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A Arte do Grafite

Por Anna Adami

A Arte do Grafite é uma manifestação artística com ensejo de crítica ou justamente uma linguagem popular, onde os
apreciadores possar debater sobre o tema proposto ou simplesmente admirar a beleza estética dos traços, em meio ao
caos da vida nos grandes centros urbanos. A expressão do grafite é feita em espaços públicos, e a definição do termo é
referente a pintura feita em parede. A origem remete a época do Império Romano, onde foram encontrados desenhos,
e sua popularização aconteceu na década de 70, chamada de Idade Contemporânea, em alguns bairros da cidade de
Nova York. Inicialmente um grupo de jovens estudantes decidiram marcar as paredes da cidade com algum tipo de
símbolo próprio, a partir daí, o Grafite tomou forma e ganha cada vez mais técnicas para sua evolução.
O movimento do Hip Hop é um grupo que está intimamente conectado ao universo do Grafite, pois para este
movimento a manifestação através de desenhos e mensagens, garante a liberdade de expressar as mazelas da
humanidade, e ajuda a refletir a realidade dos menos favorecidos. O Grafite teve seu início no Brasil na década de
1970, na cidade de São Paulo, e insatisfeitos com o tom e linha que seguiam os americanos e desenvolveram as
próprias técnicas, ao complementar o toque de "brasilidade", fato este que colocou em destaque o traço brasileiro entre
os melhores do mundo.
O Grafite sempre foi uma manifestação duramente criticada por muitos, pois em alguns aspectos sua expressão pode
ser interpretada como um rabisco que causa mais poluição visual, além de serem considerado um ato de vandalismo
(pichar muro e patrimônio público). Por outro lado o Grafite é uma arte de rua, reconhecida pela sofisticada qualidade
artística.
Dentre os materiais básicos para se desenvolver as artes em grafite, estão o látex e a lata de spray, além de outras
ferramentas que implementam e fazer da arte ainda mais viva. Os termos utilizados nesta modalidade artística
são: Spot, local onde se desenvolve a arte do grafite; Toy, termo designado ao grafiteiro que é iniciante; Tag, que é a
assinatura de quem desenhou; Bite, aquele que copia o estilo de determinado grafiteiro; Crew, grupo de amigos que se
reúne para pintar em um mesmo local e o Writter ou Grafiteiro, que é o artista responsável pela pintura.

Grafite de "Os Gêmeos" (Vancouver, Canadá). Foto: meunierd / Shutterstock.com

Os grafiteiros mais famosos no Brasil são: Os Gêmeos, Eduardo Kobra e Ramon Martins. Entre os espalhados pelo
mundo, podemos destacar os seguintes: Banksy (Inglaterra), Kurt Wenner (Alemanha), Eric Grohe (Estados
Unidos), Smug (Escócia), Edgar Mueller (Alemanha).
Grafite de Eduardo Kobra - "Povos nativos dos 5 continentes" (Rio de Janeiro, RJ). Foto: ricardo cohen - rcview /
Shutterstock.com
Fonte:
http://www.quebrandogalho.com.br/os-10-melhores-grafiteiros-do-mundo/
http://www.essaseoutras.xpg.com.br/tudo-sobre-grafite-historia-desenhos-girias-manifestacao-artistica/
https://www.infoescola.com/artes/a-arte-do-grafite/
GRAFITE: TUDO SOBRE ESTA ARTE
Artigo
Você gosta de Grafite? É um assunto às vezes polêmico, mas que deve ser levado muito a sério. Uma profissão
em crescimento, com muitas possibilidades de atuação no Brasil e no exterior.
O Grafite (ou Grafitti) tem crescido cada vez mais como expressão artística, e antes de termos uma opinião
sobre ele, positiva ou negativa, devemos reconhecer suas características.

