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HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL – 6º ANO

1. PORTUGAL NO PASSADO

1.1. Portugal no século XVIII


1.1.1 O Império Colonial português do século XVIII

Colónias pertencentes a Portugal


No século XVIII o Império português era constituído por:
− Na Ásia: pelas cidades de Damão, Diu e Goa na Índia e ainda por Macau e
Timor;
− Em África: por Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique
− Na América: pelo Brasil

Brasil
Neste período Portugal já não obtinha grandes lucros com o comércio do Oriente
(Índia) devido à concorrência com ingleses, franceses e holandeses, por isso interessou-se mais
em explorar o Brasil.
O tempo quente e húmido permitiu cultivar grandes quantidades de cana-de-açúcar
que depois era trabalhada nos engenhos para ser transformada em açúcar.
Além do açúcar, o Brasil passou a ser bastante importante por causa da descoberta de
ouro e de pedras preciosas.
Bandeirantes: pessoas que foram para o interior do Brasil à procura de ouro, pedras
preciosas e de índios para escravizar. Fundaram cidades e povoações o que permitiu alargar as
fronteiras do Brasil para além da linha de Tordesilhas.
Engenhos: conjunto de instalações que moem a cana-de-açúcar e a transformam em
açúcar.

Comércio triangular
Neste período desenvolveu-se o comércio entre três continentes: Europa, América e
África.

Movimentos da população
− Da metrópole (Portugal):
o Milhares de colonos partiram para o Brasil em busca de melhores
condições de vida;
o Missionários também partiram para o Brasil com a missão de expandir a fé
católica.
− De África:
o Milhares de escravos foram levados para o Brasil para trabalhar nas
plantações de cana-de-açúcar, nos engenhos e na exploração do ouro.
Eram transportados em navios negreiros em condições desumanas.
− No Brasil:
o Os bandeirantes deslocaram-se para o interior do Brasil à procura de ouro,
pedras preciosas e de índios para os escravizar;
o Os missionários também foram para o interior para evangelizar os índios
brasileiros e para os proteger da escravatura.

1.1.2 A sociedade portuguesa no tempo de D. João V

Governo de D. João V
A descoberta de ouro e de pedras preciosas desenvolveu o comércio triangular que
trouxe grandes riquezas a Portugal. D. João V tornou-se num dos reis mais ricos da Europa e
concentrou em si todos os poderes passando a governar como um rei absoluto.
Monarquia absoluta: regime em que o rei concentra em si todos os poderes.

Poderes do rei:
− Legislativo: fazia as leis
− Executivo: fazia cumprir as leis
− Judicial: julgava quem não cumpria as leis

− A vida da corte
o Vivia em luxo e ostentação
o Realizavam-se bailes, teatros, concertos, banquetes e cortejos para
mostrar a sua riqueza
− A nobreza
o Tentava imitar a corte no vestuário, na habitação e nos divertimentos.
− O clero
o Construiu igrejas e conventos e adornou outras
o Tinha um grande poder e criou o Tribunal de Inquisição que perseguia e
condenava à morte quem estivesse contra a Igreja Católica, quem
praticasse outra religião ou quem fosse suspeito
o Cristãos-novos: nome dado a quem aceitava converter-se à religião
católica. No entanto, muitos foram perseguidos e condenados à morte por
suspeita de praticarem outras religiões em segredo.
o Autos-de-fé: cerimónias públicas onde os condenados eram torturados e
queimados vivos.
− A burguesia
o A alta burguesia enriqueceu com o comércio e tentou imitar o modo de
vida da nobreza
o Estes burgueses conviviam em clubes e cafés com artistas, escritores e
políticos
− Povo
o Continuava a viver em grandes dificuldades

Grandes construções
Parte das riquezas obtidas com o ouro brasileiro foi gasta na construção de grandes
palácios e conventos.
Por iniciativa régia (do rei):
− Aqueduto das Águas Livres
− Palácio e Convento de Mafra
− Capela de S. Batista
Por iniciativa da nobreza:
− Solar de Mateus
− Palácio dos Condes de Anadia
− Palácio do Freixo
Por iniciativa do clero:
− Torre dos Clérigos

Estilo Barroco
O estilo que caracterizava estas construções era o Barroco.
Características do estilo barroco:
− Grandiosidade
− Revestimento em talha dourada, azulejo e mármore
− Decoração abundante com curvas
− Abundância de estátuas

1.1.3 Lisboa pombalina

Governo de D. José I
Em 1750, D. José I sobe ao trono e nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro
Marquês de Pombal, como ministro.

Terramoto de 1755
Lisboa ficou praticamente destruída após o terramoto de 1755:
− Morreram cerca de 10 000 pessoas
− Grande maior parte dos edifícios ficaram em ruínas
− Perderam-se muitos tesouros como livros, manuscritos, quadros e objetos de
ouro e de prata

Ação do Marquês de Pombal após o terramoto


− Mandou enterrar os mortos e socorrer os feridos
− Mandou policiar as ruas e os edifícios mais importantes para evitar roubos
− Encarregou o engenheiro Manuel da Maia e o arquiteto Eugénio dos Santos
elaborar um plano de reconstrução da baixa de Lisboa

Características da nova Lisboa


A baixa de Lisboa é conhecida por baixa pombalina porque o responsável pela sua
reconstrução após o terramoto foi o Marquês de Pombal. Esta reconstrução caracterizou-se
por várias inovações:
− Ruas largas
− Passeios calcetados
− Traçado geométrico
− Prédios da mesma altura com fachadas iguais e dotados de um sistema de
madeira anti-sísmico
− Rede de esgotos
− O Terreiro do Paço deu lugar à Praça do Comércio em homenagem aos
burgueses que contribuíram com dinheiro para a reconstrução de Lisboa.

Situação de Portugal neste período


O reino português encontrava-se em crise:
− O comércio enfrentou uma grande concorrência estrangeira que impediu o seu
crescimento
− A agricultura e a indústria não produziam o suficiente, portanto Portugal tinha
que comprar quase tudo ao estrangeiro
− Chegava cada vez menos ouro do Brasil, por isso deixou de haver dinheiro para
importar tantos produtos
− O terramoto de 1755 veio agravar ainda mais a situação do país

Reformas pombalinas
Para resolver a grave situação que enfrentava Portugal, Marquês de Pombal decidiu
fazer várias reformas:
− Reformas económicas:
− Desenvolveu a indústria apoiando fábricas antigas e criando novas
− Criou companhias de comércio

Reformas políticas e sociais


− Perseguiu e retirou poder à Nobreza (retirou cargos e riquezas e reprimiu
quem se lhe opusesse)
− Diminuiu o poder do Clero, expulsando os Jesuítas
− Protegeu a Burguesia
− Extinguiu a escravatura no reino (embora continuasse a existir nas colónias
portuguesas)

Reformas no ensino
− Criou escolas primárias
− Reformou a Universidade de Coimbra
− Extinguiu a Universidade de Évora que era controlada pelos Jesuítas
Marquês de Pombal utilizou a Burguesia como motor de desenvolvimento económico
do país, e retirou poder às classes privilegiadas, ou seja, ao Clero e à Nobreza.
Todas estas medidas, a nível social, político, económico e do ensino, contribuíram para
a modernização do país.

1.2. 1820 e o triunfo dos liberais


1.2.1 As invasões napoleónicas
Revolução Francesa
Em 1789 aconteceu a Revolução Francesa que pôs fim à Monarquia Absoluta em
França. Esta revolução tinha como princípios a igualdade, a liberdade e a separação dos
poderes (liberalismo).
Os reis europeus absolutistas sentiram-se ameaçados com estas ideias liberais,
uniram-se e declararam guerra à França.
Napoleão Bonaparte estava à frente do governo francês e conseguiu derrotar os seus
opositores e passou a dominar grande parte da Europa, com exceção da Inglaterra. Para os
enfraquecer, ordenou que todos os portos europeus não permitissem a entrada de navios
ingleses – Bloqueio Continental.

Fuga da família real portuguesa para o Brasil


Neste período Portugal tinha uma rainha, D. Maria I, viúva e doente. Por isso, o reino
era governado pelo seu filho, o príncipe João.
Portugal, como era um velho aliado da Inglaterra e não queria perder o comércio com
os ingleses, demorou a aderir ao bloqueio continental imposto por Napoleão Bonaparte.
Quando o príncipe regente decidiu aderir ao bloqueio continental, já a França e a
Espanha, sua aliada, tinham decidido invadir Portugal.
A família real, com medo de ser presa pelas tropas francesas, parte para o Brasil em
1807, e é criada uma Junta de Regência para governar Portugal.

1ª invasão francesa (1808)


Comandante: Junot
Instalou-se em Lisboa, mandou substituir a bandeira portuguesa pela francesa no
castelo de S. Jorge, acabou com a Junta de Regência e passou ele a governar Portugal.
Durante a invasão francesa destruíram-se culturas, mataram-se pessoas e foi roubado
tudo o que tivesse valor.

