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(METAMORFOSE)

Poemas

C. J. Jacinto

1
Transcendência

Bendita seja a alma que

Em Deus encontra a paz

Na solitude tem comunhão

No silencio encontra intimidade

Consolo que se faz fortaleza

Pois da vida e seus atritos

Desgasta a psique nos conflitos

Mas da rosa outonal alento

Além das tristezas e sofrimentos

Da expectativa mais ardente

A Jerusalém de cima transcendente

Em Deus encontra abrigo

Em Cristo o melhor amigo

No Espírito a mais doce confiança

E por fim no anelo de suma eternidade

Busca no Senhor a perene felicidade

E quando do mundo vai embora

Permanece a alma em pé

Levando cheias as mãos da piedade cristã

Ainda no coração, a luminescente fé.

2
Alma e Alento

Meu Senhor; aprendi no meu silencio

Cultivar no coração o celestial amor

Embora infértil seja meu próprio chão

Das carpidas fracas; a procrastinação

A minha alma erma e sedenta

Praia de areias e sussurros vendavais

Pedras calcinadas de choros empobrecidos

Eu rogo em Ti a alva manhã doce abrigo

A mente cheia de quimeras e parcas ilusões

Deseja abandonar as abstratas enganações

Na senda percorrer a firmeza da fidelidade

Pois se nos temporais ela roga induzida

Um fanal celeste a consagração da vida

Em ti Cristo, encontrar a real e eterna verdade.

3
Secreto

No intimo lugar solitário

Onde desabrocha o amor

Fonte preciosa da afeição

Com Cristo no secreto

Doce e suave comunhão

Na luz gloriosa do Testamento

Que por Cristo na cruz selado

Com sangue vivo e imaculado

Véu do celestial recinto descoberto

Pela carne do Verbo o véu aberto

Santo caminho rasgado

E na profundidade desse tesouro

Sapiência mais rica que o ouro

Em Cristo nosso Grande Salvador

Temos paz com Deus

Na sombra da divina onipotência

Descanso sempiterno

Em afável e sublime Presença

4
Pão do Céu

Teve fome
Mas é o pão da vida
Teve sede
Mas é água viva
Odiado por muitos
Porém morreu amando
Pobres pecadores como eu

Solitário orava
Pelas multidões
Não tinha um lugar
Para a cabeça reclinar
Mas é abrigo eterno
De todos os redimidos
Ainda muito mais por mim
Mais pobre entre pecadores

Na noite mais escura


Estrela da manhã
Das trevas do horror imundo
Brilhante luz do.mundo
Nas Chagas mortais da dor
A cura para a segunda morte
Pois Seu sangue limpa a lepra
De mim tão pobre pecador

Se jaz a porta da vida o medo


És tu o bom pastor
Socorro presente a cada instante
Nos conduz a pastos verdejantes
Oh Senhor meu e Deus meu
Vem a mim e retira da alma, as dores
Pois sou eu o pior dos pecadores

5
Contemplação

Contemplo: Infinito de dourada esperança

Ente o agora e a eternidade

És o supremo pontífice

Verbo da Vida

Tu és a porta para as montanhas eternas

O caminho para o século dos séculos

Em Ti e por Ti

Vivo e proclamo a fé: Insisto

Diamantes e rubis da aurora

O bom perfume de Cristo

6
Montanhas

Dos montes sagrados

Sinai Hermon e Carmelo

Contemplo em silencio

O mais belo

As flores os lírios do campo

Mas é eterna a montanha

Do aroma de sacrifício cruento

Do sangue do pacto vicário

Transcende a fé a viva esperança

Ressurreição de Cristo

Depois da ânsia da morte – O Calvário

7
Fonte

Uma fonte abaixo do chão

Dentro do meu coração

Cavada com oração

Cheia de graça, de vida e amor

Uma fonte interior

Disse Cristo e afirmou

Quem crer em mim

Como diz as Escrituras

Jorrará do coração

Uma fonte perene e pura

Do ímpeto da vida presente

De fé em fé, graça após graça

Do agora e eternamente.

8
Alva

O justo prossegue. Luta diária

Cruz de cada dia. De fé em fé

Momento após momento

O remido segue. Seu Cordeiro

Onde quer que Ele vá

O cristão redimido estará lá

De alva ao dia. Da vida presente

Do porvir e do agora

O regenerado persiste

Brilhando mais e mais

Como a luz da aurora

Grandeza de salvação

Preciosa benção. O cristão insiste e luta

Resignação e resiliencia

Caminha e cultiva

A doce presença

Com Cristo na paz e na guerra

Até a consumação final

Novos Céus e nova terra

9
Contra o Curso das Águas.

Apenas sonho e vivo

Correndo a carreira

A vocação celestial do chamado

Em tristes açoites percorrendo

A espinha dorsal da esperança

Íntimos oceanos e vendavais

Caminhando a fé em passos firmes

Ante as aflições do tempo presente

Solitário em profundas idéias

Nas janelas interiores da contemplação

Onde o gozo do mundo futuro

Perpassa o axioma de minhas convicções

A alma clama nessa centelha de solidão

Onde preguei ao século tão frio

Das parábolas dos bancos vazios

Tão sem ninguém

Foragido das turbulências

Encontrando nesse amplo trecho sofredor

Descanso á Sombra do Senhor.

10
Samaritano

Carrega dentro de ti amor cristão


Complacência da aurora equidade
Como quem cura a dor da alma afligida
Que de Cristo a Seiva Extrai mais vida

Óleo perfumado de afeição ardente


Vinho aromático de graça abundante
Pois que na Videira celeste tu estando
Vai o coração mais amor transbordando

Põe diligencia nessa santa plenitude


Para curar a dor das chagas dos feridos
Com amor tão leve que enche as mãos
É, pois, essa a tua piedosa missão

Quando fraco de dispuser nesse caminho


Mas sendo insistente ser um bom cristão
Atado a vida não puderes ir sozinho
Põe cuidado na alma e trabalhe intercessão.

11
(Trono)

Refulge o trono da majestade

Onipotente e santíssimo Deus Pai

Que o filho Seu nos deu

Tão amado e sacro ato

Bendize ó minha alma a Vós

Verbo imaculado que morreu por nós

Refulge o trono da graça infinita

Deus bondoso e tão bendito

Que enviou Seu unigênito Filho

Com amor verdadeiro e piedoso

Que no Calvário tão terrível

Sofreu o Horror mais pavoroso

Refulge o Eterno e Majestoso

Deus Excelso em Soberano Esplendor

Que enviou o Verbo amado

Puro e Santo e Imaculado

Por mim tão misero pecador

12
Cidade Santa

Longe é um caminho

Destino da minha alma

Nas asas da esperança

Prossigo

Caminhando entre escarpas

Os espinhos da vida

Perfume das rosas de verão

Prossigo

Pois das colinas verdejantes

Vejo a plenitude, distante

A glória vindoura (além)

A Nova Jerusalém

13
(Proteção)

Entre canções o pecado jaz

A porta do prazer que tudo incinera

Jogo de ouropéis falsos

Miragens de um deserto sórdido

Que o mundo jaz ímpio

Nas turbulências de um eco medonho

Nas noites encharcadas de lágrimas medonhas

Ali os malignos arautos da falsidade

Na ordem da tirania ferida

O pai da mentira engana os homens

p'ra fazer iludir incautos

Transfigura-se em angelical luzeiro

Pois ao enganar o mundo inteiro

Como disse Milton em épica poesia

(Brotar venenos que fingissem néctar!)

Dá-nos SENHOR discernimento

Visão profunda de Adão sem Lapso

Pois onde a tua glória brilhar

Ali deve repousar o nosso coração

Na proteção da sã doutrina

14
Na força de Tuas mãos

No penhor de Teu Espírito

Onde sela nossa alma redimida

Protege-nos meu Deus dos enganos

Da vida...

