Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Desta forma, no presente trabalho encontra-se redigida uma recensão crítica da obra
“Quinas e Castelos”, de Miguel Metelo Seixas, que retrata a heráldica portuguesa, desde a sua
origem até ao momento atual e os símbolos, que atualmente representam a nação
portuguesa.
O interesse por esta matéria revelou-se quando numa das aulas lecionadas pelo
Professor Doutor Pedro Vilas Boas Tavares, o professor doutor abordou este tema,
relacionando-o com o Mito Fundador (também conhecido como Mito de Ourique). Assim, este
tema suscitou-se bastante pertinente e surgiu a possibilidade de abordar este tema, realizando
uma abordagem crítica ao livro supracitado.
De forma sucinta “Quinas e Castelos” não realiza apenas uma enumeração detalhada da
heráldica portuguesa (ou seja, dos símbolos nacionais, que foram representando a nação
portuguesa, ao longo dos tempos), como também tenta apresentar as explicações e motivos
para estes símbolos nacionais. Esta obra, pretende assim, incutir nos portugueses o sentido de
origem e evolução dos símbolos nacionais até aos símbolos representativos que hoje
conhecemos.
Miguel Metelo de Seixas considera esta sua obra um ensaio de pesquisa sobre como se
foi criando diversos símbolos que hoje retratam a nossa sociedade e, que por diversas vezes,
estes mesmos símbolos foram representativos da nossa comunidade política e da nossa
cultura régia. Assim, o autor pretende que todos os portugueses conheçam a origem dos
símbolos que trazemos gravados na nossa memória e que nos representam nas mais diversas
situações, quer seja, em termos políticos, quer em termos desportivos, por exemplo.
De forma a tornar a compreensão do trabalho mais fácil, este vai encontrar-se dividido
por capítulos, que corresponderam aos capítulos da obra em análise.
Capítulo 1: “Introdução”
Desta forma, o autor refere a bandeira como uma metáfora visual da nação, uma vez
que esta representa a história e cultura do seu povo, como acima foi referido.
Desde a bandeira monárquica (criada no século XIX) que passou a existir entre os
portugueses um sentimento muito nacionalista para com esta. Ao referir isto, o autor deixa em
suspense os motivos para este sentimento nacionalista, mas mais tarde, no capítulo seis, o
mesmo refere os motivos políticos e ideológicos que evidenciam este sentimento nacionalista.
O título do referente capítulo sugere que os símbolos régios (que surgem no reinado de
D. Afonso Henriques) estão relacionados com o rei e com os seus símbolos próprios.
Deste modo, como toda a heráldica estava relacionada com a vida bélica, as
características terminológicas da heráldica derivam de termos relacionados com os campos de
2
batalha. Assim, os emblemas heráldicos passam a ser nomeados por “armas” ou “escudo de
armas”, quando aplicados à representação heráldica figurada no escudo.
Assim sendo, estes emblemas passam a ser caracterizados por um carácter fixo: estes
eram associados a um indivíduo durante o seu período de vida e passíveis de ser transmitidos
(na sua forma íntegra ou com algumas modificações) aos seus descendentes, parentes ou
companheiros de armas.
E, apesar de, como referido anteriormente, a heráldica ter surgido ligada aos campos de
batalha, rapidamente, durante o século XII ao inicio do século XIII, a heráldica alastra-se a uma
grande velocidade a todas as outras classes sociais. Uma das questões que fica depois de
referido este rápido alastramento é: Como acontece esta passagem? O autor explica-a através
do alastramento de contactos entre as comunidades, que pressupunha uma necessidade de
identificação e de que os indivíduos fossem reconhecidos fora das suas comunidades. Esta
necessidade de identificação foi então compensada graças a dois meios: a onomástica
(designação por um nome ou conjunto de nomes) e pela heráldica, que era de extrema
importância, uma vez que nesta época, a maioria da sociedade era analfabeta.