Trabalho de nosso aluno Rodrigo Nunes


O que é grafite?
De uma forma simples e direta, o grafite é uma intervenção artística em espaços públicos. Porém, o significado
pode ser muito maior que isso. Baseado em imagens e – via de regra – com muitas cores, é uma forma de
manifestação cultural e social.
Mesmo sendo proibido em muitos países, o grafite é uma das mais comuns formas da sociedade protestar
contra inúmeras questões. Grandes prédios e muros públicos do Brasil e do mundo são hoje painéis nos quais o
povo passou a ter voz sobre os mais variados assuntos.
Não existe uma regra ou definição oficial sobre o grafite, mas é muito fácil reconhecê-lo. Com o
aprimoramento da arte, hoje ele é utilizado não somente na rua, mas também em ambientes indoors. Muitos
eventos têm em sua linguagem visual o grafite, que traz para dentro dos locais o espírito da rua e uma
atmosfera mais descolada.
Diferença entre grafite e pichação
Mas afinal, grafite e pichação são a mesma coisa? Essa polêmica tem sido debatida cada vez mais, devido à
grandes intervenções promovidas até pelo poder público.
Existem diferenças claras entre grafite e pichação. A primeira delas está ligada diretamente à autorização. O
grafite, em sua essência, é uma intervenção pública, porém feita com autorização. O Beco do Batman , um dos
principais redutos de grafite, localizado no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, se transformou em uma das
mais importantes galerias de graffiti a céu aberto do mundo com autorização dos moradores da região.
Além disso, a pichação é feita quase sempre apenas com palavras, e o conteúdo é muito ligado a pessoas ou
grupos. O grafite, como dissemos, é focado na crítica social por meio de desenhos e muitas, muitas cores.
As técnicas empregadas em ambos também divergem bastante, uma vez que a pichação é feita somente com
spray, e o grafite possui diversos outros meios que vão muito além da latinha na mão.
História do grafite
Há alguma controvérsia sobre o surgimento do grafite. Apesar de ser consenso que ele já era praticado na
Roma Antiga, e até mesmo na pré-história, é difícil saber qual foi sua primeira aparição em tempos mais
recentes. Muitos atribuem aos jovens norte-americanos no final da década de 50. Porém, alguns historiadores
afirmam que em Paris este tipo de manifestação já era normal nesta época, sendo os franceses os precursores
então.
Na pré-história, era comum os povos que pintavam em cavernas, utilizarem como base para suas pinturas o
sangue ou urina de animais além de outras substâncias extraídas de plantas e vegetais. Pintavam nas paredes
das ruas inscrições sobre caças, batalhas e até mesmo situações cotidianas.
Para quem gosta de séries, Roma, produzida pela HBO , foi construída com o cenário idêntico ao que era a
cidade na época. É fácil identificar nas paredes das ruas manifestações artísticas que podemos classificar como
o grafite de então. Muitos estudiosos de administração afirmam que estas foram as primeiras ações de
marketing pessoal, pois visavam destacar os feitos de alguns gladiadores ou caçadores.
Grafite no Brasil
Já no Brasil, o grafite chegou aproximadamente na metade da década de 70, em formato de Stencil, trazido
pelo Artista Alex Vallauri – um etíope radicado no Brasil.
Com o tempo, o grafite foi crescendo e passou a ser reconhecido como uma manifestação legítima. Apesar de
muitos ainda não gostarem, seja por desconhecimento ou preconceito, o Brasil é roteiro obrigatório para quem
quer estudar essa vertente da arte contemporânea. A busca por eventos que tenham o tema street também
fizeram crescer e profissionalizar o meio, e o orçamento para as intervenções só tem aumentado.
O estilo debochado e ao mesmo tempo criativo do brasileiro criaram uma linguagem única para o grafite, que é
copiada em todos os cantos do mundo. A diferença entre o que se pratica aqui e os desenhos da Nova Iorque
dos anos 70 é tão visível que nem parece a mesma coisa.
 