Reação portuguesa:
Foram criados movimentos de resistência pelos populares e foi pedido auxílio aos
ingleses. O exército anglo-português venceu os franceses nas batalhas da Roliça e do Vimeiro e
Junot assinou a Convenção de Sintra e abandonou Portugal.

2ª invasão francesa (1809)


Comandante: Soult
Entrou por Trás-os-Montes, chegou ao Porto mas encontrou uma forte resistência e
refugiou-se na Galiza.

3ª invasão francesa (1810)


Comandante: Massena
O seu exército perdeu muitos soldados na batalha do Buçaco mas tentou na mesma a
todo o custo chegar a Lisboa. No entanto, ficou retido na linha defensiva de Torres Vedras, que
era um conjunto de fortificações e canhões criados pelos ingleses para proteger a cidade de
Lisboa.
Massena foi obrigado a desistir e a retirar-se definitivamente.

1.2.2 A revolução liberal de 1820

Situação do reino português após as invasões francesas


A população encontrava-se bastante descontente:
− A família real continuava no Brasil e sem intenções de voltar
− O reino encontrava-se pobre e desorganizado
− Os ingleses não saíram de Portugal e controlavam o comércio feito com o
Brasil, prejudicando assim os comerciantes portugueses
− Grande parte da população, sobretudo o povo e a burguesia, começou a
defender as ideias liberais vindas de França.

Revolução liberal de 1820


Em 1818 foi fundada no Porto uma sociedade secreta chamada Sinédrio que tinha
como objetivo preparar uma revolução para expulsar os ingleses e ordenar o regresso do rei
que estava no Brasil.
Em 1820 iniciou-se a Revolução Liberal, no Porto, que depois se espalhou por todo o
país e em Lisboa.

Monarquia Liberal
Portugal passou a ter uma monarquia liberal. Foram criadas as Cortes Constituintes
que tiveram a função de criar a Constituição de 1822, onde estavam definidos os direitos e
deveres dos cidadãos. Nesta Constituição estava definido que todos os cidadãos eram iguais
perante a lei e estava estabelecida a separação de poderes.

Independência do Brasil
O rei D. João VI regressou a Portugal, ficando o seu filho D. Pedro na regência do Brasil.
Durante a permanência do rei o Brasil teve um grande desenvolvimento e os portos foram
abertos aos comerciantes estrangeiros o que favoreceu a burguesia brasileira. Estes apoiaram
D. Pedro que declarou a independência do Brasil em 1822.

1.2.3 A luta entre liberais e absolutistas

Guerra Civil
Quando D. João VI morre, D. Pedro sucede-lhe mas abdica do trono para ficar no
Brasil. Passa a coroa para a sua filha Maria da Glória mas, como tinha apenas 7 anos, fica como
regente o seu irmão D. Miguel.
D. Miguel prometeu governar segundo um regime liberal mas em 1828 dissolveu as
cortes e passou a governar como rei absoluto com o apoio da nobreza e do clero e perseguiu
os liberais.
Em 1831, D. Pedro abdicou do trono brasileiro e rumou à Europa, instalando-se com
exilados liberais na Ilha Terceira, nos Açores.
Em 1832, desembarcou com as suas tropas numa praia próxima do Porto e avançou
sobre a cidade, sem encontrar resistência.
Assistimos assim a uma Guerra Civil em Portugal (de um lado os Absolutistas, liderados
por D. Miguel e do outro lado os Liberais, liderados por D. Pedro).
Só depois de várias derrotas é que D. Miguel assinou a paz através da Convenção de
Évora Monte em 1834.
O Liberalismo saiu vitorioso e implantou-se definitivamente no nosso país.

1.3. Portugal na segunda metade do século XIX


1.3.1 O espaço português

Regeneração
No início da segunda metade do séc. XIX, o Reino de Portugal encontrava-se pobre e
desorganizado, principalmente devido a três acontecimentos:
− Invasões napoleónicas
− Guerra civil entre liberais e absolutistas
− Independência do Brasil
As principais atividades económicas (agricultura, criação de gado, extração mineira)
encontravam-se bastante atrasadas, por isso Portugal tinha que importar vários produtos de
outros países europeus com maior desenvolvimento. Era importante nesta altura desenvolver
estas atividades económicas para tirar o Reino desta crise.
A 1851 iniciou-se o movimento de Regeneração. Este movimento procurava o
“renascer” da vida nacional, pois queria um novo rumo para Portugal, que se encontrava
muito atrasado e pouco desenvolvido.
Durante o período da Regeneração, várias medidas foram tomadas para desenvolver
as atividades económicas, o que permitiram a modernização e o progresso do país.
Este período de desenvolvimento apenas foi possível devido à:
− existência de paz no Reino
− estabilidade política após o triunfo do liberalismo

Desenvolvimento da agricultura
Para aumentar a produção de alimentos, os governos liberais tomaram várias medidas
para o desenvolvimento da agricultura e para o aumento da área cultivada.
Medidas para aumento da área cultivada:
− extinção do direito do morgadio, ou seja, do direito do filho herdar todas as
terras da família. As terras passaram a ser divididas por todos os filhos para
assegurar uma melhor exploração das terras
− entrega de terras pertencentes a nobres e clérigos a burgueses
− entrega de baldios (terras incultas) aos camponeses
Novas técnicas:
− utilização de adubos químicos
− utilização de sementes selecionadas
− alternância de culturas, que pôs fim ao pousio. Desta forma as terras não
precisavam de estar um período de tempo sem estarem cultivadas
− introdução das máquinas agrícolas, inclusive a debulhadora mecânica a vapor
Novas culturas:
− batata
− arroz

Desenvolvimento da indústria
A introdução da máquina a vapor na indústria contribuiu de forma significativa para o
seu desenvolvimento. Esta inovação permitiu aumentar a produção em menos tempo, o que
possibilitou o aumento de lucros.
A produção artesanal foi assim começando a dar lugar à produção industrial por ser
mais lucrativa.

Principais diferenças entre produção artesanal e produção industrial:


Produção artesanal Produção industrial
Artesãos Operários
Oficinas Fábricas
Ferramentas simples Máquinas
Muito tempo de produção Pouco tempo de produção
Pouca produção Muita produção
Produtos únicos Produtos em série
Produtos mais caros Produtos mais baratos
Menor lucro Maior lucro

A maior parte das fábricas instauraram-se nas zonas do litoral, principalmente na zona
de Porto/Guimarães (indústria têxtil e calçado) e na zona de Lisboa/Setúbal (indústria química
e metalúrgica)

Exploração mineira
Com o desenvolvimento da indústria tornou-se necessário desenvolver a exploração
mineira por se precisar de matérias-primas e combustíveis. Os metais mais procurados eram o
cobre e o ferro. O carvão também foi muito procurado porque nessa época era a principal
fonte de energia.

Alteração da paisagem
O aumento dos campos de cultivo e o aumento do número de fábricas e de minas
provocaram uma profunda alteração das paisagens. Nas cidades predominavam as chaminés
muito altas que enchiam o céu de fumos e maus cheiros.

O fontismo
Para promover o desenvolvimento da agricultura, do comércio e da indústria, era
necessário a construção de uma boa rede de transportes e de comunicações. Com esse fim,
em 1852, foi criado o Ministério das Obras Públicas, dirigido por Fontes Pereira de Melo. Esta
política de construção de obras públicas (estradas, pontes, portos, caminhos-de-ferro, ligações
teleféricas, etc…) ficou conhecida por fontismo, devido ao nome do seu principal
impulsionador.
Surgiram novos meios de transporte e de comunicação, o que permitiu uma maior
mobilidade de pessoas, maior circulação de ideias e informações e a deslocação de mais
mercadorias em menos tempo.

Desenvolvimento dos meios de transporte e vias de comunicação


− Caminhos-de-ferro
A rede de caminhos-de-ferro cresceu de forma muito rápida e ao longo da sua
extensão construíram-se várias pontes, túneis e estações.
Em 1856 realizou-se a primeira viagem de comboio, entre Lisboa e Carregado.
Em 1887 inaugurou-se a ligação direta Lisboa-Madrid-Paris. Portugal ficou assim mais
próximo do centro da Europa.
− Rede de estradas
Iniciou-se também a renovação e construção de novas estradas em todo o país. De
forma a facilitar a circulação também se construíram várias pontes.
A partir de 1855 começou a circular na estrada Lisboa-Porto a mala-posta, uma
carruagem que transportava o correio e algumas pessoas.
No final do século XIX surgiram os primeiros automóveis.
− Portos marítimos e faróis
Para tornar mais segura a navegação costeira construíram-se vários faróis e
melhoraram-se os portos marítimos.
Surgiram nesta época os barcos movidos a vapor, primeiro no Rio Tejo, depois na
ligação entre Lisboa e Porto e, mais tarde ainda, na ligação aos Açores e Madeira.