Ainda em relação a este emblema régio criado por D. Afonso Henriques existe um
grande simbolismo, que na minha opinião, se encontra relacionado com a criação desta
heráldica no campo de batalha, após a Batalha de Ourique. Assim, segundo o Mito de Ourique,
D. Afonso Henriques após a Batalha de Ourique (ocorrida a 25 julho 1139), este por memória à
batalha e ao aparecimento de Cristo, coloca no seu escudo, os cinco escudetes
correspondentes aos reis mouros derrotados e colocou-os em cruz, de forma a lembrar, a Cruz
3
de Cristo (ou seja, a luta pela fé cristã) e pôs em cada escudete bezantes que representavam os
trinta dinheiros por que Judas vendeu Cristo. Assim, estas novas armas reais marcam a
constituição de um novo reino (que estava enquadrado na missão da reconquista cristã), bem
como estava ligado à religião – ao Cristianismo – pelo movimento de Cruzadas. Mas,
principalmente, este símbolo surge associado e relacionado com o Mito Fundador de Ourique,
providenciando a este objeto uma conceção mística.Por conseguinte, devido a esta conceção
mística, a passagem deste emblema régio de filho para filho representava a misticidade e
imortalidade do monarca. Assim, as armas reais (emblemas reais) passaram a estar associados
a definições ideológicas e míticas da monarquia.
Assim, estes três objetos (moeda, selo e bandeira) são considerados pelo autor
importantes elementos da implantação da autoridade. Contudo, levanta-se uma nova dúvida:
Porque é que estes instrumentos desempenham um papel tão fundamental na implantação da
autoridade do rei? O autor explica esta dúvida, posteriormente, explicando que estes símbolos
eram tão importantes porque não eram apenas representação do soberano, do rei; mas eram
também uma representação do “exercício efetivo do seu poder” (METELO DE SEIXAS, 2019,
p.21). Assim, como estas desempenhavam o papel de enraização da autoridade do rei, de
forma bastante acelerada, passaram não só a representar o monarco, como também as
instituições e indivíduos que exerciam autoridade em nome do monarca. Desta forma, a
dissiminação das armas régias deu-se de forma muito rápida.
Durante a I Dinastia existiu um momento de rutura heráldica (ou seja, os símbolos régios
foram alterados) durante a guerra civil (1245 a 1248) que opôs D. Sancho II e o irmão D.
Afonso. Deste modo, D. Afonso juntou às quinas que formavam o núcleo principal das armas
reais portuguesas uma bordadura de castelos. Quando D. Sancho II morre e D. Afonso sobre ao
trono, as armas plenas do reino passam a introduzir o semeado de castelos, ficando aqui
registado o primeiro momento de diferenciação da heráldica portuguesa desde o momento da
sua criação. Este acrescento da bordadura de castelos possibilitou a divisão da nação em duas
épocas: Portugal Antigo (em que o escudo era representado sem a bordadura dos castelos) e
Portugal Moderno (em que o escudo era representado com a bordadura de castelos).
4
reis mouros, provoca um aumento da associação da heráldica com acontecimentos bélicos e
religiosos.
Os sucessivos reis mantiveram o escudo do Mestre de Avis, até ao reinado de D. João II.
Neste reinado, foram inseridas novas moedas e para isso era necessário ajustar a composição
das armas régias: foi excluída das armas reais a cruz da Ordem de Avis e os escudetes laterais
passaram a ser figurados em posição direita, figurando assim cinco escudetes na mesma
posição.
O título deste capítulo sugere os acréscimos, que a partir do século XIV foram
adicionados ao escudo com as armas reais, denominados de elementos exteriores. Estes
elementos permitiam assim expressar outras realidades que não pertenciam aos elementos
centrais e que possibilita exprimir a mensagem politica total do monarca.
Um dos elementos exteriores adicionados ainda antes do século XIV é a coroa, que
aparece no morabitino de D. Sancho I, mas, realmente, a coroa só é incorporada de forma
definitiva na heráldica régia no reinado de D. Fernando I e aí suscita logo uma questão: Se a
coroa já é usada por D. Sancho I, porque é que não perpetua?
5
Posterior ao binómio escudo-coroa são adicionados diferentes elementos exteriores. O
primeiro elemento a ser colocado são os anjos tenentes (anjos colocados ao lado do escudo),
que se destinava a relembrar que o reino tinha sido doado a D. Afonso Henriques por Cristo
(enaltecendo assim, nova referênia do Mito Fundador de Ourique, o que reforça a ligação
religiosa da heráldica régia).
