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Análise e crítica social no

O Sentimento dum Ocidental


de Cesário Verde

Emy Nascimento Netto


158295
História
História Contemporânea (Economia e Sociedade) - 2022/23
Índice

Introdução……………………………………………………………………………...………3
Cesário Verde……………………………………………………………………………….…3
Biografia e poesia……………………….……………….………………………….....3
O poeta no seu tempo……….……………………………………………………...….4
Aspetos sociais, políticos e a “Geração de 70”……….….……………………5
Poema “O Sentimento d’um Ocidental”…………………………………………………....…8
Análise…………...……………………………………………………………...……16
Objetivo…………………………………………………………………....................16
Temas………………………………………………………………………....……...17
Decadência………….………………………………………………………..17
Os contrastes sociais na vida citadina………………….……………….……22
Modernidade………………….………………….……….....…………..……25
Conclusão……………………………………………………………………………...…..…27
Bibliografia…………………………………………………………………………….......…28

1
“Ah o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades
E a mão de mistério que abafa o bulício,
E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe
Para uma sensação exacta e precisa e activa da Vida!
Cada rua é um canal de uma Veneza de tédios
E que misterioso o fundo unânime das ruas,
Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde, ó Mestre,
Ó do «Sentimento de um Ocidental»!”

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

2
Introdução
Este presente trabalho procura responder a uma solicitação que pedia a análise de uma
fonte do mundo contemporâneo. Recordando os velhos tempos do liceu e uma paixão pela
poesia de Cesário Verde, pensei que seria pertinente escolher um dos mais famosos poemas
deste autor “O Sentimento d’um Ocidental”. Escolher um texto poético e sobre ele fazer
reflexões históricas é sempre arriscado, mas creio que, neste caso concreto, a riqueza de
informação que perpassa neste texto é um aspeto estimulante.
Lembrando as afirmações de que o poeta era um dos expoentes do Realismo, achei que
não faltariam elementos para a caracterização social e até para a definição do quadro político
do seu tempo. É evidente que não podemos esperar que a poesia seja explícita em relação a
esses aspetos, mas às vezes é possível captar nas entrelinhas elementos suficientes que sirvam
de ponto de partida a uma análise histórica da segunda metade do século XIX. Têm-se em
conta, naturalmente, algumas reflexões sobre a orientação política e ideológica de Cesário
Verde, que permite perceber melhor as suas verdadeiras intenções.
Creio ser absolutamente justificável iniciar este trabalho com algumas notas biográficas
sobre o autor, elas tornam-se necessárias para compreender alguns aspetos da sua mundivisão
e da sua inserção no contexto cultural e social. Segue-se um capítulo dedicado ao
enquadramento cultural de Cesário Verde, dando especial relevo ao impacto que a Geração de
70 teve nele e no seu tempo. Muitas das ilações que se retiram do poema tem como pano de
fundo este quadro ideológico e cultural. Passa-se depois a análise propriamente dita do poema.
Sobre ele, muito se poderia dizer. Mas preferi centrar a análise em três tópicos distintos. O
primeiro, sobre a ideia da Decadência, constitui uma componente essencial para compreender
o seu tempo e a perspetiva que o autor deixa escapar sobre ele; o segundo, procura fazer uma
análise social, recorrendo a informação de algumas figuras-tipo que percorrem o seu poema; o
terceiro, centra-se em torno do tema da modernidade, procurando verificar até que ponto o
autor capta e adere a todas essas marcas que vão caracterizando as novidades tecnológicas e os
efeitos que dela decorrem. Em jeito de conclusão, tecem-se algumas considerações gerais sobre
o poema, não esquecendo a resposta a questão: Será que afinal é uma poesia intervencionista?

Cesário Verde
Biografia e poesia
José Joaquim Cesário Verde nasce em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1855 e falece, por
tuberculose, a 19 de Julho de 1886. Pertencente a uma família abastada, divide a sua vida entre

3
o campo e a cidade, tendo o seu pai uma quinta em Linda-a-Pastora e uma loja de ferragens na
Rua dos Fanqueiros. É considerado o pai da poesia moderna portuguesa, encerrando na sua
obra elementos na sua maioria do realismo e principalmente a corrente parnasiana, mas também
romantismo e toques do grotesco. Foi o primeiro poeta a “descer a poesia para a rua”1.
Prado Coelho considera Cesário o “poeta da cidade, um dos maiores em qualquer tempo
e em qualquer língua”. Principalmente nos poemas “Cristalizações”, “Num Bairro Moderno”
e “O Sentimento Dum Ocidental”, temos a pintura de uma Lisboa integral2. A sua descrição
não é puramente realista, pois o poeta não só identifica-se com a Lisboa do presente, mas com
todo o legado medieval e contra-reformista do povo lisboeta3.
De acordo com o poema “Contrariedades”, no qual menciona o método de Taine, no
sentido em que os seus contemporâneos não o compreendem, o mesmo faz em “O Sentimento
dum Ocidental”, no qual reafirma a sua intenção poética, de acordo com tal método, isto é, uma
poesia “que não proscreve nem perdoa, mas que constata e explica”. Hippolyte Taine (1828-
1893), um teórico do naturalismo e da crítica sociológica, concede a Cesário os alicerces
metodológicos da sua poesia, e revoluciona ao tornar a poesia lírica num instrumento tão
eficiente de observação concreta e de comentário social como a prosa realista. Taine repete um
preceito de Stendhal de que a novela, neste caso a poesia, “é um espelho a passar por uma
estrada”, e não há forma mais simples e pura de descrever a poesia de Cesário Verde4. Na sua
poesia não deixa de existir um “eu”, que é ao mesmo tempo um receptor de impressões e
sensações, e um comentador crítico do que o rodeia. Assim, temos uma dupla posição do poeta,
simultaneamente como parte da realidade que observa e observador da realidade de que é parte.

O poeta no seu tempo


Neste seguimento faremos um esclarecimento de como Cesário interagia com o seu
tempo e como este interagia com Cesário, isto é, qual era a sua posição perante os seus
contemporâneos, com quais ideias compatibilizava e uma aproximação da sua mentalidade,
para que possamos inserir a sua poesia, e mais especificamente o poema que será analisado,
neste contexto mental. Na vida de Cesário podemos relacionar 3 aspetos: a sua
contemporaneidade com a “Geração de 70”, a sua vida política e o tratamento da questão social
na sua poesia.