15
Terra da Cruz

A terra ao pé da cruz

Segue agonias de dores profundas

Sangue das feridas da expiação

A terra ao pé da cruz

Recebe a vida derramada

Imaculada semente de redenção

A terra ao pé da cruz

Apóia as ânsias de um condenado justo

A morte possante do fôlego puro

A terra da cruz

Sustenta a cruz, testemunha a ressurreição

A obra de consumada (ressurreição)

16
(Semeadura)

Cai o grão de trigo

Nas manhãs luminosas da esperança

Cai a Tua Palavra

Maná doce e suave

No solo do meu coração

Cai o orvalho do Teu amor

Sob a minha alma

Manhãs de refrigério

Fogo da minha esperança

E por isso

Das noites de meus silenciosos frios

Aqueço-me em perene fé

Nos palácios de

Te Tuas santas promessas

17
Sonhos de Areia

Que sublime praia e mar que de azul celeste, ondas e ilhas, como meu
coração que ancorada na alma é porto e farol de luz paciente
Fonte de todas as bênçãos lacrimais, do mar que é berço de todas as
faces e faróis que acendem a esperança no meu caminho
Diga-me vento noturno, se no cais e em todas as pedras, um porto do
amor, onde o sagrado viver é como pétalas e a cor do açafrão
Quando a dor e as feridas chegarem, o beijo do amor consola as aflições
e um abraço de um amigo, é como o puro vinho doce
Mais que a brisa do mar que leva as naus de meus espelhos, para refletir
no horizonte o despontar da estrela da manhã
Na areia da praia, conto as perolas da gratidão, são elas que adornam a
coroa da minha espiritualidade e o fogo da devoção.
Como pirilampo, sobrevôo a noite, em mar adentro, vou flutuando até o
porto seguro, pois que das águas sublimes, eu refaço meus sorrisos
Só então adormeço nos braços da fé, como um astro refulgente na
incandescência da perseverança
Vi tudo a minha volta querer desabar, mas minhas mãos repousam sobre
a rocha eterna, porque nenhuma tempestade pode abalar o que é
infinito.

18
Bendita Aurora

Posso ver celeste vindouro brado

Pensamentos elevados e acústicos

Deste peregrino tão rústico

Que chora as centelhas lacrimais

Forjados nas dores da alma aurora

Que breve é certo vai embora

Por entre perfumados jardins agrestes

Oh! Bendito lar campestre

Das flores em rubis brilhantes

Carmelo e Calvário de meus instantes

Lâmpadas que alumiam a mente

Fogo que aquece o coração

Das noites tão frias á redenção

Pois o Mestre do Trono está em pé

O Rei eterno na marcha de Nazaré

Vem pois buscar a Tua noiva alva

Tu que a minha alma salva

Estou pois te esperando agora

Quando vires meu Deus ao mundo

Irei contigo embora.

19
Eternal Tesouro

Caminho por senda de luz

Até ser dia perfeito, como alva cristalina

Manhã imaculada e sóbria

Aberta como um coração de conchas

Carregando no interior

A perola de grande valor

Aos sons de borboletas e flores

Nuvens sonoras e brisas anjelicais

Porto do Cordeiro e eterno cais

Quando por fim não mais temporais

As lâmpadas de um tabernáculo intimo

Alvura e a cândida alma a pensar

Que o corpo ressurreto estará lá

Em brio cósmico dos novos céus

Num lampejar clarão da nova terra

Sem conflitos horrores nem guerras

Mas tão somente a praia de estrelas puras

Na senda plácida e mais segura

Nas eternas ruas da cidade de ouro

De todas as riquezas porém

Deus em Cristo será meu tesouro.

20
CAMINHOS E ESTRELAS

Há no céu muitas estrelas


Mas só a luz do sol ilumina o meu caminho
Há muitos caminhos no mundo
Mas só um que conduz ao meu lar
Há muitas flores nas montanhas
Mas o perfume, sinto a que desabrocha no meu jardim
Os mapas apontam para todos os lugares
Mas o caminho seguro é o bom conselho
A vida é feita de muitas escolhas
Mas a mais importante escolha é ter fé em Deus.

21
Amor Eterno

Que bendita a alma que aspira ouvir a voz do Bom Pastor, que dos
prados junto as mais lindas flores, brada em doce voz audível aos santos
que aguardam lampejos dos lábios mais santos, a ordem impoluta e
sacra: " tu me amarás acima de ti mesmo e além do teu próprio ser*
II

Amar de toda a nossa forma de ser, de todo o modo de existir, por um


meio de concentrar todo o nosso intelecto nEle, de outra forma como o
ser que somos tenhamos nas coisas temporais da vida presente um bem
tão infinito que seja necessário uma afeição proporcional a tudo o que
podemos entender como o tesouro mais incalculável que possamos
possuir por esperança de eternidade. Assim é que devemos amar a Deus
de todo o nosso coração alma e pensamento.

22
As Flores que Nasceram Fora do Jardim

Se vosso coração está tão triste


cansado e ferido pois caiu no chão
entre os escombros dessas teias de existência
busca os sentimentos todos fragmentados
e não acha...

Saiba que do monturo de um terreno abandonado


onde os restos de vossa esperança estão caídos
nascem mil flores que se erguem para cima
apontam para as estrelas que brilham
você sabe...

Vos sóis lírios perfumados da vida


taças cheias de sorrisos, que precisam ser derramados
vós sois mantos que cobrem a dor alheia
quando pois descobrires que sois humanos que sofrem
acharás tu mesmo a alegria de viver
pois das vossas lagrimas nascem vultuosos jardins

23
(Questões)

Em silencio erguem-se as perguntas

Como as flores no campo recebem orvalho

Num piscar de olhos de estrelas

A mais distante, a Polar

Os cantos da noite escrevem mistérios

Pois a sinfonia se esconde nas sombras

Mas alguém toca a vida no sono

Como a orquestra dos rios em abandono

Quando se unem as ondas do mar

Nas praias de estrelas e conchas eremitas

Como se o infinito fosse um castelo

Que se abre aos portais singelos

Nossos olhos penetram nessa dimensão

Nas curvas plácidas da criação

O livro das maravilhas e o primado da vida

O saber teológico e as Escrituras

No porto da cruz que responde anelos

Na carta divina que abranda anseios

As questões profundas da vida

Por Cristo, foram respondidas

24
(Carga)

Carrego na vida contas de lagrimas

O tempo que embruteceu as dores

Mães e filhos choram desalentos

Até a madrugada lacrimeja orvalho

Os céus choram as chuvas e os ventos

A viúva e o soldado morto na guerra

O véu rasgado e fios de navalhas

Moços com medo da espada das batalhas

Rios de lagrimas nas catacumbas

Choro de crianças sem úteros

Córregos de temores na calçada

Corsários em lágrimas salgadas

Os mares

Os poentes polares

O sofrimento move o moinho

Tritura o choro das uvas; o vinho

Sem máscaras véus enfeites

Descem calamidades de azeites

Quem, pois chora e implora

Rosto coberto em tremulas mãos

Tão vasta e hibrida desolação

Nesse doido vasto mundo raso

25
Só Deus em Cristo nos pode dar

Consolação

26
(Sensibilidade)

Oh grandeza intima e rara

Que tantos mistérios se hão descoberto

Mais do que o livro da vida

O da natureza totalmente aberto

As borboletas e tão suaves flores

Os pássaros e as nuvens em celestes navegações

Montanhas de flores azuladas e seus odores

Luzes a brilharem em primores constelações

Ah! Coração sensível...

Não podemos permitir que os olhos permaneçam cegos

É necessário abrir o coração

Para contemplar Deus infinitamente...

27
Aurora do Norte

Caem as pétalas de minha alma seca

Despedaçando minhas lembranças de saudades

Quando imaginava a primavera dos sonhos

A face da minha infância enrugada nos lábios

Entre as estrelas cativas aos olhos nus

Presa nas algemas de uma lágrima tristonha

Cintilando entre as chamas do universo paralelo

Nas cordas vocais da alvorada do norte

Os cereais escrevem no silêncio dos pães

Palácios de oliveiras do Getsêmani noturno

Ao som do sarcasmo de beijos atrevidos

Tristes planícies onde o colapso estremece

Quando desperto dessa aurora polar

Antro boreal de todos os meus medos plácidos

Vejo os grilhões despedaçados dentro de mim

E nas alturas da dor me encontro renascido

28
(Ressurreição)

Tu esperas a dignidade da vida, talvez como a noite fria, mas o balsamo


do orvalho, como uma lâmpada morta, jaz perene em madrugada
enlutada, nos porões da escuridão, o coração rasteja rente aos lampejos
dourados de uma esperança.

II

Olhas alem das coisas sem forma, intimas das ausências de prismas, breu
mártir, pesado como um chumbo que joga a alma para as ondas
naufragas de um oceano de angustias, lá onde o choro é expulso em
conta gotas.