No século XIII torna-se comum adicionar o timbre que permitia exprimir uma mensagem
mais pessoal do que o conteúdo do escudo e que habitualmente estava associada à
identificação de um cavaleiro. O primeiro a surgir é o dragão a encimar o elmo régio, no
reinado de D. João I, que poderia ter diversas explicações: a ligação com a casa de Lancastre
(família da sua esposa), o culto de São Jorge, a aliança com o reino de Aragão, a uma origem
biblica (conotando-o com o pacto de Moisés e Deus para proteger o seu povo), e ainda, com
um dos romances mais célebres da cavalaria (o conto do Rei Artur). Não existe uma única
explicação ou uma explicação mais válida, e é considerada que a conjugação de todas estas
hipóteses aumenta o valor simbólico do elemento, reforçando o seu sentido religioso, mítico e
messiánico.
Assim, nas armas régias passam a conjugar-se três níveis semióticos: o escudo (elemento
identificativo e simbólico da nação), os elementos exteriores (como representação da
dignidade política e social), e por fim, a empresa (como personalização do monarca e da
dinastia em si).
A empresa mais marcada e importante (e que até aos dias de hoje permanece na nossa
heráldica) é a esfera armilar, introduzida por D. Manuel I. Esta poderia ter várias leituras
dependendo da conotação dada à mesma: foi associada à submissão incondicional de D.
Manuel I ao reino, ao conhecimento do universo, à ideia de universalidade do poder régio e a
sua relação com a religião cristã, a um sinal de esperança de D. Manuel I vir a reinar e ainda
um carácter messiánico associado à expansão marítima e a D. Manuel I como o Messias.
6
Ainda no seu reinado, D. Manuel I acaba por introduzir um outro elemento importante
na emblemática régia: a cruz da Ordem de Cristo, que representava o monarca como
governador desta ordem militar.
Desta forma, a nomeada trilogia de sinais manuelinos (armas reais, a empresa e cruz de
Cristo) foi um sucesso inexplicável, ainda para mais, quando estabeleceu uma profunda ligação
e projeção emblemática do Rei de Portugal nos dominíos do ultramar (o que estabelece uma
ponte para o próximo capítulo: “Sinais da expansão ultramarina”).
O título do referente capítulo introduz-nos logo a ideia de que alguma da heráldica que
representou o nosso país esteve relacionada com a expansão ultramarina. E, como já foi visto
no capítulo anterior, a esfera armilar (que ainda hoje se mantém na nossa heráldica) tinha uma
associação aos territórios ultramarinos e à expansão marítima iniciada no reinado de D.
Manuel I.
Ao contrário do que vinha a acontecer em Portugal, D. João III adota a empresa de seu
pai: a esfera armilar (assim pela primeira vez no reino, uma empresa é passada de geração em
geração). Mais tarde, no reinado de D. Sebastião, o monarca mantém como sua empresa
pessoal, novamente, a esfera armilar, o que contribiu para aumentar a ligação da
representação do poder régio nos territórios do ultramar. Contudo, D. Sebastião, para além de
adotar a empresa que o seu avô tinha adotado do pai (a esfera armilar), cria ainda uma
empresa pessoal (feixe de setas a ladear o escudo das armas reais), sendo que estas
identificavam pessoalmente o monarca enquanto a esfera armilar permitia representar o
poder do monarca português nos territórios conquistados na Ásia. Assim, a esfera armilar
passa a ser uma empresa que não representa a individualidade do monarca, mas que
representa a presença e a autoridade portuguesa nos domínios ultramarinos.
7
Os monarcas que regeram o país entre os séculos XV e XVI assumiram cada vez um
papel mais principal na expansão e conquista de territórios ultramarinos, até que esta era um
empreendimento exclusivo da Coroa, e por conseguinte, criaram uma heráldica e emblemática
única.