1
Carter, 1989, p. 13.
2
Carter, 1989, p. 46.
3
Carter, 1989, p. 47.
4
Macedo, 1999, pp. 19-20.

4
Aspetos sociais, políticos e a “Geração de 70”
A ideia e o grupo que concebemos como o da “Geração de 70” não está intrinsecamente
ligada a Cesário Verde, mas não deixam de ser contemporâneos e partilharem ideais, como o
socialismo de Proudhon, o idealismo de Hegel, o positivismo de Comte, o neodarwinismo de
Spencer e o ambientalismo rácico e histórico de Taine5. Na ideia de Oliveira Martins, cuja obra
foi a mais impactante e “definidora” do pensamento desta geração, é que, inspirado na ideia de
Taine que o estado de civilização de uma nação é determinado pela raça, pelo ambiente (físico,
político e social) e o momento, argumentava que o momento difícil que Portugal atravessa no
3 quartel do século XIX deve-se às origens rácicas da Nação e a sua geografia. Quando procura
explicar o avanço das nações nortenhas, sempre pende para os argumentos rácicos e
geográficos6. Numa visão determinista, o passado glorioso de Portugal iria inevitavelmente ter
um fim ou ser enfraquecido, devido à inferioridade inata dos Portugueses. Acrescenta ainda
um elemento espiritual, inspirado no organicismo de Hegel, que explica que o “génio da
Nação”, cuja apogeu foi no tempo da Descobertas, teve fim em 1580, data em que Portugal
teve o seu fim natural como entidade orgânica, e a partir daí o país continuou a existir, não
existindo, porque era “um fantasma de si próprio”7.
Para Cesário, que igualmente estudou Taine, o fator crítico da sociedade portuguesa
teria sido o resultado inevitável do processo histórico anterior da raça no seu meio geográfico
e social. Já em relação ao fator “momento”, que tem um perspetiva ideológica de um futuro
possível, entendia como um momento fulcral de viragem nas estruturas políticas e sociais. O
“enfermo” era o poder, não o povo. Baseado na ideia de sobrevivência dos mais fortes, diferente
de Oliveira Martins, não considerava ser as classes dominantes e os ricos, mas o povo “com
riqueza química no sangue”8.
Segundo estes, como Antero de Quental, a revolução de 1820 e 30 foi apenas a primeira
etapa, e que deviam continuar o caminho para uma sociedade homogênea e igualitária, com
bases na ciência como única crença e a democracia. Na sua conferência do Casino de Lisboa,
intitulada Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, Antero de Quental sistematiza os
três males de Portugal e os seus remédios: Estado centralidade, Catolicismo da Contra-Reforma

5
Macedo, 1999, p. 29.
6
Macedo, 1999, p. 30.
7
Macedo, 1999, p. 31.
8
Macedo, 1999, pp. 44-5.

5
e uma aristocracia guerreira, por isso, deve-se proceder a uma descentralização, laicização e a
formação de uma elite progressiva9.
Na História de Portugal de Oliveira Martins, resumidamente, explica que Portugal
nunca teve unidade rácica e geográfica, e nunca teve uma identidade própria, os portugueses
não tem peculiaridades próprias e a ideia de “navegadores” é partilhada com muitos outros
povos. Tudo em Portugal, durante a sua história, foi manifestamente estrangeiro, desde as
legislações de Pombal que tentou construir uma Nação autónoma e forte, assim como a
Revolução de 182010. Tanto a revolução como o regime foram expressamente estrangeiros,
com ideias mal adaptadas à realidade portuguesa. Além do mais, para uma revolução eficiente
teria que se ter reunido exército e povo. Concomitante às ideias de Almeida Garrett, a revolução
não mudou as coisas, e manteve as estruturas e instituições imutáveis. Substituiu-se uma velha
aristocracia, por uma nova, cujo peso era dobrado. É palpável o clima ideológico nesse tempo,
e a sua visão depreciativa do povo português, cujos alguns contemporâneos apresentavam
certas reservas mas é importante para termos uma noção do estado de crise do Liberalismo no
tempo em que Cesário escreve11.
Em termos da sua atividade social, e essa é mais evidente na sua obra, era claramente
anticlerical e anticatólico. Não só discorda e é contra, como expressa uma verdadeira fobia e
nojo a tudo que se relacione com tal. A desigualdade social é uma questão sempre presente, a
sua compaixão e solidariedade, considera-se um “irmão de todos”, e até poderíamos cogitar
que grande parte da sua inquietação pessoal vem dessa miséria humana do operariado citadino
ou dos oprimidos em geral. Muitos autores afirmam certamente que Cesário sente a dor como
se fosse sua, e está longe do povo ser um mero motivo poético. No entanto, José Gomes
Ferreira, não desacreditando estas ideias, acrescenta ainda para a falta de compromisso
partidário do poeta, e Vergílio Ferreira observa um certo distanciamento do sujeito poético dos
pobres, como alguém que fala a observar de cima, falando com pena, mas também altivez do
destino infeliz destes, com uma implícita superioridade12.
Entre vários autores há um certo desacordo acerca dos ideais políticos do poeta, Alberto
de Monsaraz afirma que Cesário é abertamente republicano e democrata, e em prol do povo,
ideia é corroborada por autores como Joel Serrão e outros, e afirma o seu espírito revoltado, e
até revolucionário. No entanto, a sua ação política não vai muito longe, e até o consideram um

