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Cavaleiro vilão
O aparecimento da figura do cavaleiro vilão é uma originalidade 1 da cavalaria peninsular.
A cavalaria vilã cujas raízes remontam uma antiquíssima tradição de combate a cavalo no ocidente
peninsular, anterior à ocupação romana, respondeu à necessidade de assegurar à autoridade real, no quadro
da Reconquista2, a mobilização expedita de um exército.

“Os lavradores livres (os ingenui) tinham mais ou menos a mesma categoria consoante a sua
riqueza. Todos, não sendo nobres, eram vilãos (gente dos campos), mas os pobres denominavam-se
peões, enquanto os mais ricos, tinham o direito (ou, em outros locais, o encargo) de possuir sempre
cavalo apto para a guerra, e armas, de modo a prestarem serviço militar durante certo período de
tempo anual, convocados pelo rei ou seu delegado: eram os cavaleiros-vilãos por vezes equiparados,
para certos efeitos, aos infanções ou nobres de mais baixo grau, nos forais concedidos pelo rei a
alguns concelhos. Todos estavam obrigados ao pagamento de tributos em géneros, dinheiro ou
serviços, mas os cavaleiros-vilãos ficavam isentos de jugada.”3

Para possuir e manter um cavalo o vilão deveria possuir certa quantidade de bens, duas ou mais
juntas de bois4, o que equivaleria a trabalhar uma ou mais propriedades com uma área total não superior a
205 hectares.
Durante o século XII a posse de propriedade com alguma dimensão permitia, então, ao camponês, em
certos momentos ascender à ordo dos cavaleiros, pois como nota Robert Durand “a cavalaria vilã era um grupo
aberto” 6, no qual se entrava ou saía, conforme a propriedade e a vontade do vilão.
O cavaleiro vilão, para além da sua pequena fortuna, tinha ainda algum prestígio que lhe advinha do
exercício das armas.

1 PIMENTA, MARIA CRISTINA - Guerras no tempo da reconquista (1128/1249), Lisboa, Quidnovi, 2008, p. 12.

2 DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII siècles, Paris, Fundação Caluste
Gulbenkian, 1982, p. 557.

3 CAETANO, MARCELLO - História do Direito Português, 4ª Edição, Lisboa, Editorial Verbo, 2000, p 183.

4 DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII siècles, Paris, Fundação Caluste
Gulbenkian, 1982, p. 510

5 Robert Durand calculou que uma junta de bois deveria conseguir trabalhar uma propriedade com uma área entre sete e
dez hectares.

6 DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII siècles, Paris, Fundação Caluste
Gulbenkian, 1982, p. 545
António Barroso de Sequeira Varejão - 1 varejanus@me.com
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Casos havia em que o cavaleiro vilão “tirava o seu sustento” de uma herdade de fossadeira7 também
chamada cavalaria8 . Eram herdades reais que haviam sido dadas a vilãos, nos reinados de Sancho I e Afonso
II, para serviço militar a cavalo.9
Robert Durand calculou que uma cavalaria deveria dar trabalho a trinta homens todos eles dedicados
a prover as necessidades do cavaleiro e do se cavalo; seria uma propriedade, ainda para o mesmo autor,
equivalente a dois casais. 10
No reinado de Afonso III começam a pagar tributo como acontecia com as outras propriedades da
Coroa entregues a outros vilãos.
ver chancelaria de afonso III (ps 222 e 224) doação de herdades de cavalaria para pagamento de
serviços de corte (???)11
No concelho detinha uma posição privilegiada, podendo ocupar as principais magistraturas
municipais, em particular aquelas que de algum modo podiam implicar o uso de armas enquanto
representantes do poder real, Alcaide ou Saião, por exemplo.
Não era um profissional da guerra (embora lucrasse com ela) mas os estatutos concelhios sobre eles
largavam bastas responsabilidades de defesa e de ataque, principalmente nos concelhos de fronteira (A sul
do Mondego e a sul do Tejo depois)
O cavaleiro vilão pertencia a uma cavalaria ligeira mais apta a missões de razia e fossado. Dispunha de
equipamento militar mais leve e mais reduzido, e de menos acompanhantes; não vi escrito em lado nenhum
que o cavaleiro vilão tivesse pagens ou escudeiros.
Os cavaleiros-vilãos eram equiparados aos cavaleiros nobres na isenção de jugada e em tribunal eram
julgados como infanções, mas é muito duvidoso que essas vantagens, só por si, compensassem a importante
despesa que representava a posse e manutenção de cavalo adestrado.12
Daí que os vejamos “bafejados” pela distribuição de algumas terras, as cavalarias, e pelo Direito de
Ereita, para complementar os seus rendimentos. (?????)
Estavam obrigados ao cumprimento dos serviços militares de fossado, de apelido, 13 de hoste e de garda.14

7 Também chamadas de “Terras foreiras da Cavalaria”

8 P. Bonnassie no estudo que fez sobre a Catalunha, define a caballeria como “a terra capaz de sustentar as necessidades de um
cavaleiro convenientemente equipado”. Cit. DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII
siècles, p. 610.

