos desenhos. "Eles serão escolhidos em função do currículo e do histórico. Mas a ideia é que seja um número
grande (de artistas)." Cada novo espaço - que será sempre em áreas abertas - terá uma seleção diferente, segundo Sturm
(https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2017/01/26/apos-apagar-grafite-e-pichacao-doria-anuncia-museu-de-arte-de-
rua.htm, acessado em 07/02/17)

Texto 4
Em meio a uma discussão polêmica com o prefeito de São Paulo, João Doria, que mandou cobrir murais de grafiteiros pela cidade e
promete punir pichadores com uma lei municipal, os grafiteiros defendem diálogo com a prefeitura e também espaço na cidade para suas
obras.
O grafiteiro Envio, curador de parte das imagens que estão expostas na 23 de maio, diz que não já justificativa para a prefeitura
pintar as obras com tinta cinza. No fim de semana, Doria começou a apagar algumas de 490 obras espalhadas pelo corredor Norte-Sul e pela
região central da cidade.
O argumento da prefeitura é que os grafites estavam pichados ou deteriorados. Os grafiteiros, porém, dizem que havia trechos
deteriorados pelo tempo, mas também havia algumas partes intactas e que nada disso
justifica a prefeitura pintar por cima.
Em meio à discussão, o prefeito foi alvo de um protesto quando chegava à
Catedral da Sé, na região central de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (25), dia de
aniversário da cidade
A prefeitura, porém, manteve 8 painéis. Um deles, do artista Eduardo Kobra,
foi pichado na quarta-feira (25), com tinta cinza e um desenho de Doria.
“O grafite é um movimento muito antigo, que já foi muito punido, já foi muito
mal visto. E hoje a gente conseguiu conquistar nosso espaço na cidade. Hoje é uma das
cidades mais importante do mundo ne relacionado a street arte, e vai abaixo, né?”, diz
Envio, que foi curador da 23 de maio na região do Viaduto Santa Generosa.
O ativista e advogado Guilherme Coelho também defende a participação dos
grafiteiros e a arte de rua na cidade. ‘Tem muitos Doria enfrenta protesto ao chegar para missa na Catedral muros aí que já são patrimônio. Já
é algo estabelecido. Nos últimos anos, o grafite e da Sé (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo) arte urbana ganhou uma
importância muito grande na cidade pra todas as pessoas”, disse ele.
O grafiteiro Roná pintou trecho da 23 de maio. Ele desenhou um homem vendo pela janela a vida passar, ou espiando os motoristas
apressados. Ele defende que cada grafite tem uma interpretação de quem o vê e, também, a história de quem fez.
“Quando eu estava pintando esse grafite, a minha esposa teve uma pequena complicação e minha filha acabou nascendo prematura.
Eu corri pro hospital. Hoje está tudo bem e depois tive que vir finalizar. Esse grafite tem uma história e são 490 grafites e cada um tem uma
história”, defendeu Roná.
Binho, que pintou uma coruja na 23 de maio que ainda não foi apagada junto às colunas dos arcos de Jânio Quadros, defende
também paz e diálogo de forma respeitosa da prefeitura com os artistas: “Eu gostaria de acreditar que, mesmo que ela fosse apagada, que
houvesse um diálogo com os artistas, de uma forma respeitosa, uma forma educada. E eu fiz uma coruja representando a sabedoria. Algo que
está faltando pra prefeitura nesse momento”, disse ele.
Pintura pela metade
Em alguns pontos da 23 de maio a
prefeitura deixou a pintura, por cima do grafite,
pela metade. E, depois, alguns trechos cinzas
pintados pela prefeitura foram pichados
novamente, com mensagens de protesto.
A obra de São Paulo antiga, na 23 de maio, de Eduardo Kobra, seria
um dos 8 grafites que sobrou e foi destruída no domingo por pichadores. Um
pichador fez um desenho do prefeito pintando a obra de cinza.
Nesta quinta-feira (26), Doria disse que vai criar um Museu de Arte
de Rua e que pichadores terão que trocar de profissão durante sua gestão à
frente da prefeitura, porque não vai aceitar pichadores na cidade.
Pichadores atacaram e picharam de ponta a ponta o nome “Nós somos
totalmente favoráveis aos grafiteiros e aos muralistas. Terão do prefeiro DORIA em um muro da avenida vinte e tres de nosso apoio.
E, cada 3 meses, nós estaremos fazendo, abrindo o Museu de maio nesta terça-feira (Foto: Marcelo S. Arte na Rua.
Camargo/Framephoto/Estadão Conteúdo
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PROPOSTA DE REDAÇÃO 3- ARTIGO DE OPINIÃO

