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HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL – 5º ANO

1. A PENÍNSULA IBÉRICA – LUGAR DE PASSAGEM E FIXAÇÃO.

1.1 Ambiente natural e primeiros povos


1.1.1 A Península Ibérica na Europa e no Mundo

1. Limites da Península Ibérica


Como qualquer península, a Península Ibérica está rodeada por mar com exceção de
um lado chamado istmo.
Tem como limites naturais:
− a norte: o oceano Atlântico;
− a sul: o oceano Atlântico e o mar Mediterrâneo;
− a este: o mar mediterrâneo;
− a oeste: o Oceano Atlântico.

2. Posição da Península Ibérica


A Península Ibérica situa-se no extremo sudoeste da Europa. Está separada do
continente africano pelo Estreito de Gibraltar.
Encontra-se no Hemisfério Norte à mesma distância da linha do Equador e do Pólo
Norte.

1.1.2 Características naturais da Península Ibérica

1. Relevo
Às diferentes formas que a superfície terrestre apresenta chamamos relevo. Alguns
exemplos são:
− Planície: grande superfície plana e de pouca altitude;
− Planalto: grande superfície plana ou ondulada de média ou grande altitude;
− Montanha: elevação de terreno que se destaca do terreno circundante pela
sua altitude;
− Vale: espaço compreendido entre dois montes (geralmente onde corre um
rio).
− Cordilheira: conjunto de montanhas.
Através dos mapas de relevo conseguimos identificar as diferentes altitudes que uma
zona pode apresentar através das suas cores:
− verde: planícies de baixa altitude;
− amarelo: planícies onduladas e planaltos de baixa altitude;
− castanho-claro: planaltos de grande altitude e algumas serras;
− castanho: montanhas de grande altitude (quanto mais escuro for o castanho
maior a altitude).

A Península Ibérica é uma região bastante montanhosa constituída por um conjunto de


planaltos e montanhas que se inclinam para ocidente. Destacam-se:
− a Cordilheira Central: cadeia montanhosa que corta a meio o Planalto Central;
− a Cordilheira dos Pirinéus: montanhas altas e escarpadas;
− o Planalto Central: mais extenso e alto dos planaltos peninsulares;
− a Planície do Ebro;
− a Planície do Guadalquivir;
− a Planície do Tejo-Sado.

2. Rios peninsulares
Os rios da Península Ibérica nascem nas grandes cadeias montanhosas onde abundam
as nascentes e as neves. Como estão viradas para ocidente os rios correm nessa direção e vão
desaguar no Oceano Atlântico, com exceção do rio Ebro que corre para o Mediterrâneo.
Principais rios da Península Ibérica:
− rio Minho;
− rio Douro;
− rio Tejo: rio com maior extensão;
− rio Guadiana;
− rio Sado;
− rio Guadalquivir;
− rio Ebro.

3. Clima
O planeta Terra apresenta diferentes zonas climáticas:
− zona quente: próxima do Equador;
− zonas frias: em redor dos pólos;
− zonas temperadas: entre as zonas frias e as zonas quentes.
A Península Ibérica tem um clima temperado por isso apresenta quatro estações
durante o ano:
− Primavera;
− Verão;
− Outono;
− Inverno.
Existem também diferenças regionais distinguindo-se três zonas:
− Norte e Noroeste: elevada humidade e precipitação, temperaturas suaves
tanto no Inverno como no Verão;
− Interior: pouca precipitação, invernos muito frios e verões muito quentes;
− Sul: pouca precipitação, invernos suaves e verões quentes.
Estas diferenças devem-se aos seguintes fatores:
− proximidade do mar;
− ventos dominantes;
− relevo.

4. Vegetação natural
Sobre o tipo de vegetação que existe na Península ibérica podemos distinguir duas
zonas:
− Ibéria húmida: florestas de folha caduca, prados naturais verdes e matagais
com fetos, giesta, urze e tojo. Junto à costa predominam os pinheiros;
− Ibéria seca: florestas de folha persistente, matagais e arbustos. Junto à costa
predominam as palmeiras, as piteiras e os catos.
1.1.3 Os recursos naturais e a fixação humana

1. As primeiras comunidades recolectoras


Os primeiros grupos de homens e mulheres que habitaram a Península Ibérica viviam
em comunidades: grupos de vinte a quarenta pessoas que partilhavam entre si os abrigos, a
comida, os utensílios e os perigos.
Para se protegerem do frio e dos animais ferozes refugiavam-se em grutas e outros
abrigos existentes nas rochas. Por vezes construíam cabanas com troncos, ramos e peles de
animais.
As peles de animais também serviam para se vestirem. Faziam também utensílios de
pedra e osso para se protegerem, para caçar, esquartejar animais e raspar e cortar as suas
peles.
As cenas de caça eram gravadas e pintadas nas paredes das grutas onde viviam. A
estas gravuras e pinturas chamamos arte rupestre.
Estas comunidades viviam da pesca, da caça, e da recoleção, por isso as chamamos
comunidades recolectoras. Isto significa que viviam da recolha do que a Natureza lhes
oferecia.
Quando os recursos naturais de um local escasseavam tinham que procurar um novo
local com mais frutos e mais animais para sobreviverem. Por isso não tinham casa fixa e não
permaneciam no mesmo local durante muito tempo. Diz-se então que eram nómadas.
A descoberta do fogo permitiu defenderem-se melhor dos animais ferozes, para se
aquecerem e assarem os animais.

2. As comunidades agro-pastoris
Há cerca de 10000 anos a temperatura subiu, os gelos fundiram-se e o clima tornou-se
quente e seco. Os animais de clima frio desapareceram e surgiram novas espécies vegetais e
animais.
Ficaram assim reunidas condições para os homens abandonarem as grutas e melhorar
a sua forma de vida.
As comunidades agro-pastoris vivam da agricultura, da pastorícia e da domesticação
de animais. Como viviam perto das terras que cultivavam deixaram de precisar de se deslocar
constantemente, tornando-se assim sedentários.
Começou a haver uma maior abundância e diversidade de alimentos o que originou os
primeiros povoados.
Começou-se a praticar a cestaria, a cerâmica e a tecelagem. Novos utensílios foram
inventados como a foice, a enxada de pedra, o arado de madeira e a mó manual, e deu-se
maior uso da roda.
Surge também nesta época vários monumentos em pedra como antas, ou dólmenes, e
os menires.