9 HERCULANO, ALEXANDRE - História de Portugal, vol. II, Lisboa, Livraria Bertrand, 2008, p. 72.

10 Iria Gonçalves (O património do Mosteiro de Alcobaça nos séculos XIV e XV), descreve um Casal constituía-se por
habitação, terras, entre 3 e 20 hectares, de cultivo, edifícios de apoio como adega, lagar, celeiro, palheiro, cavalariça,
curral e capoeira.

11 Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006

12 Em Castela, no século XI, um cavalo valia tanto como 25 bois e o arreio outro tanto; e o cavaleiro ainda tinha
necessidade, de em campanha, de outra montada, que usava durante o caminho, para que o cavalo de combate estivesse
fresco ao começar a luta, e de uma ou duas mulas para transportarem armas e equipagem.

13 HERCULANO, ALEXANDRE - História de Portugal, vol. 1 Lisboa, Livraria Bertrand, 2008, p. 524.

14 DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII siècles, Paris, Fundação Caluste
Gulbenkian, 1982, p. 552.
António Barroso de Sequeira Varejão - 2 varejanus@me.com
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A partir de meados do século XIII, os cavaleiros vilãos são cada vez menos chamados à hoste régia o
que vai, paulatinamente, degradando o seu estatuto social e económico (???) com o abandono do seu papel
como “defensores do concelho”; perdem as isenções fiscais que detinham sendo que alguns passaram a ficar
obrigados ao dever de aposentadoria. 15
Só o rei podia podia mobilizar os cavaleiros vilãos (??????)
O Direito de Ereita era concedido a todos os cavaleiros-vilãos ?????
Eram “aproveitados apenas pela necessidade de dispor de uma cavalaria abundante para o fossado”.
Estes Cavaleiros Vilãos, que deviam também acudir ao Apelido e à Vigia, eram “as forças de defesa”
dos concelhos apoiados por alguns poucos arqueiros e besteiros.
A relação entre os Nobres e os Vilãos não é apenas de oposição, mas também de concorrência, de
aliança e até e interdependência. 16
“O exército régio era composto não apenas por cavaleiros nobres mas também por cavaleiros vilãos, e
onde por isso, se verifica uma verdadeira osmose entre a nobreza e a cavalaria dos concelhos”17
Houve cavaleiros vilãos que conseguiram transmitir a sua “fortuna aos herdeiros que assim mantinha
o estatuto no concelho18
Para um cavaleiro vilão poder ascender à classe nobre teria que prestar grandes serviços ao rei,
distinguindo-se assim dos demais; forçoso seria dispor de condições económicas para poder corresponder às
obrigações que a nobreza impunha.
Ver DHP
A partir do momento em que o movimento da Reconquista tem como fronteira a Linha do Tejo e a
partir do momento em que a Coroa começa a contar com o esforço empenhado das ordens religiosas
militares para progredir rumo à conquista do Al-garb e para manter as fronteiras, a necessidade de utilizar a
cavalaria vilã vai-se extinguindo gradualmente e, no Regimento da Guerra do rei D. Dinis e actualizado por
D. Fernando19 não haver qualquer referência à cavalaria vilã. (?????)

15 DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII siècles, Paris, Fundação Caluste
Gulbenkian, 1982, p. 555.

16 MATTOSO, JOSÉ - A Nobreza Medieval Portuguesa - a família e o poder, 4ª Edição, Lisboa, Editorial Estampa, 1994, p. 25.

17 MATTOSO, JOSÉ - Identificação de um país, vol. 1, 2ª edição, Lisboa, Editorial Estampa, 1985, p. 118.

18 DURAND, ROBERT - Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII et XIII siècles, Paris, Fundação Caluste
Gulbenkian, 1982, p. 567.

19 MARTINS, ARMANDO - Guerras Fernandinas (1369/1382), Lisboa, Quidnovi, 2008 p. 85.


António Barroso de Sequeira Varejão - 3 varejanus@me.com

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