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Quinas e Castelos – Recensão crítica

Introdução

Na unidade curricular de Introdução à Cultura Portuguesa, foi solicitada a elaboração de


um trabalho escrito relacionado com o tema de Cultura Portuguesa (especificamente
relacionados com o plano da unidade curricular), nomeadamente, sobre a forma como os
portugueses se viam e retratavam ao longo dos tempos.

Desta forma, no presente trabalho encontra-se redigida uma recensão crítica da obra
“Quinas e Castelos”, de Miguel Metelo Seixas, que retrata a heráldica portuguesa, desde a sua
origem até ao momento atual e os símbolos, que atualmente representam a nação
portuguesa.

O interesse por esta matéria revelou-se quando numa das aulas lecionadas pelo
Professor Doutor Pedro Vilas Boas Tavares, o professor doutor abordou este tema,
relacionando-o com o Mito Fundador (também conhecido como Mito de Ourique). Assim, este
tema suscitou-se bastante pertinente e surgiu a possibilidade de abordar este tema, realizando
uma abordagem crítica ao livro supracitado.

De forma sucinta “Quinas e Castelos” não realiza apenas uma enumeração detalhada da
heráldica portuguesa (ou seja, dos símbolos nacionais, que foram representando a nação
portuguesa, ao longo dos tempos), como também tenta apresentar as explicações e motivos
para estes símbolos nacionais. Esta obra, pretende assim, incutir nos portugueses o sentido de
origem e evolução dos símbolos nacionais até aos símbolos representativos que hoje
conhecemos.

Miguel Metelo de Seixas considera esta sua obra um ensaio de pesquisa sobre como se
foi criando diversos símbolos que hoje retratam a nossa sociedade e, que por diversas vezes,
estes mesmos símbolos foram representativos da nossa comunidade política e da nossa
cultura régia. Assim, o autor pretende que todos os portugueses conheçam a origem dos
símbolos que trazemos gravados na nossa memória e que nos representam nas mais diversas
situações, quer seja, em termos políticos, quer em termos desportivos, por exemplo.

De forma a tornar a compreensão do trabalho mais fácil, este vai encontrar-se dividido
por capítulos, que corresponderam aos capítulos da obra em análise.

Capítulo 1: “Introdução”

A introdução à obra “Quinas e Castelos” aborda a importância dos símbolos nacionais na


representação de uma nação e como estes símbolos se tornam (desde a sua origem)
representações profundamente nacionalistas e adoradas pelo povo.
É referida a importância da bandeira e como esta desempenha um papel fundamental
no imaginário coletivo da nação, tanto pela importância que reproduz como pela carga
emocional que nos transporta. De uma forma aligeirada, a população em geral conhece os
traços da bandeira nacional e consegue relacionar (muitas vezes, de forma errónea) os
diferentes símbolos nesta representados com a cultura e a História de Portugal: ouve-se
muitas vezes referir-se às cores verde e vermelha como a esperança do povo português e o
sangue derramado pelo povo, respetivamente; assim, como a esfera armilar representativa da
era dos descobrimentos e o escudo português relacionado com D. Afonso Henriques e com a
conquista aos mouros. Contudo, se estas pessoas forem questionadas sobre como estes
símbolos chegaram à bandeira e a verdadeira representação destes, muitos não conseguem
dar resposta (assim como eu não conseguia antes de ler este livro).

Desta forma, o autor refere a bandeira como uma metáfora visual da nação, uma vez
que esta representa a história e cultura do seu povo, como acima foi referido.

Desde a bandeira monárquica (criada no século XIX) que passou a existir entre os
portugueses um sentimento muito nacionalista para com esta. Ao referir isto, o autor deixa em
suspense os motivos para este sentimento nacionalista, mas mais tarde, no capítulo seis, o
mesmo refere os motivos políticos e ideológicos que evidenciam este sentimento nacionalista.

Assim, o autor refere que a questão da heráldica identificativa de Portugal é


demonstrativa da influência que o papel destes elementos evidencia na formação da
nacionalidade e da consciência nacional.

O autor termina o capítulo introdutório referindo a importância destes elementos como


instrumentos da construção da memória coletiva da comunidade política, até ao momento
atual, em que se transforma numa “metáfora visual por excelência da existência nacional”.
(METELO DE SEIXAS, 2019, p.9). A frase com que o autor termina este capítulo evidencia o
significado mítico da origem e da evolução destes elementos.

Capítulo 2: “Sinais do rei, sinais do reino”

O título do referente capítulo sugere que os símbolos régios (que surgem no reinado de
D. Afonso Henriques) estão relacionados com o rei e com os seus símbolos próprios.

Neste capítulo, é referida que a formação e independência do Reino de Portugal ocorre


em simultâneo ao código emblemático no Ocidente Medieval, a heráldica. Este código
emblemático era formado por cores e figuras que indivíduos e instituições assumiam como
forma de autorrepresentação, nomeadamente, os objetos de natureza militar, sendo que a
heráldica utilizava e exibia estes símbolos nos campos de batalha. A heráldica era exibida nos
escudos dos militares, uma vez que este resumia e representava as qualidades do cavaleiro,
assim, este era o suporte preferencial para o emblema (ou seja, os símbolos representativos)
do guerreiro.

Deste modo, como toda a heráldica estava relacionada com a vida bélica, as
características terminológicas da heráldica derivam de termos relacionados com os campos de

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batalha. Assim, os emblemas heráldicos passam a ser nomeados por “armas” ou “escudo de
armas”, quando aplicados à representação heráldica figurada no escudo.