Desenvolvimento das comunicações


Os correios foram remodelados, surgindo o primeiro selo-adesivo, o bilhete-postal e os
primeiros marcos de correio.
Surgiu também o telégrafo e mais tarde o telefone.

Modernização do ensino
O país encontrava-se em modernização, por isso também era necessário que a
população se tornasse mais instruída e competente para realizar as mudanças pretendidas.
Tomaram-se então várias medidas no ensino:
− Ensino primário:
o Criaram-se novas escola primárias
o Tornou-se obrigatória a frequência nos primeiros 3 anos, com mais um de
voluntariado
− Ensino liceal:
o Criaram-se novos liceus em todas as capitais de distrito e dois em Lisboa
o Fundaram-se escolas industriais, comerciais e agrícolas
− Ensino universitário:
o Criaram-se novas escolas ligadas à Marinha, às Artes, às Técnicas e ao
Teatro

Direitos Humanos
Também foram tomadas importantes medidas relacionadas com os Direitos Humanos:
− Abolição da pena de morte para crimes políticos (1852)
− Abolição da pena de morte para crimes civis (1867)
− Extinção da escravatura em todos os territórios portugueses (1869)

Os movimentos da população
− Contagem da população
Para dar melhor resposta às necessidades da população, tornou-se necessário saber o
número de habitantes do país, e onde se concentravam com maior quantidade.
Já se tinham realizadas contagens da população, mas eram pouco exatas pois tinham
como base a contagem de habitações e não de pessoas. A estas contagens dá-se o nome de
numeramentos.
A primeira contagem rigorosa do número de habitantes do país realizou-se em 1864,
ou seja, foi quando se realizou o primeiro recenseamento. Em boletins próprios os habitantes
tinham que colocar o nome, o sexo, a idade, o estado civil e a profissão. A partir dessa data
realizam-se recenseamentos, ou censos, de 10 em 10 anos.
− Crescimento demográfico
Através dos recenseamentos verificou-se o aumento de população desde que se fez o
primeiro censo. De 1864 até 1900 a população passou de cerca de 4 milhões de habitantes
para 5 milhões.
Este facto justifica-se pela melhoria de condições de vida da população:
o Período de paz e estabilidade política e social
o Melhoria da alimentação, com o aumento do consumo da batata e do
milho
o Melhoria das condições de higiene, com a construção de esgotos,
distribuição de água através da canalização e calcetamento das ruas
o Melhoria da assistência médica e hospitalar, com o aparecimento de novos
medicamentos, divulgação de algumas vacinas e construção de hospitais
− Distribuição da população
Verificou-se também que o crescimento populacional não ocorreu de igual forma por
todo o território. O aumento de população foi maior no norte litoral, onde se encontravam os
solos mais férteis, maior quantidade de portos de pesca e unidades industriais.
Entretanto, em todas cidades verificou-se aumento de população, principalmente as
do litoral.
− Êxodo Rural
Apesar do desenvolvimento da agricultura, a produção continuava a ser pouca. A
mecanização originou despedimentos e as dificuldades no meio rural intensificaram-se. Sendo
assim, muitas pessoas decidiram abandonar os campos para ir para as cidades à procura de
melhores condições de vida. A este fenómeno dá-se o nome de Êxodo Rural.
− Emigração
Entretanto, devido ao aumento da população, não havia postos de emprego para
todos nas cidades. Muitos dos trabalhos eram mal pagos apesar de se trabalhar duramente
muitas horas diárias.
Sendo assim, muitas pessoas decidiram procurar melhores condições de vida no
estrangeiro, sobretudo para o Brasil, pois falava-se a mesma língua e porque havia
necessidade de mão-de-obra devido à extinção da escravatura. Muitos emigrantes
enriqueceram e ao regressar a Portugal compraram terras, palacetes e vestiam-se
luxuosamente. Eram chamados os «brasileiros».
Além do Brasil, foram destinos dos portugueses países da América Central e os Estados
Unidos da América.

1.3.2 A vida quotidiana

No campo
− Atividades económicas:
As principais atividades do meio rural na segunda metade do século XIX continuavam a
ser a agricultura, a criação de gado e a pesca nas zonas do litoral.
Na sua maioria, os camponeses não eram donos das terras em que trabalhavam. As
terras pertenciam sobretudo à antiga nobreza, proprietários burgueses e a alguns lavradores
mais abastados.
O trabalho no campo era muito duro e os rendimentos eram poucos, por isso, os
camponeses viviam muito pobremente.
Com a introdução da máquina na agricultura, aumentou-se o desemprego por já não
ser precisa tanta mão-de-obra, dificultando ainda mais a vida dos homens do campo.
− Alimentação:
Os camponeses alimentavam-se sobretudo do que cultivavam. Dos produtos que mais
consumiam destacam-se a batata, pão de centeio ou de milho, sopas de legumas e sardinhas.
A carne, mais cara e de difícil conservação, era apenas consumida em dias de festa.
− Vestuário:
O vestuário dos camponeses variava de região para região, de acordo com o clima e
com as atividades predominantes.
No interior, era frequente os homens usarem calças compridas, coletes ou jaquetas, e
calçavam botas ou tamancos de madeira. As mulheres vestiam saias compridas e usavam
lenços coloridos na cabeça.
No litoral, os homens usavam calças curtas ou arregaçadas e geralmente andavam
descalços, tal como as mulheres que vestiam saias mais curtas do que as do interior, devido às
suas atividades relacionadas com o mar.
− Divertimentos:
Os divertimentos das pessoas do campo estavam associados sobretudo às atividades
do campo (vindimas e desfolhadas) e à religião (feiras, romarias e festas religiosas).

Nas grandes cidades


− Atividades económicas:
A modernização do país influenciou mais a vida quotidiana das pessoas que viviam nas
cidades.
O grupo social dominante era a burguesia, constituído por comerciantes, banqueiros,
industriais, médicos, advogados, professores, oficiais do exército e funcionários públicos.
No entanto, a maior parte da população pertencia a grupos de menores recursos. As
pessoas do povo trabalhavam sobretudo como vendedores ambulantes, empregados de
balcão ou criados nas casas de pessoas ricas.
Com o desenvolvimento da indústria, formou-se um novo grupo social: o operariado.
Os operários eram homens, mulheres e até crianças, que trabalhavam duramente nas fábricas
muitas horas a troco de pouco dinheiro. Em caso de acidente, não tinham qualquer proteção.
Eram despedidos sem qualquer indemnização.
− Alimentação:
A burguesia e a nobreza tinham uma alimentação abundante e variada. Faziam quatro
refeições por dia: pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia. Comiam carne, peixe, legumes,
cereais, frutas e doces. Surgiram neste período vários restaurantes que trouxeram do
estrangeiro novas receitas, como o pudim, a omelete, o puré, o bife e o soufflé.
As pessoas das classes menos privilegiadas alimentavam-se sobretudo de pão,
legumes, toucinho e sardinhas.
− Vestuário:
As pessoas mais ricas das cidades vestiam-se de acordo com a moda francesa. As
mulheres vestiam saias até ao chão com roda, com uma armação de lâminas de aço e batanas
– a crinolina. Passou também a usar a tournoure, uma espécie de almofada sobre os rins que
levantava a saia atrás. Os homens vestiam calças, camisa, colete, casaca e chapéu.
As pessoas mais pobres vestiam roupas bastante simples, adaptadas às tarefas que
desempenhavam.
− Divertimentos:
Os nobres e os burgueses frequentavam os grandes jardins onde passeavam,
conversavam e ouviam a música tocada nos coretos. Reuniam-se também nos cafés e clubes,
jantares, festas e bailes, iam à ópera, ao teatro e ao circo.
Os divertimentos dos populares eram semelhantes aos do campo: feiras, festas
religiosas e passeios ao campo domingo à tarde.

1.4. A revolução republicana


1.4.1 A ação militar no 5 de outubro e a queda da monarquia

Formação do Partido Republicano


− Descontentamento da população no fim do século XIX
A população, no fim do século XIX encontrava-se bastante descontente:
o Os camponeses e os operários continuavam a viver com grandes
dificuldades enquanto a alta burguesia recebia cada vez mais lucros.
o O rei e a família real eram acusados de gastar mal o dinheiro, o que
contribuiu para o endividamento do reino.
− Partido Republicano (1876)
Formou-se nesta altura o Partido Republicano que pretendia acabar com a monarquia
para passar a haver uma república, ou seja, deixaria de haver reis para haver presidentes
eleitos por um determinado tempo.
Os republicanos acreditavam que desta forma conseguir-se-ia modernizar o país e
melhorar as condições de vida dos mais pobres.