9
Ramos, 2009, pp. 530-1.
10
Macedo, 1999, pp. 32-3.
11
Macedo, 1999, pp. 34-7.
12
Macedo, 1999, p. 49-50.

6
“radicalismo plebeu”. Outra faceta, é a sua opinião negativa perante a monarquia, a Corte e os
reis em geral. Por um lado, poderíamos considerar Cesário como um poeta engagé, nessa sua
faceta revoltada, revolucionária e anti-monárquica, mas por outro, muito acreditam que este
não pregava a revolta e nem incitava a revolução, apenas através da sua descrição da realidade,
apontava questões nas quais a desigualdade o revoltava13. É Helder Macedo que, dez anos
depois, nos esclarece acerca da vida política de Cesário Verde. Numa época em que a geração
de intelectuais pendia para um socialismo de Proudhon, Cesário foi um republicano ativo. É
até possível que fosse reconhecido pela sua atividade política. Foi republicano antes de 1890
(Ultimatum inglês), que fez do republicanismo uma reação radical. A sua ação foi notória o
suficiente para serem escritas gazetilhas nos jornais, em 1874 e 1877. Entre as figuras da vida
política, como Teófilo Braga e Ramalho Ortigão, ambos partilhavam os seus ideais, com o
primeiro até fundou o jornal O Mercantil, mas atacaram ferozmente a sua escrita.
Por isso, quando escreveu “O Sentimento dum Ocidental” para um jornal, o número
único Portugal a Camões para as comemorações do tricentenário da sua morte em 1880, como
contribuição política, num dos momentos de maior propaganda republicana durante a sua vida,
fê-lo sem reconhecimento14. No poema, quando caracteriza Camões como “Um épico
doutrora”, está a falar também da passada glória poética, não só de Portugal mas de Lisboa,
não tendo grandes considerações acerca das letras contemporâneas pois o prosador do seu
tempo “prostitui-se” em prol de fama e riqueza, mas Camões morreu a mendigar15. Estas
declarações podem clarificar acerca da relação de Cesário com os escritores e poetas do seu
tempo, ou podemos considerar que essa sua reação provém do facto de não ser reconhecido
pelos seus iguais e não ter paridade no meio artístico, literário.
As comemorações do tricentenário não foram algo natural da sociedade portuguesa,
teve que ser altamente mobilizada por um grupo específico, em especial, Teófilo Braga,
Ramalho de Ortigão e Sebastião de Magalhães Lima, para que não se limitasse a apenas os
republicanos. O governo, com o Partido Progressista, só com muita insistência que veio a
aderir, e a Coroa não recebeu com muito agrado a iniciativa. A ideia republicano e dos Letrados
desta nova comemoração, veio no sentido da crescente consagração de um “grande homem”,
um intelectual, escritor em especial, que a partir do mérito e talento, se eterniza. Teve como

13
Carter, 1989, pp. 48-9.
14
Macedo, 1999, p. 41.
15
Carter, 1989, pp. 251-2.

7
grande inspiração as comemoração do centenário de Petrarca (1879) e de Voltaire e Rousseau
(1879)16.

Poema “O Sentimento d’um Ocidental”


A Guerra Junqueiro

I - AVE-MARIA

Nas nossas Ruas, ao Anoitecer,

Há tal soturnidade, há tal melancolia,

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,

O gás extravasado enjoa-me, perturba;

E os edifícios, com as chaminés, e a turba

Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,

Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!

Ocorrem-me em revista, exposições, países:

Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,

As edificações somente emadeiradas:

Como morcegos, ao cair das badaladas,

Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,

16
Mais sobre o tricentenário de Camões vide Catroga, 1993, pp. 604-5.

8
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;

Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,

Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crônicas navais:

Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!

Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!

Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!

De um couraçado inglês vogam os escaleres;

E em terra num tinir de louças e talheres

Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;

Um trôpego arlequim braceja numas andas;

Os querubins do lar flutuam nas varandas;

Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;

Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;

E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,

Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!

Seus troncos varonis recordam-me pilastras;

E algumas, à cabeça, embalam nas canastras

Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

9
Descalças! Nas descargas de carvão,

Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;

E apinham-se num bairro aonde miam gatas,

E o peixe podre gera os focos de infecção!

II - NOITE FECHADA

Toca-se às grades, nas cadeias. Som

Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!

O aljube em que hoje estão velhinhas e crianças,

Bem raramente encerra uma mulher de “dom”!

E eu desconfio, até, de um aneurisma

Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;

A vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,

Chora-me o coração que se enche e que se abisma.

A espaços, iluminam-se os andares,

E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos

Alastram em lençol os seus reflexos brancos;

E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.

Duas igrejas, num saudoso largo,

Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:

Nelas esfuma um torvo inquisidor, severo,

Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Na parte que abateu no terremoto,

Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;

10
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,

E os sinos dum tanger monástico e devoto.

Mas, num recinto público e vulgar,

Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,

Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,

Um épico d’outrora ascende, num pilar!

E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,

Nesta acumulação de corpos enfezados;

Sombrios e espectrais recolhem os soldados;

Inflama-se um palácio em face de um casebre.

Partem patrulhas de cavalaria

Dos arcos dos quartéis que foram já conventos:

Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,

Derramam-se por toda a capital, que esfria.

Triste cidade! Eu temo que me avives

Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,

Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,

Curvadas, a sorrir às montras dos ourives.

E mais: as costureiras, as floristas

Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;

Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos

E muitas delas são comparsas ou coristas.

E eu, de luneta de uma lente só,

11
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:

Entro na brasserie; às mesas de emigrados,

Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.

III - AO GÁS

E saio. A noite pesa, esmaga. Nos

Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.

Ó moles hospitais! Sai das embocaduras

Um sopro que arrepia os ombros quase nus.

Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso

Ver círios laterais, ver filas de capelas,

Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,

Em uma catedral de um comprimento imenso.

As burguesinhas do Catolicismo

Resvalam pelo chão minado pelos canos;

E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,

As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

Num cuteleiro, de avental, ao torno,

Um forjador maneja um malho, rubramente;

E de uma padaria exala-se, inda quente,

Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

E eu que medito um livro que exacerbe,

Quisera que o real e a análise mo dessem;

Casas de confecções e modas resplandecem;

12
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

Longas descidas! Não poder pintar

Com versos magistrais, salubres e sinceros,

A esguia difusão dos vossos reverberos,

E a vossa palidez romântica e lunar!

Que grande cobra, a lúbrica pessoa,

Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!

Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,

Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

E aquela velha, de bandós! Por vezes,

A sua traine imita um leque antigo, aberto,

Nas barras verticais, as duas tintas. Perto,

Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

Desdobram-se tecidos estrangeiros;

Plantas ornamentais secam nos mostradores;

Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,

E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes

Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;

Da solidão regouga um cauteleiro rouco;

Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

“Dó da miséria!… Compaixão de mim!…”

E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,

13
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,

Meu velho professor nas aulas de Latim?

IV - HORAS MORTAS

O tecto fundo de oxigênio, d’ar,

Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;

Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,

Enleva-se a quimera azul de transmigrar.

Por baixo, que portões! Que arruamentos!

Um parafuso cai nas lajes, às escuras:

Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,

E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta

A dupla correnteza augusta das fachadas;

Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,

As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente

Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!

Esqueço-me a prever castíssimas esposas,

Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,

Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!

Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,

Numas habitações translúcidas e frágeis.