3. Homens dos castros


Há cerca de 2500 anos a Península Ibérica era habitada pelos:
− Celtas: povos guerreiros vindos no Centro da Europa, eram altos de cabelo e
olhos claros e fixaram-se no Norte e Oeste da Península Ibérica.
− Iberos: homens morenos e de estatura média que se fixaram no Sul e Este da
Península Ibérica.
Os Iberos só conheciam o cobre e o bronze. Os celtas trouxeram o ouro e o ferro.
Com o passar do tempo estes povos acabaram por se misturar dando origem aos
celtiberos.
Estas tribos viviam nos cimos dos montes rodeados por muralhas nas citânias, ou
castros.

4. Contacto com os povos mediterrânicos


Os povos do sul da Península Ibérica viviam melhor que os do norte principalmente
devido ao contacto com Fenícios, Gregos e Cartagineses, que eram povos mais evoluídos.
Estes povos dedicavam-se ao comércio. Na Península Ibérica encontraram metais e em
troca ofereciam objetos de vidro, adornos, cerâmicas, tecidos de linho e púrpura.
Deixaram-nos novas ideias e costumes e deram a conhecer o alfabeto fenício, a moeda
grega e a conservação dos alimentos pelo sal.
1.2 Os romanos na Península Ibérica – Resistência e Romanização
1.2.1 A conquista romana e a resistência dos povos ibéricos

1. A conquista
Os romanos eram um povo proveniente da Península Itálica que conquistaram vários
territórios à volta do mar Mediterrâneo graças ao seu poderoso e organizado exército.
Atraídos pelas riquezas das Península Ibérica conquistaram-na no séc. III a.C. Desta
forma conseguiram o domínio do comércio do Mediterrâneo.

2. A resistência
As populações do litoral sul não ofereceram grande resistência. O mesmo não
aconteceu com os povos do Centro e Norte que lutaram contra os romanos durante quase 200
anos. Um dos povos que se distinguiu na luta contra os romanos foram os Lusitanos, chefiados
por Viriato. Estes montavam armadilhas e emboscadas aproveitando as montanhas e
desfiladeiros.

3. O império romano
Entretanto não foi só conquistada a Península Ibérica mas sim um conjunto de
territórios à volta do Mediterrâneo que fez com que os romanos construíssem um grande
Império. A sua capital era a cidade de Roma e possuíam territórios na Europa, Ásia e África. O
chefe supremo do Império era o imperador.

1.2.2 A Península Ibérica romanizada

1. Herança romana
Os romanos permaneceram quase 700 anos na Península Ibérica e durante este tempo
os costumes das pessoas alteraram-se e foram construídos edifícios e estruturas que
influenciaram bastante o modo de vida da população. A todas as alterações provocadas pela
presença dos romanos na Península Ibérica chama-se romanização.
As transformações mais significativas foram:
− construção de estradas, aquedutos, pontes, teatros, balneários públicos,
templos, monumentos;
− casas cobertas com telha, com jardins exteriores e com mosaicos a decorar o
pavimento;
− intensificação da produção agrícola (vinho, azeite e trigo) e da exploração
agrícola;
− criação de indústrias: salga do peixe, olaria, tecelagem;
− desenvolvimento do comércio;
− maior uso da moeda;
− a língua falada passa a ser o latim.

2. Era cristã
Este período também ficou marcado pelo surgimento de uma nova religião: o
Cristianismo. Esta nova religião expandiu-se por todo o Império e a contagem do tempo
passou-se a fazer pela era cristã, ou seja, a partir do nascimento de Jesus Cristo (quem
começou a pregar esta religião e que afirmava ser filho de Deus).
Na contagem do tempo podemos utilizar o ano, a década (10 anos), o século (100
anos) e o milénio (1000 anos).
Para fazer corresponder os anos aos séculos há duas regras bastante simples:
− quando o ano termina em dois zeros o número de centenas indica o século. Ex:
ano 1500, séc. XV;
− quando o ano não termina em dois zeros, acrescenta-se uma unidade ao
número das centenas. Ex: 1548, séc. XVI.

1.3 Os muçulmanos na Península Ibérica – Convivência e confronto


1.3.1 A ocupação muçulmana

1. O profeta Maomet e o Islamismo


No séc. VI a Arábia (península da Ásia) era bastante pobre. Foi neste local que
Maomet, nascido na cidade de Meca, anunciou-se em 612 como profeta (enviado de Deus
para revelar verdades sagradas aos homens) e começou a pregar uma nova religião – o
Islamismo.
Os seguidores desta religião são os Muçulmanos e acreditam num único deus – Alá. Os
princípios desta religião estão reunidos num livro sagrado chamado Corão.
Obrigações dos Muçulmanos:
− reconhecer Alá como Deus único e Maomet como seu profeta;
− rezar cinco vezes por dia virados para Meca;
− jejuar no mês do Ramadão;
− dar esmola aos mais pobres;
− ir a Meca pelo menos uma vez na vida.

2. Conquista da Península Ibérica


Os Muçulmanos começaram a conquistar novos territórios de forma a:
− expandir o Islamismo, procurando converter outros povos à sua religião;
− melhorar as suas condições de vida dado que a Arábia era um território
bastante pobre.
Foram conquistados territórios na Ásia, no Norte de África e em 711 iniciou-se a
conquista da Península Ibérica. Os Mouros (designação para os Muçulmanos oriundos do
Norte de África) entraram pelo estreito de Gibraltar e venceram os cristãos visigodos na
batalha de Guadalete.
Muito rapidamente (em cerca de dois anos) os Muçulmanos ocuparam praticamente
toda a Península Ibérica, com exceção das Astúrias e parte dos Pirinéus devido às suas
condições adversas. Esta ocupação foi realizada através do uso de armas mas, em muitos
casos, faziam-se acordos com os visigodos que lhes permitiam viver em paz e confraternizar,
desde que se submetessem aos novos conquistadores.

1.3.2 Cristãos e muçulmanos no período da Reconquista

1. A resistência cristã
Durante a ocupação muçulmana alguns nobres visigodos conseguiram refugiar-se nas
Astúrias (zona montanhosa no norte da Península ibérica). Foi a partir deste local que os
cristãos formaram núcleos de resistência contra os Muçulmanos e no ano de 722 obtiveram a
sua primeira grande vitória na batalha de Covadonga, chefiados por Pelágio. Depois deste
acontecimento formou-se o reino das Astúrias.

