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Introdução
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro foi grande escritor brasileiro que teve obras
adaptadas para o cinema e a televisão. Ganhou projeção nacional e internacional pelo
desdobramento que suas obras literárias tiveram em decantar o Brasil e o povo brasileiro
em suas singularidades. Dentre suas produções destacam-se os romances “A Casa dos
Budas Ditosos” e “Miséria e Grandeza do Amor de Benedita”, objetos de estudo neste
ensaio acadêmico. Logo, objetiva-se estudar a figura feminina e outros feminismos nas
narrativas de João Ubaldo Ribeiro a partir dos respectivos romances.
Nos dias atuais, o crescimento da imagem da mulher é um assunto bem ventilado
nas mídias, nos debates políticos e sociais, na militância que dura séculos pela conquista do
espaço com todos os direitos que também cabem ao homem. O movimento feminista
começou no século XIX e foi mais intensificado entre os anos 60 e 70 do século XX. Hoje
é um importante movimento social, reconhecido e legitimado. Obstante, seus registros
ficaram em produções cinematográficas, arte e literatura. Desta conjuntura cresce a
importância e justificativa da conversa que se trava nesta escrita.
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Aluno do 8 semestre do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia.
sociedade brasileira, replicando a tradição, valores, princípios e comportamentos
recebidos. Ou simplesmente recriando seu próprio espaço sem os dogmas e
tradicionalismos repassados.
Para este estudo a leitura dos dois romances, em epígrafe, de Ubaldo, é item
obrigatório. A partir das narrativas romanescas compartilha-se a visão de Rita Olivieri-
Godet citado por Silva (2019) que identifica nas obras de Ribeiro múltiplas representações
identitárias do povo brasileiro. Na análise criteriosa de “A Casa dos Budas Ditosos”
recorreu-se a Silva; Vilalva (2019). Eles apontam as características do romance moderno
na respectiva obra e, ao mesmo tempo, discutem uma das principais caraterísticas
ubaldiana, ou seja, o deboche. Dissecam a figura feminina representada pelas iniciais CLB
(conforme se identifica a personagem principal) nesse romance . E, para falar de
feminismo no Brasil um panorama completo com a professora de História, Juliana Bezerra.
Ademais, toda e qualquer lacuna porventura deixada será apenas um pretexto para novas
retomadas e discussões em torno do assunto. Sempre tão vasto, complexo e atual.
Fundamentação/Metodologia
Dar voz àquela senhora de quase setenta anos de idade para falar de sua vida de
luxúria na obra “A Casa dos Budas Ditosos” é uma das interrogativas que Olivieri-Godet
(apud SILVA, 2019, p. 5) faz: “Seriam as memórias desta senhora devassa e libertina um
relato verídico? Ou seria apenas uma brincadeira do autor? Nunca saberemos. O
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importante é que ninguém conseguirá ficar indiferente à franqueza rara deste relato e seu
humor corrosivo”.
No universo das pesquisas não foram encontrados acervos que discorressem sobre
“Miséria e Grandeza do Amor de Benedita”, com exceção de parcos resumos. Procedeu-se
a leitura das narrativas-chave para este estudo e buscou-se a ajuda da professora de
História, Juliana Bezerra, para o entendimento do conceito de feminino cuja temática
destaca-se.
Análise e Discussão
“A Casa dos Budas Ditosos” e “Miséria e Grandeza do Amor de Benedita” são dois
romances escritos pela mesma mão masculina e com abordagens diferentes na
representação do feminino. No primeiro livro, Ubaldo Ribeiro transcreveu as falas de uma
senhora idosa, emprestando a ela a voz narrativa de episódios reais da vida de luxúria e
promiscuidade dessa pessoa. No segundo romance o narrador em terceira pessoa do
singular demonstra ser observador. Conta com riqueza de detalhes a vida de Deoquinha,
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um importante morador da ilha de Itaparica, suas proezas, aventuras amorosas, o
tratamento machista dado à esposa Benedita.