Começaremos na próxima semana as informações e o primeiro será no baixo Augusta (término da Rua Augusta, na Bela Vista, região central da
capital)”, disse Doria.
“Os pichadores, volto a repetir: ou mudam de profissão, ou se tornam artistas, venham se tornar grafiteiros, ou venham se tornar
muralistas, ou mudem de cidade. Porque o prefeito não vai fraquejar”, reafirmou.
A prefeitura diz que ainda não acabou de apagar os grafites na Avenida 23 de maio e que os trabalhos estão em andamento. O
objetivo, diz a prefeitura, é valorizar a arte urbana e que serão criados cursos e oficinas para estimular os pichadores a adotarem o grafite e a
atuarem em locais permitidos.
(http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/em-meio-a-polemica-com-doria-grafiteiros-defendem-dialogo-e-espaco.ghtml, acessado em
07/02/17)

Texto 4
GRAFITE: Arte x Vandalismo
Publicado por Manoella Amorim em 28 de junho de 2014 às 0:57
O grafite é um tema que divide opiniões: alguns o defendem alegando a liberdade de expressão artística, outros o classificam como
vandalismo.
Acredito que o pouco conhecimento sobre determinados assuntos nos levam a ter opiniões rasas e, em muitos casos, radicais. Talvez esteja aí
a base do problema. O grafite, intimamente ligado ao movimento do hip hop, é uma manifestação artística em espaços públicos, é a arte de
rua que expressa toda a opressão que a humanidade vive por meio de desenhos e pinturas. O preconceito com esse tipo de arte fez com que a
sociedade não conseguisse diferenciar grafite de pichação, criminalizando toda e qualquer expressão em lugares públicos.
O fato é que existe uma diferença muito grande entre grafite e pichação. A pichação é o ato de escrever em muros, fachadas de prédios,
monumentos e, normalmente, é marcada por palavras de protesto ou insultos, além de ser o objeto de demarcação de gangues que disputam
um território.
A diferença clara, embora pouco conhecida, é o suficiente para que se saiba que essas duas manifestações estão em lados opostos, já que,
enquanto uma é arte, a outra é mera poluição visual. É claro que não defendo o grafite em muros de casas de pessoas que não autorizaram,
por exemplo, mas, do mesmo modo, acredito que o grafite em espaços públicos como muros de locais desabitados, viadutos e elevadas, por
exemplo, são capazes de cumprir com dois objetivos: a expressão e denúncia de vozes marginalizadas e uma decoração que quebra a
monotonia das cidades contemporâneas.
As pinturas com elevada qualidade artística, as cores vivas que chamam a atenção e os contornos bem definidos, dão destaque a artistas
urbanos que tampouco têm oportunidade para divulgar sua arte.O grafite é legal, tanto no sentido de legalidade, quanto no sentido de
característica, o que se comprova com a autorização da grafitagem no Túnel da Conceição, no Centro de Porto Alegre, no
evento MeetingofStyles.
 

Fonte: www.hanff.com.br
A pichação, por sua vez, é ilegal, nada enfeita e ainda, muitas vezes, serve de
comunicação entre gangues e criminosos. Distinguidas as duas
manifestações, declaro meu total apoio ao grafite, sou uma completa
apaixonada pela arte de rua, que muito denuncia, muito protesta, muito
aponta e muito democrática é.
 
(https://www.ufrgs.br/vies/variedades/grafite-arte-x-vandalismo/acessado
em 07/02/2017)

TEXTO 5
A ‘maré cinza’ de Doria toma São Paulo e revolta grafiteiros e artistas Prefeitura apaga grafites da av. 23 de Maio e diz, agora, que fará
seleção de novos artistas
Para especialista, declarar "guerra ao picho" é "tiro no pé" do novo prefeito da cidade
GIL ALESSI

Mural de grafite na av. 23 de Maio, fotografado em 20 de janeiro.  FERNANDO CAVALCANTI