2. A Reconquista Cristã
Foi então a partir das Astúrias e junto dos Pirinéus que se iniciou a Reconquista Cristã,
ou seja, os cristãos começaram a lutar contra os Muçulmanos para voltar a conquistar as terras
que perderam para os Muçulmanos.
Com o passar do tempo o reino das Astúrias deu lugar a outros reinos cristãos:
− reino de Leão;
− reino de Castela;
− reino de Navarra;
− reino de Aragão.
Cada reino tinha como objetivo conquistar terras a sul aos Muçulmanos de forma a
expulsá-los da Península Ibérica.
Foram precisos quase 800 anos para o conseguirem. Entretanto também houve
períodos de paz e confraternização. Cristãos e Muçulmanos foram-se habituando a aceitar
costumes e tradições diferentes dos seus.

1.3.3 A herança muçulmana

1. Influência muçulmana nos povos peninsulares


Os povos que sofreram maior influência da presença dos Muçulmanos na Península
Ibérica foram os do sul pois foi aí que permaneceram mais tempo.
As principais marcas muçulmanas foram:
− construção de mesquitas e palácios decorados com azulejos;
− casas com terraços e pátios interiores e eram caiadas de branco;
− desenvolvimento de indústrias artesanais como armas, carros e tapetes;
− desenvolvimento da agricultura com novos processos de rega, a nora, a picota
e o açude;
− introdução de novas plantas como a laranjeira, o limoeiro, a amendoeira, a
figueira e da oliveira;
− novos conhecimentos de medicina, navegação, astronomia e matemática;
− cerca de 600 palavras, a maior parte começadas por al.

2. PORTUGAL NO PASSADO

2.1 Um novo reino chamado Portugal


2.1.1 D. Afonso Henriques e a luta pela independência

1. Condado Portucalense
Durante a Reconquista Cristã os reis cristãos da Península Ibérica pediram auxílio a
outros reinos cristãos da Europa para reconquistar os territórios aos Muçulmanos. Os
cavaleiros que vieram ajudar na luta contra os Muçulmanos chamavam-se cruzados.
A pedido de D. Afonso VI, rei de Leão e Castela, vieram de França os cruzados D.
Raimundo e D. Henrique. Em troca pelos seus serviços os cruzados receberam:
− D. Raimundo: a mão da filha legítima do rei, D. Urraca, e o Condado de Galiza;
− D. Henrique: a mão da filha ilegítima do rei, D. Teresa, e o Condado de
Portucale.
Estes condados pertenciam ao reino de Leão, por isso D. Henrique tinha que prestar
obediência, lealdade e auxílio militar ao rei D. Afonso VI. Em 1112 morre e como o seu filho, D.
Afonso Henriques, apenas tinha 4 anos de idade, ficou D. Teresa a governar o Condado
Portucalense.

2. A luta pela independência


Em 1125, aos 16 anos, D. Afonso Henriques armou-se a si próprio cavaleiro, como só
faziam os reis. D. Afonso Henriques tinha como ambição concretizar o desejo do seu pai D.
Henrique: tornar o Condado Portucalense independente do reino de Leão e Castela.
Nesta altura, D. Teresa mantinha uma relação amorosa com um fidalgo galego, o
conde Fernão Peres de Trava. Esta relação prejudicava a ambição de tornar o Condado
Portucalense independente. Por isso, apoiado por alguns nobres portucalenses, D. Afonso
Henriques revoltou-se contra a sua mãe.
Em 1128, D. Teresa é derrotada na batalha de S. Mamede por D. Afonso Henriques,
que passa a governar o Condado Portucalense.
D. Afonso Henriques passa a ter duas lutas:
− luta contra D. Afonso VI para conseguir a independência do Condado
Portucalense;
− luta contra os Muçulmanos para aumentar o território para sul.

3. O reino de Portugal
Para a formação de Portugal foram bastante importantes as seguintes batalhas:
− 1136: batalha de Cerneja onde D. Afonso Henriques vence os galegos.
− 1139: batalha de Ourique onde D. Afonso Henriques derrota os exércitos de
cinco reis mouros.
− 1140: batalha em Arcos de Valdevez, D. Afonso Henriques vence novamente os
exércitos de D. Afonso VII.
Com estas vitórias de D. Afonso Henriques, D. Afonso VII, seu primo agora rei de Leão
e Castela, viu-se obrigado a fazer um acordo de paz – o Tratado de Zamora. Neste tratado,
assinado em 1143, Afonso VII concede a independência ao Condado Portucalense que passa a
chamar-se reino de Portugal, e reconhece D. Afonso Henriques como seu rei.

4. A conquista da linha do Tejo


Feita a paz com o rei de Leão e Castela, D. Afonso Henriques passou a preocupar-se
exclusivamente em conquistar territórios a sul aos mouros de forma a alargar o território do
reino de Portugal:
− 1145: conquista definitiva de Leiria;
− 1147: conquista de Santarém e Lisboa.
Na reconquista das terras aos mouros participou quase toda a população portuguesa
que podia pegar em armas:
− senhores nobres e monges guerreiros: combatiam a cavalo, comandavam os
guerreiros e recebiam terras como recompensa pelos seus serviços prestados
ao rei;
− homens do povo: combatiam a pé e eram a grande maioria dos combatentes.
Em algumas batalhas os portugueses foram ainda ajudados por cruzados bem
treinados e com armas próprias para atacar as muralhas, vindos do Norte da Europa.

5. O reconhecimento do reino
Apesar de o rei Afonso VII ter reconhecido em 1143 D. Afonso Henriques como rei de
Portugal, o mesmo não aconteceu com o Papa.
O Papa era o chefe supremo da Igreja Católica e tinha muitos poderes. Os reis cristãos
lhe deviam total obediência e fidelidade. Para a independência de um reino ser respeitada
pelos outros reinos cristãos teria de ser reconhecida por ele. Para obter este reconhecimento
D. Afonso Henriques mandou construir sés e igrejas e deu privilégios e regalias aos mosteiros.
Só em 1179 é que houve o reconhecimento por parte do papa Alexandre III através de
uma bula (documento escrito pelo papa).

2.2 Portugal no século XIII


2.2.1 O reino de Portugal e do Algarve

1. Alargamento do território e definição de fronteiras


Portugal foi uma monarquia desde 1143 até 1910, ou seja, durante este período
Portugal foi sempre governado por um rei.
A monarquia portuguesa era hereditária. Isto significa que quem sucede um rei é o seu
filho mais velho (o príncipe herdeiro).
Depois da morte de D. Afonso Henriques sucederam-lhe:
− D. Sancho I;
− D. Afonso II;
− D. Sancho II;
− D. Afonso III;
− etc…
Os primeiros 4 reis de Portugal, a seguir a D. Afonso Henriques, continuaram a
conquistar territórios aos mouros até que em 1249 D. Afonso III conquista definitivamente o
Algarve.
Entretanto, os limites do território não estavam totalmente definidos pois havia zonas
a norte e a este que ainda estavam em disputa com o reino de Leão e Castela.
Só em 1297, com o Tratado de Alcanises, entre D. Dinis, rei de Portugal, e D. Fernando,
rei de Leão e Castela, ficaram definidas as fronteiras do território português que assim se
mantiveram aproximadamente até os dias de hoje. Apenas em 1801 Espanha ocupou Olivença
que já não faz parte de Portugal.