Principais grafiteiros
O Brasil é o país de origem de alguns dos principais grafiteiros do mundo. Dois deles se destacam e são
requisitados para obras em todo o mundo: Eduardo Kobra  e a dupla OSGÊMEOS . Não se sabe ao certo o
porquê e nem quando surgiu esse destaque, mas algumas das maiores e mais importantes obras de grafite em
todo o mundo são deles.
Kobra  é paulista, tem 45 anos e é dono do maior mural grafitado do mundo. Em 2016, ele pintou para os jogos
olímpicos do RJ a obra “Etnias”, com 2.500 metros quadrados. Não contente, em 2017 bateu o próprio recorde,
com um mural de 5.742 metros que homenageia o chocolate na Rodovia Castelo Branco, em São Paulo. Porém,
sua obra mais famosa foi pintada em 2012 e apagada quatro anos depois. “O Beijo” foi feita em Nova Iorque, e
era uma releitura de uma das fotos mais icônicas do final da segunda Guerra Mundial, feita pelo fotógrafo
Alfred Eisenstaed.
OSGÊMEOS  é o nome da dupla também paulistana, formada pelos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo.
Nascidos no Cambuci, passaram grande parte da década de 80 ligados ao movimento Hip Hop, e ganharam
destaque no cenário local e depois global.
Se hoje eles afirmam que a sua obra vai além do grafite, é importante lembrar que eles possuem murais em
Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão
https://abra.com.br/artigos/grafite-tudo-sobre-esta-arte/
ARTIGO
Júlio C. Bittencourt Francisco: grafite e pichação - o que é arte?
Professor da Fabico/UFRGS
25/01/2017 - 04h30minAtualizada em 25/01/2017 - 07h27min

Vinicius Vieira / Divulgação

A mudança no estilo de vida, a maior eficiência da indústria produzindo mais bens de consumo, a revolução do
marketing e a expansão do crédito, a democratização da cultura e o acesso à educação, os recentes avanços e estímulos
eletrônicos, audiovisuais, foram proporcionando nas últimas décadas uma crescente conceitualização das artes visuais.
Como consequência disso, surgiu uma discussão que aponta para o "lugar da arte", por exemplo: a Idade Média
colocou a arte nas igrejas, o Renascimento, nos suntuosos palácios, mas atualmente se encontra nos museus, que ainda
são um espaço institucionalizado.
Por outro lado, o conceito de cultura é muito mais amplo. Retirar a arte dos museus e das galerias é um passo
importante na direção da sua democratização, tanto para o artista quanto para o público. O grafite, a pintura em mural,
o estêncil, os tags e assinaturas, assim como a pichação, skate, hip hop, rap etc., são marcas culturais da urbe. Sua
grafia e forma podem variar desde um protesto, uma ironia, uma frase de guerrilha ou de resistência política, cultural
ou simplesmente a recuperação de uma identidade perdida. Significa a revolta de alguns e um meio de expressá-la.
São as verdadeiras vítimas de imensas contradições sociais e o alvo, por décadas, dos apelos comerciais daquilo que
lhes foi inacessível, como os sonhos publicitários sugerem, restando apenas uma pequena janela, por onde
contemplam as superfícies da cidade, ao longe, como folha em branco.
Por outro lado, o poder público mal consegue restringir a vigilância aos seus prédios, que, de maneira nenhuma
poderão amanhecer "pichados". Se uma parte do dinheiro gasto com segurança fosse para educação, talvez não
tivéssemos pichação ou "pichadores" talentosos... Mas a pichação também é parte, ela compõe o ambiente natural da
cidade, carregado de tensões e contradições sociais que são reprimidas. Mas o pichador é um agente urbano. Ele se
encarrega de predar os espaços ociosos. Aproveita-se de um descuido da vigilância, de uma brecha no vão que existe
entre o direito à propriedade e o papel social dela.
Mas como se combate o pichador? Simples: convertendo sua marca em arte. Como? Educando, criando consciência
desde agora, mas já que isto faltou: vigiando para que ele não atue, pelo menos naquelas paredes e nos monumentos
que são mais caros à estética do lugar e à memória das instituições coletivas. Não podemos, porém, culpar
exclusivamente aqueles que se aproveitam do abandono para acabar de degradar locais já devastados pela omissão de
quem deveria zelar.

https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2017/01/julio-c-bittencourt-francisco-grafite-e-pichacao-o-que-e-arte-
9562767.html
De crime a arte: a história do grafite nas ruas de São Paulo
Lais Modelli
De São Paulo para a BBC Brasil
28 janeiro 2017