Evidenciando a ligação ao campo de batalha, este mundo bélico influencia as


características gráficas da heráldica, nomeadamente: o limitado número de cores, estilização
extrema das figuras, a preferência por composições geométricas e a simplicidade geral do
desenho. Contudo, esta influencia bélica também reproduz consequências noutras
características e aspetos da heráldica, especificadamente em relação à “constituição de grupos
de sinais com base na partilha de cores ou figuras, com o fito de evidenciar laços de
parentesco, de vassalagem ou de ligação a uma causa comum ou fidelidade dinástica, política,
militar, ou ainda a simples camaradagem de armas” (METELO DE SEIXAS, 2019, p.11) e a
“gradual estabilização dos emblemas heráldicos no seu uso não apenas individual, mas
também institucional e familiar” (METELO DE SEIXAS, 2019, p,11) para permitir o
enquadramento do cavaleiro no grupo social em que se inseria.

Assim sendo, estes emblemas passam a ser caracterizados por um carácter fixo: estes
eram associados a um indivíduo durante o seu período de vida e passíveis de ser transmitidos
(na sua forma íntegra ou com algumas modificações) aos seus descendentes, parentes ou
companheiros de armas.

E, apesar de, como referido anteriormente, a heráldica ter surgido ligada aos campos de
batalha, rapidamente, durante o século XII ao inicio do século XIII, a heráldica alastra-se a uma
grande velocidade a todas as outras classes sociais. Uma das questões que fica depois de
referido este rápido alastramento é: Como acontece esta passagem? O autor explica-a através
do alastramento de contactos entre as comunidades, que pressupunha uma necessidade de
identificação e de que os indivíduos fossem reconhecidos fora das suas comunidades. Esta
necessidade de identificação foi então compensada graças a dois meios: a onomástica
(designação por um nome ou conjunto de nomes) e pela heráldica, que era de extrema
importância, uma vez que nesta época, a maioria da sociedade era analfabeta.

É D. Afonso Henriques o responsável pela formação e origem das armas reais


portuguesas, sendo que estas eram adotadas, principalmente, no campo de batalha. Este
escudo que é a primeira arma real portuguesa permanece ainda hoje conservada junto ao
túmulo do rei. O emblema régio de D. Afonso Henriques era constituído por um conjunto de
escudetes (pequenos escudos), que estavam dispostos em cruz , sendo que eram variáveis em
número e tamanho, e que continham os besantes (pequenos círculos). Contudo, as cores deste
emblema não seguiam o contexto ibérico, sendo que este emblema tinha um fundo branco,
com escudantes azuis e bezantes brancos. Desta questão, surge uma nova dúvida: Porque é
que Portugal não segue o contexto ibérico? Uma possível resposta para esta questão é a
revolta do Rei D. Afonso Henriques contra Castela.

Ainda em relação a este emblema régio criado por D. Afonso Henriques existe um
grande simbolismo, que na minha opinião, se encontra relacionado com a criação desta
heráldica no campo de batalha, após a Batalha de Ourique. Assim, segundo o Mito de Ourique,
D. Afonso Henriques após a Batalha de Ourique (ocorrida a 25 julho 1139), este por memória à
batalha e ao aparecimento de Cristo, coloca no seu escudo, os cinco escudetes
correspondentes aos reis mouros derrotados e colocou-os em cruz, de forma a lembrar, a Cruz

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de Cristo (ou seja, a luta pela fé cristã) e pôs em cada escudete bezantes que representavam os
trinta dinheiros por que Judas vendeu Cristo. Assim, estas novas armas reais marcam a
constituição de um novo reino (que estava enquadrado na missão da reconquista cristã), bem
como estava ligado à religião – ao Cristianismo – pelo movimento de Cruzadas. Mas,
principalmente, este símbolo surge associado e relacionado com o Mito Fundador de Ourique,
providenciando a este objeto uma conceção mística.Por conseguinte, devido a esta conceção
mística, a passagem deste emblema régio de filho para filho representava a misticidade e
imortalidade do monarca. Assim, as armas reais (emblemas reais) passaram a estar associados
a definições ideológicas e míticas da monarquia.

Desta forma, os emblemas reais foram representados em diferentes objetos com o


objetivo de autorrepresentarem e permitirem a comunicação política dinástica, sendo estes
objetos: a moeda, o selo e a bandeira.

Assim, estes três objetos (moeda, selo e bandeira) são considerados pelo autor
importantes elementos da implantação da autoridade. Contudo, levanta-se uma nova dúvida:
Porque é que estes instrumentos desempenham um papel tão fundamental na implantação da
autoridade do rei? O autor explica esta dúvida, posteriormente, explicando que estes símbolos
eram tão importantes porque não eram apenas representação do soberano, do rei; mas eram
também uma representação do “exercício efetivo do seu poder” (METELO DE SEIXAS, 2019,
p.21). Assim, como estas desempenhavam o papel de enraização da autoridade do rei, de
forma bastante acelerada, passaram não só a representar o monarco, como também as
instituições e indivíduos que exerciam autoridade em nome do monarca. Desta forma, a
dissiminação das armas régias deu-se de forma muito rápida.

Durante os primeiros dois séculos da monarquia, existiu uma grande flutuação da


representação figurativa das armas reais, já que não existia um ordenamento heráldico,
previamente definido, para as armas reais: assim, quer o formato, quer o número e a
disposição dos escudetes e bezantes variava de acordo com o a dimensão e o tipo de material
em que estavam a ser gravados. Este facto era desvalorizado, porque o que realmente
importava era que os sinais régios fossem inconfundíveis, para que pudessem facilmente ser
reconhecidos por qualquer pessoa (uma vez, que a função identificativa era o seu objetivo
primordial).