III

No mistério das profundezas dessa tristeza, como um aço frio e cortante,


cada suspiro é uma espada aguda, que corta as palavras ao meio, e dos
pedaços de constelações de tão fragmentados clamores, chamas tal
anseio verbal de preces.

IV

Mas te ergues das ruínas da vida que perece, como a semente que é
enterrada na violência da terra suja, que mergulha na frieza de um chão
de floresta escura, germina pois e explode em vida, e na fúria do vento
das tempestades, como a mais fina e suave das flores, desabrocha...

29
(Peregrino)

Que minha alma seja cativa do Teu amor

Como as abelhas se prendem ao perfume das flores

Que sejam certas minhas procuras

E responsáveis as minhas atitudes

Que sejam meus olhos janelas da caridade

Meu coração um celeiro de virtudes

Que eu suporte o fraco e o ignorante

Paciente entre a multidão dos apressados

Mais piedoso entre os consagrados

Que seja simples a minha vida no mundo

Não sejam meus pensamentos como entulhos

Obstruindo o manancial da graça

Nem haja dentro de mim orgulho

Mas somente o alento que Te satisfaça

Que eu seja menos e Cristo multiplicado

Olhando com compaixão aos que perecem

Sejam meus instintos mortificados

Que eu não atente para a voz dos pecadores

Que na ímpia imposição de incredulidade

Neguem a verdade celeste revelada

Que Tu cresças em mim completamente Senhor

Até que meu ego se reduza a nada.

30
(Chuvas Tardias)

As chuvas tecem as névoas nas montanhas


Dia tão triste tarde fria
Vento que liberta meus sonhos
Lembro-me da infância de minhas saudades
Quando viajava para os campos da graça
Perto das folhas de um outono tardio
---
As águas encontram abrigo na terra
Escondem-se entre as folhas dos matagais
Adormecem nas profundezas dos mananciais
Lá onde minha fértil imaginação
Busca palavras inspiradas numa mineração
Cavando os poços índigos e silvestres
---
Tais tardes em campos de centeios
Nos carvalhos onde as sombras tremem nuas
No breu espartano que vivifica a noite
Minha alma se arrefece no silêncio da bondade
Como colunas que sustentam montanhas
Em promessas divinas a minha tranqüilidade
---

31
(Lacrimejante)

Quando semeares no caminho

Entre espinhos limpares a esperança

Que se quebra no desespero humano

Pois das dores vem às causas das angustias

Tristezas que lampejam na alma

Como as turbulências de um mar agitado

Em portos quebrados

Tais condições de tantas amarguras

Limpa a esperança com tuas lagrimas

Chora em preces com muito fervor

Lança fora o terrível torpor

Pois as sombras da noite exalam o frio

Como vales escuros anseiam uma luz

Na fé acesa suspende a mornidão

Com a alma em fogo em santa fervura

Qual sol brilhante e possante do dia

Mostra ao mundo de incessantes flagelos

Que nada na vida é mais belo

Que esperar um começo em DEUS

Quando tudo na vida terrena

Parece chegara ao fim

32
ECO GRITANTE

Sem eco sem grito de justiça

O mundo perece faminto de amor

Onde o ímpeto violento o furor

A virulência atroz da dor infante

O medo veloz e a náusea da hipocrisia

O sangue inocente na alma fria

Cada homem duro e encouraçado

Pela indiferença de uma sociedade enferma

Que dissemina holocaustos em estigmas

Salvai-vos dessa geração tão maligna

Grita contra, como arauto e profeta

Nas caladas de um idoso e um feto

Considerai vosso brado de protesto

Chorai gritai e na obscura calamidade

Seja contra os declínios da sociedade

Pois quando é a morte do inocente que se vê

Passivo os homens no silencio a mercê

Se cuida, pois o próximo inocente pode ser

Você...

33
Caminhada Sangrenta

Caminhei nos espinhos da vida

Sangrando irriguei a minha própria direção

Marcas distintas sobre mim mesmo

Como pinturas de batalhas, deixadas para trás

Porquanto percorrendo em gemidos

Nos fastios das minhas aflições prossegui

Com pés perfurados andei

Como feridas aberta, orvalhei o caminho

Deus me deu a graça necessária

No final do trajeto colhi primaveras.

34
(Estações)

Caindo as folhas de uma árvore

Há na perda

Uma renovação de si mesma

Assim, somos nós, pobres imortais

Quando entendemos todas perdas necessárias

Crescemos em sabedoria e renovamos nossa esperança

35
(Cárcere)

Entre os ferrolhos de uma prisão maldita

A escravidão do pecado prendia meu coração

Pobre alma tenaz em tristeza proscrita

No antro frio de tão pesada escuridão

Jazia em angustias ferinas tão crassas

Nas masmorras do pecado que me assediava

Clamava aos gritos em vozes esgarças

Pois perdão tanto mais almejava

Ai de mim! Em tão tensa ansiedade

Rastejando a vida nessa vil condição

Que farrapos de justiças arrastavam

Maltrapilho e cheio de chagas, meu coração

E do alto céu Alguém chamava

Voz que vinha em minha direção

Era Cristo que me convidava

Meia volta á conversão

36
Ouvindo então lhe respondia

Com maior satisfação

Pai perdoa os meus pecados

Dá-me agora a Redenção

Se Cristo me chama

Em vigor de amor eterno

Aceito o seu chamado

Caminhando em amor consagrado

Cristo que chama

Gloria que emana

De tão sublime e terno chamado

Caminhando em amor consagrado

Cristo que chama

E diz com voz suave

“Vinde a Mim”

Eu vou ao Seu encontro

E digo AMÉM.

37
(Perante o Obvio)

Calmo percorro as vias drenadas de meus sonhos. momentos que


escoam das montanhas da existência, um fluxo que percorre a face de
meus olhos, sensores de todas as luzes de pirilampos.

II

Mais uma vez chega o verão, cheio de luminescências sagradas, soltas


em noites pingadas e estrelas fragmentadas, meu jeito de ver o mundo,
todas as minhas respirações iluminadas.

III

O homem encontra na resiliência do silencio, na reflexão da vida, a


percepção necessária para ponderar o sacro e o profano, e no coração
sublime, a alma encontra o pão do amor.

38
(Prodigo)

Se distante meu coração

Se encontrar

Tão longe que ainda possa voltar

Retornarei chorando

Um coração ferido carregando

Até fugir da terra dos ausentes

Encontrar a sombra do Onipotente

Num lugar afável tranqüilo e manso

Pois só em Deus encontrarei

Verdadeiro descanso.

39
(Erro)

Se ao te despertares

Para algo que é falso

Rejeitares assim o que é verdadeiro

Cometerá á tua alma

O maior dos sacrilégios

Suicídio espiritual

II

Pois, decepcionando o coração

Choras, iludidos e percorres

Um mundo fadado ao fracasso

Por acreditar na mentira

Enganaste a ti mesmo, crendo

Que a verdade não existe

40
A Vocação do Amor

Que Cristo em devoção clama, por tão grande afeição dos homens, ainda
que ingratos, no cerne do coração, precisam de uma vocação: Amar

II

E que amando possam sentir o peso divino e a suavidade de uma vida


santa, que primeiro o amor conduz à obediência, pois quem ama torna-
se servo do seu amado.

III

Oh alma da simplicidade! O amor é o grande ideal da vida especial, não é


uma norma jogada ao esmo, é um fim justo, pois é amando a Deus e ao
próximo que após tal ação, amaremos por ultimo, a nós mesmos.