Bárbara Goys faz grafite em muro da cidade


CRÉDITO,LEO PINHEIRO
Legenda da foto,

Para Bárbara Goys, criadora de um dos painéis apagados na ação da prefeitura, é preciso valorizar a importância do
grafite no desenvolvimento turístico da cidade
No início da década de 1980, desenhos enormes de frangos assados, telefones e botas de salto fino começaram a
aparecer em muros de São Paulo.
Eram alguns dos primeiros grafites em espaço público da capital paulista, feitos pelo artista etíope radicado no Brasil
Alex Vallauri.
Naquela época, com a liberdade de expressão caçada pela ditadura militar, o grafite era considerado crime pela
legislação brasileira. "A própria ocupação da rua já era vista como um ato político", diz o sociólogo e curador de arte
urbana Sérgio Miguel Franco.
E nas obras de Alex Vallauri era possível entender o lado político do grafite paulistano: um dos seus primeiros
desenhos foi o "Boca com Alfinete" (1973), uma referência à censura.
Nos anos seguintes, ele encheu os muros da capital de araras e frangos que pediam Diretas Já, o slogan do movimento
por eleições diretas no final da ditadura.
Vallauri influenciou outros artistas a ocuparem as ruas da capital paulista e a data de sua morte - 27 de março de 1987
- é lembrada como o Dia do Grafite no Brasil.
O aniversário de 30 anos da data, em 2017, criou nos artistas a expectativa de que este seria um ano de valorização do
trabalho que fazem na cidade.
No entanto, em 14 de janeiro, o novo prefeito da capital paulista, João Doria Jr. (PSDB), anunciou que seria apagados
os painéis da avenida 23 de Maio, como parte do programa "São Paulo Cidade Linda".
A decisão provocou críticas dos artistas e dividiu opiniões entre especialistas em arte urbana.
Primeira versão do painel na passagem subterrânea que liga à avenida Dr. Arnaldo à avenida Paulista, em São Paulo
CRÉDITO,REPRODUÇÃO
Legenda da foto,

Primeira versão do painel na passagem subterrânea que liga à avenida Dr. Arnaldo à avenida Paulista, em São Paulo
Grafitódromo

Com a polêmica gerada após a ação, a Secretaria da Cultura de São Paulo afirmou que pretende cria uma área para
grafiteiros e muralistas no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, chamada de grafitódromo. Segundo Doria,
assim como a arte fica nos museus, o grafite também deve ficar em "lugares adequados".

Casa grafitada por Bárbara Goys


CRÉDITO,LEO PINHEIRO
Legenda da foto,
"Por trás de um grafite existe uma história que não pode ser ignorada. Ignorar a história de uma obra de arte é um tiro
no pé", diz a grafiteira Bárbara Goys

A ideia é inspirada em Wynwood, um bairro de Miami que abriga painéis e murais de arte urbana, assim como a
venda de produtos licenciados para viabilizar o negócio.
"Doria não precisa olhar para Miami para intervir nas artes de rua. O mundo é que olha para nós. São Paulo sempre foi
a capital do grafite mundial", afirma Rui Amaral, autor do primeiro grafite pintado à mão em São Paulo, em 1982.

Para o artista plástico Jaime Prades, que também fez parte da primeira geração de grafiteiros, o grafitódromo
representa um limite para liberdade de expressão. "É uma visão paternalista que quer impor o que considera 'certo'.
Logo, o grafite é algo errado, que tem que ser contido e controlado", diz.
"Mas nesse caso, não seria mais grafite, já que a alma do grafite é interagir com a cidade livremente."
A prefeitura também informou que criará um programa de grafite, que terá início com a criação, na rua Augusta, do
Museu de Arte de Rua (MAR), no qual 150 artistas terão seus painéis expostos por até três meses.
"Criar um distrito para o grafite pode ser interessante, pois daria total liberdade para aqueles artistas exercitarem sua
arte. Seria necessário verificar quais seriam estes critérios para estabelecer o local certo. Eles teriam que ser ouvidos e
a população também", defende o arquiteto João Graziosi, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Mackenzie.