Durante a I Dinastia existiu um momento de rutura heráldica (ou seja, os símbolos régios
foram alterados) durante a guerra civil (1245 a 1248) que opôs D. Sancho II e o irmão D.
Afonso. Deste modo, D. Afonso juntou às quinas que formavam o núcleo principal das armas
reais portuguesas uma bordadura de castelos. Quando D. Sancho II morre e D. Afonso sobre ao
trono, as armas plenas do reino passam a introduzir o semeado de castelos, ficando aqui
registado o primeiro momento de diferenciação da heráldica portuguesa desde o momento da
sua criação. Este acrescento da bordadura de castelos possibilitou a divisão da nação em duas
épocas: Portugal Antigo (em que o escudo era representado sem a bordadura dos castelos) e
Portugal Moderno (em que o escudo era representado com a bordadura de castelos).

Contudo, a população, a partir do século XV, associa esta bordadura à conquista do


Reino dos Algarves e ao duplo título régio de D. Afonso III (Rei de Portugal e dos Algarves). Esta
bordadura e as suas representações relacionadas com a Reconquista Cristã de territórios aos

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reis mouros, provoca um aumento da associação da heráldica com acontecimentos bélicos e
religiosos.

A segunda rutura heráldica portuguesa acontece na passagem para a dinastia de Avis (e


novamente num período conturbado por uma guerra civil). O Mestre de Avis (para se distinguir
de seu pai) usava uma heráldica diferente, que era representativa da Ordem de Avis. Sendo
considerado rei nas cortes de Coimbra em 1385, D. João I adota o nomeado advento da
dinastia de Avis (uma cruz verde floreada que se encontrava por baixo do escudo).

Os sucessivos reis mantiveram o escudo do Mestre de Avis, até ao reinado de D. João II.
Neste reinado, foram inseridas novas moedas e para isso era necessário ajustar a composição
das armas régias: foi excluída das armas reais a cruz da Ordem de Avis e os escudetes laterais
passaram a ser figurados em posição direita, figurando assim cinco escudetes na mesma
posição.

É no reinado de D. João II que existe a possibilidade de associar às armas reais


portuguesas armas correspondentes aos territórios ultramarinos (nomeadamente, da Guiné);
contudo, o monarca recusa esta possibilidade, reforçando o carácter institucional das armas
reiais. Desta forma, a heráldica régia associou-se, ainda mais, à dimensão estatal e à contrução
mitológica da nação.

Depois do reinado de D. João II poucas são as alterações realizadas na heráldica régia


portuguesa, sendo que é pouco tempo após este reinado que se estabelece o número preciso
e normativo de castelos na bordadura, sendo definido sete (levanta-se aqui a dúvida: Porquê o
número sete?).

Em suma, a heráldica portuguesa nos seus primórdios (e como veremos posteriormente,


na sua continuação) encontra-se muito ligada ao Mito Fundador de Ourique e
consequentemente, à religião e ao ideal de o rei e o povo português como o escolhido por
Deus.

Capítulo 3: “Coroas e elmos, anjos e dragões, esferas e cruzes...”

O título deste capítulo sugere os acréscimos, que a partir do século XIV foram
adicionados ao escudo com as armas reais, denominados de elementos exteriores. Estes
elementos permitiam assim expressar outras realidades que não pertenciam aos elementos
centrais e que possibilita exprimir a mensagem politica total do monarca.

Um dos elementos exteriores adicionados ainda antes do século XIV é a coroa, que
aparece no morabitino de D. Sancho I, mas, realmente, a coroa só é incorporada de forma
definitiva na heráldica régia no reinado de D. Fernando I e aí suscita logo uma questão: Se a
coroa já é usada por D. Sancho I, porque é que não perpetua?

A fórmula introduzida por D. Fernando I (escudo-coroa) permite evidenciar a dignidade


soberana do rei. Este binómio constituía um retrato do rei de Portugal como imagem concreta
do seu poder.

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Posterior ao binómio escudo-coroa são adicionados diferentes elementos exteriores. O
primeiro elemento a ser colocado são os anjos tenentes (anjos colocados ao lado do escudo),
que se destinava a relembrar que o reino tinha sido doado a D. Afonso Henriques por Cristo
(enaltecendo assim, nova referênia do Mito Fundador de Ourique, o que reforça a ligação
religiosa da heráldica régia).

Depois é adicionado o elmo ou capacete, habitualmente, representado em modo de


virol de que pendia o paquife e pro vezes o mantelete. Este elemento evidenciava o rei como
o melhor dos cavaleiros e, ainda, se aludia aos dois corpos do rei: ao retrato da personalidade
individual e a condição transpessoal do rei: rei como a cabeça do reino).

No século XIII torna-se comum adicionar o timbre que permitia exprimir uma mensagem
mais pessoal do que o conteúdo do escudo e que habitualmente estava associada à
identificação de um cavaleiro. O primeiro a surgir é o dragão a encimar o elmo régio, no
reinado de D. João I, que poderia ter diversas explicações: a ligação com a casa de Lancastre
(família da sua esposa), o culto de São Jorge, a aliança com o reino de Aragão, a uma origem
biblica (conotando-o com o pacto de Moisés e Deus para proteger o seu povo), e ainda, com
um dos romances mais célebres da cavalaria (o conto do Rei Artur). Não existe uma única
explicação ou uma explicação mais válida, e é considerada que a conjugação de todas estas
hipóteses aumenta o valor simbólico do elemento, reforçando o seu sentido religioso, mítico e
messiánico.