Disputa pelos territórios africanos


− Conferência de Berlim (1884-1885)
Vários países europeus, como a Grã-Bretanha, a Alemanha e a França, entraram em
conflitos por causa dos territórios africanos pois possuíam muitas riquezas.
Para resolver estes conflitos realizou-se a Conferência de Berlim onde ficou
estabelecido que os territórios seriam partilhados de acordo com a sua ocupação efetiva, ou
seja, de acordo com quem tivesse meios para os ocupar, sem interessar quem os descobriu.
− Ultimato inglês
Portugal apresentou o Mapa Cor-de-rosa na tentativa de ocupar os territórios entre
Angola a Moçambique.
Grã-Bretanha não aceitou porque queria os mesmos territórios para ligar Cabo a Cairo,
e então fez um ultimato a Portugal para abandonar aqueles territórios.
O governo português cedeu ao ultimato, o que agravou o descontentamento da
população. Muitas pessoas passaram a apoiar o Partido Republicano pois pretendiam um
governo forte.

Revoltas republicanas
− 31 de Janeiro de 1891 – Revolta republicana
A cedência perante o Ultimato inglês foi considerado um ato de traição à pátria. Os
republicanos aproveitaram ainda para acusar o rei de gastar mal o dinheiro e deixar o país
cheio de dívidas, e culpou-o também pela miséria dos mais pobres.
Dia 31 de Janeiro de 1891 surgiu uma revolta na tentativa de acabar com a monarquia
mas não foi bem-sucedida. No entanto, mostrou o crescimento do Partido Republicano.
− 1 de Fevereiro de 1908 – Regícidio
O rei D. Carlos I foi morto a tiro quando passava de carruagem pelo Terreiro do Paço
em Lisboa. Com ele morreu o herdeiro do trono D. Luís Filipe. Ficou a governar o seu irmão D.
Manuel II. Foi mais um ato para tentar acabar com a monarquia.
− 5 de Outubro de 1910 – Queda da Monarquia e implantação da República
Na madrugada de 4 de Outubro de 1910 iniciou-se a revolução republicana. Os
militares republicanos (membros do exército e da marinha) e os populares pegaram em armas
e concentraram-se na Rotunda, atual praça Marquês de Pombal.
As tropas fiéis ao rei eram em maior número mas mesmo assim não conseguiram
acabar com a revolta e na manhã de 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a República,
acabando assim com a Monarquia.

1.4.2 A 1ª República

Primeiras medidas republicanas


− Formação de um Governo Provisório
Após a proclamação da República foi criado um Governo Provisório, presidido por
Teófilo Braga, que tomou as seguintes medidas:
o adotou-se uma nova bandeira;
o o hino nacional passou a ser “A Portuguesa”;
o a moeda passou a ser o escudo em vez do real.

Simbologia da nova bandeira:


✓ Esfera armilar: representa o mundo que os navegadores portugueses
descobriram;
✓ Escudetes azuis: representam a bravura dos que lutaram pela independência;
✓ Castelos: representam a independência garantida por D. Afonso Henriques;
✓ Verde: cor da esperança;
✓ Vermelho: cor da coragem e do sangue derramado pelos portugueses mortos
em combate.

A Constituição republicana
− Assembleia Constituinte
Depois de criado o Governo Provisório fizeram-se eleições para formar a Assembleia
Constituinte que tinha como função elaborar a nova constituição – a Constituição de 1911.
Nesta constituição ficou estabelecido que:
o o chefe de estado de Portugal passa a ser um Presidente da República em
vez de um rei;
o é eleito por um período de 4 anos;
o tem o poder de escolher o governo;
o o congresso tem o poder de eleger e demitir o Presidente da República.
− Divisão de poderes
o Poder legislativo: pertence ao Congresso ou Parlamento – deputados.
o Poder executivo: pertence ao Presidente da República e o seu governo –
presidente e ministros.
o Poder judicial: pertence aos Tribunais – juízes

Principais medidas
− Na Educação
o criação dos primeiros jardins-escola para crianças dos 4 aos 7 anos;
o ensino obrigatório e gratuito dos 7 aos 10 anos;
o criação de escolas primárias, de um liceu em Lisboa (liceu Passos de
Manuel) e de universidades (de Lisboa e do Porto);
o criação de escolas para formação de professores;
o criação de bibliotecas.
O principal objetivo destas medidas era acabar com o analfabetismo.
− No Trabalho
o direito à greve;
o direito a oito horas de trabalho e a um dia semanal de descanso;
o criação de um seguro obrigatório para doença, velhice e acidentes de
trabalho.
Sindicato: associação de trabalhadores de uma mesma profissão que defendia os
direitos dos trabalhadores.
Greve: forma de luta mais utilizada pelos trabalhadores em que se recusavam a
trabalhar para que o Governo e os patrões cedessem às suas reivindicações.
CGT: Confederação Geral do Trabalho – união de vários sindicatos.
UON: União Operária Nacional

Dificuldades da I República
No entanto, a 1ª República atravessou vários problemas que fez crescer o
descontentamento da população.
− Participação de Portugal na I Guerra Mundial
A Inglaterra e a França entrou em guerra com a Alemanha por causa dos territórios
africanos. Depois, vários outros países europeus entraram na guerra, bem como países de
outros continentes, por isso diz-se que foi uma Guerra Mundial.
A Inglaterra pediu a Portugal que apreendesse os navios alemães refugiados nos
portos portugueses. A Alemanha, em resposta, declarou guerra a Portugal e tentou ocupar os
territórios portugueses em Angola e Moçambique.
A guerra terminou com a vitória dos ingleses, franceses e os seus aliados, e assim
Portugal conseguiu manter as suas colónias. No entanto, as despesas militares durante a
guerra contribuíram para um maior endividamento do reino.
− Subida de preços e aumento de impostos
Os preços dos produtos aumentaram enquanto os salários não acompanharam essa
subida.
As despesas do reino eram superiores às receitas. Os governos republicanos
recorreram a empréstimos ao estrangeiro e para os pagar aumentaram-se os impostos.
Tudo isto fez com que se tornassem frequentes as greves, revoltas e assaltos a
armazéns de comida.
− Instabilidade política
Os governos mudavam frequentemente e os presidentes ou se demitiam ou eram
demitidos. Só entre 1910 e 1926 houve 8 presidentes e 45 governos.

1.5. Os anos de ditadura


1.5.1 O golpe militar em 28 de maio

Crise em Portugal durante a I República


− Crise social:
o subida dos preços
o redução do poder de compra
o greves e manifestações
o atentados à bomba
− Crise financeira:
o despesas superiores às receitas
o crescimento da dívida externa
− Crise política:
o mudanças sucessivas de governo – instabilidade política

Golpe militar de 28 de Maio de 1926


A 28 de Maio de 1926, o general Gomes da Costa chefiou uma revolta militar que teve
início em Braga e estendeu-se até Lisboa. Por todo o país os militares foram aderindo a este
movimento. O Presidente da República, Bernardino Machado, demitiu-se e entregou o poder
aos revoltosos.

Principais medidas durante a Ditadura militar


Foram tomadas várias medidas que colocaram fim à democracia da I República:
− o Parlamento foi encerrado;
− o governo passou a ser escolhido pelos militares, sem eleições;
− os militares possuíam o poder legislativo e executivo;
− a imprensa passou a ser censurada;
− as greves e as manifestações foram proibidas.
Portugal foi governado neste período segundo uma ditadura, ou seja, segundo um
governo autoritário, não democrático, que não respeitava as liberdades e direitos dos
cidadãos.
Apesar destas medidas a ditadura não veio resolver os problemas existentes em
Portugal:
− os militares não se entendiam e as mudanças sucessivas de governo
continuaram;
− as despesas continuavam superiores às despesas;
− continuou o recurso aos empréstimos ao estrangeiro, aumentando a dívida
externa.

1.5.2 Salazar e o Estado Novo

Ascensão política de Salazar


Em 1928 António de Oliveira Salazar foi nomeado ministro das Finanças e conseguiu
equilibrar as contas públicas aumentando as receitas, através do aumento dos impostos, e
diminuindo as despesas do estado, através da redução de gastos com a Educação, Saúde e
com os salários dos funcionários públicos.
Em 1932, Salazar foi nomeado Presidente do Conselho de Ministros, ou seja, passou a
ser o chefe do Governo.

Constituição de 1933
Em 1933 foi aprovada uma nova constituição em que os direitos e liberdades dos
cidadãos eram reconhecidos e ficou estabelecido que o Presidente da República e os
deputados seriam eleitos pelos cidadãos.
No entanto, as eleições não eram verdadeiramente livres e os direitos e liberdades dos
cidadãos nem sempre foram respeitados por Salazar. Foi constituído novamente o Parlamento
que apenas servia para aprovar as leis impostas pelo governo.