2. Características naturais de Portugal


O relevo de Portugal no séc. XIII apresentava características idênticas às de hoje. De
realçar os contrastes que ainda hoje existem:
− Norte/Sul: terras altas, planaltos e serras no norte enquanto no sul
predominam terras de baixa altitude como as planícies;
− Litoral/Interior: no litoral temos pequenas planícies costeiras enquanto no
interior encontramos planaltos e serras.
Os rios correm para o Atlântico seguindo a inclinação do relevo e existem em maior
número no Norte.
Sobre o clima destacam-se três zonas climáticas:
− Norte Litoral: chuvas abundantes e temperaturas amenas tanto no Verão
como no Inverno;
− Norte Interior: poucas chuvas, muito frio no Inverno e quente no Verão:
− Sul: poucas chuvas, invernos suaves e temperaturas muito elevadas no verão,
sobretudo no interior.
No entanto, nem todas as características naturais permanecem exatamente iguais aos
dias de hoje. Ao longo dos tempos a paisagem do território português foi-se alterando devido
à influência humana e da própria Natureza. Um exemplo disso mesmo é o facto de os rios
serem antigamente mais navegáveis mas com a acumulação de areias trazidas pelos próprios
rios o litoral ficou mais alinhado tornando os rios menos navegáveis ao longo dos tempos.
No séc. XIII abundava a vegetação natural, ou seja, que ainda não tinha sido
modificada pelo homem. No Norte abundavam bosques e florestas muito densas com árvores
de folha caduca e no Sul as florestas eram menos densas e predominavam as folhas de folha
persistente.
3. Atribuição de terras
Ao serem reconquistadas terras os reis tinham a necessidade de as povoar, defender e
explorar para não voltarem a ser ocupadas pelos mouros.
Os reis reservavam uma parte dessas terras para si e a grande parte era dada aos
nobres e às ordens religiosas militares como recompensa pela sua ajuda prestada na guerra,
bem como às ordens religiosas não militares para que fossem povoadas mais rapidamente.
Sendo assim, as terras pertenciam ao rei, à Nobreza e ao Clero. O povo trabalhava
nessas terras e em troca recebiam proteção.

4. Aproveitamento dos recursos naturais


O aproveitamento dos recursos naturais das terras era realizado através de:
− terrenos bravios: pastorícia, criação de gado, caça e recolha de produtos
(como a lenha, a madeira, a cortiça, frutos silvestres, mel e cera).
− terrenos aráveis: agricultura onde se produzia cereais, vinho, azeite, legumes,
frutos e linho.
− mar e rios: pesca e salicultura.
Produção artesanal:
O vestuário, calçado, instrumentos e todos os objetos necessários para o dia-a-dia dos
pastores, agricultores e pescadores eram feitos por eles mesmos à mão e através da utilização
de produtos retirados diretamente da Natureza ou pelos materiais fornecidos pela agricultura
e pela pastorícia.

2.2.2 A vida quotidiana no século XIII

1. Ordens sociais
A população portuguesa no séc. XIII era constituída por três grupos sociais:
− nobreza: grupo privilegiado que possuía terras, não pagava impostos, recebia
impostos e aplicava a justiça nas suas terras. A sua principal atividade era
combater;
− clero: grupo privilegiado que possuía terras, não pagava impostos, recebia
impostos e aplicava a justiça nas suas terras. A sua principal atividade era
prestar serviço religioso;
− povo: grupo não privilegiado que trabalhava nas terras do rei, da nobreza e do
clero e que ainda tinham que pagar impostos.
Todos os grupos sociais deviam ao rei fidelidade, obediência e auxílio.

2. Vida quotidiana nas terras senhoriais


As terras senhoriais, ou senhorios, pertenciam aos senhores nobres que viviam numa
casa acastelada situada na parte mais alta. À sua volta distribuíam-se campos cultivados, a
floresta, o moinho e as casas dos camponeses que trabalhavam as terras.
Nestas terras era o nobre que aplicava a justiça, recrutava homens para o seu exército
e recebia impostos de todos os que lá trabalhavam. Em troca, tinha como obrigação proteger
as pessoas que estavam na sua dependência.

Atividades dos nobres:


− em tempo de guerra: combatiam;
− em tempo de paz: praticavam a caça, a equitação e exercícios desportivos que
os preparavam para a guerra.
Distrações:
− À noite entretinham-se com jogos de sala, como o xadrez e dados, com os
saltimbancos, que faziam proezas, e com os jograis, que tocavam e cantavam.
Casa senhorial:
− o salão era o aposento mais importante e era onde o nobre dava as suas
ordens, recebia os hóspedes e onde serviam-se as refeições;
− o mobiliário existente na casa era uma mesa, arcas para guardar a roupa e
outros objetos domésticos, poucas cadeiras e bancos chamados escanos;
− para a iluminação durante a noite utilizavam-se lamparinas de azeite ou tochas
e velas de cera e sebo.
Alimentação dos nobres:
− faziam-se normalmente duas refeições, o jantar e a ceia, onde predominava a
carne, pão de trigo, vinho, queijo e um pouco de fruta.
Por outro lado, os camponeses tinham uma vida dura e difícil. Trabalhavam seis dias
por semana nos campos dos senhores nobres e ainda tinham que lhes pagar impostos pois só
assim garantiam proteção.
Atividades dos camponeses:
− trabalhar nos campos.
Distrações dos camponeses:
− ida à missa, procissões e romarias.
Casa do camponês:
− teto de colmo, paredes de madeira ou pedra, quase sem aberturas, e chão em
terra batida;
− tinha só uma divisão e havia pouca mobília;
− dormia-se num recanto coberto de molhos de palha.
Alimentação dos camponeses:
− baseava-se em pão negro, feito de mistura de cereais ou castanha,
acompanhado por cebolas, alhos ou toucinho. Apenas nos dias festivos havia
queijo, ovos e bocados de carne.