14
Ah! Como a raça ruiva do porvir,

E as frotas dos avós, e os nômadas ardentes,

Nós vamos explorar todos os continentes

E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,

Sem árvores, no vale escuro das muralhas!…

Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas

E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores

Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas

Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,

Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;

Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;

E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,

Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,

Caminham de lanterna e servem de chaveiros;

Por cima, os imorais, nos seus roupões ligeiros,

Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular

De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,

A Dor humana busca os amplos horizontes,

15
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Análise
O poema foi escrito depois de Cesário já estar profundamente enraizado no campo, na
sua casa de infância em Linda-a-Pastora, e as suas deslocações a Lisboa serem cada vez mais
rápidas e espaçadas. Assim, reforça-se o sentimento do mundo passado, e é mais fácil ver a
cidade com outros olhos, com distanciamento e sentido crítico17.
A divisão em “Ave-Marias”, “Noite Fechada”, “Ao Gás” e “Horas Mortas”, não é da
responsabilidade de Cesário, aparece pela primeira vez na publicação póstuma do O Livro de
Cesário Verde, por seu amigo Silva Pinto, onde reúne toda a poética de Verde.

Objetivo
É pertinente aqui apontar quais pareciam ser os objetivos de Cesário Verde ao escrever
este poema. “Julgo que fiz notar menos mal o estado presente desta grande Lisboa que em
relação ao seu glorioso passado, parece um cadáver de cidade” disse o autor ao sugerir o poema
para Emídio de Oliveira, responsável pelo número único Portugal a Camões, que entendeu
como “descrição originalíssima da vida lisbonense”.
É também explícito no poema as suas intenções, baseadas em princípios já aqui
mencionados de Taine e Stendhal: “E eu que medito um livro que exacerbe,/ Quisera o real e
a análise mo dessem”. O real e a análise do real, em versos “magistrais, salubres e sinceros”
produzirão um “livro que exacerbe”. Não um livro cuja realidade é exacerbada, mas que
impressione exatamente pela sinceridade. “O registo e análise dos factos significativos do real
não é, portanto, um fim em si próprio mas um meio: a expressão crítica de uma realidade social
complexa através do registo dos seus factos objetivos no contexto de um discurso que, ao
justapô-los dinamicamente, torna explícitas as relações implícitas. O efeito exacerbador do
livro resultaria, assim, no avivar da consciência crítica do leitor (...)18”.
Para atingir o efeito que procura, além do realismo pelo qual o autor é conhecido,
podemos assinalar vários sinais do grotesco, que não se manifesta como um conto de fadas,
uma fantasia ou um mundo inventado, mas é o próprio mundo dos homens que torna-se
estranho. O plano de fundo apropriado para o mundo grotesco é a escuridão e a obscuridade,
sugerindo algo agourento ou sinistro implícito19, e as quatro fases do poema, cada vez mais

17
Teiga, 1993, p. 99.
18
Macedo, 1999, pp. 182-3.
19
Timm, 1972, p. 79.

16
profundas na noite, sugerem fortemente isso. “A verdadeira profundidade do grotesco é apenas
revelada perante a confrontação com o seu oposto, o ideal. Frisando a frequente justaposição
em obras grotescas de beleza com o feio, ou a superioridade, altivez e elevação com o profano,
o abismal.20” Podemos observar esta contraposição nos frequentes contrastes entre a era
dourada de Portugal com o decadente séculos XIX de Cesário, as varinas e as burguesas nas
suas varandas, o consumismo contra mendicidade, entre muitos outros.

Temas
Por opção, considerei melhor analisar o poema através da identificação de temas, para
melhor e mais concisamente explicá-los e desenvolvê-los, e relacioná-los com o que já
anteriormente foi desenvolvido acerca do poeta e o seu contexto.

Decadência
O poeta recorda-se do passado épico de Portugal, de Camões e das soberbas naus, que
afirma que nunca irá ver. Descreve o couraçado inglês atracado no porto, e tinir das louças e
dos talheres e os hotéis da moda, representando a riqueza da alta burguesia e do poder naval.
(“E evoco, então, as crônicas navais:/ Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!/ Luta Camões
no Sul, salvando um livro a nado!/ Singram soberbas naus que eu não verei jamais!/ E o fim da
tarde inspira-me; e incomoda!/ De um couraçado inglês vogam os escaleres;/ E em terra num
tinir de louças e talheres/ Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.”). Neste versos, é
interessante a ideia de que enquanto a sua imaginação vê grandes naus do século XVI, na
verdade perante os seus olhos está no seu lugar um navio inglês. Isso é representativo de uma
consciência que já se tinha no século XIX, que era da grande perda de importância de Portugal
e de suas colónias, desde a perda do Brasil, até as tentativas frustradas de domínio,
administração e desenvolvimento de África. É um aspeto que não só afeta a vida política, mas
está bem presente na consciência popular, pelo menos nas cidades litorais, e vemos isso na
mudança do teor literário. Já não há elogios ao Império, vemos um maior número de críticas à
Gesta Imperial, pois Portugal já não tem capacidade para arcar com a tarefa e o prejuízo.
Levando em consideração o contexto em que o poema foi escrito, isto é, para um jornal
comemorativo do tricentenário da morte de Luís de Camões, todas as comparações feitas com
o tempo áureo dos Descobrimentos, se relacionam com o tema da Decadência, algo que foi
largamente discutido por todo o século XIX, pela consciência nacional de que Portugal estava

20
Timm, 1972, p. 80.

17
cada vez mais atrasado em relação a demais Estados, no foro económico, social e cultural. Na
verdade, é transversal a todo o mundo “civilizado”, uma vez que estamos numa época de
reflexão acerca do que é ser moderno.
Cesário escreve no tempo da Regeneração, num ambiente de crítica e revolta perante o
facto de não estar a ser impulsionada uma verdadeira regeneração do mundo português em
todos os seus aspetos. O termo “Regeneração” opõe-se à "decadência", à “crise”, e implica uma
atitude reformista. A política portuguesa desde antes de 1820 até meados do século, passa por
um período de grandes tensões e instabilidades sociais e políticas, até que, com o triunfo do
golpe militar do duque de Saldanha no norte do País em Abril-Maio de 1851, que põe fim ao
governo de Costa Cabral, e a 22 de maio é apoiado na capital, se constitui um novo governo
constitucional regenerador, com Saldanha como presidente do Conselho e ministro da Guerra,
Rodrigo da Fonseca Magalhães como ministro do Reino e António Maria de Fontes Pereira de
Melo como ministro da Marinha, da Fazenda e da Indústria. Os três fazem uma política
empenhada na ideia de “progresso material”21. Mas entre as décadas de 1850 e 1880, podemos
resumir a política portuguesa a uma única personagem: Fontes Pereira de Melo. A sua política
centrava-se principalmente na criação de riqueza para consolidar o regime constitucional, mas
o seu impacto transcende a economia.
A criação de uma sociedade liberal exigia, também, uma transformação política,
cultural e ideológica dos cidadãos. Os liberais e intelectuais procuram novas práticas sociais e
simbólicas, uma nova cultura e cidadania. “Inquietação que se enraíza na procura da
regeneração nacional. Isto é, no (re)conhecimento do País: da sua histórica, das tradições, da
população, do território, do património, das crenças, das sensibilidades”22. Era preciso criar
uma “civilização”, que se conseguiria através da formação de cidadãos, primeiro, pela escola,
como local de sociabilização, de formação de elites, de inculcação de valores na média
burguesia e de qualificação técnica de operários e artesãos; segundo, compensar a debilidade
escolar e a resistência das populações, uma intensa atividade jornalística, a divulgação do
teatro, livros e a criação de espaços de sociabilidade e cultura.23. “Aprendizagem e conquista
da cidadania, com vista a uma regeneração social que deveria seguir a passo a regeneração
material para se atingir o progresso. Progresso, como dinâmica multidimensional: política,
jurídica, económica, mental cultural24”.