--

41
(Terra)

A terra é um leito de lagrimas

Onde navegam tantos homens

De corações secos

Quem, senão eu, olho distante

Para a minha face refletida

E me encontro trágico

Como arvores sem folhas; insensível

(mas)

Choraria mil lagrimas ainda hoje

Se soubesse que através delas

As rosas mais puras da felicidade

Desabrochariam eternamente

Dentro do vosso coração

42
Flores Celestiais

Entre as flores magmas eternas


Longe dos precipícios infinitos
Lá onde a árvore da vida permanece
Onde perfume algum evanesce
Está foragida a minha esperança

Oh! Beleza tão infinda e gloriosa


Que da aurora enfim resplandece
Onde meu coração fraco regozija
E ainda que minha alma se aflija
Esperançoso aguardo o vindouro

Cultivo ao interior a paciência


Nesse grande porvir que espero
Além do mundo e seu desespero
No ameno do amanhecer que virá
Em mim Estrela da alva resplandecerá

43
( Memória Partida)
I
Há pessoas que passam por nós
Brilham breve como relâmpago
Mas incendeiam nosso coração
Com uma grande amizade eterna
II
Há pessoas que passam por nós
Caminham ao nosso lado e fogem
Mas jamais podem desaparecer
Pois as marcas ficam vivas pra sempre
III
Há pessoas que continuam sendo
Não importa as circunstâncias
A memória faz transcender as dores
Elas estarão lá junto aos sorrisos
IV
E há uma estrela que sempre indica
A direção por onde elas partiram
Tão engraçada é a vida, que dá saudade
Loucura! Também estamos indo pra lá

44
(Convergência)
I

Era cedo aquele dia de chuva, ramos batiam na janela e o vento cantava
tantas tristezas, pingos corriam num caminho invisível entre os meus
olhos, lágrimas nos vitrais da janela
II

Percorriam meus pensamentos opacos, a massa cinzenta das nuvens,


sinapses de relâmpagos e o meteórico ribombar dos trovões libertos dos
calabouços de meu susto

III
Todos nós com rosto descoberto, sem um véu de coragem,
adormecemos no desânimo e na convergência da covardia, tememos
viver de verdade, amando...

45
(Libertação)
I
Quando ainda fluíam as nėvoas de uma antiga lembranca, presa entre as
ânsias de cordas vocais, chorei póstumas felicidades que o mundo não
deu.
II
Meus olhos contemplaram as entranhas da eternidade, pêsames na
alcova de grilhões doces, arrastando o aço duro de pêndulos do relógio
biológico
III
Todo o homem que se enxerga cativo das ilusões da presente era,
encontra libertação quando aceita a Verdade em Cristo Jesus

46
(Lapidário)

Lapidação de lágrimas, nesses sonâmbulos sonhos que peregrinam


dentro da minha alma. Inquietações de um coração trêmulo que pulsa
no universo da minha vida.
II
A coragem de ter saudades é um desafio, num mar calmo de ternuras
que perduram no museu interno de minhas memórias, âncoras de minha
existência
III
Que Deus acenda meus castiçais Espirituais, para que a noite de meus
medos se dissipe, e a estrela da manhã me espere até o raiar da
eternidade

47
Chuvas

Um dia de chuva
Meu coração mergulha
Num pingo d'água
Pequeno oceano de mistérios
A síntese do maravilhoso
E do sagrado
Os campos de ervas verdes
A terra molhada
O pó aromático
A suave névoa invernal
Do arco em flores
O espectro cromático

48
Jardins

Entardecer enfim!

Fio que tece a noite iluminada

Centelhas soltas da alvorada

Estrelas nos campos celestes

(espalhadas)

Pirilampos e a brisa perfumada

Frescor da penetrante madrugada

Orvalhos na terra fria e desbotada

Cintilantes boreais no meu jardim

Amanheceu dentro de mim

49
Pão do Céu

Teve fome
Mas é o pão da vida
Teve sede
Mas é água viva
Odiado por muitos
Porém morreu amando
Pobres pecadores como eu

Solitário orava
Pelas multidões
Não tinha um lugar
Para a cabeça reclinar
Mas é abrigo eterno
De todos os redimidos
Ainda muito mais por mim
Mais pobre entre pecadores

Na noite mais escura


Estrela da manhã
Das trevas do horror imundo
Brilhante luz do.mundo
Nas Chagas mortais da dor
A cura para a segunda morte
Pois Seu sangue limpa a lepra
De mim tão pobre pecador

Se jaz a porta da vida o medo


És tu o bom pastor
Socorro presente a cada instante
Nós conduz a pastos verdejantes
Oh Senhor meu e Deus meu
Vem a mim e retira da alma, as dores
Pois sou eu o pior dos pecadores

50
Bioluminescência

Ventos aromáticos sopram em dias peculiares, brisas conspícuas que


aderem ao movimento de pétalas em ternura ante a agressividade de
espinhos , oh retumbante dor interior, leva minha alma ao porto a
deriva.

O simulacro desse inverno enrijecido por vozes sólidas de desespero. Um


palco de luzes mortas, sepultadas em sombras abertas no chão
imaginário, eu grito a ressonância do absinto amargo.

Em vultos de terraços atônitos, eflúvios de meus hábitos invadem a


madrugada, como fósforos riscados no meu grito agonizante, eu
contemplo as brasas do coração na profunda noite, brilhando...

51
Jornada

Sou um corpo sedentário carregando o fardo de uma alma peregrina,


sou lâmpada procurando azeite, impelido pelo espetáculo de pirilampos.
Sou libélula sombra de nuvens flutuando pelos planalto das flores.

Navego no plural dos sonhos, caminho pelas moendas do néctar, rastejo


pelas planícies das relvas envelhecidas nos temporais ensolarados,
marchando vou pelos prados de violetas ancoradas na terra.

Pela senda dos solitários prossigo, a ordem da vida é : carrega dentro de


ti todas as sementes de esperança e dá a cada fracassado que
encontrares à beira do caminho.

52
(Oceano e Porto)

Corre e lamenta o opróbrio de tantas náuseas e impasses carcomidos de


invernos que nunca se findam, chagas aberta nos temporais entre
bramidos de mares, tudo foi vaticinado.
II
Ampolas de lágrimas cruas, irrigando as feridas da alma até o profundo
de todas as mágoas, e o coração luta pra sobreviver nestas tempestades
que tentam arrancar nossas esperanças
III
Bendita é a alma sedenta que em meio as ansiedades mais devastadoras
da vida consegue encontrar um porto seguro para lançar todas as
inquietações e medos, no porto seguro dos Braços de Deus.

53
(Redenção)
I
Percorrendo a senda da vida em que nefasta trevas e sombras repousam
sobre os vales e a noite fria arrasta a tempo adentro tantas almas aflitas
chorando agonizam
II
Entre os espinhos que infestam o chão sofrido de tais sombrias noites
que se multiplicam como uma estação morta envolta em farrapos de
temporais
III
Só a luz da lâmpada eterna da divina graça do Redentor é capaz de
dissolver a escuridão e na glória potente do evangelho conceder no
império das sombras, a redenção

54
(Ressurreição)

I
Não somos almas sem destinos, presas por grilhões evolutivos, cérebros
pausados na contemplação, tentando decifrar o silêncio de espantalhos.
II
Não somos forjados em ciclos redundantes, perdidos na diáspora pós-
uterina, arremessados pelos vendavais do acaso.
III
Há um sentido na vida, um caminho resplandecente, um destino seguro,
forjado na cruz com um morrer e consumado numa vitalícia ressurreição

55
(Jardins)

Olho entre os lírios, Jardim selados de meus cálices, onde perfumes


brotam da abundância de férteis primaveras, consolo celeste, vida
espiritual plena, graça que outorga sorrisos

II
Por onde andas minha alma cardíaca? Felicitações de promessas de
libertação quando a criação geme, a libertação dos filhos do altíssimo,
ante a alva nascente.

III
Como a crisálida da borboleta que lapida a glória de vôos em plenitude,
meus olhos , na fé que transcende o agora, repousa nas calmarias do
todo o sempre

56
Cravo e Canela

É tarde furtiva nos campos

O sol caiu sonolento por trás das montanhas

As estrelas dançam ao tocarem as nuvens

Fagulhas incendiarias da noite triste

Como se cada morte afogasse as ilusões

Cada suspiro de transcendência biológica

Levasse todos os sonhos embrulhados na dor

Ouço o soluço de um ancião e flanelas

No campo minado, cravo e canela

Essa loucura da sintonia de alegrias e tristezas

Síntese de amores e dores

A primavera e suas raras belezas

A loucura sinistra das batalhas

No jardim de infância uma criança sorrindo

Da janela do leito do hospital vai surgindo

Um moribundo que olha em nívea luz

É o momento da sua árida cruz

O infante pula vivendo

O enfermo enxerga a si mesmo morrendo.