3. Vida quotidiana nos mosteiros


O clero, cuja principal função era o serviço religioso, dividia-se em dois:
− clero secular: padres, bispos e cónegos que viviam junto da população nas
aldeias ou cidades;
− clero regular: frades (ou monges) e freiras que viviam nos mosteiros ou
conventos.

A vida no mosteiro era dirigida pelo abade ou abadessa. Os monges dedicavam a sua
vida a Deus e ao serviço religioso, meditavam, rezavam e cantavam cânticos religiosos.
Para além do serviço religioso, os monges também se dedicavam ao ensino. Durante
muito tempo, o clero foi a única ordem social a saber ler e escrever. Fundaram-se algumas
escolas junto aos mosteiros, os monges eram os professores e os alunos eram os futuros
monges. Existiam ainda os monges copistas que dedicavam-se a copiar os livros mais
importantes e ilustravam o texto com pinturas chamadas iluminuras.
Todos os mosteiros tinham enfermarias onde os doentes eram recolhidos e tratados
pelos monges. Era também dada assistência aos peregrinos que se dirigiam aos santuários
para cumprir promessas ou para rezar.
O clero praticava também a agricultura. Produzia tudo o que precisava.
Alimentação dos clérigos:
− a refeição principal era tomada em comum e em silêncio, no refeitório: sopa,
pão, um pouco de carne ou peixe nos dias de abstinência.
4. Vida quotidiana nos concelhos
Um concelho era uma povoação que tinha recebido foral ou carta de foral. A carta de
foral era um documento onde estavam descritos os direitos e os deveres dos moradores do
concelho para com o senhor (dono) da terra.
Os moradores de um concelho tinham mais regalias que os que não lá viviam:
− eram donos de algumas terras;
− só pagavam os impostos exigidos no foral.
Existia ainda uma assembleia de homens-bons, formada pelos homens mais ricos e
respeitados do concelho, que resolvia os principais problemas do concelho. Elegiam juízes
entre si para aplicar a justiça e os mordomos que cobravam os impostos.
Os concelhos eram formados por uma povoação mais desenvolvida (a vila) e por
localidades rurais à sua volta (o termo).
Muitos dos concelhos foram criados pelo rei mas houve alguns também criados por
grandes senhores da nobreza e pelo clero nos seus senhorios e surgiram da necessidade de
garantir o povoamento e a defesa das terras conquistadas aos mouros e para desenvolver as
atividades económicas.
Principais atividades:
− agricultura, pastorícia, pesca: camponeses e pescadores;
− artesanato: havia pequenas oficinas onde os artesãos executavam trabalhos à
mão (manufatura), utilizando técnicas e instrumentos muito rudimentares;
− comércio: os camponeses e os artesãos reuniam-se para vender os seus
produtos dando origem aos mercados e mais tarde às feiras (maiores que os
mercados e com maior abundância e variedade de produtos).
A criação de feiras contribuiu para o desenvolvimento do comércio interno, isto é,
troca e venda de produtos dentro do país. No entanto, nesta altura Portugal também
comerciava com outros países – comércio externo.
O comércio externo contribuiu para o desenvolvimento das cidades situadas no litoral
e contribuiu também para o surgimento de um novo grupo social: a burguesia. Os burgueses
eram homens do povo, mercadores e artesãos, que enriqueceram com o comércio externo.

5. Vida quotidiana na corte


A corte era constituída pela família do rei, pelos conselheiros e funcionários. A corte
seguia sempre o rei.
Distrações:
− Banquetes e saraus (festas à noite) onde havia espetáculos de jograis (os
jograis cantavam e tocavam instrumentos musicais).

Características dos estilos arquitectónicos


2.3 1383-1385 – Um tempo de mudança
2.3.1 A crise de 1383-1385

1. Portugal na segunda metade do séc. XIV


Neste período viveram-se tempos difíceis:
− Fome: deveu-se aos maus anos agrícolas por causa das chuvas intensas;
− Epidemias – deveu-se à falta de higiene e à falta de alimentação;
− Guerras – devido ao conflito com Castela.
A pior calamidade foi a Peste Negra que em menos de três meses matou cerca de um
terço da população.

2. Problema de sucessão
Em 1383, D. Fernando assina um tratado de paz com Castela para salvaguardar a
independência do reino de Portugal – o Tratado de Salvaterra de Magos.
Neste tratado D. Fernando deu a mão da sua única filha, D. Beatriz, a D. João I, rei de
Castela, e ficou estabelecido que o futuro rei de Portugal seria o seu neto, filho de D. Beatriz,
quando atingisse os 14 anos.

3. População dividida e revolta popular


Quando D. Fernando morre, D. Leonor de Teles, sua esposa, assume a regência do
reino e aclama D. Beatriz como rainha de Portugal. O povo ficou descontente porque não
queria ser governado por um rei estrangeiro e temia que Portugal perdesse a independência.
− Apoiantes de D. Beatriz – alto Clero e alta Nobreza porque temiam perder os
seus privilégios;
− Apoiantes de D. João, Mestre de Avis – povo, burguesia, parte do Clero e parte
da Nobreza porque não queriam ser governados por um rei estrangeiro e
temiam que Portugal perdesse a independência.
Álvaro Pais planeou uma conspiração para matar o conselheiro galego de D. Leonor de
Teles, o conde Andeiro. D. João, Mestre de Avis, filho ilegítimo de D. Pedro, é escolhido para o
matar. Após a morte do conde Andeiro, D. Leonor de Teles foge para Santarém e pede ajuda a
D. João I, rei de Castela. Mestre de Avis passa a Regente e Defensor do reino com o apoio do
povo.

4. Resistência à invasão castelhana


D. João I, rei de Castela, invade Portugal:
− ocupa Santarém;
− é vencido na batalha de Atoleiros;
− cerca Lisboa em 1384.
Lisboa esteve cercada 3 meses e só se libertou quando a peste negra atacou os
soldados castelhanos.
Nas Cortes em Coimbra (1385) João das Regras provou que D. João, Mestre de Avis,
era quem tinha mais direito a ser o rei de Portugal que passa a intitular-se D. João I.
Ao saber da aclamação de Mestre de Avis como rei de Portugal, D. João I, rei de
Castela, invade novamente Portugal mas é derrotado na batalha de Aljubarrota (1385) pelos
portugueses chefiados por D. Nuno Álvares Pereira.