É no reinado de D. João I que é adicionado um elemento que não serve como


complemento ao escudo, mas como complementos às próprias armas régias: a empresa. Estes
eram elementos heráldicos que se caracterizavam por serem menos normativos (que
tornavam as circunstâncias históricas e interpretações mais variáveis) e mais pessoais, e com
uma conotação não ao reino mas ao próprio rei em si. Assim, as empresas surgem como uma
forma emblemática e visual da afirmação da nova dinastia. O principal exemplo disso é a
empresa de D. João I que se encontrava relacionada com a de sua esposa, D. Filipa de
Lencastre. Deste modo, ao lado da bandeira real, juntou-se um estandarte com as cores e
empresa do monarca, que permitia o rei na sua individualidade não como um monarca
pertencente a uma dinastia e nação (a empresa retratava as especificidades pessoais de cada
monarca, sendo por isso mais individual e pessoal que o escudo real, sendo muitas vezes
usadas para refletir ideais políticos e religiosos do monarca). Mesmo as empresas continuam
muito demarcadas e associadas à face mítica, religiosa, messiánica e até imperial do reino.

Assim, nas armas régias passam a conjugar-se três níveis semióticos: o escudo (elemento
identificativo e simbólico da nação), os elementos exteriores (como representação da
dignidade política e social), e por fim, a empresa (como personalização do monarca e da
dinastia em si).

A empresa mais marcada e importante (e que até aos dias de hoje permanece na nossa
heráldica) é a esfera armilar, introduzida por D. Manuel I. Esta poderia ter várias leituras
dependendo da conotação dada à mesma: foi associada à submissão incondicional de D.
Manuel I ao reino, ao conhecimento do universo, à ideia de universalidade do poder régio e a
sua relação com a religião cristã, a um sinal de esperança de D. Manuel I vir a reinar e ainda
um carácter messiánico associado à expansão marítima e a D. Manuel I como o Messias.

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Ainda no seu reinado, D. Manuel I acaba por introduzir um outro elemento importante
na emblemática régia: a cruz da Ordem de Cristo, que representava o monarca como
governador desta ordem militar.

Desta forma, a nomeada trilogia de sinais manuelinos (armas reais, a empresa e cruz de
Cristo) foi um sucesso inexplicável, ainda para mais, quando estabeleceu uma profunda ligação
e projeção emblemática do Rei de Portugal nos dominíos do ultramar (o que estabelece uma
ponte para o próximo capítulo: “Sinais da expansão ultramarina”).

Em suma, neste capítulo são abordados os elementos externos ao escudo e à bandeira


do reino que se vitalizaram e mais uma vez reforçaram a dimensão religiosa, messiánica,
imperial e expansionista da heráldica régia. A cada passo que damos neste livro, descobrimos
que toda a heráldica e todos os símbolos das armas reais têm uma história distinta a contar e
só cabe a cada português conhecê-las melhor.

Capítulo 4: “Sinais da expansão ultramarina”

O título do referente capítulo introduz-nos logo a ideia de que alguma da heráldica que
representou o nosso país esteve relacionada com a expansão ultramarina. E, como já foi visto
no capítulo anterior, a esfera armilar (que ainda hoje se mantém na nossa heráldica) tinha uma
associação aos territórios ultramarinos e à expansão marítima iniciada no reinado de D.
Manuel I.

Desde muito cedo se associou a expansão marítima como o ideal da construção de um


império, chefiado por um rei perfeito, que constituíria o território universal baseado na fé
cristã. Assim, logo com a Conquista de Ceuta (em 1415), a expansão foi considerada como um
prolongamento da Reconquista Cristã, que coincidia no ideal de cruzada, o que volta a
enaltecer a associação da nação à fé cristã.

Assim, os territórios ultramarinos eram adornados (por ordem do monarca) com as


armas reais portuguesas, o que ressaltava o poder da nação portuguesa. Aquando do reino de
D. Manuel I e com a introdução da tríada simbólica (armas reais, empresa e Cruz de Cristo) foi
inevitável que esta Cruz se espalhasse nos territórios ultramarinos.

Ao contrário do que vinha a acontecer em Portugal, D. João III adota a empresa de seu
pai: a esfera armilar (assim pela primeira vez no reino, uma empresa é passada de geração em
geração). Mais tarde, no reinado de D. Sebastião, o monarca mantém como sua empresa
pessoal, novamente, a esfera armilar, o que contribiu para aumentar a ligação da
representação do poder régio nos territórios do ultramar. Contudo, D. Sebastião, para além de
adotar a empresa que o seu avô tinha adotado do pai (a esfera armilar), cria ainda uma
empresa pessoal (feixe de setas a ladear o escudo das armas reais), sendo que estas
identificavam pessoalmente o monarca enquanto a esfera armilar permitia representar o
poder do monarca português nos territórios conquistados na Ásia. Assim, a esfera armilar
passa a ser uma empresa que não representa a individualidade do monarca, mas que
representa a presença e a autoridade portuguesa nos domínios ultramarinos.

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Os monarcas que regeram o país entre os séculos XV e XVI assumiram cada vez um
papel mais principal na expansão e conquista de territórios ultramarinos, até que esta era um
empreendimento exclusivo da Coroa, e por conseguinte, criaram uma heráldica e emblemática
única.