57
(Clamor)

Remove meu Deus a minha incredulidade


Dissipa as trevas de meu coração
Pois que, Em luz bendita vem o Evangelho
Tenho medo que minhas intenções sejam manifestas
O ego nostálgico tem saudades do mundo
Mas meu coração renovado quer o Reino
Entre virtudes e fracassos eu batalho
Mas são tuas mãos que me sustentam
Dentro de mim há o sufoco humano
A respiração adâmica que quer o cheiro da terra
Eu anseio por vitoria nessa ferrenha guerra
Pois o teu Reino deve em mim prevalecer
Quando em loucuras querer me apostatar
Grita ao destino uma forte tempestade
Pois todo retorno é necessário
Quando o coração quer fugir pra longe de ti
Só assim a firmeza permanece
Quando a ancora de sombras se evanesce
Encontro em Ti oh Senhor da verdade
A âncora que sustenta toda a realidade
Então em descanso mais sublime
Quando a vida cessa o lume
Não temerei mais o eterno futuro
Pois em Ti estarei pra sempre seguro

58
(Vendavais)

Distante encerro a esperança

Nas virtudes de um céu de chuvas

Fontes que irrigam a vida dos montes

Relvas do campo

As flores desabrocham no caminho

A ponte que une o agora e a eternidade

Não é outra senão a estrela vespertina

Pois da noite sacra do tantos silêncios

Faz despertar das sonolências

Todas as almas que lapidam os olhos

Para contemplar o evanescer da escuridão

59
(Paciência)

Em colossal espera

A paciência do advento

Naquele piscar de olhos: momento

Nas sagradas nuvens do Trono

No brado que a alma aquece

Na luz que do oriente lampeja

Oh! Que tanto minha alma deseja

A vinda do lapso: instante

A Vinda do Cristo triunfante

A hora da presença mais gloriosa

Que aformoseia a face das rosas

Que tinge a luz das vestes do noivado

Unindo em matrimônio sagrado

A igreja marchante

E o Senhor da glória ressuscitado

60
Cura

Existem feridas que só o perdão pode curar e angústias que só podem


ser curadas pelo amor

Há desânimos que só pela coragem podemos superar e medos que


vencemos com a fé

Existem momentos tristes que um sorriso apaga e tormentos no coração


que a oração pode aliviar.

61
(Sede)

Sorve meu pobre coração sedento,

Da chávena cheia da graça divina

Que em Cristo fluindo águas vivas

Pode saciar este fraco: eu caído

Germinando a mim mesmo: Um novo Homem

62
(Clamor)

Vem Oh minha alma

Até a essência vital do Sangue de Cristo

Para que a experiência transcendental do coração

Seja sensível,

O metamorfosear da natureza intrínseca do amor

Que Adão perdeu para o pecado

Seja na conversão, recuperado

63
(Chamada)

Tão bela é Tua chamada, meu Deus

Que em Tua doce voz minha alma anseia

Entrego-me ao caminho do Teu chamado

Pois em ti há verdadeiro descanso

Pois se outrora perdido em trevas

Andava sem uma direção

Agora que sou peregrino da graça

Não mais olho para a vida do mundo

Como jardim de consolos verdadeiros

Pois no santo lugar da Tua presença

Meu coração encontrou um lugar aprazível

Para viver uma infinita eternidade.

64
BALSAMO DE GILEADE

Quando as feridas de morte eterna

Abriam crateras abismais dentro de mim

Onde os pecados abrigavam na densa escuridão

O frio inverno de todas minhas decepções

Dos gemidos de um moribundo agonizando

Mares de tristezas e tormentas colossais

Via minha alma rastejando angustias

O coração bebendo absinto de tristezas

Quais tumultos de hostes de negros vendavais

Gritos e sussurros de sustos banidos

As chagas fugitivas dentro do meu desespero

Meu mundo insólito de todos os medos

Oh! No Calvário, Que graça mais celestial

O Senhor tomando a minhas vorazes agonias

Derramando o Sangue naquela terra fria

Untava os meus ferimentos com seu santo sacrifício

Como o Balsamo de Gileade e aromas

A doçura do amor como mel mais puro

Soprou sobre minha morte a Sua vida

A ferida mortal curada, Sou filho da ressurreição

65
Caminho dos sonhos

Sou peregrino de meus sonhos

Ando na senda imaginaria e tão lúcida

O caminho celeste cheio de pensamentos

Eles são as nuvens imaginarias que levam

As enxurradas de todas as lágrimas

Tempo estável

Choro partido, fragmentado

Lamentável

Penetrantes perfumes do agreste

Mil canções do dia de chuva

Pássaros orquestrando o fim da tarde

Alma e coração doce amizade

Sem solidão, mas interna solitude

Oh! Meu sonho, doce altitude

Assim me perco pra sempre

No caminho cósmico de todas as plenitudes

66
(Noite)

Distantes caem os pêndulos da noite

Um mausoléu de lembranças arcaicas

Dissolve-se em Símbolos de recordações

O coração lateja a fluência calma

Gotas de fé em cores que arvoram tênues

Por entre as vagas campinas do amor

Ali onde o Calvário de nossas antiguidades

Dissolvem-se entre os ruídos de dores

Como a chama tremula da vida que se apaga

No tenaz escuro que brada holocausto e fumaça

Onde repousa o pórtico de minha alma

Na doce graça

Ai de mim que nos ínfimos da vergonha

Não retrocede e nem mesmo se acanha

Mas vai correndo a afronta da minha discórdia

Indigno, porém quebrantado até o trono

Da eterna misericórdia.

67
(Eternidade)

Um reflexo no espelho de meus sonhos, um voo profundo dentro de


minha imaginação, peregrino apressado, um barco verbal, perfume de
manhãs nubladas.
II
Clamo o sossego das nuvens, que sem barulho deslizam pelo céu da
minha.boca, como se fossem libélulas transparentes destinadas a
correrem os caminhos abertos dos sorrisos
III
Trago em minha carne os sinais do tempo, forjado na antiguidade de
meus poentes, quando a noite dançava na crepitação das estrelas. E
dentro dela, eu saturação a terra com orvalho

68
(Cura)

Existem feridas que só o perdão pode curar e angústias que só podem


ser curadas pelo amor

Há desânimos que só pela coragem podemos superar e medos que


vencemos com a fé

Existem momentos tristes que um sorriso apaga e tormentos no coração


que a oração pode aliviar.

69
Lágrimas e Sorrisos

No meu caminho antigo


Havia um sábio amigo

Triste a pensar
Na vida a vagar
Solidão

Ele me ensinou
Uma grande lição ponderou

É melhor receber um sorriso


E um abraço enquanto estamos vivos
Do que muitas lágrimas
Quando estivermos mortos

70
(Contemplação)

Muitas vezes a grandeza percorre


O caminho de uma ausência de Palavras
As estrelas brilham
As flores desabrocham
O orvalho cai
Os frutos amadurecem silenciosamente
Até o arco-íris precisa esperar
O silêncio da tempestade para brilhar
Assim também é a experiência
De quem contempla a Deus
Pois o coração piedoso
Encontra a doçura da existência
Quando ama a Deus de todo coração

71
(Olhar)

A grandeza de uma estrela


Não está num simples olhar
Para enxergar a sua grandeza
Precisamos enxergar a sua essência

Pois distante
Onde se encontra
Pode brilhar humildemente
Como se fosse apenas fagulha

Mas guarda dentro da natureza


A maior sublime beleza
Consegue ser grande
Somente para os que possuem

Uma graça visionária


Que ilumina um grande coração

72
Sonhos transparentes

I
Imagino estações de chuvas
Transbordam lagos no vale
Frutos agrícolas
Flores dos campos
II
As águas borbulham nas fontes
Límpidas como cristais lacrimais
E no calmo semblante do reflexo
Eu contemplo
III
Vitro espelho derramado
Ausência acústica dos ventos
Em que noites pálidas dormem
As estrelas sonham nas águas
IV
Nesse sonâmbulo dormente
Eu mesmo almejo despertar
Quais turbas no campo santo
Impelem amplos prantos
V
Em Cristo Jesus confiança
A forte lembrança da luz
Que no lago coração em bonança
A obra da cruz a inteira esperança

73
(Perfumes)

Renovos e fragrâncias do coração


Purificado por piedade
Com o Senhor, íntima comunhão
Um fluir perene, aromas celestes
Perpétua fonte de oração

74
(Peregrino)

Nos átrios do coração ergo o amor

Leve como a brisa e suave como perfumes

Por entre nuvens de diamantes

Perolas tingidas de gratidão

O caminho que tanto percorro

A luz da lâmpada do coração

Eu atravesso todos os temporais

Agarro-me nãos mãos do Soberano

Ao despertar de trombetas e águas

Firme diante de sopros e vendavais

Um fraco sob a custódia de um Forte

Coragem intrépida a enfrentar

As fúrias do vale da sombra da morte

Peregrino sou em tantos perigos

Mas não temo o mundo e a vida

Pois Tu estás comigo

75
Promissão

Saudades sonoras
Terra redimida
Metamorfose épica
Os gemidos da criação
Tangendo as dores da cruz
Prometida remissão
Enfim a gloriosa pura luz
As mãos santas de Jesus
Furadas em redenção
Primeiro minha alma
Depois o corpo ressurreição
Então todo o universo renovado
Restauração

76
A Oferta Divina
I
As perdas da existência, o fardo e as posses, o tempo e o vigor, tudo
parece se desfazer como a flor que murcha para adormecer na memória
do inverno

II
A vida nos dá e ela nos tira, até mesmo a si mesma se evanesce dentro
de nós, mas Cristo nos dá a vida eterna e com ela nos devolve tudo o que
está vida nos tirou.