Jamie Prades trabalha em grafite feito nos túneis da Paulista em 1987


CRÉDITO,NETA NOVAES
Legenda da foto,

Graziosi diz, no entanto, que a criação do grafitódromo não deve excluir outros locais da cidade possíveis para os
murais e grafites. "Os painéis da 23 de maio, assim como a parte de baixo de viadutos e uma série de paredes cegas
existentes na cidade ficaram bem melhores com a intervenção artística, por exemplo. Acho que deveriam continuar a
existir."
Já para a arquiteta e professora Ana Cláudia Scaglione Veiga Castro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
USP, "a ideia de grafites em 'lugares adequados' pareceria inadequada se não fosse trágica".
"Trata-se de uma espécie de ação de marketing que busca dar visibilidade a essa ideia de prefeito-gestor, aquele que
administra a cidade como se esta fosse uma empresa. Nesse caso, o 'gerente' da empresa quer dar um exemplo para
seus 'funcionários e clientes' de que não se deve sujar as paredes."

Grafite x pichação
A discussão sobre o grafite como arte ou como vandalismo, segundo Rui Amaral, reflete o modo como cada gestão
pública entende essas intervenções urbanas.
A autorização para fazer intervenções na avenida 23 de Maio, por exemplo, era pedida pelos artistas desde a gestão de
Jânio Quadros (1986 a 1989), mas foi autorizada somente no fim da gestão de Fernando Haddad (PT), em 2016.
"A avenida 23 de Maio foi o ápice do movimento artístico urbano paulistano", relembra Amaral, que é responsável
pelas gravuras do buraco da av. Paulista, desenhados pela primeira vez, de forma ilegal, em 1989 e legalizados em
1991 pela gestão de Luiza Erundina (PT).
Até 2011, o grafite em edifícios públicos era considerado crime ambiental e vandalismo em São Paulo. A partir
daquele ano, somente a pichação continuou sendo crime.
De um modo geral, a pichação - que costuma trazer frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou de gangues -
é considerada uma intervenção agressiva e que degrada a paisagem da cidade. O grafite, por sua vez, é considerado
arte urbana.

Para o sociólogo Alexandre Barbosa Pereira, pesquisador de Antropologia Urbana da Unifesp, a dissociação entre
grafite e pichação contribuiu para que o grafite começasse a ser aceito, mas apenas como forma de combate ao picho.
O pesquisador lembra que uma das justificativas da gestão Doria para apagar os painéis da 23 de Maio era a presença
de pichação sobre eles.
"O grafite, mais associado à arte, é mais facilmente entendido como forma de ação do Estado e mesmo do mercado, já
a pichação, execrada pela maioria da população, é uma máquina de guerra, nômade e difícil de ser capturada. Assim,
fica mais fácil criminalizar esta e mesmo criar certo pânico moral em torno dela como forma de marketing político e
publicidade pessoal."

Primeiro grafite feito à mão em São Paulo, por Rui Amaral


CRÉDITO,REPRODUÇÃO
Legenda da foto,

Outro efeito da decisão de legalizar somente o grafite, segundo Rui Amaral, é a confusão entre os conceitos de grafite,
pichação e muralismo.
De acordo com o artista, foi o que aconteceu na decisão do atual prefeito de apagar os painéis da avenida 23 de Maio.
"O que havia na 23 de Maio eram murais, e não grafite. Os murais são painéis autorizados e encomendados", afirma.
"(A artista plástica japonesa naturalizada brasileira) Tomie Ohtake também tem painéis em espaços públicos e duvido
que a gestão pública mexeria na obra dela sem consultar os responsáveis."
A artista plástica Bárbara Goys, autora de um dos painéis apagados da 23 de Maio, diz que ação contra as obras é "um
tiro no pé". "Por trás de um grafite existe uma história que não pode ser ignorada", diz.
"A própria capital criou um guia mapeando os grafites na cidade. Não sei como será agora, talvez tenham que refazer
este guia. E, infelizmente, agora a avenida 23 de Maio perde o título de maior mural a céu aberto da América Latina."