Desta forma, é possível observar que existe uma escassa heráldica própria dos
territórios ultramarinos portugueses, o que enaltecia a centralização do poder régio. É preciso
aguardar até ao século XVII para começar a aparecer a primeira heráldica ultramarina, que
mesmo assim, era muito escassa. Assim, à exceção destas escassas armas municipais (heráldica
ultramarina) não existia nenhum outro emblema heráldico que representasse o poder político,
judiciário ou militar nos territórios ultramarinos portugueses: todos os territórios usavam a
tríade Manuelina – armas reais, esfera armilar e Cruz da Ordem de Cristo. A conservação e
generalização destes emblemas heráldicos representavam o poder régio concentrado numa
única pessoa e nação, evidenciando que os territórios ultramarinos eram parte integrante do
território português e ainda simboliza o monarca como o eleito para governar o império de
Cristo (ligação religiosa).

A Coroa Portuguesa procurou transplantar a sua lógia heráldica para algumas


organizações sociopolíticas presentes em territórios conquistados, tal como é o exemplo de
Bemoin e o primeiro soberano congolês que se converteu ao cristianismo (representou na sua
heráldica todos os motivos do Mito de Ourique). Logo, com esta nova heráldica nos territórios
ultramarinos (que se representam como subsidiários da Coroa Portuguesa) é reforçada a ideia
de imperialismo português.

Assim, a ubiquidade dos sinais régios portugueses, bem como o seu carácter quase
exclusivo enquanto símbolo de poder nos territórios ultramarinos, conseguiu criaar uma
imagem visual forte, estável e intensa, que por conseguinte contribui para a construção da
sociedade colonial enquanto sinal de concordância com o poder régio.

Em suma, é possível observar que existe uma constante relativamente à heráldica e aos
sinais da expansão ultramarina. Estes sinais providenciam uma exaltação maior da
concentração do poder régio, a submissão destes territórios aos poderes régios, militares e
políticos da nação portuguesa e a ligação do poder do rei ao messianismo e religiosidade.

Capítulo 5: “Sinais da monarquia, sinais do rei”

O título desde capítulo sugere-nos alguma ligação com o primeiro capítulo “Sinais do rei,
sinais do reino”, contudo, este sugere uma ordem inversa, já que vão ser as diferenças e as
marcas históricas da monarquia deste tempo, que vão influenciar os sinais do rei e
consequentemente, os sinais das armas régias.

Como referido anteriormente, a tríade manuelina teve um grande sucesso e


permaneceu inalterável durante algum tempo, mas a partir do século XVI a esfera armilar
passou a ser associada aos territórios ultramarinos e começou a cair em desuso. Depois, a Cruz
de Cristo mantém-se como representação da ordem militar do Rei de Portugal e ganha cada
vez mais um função honorífica, passando a ser representada de forma não isolada.

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As armas reais mantiveram-se essencialmente incólumes, mas os elementos externos
sofreram algumas alterações. A primeira, reportou-se à coroa que encimava o escudo. Nos
primórdios era usada uma coroa de modelo dos reis ocideitais: a coroa aberta; mas a partir do
século XVI começaram a usar a coroa real fechada. Esta coroa representava a totalidade do
poder régio, proclamando o rei como imperador do seu reino. A coroa fechada evidenciava,
ainda, a dignidade imperial (em que ninguém sobrepunha o poder do rei, exceto Deus) e,
também, a alusão à realeza mística de Cristo e a origem divina do poder do rei. D. Sebastião é
o rei que coloca sobre o escudo uma coroa fechada, o que evidenciou a expressão imperial
inequívoca deste monarca.

Com a morte de D. Sebastião e a consequente crise dinástica, nomeadamente com a


aclamação de Filipe II de Espanha como Rei de Portugal, a heráldica encontrava-se de tal
maneira intrínseca que quando o monarca sobe ao poder não impôs quaisquer alterações na
nossa heráldica. Contudo, Filipe II tinha de incorporar os domínios do Reino de Portugal na sua
heráldica própria, mas esse era um grande problema. Várias foram as soluções pensadas,
contudo, todas elas acabavam por enaltecer demais o reino de Portual ou por rebaixar o
mesmo (existindo a possibilidade de ferir as suscetibilidades dos sentimentos dos portugueses,
o que o monarca queria evitar). Por conseguinte, a solução encontrada foi colocar as armas
portuguesas num escudete inserido no ponto de honra do escudo, “ao centro da composição
expressiva dos domínios ibéricos”. (METELO DE SEIXAS, 2019, p. 62). Esta solução
salvaguardava os sentimentos dos portugueses, sem ferir os sentimentos e o orgulho do povo
castelhano e estes cuidados que Filipe II teve demonstracam a preocupação com a organização
da heráldica régia para a autorrepresentação da monarquia.

Neste tempo, as armas completas da monarquia eram reservadas para ocasiões


especiais, estando associadas cada vez mais ao monarca do que ao reino. Assim, passou a
surgir uma distinção entre armas plenas do reino e armas dinásticas. Desde D. João I, que os
monarcas usavam a bandeira real para retrarar o reino e um estandarte com a empresa para a
representação pessoal do monarca. Contudo, no século XVI as empresas tinham caído em
desuso, Por isso, a solução encontrada para esta distinção de armas e bandeiras foi a criação
de uma bandeira própria do monarca (o estandarte régio) e a bandeira real. Desta forma, a
bandeira real poderia ser hasteada em qualquer lugar que estuvesse colocado sobre a
autoridade do reino português e do Rei de Portugal; contudo, o estandarte era hasteado
exclusivamente na presença do monarca em pessoa.