Desta forma, é possível observar que existe uma escassa heráldica própria dos
territórios ultramarinos portugueses, o que enaltecia a centralização do poder régio. É preciso
aguardar até ao século XVII para começar a aparecer a primeira heráldica ultramarina, que
mesmo assim, era muito escassa. Assim, à exceção destas escassas armas municipais (heráldica
ultramarina) não existia nenhum outro emblema heráldico que representasse o poder político,
judiciário ou militar nos territórios ultramarinos portugueses: todos os territórios usavam a
tríade Manuelina – armas reais, esfera armilar e Cruz da Ordem de Cristo. A conservação e
generalização destes emblemas heráldicos representavam o poder régio concentrado numa
única pessoa e nação, evidenciando que os territórios ultramarinos eram parte integrante do
território português e ainda simboliza o monarca como o eleito para governar o império de
Cristo (ligação religiosa).
Assim, a ubiquidade dos sinais régios portugueses, bem como o seu carácter quase
exclusivo enquanto símbolo de poder nos territórios ultramarinos, conseguiu criaar uma
imagem visual forte, estável e intensa, que por conseguinte contribui para a construção da
sociedade colonial enquanto sinal de concordância com o poder régio.
Em suma, é possível observar que existe uma constante relativamente à heráldica e aos
sinais da expansão ultramarina. Estes sinais providenciam uma exaltação maior da
concentração do poder régio, a submissão destes territórios aos poderes régios, militares e
políticos da nação portuguesa e a ligação do poder do rei ao messianismo e religiosidade.
O título desde capítulo sugere-nos alguma ligação com o primeiro capítulo “Sinais do rei,
sinais do reino”, contudo, este sugere uma ordem inversa, já que vão ser as diferenças e as
marcas históricas da monarquia deste tempo, que vão influenciar os sinais do rei e
consequentemente, os sinais das armas régias.
8
As armas reais mantiveram-se essencialmente incólumes, mas os elementos externos
sofreram algumas alterações. A primeira, reportou-se à coroa que encimava o escudo. Nos
primórdios era usada uma coroa de modelo dos reis ocideitais: a coroa aberta; mas a partir do
século XVI começaram a usar a coroa real fechada. Esta coroa representava a totalidade do
poder régio, proclamando o rei como imperador do seu reino. A coroa fechada evidenciava,
ainda, a dignidade imperial (em que ninguém sobrepunha o poder do rei, exceto Deus) e,
também, a alusão à realeza mística de Cristo e a origem divina do poder do rei. D. Sebastião é
o rei que coloca sobre o escudo uma coroa fechada, o que evidenciou a expressão imperial
inequívoca deste monarca.
Um desses emblemas próprios, foi o uso da empresa própria, criada no século XVI: o nó.
Este nó e o lema: “Depois de Vós, Nós” pretende evidenciar D. João IV como o legítimo
herdeiro do trono. Contudo, com a aclamação nas cortes de D. João IV como rei de Portugal,
esta empresa parece não fazer sentido; contudo, esta mensagem perpetua na porta dos nós
9
(mandada erguer por D. João IV). Esta é associada às trovas de Bandarra, que anunciavam a
vinda de um messias (um rei perfeito) que ressuscitaria Portugal e, que segundo o Padre
António Vieira, era D. João IV. Assim, volta-se a traçar uma representação messiánica ligada à
heráldica régia.
É cada vez mais evidente, a conotação da heráldica régia a um fio condutor da história
nacional; já que esta se relacionava com os ideais proféticos e messiánicos que circulavam pela
população.
É por esta mesma razão que na época da restauração surgem os primeiros armoriais
(compilações, geralmente sobre o formato de livro, em que se reunia o conjunto de armas
régias), que não eram exclusivos das armas da Casa Real, mas também das famílias de nobres e
das casas titulares, ordens militares e ordens religiosas.
Com os armoriais surge a projeção das armas reais, não só para o passado, mas também
para o futuro o que resultou em duas consequências fundamentais: o reforço da estabilidade
(que exprimia o carácter consagrado da dinastia e que permitia um ligação entre os diversos
territórios alastrados por cinco continentes, mantendo-se incólumes até ao século XIX,
praticamente) e o declínio inexorável da dimensão dinástica das armas reais (ou seja, a
simplificação do sistema de diferenciação heráldica da Casa Real). No fundo, todo o processo
de simplificação demonstrava que as armas reais se encontravam unidas a um entendimento
do poder régio, que se sobrepunha à perceção dinástica da heráldica.
Em suma, graças a estas alterações nas normas da heráldica régia, esta mantém-se
inalterável desde meados do século XVII até ao século XIX, quando existe uma crise política: o
fim do Antigo Regime.