77
(Redimido)

Encontrava-me perdido sem caminho

Sem luz e amando minhas trevas

Sob a prescrição sórdida de meus castigos

Sem paz

Triturado entre os dentes do destino

No claustro frio em ferrolhos algemas

Afogado na intranqüilidade agonizante

Um dilema!

Gemendo no frio vácuo da insurgência

No erro precoce toda a diligência

Afogado em lamentações amargas

Intransigência!

Mas em cordas redentoras fui buscado

Das amarras tirânicas resgatado

No tanger de harpas da salvação

De Cristo; a redenção.

78
(Parusia)

Quando em harpas celestes anjos cantarem, o toque da trombeta enfim


soar estará meu coração atento a te ouvir?

Quando miríades de santos surgirem, cantando em glória e reluzindo


tais brilhos celestes do grande porvir, irei eu mesmo ouvir?

Quando Hosanas nas alturas, dessa musica divina das alturas, num
clarão de razão mais aguda e os céus na sua essência mostrarem o
Senhor glorioso na transparência, estarei aqui?

E se acaso dormindo no pó, aguardando a ressurreição primeira e


melhor, ouvindo a ordem de comando divino ao arcanjo, com todo o
testemunho de multidões de anjos

Se não estiver dormindo para despertar estarei vivo a te esperar?

79
Provações
---
Depois da tempestade da tarde
As estrelas brilham no céu
Assim também, cada cristão
Pode ser renovado pela luz da graça de Deus
---
Depois de suportar as aflições da vida
Há no cume dos montes
A madeira mais dura e resistente
Pois sofre as intempéries do tempo
---
Assim também a firmeza se faz
Por suportar tribulações
Não temas enfrentar as provas
Elas fertilizam a nossa fé em Deus
---
Pois quando suportamos com confiança
Deus nos galardoa com a coroa
Da Sua sempiterna bondade
Da Sua eterna graça que nos fortalece.
---

80
Glória e Majestade

Que grandeza há no coração devoto!

Jardim de flores que perduram a majestade do amor

Entre lírios e chuvas

Um manancial eterno que vem do Trono

Onde Deus rege o universo e a piedade

O Senhor que abençoa a alma em santidade

Na beleza gloriosa da renovação de tudo

Nos mostrará as bênçãos da vida eterna

Que é multiplicar o amor na contemplação

Quando se cumprir enfim

Após toda a extensão da obra salvífica

Ver Deus na pureza de coração:

A visão beatifica.

81
(Dia Nublado)

As nuvens escondem montanhas

Mistérios da minha vida

(sentimentos)

Os olhos e o coração observam

Os filamentos dos raios do sol

Uma tarde nublada

Ondas de desanimo e saudades

Rios caudalosos de imaginações

Através da minha alma, lá dentro

Um universo de sentidos transcende

Como se eu me unisse aos ventos

Viagem na curvatura do universo

AS folhas dançam aos poemas

Brisa que transporta meus pensamentos

Não posso adormecer coma erva do campo

Então

Ao som das turbulências da civilização

Me desperto do mergulho utópico

Para viver a eternidade dentro da esperança

82
(Peregrino Ferido)

Em fuga partiu meu coração ferido, pelo caminho espinhoso de um Adão


relutante, eu ainda pior arrogante, em chagas inflamadas pelo fogo da
rebelião

Perdido na nudez do frio horripilante, dos pecados cavados dentro de


minha alma, brechas abissais da minha fome insaciável, quantas dores!

Nas suturas de póstumas tristezas, carregando o cortejo fúnebre das


minhas friezas, indiferente, fenômeno de minhas antigas apostasias,
foragido do Éden.

Mas, nas loucuras de minhas andanças, uma luz alva brilhou como um
Saulo caiu assustado minha frugal face retorcida, olhei, era o Senhor da
vida.

Ali mesmo caído em si, da luz celeste me revelando, a condição


tristonha, um aí que ecoou de minhas medulas, arrependimento de
minhas arrogâncias, fragrâncias de redenção

83
Batalha

Dentro de mim fogo cruzado, ártico frio coração, fúnebre choro de mim
mesmo, meus pesares abertos no altar da vida
Cais de mares abortados de tempestades assombradas pelo medo de
meus pulsares, artéria ressequida de meus lamentos

Dentro de mim essa desolação de armas cravadas, violentas violetas e


espadas, túnica encharcada na charneca de meus desesperos

Dentro do coração, essa batalha entre mim mesmo e o bem, o impulsivo


odor da maldade, repulsivo ao som da bondade
Que só se faz o triunfo da paz, essa batalha sagaz, o remover do sombrio
ar sinistro, a transformação do solo sagrado, só com o sangue de Cristo

84
Tarde e Manhã
I
Quando incendeiam as nuvens da manhã, aquece os impulsos desse
coração pesaroso, intermitência de meus olhares por entre colunas de
montanhas que sustentam a minha contemplação
II
Lapidado o meu elóquio, a via formosa das entranhas da alma redimida
pelo amor, possante voz que anuncia as grandezas da vida nas coisas
mais simples
III
Por singeleza de olhares curvos, nas sombras da tarde ouço gemido de
estrelas por trás dos montes, e a centelha da providência em sustento
eterno, acende para sempre cada uma delas.

85
(Ventania)

Sóis corsários da noite, oh pensamento vigarista

Pirata das desolações dentro de mim

Infausto casebre essa carne

Morada terrena do velho homem

Corpo retorcido nas chagas do pecado

No dolo incólume desses funerais passados

Aperta o coração esta saga sangrenta

Rebentos de ramos de videira brava

Nas alcovas de um cetro quebrado

Um cedro caído e abandonado

A ilusão desse pequeno Nephilim

Arrastado por restos de alparcas

Minha alma na ressonância da cruz

A espera agonizante da liberdade desta prisão

Aguarda ferida e em fadigas pesadas

Um renovo do corpo: a redenção

86
Areia e Mar

Sou grão de areia e Tu és mar


Sou fagulha acesa na face do luar
Brasa que aquece a verdade do mistério
Sou gota do Teu infinito oceano
Aroma do sopro de Teu imortal halito
Sou imagem refletida no azul da santidade
Grão da montanha de Vossa grandiosidade
Sou filho da graça fruto da misericórdia
Brevidade do Teu maior querer
Sou prisioneiro da vida e Tu libertação
Sou poço que se seca e Tu manancial
Sou pedra bruta e Vós diamante
Sou quase nada pendurado no instante
Areia sou na multidão do fundo do mar
Na cor turquesa no frescor do ambar
Em ti meu Senhor, quão elevada glória
Eu finito e fraco na Vossas mãos
Me aconchego ao percurso, a Tua direção
Glória excelsa tão magnifica visão
Eu pobre vida em frágil coração
Me aconchego a Ti, Senhor Eterno e onipotente
Uma fração das águas oceano da verdade
Que mergulha a minha fé com toda a intensidade
Em singela confiança no mar de toda a Vossa
Bondade...