Esta distinção manteve-se depois da restauração da independência e os monarcas da


casa Brigantina continuaram a usar o estandarte vermelho (que representava uma ligação ao
Milagre de Ourique) com as armas reais para assinal a sua presença pessoal. Esta nova dinastia
tinha por objetivo mostrar-se como legitima herdeira da dinastia da Casa de Avis, e como tal,
D. João IV e os seus sucessores retomaram alguns emblemas próprios que serviam como
ligação para a sua legitimidade de sucessão régia.

Um desses emblemas próprios, foi o uso da empresa própria, criada no século XVI: o nó.
Este nó e o lema: “Depois de Vós, Nós” pretende evidenciar D. João IV como o legítimo
herdeiro do trono. Contudo, com a aclamação nas cortes de D. João IV como rei de Portugal,
esta empresa parece não fazer sentido; contudo, esta mensagem perpetua na porta dos nós

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(mandada erguer por D. João IV). Esta é associada às trovas de Bandarra, que anunciavam a
vinda de um messias (um rei perfeito) que ressuscitaria Portugal e, que segundo o Padre
António Vieira, era D. João IV. Assim, volta-se a traçar uma representação messiánica ligada à
heráldica régia.

Um outro emblema retomado pelos monarcas da Casa de Bragança foi o dragão


(anteriormente usado por D. João I); que, mais uma vez, pretendia afirmar a legitimidade de D.
João IV como sucessor ao trono (uma vez que era ele, a própria continuação de D. João I). Este
dragão, reteve também muita importância durante a guerra da independência (1640-1668),
que para além de um conflito militar, era uma guerra de propaganda entre as duas dinastias
para a legitimização da sucessão do trono, sendo que, nesta perpertiva, o dragão briantino
serviu de oponente ao leão da monarquia espanhola. Contudo, mesmo após esta guerra, o
dragão manteve-se como emblema dinástico da Casa Brigantina, passando para as laterais do
escudo, desempenhando a função dos anjos tenentes.

É cada vez mais evidente, a conotação da heráldica régia a um fio condutor da história
nacional; já que esta se relacionava com os ideais proféticos e messiánicos que circulavam pela
população.

É por esta mesma razão que na época da restauração surgem os primeiros armoriais
(compilações, geralmente sobre o formato de livro, em que se reunia o conjunto de armas
régias), que não eram exclusivos das armas da Casa Real, mas também das famílias de nobres e
das casas titulares, ordens militares e ordens religiosas.

Com os armoriais surge a projeção das armas reais, não só para o passado, mas também
para o futuro o que resultou em duas consequências fundamentais: o reforço da estabilidade
(que exprimia o carácter consagrado da dinastia e que permitia um ligação entre os diversos
territórios alastrados por cinco continentes, mantendo-se incólumes até ao século XIX,
praticamente) e o declínio inexorável da dimensão dinástica das armas reais (ou seja, a
simplificação do sistema de diferenciação heráldica da Casa Real). No fundo, todo o processo
de simplificação demonstrava que as armas reais se encontravam unidas a um entendimento
do poder régio, que se sobrepunha à perceção dinástica da heráldica.

Em suma, graças a estas alterações nas normas da heráldica régia, esta mantém-se
inalterável desde meados do século XVII até ao século XIX, quando existe uma crise política: o
fim do Antigo Regime.

Capítulo 6: “Os símbolos nacionais: (re)criações oitocentistas”

A 16 de dezmebro de 1815, D. João elevava o Brasil a reino; sendo, que passa a ser
formado o conjunto uma tríplice monarquia, que ficou denominada Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves. E, posteriormente, no dia 13 de maio de 1816, que vinha criar e
regulamentar a heráldica do Brasil e do Reino Unido.

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Ao criar-se a heráldica do Reino Unido, procurou-se antecendentes históricos
relacionados com a heráldica do Algarve, no reinado de D. Afonso III. Assim, o emblema
atribuído ao Brasil tinha uma sequência histórica relacionada com esta heráldica.

Assim, a ideia da criação das armas do Reino Unido era a adição/somatório dos ideais da
heráldica dos três reinos. Desta forma, a solução mais básica seria a partição do escudo,
articulando campos e elementos identificativos de cada um dos territórios deste Reino. Mas
escudo deste Reino foi em tudo diferente do que se conhecia: as armas do Brasil foram retidas
num escudo de formato redondo preenchido pela esfera e sobre este escudo, um outro
representativo do Reino de Portugal e dos Algarves, e sobre tudo isto impôs-se uma coroa real
fechada. Note-se que o escudo de Portugal se encontra no centro desta emblemática,
representando assim a centralização do poder régio português e a sua pretensão imperial.

Contudo, a aplicação das novas armas não veio substituir as antigas, sendo que estas
novas armas apenas eram usadas nas manifestações do poder. Esta novas armas do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves tiveram, ainda, uma existência condicionada. O primeiro
golpe para a perpetuação da heráldica proveio do Brasil, já que para este ser reconhecido
como Estado independente, este precisava de criar uma série de sinais visuais que divulgassem
a sua nova condição (pedido de independência). Com a independência do Brasil, o rei D. João
VI (ou qualquer membro da Casa Real) sentiu necessidade de alterar a heráldica – como se
nada tivesse mudado e a tríplice união continuasse -, que se manteve a mesma (a que
representava o Reino de Portugal, do Brasil e dos Algarves). D. Maria II e D. Pedro I
mantiveram as armas imperiais brasileiras.