Política de obras públicas


Durante o Estado Novo construíram-se estradas, barragens, hospitais e edifícios
públicos. Esta política permitiu a modernização do país e combateu o desemprego junto das
áreas urbanas. Salazar aproveitou também esta política de obras públicas para engrandecer o
seu trabalho à frente do país e assim fazer propaganda.

Receitas do turismo e da emigração


Desenvolveu-se o turismo, o que permitiu a entrada de mais receitas para o Estado.
Apesar do desenvolvimento do país, muitas pessoas continuavam a viver em grandes
dificuldades e decidiram emigrar. O dinheiro enviado para Portugal pelos emigrantes foi outra
fonte de receitas para o Estado.

Suportes do Estado Novo


Para Salazar conseguir tanto tempo no poder teve vários suportes:
− Censura: da imprensa, teatro, cinema, rádio e televisão, que impedia a
divulgação de opiniões contra o regime salazarista.
− Polícia política: PVDE, que passou mais tarde a chamar-se PIDE, que vigiava,
perseguia, prendia e torturava os opositores ao regime de Salazar.
− Mocidade Portuguesa: organização com fim de desenvolver o culto do chefe,
dever militar e devoção à pátria nos jovens dos 7 aos 18 anos.
− Legião Portuguesa: organização armada que defendia o Estado Novo e
combatia o Comunismo.
− Propaganda Nacional: tinha como objetivo obter apoio da população.
− União Nacional: única organização política legal que apoiava Salazar.

Oposição política
− Eleições legislativas de 1945
Os opositores ao salazarismo organizaram-se clandestinamente para não serem
perseguidos e presos. Outros tiveram de sair do país (exilados políticos).
A oposição cresceu em 1945 quando terminou a II Guerra Mundial, com a vitória dos
países democráticos (EUA, França, Inglaterra e seus aliados), onde os direitos e liberdades dos
cidadãos eram respeitados. Estes países pressionaram Salazar e este marcou eleições
legislativas.
A oposição uniu-se e criou o MUD (Movimento de Unidade Democrática). No entanto,
o governo não permitiu que a oposição fizesse campanha eleitoral nem que a contagem dos
votos fosse fiscalizada. Quem fosse suspeito de pertencer à oposição era tirado das listas
eleitorais para não puderem votar. Os dirigentes do MUD decidiram então apelar à abstenção
e assim a união Nacional conseguiu eleger todos os seus candidatos.
− Eleições presidenciais de 1958
O general Humberto Delgado, com o apoio de toda a oposição, candidatou-se às
eleições presidenciais de 1958. Apesar do grande apoio que teve da população, foi Américo
Tomás, pertencente à União Nacional, quem venceu as eleições, que foram consideradas
fraudulentas pela oposição.
Depois destas eleições Salazar mudou a lei e criou um colégio eleitoral que passa a
eleger o Presidente da República.

1.5.3 A Guerra Colonial

Depois da II Guerra Mundial, os países como a Bélgica, a Inglaterra e a Holanda


reconheceram a independência da maioria das suas colónias. Entretanto Salazar não fez o
mesmo e a União Indiana e a população africana das colónias portuguesas começaram a
revoltar-se contra Portugal.
1961: União Indiana ocupou Damão, Diu e Goa
1961: revolta da Angola
1963: revolta da Guiné
1964: revolta de Moçambique
Salazar respondeu com o envio de muitos militares para as colónias. Esta Guerra
Colonial, que durou 13 anos (1961-1974), teve como principais consequências o ferimento e
morte de muitos soldados portugueses e uma grande despesa com os gastos militares.

1.6. O 25 de abril e a construção da democracia


1.6.1 A ação militar e popular em 25 de abril

Saída de Salazar do poder


Salazar saiu do poder quando adoeceu gravemente em 1968. No entanto, Marcelo
Caetano substituiu-o mantendo os seus ideais: manteve a DGS (Direção Geral de Segurança –
antiga PIDE) e a Guerra Colonial.

Fim da ditadura
A falta de liberdade, o aumento do custo de vida e as despesas militares e muitas
mortes durante a Guerra Colonial contribuíram para o aumento do descontentamento da
população, o que levou ao fim da ditadura.

25 de Abril de 1974
Golpe militar organizado pelo MFA – Movimento das Forças Armadas – apoiado pelos
populares. Várias cidades foram dominadas sem grande resistência.
Marcelo Caetano refugiou-se no quartel do Carmo que foi cercado pelas tropas do
capitão Salgueiro Maia e aceitou render-se perante um oficial superior: general António de
Spínola. Acabou por ser preso, tal como Américo Tomás (presidente da República).

Primeiras medidas do MFA


− poder entregue a uma Junta de Salvação Nacional, presidida pelo António de
Spínola
− dissolução da Assembleia Nacional
− extinção da DGS
− abolição da censura
− libertação dos presos políticos
− negociações para pôr fim à Guerra Colonial

1.6.2 A independência das colónias

Colónias africanas
O novo presidente da República, António de Spínola, reconheceu o direito à
independência dos povos africanos e assim se formaram cinco novos países:
− 1974 – Guiné-Bissau
− 1975 – Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde

Colónias do oriente
As colónias do continente asiático tiveram outros destinos:
− 1999 – Macau passou a ser território chinês
− 2002 – Timor-Leste tornou-se independente depois de ter sido invadido pela
Indonésia e passou a chamar-se Timor-Lorosae

1.6.3 A Constituição de 1976 e o restabelecimento da democracia

Constituição de 1976
− Em 25 de Abril de 1975 – realizaram-se eleições para eleger os deputados para
a Assembleia Constituinte que tinha como função elaborar uma nova
constituição
− Em 25 de Abril de 1976 – foi aprovada a Constituição de 1976 que garantiu a
separação dos poderes e os direitos e liberdades dos cidadãos

Democracia
− o governo voltou a governar segundo um regime democrático, ou seja,
respeitando os direitos e liberdades dos cidadãos
− assim os cidadãos voltaram a ter o direito de escolher os seus governantes –
direito de voto

Poder Central
conjunto de órgãos que exercem o seu poder sobre todo o território nacional e que
abrange toda a população:
− Presidente da República
− Governo (1º ministro e restantes ministros)
− Assembleia da república (deputados)
− Tribunais (juízes)
Separação dos poderes do poder central
− Presidente da República
o promulga e manda publicar as leis
o é escolhido pelos cidadãos eleitores
− Governo
o executa as leis
o o 1º ministro é escolhido pelo presidente da República e os restantes
ministros são escolhidos pelo 1º ministro
− Assembleia da República
o faz as leis
o os deputados são escolhidos pelos cidadãos eleitores
− Tribunais
o julgam quem não cumpre as leis
o os juízes não são escolhidos por eleições

Autonomia dos Açores e Madeira


A Madeira e os Açores têm os seus próprios órgãos de governo:
− Assembleia Regional
o faz as leis respeitando a Constituição e as leis gerais da República
o os deputados são escolhidos pelos cidadãos eleitores da região
− Governo Regional
o executa as leis
o o primeiro ministro é escolhido pelo partido mais votado para a
Assembleia Regional que depois escolhe os restantes ministros

2. PORTUGAL HOJE

2.1. A população portuguesa no limiar do século XXI


2.1.1 A evolução da população portuguesa

Importância dos censos


Conhecer a evolução da população e a sua constituição é bastante importante tanto
para compreender o passado como para planear melhor o futuro. Por isso, realizam-se
recenseamentos (ou censos) que consistem na recolha de dados sobre a população (sexo,
idade, naturalidade, profissão, lugar de residência, grau de instrução, etc…). Com estas
informações os governantes conseguem fazer uma melhor gestão dos recursos que servem a
população. Por exemplo, é possível saber onde existe maior necessidade de construir escolas,
centros para idosos, novos hospitais, etc…

A natalidade e a mortalidade
Os fatores mais importantes que influenciam a evolução da população são:
− a natalidade: número de nascimentos vivos ocorridos durante um ano
− a mortalidade: número de óbitos (mortes) ocorridos durante um ano
Se a natalidade for superior à mortalidade, a população aumenta. Se a natalidade é
inferior à mortalidade, a população diminui.
Desta forma, verifica-se o crescimento natural da população:

CRESCIMENTO NATURAL = NATALIDADE – MORTALIDADE

Ao longo do século XX e da primeira década do século XXI verificou-se uma diminuição


da mortalidade. Tal deve-se às seguintes razões:
− melhoria da alimentação
− melhores serviços de saúde e novos medicamentos
− melhoria da habitação, do conforto e da higiene
Por sua vez, também se verificou uma diminuição da natalidade. As principais razões
para esta diminuição são:
− desenvolvimento e divulgação de métodos contracetivos, que permitem
decidir o número de filhos que se quer ter
− aumento do número de mulheres a trabalhar fora de casa, o que obriga
despesas com amas e infantários
No entanto, a natalidade continua a ser superior à mortalidade, o que faz com que se
tenha verificado um aumento da população ao longo do século XX, com exceção da década
1960-1970.
Na atualidade, a população absoluta portuguesa, ou seja, o número total de habitantes
em Portugal, é de cerca de 10 650 000.