5. Consolidação da independência
D. João I, Mestre de Avis, recompensou com terras, cargos e títulos os nobres e
burgueses que o apoiaram e retirou privilégios à alta Nobreza que apoiou D. Beatriz e que
fugiu para Castela.
Portugal fez ainda um tratado de amizade com Inglaterra onde os dois países se
comprometeram a ajudar-se mutuamente. Esta aliança foi reforçada com o casamento de D.
João I com D. Filipa de Lencastre em 1387.
Entretanto, só em 1411 o problema com Castela ficou resolvido com um tratado de
paz.
Muito do que sabemos sobre o que aconteceu neste período deve-se a Fernão Lopes
através das suas crónicas sobre o que se passava no reino da época.

2.4 Portugal nos séculos XV e XVI


2.4.1 De Portugal às ilhas atlânticas e ao cabo da Boa Esperança

1. O caminho do mar
No início do séc. XV, a Europa vivia isolada do resto do mundo. Apenas se conhecia,
além da Europa, a Ásia e o norte de África.
Nesta altura, Portugal era um reino pobre. No entanto, encontrava-se num período de
paz e sentiu a necessidade de alargar os seus territórios. Os portugueses não podiam alargar as
suas fronteiras para território castelhano, de forma a evitar entrar em guerra com Castela, por
isso decidiram encontrar novos territórios pelo mar.
A procura de novas terras interessou todos os grupos sociais:
− a burguesia procurava riquezas e novos mercados
− a nobreza queria novos títulos e terras
− o clero pretendia converter outros povos ao cristianismo
− o povo desejava melhores condições de vida

2. Início da expansão portuguesa


Em 1415, Portugal conquistou Ceuta, no norte de África, com o desejo de obter ouro e
dominar o comércio do mar Mediterrâneo. Contudo, os mouros, ao perderem Ceuta,
desviaram as rotas do ouro e das especiarias para outras cidades.
Para obterem as riquezas que tanto ambicionavam os portugueses tinham então que
descobrir a origem dos produtos que os mouros comerciavam mas, para isso, tinham que ir
para terras desconhecidas.
Mercadores e aventureiros tinham criados várias lendas sobre o mundo desconhecido.
Pensava-se que os navios que navegassem para sul ao longo da costa africana seriam atacados
por monstros marinhos e que o calor era tanto que os homens brancos se tornavam negros.
Imaginava-se também que nas terras desconhecidas existiam seres maravilhosos e fantásticos:
animais estranhos e homens sem cabeça, só com uma perna e só com um olho.
Os portugueses, aventureiros e corajosos, decidiram enfrentar os medos sobre o
mundo desconhecido e navegaram para sul ao longo da costa africana para áreas totalmente
desconhecidas pelos europeus. O infante D. Henrique foi quem planeou e organizou estas
viagens e foi ele o responsável pelos Descobrimentos até à chegada a Serra Leoa, em 1460.
Acontecimentos mais importantes na época de D. Henrique:
− 1415 – Conquista de Ceuta – D. João I com os seus filhos D. Duarte, D. Pedro e
D. Henrique
− 1419 – Redescoberta do arquipélago da Madeira – João Gonçalves Zarco e
Tristão Vaz Teixeira
− 1424 – Descoberta do arquipélago dos Açores – Diogo de Silves
− 1434 – Passagem do cabo Bojador – Gil Eanes
− 1460 – Chegada a Serra Leoa – Pedro de Cintra
3. Técnicas de navegação
Quando navegavam no mar alto orientavam-se pelos astros (estrela polar e sol),
utilizando para isso o quadrante, o astrolábio e a balestilha.
Passou-se a utilizar a caravela que era um navio inovador pois possuía velas
triangulares que permitiam bolinar, ou seja, navegar com ventos contrários.
Começaram a ser desenhadas as cartas náuticas com as novas terras descobertas e
com informações sobre os ventos para facilitar as viagens futuras.
Sendo assim, as viagens marítimas feitas pelos portugueses contribuíram para o
desenvolvimento das técnicas de navegação, da cartografia, da astronomia e da matemática.

4. Da Serra Leoa ao cabo da Boa Esperança


Depois da morte do infante D. Henrique, D. Afonso V encarregou ao burguês Fernão
Gomes de continuar as descobertas na costa africana. Em troca, tinha o direito de comerciar
nas terras descobertas por ele.
Acontecimentos mais importantes na época de Fernão Gomes:
− 1471 – descoberta das ilhas de S. Tomé e Príncipe
− 1474 – chegada ao cabo de Santa Catarina
Em 1474, o infante D. João passa a dirigir os descobrimentos porque as terras
descobertas tinham muitas riquezas como o ouro, marfim e escravos. Em 1488 subiu ao trono
e ordenou que nas terras descobertas se colocassem padrões (um pilar de pedra gravado com
uma cruz, as armas reais e a data de implantação). Mandou também afundar os navios de
outros reinos que se encontrassem a sul das ilhas Canárias. foi na sua época que se descobriu
o limite a sul do continente africano e a passagem para o oceano Índico.
Acontecimentos mais importantes na época de D. João II:
− 1480 – Tratado de Alcáçovas
− 1482 – Chegada à foz do rio Zaire
− 1488 – Passagem do cabo da Boa Esperança – Bartolomeu Dias
5. Tratado de Tordesilhas
O grande desejo de D. João II era chegar à Índia por mar por causa do comércio das
especiarias. No entanto, também Castela tinha o mesmo desejo. Em 1492, Cristóvão Colombo,
ao serviço de Castela, chega à América quando procurava chegar à Índia navegando para
oeste. Esta descoberta criou um conflito entre Portugal e Castela porque segundo o Tratado de
Alcáçovas, assinado em 1480, as terras a sul das ilhas Canárias pertenciam a Portugal. Sendo
assim, as terras descobertas por Cristóvão Colombo deveriam pertencer a Portugal.
Para resolver este conflito foi necessária a intervenção do papa que levou os dois
monarcas dos dois reinos a assinar um novo acordo – o Tratado de Tordesilhas. Segundo este
tratado o mundo ficava dividido em duas partes por um meridiano a passar a 370 léguas a
ocidente de Cabo Verde. As terras que fossem descobertas a oriente pertenceriam aos
portugueses e a ocidente seriam para Castela.

2.4.2 A chegada à Índia e ao Brasil

D. João II acabou por não ver o seu sonho realizado. Após a sua morte, sucedeu-lhe o
seu primo D. Manuel I que decidiu continuar os descobrimentos. Em 1497 nomeou Vasco da
Gama capitão-mor de uma armada constituída por quatro navios: as naus S. Gabriel, S. Rafael
e Bérrio, mais uma embarcação com mantimentos. O objetivo desta armada era chegar à Índia
por mar. A viagem durou um ano e em maio de 1498 os portugueses chegam a Calecut.
Quando Vasco da Gama chega à Índia, os portugueses foram no início bem recebidos.
No entanto, começaram a sentir algumas hostilidades e para garantir o domínio português
partiu de Portugal uma armada em Março de 1500. Esta nova armada, chefiada por Pedro
Álvares Cabral, era constituída por treze navios. Um desvio feito a ocidente levou os
portugueses a descobrirem o Brasil.