Do erudito ao popular
Qual é exatamente a origem do grafite em São Paulo? Para acadêmicos, ele é fruto dos jovens do movimento hip hop
que nasceu na periferia da capital. Mas para alguns dos pioneiros da arte de rua na cidade, o grafite paulistano nasceu
de movimentos artísticos consagrados, que foram trazidos para um contexto público e urbano.
Segundo o sociólogo Sérgio Miguel Franco, os primeiros desenhos que apareceram na capital eram influenciados
pelas culturas negra e latina e traziam consigo um traço marginal. "O grafite foi um espelho próspero para a cultura
desenvolvida pelos jovens de origem periférica da cidade."
Grafite de Prades, de 1987, próximo à Paulista
CRÉDITO,ARQUIVO PESSOAL

Legenda da foto,
Prades, membro de um dos primeiros grupos de grafiteiros do Brasil, diz que experiência era "catarse"

Para o artista Prades, os 20 anos de censura e isolamento cultural imposto pela ditadura militar fizeram com que os
grafiteiros que passaram a ocupar as ruas na década de 1980 se inspirassem na obra dos artistas plásticos da geração
dos anos 1960.
"O pensamento que alimentava as ações de arte nas ruas era fruto da nossa tradição modernista, da anarquia
antropofágica, da poética neoconcretista, da irreverência inspiradora de Flavio de Carvalho, Waldemar Cordeiro,
Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Artur Barrio, Nelson Leirner, Mira Schendel e muitos outros", conta.
Prades era membro do Tupinãodá, um dos primeiros grupos de artistas grafiteiros do Brasil. O coletivo, responsável
pela ocupação do Beco do Batman, na Vila Madalena, escolhia lugares públicos considerando sua relevância para a
cidade de São Paulo.
"Evitamos sair por aí pintando nas paredes das casas das pessoas, não fazia sentido. Quando decidíamos pintar,
escolhemos espaços públicos de grande impacto urbano", afirma.
"Era uma catarse, um grito de jovens artistas de uma geração esmagada pela brutalidade insana e truculenta da
ditadura. Artistas que não trilharam o caminho da formalidade e que, ao perceberem a dificuldade de encaixar-se no
sistema da arte, procuraram encontrar o seu próprio espaço."

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38766202
Pichação: arte ou vandalismo?
 Por Ana Carolina Souza
Publicado em:

 22/05/2018
Atualizado em:

 22/05/2018
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Após os alunos deflagrarem greve geral em 02 de maio, o centro acadêmico da Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) amanheceu pichado. Foto: Reprodução Whatsapp /
Portal Metrópoles
João Doria, então prefeito da cidade de São Paulo, gerou polêmica em 2017 ao sancionar uma lei
que vetava grafite e pichação nas ruas da capital paulista. Essa ação promoveu um caloroso
debate entre aqueles que concordavam com a lei e aqueles contra, que discordam da atitude
do prefeito. De um lado, o ato de pichar é visto por muitos como pura e simplesmente deturpação
de um patrimônio público. Por outro lado, argumentos a favor da pichação defendem esse ato
como uma forma de expressão e manifestação artística. Mas, afinal, pichar é crime? O que diz a
lei sobre esse tipo de manifestação?

O QUE É ARTE?
De uma maneira universal e simplificada, arte (do latim, ars) pode ser definida como toda criação
humana com o objetivo de se manifestar esteticamente. Arte pode ser encontrada na música,
pintura, cinema, escrita, arquitetura e muitas outras formas de expressão artística. Por muito
tempo, o padrão de arte foi tido como tudo aquilo que é belo. Já no século XX, com a ascensão da
escola modernista no Brasil, o conceito de arte mudou. Um ótimo exemplo dessa mudança de
visão é o mictório de Marcel Duchamp, que passou a ser considerado arte.

Arte e política? Conheça 5 músicas sobre políticas no Brasil


Foto: Micha L. Rieser /Wikimedia
Commons

ARGUMENTOS PRÓ-PICHAÇÃO
Segundo os defensores da pichação, esse tipo de manifestação também é considerada arte.
Afinal, para eles, não existe um limite claro entre o que é arte e o que deixa de ser arte. Por esse
viés, arte não é necessariamente bela, podendo ser, muitas vezes, uma forma artística rejeitada,
“feia” ou até mesmo incômoda. Além disso, a pichação é por vezes considerada como uma forma
de protesto contra a desigualdade social vivida por jovens da periferia. É uma forma de dar voz a
quem quase sempre não tem voz.

Entenda: o que são direitos sociais?


Denúncias contra o governo, educação e saúde são comumente vistas nos muros das cidades.
Portanto, segundo essa visão, a pichação é somente uma forma de manifestação
artística, liberdade de expressão e pensamento de pessoas que, na maioria das vezes, não têm
suas opiniões ouvidas pelo Poder Executivo ou por seus representantes políticos.