A mobilidade da população
A evolução da população absoluta também é influenciada pela emigração (saída de
pessoas para o estrangeiro) e pela imigração (entrada de pessoas para um país).
Quando a emigração é muito intensa, a população pode diminuir. Por sua vez, a
imigração contribui para o aumento da população.
− Emigração
Os principais destinos foram: primeiro países africanos e americanos, sobretudo o
Brasil, e mais tarde França e Alemanha. Na última década, a falta de emprego em Portugal fez
com que muitos portugueses emigrassem sobretudo para Angola.
De forma geral, as pessoas emigraram devido a razões de natureza económica:
o procura de melhores condições de vida
o procura de emprego e melhores salários
No entanto, entre 1961 e 1974, muitos portugueses abandonaram o país por razões de
natureza política:
o discordância com o regime político (ditadura)
o recusa em participar na Guerra Colonial
Ao longo de décadas tem-se verificado uma grande emigração, o que tem tido como
consequências:
o negativas: envelhecimento da população e diminuição da população ativa
o positivas: diminuição do desemprego e receção de remessas dos
emigrantes
− Imigração
Nas duas últimas décadas tem-se verificado um aumento da imigração, sobretudo do
Brasil, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e de países da Europa de
Leste.
Este aumento deveu-se à mudança de regime após o 25 de Abril de 1974 e à adesão à
União Europeia que permitiu um desenvolvimento económico e social que tornou o nosso país
atrativo para populações de outros países menos desenvolvidos.

2.1.2 Características da população portuguesa

Composição da população por género e idade


Conhecer a população implica também saber quantos portugueses são homens ou
mulheres e a sua distribuição por idades – estrutura etária.
Para caracterizar a estrutura etária é comum subdividir a população em três grupos
etários (grupos de pessoas com idades semelhantes):
− Jovens: até aos 14 anos
− Adultos: dos 15 aos 64 anos
− Idosos: a partir de 65 anos
Em Portugal tem-se verificado uma diminuição do número de jovens, devido à
diminuição da natalidade e à emigração. Por sua vez, o número de idosos tem vindo a
aumentar, devido à diminuição da mortalidade. Sendo assim, pode-se concluir que a
população portuguesa tem vindo a envelhecer.
Em relação ao género, existem mais mulheres do que homens, pois a sua esperança
média de vida (número de anos de vida que uma pessoa tem probabilidade de viver após o
nascimento) é maior do que a do sexo masculino.

2.1.3 Distribuição espacial da população portuguesa

A distribuição da população
A população não está distribuída igualmente pelo país. As pessoas são atraídas pelas
regiões que oferecem melhores condições de vida e maior oferta de emprego – regiões
atrativas. As regiões que não oferecem essas condições são designadas como regiões
repulsivas.
Sendo assim, a população portuguesa encontra-se mais concentrada no Litoral, onde
se localizam as grandes cidades. Por isso, diz-se que a zona do Litoral tem maior densidade
populacional (número de habitantes por quilómetro quadrado) do que o Interior.
Nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, a maior concentração da população
verifica-se junto à costa, onde no passado foi mais fácil o povoamento, e, na atualidade, há
mais emprego e melhores condições de vida.
2.2. Os lugares onde vivemos
2.2.1 Os campos: os vestígios do passado e as mudanças

Tipos de povoamento
Existem dois grandes tipos de povoamento (modo como as pessoas ocupam e
organizam o espaço em que habitam e desenvolvem as suas atividades económicas):
− Povoamento rural:
Cujos habitantes se dedicam principalmente à agricultura, pecuária e silvicultura
Onde a densidade populacional é baixa
− Povoamento urbano:
Cujos habitantes se dedicam principalmente ao comércio, à indústria e serviços
Onde a densidade populacional é alta

Distribuição do povoamento rural


O povoamento rural pode ser:
− Povoamento disperso: se as casas encontram-se dispersas pelos campos
− Povoamento agrupado: se as casas agrupam-se em aldeias ou vilas
O povoamento rural disperso é mais comum no Litoral Norte, em algumas planícies do
Interior, no Litoral Alentejano, na parte ocidental da serra Algarvia e na ilha da Madeira.
O povoamento rural agrupado predomina em todo o Interior de Portugal Continental e
no arquipélago dos Açores.

As condições de vida no campo


− A habitação
As habitações do meio rural têm tradição de serem construídas com os materiais da
sua região e são adaptadas ao tipo de clima da região e às atividades económicas dos seus
habitantes.
Casa rural tradicional do Norte:
o construída em granito ou xisto, conforme a rocha predominante da região
o geralmente tem 2 pisos: no inferior abrigam-se os animais e guardam-se os
produtos e instrumentos agrícolas, e no superior é onde a família habita
o nas terras mais altas os telhados são muito inclinados devido à neve
Casa rural tradicional do Sul:
o Construídas em adobe (barro amassado com areia e palha)
o Têm um só piso onde habita a família. Os animais, produtos e
instrumentos agrícolas são guardados em construções junto à habitação
como currais, celeiros, adegas, etc
o As casas das zonas mais quentes (Alentejo e Algarve) são caiadas de
branco para melhor suportar o calor de verão
Casas rurais das regiões autónomas
o Construídas em basalto
o São quase sempre caiadas
Ao longo do século XX, a construção tradicional rural tem vindo a ser substituída por
um modelo mais próximo do tipo de construção urbana, que proporciona um maior conforto,
com o recurso a materiais mais modernos e acessíveis – a vivenda.
− O trabalho
As principais atividades económicas no meio rural são:
o Agricultura
o Pecuária
o Silvicultura
No entanto, a introdução da máquina nas atividades económicas tem libertado os
habitantes das aldeias para outras atividades profissionais:
o no núcleo urbano mais próximo: na indústria ou em serviços
o em casa ou em pequenas oficinas: atividades artesanais, reparações
mecânicas, elétricas, etc.
− O dia-a-dia
A vida da população do meio rural sofreu grandes alterações, sobretudo a partir da
segunda metade do século XX. Destacam-se as melhorias a nível de:
o saneamento básico: rede de esgotos, canalização, recolha de lixo,
tratamento de água
o infra-estruturas: distribuição de eletricidade e de gás, rede de transportes,
estradas
o equipamentos coletivos: escolas, centros de saúde, campos desportivos,
espaços verdes
Hoje em dia é frequente as famílias terem carro próprio e a deslocação às vilas e às
cidades mais próximas tornou-se mais fácil. Sendo assim o acesso a bens e serviços desses
meios é mais facilitado o que contribui também para a melhor qualidade de vida das
populações do meio rural.
No entanto, ainda existem algumas povoações, sobretudo do Interior, que não tiveram
acesso a muitas destas melhorias continuando muito isoladas do resto das povoações e
núcleos urbanos.

2.2.2 Os centros urbanos: áreas de atração da população

Características dos centros urbanos


O povoamento urbano corresponde a um espaço onde a densidade populacional é
elevada e onde existe um grande número de habitações e edifícios industriais próximos uns
dos outros. Nos centros urbanos é possível apontar algumas características:
Existência de um centro histórico: que corresponde ao primeiro núcleo de habitantes.
Geralmente nesta zona encontram-se casas comerciais e de serviços, centros escolares e de
saúde, instalações administrativas e judiciais. À sua volta foram crescendo novos espaços
habitacionais à medida que a cidade foi crescendo.
Existência de poucos espaços verdes: os que existem são geralmente criados pelo
Homem
Existência de grandes centros comerciais: hipermercados e grandes centros comerciais
surgem nos arredores da cidade
Distribuição do povoamento urbano
Os centros urbanos localizam-se sobretudo junto ao litoral. No Interior existem poucas
cidades e são de pequena dimensão.
Nas Regiões Autónomas, destacam-se o Funchal, na Madeira, e Ponta Delgada, nos
Açores.

As condições de vida nos centros urbanos


− A habitação
Os edifícios mais frequentes nos centros urbanos são os prédios com vários andares
divididos em apartamentos. No entanto também existem outros tipos de habitação que
refletem duas realidades bastante diferentes: as vivendas e as barracas.
− O trabalho
As principais atividades económicas no meio urbano são:
o Comércio
o Indústria
o Serviços
− O dia-a-dia
Ao longo das últimas décadas, tem-se verificado uma melhoria das vias de
comunicação e das redes de transporte, o que contribuiu para a redução da distância-tempo,
ou seja, o tempo gasto em deslocações.
Nos centros urbanos, o acesso a serviços de saúde, educação, lazer, etc. é bastante
mais fácil do que no espaço rural. Existe também uma maior oferta de bens de consumo e
existem também mais habitações e mais bem equipadas. A oferta de emprego é maior, bem
como o acesso aos estudos e melhores condições de vida. Por isso, considera-se que os
centros urbanos são áreas atrativas, o que tem provocado o seu aumento e desenvolvimento
com a chegada de mais pessoas.