O prefeito de São Paulo, João Doria


(PSDB), declarou guerra contra
pichadores, grafiteiros e artistas de rua.
Vestido com roupas de funcionários da
limpeza municipal, ele e seu secretario de
subprefeituras, o também tucano Bruno
Covas, cobriram com tinta cinza, a cor
característica da cidade, pichações e
grafites nos últimos dias. A ação faz parte do
programa Cidade Linda, que prevê reparo
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em calçadas e pintura de muros em vários bairros da capital. Depois de apagar parte do mural de grafites da avenida 23 de Maio, um dos mais
tradicionais de São Paulo, Doria mostrou satisfação: “Pintei com enorme prazer três vezes mais a área que estava prevista para pintar,
exatamente para dar a demonstração de apoio à cidade e repúdio aos pichadores".
O tucano não é o primeiro a encampar a batalha contra o que para uns é apenas vandalismo, e para outros é arte e expressão urbana. Todos
os prefeitos da cidade, independentemente do partido e com menor ou maior afinco, colocaram em prática ações para apagar e coibir o que
se convencionou chamar de “arte de rua não autorizada”. Mas o tucano parece disposto a levar o embate com pichadores e grafiteiros a um
novo patamar. "Se preferirem continuar pichando a cidade, terão o rigor da lei. É tolerância zero", disse após apagar os grafites da 23 de Maio,
que segundo ele já estavam antigos e haviam sido pichados. A ação desatou apoio, mas também uma chuva de críticas nas redes sociais e fora
delas, onde artistas de várias áreas e paulistanos comuns criticaram a falta de diálogo na tomada de decisões e acusaram a gestão de apagar
grafites mesmo sem estar, segundo os critérios da prefeitura, "danificados" por pichações. A comoção foi tal que o secretário  da Cultura,
André Sturm, disse em entrevista ao Estado de S. Paulo nesta terça que a avenida pode receber um Festival do Grafite, com artistas recrutados
pela prefeitura e materiais fornecidos pela gestão. Tudo, explicou Sturm, para responder ao
“ruído” provocado pela maré cinza. “Ficou muito cinza e há uma vontade de fazer”, disse o
secretário.
Especialistas apontam que a cruzada do prefeito tem tudo para ser um tiro no pé – assim
como ocorreu com seus antecessores. “O picho trabalha com a noção de perseguição e
proeza. Então se ele diz que vai perseguir pichadores, isso pode servir como atrativo para
que os jovens pichem mais ainda”, afirma Alexandre Barbosa Pereira, antropólogo e
professor da Unifesp que fez seu mestrado sobre o tema. De acordo com ele, desde que
Jânio Quadros foi prefeito, em 1985, iniciativas de combate ao picho são implementadas “e
são malsucedidas”. Nesta terça-feira, Doria teve mais um amostra do tipo de jogo de
paciência que resolveu travar com os pichadores: os novos muros cinzas da 23 de Maio
foram pichados com frases alusivas ao prefeito _e logo pintados de novo pela prefeitura.
Dias antes, várias pichações específicas contra o prefeito surgiram na cidade. Doria passa tinta cinza em mureta da 23 de
Picho e Deic Maio. F. A. / SECOM-PMSP