Contudo, em 1826, as armas reais voltaram para a modalidade pré-1816, e apenas


bastava retirar a esfera armilar (que continha conotação direta com o imperialismo e o
território brasileiro). Assim, o modelo assentava no uso do escudo encimado pela coroa real
fechada, ladeado por dois ramos de louro. Porém, desde 1820 (com a presença dos ideias
revolucionários) passou a existir um problema quanto às cores da heráldica: em 1796 criara-se
a diacromia azul e vermelho, que se tornou inaceitável pelos revolucionários; sendo que, os
revolucionários queriam criar uma diacromia que representasse os seus ideais liberais e
nacionalistas, sendo que vigorou a ideia de criar cores nacionais. Esta escolha recai, assim,
sobre a diacromia branco e azul, que representavam as cores do campo e das principais figuras
das armas reais (as quinas).

Com o regresso de D. João VI a Portugal, as diacromias branco/azul e vermelho/azul


passaram a representar os ideias políticos, sendo que a primeira diacromia representada as
ideologias da monarquia liberal e a segunda diacromia representava as ideologias da
monarquia tradicional. Após a vitória na guerra civil, a bandeira nacional partida de azul e
branca com as armas reais foi difundida pelo pais, como representação da nova monarquia: a
monarquia liberal, sendo que a heráldica passa, assim, a ser uma representação dos ideais
políticos.

Estando perante um período romântico, procurou-se, assim, construir uma ligação


sentimental e emotiva entre os cidadãos e os símbolos da nação, nomeadamente a bandeira.

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Assim sendo, a bandeira passou a ser uma manifestação simbólica da nação e representação
concreta da nação e dos ideais que figuravam nesta nação.

Desta forma, cria-se uma forte conotação nacionalista da bandeira (e das já nomeadas)
armas nacionais, contudo, existe uma fraca expressão ou aplicação dinástica. Isto, leva então, a
uma separação entre a heráldica institucional (armas nacionais) e uma heráldica dinástica
(armas ducais). Assim, a heráldica ducal bragantina desempenhou, no século XIX, um papel
semelhante às empresas na dinastia de Avis. Por conseguinte, as armas reais realçam uma
figuração exclusiva como armas do reino, conotando uma representação politíco-institucional,
territorial e nacional.

Posteriormente, as reviravoltas dinásticas serviram de molde para atrasar a necessidade


de criar ou recuperar um sistema de diferenças heráldicas. Desta forma, só existe uma
tentativa de editar um tratado das diferenças da heráldica, em 1885, sendo que este tinha por
objetivo estabelecer uma norma justificativa do modelo heráldico a seguir.

A carga historicista das armas reais ditou distinções na representação simbólica da


heráldica: o uso das cores nacionais figuravam, principalmente, a monarquia institucional; as
armas reais traduziam o ideal de permanência da nação (origem simultânea com a formação
do reino e a sua continuidade praticamente inalterável desde o reinado de D. João II).

O parágrafo final deste capítulo traduz uma síntese dos últimos aspetos do mesmo. E a
principal ideia que é possível retirar deste capítulo é que a heráldica deixa de ser um símbolo
representativo do monarca ou de uma dinastia e passa a ser figurativo de um entendimento
nacionalista.

Capítulo 7: “Revoluções e revivalismos emblemáticos republicanos


de 1910 aos nossos dias”

A revolução de 5 de outubro de 1910 levantou uma importante questão com a


heráldica: existiria a manutenção ou a alteração da bandeira nacional, uma vez que esta era o
símbolo representativo da Pátria, pretendia representar moralmente a nacionalidade e
sintetizava o significado social do povo que representa, ou seja, resumia a vontade nacional.
Assim, após a revolução, esta teria de transmitir os ideais de “independência, domínio, de
constituição social, de regime político [...] tem de ser a evocação lendária do passado, a
imagem fiel do presente e a figuração vaga do futuro”. (METELO DE SEIXAS, 2019, p. 92).

Desta forma, tiveram de ser realizadas diferentes alterações na bandeira que existia,
sendo que para esse mesmo objetivo, foi construída uma comissão. Esta comissão definiu que
as diacromia de cores anteriores não correspondia aos ideais republicanos (uma vez que,
branco era a cor por excelência das bandeiras e, que por isso, representava a nacionalidade; e
o azul representava o culto mariano) propondo as cores vermelho, que representava a epopeia
gloriosa dos Descobrimentos, sendo uma cor quente e combativa e também, por representar a
bandeira revolucionária; e o verde que figurava uma cor positivista e a cor do futuro (contudo,
a mesma não tinha tradição na heráldica portuguesa. Esta comissão considerou, ainda, que era

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necessário conservar o escudo de armas nacionais, retirando apenas a coroa real e colocá-lo
sobre a esfera armilar, que representava a epopeia ultramarina e do império. Deste modo, a
adoção da bandeira verde e vermelha figurou o resumo das tradições portuguesas. E, por
conseguinte, a adoção destas cores era a figuação dos ideais, dos partidos e das instituições
que tinham preparado a revolução.

Contudo, a adoção desta nova bandeira não foi fácil ou pacífica. Houve uma divisão de
opiniões, principalmente, em dois grupos: porum lado, os que denfendiam a manutenção da
diacromia branco/azul e outros que defendiam a diacromia verde/vermelho. Contudo, as
diferenças de opinião relativamente às cores eram três: biacromia branco/azul (retirando
apenas os elementos referentes à monarquia), a fusão das duas biacromias (juntando as cores
nacionais – branco/azul – com as cores republicanas – verde/vermelho) e os que defendiam
apenas a biacromia verde/vermelho. Quanto às disposições das cores, a maioria defendia uma
bandeira partida, embora tenham sido propostas diferentes opções: rombóides inspirados na
bandeira brasileira, tricolores segundo a França e até modelos mais complexos como o Reino
Unido e os Estados Unidos da América.