21
Ribeiro, 1993, p. 121.
22
Ribeiro et al., 1993. p. 219.
23
Ribeiro et al., 1993. p. 219.
24
Ribeiro et al., 1993. p. 219.

18
No entanto, via-se um desandar de todos projetos em Portugal, principalmente no
campo económico, o qual nunca conseguiu chegar ao pé das demais economias. Fontes soube
transmitir uma imagem de acalmia política nacional e de desenvolvimento económico, o que
lhe garantiu a credibilidade europeia para os investimentos e empréstimos25, mas apesar de
todos os esforços nas obras públicas, nos caminhos de ferro, em termos comparativos, o sentido
de inferioridade e decadência mantinha-se, pois ao contrário de demais países europeus na
segunda metade do século XIX, não houve mudança estrutural. A população empregada na
indústria aumentou de 14,6% para 18,7% em 1890, mas nas economias mais ricas os valores
andavam por cerca dos 30%. Para Portugal, não poderia haver um desfecho distinto, pois
estando na “periferia europeia” de economia exportadora de produtos primários, tinha muitas
desvantagens: o solo era pobre, o clima seco, havia poucos animais, havia falta de carvão
mineral, a população era maioritariamente analfabeta (78% nos maiores de 6 anos em 1878), e
era pouco qualificada, isso manifestava num aumento modesto da produtividade26. O equilíbrio
sonhado por Fontes nunca foi alcançado. As receitas passaram a subir menos; o sistema fiscal
continuava assente na tributação do consumo; em 1870, os impostos diretos de todo o reino
produziam 1800 contos, enquanto que só Lisboa rendia 1100 contos. O Estado endividou-se,
incapaz de financiar as suas obras por via fiscal, e importava mais do que exportava. Os défices
orçamental e comercial eram aliviados pela circulação mundial de pessoas e capital, e pelas
remessas de imigrantes e de empréstimos e investimentos externos. Por isso as crises
financeiras internacionais, afetam agudamente Lisboa, como em 1856-57, 1867-71 e 1876-
1881, mas todas foram ultrapassadas, ao contrário do caso de 189027.
A melhor maneira de expressar o abismo existente entre a classe média e a restante
população é através da alfabetização. O ensino público passou a ser obrigatório a partir de
1835, mas o Recenseamento da População de 1878 revela que no continente, 79,4% dos
homens e mulheres acima dos 6 anos não sabia ler. Era a taxa mais alta da Europa Ocidental.
Isso tem influência na análise da política, pois para o ponto de vista dos liberais, o “povo” não
é sinónimo de população, mas sim um conjunto de cidadãos instruídos, prósperos e
participativos. Por isso a frase de Fontes na Câmara dos Pares, em 1884: “O país real, o das
montanhas e diferentes localidades, é indiferente a tudo aquilo que nós aqui fazemos.28”

25
Ribeiro, 1993, p. 126.
26
Ramos, 2009, p. 514.
27
Ramos, 2009, pp. 515-6.
28
Ramos, 2009, p. 517.

19
O caso ibérico, apesar do seu atraso em relação à Inglaterra, França e os Estados Unidos,
nunca poderiam ser assimilados aos países subdesenvolvidos de outros continentes. Ambos,
Portugal e Espanha, desenvolveram uma função primordial na formação do capitalismo
mercantil, e a questão principal na história ibérica é perceber como, depois do seu papel
pioneiro, foram ultrapassadas por outras ascendentes potências durante a transição para o
capitalismo industrial, e não só isso, a acompanharem com grande dificuldade. Os ensaístas do
século XVII, em Portugal e em Espanha, já realçam o fosso entre a estrutura económica
portuguesa face à inglesa e francesa. A historiografia oitocentista pôs muita ênfase nos
acontecimentos que se sucederam um atrás do outro nos séculos XVI e XVII: integração na
monarquia hispânica, a perda de parte significativa do Império do Oriente e a menor autonomia
económica, que se estendeu muito para além da restauração da independência29.
É possível realizar uma análise focada no século XIX, que já é bastante esclarecedora
do estado do país. O século XIX é relativamente paradoxal, pois temos modificações
estruturais, como o desenvolvimento dos transportes, modernização das instituições, o
alargamento e aperfeiçoamento dos mercados de terra, trabalho e capital, mas em termos
económicos está na periferia europeia, e isso reflete no sentido de uma “nação decadente”. De
acordo com Jaime Reis, poderíamos resumir a três causas, acerca do fracasso e decadência
portuguesa. O primeiro seria a dependência externa de Portugal, isto obrigou Portugal, por todo
o século XIX, a dedicar-se maioritariamente ao setor primário, que seria em grande parte
exportado para a Inglaterra, e a falta de protecionismo e o livre cambismo levam que o país
importe manufaturas inglesas, o que dificulta o desenvolvimento da indústria portuguesa30. A
história de Portugal da segunda metade do século XIX resumir-se-ia à dos países cuja
industrialização foi bloqueada pela Inglaterra, de acordo com Miriam Halpern Pereira31. Uma
segunda análise atribui o atraso à estrutura fundiária herdada do Antigo Regime que foi alterada
e consolidada pelas reformas liberais do século XIX, que resultou numa concentração da
propriedade latifundiária no sul, em oposição à propriedade camponesa dispersa e fragmentada
no Norte. Uma terceira opção seriam as estruturas sociais e mentais da época, que seriam pouco
propiciadoras das transformações que uma revolução agrícola, industrial e dos transportes
exigem. Ou seja, a ideia de que por todo o século XIX persistiu “a força e a rigidez da
dominação aristocrático-religiosa da sociedade de Antigo Regime”, na qual a burguesia não