87
(O Tempo)

O tempo passa na sega dos minutos


E nós mortais descongelados
Filhos da entropia
Na fuga da morte que tememos
Viver mais é o que queremos
Loucos a correr e lutar
Num espetáculo de guerra vencida
No túmulo adormecemos
Plácidas epopéia de nossos anseios
Tudo passa ligeiro
Como o rio caudaloso
Nuvens que se apressam
Mas o mistério desvelado
Ao Cristo nos consagramos
Vivendo a saudade celeste
Em tempos de lutas a aflições
Até que a marcha se rompa
E quebrados no tempo
Somos restaurados a vida eterna

88
(Fluxo)

Raro e precioso rio de causas que escoam nos temporais do tempo,


fluxo continuo nos terminais acústicos de minha voz e do lamento
alheio, os filhos da poeira.

O pó cósmico e estelar nos pálidos palácios do meu cérebro, luzes e


sinapses no contorno da alma acorrentada pelas causas. Olhar
avariado pelas sombras do meu corpo inerte

Que o mundo veja as tensões de meus gritos, a descarga quântica de


meus lábios, o pulsar de todas as minhas saudades enfermas de
nostalgia, a cavidade de minha voz ecoa, despertai..

89
Ansiedade Cortante

Corações quebram-se na rocha da vida


Dores quais orvalhos de lápides
Porquanto a ansiedade perturba a alma

Oh pobre coração quase morto


Como barquinho triste sem porto
Nas náuseas da existência finita

O remédio para a alma enferma


Pra doença que se enraíza no coração
É fé em Cristo e Sua redenção

90
Fonte das Perolas

...Derramo meus prantos de severas decepções


Pra encher a medida do mar de minhas amarguras
Assim naufrago até o fundo de minhas feridas
No âmago solido de meus sofrimentos
Para sair de lá de baixo das tormentas emocionais
Com o coração cheio de lindas perolas...

91
(Noite de Luz)

Eu caminho na noite
Olhando pra cima
As estrelas brilham em silêncio
Ouço ao longe os ruídos do mar
Grilos cantam na relva
A selva dos insetos
Entre montanhas adormecidas
As flores descansam em paz
Como se a escuridão fosse
O jazigo das cores da primavera
Esfrego os olhos
O sono entra na alma
O luar relampeja no orvalho
Uma fúria suave como núpcias
A praia do meus sonhos
Porto cômico de minhas sensações
Então adormeço nesse universo
Como uma estrela sem rumo
Agonizando no travesseiro
Em minha cama me lembrando
Daqueles tempos de infância
Onde ouvia papai e mamãe dizerem
"Deus te abençoe"
Depois de clamar inocente
Pelas bênçãos noturnas

92
(Peregrino Solitário)

Vejo um homem
Ele passeia só
Por um século de escuridão
A era das sombras
E ele segue firme
Pois tem uma lâmpada acesa
A luz concede-lhe visão
É o Evangelho em fogo
Dentro do seu coração

93
Grilhões

(Estrelas brilham no oceano da madrugada)

Entre meus olhos e o infinito


A alva brilha em fulgor
Rompendo os grilhões da escuridão
Assim é Cristo
Quando reina no meu coração
A vida pode trazer sombras escuras
Mas o Senhor garante
A glória da vida eterna futura

94
Fim de tarde

As sombras vestem os montes


Um anjo corre com fogo
Aguarda a noite
Pra acender as estrelas
O tempo de sonhar chegou
As flores percorrem o caminho
Alfazema e lavanda
Blocos de nuvens flutuando
O galo cantando
O vento levando
As aspirações do futuro amanhã
Antes do fim da tarde

95
A lavanda na relva

Eu imagino se falassem
As flores mudas desse jardim
Leito vertebral das relvas
Aconchego de orvalho maltrapilho

Eu imagino se pensassem
As flores em áurea longitude
No visceral contorno das estações
Abrigo de meus olhares fixos

E se sonhasse imaginando
Lírios imaculados em perfumes
Sorrindo pela minha presença vaga
Beijaria o momento, é dádiva de Deus

96
Pranto de nuvens

Quando o céu chora as minhas dores, densos prados irrigados dentro de


minha alma ferida, a dor da transitoriedade instigada pela estima

Farpas de rosas e ferro de risos, a indumentária de meus tempos


contados nos dias soterrados por anos passageiros, percorrem e singram
o mar dos meus pensamentos

Sou viajante sem fardos vazios, cheio está meu coração de saudades e de
amor, pois ainda que tudo passe, não passa jamais a vontade de amar

97
(Vereda Vital)

Seguir a vida
Ainda que tenhamos obstáculos
Seguir em frente
Mesmo sozinhos
Há sempre um rio de ânimo
A espera de quem prossegue
As flores sempre nos aplaudem
Os pássaros cantam pra nós
Eles só existem aos sensíveis
Seguir a vida
Mesmo diante das dificuldades
A indiferença alheia
Não deve parar nossa marcha
As estrelas nos seguem a noite
O sol nos acompanha de dia
Nunca estamos sós
Deus é nosso assistente
Seguir em frente
Não se conformar jamais
Com os que desejam ficar
Coragem fé e determinação
Resiliência, nossas virtudes
Escolher seguir em frente
É prova de que somos diferentes
A diferença é que somos livres
Livres para amar
Livres para crer
Livres para viver
Livres para escolher
Livres para prosseguir
Livres alcançar
O fim por onde partimos

98
(Visão do Coração)

Segue meu coração


O curso do rio do norte
Para onde segue a estrela polar
O perfume das flores da laranjeira
As nuvens do celeiro celestial
Segue a névoa manhã invernal
As folhas das videiras
O odor das montanhas
O fogo da lareira acesa
Segue os minutos do relógio
O caminho das andorinhas
A sega e os grãos
Segue até o fim da vida
Para entrar resoluto
No portal da eternidade

99
(Áurea Redenção)

Áureas promessas da graça


Onde os tesouros insondáveis de Cristo se escondem
Herança dos redimidos
Aos que levaram a fé ao Salvador
Confiança na santa misericórdia
Indignos diante do Trono do perdão
A busca dos quebrantados
Salvação
Maior bem eterno
Valioso pela Vida do Cordeiro
Que Deus dá em Dom gratuito
Oh! Amor divino incomparável
Prêmio dado aos derrotados
Que receberam a vitória
por aceitarem humildemente
O triunfo eternal do Verbo da Luz
Palavra Encarnado
Cristo Jesus

100
(Cosmos)

Infinitamente o universo contém


Todos os meus anseios e votos de ternura
Não posso vós dizer um (adeus)
Estou indo entre espaço e tempo
Deixando esses sentimentos de amor
Tentando ser infinitamente um olhar
Pois contemplando a vida que passa
Não permitirei que a ausência semeie um silêncio
Por onde passar deixarei uma voz
A voz das minhas palavras que ficarão
Pra sempre falando saudades
Para todos os que me quiserem ouvir
Lendo as substâncias de meus sentimentos

101
(VERBO)

Contemplar:
Seguir o caminho da essência
Visão íntima do coração
Puro
Transparente
Um olhar além do comum
Mergulho
Totalidade
Espelho da nossa sabedoria
Sensibilidade
Prudência
Oceano dos mistérios
Maravilhoso
Arrebatador
O esplendor do simples
No espaço e no tempo
Enigma
Transcendência
Deus em Cristo

102
Aroma

Suave é o cheiro do orvalho noturno


Que repousa na relva pelas manhãs
E nós somos participantes ativos
Contemplando e sentindo a vida

(Mas)

Se perdemos a sensibilidade
Com íntima cegueira do coração
Não enxergaremos na simplicidade
A alma da verdadeira felicidade

103
(Conflito)

Em tempos de conflitos, dentro de mim batalha insólita


Como se o coração saísse órbita
Nos campos de imaginárias explosões
Rosas negras e seus líberos botões
É o cenário do conhecimento lógico
A fuga do medo desse épico mágico
Os canhões que em bolhas de sabões
Queimam réstias ímpares balões
Incendeia a pólvora desse ímpeto pavor
A bala que atravessa o cadáver da dor
E eu estilhaço, caído na terra
Morri amando o mistério, fim da guerra

104
(Poetas)

Quando a noite quer poetizar, ela torna-se cheia de estrelas


Quando os campos querem poetizar enche as campinas de flores
Tudo inspira tudo
A tempestade mesmo que escreva com trovões
A mensagem final é sempre o arco íris

105
(Redenção Amarga)

Palpita meu coração por entre as dores, daquele rude madeiro mortal
que outrora foi árvore, que no principio era para ornamentar o Éden,
mas tornou-se o opróbrio do martírio do Cordeiro de Deus

Eu olho trêmulo, tão fria sombra de um espetáculo de vergonhas,


naquele momento do horrendo grito do consumado, pois se a morte
rasgou o véu do templo o madeiro do berço natalício rasgou a cortina do
tempo.