2.2.3 Problemas da vida quotidiana nas cidades e nos campos

Acessibilidade
As necessidades do mundo moderno têm provocado transformações importantes nas
vias de comunicação. É cada vez maior a circulação de pessoas e de produtos e a velocidade
das deslocações é fundamental para, por exemplo, as pessoas chegarem a horas ao emprego e
os produtos frescos chegarem ao destino em boas condições.
Sendo assim, os meios de transporte e as vias de comunicação têm vindo a sofrer um
grande desenvolvimento nas últimas décadas. No entanto, é possível verificar desigualdades
entre o meio urbano e o meio rural.
− No meio urbano
o Aspetos positivos:
✓ Variedade de meios de transporte (viatura particular, autocarro, táxi,
metro, comboio, etc.)
✓ Grande rede de vias de comunicação que interligam os vários meios de
transporte
o Aspetos negativos:
✓ Volume de tráfego intenso
✓ Demora nas deslocações, sobretudo nas “horas de ponta”
✓ Transportes coletivos frequentemente cheios e com dificuldade em
cumprir os horários
✓ Poluição
− No meio rural
o Aspetos positivos:
✓ Volume de tráfego reduzido, por isso as deslocações locais são rápidas
e fáceis
o Aspetos negativos:
✓ Número reduzido de vias e meios de comunicação
✓ Poucos transportes públicos

Níveis de conforto
A qualidade de vida depende do nível de conforto da habitação e dos bens e serviços a
que a população tem acesso.
Na sua maioria, no meio urbano, as habitações possuem as condições consideradas
mínimas de conforto: água canalizada, eletricidade e saneamento básico (instalações
sanitárias). No entanto, no meio rural, ainda predominam muitas habitações sem estas
condições mínimas de conforto, sobretudo as mais antigas e mais afastadas de núcleos
urbanos.
Também a nível de serviços e equipamentos coletivos verificam-se algumas
desigualdades. É nas cidades que se encontram os melhores e mais modernos hospitais,
centros clínicos, universidades, escolas, bibliotecas, teatros, cinemas e recintos desportivos.
No meio rural existe pouca oferta de serviços de assistência médica, maior dificuldade no
acesso à instrução e cultura e a outros serviços úteis como bancos.
De uma forma geral, pode-se concluir que é no meio urbano onde se encontram
melhores níveis de conforto, por isso tem-se verificado um grande movimento da população
do meio rural para os núcleos urbanos. No entanto, também as cidades têm os seus
problemas, como o trânsito, a poluição e insegurança, o que leva a algumas pessoas a
preferirem o meio rural.

2.3. As atividades económicas que desenvolvemos


2.3.1 O mundo do trabalho

População ativa e população não ativa


Para ter acesso a bens e serviços, as pessoas precisam de meios económicos. Sendo
assim, a maioria dos adultos como menos de 65 anos exerce uma profissão de forma a obter
um salário.
População ativa: população que exerce uma atividade remunerada, ou que está
temporariamente desempregada (que não exerce uma atividade económica mas que está em
condições de o fazer).
Por outo lado, jovens, idosos e muitas mulheres donas de casa não recebem qualquer
salário pelas suas atividades.
População não ativa: população que não exerce qualquer atividade paga.

Setores de atividade
Como existe uma grande variedade de atividades económicas, convencionou-se
agrupá-las em três setores:
− Setor primário: atividades que obtêm ou extraem produtos da Natureza
(matérias-primas)
− Setor secundário: atividades que transformam as matérias-primas em novos
produtos
− Setor terciário: atividades que prestam serviços (apoiam os outros setores e a
população)
Durante séculos a maioria da população dedicou-se ao setor primário. Entretanto, a
mecanização e modernização da agricultura contribuiu para a redução de mão-de-obra, o que
fez diminuir o número de pessoas a trabalhar no setor primário. Atualmente, mais de metade
da população ativa portuguesa trabalha no setor terciário.

2.3.2 As principais atividades económicas

Setor primário
As atividades do setor primário produzem bens que podem ser consumidos. Por isso
são designadas atividades produtoras.
Agricultura
A agricultura é a atividade mais importante do setor primário. Em Portugal, a produção
é fraca e os rendimentos obtidos são poucos, o que tem provocado a diminuição de pessoas a
trabalhar nesta atividade.
Como está diretamente relacionada com as condições naturais do clima, do relevo e
do solo, apresenta características e produtos diferentes, consoante a região do país onde é
praticada. Em Portugal foram definidas nove regiões agrárias:
− Entre-Douro e Minho: produtos hortícolas, batata, centeio, vinho, batata
− Trás-os-Montes: azeite, vinho, centeio
− Beira Litoral: produtos hortícolas, batata, centeio, arroz
− Beira Interior: azeite, batata
− Ribatejo e Oeste: produtos hortícolas, tomate, arroz, vinho
− Alentejo: tomate, girassol, azeite, centeio, vinho
− Algarve: produtos hortícolas, batata, fruta
− Açores: vinho, batata, milho, centeio, fruta
− Madeira: vinho, batata, milho, centeio, fruta
Pecuária
A pecuária – criação de animais – tem vindo a desenvolver devido ao aumento de
consumo de carne e de outros produtos de origem animal (leite, manteiga, queijo, ovos, etc)
por parte da população.
Continua muito ligada à agricultura e, como ela, depende das condições naturais. A
distribuição das espécies de gado varia conforme a natureza das pastagens:
− Litoral Norte: gado bovino
− Sul e montanhas do Norte e Centro: gado ovino e caprino
− Ribatejo: gado suíno
− Madeira e Açores: gado bovino
Silvicultura
Da silvicultura – manutenção, exploração e recuperação da floresta – resulta a
produção de madeira, cortiça, resina e outros produtos que são utilizados como matérias-
primas por indústrias como a do mobiliário e a do papel.
Pesca
Dada a situação geográfica de Portugal, a pesca sempre foi uma das principais
atividades dos portugueses. No entanto, atualmente, esta atividade enfrenta graves
problemas devido à diminuição de reservas de peixe, frota constituída essencialmente por
pequenos barcos e antiquados e rendimentos obtidos baixos.
O espaço marítimo encontra-se repartido pelos diferentes países. À zona reservada a
cada uma das nações chama-se Zona Económica Exclusiva – ZEE.
As espécies mais pescadas nas águas portuguesas são a sardinha, o carapau, o polvo, o
peixe-espada preto, o atum, a cavala e a faneca.

Setor secundário
As atividades do setor secundário consistem na transformação de matérias-primas
noutros produtos, sendo por isso também designadas de atividades produtoras.
Indústria transformadora
A indústria transformadora é a atividade mais importante do setor secundário. Dela
resultam produtos variadíssimos, tais como móveis, roupa, calçado, produtos alimentares,
etc…
Existem algumas indústrias que se localizam junto das áreas de produção das matérias-
primas, como é o caso das indústrias de laticínios, madeira, cortiça e cimento. No entanto, a
maioria das indústrias transformadoras localizam-se no Litoral, sobretudo nas zonas da Grande
Lisboa e Grande Porto, pois dispõem de muita mão-de-obra e possuem portos marítimos que
facilitam a chegada de matérias-primas e permitem um rápido escoamento dos produtos para
o mercado internacional.
Atualmente, o governo e as autarquias incentivam a instalação de indústrias no
interior do país com o objetivo de criar postos de trabalho em zonas com menor densidade
populacional, a fim de evitar o seu despovoamento. Apesar destes apoios, muitas das
empresas têm vindo a fechar devido a dificuldades financeiras, dificuldade em concorrer com
empresas estrangeiras e também devido à deslocação de empresas para países onde a mão-
de-obra é mais barata.