Apesar de existir uma união relativamente às armas nacionais, que eram insubstituíveis;
quando aos elementos externos não havia consenso, existindo diversas opções: a esfera
armilar (como figuração do ultramar), as estrelas (representação da revolução), ramos de louro
e carvalho (indicativas do sentimento cívico) ou a cruz de Cristo (ligada ao simbolismo do
império ultramarino).

Assim, na I República substituiu-se as cores da bandeira, mas manteve-se as armas reais,


retirando apenas a coroa real fechada que encimava o escudo e colocando a esfera armilar
sotoposta a este. Ao escolher a esfera armilar como símbolo complementar das armas
nacionais, a I República fundamentava as suas ideologias na simbólica consagrada do ultramar
português.

Assim, a I República, com a conservação das armas nacionais e a adição da esfera


armilar, figurava a dupla conotação de nação nacionalista e colonialista, como características
complementares e inseparáveis.

Com a instauração do regime ditatorial, o Estado Novo viu na heráldica uma


possibilidade de representação e propagação dos ideais deste regime. E, assim, dois elementos
distinguiram-se: a Cruz da Ordem de Cristo e a Cruz da Ordem de Avis. Desta forma, estas
cruzes tinham por objetivo figurar a aliança entre o poder militar e a restauração religiosa, mas
também a representação de um Portugal glorioso e triunfante. A recuperação da Cruz da
Ordem de Avis foi utilizada como símbolo da Legião Portuguesa. Por consequinte, estas cruzes
figuravam a capacidade de assegurar a independência portuguesa e a consequente aventura
da descoberta de territórios ultramarinos (imperialismo).

Desde o início deste novo regime, que são lançados uma série de obras sobre a bandeira
nacional, que permitiam saliantar a perpetuação da heráldica régia e estatal como sinal de
continuidade. Com esta exaltação de obras, surge Fernando Pessoa com algo inédito: a fusão
da emblemática com a mitografia nacional.

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Foi, ainda, criada uma norma para a heráldica das províncias ultramarinas, que
conjugava a existência de dois elementos fixos: as quinas e um ondado (conceito de nação
portuguesa cujos territórios eram unidos pelo mar) e um elemento representativo de cada
província. Assim, visava exprimir a ideia de universalidade, exprimindo uma nação multirracial
e pluricontinental.

Quando se deu a queda do regime ditatorial, a bandeira e os elementos heráldicos


puderam manter-se inalteráveis, apenas sendo extintas as Cruzes das Ordens, com o
desapericmento da Mocidade e da Legião Portuguesa.

Ao longo da época republicana, a principal legislação que surge inside sobre a extensão
do poder do Estado na regulamentação do uso dos símbolos, quer na definição de quem os
podia ou não usar, e nos modos corretos para o uso dos mesmos.

Deste modo, a emblemática associativa permitiu um meio para exprimir a sua condição
de nação portuguesa, como é exemplo a emblemática usada pela Federação Portuguesa de
Futebol e também por outros desportos, mas também a heráldica comercial. Estes símbolos
traduziam assim a vitalidade e a universalidade compreendida e aceite pelos portugueses.

Em suma, as armas nacionais são evidenciadas como símbolo da perpetuação da


independência e poder de Portugal por se manterem quase inalterados durante longos
períodos de tempo.

Capítulo 8: “Conclusão”

No capítulo “Conclusão”, o autor faz um resumo do tema abordado nos capítulos


anteriores, referindo que os emblemas visuais têm por objetivo a representação de ideologias
e a progressiva criação da memória coletiva e da identidade nacional.

Conclusão

O presente trabalho tinha por objetivo uma leitura refletida e opinativa sobre a obra
“Quinas e Castelos” de Miguel Metelo Seixas. Esta obra, como já foi referido na introdução, faz
uma revisão da heráldica portuguesa e da sua representação, progressão e impacto na
sociedade.

Na minha opinião, e refletindo sobre a composição da obra e a sua divisão, acredito que
uma divisão cronológia, em vez de temática facilitaria a aprendizagem, contudo, o livro
apresentado parece transmitir o ideal de romance e por isso, a divisão temática faz mais
sentido.

Para mim, a obra representou um momento de profunda aprendizagem, não só, sobre a
historicidade presente na heráldica e nos emblemas representativos da nação portuguesa,
como também na fusão destes conhecimentos com os momentos de aprendizagem das aulas.

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Assim, um dos aspetos fundamentais desta obra, encontra-se na ligação das explicações
dos simbolismos dos emblemas visuais representativos da nação portuguesa; mostrando,
assim, que muitas das explicações se mantêm intemporais e são usadas para guerras civis e
propagação de ideologias politicas e autárquicas.

A principal aprendizagem que podemos retirar desta obra é que desde os primeiros
símbolos originários do reinado de D. Afonso Henriques existe um sentimento, por parte da
sociedade, de grande estima, prezo e zelo por esta emblemática como representação do povo
e nação.

Em suma, a obra “Quinas e Castelos” é uma obra que tem por objetivo incutir nos
portugueses um sentimento nacionalista e patriarca da nossa heráldica, contudo, pretende
fundir este sentimento com o conhecimento da representação dos mesmos.

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