Leia: a democracia representativa de fato nos representa?

ARGUMENTOS CONTRA PICHAÇÃO


Por outra linha de raciocínio, as pessoas que são contra a pichação consideram essa forma de
manifestação um vandalismo, já que muitas vezes as pichações são feitas em espaços públicos,
que são construídos com o dinheiro público. Afinal, os impostos pagos pela população são
utilizados para custear a construção de praças, ruas, requalificação urbana e, em geral, melhorias
na cidade. Outro problema apontado é a não autorização da pichação pelo órgão ou empresa
privada responsável pelo local a ser pichado. Então muitas vezes os locais são pichados, sem o
prévio consentimento do responsável.

A falta de respeito ao direito individual de quem passa pelas paredes e monumentos também é
apontada como um dos argumentos contra, seja por motivos estéticos, pessoais ou
simplesmente por trazer uma mensagem agressiva ou desrespeitosa aos direitos humanos. Um
exemplo que se encaixa nessa argumentação é o caso de um muro de uma Escola no Paraná, que
amanheceu pichado com a frase racista “Negros fedidos”.

Leia também: a evolução dos direitos humanos no Brasil

No muro de uma Igreja, também no Paraná, a frase “Deus é gay” seguida da frase “Pequenas
Igrejas, Grandes Negócios” e a cruz virada para baixo, mostra uma crítica à instituição cristã.
Além dessa perspectiva, já existe uma lei, como você aprenderá no tópico a seguir, que classifica
as pichações como um crime que deve ser punido com multa e detenção.

E O QUE A LEI DIZ SOBRE PICHAÇÃO?


Então, pichação é crime? Sim. Segundo a Lei 9.605/98 no artigo 65, as pichações fazem parte
dos crimes contra ordenamento urbano, patrimônio cultural e meio ambiente. Quem comete
esse tipo de crime, segundo essa Lei, deve receber detenção, variando de 03 meses a 1 ano, além
de pagar multa. Já o grafite, segundo o parágrafo §2, não é considerado crime caso tenha o
objetivo de valorizar um patrimônio, seja ele público ou privado, desde que a prática seja aprovada
pelo proprietário, no caso de um bem privado, ou pelo órgão responsável, se for um bem público.
Mas qual a diferença entre pichação e grafite?

Grafite de Eduardo Kobra – “Povos nativos dos 5 continentes” (Rio de Janeiro, RJ). Foto: Ricardo Cohen –
rcview / Shutterstock.com

Primeiro, é importante entender que existe uma diferença entre grafite e pichação. A pichação é
considerada essencialmente agressiva e desprovida de valores artísticos. É feita em locais
públicos, geralmente à noite, sendo vista como uma forma de ataque e vandalização a um bem
público. Já o grafite tem certo valor estético no mundo contemporâneo e, como explicado na Lei,
é autorizado quando há o consentimento do proprietário de um bem privado ou do órgão público.
Bem, essas são as percepções gerais sobre o assunto!
Artes

Arte ou sujeira? Quais os limites aceitáveis até para o grafite na cidade?


Por Elverson Cardozo | 05/04/2013 07:00 –

CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS


Grafite em muro da rua José Antônio, em Campo Grande. (Foto: João Garrigó)

A pichação como problema para vários moradores não é novidade em Campo Grande, mas a maioria das discussões
leva sempre ao enfoque policial. Desta vez, o Lado B abre espaço para uma discussão que vai além e tem mais a ver
com a estética, o desconhecimento sobre esse tipo de manifestação e os limites aceitáveis de arte como o grafite.

O arquiteto e urbanista Ângelo Arruda é um dos que cobram o debate que envolva, de fato, as necessidades dos
artistas e fuja das queixas e registros policiais. O professor é também conselheiro municipal de Cultura em Campo
Grande.

No Facebook, nesta semana ele propôs a discussão: “Sujar a cidade é grafitar? “. E as respostas vieram: “Se for mal
utilizado se transforma em poluição visual da mesma forma que outros meios visuais”, disse um dos seguidores.

A avaliação do arquiteto é semelhante. Para ele, tanto o grafiteiro como o pichador são artistas, apesar de um ser
atacado e outro visto com melhores olhos. Mas há limites para os dois grupos.