29
Pereira, 1978, p. 8.
30
Reis, 1981, p. 9.
31
Pereira, 1971, p. 351.

20
conseguia ultrapassar os comportamentos da aristocracia tradicional, que no fundo sempre foi
a sua mentora32.
No entanto, não poderíamos encarar a realidade com estas três opções apenas, pura e
friamente, porque na verdade é uma amálgama de fatores, e mesmo estes aqui mencionados
não ocorreram exatamente assim. Acerca da estrutura fundiária, a exploração camponesa
portuguesa não era inevitavelmente ineficiente, e em certos limites até oferecia vantagens, no
leite, no vinho e na carne33. Na questão da dependência externa, não é certo dizer que Portugal
adotou o livre cambismo, levando em conta que no fim do século XIX, as exportações só
representavam 7,5% do PNB. Além disso, em 1875 a 1895, as tarifas sobre certas manufaturas
eram das mais altas da Europa. Gerardo Pery, na sua Geographia e Estatística Geral de
Portugal de 1875, afirmava que o sistema seguido nas tarifas é o protecionista, para auxiliar as
indústrias nacionais34. Já a terceira tese, põe a tónica nas mentalidades. Primeiro, teríamos de
analisar todos os tipos de burguesia em si (import-export, agrária, industrial…), depois pensar
se este grupo não é condicionado por uma falta de empenho estatal no desenvolvimento, e se
essa persistência de uma mentalidade retrógrada não é ao mesmo tempo a causa e o sintoma do
atraso35.
Há fatores que não são tão levados em consideração e devemos pensar qual o potencial
económica da época, isto implica: a dotação de recursos naturais, a dimensão da economia, a
localização geográfica, a configuração do mercado internacional, a tecnologia disponível, o
stock de capital humano, incluindo a inadequação da componente empresarial ou a pobreza do
espírito burguês36.
O republicanismo em Portugal ascende num contexto em que Fontes Pereira de Melo,
numa posição de valido do rei D. Luís, que o favorecia, era o único que na década de 70, teve
a capacidade de equilibrar e gerir os “partidos” e convencer que se conciliarem. Apoiado no
rei, sempre governou através de combinação dos diversos grupos, e nunca a partir de um
programa definido. Nunca procurou praticar nenhuma censura ou reação negativa aos
progressistas, mas tenta de certa forma diminuir a sua capacidade de ação. É nesse contexto
que, com o objetivo de acossar os progressistas com um concorrente à esquerda, protege o
Centro Republicano de Lisboa, fundado em 1876 por antigos reformistas. Chegou até a ajudar
José Elias Garcia, para chegar ao cargo de presidente da câmara municipal. O Partido

32
Reis, 1981, p. 10.
33
Reis, 1981, p. 11.
34
Reis, 1981, pp. 12-3.
35
Reis, 1981, pp. 13-4.
36
Reis, 1981, pp. 25-6.

21
Republicano, em Lisboa e no Porto, é favorecido eleitoralmente nessa época, por regeneradores
e progressistas37. As ideias provinham do contexto europeu que rapidamente se difundem entre
os intelectuais através das facilidades de comunicação propiciadas pelos desenvolvimento da
política fontista. Uma das suas inspirações viria do republicanismo espanhol de 1868. Antero
de Quental, na obra Portugal perante a revolução de Espanha, afirma: “Quem diz
“democracia”, diz naturalmente república. Se a democracia é uma ideia, a república é a sua
palavra; se é uma vontade, a república é a sua ação; se é um sentimento, a república é o seu
poema”38. Os planos de democracia radical definham na sequência de vários acontecimentos:
o fim da Comuna de Paris, restauração do regime monárquico espanhol de 1874, e encaminhada
a III República francesa para o regime “monarcófilo” que quase se despenhou, nada ou quase
nada parecia sobrar das suas primeiras ilusões39. A política regeneradora e fontista recebeu
críticas substanciais dos letrados da década de 70, que provinha em grande parte da classe
média que encaminha os filhos para Coimbra, para depois serem empregados do Estado, e
formavam o conjunto de Republicanos e apoiantes deste. Após a morte de Fontes em 1887,
Oliveira Martins escreve que era um homem honrado, que “propôs-se modernizar Portugal, e
conseguiu-o”, mas a sua “política materialista deprimiu o nível moral deste pobre povo”40.
Ora Cesário Verde, atento e empenhado nas questões sociais e políticas, acompanhava
de perto estas realidades e certamente manifestava, poeticamente e de forma muitas vezes
subtil, a sua perplexidade sobre elas. Assistia como quase todos, com um sentimento de
impotência a um percurso do país que não era nada animador.

Os contrastes sociais na vida citadina


Uma das mais fortes componentes do poema é a análise e crítica social através da
descrição de personagens, e neste caso, típicas do cenário lisboeta da segunda metade do século
XIX. Através da sua presença, faz subtis críticas acerca da sua condição e degradação, e as
injustiças sociais. Cesário faz “uma espécie de mosaico da sociedade portuguesa em que as
imagens contraditórias formam um todo41”.
“E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,/ Correndo com firmeza, assomam as
varinas”. Entram em cena então, o que para o eu lírico realmente movimenta a cidade, as
varinas entram na cidade como um “cardume negro”. Estas têm uma entrada bastante forte no

37
Ramos, 2009, pp. 526-7.
38
Homem, 1993, p. 132.
39
Homem, 1993. p. 133-4.
40
Ramos, 2009, p. 530.
41
Almeida, 2011, p. 85.