Meus pensamentos mergulham nessa cena tão cruel, a alma do fel que
declama ondas sonoras de todas as aflições congeladas, imersas num
caudaloso pantano de meus pecados

É Ele, o Imaculado que transporta o fardo das minhas transgressões,


nesse naufrágio nas profundezas abissais da morte, três dias depois
ergueu triunfante e glorioso

Dos grilhões quebrados solta minha alma na redenção, bradam os anjos


e testemunham a ressurreição, não foi severo martírio, muito mais
heróico, é épico: substituição

106
(Doce Redenção)

Outrora vi minha alma fraturada na morte, óbito adâmico, edema do


desespero humano, absinto tão amargo, o teor destilado do sofrimento,
choro úmido de meu coração

E eu nesse pântano, grita a sonora alma que agoniza ao peso de tantos


fardos herdados da humanidade, meus pêsames orquestrado no tanger
de harpas sem cordas

Ouvi a mensagem da cruz, o convite de Cristo bondoso, resgate desse


calamitoso monturo, o brado da brandura, "Vinde a mim" e fui
totalmente salvo, de Deus o perdão e graciosa doçura

107
(Sementeira)

Revolve o chão do coração


Cava até a profundidade da alma
Um sulco de esperança
Põe dentro dele sementes
De sabedoria
Depois de algum tempo
Com o orvalho da humildade
Vai irrigando com oração
No outono da vida espiritual
Com muita gratidão, colherás
As preciosas virtudes divinais

108
Púrpura Vital

Caiu Adão em pó de morte


Transgressão (Noite sombria)
O dilúvio frio das águas
Caiu sobre o pó de Adão
O barro fundido em tijolos
A construção de Babel
Caiu a torre celeste
A confusão dos povos caídos
Caiu o fogo em Sodoma
Enxofre em brasas Gomorra
Caiu a história humana
Aflita existência torrencial
Apagando a luz do fanal
Vale da sombra da morte
Ergue o monturo do Calvário
Ali erguido o Verbo da vida
No sofrer violento colossal
Derramando a vida na morte
Caiu sobre a terra ferida
Sangue púrpura vital

109
Frutos Fractais

Entre as faias de um inverno intrépido, luzes frias do luar tentam


aquecer a terra desses ossos trêmulos. Flores astrais e os pássaros do
fogo fátuo, argutas chamas estelares queimam a vida, como cera em
cerâmica lascada, ouço o eco do tempo.

A terra em rotação aí som sonâmbulo da civilização sonolenta, o ártico


da paternidade das nevoas, sombras aladas flutuam por essas estações
de tantas tristezas medonhas. Luzes trêmulas fractais em olhos
neandertais.

Eu pobre síndico de minha alma alojada dentro do coração ferido,


tempos esquecidos, falsas histórias, sonhos. Dos ramos ligados a videira
é oceano do norte, guerra das ondas do pacífico, eu no conflito,
frutifico...

110
(Cinza e Flores)

Ateia fogo nas palhas de um chão chamado vida, queima e devora aos
confins das relvas, esse recôndito de asas pálidas que desterram nossas
angústias e nos empurra às cinzas de todas decepções
...
Trêmulas chamas auréola da nossa pausa de cada fogo que queima a
roupa tiro e ferida do gládio afronta farpas de cruz que cremos e alentos
que repousam orvalho da ressurreição
...
Que das escuras terras carbonizadas nos arbustos dessa alma atribulada
de tantos dissabores, realça aos tímpanos o gérmen da vida eterna e
desabrocha em perdão e lindas flores.

111
(Castelo e pó)

I
Ouço o gemido da alma esmagada pelas paixões do mundo, do espectro
dantesco a atonia de Kafka que ao chumbo do pessimismo naufraga nas
entranhas da noite forjada na agonia
II
Lâmpadas sem luz poente, escuridão que perdura nos sombrios dos
vales entorpecidos por bramidos de flagelos humanos, tantas flores
finadas num inverno de temores famintos num planeta sem órbitas.
III
Que de vésperas nascentes do Jordão, se encontra as pérolas mais lindas
no campo das graças, pois onde nasce o amor mais puro, ali o
desesperado encontra o perfume de todas as misericórdias

112
Agonia

De quantas vias anormais a posse


Que na penumbra do dia evanesce
Glórias do mundo que desaparece

Nas entranhas do coração faminto


Dos terminais moribundo absinto
A agonia da insatisfação que consome

De tudo o que se aprende;


A avareza é uma deformidade moral que arruína o caráter de um
homem

113
(Campos de Centeio)

Derramo as ternuras de minha alma em campos estéreis de calamidades


humanas, a tortura insidiosa de lamentos que perdemos quando
choramos a miséria humana
II
As turvas águas despejadas de um céu cristalino, sinfonia de lírios
brancos em pêndulos encharcados dos riachos. Meus pêsames pesados,
triste coração de pedra
III
Convém lidar com as mágoas do nosso coração ferido, semeando a
íntima semente do perdão, para que possa desabrochar dentro de nós, a
felicidade

114
(Rosas)
I
Quando a primogênita das flores, desabrochou no jardim antigo,
vislumbre de glórias saíram com nuvens aromáticas, odor celeste em
campos silvestres.

II
Talvez com as chagas de espinhos, gládio de defesa contra os predadores
das tangíveis cores de tão preciosas pétalas, as rosas se armaram de
dores ao exalar perfumes e mostrar a exuberância do amor.

III
Tão frágil são os mortais perante o belo, pulsantes diante das estrelas,
esperançosos perante o poente, avulsos em multidões, no equilíbrio em
existir entre a brevidade e eternidade.

115
(Semeadura Cortante)

Carrego dentro de mim o peso de todas as bigornas e martelos, essa


alma de pedra que precisa ser marchetada e polida por dentro e por
fora, áridas constelações sem brilho
II
Todas as imperfeições desse ser penado, turvo no caos profundo de si
mesmo, pródigo do jardim, na efervescência de tantos pensamentos
perdidos dentro de um vale confuso.
III
Clareia pois dentro de minha escuridão essa alva estrela nobre, que
redime intensamente minhas angústias e revolve com arados cruzados o
chão do meu pobre coração semeando nesse mundo avesso o bendito
amor

116
(Convergência)
I

Era cedo aquele dia de chuva, ramos batiam na janela e o vento cantava
tantas tristezas, pingos corriam num caminho invisível entre os meus
olhos, lágrimas nos vitrais da janela
II

Percorriam meus pensamentos opacos, a massa cinzenta das nuvens,


sinapses de relâmpagos e o meteórico ribombar dos trovões libertos dos
calabouços de meu susto

III
Todos nós com rosto descoberto, sem um véu de coragem,
adormecemos no desânimo e na convergência da covardia, tememos
viver de verdade, amando...

117
(Última Estação)

Quando as chuvas caem consolando as deste meu Jordão acústico, terra


nativa de minhas áureas lembranças de infância, passado flutuando
dentro do meu coração
II
Quando as águas desse dilúvio ameno, orvalho furioso que desaba do
empório da alma , e despeja irrigando as crostas de minha terra alma
III
Sim, quando chegam os artefatos das estações,tal como o repentino
relâmpago transfigurado num piscar de olhos, então descobrirei que o
sonho é mais do que um faz de conta, é uma vida dentro da vida.

118
(Infinito)

As vezes almejamos confins que nunca alcançamos


Outras vezes partimos para infinitos e nunca mais voltamos
É possível viver sem sentido quando não mais sentimos a dor da
caridade pois não há parte mais sensível do que um coração que pulsa
na órbita da maior de todas as virtudes
(Mas)
O coração que deixa morrer dentro de si o amor
Torna- se uma prisão escura para o próprio egoísmo

119
(Átomo)

Aí de mim humano fraturado, fragmento cósmico do chão da terra, pó


sobre pó, barro tênue em molde adâmico, pulverizado nas nevoas do
tempo, a existência
II
Das causas primárias de espécie sonhadora, transportando elementos
oníricos em ânforas de metais pesados, mercúrio e chumbo, perfumes
de lavanda.
III
O homem que procura o sentido da vida em coisas superficiais pode ter
a decepção de ver o próprio coração naufragando nas profundezas do
desespero

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