Para quem não entende do assunto, a diferença que define as categorias é que um costuma utilizar símbolos para se
expressar, quase que em uma linguagem própria, enquanto o outro recorre às cores, sombras e formas.

"Ambos, porém, devem ser respeitados, ter espaço garantido, mas também precisam saber respeitar o direito
individual de propriedade. O pichador só é mal visto porque parece não se preocupar com isso”, comenta o arquiteto.

A consequência dessa postura “rebelde” colaborou, ao longo dos anos, para a marginalização do conceito e dos
próprios artistas, que agora acabam sendo vistos apenas como vândalos. Com isso, a arte, que tem tudo para ser
valorizada, ficou em segundo plano.

Além das fachadas, muros figuram entre os cenários preferidos dos pichadores. (Foto: Marcos Ermínio)

Mensagem deixada em monumento da Orla Morena. (Foto: Marcos Ermínio)


Se a lei não fosse posta à margem e se o direito individual fosse respeitado, os pichadores poderiam ser vistos, talvez,
de outra forma, mas isso não significa que o trabalho poderia ser impresso em qualquer lugar. “Riscos e rabiscos” não
cabem em uma edificação histórica ou modernista, mas ficam bem em um muro branco de esquina, em painéis,
tapumes de obras ou outdoors disponíveis, por exemplo.
“Desde que seja aplicado em locais que não prejudicam a imagem da cidade, tudo bem. A cidade é um conjunto de
imagens. No momento em que alguém vai lá e faz outra em cima daquela, vai prejudicar esse conjunto e estará
vandalizando, o que é diferente”, explicou.

Já o grafite, diferente da pichação, “dá para usar em todo lugar”, defende o urbanista. Mas tudo depende de um
conceito pensado pelo artista. “Ele vai se comunicar com a cidade, com a expressão que ele entender”, disse.

Se houvesse uma “regra”, seria a mesma para os pichadores: não é em todo lugar que fica bem, mas o grafiteiro, o
artista, sabe disso, argumentou o conselheiro. “Ele procura na cidade lugares, espaços e situações em que possa
interagir com aquilo ali. Ele precisa ser visto e se comunicar”.

Arte embeleza muro na cidade. (Foto: João Garrigó)


A diferença começa por aí, pontuou. Os grafiteiros não vivem no anonimato. Costumam assinar as obras e geralmente
respeitam o direito de propriedade, o que torna a relação harmoniosa.

Quanto às discussões que giram em torno do conceito estético do grafite e pichação, Ângelo é categórico: “Esse
julgamento, se é bonito, feio ou horrível, escapa das mãos do gestor público. Ele não pode criar critérios para a
liberdade de expressão”.

Grafiteiro há 2 anos, Muriel de Oliveira, de 25, é um dos que vive lutando contra a discriminação da arte que
considera espontânea e necessária para o embelezamento da cidade. Quem ganha, afirmou, é sociedade. “Menos
cimento e coisas cinza. O povo está cansado dessas mediocridades”.

Grafiteiro há 2 anos, Muriel afirma que o grafite e a pichação são formas de protesto. (Foto: Marcos Ermínio)
Segundo o artista, o grafite originou da pichação, considerada uma forma de protesto e manifesto, mas as duas
“categorias” conversam entre si.

“Pichação é uma forma de bater de frente com a sociedade, com o que você considera errado no sistema. O grafite é
uma forma de alcançar os mesmos objetivos, mas através de uma mensagem colorida”, disse.

Sobre as reclamações geradas em torno dos pichadores, o rapaz afirma que tudo é relativo e que a sociedade precisa
enxergar o outro lado. Ele mesmo já pintou, sem autorização, muros de terrenos baldios, mas se justifica dizendo que
considera crime deixar o mato alto, a água parada, pondo em risco a saúde dos moradores.

Muriel participou na última quarta-feira de audiência pública na Câmara Municipal sobre o assunto, mas disse que não
se sentiu representando por ninguém que lá estava, exceto pela estudante Maria Peralta, representante do movimento
universitário. “Acho que nenhuma idéia nossa estava à altura do que eles esperavam”, declarou. - CREDITO:
CAMPO GRANDE NEWS

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