22
poema, e são um aspeto interessante pois neste contexto, elas são o único aspeto que o liga a
Camões e ao passado que evoca, mas não tem espaço na realidade do seu presente. São
apresentadas como “hercúleas”, relembrando as grandes crónicas navais. As varinas, no
entanto, carregam os seus filhos cujo destino está condenado ao fracasso, ao “naufrágio”. As
varinas criam filhos que serão “náufragos”, mas não nas navegações das grandes descobertas,
pois afundam antes de partir. Aqui temos uma denúncia moral e uma certa inversão dos valores
naturais, ao contrastar as varinas com os “querubins do lar”. Estes últimos são as damas da
burguesia citadina, flutuantes, etéreas, lânguidas, que habitam as varandas e dinamizam o
consumismo da cidade. Já as varinas, estão descalças, descritas quase como bestas de carga
que trabalham durante a noite e o dia. As quais vivem em bairros degradados e com pouca
higiene, numa própria degradação material, e sublinha o autor, sujeitas a viverem nos focos de
infeção42. Ainda sobre as varinas não terem espaço no século XIX, estas também mudam de
características, e a sua progressiva degradação é a marca disso. Reparemos como as varinas,
anteriormente sempre associadas à tradição, ao bucolismo, agora são submetidas à
modernidade, isto é, ao carvão das grandes fragatas, e o típico local insalubre de habitação dos
trabalhadores citadinos. Os termos “infeção” e “infetados”, encontra-se presente neste poema,
não só em relação à epidemia em si, mas aos vários vícios da sociedade, e à melancolia, e isso
se deve ao facto de Cesário se ter confrontado com a tuberculose desde pequeno,
constantemente a ir e voltar ao campo para fugir da doença, e a sua própria irmã morreu jovem
devido à mesma.
“Toca-se às grades, nas cadeias. Som/ Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!/ O
aljube em que hoje estão velhinhas e crianças,/ Bem raramente encerra uma mulher de “dom”!”
A prisão metafórica que o eu lírico diz representar a cidade para si, agora toma forma numa
prisão real, a do Aljube. Aqui temos mais uma explícita denúncia social, na qual velhinhas e
crianças são encarceradas, raramente sendo uma mulher do “dom”, isto é, de posses e de
elevada posição social.
Estabelece uma crítica ao catolicismo, em que as igrejas “lançam a nódoa negra e
fúnebre” e recorda a figura de “um torvo inquisidor, severo” dos tempos da Inquisição. No
entanto, as formas antigas de repressão são substituídas pelas presentes, ao dizer que os quarteis
são os antigos conventos (“Partem patrulhas de cavalaria/ Dos arcos dos quartéis que foram já
conventos:”). Retornando o rico assunto da doença, que como já foi mencionado, se relaciona
às enfermidades e os focos de infeção, mas também os vícios da sociedade e a melancolia, tem

42
Macedo, 1999, p. 171-2.

23
como “mole hospital”, isto é, sua cura, as prostitutas. Salvados de uma pátria doente, estando
elas mesmas “impuras”, mas não mais do que o resto da sociedade. Esta associação entre
prostitutas e os hospitais é próxima à associação entre o comércio de igreja. As lojas são
imensas catedrais profanas: as lojas são as capelas; os manequins nas montras são as imagens
de santos; os clientes, a congregação dos fieis; e a mercadoria, os andores, ramos e velas. Esta
relação significa uma intrínseca dependência dos dois mundos, com as “burguesinhas do
catolicismo”. Para o autor, a doença e o histerismo religioso estão relacionados, vivem uma
intoxicação religiosa. Por isso, prostitutas, burguesinhas e freiras estão todas infetadas pela
mesma doença social43. “A atmosfera de decadência atinge um nível tal que as prostitutas
ganham uma significação de salvadoras da pátria, afinal elas são os hospitais, porém são
também impuras - a salvação da pátria não existe, pois é doença44”. Ou seja, uma total
subversão dos valores, que pode ser observada também quando as varinas substituem os varões.
Em contraste, para o eu lírico, a saúde e a honestidade residem nos trabalhos manuais
tradicionais, como o padeiro e o forjador. (“Num cuteleiro, de avental, ao torno,/ Um forjador
maneja um malho, rubramente;/ E de uma padaria exala-se, inda quente,/ Um cheiro salutar e
honesto a pão no forno.”)
A seguir, temos os vendedores e as burguesas que frequentam as lojas. Aqui temos uma
ideia de falta de originalidade e identidade, “a excessiva preocupação dos vendedores quando
aparece um comprador para as suas mercadorias; a moda francesa copiada por uma senhora
que passeia pela rua com o seu cão; a exposição das mercadorias. O mundo moderno em
Portugal é falso ou uma cópia de um modelo pré-existente.45” E logo à frente deste mundo de
dinheiro e consumismo, apresenta-nos um mendigo, o seu antigo professor de Latim, passa a
ideia de desprezo pela própria cultura e educação. A escuridão da cidade pelo facto de ter
acabado o gás revela a ignorância. Pode ser uma transversalidade da inexorável decadência a
que todos os portugueses estão condenados. Isto é, assim como os filhos das varinas, os
vendedores ávidos, os religiosos, as burguesas, também os professores, é mais um para a
miséria e esquecimento. “Será que desvalorizar o conhecimento é válido para atingir a
modernidade? A ignorância traz modernidade? A modernidade importada é a solução para a
peculiaridade do país?46”. Se o poema não aventa uma solução para toda a miséria e
degradação, identifica magistralmente uma possível saída: o investimento em educação e

43
Macedo, 1999, p. 179-80.
44
Almeida, 2011, p. 85.
45
Almeida, 2011, p. 86.
46
Almeida, 2011, p. 86.

24
cultura pode extirpar a crise. Lisboa e Portugal não aprendem sobre o passado, pelo
contrário, desprezam-no – mais uma característica da modernidade é o abandono do que é
considerado velho47.

Modernidade
Uma componente forte no poema é a presença de fatores que consideramos serem
indícios da modernidade, trazidos de fora e inseridos no contexto português, e como o eu
poético as encara. O gás, grande símbolo da modernidade que mudou os hábitos e costumes
das sociedades, nos próprios ambientes de trabalho, uma vez que a luz artificial permite às
fábricas que os seus operários pernoitassem a trabalhar, enjoa e perturba; e a fumaça que sai
das chaminés e os edifícios o fazem recordar da "monótona" Inglaterra (“O céu parece baixo e
de neblina,/ O gás extravasado enjoa-me, perturba;/ E os edifícios, com as chaminés, e a turba/
Toldam-se duma cor monótona e londrina.”) Em relação aos ingleses, em outros poemas,
Cesário salienta melhor a sua opinião, e opõe o estilo de vida inglês, a industrialização, a
mecanização, a artificialidade, a falta de calor humano, com a vida portuguesa, bucólica e
humana. Mas esses comentários estão longe de serem negativos e hostis, pois pessoalmente o
poeta tem por essas realidades uma grande admiração. Foi um homem muito viajado e, como
exportador de fruta, teve a oportunidade de visitar a Grã-Bretanha. É atraído pela vida à inglesa,
e vestia-se e apresentava um semblante britânico, como queria aparentar. Por isso, acredito que
a sua opinião sobre a Inglaterra e tudo o que ela trouxe ao mundo, como a industrialização e as
mudanças negativas consequentes disso, não tem a ver com uma crítica a Grã-Bretanha em si
e à modernização, mas sim com a forma como Portugal se adequa a isso e, noutra vertente,
com a sua lamentável subordinação ao ingleses48.
A via-férrea leva aqueles que emigram e traz as novidades do mundo europeu (Levando
à via-férrea os que se vão. Felizes!/ Ocorrem-me em revista, exposições, países:/ Madrid, Paris,
Berlim, S. Petersburgo, o mundo!”) É importante que recordar que a determinação principal da
política da Regeneração e de Fontes Pereira de Melo era fazer triunfar os caminhos de ferro em
Portugal e quando o projeto foi aprovado, o diário Revolução de Setembro afirma: “Desde que
dobrámos o cabo da Esperança, nunca praticámos feitos de tamanha transcendência”49. Entre
1856 e 1890, foram lançados 1689 km de linha férrea e mais de 80% foram sob governo no
qual Fontes participou. O tempo de viagem reduziu-se entre Lisboa e Porto para apenas 8 horas,