A 16 de dezmebro de 1815, D. João elevava o Brasil a reino; sendo, que passa a ser
formado o conjunto uma tríplice monarquia, que ficou denominada Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves. E, posteriormente, no dia 13 de maio de 1816, que vinha criar e
regulamentar a heráldica do Brasil e do Reino Unido.
10
Ao criar-se a heráldica do Reino Unido, procurou-se antecendentes históricos
relacionados com a heráldica do Algarve, no reinado de D. Afonso III. Assim, o emblema
atribuído ao Brasil tinha uma sequência histórica relacionada com esta heráldica.
Assim, a ideia da criação das armas do Reino Unido era a adição/somatório dos ideais da
heráldica dos três reinos. Desta forma, a solução mais básica seria a partição do escudo,
articulando campos e elementos identificativos de cada um dos territórios deste Reino. Mas
escudo deste Reino foi em tudo diferente do que se conhecia: as armas do Brasil foram retidas
num escudo de formato redondo preenchido pela esfera e sobre este escudo, um outro
representativo do Reino de Portugal e dos Algarves, e sobre tudo isto impôs-se uma coroa real
fechada. Note-se que o escudo de Portugal se encontra no centro desta emblemática,
representando assim a centralização do poder régio português e a sua pretensão imperial.
Contudo, a aplicação das novas armas não veio substituir as antigas, sendo que estas
novas armas apenas eram usadas nas manifestações do poder. Esta novas armas do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves tiveram, ainda, uma existência condicionada. O primeiro
golpe para a perpetuação da heráldica proveio do Brasil, já que para este ser reconhecido
como Estado independente, este precisava de criar uma série de sinais visuais que divulgassem
a sua nova condição (pedido de independência). Com a independência do Brasil, o rei D. João
VI (ou qualquer membro da Casa Real) sentiu necessidade de alterar a heráldica – como se
nada tivesse mudado e a tríplice união continuasse -, que se manteve a mesma (a que
representava o Reino de Portugal, do Brasil e dos Algarves). D. Maria II e D. Pedro I
mantiveram as armas imperiais brasileiras.
11
Assim sendo, a bandeira passou a ser uma manifestação simbólica da nação e representação
concreta da nação e dos ideais que figuravam nesta nação.
Desta forma, cria-se uma forte conotação nacionalista da bandeira (e das já nomeadas)
armas nacionais, contudo, existe uma fraca expressão ou aplicação dinástica. Isto, leva então, a
uma separação entre a heráldica institucional (armas nacionais) e uma heráldica dinástica
(armas ducais). Assim, a heráldica ducal bragantina desempenhou, no século XIX, um papel
semelhante às empresas na dinastia de Avis. Por conseguinte, as armas reais realçam uma
figuração exclusiva como armas do reino, conotando uma representação politíco-institucional,
territorial e nacional.
O parágrafo final deste capítulo traduz uma síntese dos últimos aspetos do mesmo. E a
principal ideia que é possível retirar deste capítulo é que a heráldica deixa de ser um símbolo
representativo do monarca ou de uma dinastia e passa a ser figurativo de um entendimento
nacionalista.
Desta forma, tiveram de ser realizadas diferentes alterações na bandeira que existia,
sendo que para esse mesmo objetivo, foi construída uma comissão. Esta comissão definiu que
as diacromia de cores anteriores não correspondia aos ideais republicanos (uma vez que,
branco era a cor por excelência das bandeiras e, que por isso, representava a nacionalidade; e
o azul representava o culto mariano) propondo as cores vermelho, que representava a epopeia
gloriosa dos Descobrimentos, sendo uma cor quente e combativa e também, por representar a
bandeira revolucionária; e o verde que figurava uma cor positivista e a cor do futuro (contudo,
a mesma não tinha tradição na heráldica portuguesa. Esta comissão considerou, ainda, que era
12
necessário conservar o escudo de armas nacionais, retirando apenas a coroa real e colocá-lo
sobre a esfera armilar, que representava a epopeia ultramarina e do império. Deste modo, a
adoção da bandeira verde e vermelha figurou o resumo das tradições portuguesas. E, por
conseguinte, a adoção destas cores era a figuação dos ideais, dos partidos e das instituições
que tinham preparado a revolução.