Setor terciário
As atividades do setor terciário surgem como apoio aos outros setores e prestam
serviços à população. Como não têm a finalidade de produzir bens materiais, são designadas
de atividades não produtoras.
Comércio
O comércio é a atividade do setor terciário que emprega o maior número de
trabalhadores. Consiste na troca de bens entre pessoas, regiões e países e é preponderante
para a economia de um país.
No meio rural os espaços de comércio são pequenos e geralmente cada loja apresenta
uma grande variedade de produtos. No meio urbano existem lojas especializadas num tipo de
produto e grandes centros comerciais e hipermercados onde se pode encontrar qualquer tipo
de produto.
Além da venda de produtos em espaços próprios, tem vindo a aumentar o comércio de
produtos pela internet, através de lojas online, por catálogo, por telefone ou mesmo ao
domicílio.
Podemos distinguir dois tipos de comércio:
− Comércio interno: troca de bens realizado dentro de um país
− Comércio externo: troca de bens realizado entre países
Apesar do crescimento das exportações (venda de produtos ao estrangeiro), Portugal
continua a ter um número superior de importações (compra de produtos ao estrangeiro).
Saúde
Em Portugal todos têm direito à proteção de saúde através de um Serviço Nacional de
Saúde.
Além de hospitais e outros centros clínicos públicos (pertencentes ao Estado), existem
também equipamentos de saúde privados, geralmente só acessíveis a pessoas com alguns
recursos económicos.
Educação
A Educação é também um dos serviços fundamentais para o desenvolvimento de um
país. As melhorias nesta área contribuíram para a diminuição do analfabetismo e para o
aumento de instrução da população.
Tal como no caso da Saúde, existem centros escolares públicos e privados.
Transportes
Nos últimos anos tem sido feito um enorme investimento no alargamento e na
melhoria da qualidade da rede rodoviária e ferroviária, devido à sua importância na deslocação
de pessoas e mercadorias. Também o transporte aéreo assume uma grande importância
porque permite a ligação de Portugal Continental às regiões autónomas e ao estrangeiro.
Outros serviços
O setor terciário tem vindo a crescer significativamente devido à criação de empresas
de serviços tradicionais, como bancos, seguros, etc, e devido ao surgimento de novas
atividades, sobretudo ligadas às telecomunicações. Este crescimento tem influência na
produção de riqueza de um país e na oferta de emprego.

2.4. Como ocupamos os tempos livres


2.4.1 O lazer

A ocupação dos tempos livres


Nos momentos em que as pessoas não trabalham têm direito a um tempo de lazer, ou
seja, tempo livre que as pessoas ocupam da maneira que mais lhe agrada.
Estes momentos de lazer podem ser aproveitados para praticar atividades desportivas,
culturais ou sociais, e dependem da existência de equipamentos (recintos desportivos,
piscinas, teatros, cinemas, museus, etc.) e de instituições (clubes desportivos e associações
culturais) que desenvolvam essas atividades.
Estes equipamentos existem em maior número e com maior oferta de atividades no
meio urbano, havendo por isso diferenças na ocupação dos tempos livres entre as pessoas do
campo e as da cidade. Como no meio rural o acesso a esses equipamentos é mais escasso, a
maior parte dos tempos livres são ocupados pelo convívio com os amigos, idas ao café, jogos
em grupo, atividades ao ar livre como a caça, participação em grupos corais, ranchos, etc.
Neste meio dá-se também muita importância às festas tradicionais: feiras, romarias ou
arraiais.

Turismo
Nas férias as pessoas têm mais tempo livre e muitas aproveitam para fazer turismo, ou
seja, conhecer espaços diferentes através de viagens ou passeios. O turismo pode ser feito
dentro do próprio país ou para o estrangeiro.
Devido às suas condições geográficas e climáticas, Portugal é um país que atrai muitos
turistas estrangeiros.
Em Portugal, os principais tipos de turismo são:
− Balnear: muitas pessoas são atraídas pelas inúmeras praias existentes ao longo
da costa portuguesa, sobretudo no verão, época de mês seco (cuja
precipitação é igual ou menor que o dobro da temperatura nesse mês)
− Cultural: mais frequente nos centros urbanos, relaciona-se com a visita a
monumentos, museus ou centros históricos
− De montanha: nas regiões de maior altitude é possível fazer caminhadas pela
Natureza e praticar desportos radicais no inverno
− Rural: para quem procura um maior contato com a natureza, ar puro e sossego
− Termal: existem nascentes de água que atraem milhares de turistas devido às
suas propiedades curativas
− Religioso: muitas pessoas deslocam-se ao nosso país para visitar santuários ou
outros locais de culto
O número de chegada de turistas estrangeiros tem vindo a aumentar em Portugal,
provocando a entrada de dinheiro estrangeiro, o desenvolvimento de muitas regiões e o
aumento de emprego. Sendo assim, o turismo é uma das atividades mais importantes do setor
terciário pelo desenvolvimento que provoca e pela entrada de receitas. No entanto, a
construção de unidades hoteleiras, restaurantes, cafés, bares, estradas, tem tido um impacto
negativo no ambiente, com a alteração da paisagem e aumento da poluição em áreas que
tinham pouca intervenção humana.

2.4.2 Importância das áreas de proteção da Natureza

Preservação da natureza
O aumento da população e do turismo tem provocado a humanização da paisagem, ou
seja, modificação da paisagem através da intervenção do Homem, através da ocupação
excessiva de territórios para construção, do abate de árvores, da pesca e caça sem controlo,
colocando assim muitas vezes espécies animais e vegetais em risco de extinção.
Sendo assim, tornou-se necessário tomar medidas para proteger certas zonas do país a
fim de preservar a natureza, a sua fauna e a sua flora. Foram criadas, portanto, áreas
protegidas pelo Estado em que qualquer alteração do meio carece de autorização. As áreas
protegidas são constituídas pelos parques naturais e reservas naturais.

2.5. O mundo mais perto de nós


2.5.1 Os transportes e as comunicações

Acessibilidade de pessoas, bens e ideias


Hoje, os transportes e comunicações atingiram um tal desenvolvimento que tudo se
tornou mais fácil e rápido. Países e populações encontram-se cada vez mais próximos, assim
como Portugal está mais próximo da Europa e do resto do mundo.
− Transportes
Atualmente, a comunicação de pessoas e mercadorias pode fazer-se através de vários
meios de transporte:
Terrestres:
o Rodoviários: circulam pelas estradas
o Ferroviários: circulam pelos caminhos-de-ferro
Aquáticos:
o Marítimos: circulam pelo mar
o Fluviais: circulam pelos rios
Aéreos: circulam pelo ar
Na escolha do meio de transporte mais adequado, deve-se ter em conta alguns
aspetos importantes. No caso da deslocação de pessoas, deve-se ter em conta sobretudo o
custo e tempo da viagem e o conforto que lhes é proporcionado. Em relação ao transporte de
mercadorias, deve-se ter em conta aspetos como o tipo de carga, tempo, custo e distância.
✓ Transportes rodoviários: podem transportar cargas pequenas e médias, o
custo é médio e tem a vantagem de chegar a quase todos os locais
✓ Transportes ferroviários: podem transportar cargas maiores, o custo é baixo,
mas servem apenas alguns locais
✓ Transportes marítimos: podem transportar cargas grandes e volumosas a
grandes distâncias e a custo baixo, mas são lentos
✓ Transportes aéreos: são muito rápidos, percorrem todas as distâncias, mas não
transportam cargas grandes e o custo é muito elevado
− Comunicações
Também hoje a informação tem maior facilidade de circulação e faz-se através de
vários meios de comunicação:
Escrita: Livros, jornais, revistas, etc…
À distância: Telégrafo, telefone, rádio, televisão, telefax, internet, etc…
Outros: Cinema, vídeo, etc…
Hoje, é possível comunicar facilmente com uma pessoa que esteja em qualquer parte
do mundo, através de aparelhos de telecomunicação, ou seja, meios que permitem, através de
processos elétricos, a comunicação à distância.
A troca de ideias e conhecimentos é maior entre os vários países, fazendo com que as
fronteiras façam cada vez menos sentido, dado que as várias partes do mundo estão em
permanente comunicação.

2.5.2 Espaços em que Portugal se integra

União Europeia
Em 1957, seis países europeus formaram a Comunidade Económica Europeia. Mais
tarde, outros países aderiram esta comunidade, que passou a chamar-se União Europeia, pois
os seus objetivos deixaram de ser apenas económicos mas também políticos, culturais, sociais
e ambientais.
Os principais objetivos da União Europeia são:
− Livre circulação de pessoas e mercadorias
− Circulação de uma moeda única – o Euro
− Criação de políticas comuns
− Ajuda aos países em dificuldades
− Programas de intercâmbio de estudantes
− Defesa da liberdade
Portugal aderiu a esta comunidade em 1986.

Organização das Nações Unidas (ONU)


Portugal faz parte ainda da Organização das Nações Unidas, fundada em junho de
1945, após a Segunda Guerra Mundial.
Os principais objetivos da Organização das Nações Unidas são:
− Procurar resolver pacificamente os conflitos internacionais, de forma a manter
a paz no mundo
− Desenvolver a cooperação internacional a nível económico, social, cultural e
humanitário
− Promover o respeito pelos diretos humanos

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)


Em 1996, criou-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa de forma a reforçar
a cooperação entre os países onde se fala português. Todos os membros desta comunidade já
foram colónias portuguesas e agora são nações independentes.

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