47
Almeida, 2011, p. 90.
48
Carter, 1989, pp. 218-9.
49
Ramos, 2009. p. 511.

25
invés de 7 dias por diligência ou dois dias de barco, e os custos diminuíram. Paris fica a dois
dias de viagem. Realizaram- se obras nos portos, construiu-se a ponte ferroviária D. Maria Pia.
Em termos de comunicação, o país adquiriu uma rede de telégrafo elétrico; o país estava ligado
à Inglaterra e os Brasil a partir de cabos submarinos. A questão das obras públicas assume dois
aspetos fundamentais para o capitalismo em Portugal: primeiro, é uma fonte de rendimento
necessária à concretização de outras atividades inerentes ao Estado liberal; segundo, contribuiu
para o aumento de produção pela facilidade de transporte e mais fácil troca de produtos. A
política fontista tinha como objetivo diminuir as assimetrias regionais, e facilitar a integração
europeia de Portugal, estabelecendo uma rede viária de estradas e de caminhos-de-ferro50. As
exportações aumentaram, os portugueses circulavam pela Europa e migraram, especialmente
para as Américas, e em 1880, enviavam cerca de 15 mil contos às famílias em Portugal51. As
dificuldades financeiras devido ao grande investimento nas décadas de 1850 e 1860, aliadas à
crise económica de 1876, explicam, por uma parte, a ligeira retração das obras públicas entre
1870 e 1880. Apesar de tudo, as obras públicas tiveram inegavelmente uma função reguladora
do mercado de trabalho e contribuíram para controlar a situação social do país, na medida em
que, ao assegurar uma ocupação mais regular do trabalho e oferecem trabalho complementar
ou alternativo em momento de crise, permitiram que, num forte crescimento demográfico, a
taxa de desemprego permanente não subisse excessivamente e os salários se mantivessem
relativamente altos52.
Os processos de industrialização e urbanização, que tornaram a cidade num centro de
circulação de gentes, mercadorias e capital, fizeram que as cidades do século XIX sofreram
transformações supra económicas, mas também no foro cultural e social: o aumento
populacional provoca o alagamento de ruas e a criação de condições mais dignas de moradias
para que os que podiam arcar com os custos. Durante a segunda metade do século XIX,
assistimos a mudanças administrativas, demográficas, económicas e de transportes
significativas. O crescimento, tanto da área como da demografia, é muito expressivo, com mais
de 330 mil habitantes, o dobro do que havia no início do século. Quase dois terços dos ativos
(62%) eram do setor terciário, mais de um terço dos ativos (34%) era do setor secundário, como
seria expectável numa cidade em vias de industrialização, e 4% dedicava-se ao setor primário,
sobretudo nas atividades piscatórias ou agrícolas nas zonas periféricas53.

50
Ribeiro, 1993, p. 126.
51
Ramos, 2009, p. 512.
52
Martins, 1997, pp. 193-4.
53
Tomás et al., 2021, 217-9.

26
Descreve a falta de saneamento e as más condições de higiene das zonas de habitação
das camadas populares, ressaltando a denúncia da degradação material. A cidade é descrita
abrigando todos os seus contrastes, os da modernidade como os edifícios amadeirados
(“Semelham-se a gaiolas, com viveiros,/ As edificações somente emadeiradas”) e os símbolos
do crescimento como os hotéis da moda (“E em terra num tinir de louças e talheres/ Flamejam,
ao jantar, alguns hotéis da moda”), mas também a turba, os trabalhadores, os pobres e mal
cheirosos54.

Conclusão
Perante a análise da cidade, o eu poético parece, sucintamente, sugerir conclusões sobre
o que observa. Ao longo do poema, um dos pontos mais fortes que alguns autores apontam é
que em Portugal já não se faz história: “Lisboa está presa ao passado - a história repete-se em
um país que não participa mais da história como a Lisboa de Camões fazia. (...) No passado,
lutava pelas suas conquistas, e agora deixa de levantar seu pescoço numa atitude estática de
aceitação do presente. O país está em uma “noite fechada” ou seja, a noite “é volta ao
indeterminado onde de misturam pesadelos e monstros55”
A última parte “Horas Mortas”, estamos na noite profunda, e parece ser o momento de
reflexão final do sujeito poético. Temos uma ponta de esperança (ou ilusão ou ironia), com a
ideia da existência de um porvir. As cinco últimas estrofes estão interligadas, e temos a negação
da idealização do Portugal glorioso. “(...) Surgem tipos sociais escolhidos pelo autor que
representam muito bem a estética realista – bêbados, ladrões, cães esfomeados e imorais
que observam, das sacadas, o passeio dos guardas. O ambiente de degradação fica
evidente e os guardas não parecem estar preocupados com a ordem, afinal pertencem
a esse mundo decadente, na verdade eles aparecem como baluartes dessa nova realidade.
A seleção desses tipos sociais não serve apenas para inserir o poema na estética realista, mas
para apontar a diferença existente entre os homens que constroem o país hoje e os que o fizeram
outrora56” Os prédios são sepulcros, e o mar que antes foi a porta de saída para um Novo
Mundo, o mar era no passado o caminho para as descobertas, o ponto de partida de Vasco da
Gama e um ar fresco para a sociedade portuguesa, são agora “marés, de fel, como um sinistro
mar!”. Afinal, retorna o Adamastor.

54
Cruz, 2012, pp. 148-53.
55
Almeida, 2011, p. 85.
56
Almeida, 2011, p. 87.

27
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