Contudo, a adoção desta nova bandeira não foi fácil ou pacífica. Houve uma divisão de
opiniões, principalmente, em dois grupos: porum lado, os que denfendiam a manutenção da
diacromia branco/azul e outros que defendiam a diacromia verde/vermelho. Contudo, as
diferenças de opinião relativamente às cores eram três: biacromia branco/azul (retirando
apenas os elementos referentes à monarquia), a fusão das duas biacromias (juntando as cores
nacionais – branco/azul – com as cores republicanas – verde/vermelho) e os que defendiam
apenas a biacromia verde/vermelho. Quanto às disposições das cores, a maioria defendia uma
bandeira partida, embora tenham sido propostas diferentes opções: rombóides inspirados na
bandeira brasileira, tricolores segundo a França e até modelos mais complexos como o Reino
Unido e os Estados Unidos da América.
Apesar de existir uma união relativamente às armas nacionais, que eram insubstituíveis;
quando aos elementos externos não havia consenso, existindo diversas opções: a esfera
armilar (como figuração do ultramar), as estrelas (representação da revolução), ramos de louro
e carvalho (indicativas do sentimento cívico) ou a cruz de Cristo (ligada ao simbolismo do
império ultramarino).
Desde o início deste novo regime, que são lançados uma série de obras sobre a bandeira
nacional, que permitiam saliantar a perpetuação da heráldica régia e estatal como sinal de
continuidade. Com esta exaltação de obras, surge Fernando Pessoa com algo inédito: a fusão
da emblemática com a mitografia nacional.
13
Foi, ainda, criada uma norma para a heráldica das províncias ultramarinas, que
conjugava a existência de dois elementos fixos: as quinas e um ondado (conceito de nação
portuguesa cujos territórios eram unidos pelo mar) e um elemento representativo de cada
província. Assim, visava exprimir a ideia de universalidade, exprimindo uma nação multirracial
e pluricontinental.
Ao longo da época republicana, a principal legislação que surge inside sobre a extensão
do poder do Estado na regulamentação do uso dos símbolos, quer na definição de quem os
podia ou não usar, e nos modos corretos para o uso dos mesmos.
Deste modo, a emblemática associativa permitiu um meio para exprimir a sua condição
de nação portuguesa, como é exemplo a emblemática usada pela Federação Portuguesa de
Futebol e também por outros desportos, mas também a heráldica comercial. Estes símbolos
traduziam assim a vitalidade e a universalidade compreendida e aceite pelos portugueses.
Capítulo 8: “Conclusão”
Conclusão
O presente trabalho tinha por objetivo uma leitura refletida e opinativa sobre a obra
“Quinas e Castelos” de Miguel Metelo Seixas. Esta obra, como já foi referido na introdução, faz
uma revisão da heráldica portuguesa e da sua representação, progressão e impacto na
sociedade.
Na minha opinião, e refletindo sobre a composição da obra e a sua divisão, acredito que
uma divisão cronológia, em vez de temática facilitaria a aprendizagem, contudo, o livro
apresentado parece transmitir o ideal de romance e por isso, a divisão temática faz mais
sentido.
Para mim, a obra representou um momento de profunda aprendizagem, não só, sobre a
historicidade presente na heráldica e nos emblemas representativos da nação portuguesa,
como também na fusão destes conhecimentos com os momentos de aprendizagem das aulas.
14
Assim, um dos aspetos fundamentais desta obra, encontra-se na ligação das explicações
dos simbolismos dos emblemas visuais representativos da nação portuguesa; mostrando,
assim, que muitas das explicações se mantêm intemporais e são usadas para guerras civis e
propagação de ideologias politicas e autárquicas.
A principal aprendizagem que podemos retirar desta obra é que desde os primeiros
símbolos originários do reinado de D. Afonso Henriques existe um sentimento, por parte da
sociedade, de grande estima, prezo e zelo por esta emblemática como representação do povo
e nação.
Em suma, a obra “Quinas e Castelos” é uma obra que tem por objetivo incutir nos
portugueses um sentimento nacionalista e patriarca da nossa heráldica, contudo, pretende
fundir este sentimento com o conhecimento da representação dos mesmos.
15