2.4.3 O Império português no século XVI


No fim do século XVI, Portugal tinha um império de grande extensão. Possuía
territórios na África, Ásia e na América mais as ilhas atlânticas.

1. Os arquipélagos da Madeira e dos Açores


Os arquipélagos da Madeira e dos Açores foram bastante importantes porque as
embarcações que se dirigiam para África e para a Índia iam-se abastecer de alimentos frescos
nestas ilhas.
Na Madeira predominavam as árvores, por isso o seu nome.
Nos Açores, encontraram muitas aves de nome açores e outras.

Relevo
O relevo das ilhas atlânticas é muito montanhoso e de origem vulcânica. É na ilha do
Pico que se encontra o pico mais alto de Portugal, com 2351 metros de altitude.
Os cursos de água existentes são pouco extensos, por isso têm o nome de ribeiras. Nos
Açores são famosas algumas lagoas formadas nas crateras de vulcões extintos.

Clima e vegetação
A Madeira, situada mais a sul e próximo de África, tem um verão quente e seco e um
inverno ameno, com precipitações mais elevadas na montanha e vertente norte.
Estava coberta de densas matas onde predominavam os dragoeiros, loureiros, urzes,
giestas, zimbro e jasmim.
Por seu lado, nos Açores não se notam grandes diferenças de temperatura nas
diferentes estações do ano. É frequente o nevoeiro e as chuvas são abundantes, sobretudo nos
meses de Outubro a Janeiro.
Nas matas predominavam os cedros, loureiros, faias, urzes, giestas e fetos gigantes.

Colonização
Quando os portugueses descobriram a Madeira e os Açores encontravam-se
desabitadas. O clima ameno e as terras férteis levaram o infante D. Henrique a realizar de
imediato a sua colonização, ou seja, o povoamento e aproveitamento dos seus recursos
naturais.
As ilhas foram divididas em capitanias, cada uma com um capitão que tinha como
função povoá-las e cultivar as suas terras. As pessoas que saíram do continente para as ilhas
chamavam-se colonos.
Principais atividades e produtos
Os colonos dedicaram-se sobretudo à agricultura e à criação de gado. Na Madeira
introduziram-se as culturas da vinha, cana-de-açúcar, árvores de fruto e cereais. Nos Açores o
trigo, a criação de gado e as plantas tintureiras foram as principais riquezas.

2. Territórios na África
A vida dos povos africanos
Os portugueses avistaram povos de raça negra abaixo do deserto do Sara. Estes povos
viviam do aproveitamento dos recursos naturais existentes: caçavam, criavam animais,
pescavam, recolhiam frutos, cultivavam o inhame (batata-doce) e faziam o aproveitamento de
alguns minerais como o ouro e o cobre que trocavam por outros produtos.
Os povos africanos estavam organizados em reinos que se guerreavam entre si.
Normalmente os vencidos eram feitos escravos.
Na maioria dos reinos praticava-se a poligamia, ou seja, um homem podia ter várias
mulheres. Andavam todos nus da cintura para cima e vivam em palhotas.

Contatos entre portugueses e africanos


Os portugueses faziam comércio com os africanos. Ofereciam sal, trigo, objetos de
cobre e latão e tecidos coloridos de pouco valor. Em troca recebiam ouro, escravos, marfim e
malagueta. Nos locais com bons portos naturais e onde o comércio era mais intenso os
portugueses estabeleceram feitorias.
Além dos contatos comerciais, os portugueses realizaram expedições, da costa africana
para o interior, para dominar alguns reis, desenvolver relações de paz e amizade e também
para cristianizar os povos africanos. Os missionários fundaram escolas, foram-se construindo
igrejas, fortalezas e criaram-se alguns povoados comerciais onde viviam africanos e colonos
portugueses.

3. Territórios da Ásia
A vida dos povos asiáticos
Na Ásia os portugueses conquistaram Goa, Malaca e Ormuz, na Índia, e no Extremo
Oriente chegaram às Molucas, ao litoral da China, a Cantão, Timor, Japão e a Macau.
Em todos estes locais os portugueses encontraram povos de cor de pele, costumes,
religião e formas de vida diferentes. Os chineses e os japoneses foram os que causaram maior
admiração.

Contatos entre portugueses e asiáticos


Os portugueses comercializavam com os asiáticos. Goa, Malaca e Macau eram as
principais feitorias. Os portugueses levavam para o Oriente vermelhão, cobre, prata e ouro
(por amoedar) e em troca recebiam especiarias, pedras preciosas, porcelanas, perfumes, sedas
e madeiras.
Goa era a capital portuguesa na Índia e lá viviam aí muitos portugueses. No entanto,
milhares de colonos portugueses instalaram-se por todo o Oriente, sendo frequente os
casamentos com mulheres indianas.
Também se construíram igrejas, escolas e seminários nas terras asiáticas.

4. Territórios da América
A vida dos índios brasileiros
O Brasil era um território com imensas florestas, aves e frutos de grande beleza. Os
índios viviam de uma maneira bastante simples em estreita relação com a natureza.
Dedicavam-se à caça, à pesca e ao cultivo da mandioca. Eram pacíficos e acolhedores e
receberam os portugueses com simpatia.

Colonização
Inicialmente os portugueses deslocavam-se ao Brasil apenas para trazer o pau-brasil e
aves exóticas. Em 1530, iniciou-se a colonização. O rei dividiu as terras em capitanias, tal como
nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Os colonos portugueses começaram a cultivar a
cana-de-açúcar e a bananeira.
Os índios não eram fáceis de escravizar por isso os portugueses levaram para o Brasil
muitos escravos africanos.

2.4.4 A vida urbana no século XVI – Lisboa quinhentista

Importância da cidade de Lisboa no séc. XVI


No séc. XVI Lisboa era uma das cidades mais importantes da Europa devido à chegada
de mercadorias oriundas do Oriente, África e Brasil, que depois eram distribuídas pelo centro e
norte da Europa.