O jovem RGS/BR, de 25 anos, foi um dos três pichadores que escreveu “Fora Temer” e “Doria Pixo é Arte” nas paredes de um prédio em frente
ao Terminal Bandeira, no centro de São Paulo, já na esteira da "guerra do spray" reativada. Ele afirma que o discurso de “tolerância zero” de
Doria pode fazer com que a polícia “passe a ser mais violenta com os pichadores, uma vez que essa truculência tem o aval dos governantes”.
Ele cita um caso ocorrido em 2014, no qual cinco PMs foram acusados de matar dois pichadores rendidos em um prédio no bairro da Mooca,
na zona leste da cidade. Pixação diz também que mesmo grafiteiros famosos, como os Gêmeos, “que fazem rolê de burguês, em galeria de
arte, também estão riscando a casa dos bacanas de forma ilegal”.
No Brasil tanto a pichação ou o grafite feito em prédios públicos ou privados sem
autorização é crime, com pena prevista de três meses a um ano de prisão mais o
pagamento de multa. A pena de prisão, no entanto, é geralmente convertida em serviços
comunitários. Neste front legal, os pichadores também podem sentir os efeitos da nova
cruzada. Doria já disse que quer aumentar o valor da multa e, na segunda-feira, o
secretário da Segurança Pública do Governo Alckmin, Mágino Alves, o principal aliado de
Doria, anunciou que o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) vai atuar
contra o grupo de pichadores.
Vídeo feito pela artista plástica Barbara Goy mostra pintura dos grafites da av. 23 de Maio e
foi compartilhado quase 60.000 vezes no Facebook.
Para antropólogo e professor da Unifesp Pereira, além da desigualdade social, espacial e da Funcionário apaga pichação contra Doria em São
desorganização da cidade, uma parcela da população é levada para a pichação porque ela Paulo
oferece “visibilidade e projeção social para o jovem periférico, que resolve circular e ocupar
o centro da cidade”. “É preciso fomentar práticas e políticas públicas para que este jovem se expresse de outras maneiras que não o picho, e
isso não tem sido feito”, diz o professor.
Guilherme Valiengo, um dos diretores do documentário Cidade Cinza, sobre a cena do grafite e da pichação em São Paulo, afirma que o
prefeito precisa tentar entender quem é esse “transgressor”. “Se o cara está botando o nome dele no topo de um prédio ou na rua é porque
ele quer dizer alguma coisa. Será que essa é a única oportunidade que ele tem de aparecer? É preciso entender quem são essas pessoas, se
elas têm acesso a entretenimento, saúde e cultura. Apenas apagar é querer calar essa voz”, diz.
Em nota, o grupo Pixoação criticou as medidas de Doria. “O prefeito pede que os pichadores (sic) se tornem artistas. Primeiro podemos sugerir
que ele estude um pouco mais sobre arte contemporânea”, diz o documento. “Já há alguns anos se sabe que não se fala de arte sem se falar
de política, e que as obras que ocupam as bienais e principais mostrar pelo mundo não são dos artistas que decoram a sala dele”, segue o
texto.
Nova York e Miami
Não é só no Brasil que a relação entre arte e urbana e zeladoria tem conflitos inerentes e linhas tênues entre convivência e exaltação. Doria
tem insistido que é contra a pichação, e não o grafite, mas os dois aparecem muitas vezes em áreas não autorizadas. Enquanto se debate o
que é arte ou não e o que deveria ser preservado ou não nos grafites apagados, o principal museu da cidade, o MASP, se prepara para receber
no ano que vem uma exposição da obra do grafiteiro norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988), que, parte de uma dupla, se
consagrou ao espalhar mensagens pelas ruas de Nova York nos anos 70.
Na Nova York de Basquiat ou na Londres do grafiteiro Ben Eine também há políticas repressivas com relação ao grafite (já o picho é
considerado uma expressão artística brasileira). Nas cidades, ou em Berlim, a pintura é permitida apenas em alguns locais pré-determinados.
Na Inglaterra as multas por grafitar espaços públicos ou privados sem autorização pode chegar a 5.000 libras (cerca de 20.000 reais). Na capital
britânica, porém, a arte de rua é considerada um chamariz do turismo e, como tal, é promovida.
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Doria disse ter interesse nesse apelo turístico do grafite. Anunciou a criação de um “grafitódromo”, inspirado em um bairro de Miami, onde a
prática do grafite é liberada. O prefeito se refere a Wynwood Walls, alguns quarteirões da cidade com galpões antigos que foram adaptados
para receber galerias e lojas, e tiveram seus muros pintados por grafiteiros famosos. A proposta também não escapa da polêmica. O
antropólogo Pereira acredita que a medida é outro equívoco. “A tendência de ser algo para inglês ver é grande. Pegou mal para o próprio
artista estar num espaço tão chapa branca quanto um grafitódromo, isso pode até gerar mais tensões e instigar mais práticas de subversão e
mais picho”, diz o professor.
Quanto à proposta de fazer uma curadoria em alguns espaços da cidade para a realização e murais, ideia defendida por Doria, Valiengo, do
documentário Cidade Cinza, afirma que isso sempre ocorreu na cidade. “Você pode até patrocinar alguns grafiteiros para pintar em regiões
específicas, como ocorre nos túneis da avenida Paulista, ou na radial Leste. Só que a transgressão está no DNA da coisa”, diz. “E quanto aos
milhares de grafiteiros e pichadores que existem e não foram chamados para participar? Eles vão pichar onde tiverem vontade, não adianta
querer enquadrar”.
Djan Ivson, conhecido no mundo do picho como Djan Cripta, questiona as prioridades de Doria. “Será que a pichação é realmente o maior
problema da cidade? São Paulo não tem problemas com moradia, saúde, educação, transporte publico?”, diz. “O picho pode até incomodar,
porém está longe de ser o maior problema da cidade”, afirmou.
(http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/24/politica/1485280199_418307.html, ACESSADO EM 07/02/2017)

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