SILVA; VILALVA (2019) usam a palavra deboche para se referir a essa obra de
João Ubaldo Ribeiro. Para isto, retoma a origem do vocábulo “deboche” e observa que
“deriva do termo em língua francesa debauche, que significa “devassidão”, “uma pessoa
entregue aos vícios, principalmente da carne””(p. 456). Seu sentido etimológico está na
concepção de tripúdio, licenciosidade e depravação. E até nossos dias o termo está
relacionado a ideia de cinismo, desfaçatez ou desplante.
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“Pornopopeia” (2009), escrito por Reinaldo Moraes o deboche ganha a conotação de
denúncia social e liberdade e ato político, respectivamente, nessas obras. Em “A casa dos
budas ditosos” Ubaldo utiliza esse recurso linguístico para “rir da maneira como as
mulheres são subjugadas sexual e moralmente” (Silva; Vilalva (2019, p. 457). De forma
análoga, “Miséria e Grandeza do Amor de Benedita” é um romance que conta a história de
um homem namorador, um Don Juan, em versão nordestina, casado com Benedita, esposa
exemplar que perdoa as escapadas do marido. Ela é apresentada como ingênua, bondosa,
sem nenhuma palavra de defesa da equiparação do direito das mulheres ao dos homens. O
tipo de figura feminina que aparece em séculos anteriores ao XX quando a sociedade
brasileira era baseada na escravidão e cujas atividades eram restritas ao lar. A verdadeira
“Amélia” cantada por Ataulfo Alves. O marido é a representação do machismo, a
confirmar pela seguinte passagem em Ribeiro (2019, p. 19): “A obrigação do homem é
sustentar, dar bom serviço de marido e ser respeitado pela coletividade. Cumprindo ele
essa dificultosa obrigação, ninguém pode lhe negar o direito de mandar na mulher”.
Considerações e Conclusões
“A Casa dos Budas Ditosos” e “Miséria e Grandeza do Amor de Benedita” são dois
romances interessantes e intrigantes de João Ubaldo Ribeiro, escritor consagrado pela
crítica nacional e internacional ao abordar “diversos aspectos da formação social do povo
brasileiro em busca da sua construção identitária, desde registros históricos dos meandros
das raízes e da memória cultural da nação brasileira, vivida pela comunidade de uma
época”, na elucidação de Olivieri-Godet (apud SILVA, 2019, p. 1).
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identitária. Nas palavras de Olivieri-Godet (apud SILVA, 2019, p. 1) : “A obra é polifônica
é possibilita constatar o “rumor social” incorporado dentro de diferentes discursos sociais
num processo de desconstrução numa prática discursiva transgressora, irônica...”
A temática que ora se nomeou neste ensaio é bem profícuo em nossos dias. O que
se chama de feminismo, SILVA; VILALVA (2019) nomeiam como empoderamento, tendo
em vista que este passa pela ascensão social e o poder financeiro nas representações da
mulher no século XIX e início do XX. Isto explica o feminismo marcado pelo
empoderamento de CLB no romance “A Casa dos Budas Ditosos” ou a marca do
machismo na vida de Benedita em “Miséria e Grandeza do Amor de Benedita”.
REFERÊNCIAS
SILVA, João Bosco da. Construções identitárias de JoãoUbaldo Ribeiro, na visão de Rita
Olivieri Godet. Feira de Santana: UEFS Editora, 2009.Disponível em
https://rl.art.br/arquivos/4901862.pdf Acesso em 20 de nov, 2019
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SILVA, Samuel Lima da. VILALVA, Walnice Aparecida Matos. Do caos do corpo ao
íntimo desnudado: a estrutura do deboche no romance: A casa dos budas ditosos, de João
Ubaldo Ribeiro. Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 455-471,
maio/ago. 2018. Disponível em file:///C:/Users/Work/Desktop/NETO/joão%20ubaldo
%20ribeiro.pdf Acesso em 19 de nov, 2019