Produtos que chegavam a Lisboa


– Oriente: especiarias, sedas, porcelanas, pedras preciosas
– África: ouro, malagueta, marfim, escravos
– Brasil: açúcar, pau-brasil, animais exóticos

Crescimento da cidade
Nos reinados de D. João II e de D. Manuel I Lisboa teve um desenvolvimento tão
grande que as suas construções começaram a ocupar espaços fora das muralhas construídas
por D. Fernando (Cerca Nova ou Cerca Fernandina).
O rei D. Manuel deixou o Paço de Alcáçova, junto ao Castelo, para ir viver mais junto
ao Tejo, no Paço da Ribeira, para melhor vigiar o movimento marítimo.

Locais importantes da cidade


– Paço da Ribeira: onde se encontravam os aposentos do rei e a Casa da Índia (local
abastecido de produtos vindos do Oriente)
– Rossio: onde os camponeses vendiam os seus produtos
– Rua Nova dos Mercadores: onde havia mercadores de toda a parte do mundo
– Ribeira das Naus: onde se construíam navios
– Hospital Todos-os-Santos: recebia doentes, pobres e órfãos
– Misericórdia: recebia pobres e crianças abandonadas
– Feira da Ladra: onde se vendiam produtos usados

Movimento de pessoas
– Emigração: muitas pessoas partiram para as ilhas atlânticas, Brasil e Oriente, à
procura de melhores condições de vida.
– Imigração: chegaram a Lisboa muitas pessoas vindas de todo o mundo:
comerciantes, artesãos, artistas, escravos…
– Migração interna: muitos camponeses abandonaram os campos e foram para a
cidade à procura de melhores condições de vida.

Distribuição da riqueza
– Nobreza:
o recebia riquezas
o gastava dinheiro em luxos, vestuário e na habitação
o as famílias mais ricas tinham todas escravos
– Clero:
o foi beneficiado com a construção e decoração de igrejas e mosteiros
– Grande parte do povo:
o vivia em extrema pobreza
o muitos eram vagabundos, mendigos, miseráveis
– Corte:
o das mais ricas e luxuosas da Europa
o eram frequentes os banquetes e saraus com músicos, poetas e escritores
o o rei realizava ainda cortejos para exibir a sua riqueza, onde desfilavam
músicos ricamente vestidos e animais raros

Cultura
– Literatura
o Luís de Camões: “Os Lusíadas”
o Fernão Mendes: “A Peregrinação”
o Pêro Vaz de Caminha: “Carta do Achamento do Brasil”
o Damião de Góis e Rui de Pina: crónicas de reis
o Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda e Garcia de Resende
– Matemática
o Pedro Nunes
– Medicina
o Garcia de Orta e Amato Lusitano
– Geografia e Astronomia:
o Duarte Pacheco Pereira
– Zoologia e Botânica:
o Garcia da Orta
– Arte
o Arte Manuelina na arquitetura: decoração com elementos alusivos às
viagens marítimas (cordas, redes, conchas, naus, caravelas, esferas
armilares) como no Mosteiro dos Jerónimos e Convento de Cristo.
o Arte Manuelina na escultura, pintura, ourivesaria, cerâmica e
mobiliário: revelam também influências dos Descobrimentos

2.5 Da União Ibérica À Restauração


2.5.1 A morte de D. Sebastião e a sucessão ao trono

Perda da independência
Quando D. João III morreu, sucedeu-lhe o seu neto D. Sebastião. Como tinha apenas 3
anos, D. Catarina assume a regência do reino, seguindo-lhe o cardeal D. Henrique.
Aos 14 anos, D. Sebastião assume ele próprio o governo do reino e decide conquistar o
norte de África. No entanto, não foi bem-sucedido e morreu na batalha de Alcácer Quibir sem
deixar descendentes. D. Henrique passa a ser o rei de Portugal mas o problema de sucessão
não estava resolvido pois também ele não tinha filhos.
Surgiram então vários pretendentes ao trono.

Pretendentes ao trono
– D. Filipe II, rei de Espanha, apoiado por:
o grande parte do clero e da nobreza: porque temiam perder privilégios e
aspiravam novos cargos e terras
o alta burguesia: porque pretendia novos mercados
– D. António, prior do Crato, apoiado por:
o povo e parte da nobreza: não queriam ser governados por um rei estrangeiro e
temiam que Portugal perdesse a independência
– D. Catarina, duquesa de Bragança, apoiada por:
o muitos nobres e elementos do clero, mas desistiu e apoiou a candidatura
filipina

2.5.2 O domínio filipino e os levantamentos populares

União Ibérica (1580)


Cortes em Almeirim: D. Filipe II é aclamado rei de Portugal
Batalha de Alcântara: D. António, apoiado pelo povo, enfrenta o exército de D. Filipe II
mas é derrotado e foge, primeiro para os Açores e depois para Inglaterra
Cortes de Tomar: D. Filipe II, rei de Espanha, prestou juramento como rei de Portugal,
foi intitulado como D. Filipe I, rei de Portugal, e fez várias promessas entre as quais:
− manter a moeda, língua e costumes portugueses
− cargos de governo de Portugal apenas para portugueses
D. Filipe I cumpriu a maioria das promessas que fez mas os seus sucessores, D. Filipe II
e D.Filipe III, não respeitaram as promessas feitas aos portugueses. A situação piorou quando
Espanha entrou em guerras contra a Holanda, França e Inglaterra, e surgiram revoltas dentro
do próprio país. Tudo isto teve consequências para Portugal:
− aumento dos impostos
− soldados portugueses no exército espanhol
− espanhóis nomeados para cargos em Portugal
− ataque dos inimigos de Espanha às colonias portuguesas
Surgiu a revolta popular rapidamente reprimida violentamente pelo exército espanhol.

2.5.3 A revolta do 1º de Dezembro e a Guerra da Restauração

A União Ibérica, que durou 60 anos, acabou por trazer vários prejuízos a Portugal. À
revolta popular juntou-se o descontentamento da nobreza em muito prejudicada neste
período.

1 de Dezembro de 1640
Um conjunto de nobres aproveitou o enfraquecimento da Espanha e a ausência do rei
em Portugal para organizar uma conspiração para matar a vice-rei de Portugal, a duquesa de
Mântua. Bem-sucedidos aclamaram a Restauração da Independência.

Cortes em Lisboa
D. João, duque de Bragança, é aclamado rei de Portugal com o título de D. João IV.

Guerra da Restauração
D. João IV procurou organizar o exército, fabricou armas e fortalezas junto às
fronteiras com Espanha. Durante 28 anos Portugal esteve em guerra com Espanha, que só
terminou com o Tratado de Madrid, assinado em 1668.

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