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S um ár io
Apresentação......................................................................................................................... 3
Introdução .............................................................................................................................. 4
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Apresentação
“... Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem” (Ne 13.31).
Jocarli Junior
3
Introdução
1 MacArthur, J. (2001). Nehemiah: experiencing the good hand of God. MacArthur Bible
Studies (8). Nashville, TN: W Publishing Group.
2 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). Vol. 1: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (673). Wheaton, IL: Victor Books.
4
Em 444 a.C., 14 anos após o retorno de Esdras a Jerusalém, Neemias
também retornou e Deus o usou para guiar Judá na reconstrução dos muros e na
reordenação da vida social e econômica de Jerusalém.
Neemias foi um judeu, nascido no exílio, após a queda de Jerusalém para os
babilônios, em 605-586 a.C. Neemias era copeiro do rei Artaxerxes (Ne 1.11 e 2.1).
O que ele conseguiu em um breve período de tempo foi um feito esplêndido.
Neemias tornou-se um lembrete visível para o povo israelita da misericórdia
imutável de Deus.3
Autor:
Embora seja difícil saber com certeza quem escreveu o livro em sua forma
final, a maioria dos expositores concorda que Neemias é autor do livro que leva seu
nome. Grande parte do livro é um relato, na primeira pessoa, das circunstâncias de
seu retorno a Jerusalém (capítulos 1-7; 12.31-13.31).4 É quase certo que os bisavós
de Neemias foram levados em cativeiro quando Jerusalém caiu diante dos
babilônios. Neemias provavelmente nasceu na Pérsia, em algum momento durante
ou logo após o ministério de Zorobabel, em Jerusalém.
Embora grande parte desse livro tenha sido nitidamente tirado dos diários
pessoais de Neemias e escrito do ponto de vista pessoal (1.1-7.5; 12.27-43; 13.4-
31), tanto a tradição judaica como a cristã reconhecem Esdras como o seu autor.5
Esdras e Neemias formavam um único livro na Bíblia hebraica até o século
XV. Isto é baseado na evidência externa que se reflete na LXX e a Vulgata Latina, e
6
3 Brown, R. (1998). The Message of Nehemiah: God’s Servant in a Time of Change. (J. A.
Motyer & D. Tidball, Orgs.) (p. 17). England: Inter-Varsity Press.
4 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). Vol. 1: The Bible
commentary (D. S. Dockery, Ed.) (182). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.
7 ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2002, p.
124.
5
Neemias, por si só, revela muito sobre sua capacidade intelectual, maturidade
emocional e seu status espiritual.8
Propósito e Teologia:
1. O Culto.
Neemias destaca o papel dos levitas e sacerdotes que foram os primeiros a
iniciar os trabalhos nos muros (3.1, 17, 22, 28), e foram proeminentes entre
aqueles que repovoaram a cidade (11.10-23; 12.1-26, 29). Eles trabalhavam como
professores e funcionários do templo (8.7-8; 9.4, 12.27-36, 45-46). Os levitas eram
líderes de Israel (9.38; 10.9-13, 28), e ganharam a aprovação da comunidade para
o seu serviço (12.44, 47). No entanto, não escaparam da necessidade de
restauração desde que seus pecados foram expostos (13.4-11, 28, 30).
2. O Deus Criador.
A soberania do Senhor é vista mais claramente na nomeação e proteção de
Neemias, realizada através dos poderosos reis da Pérsia (2.8, 18). Ele garantiu o
sucesso de Neemias (2.20), e até mesmo os inimigos admitiram que a restauração
dos muros foi algo divino (6.16; 4.15, 20). Deus também é descrito como o Deus da
aliança que, com fidelidade, guardou e protegeu o seu povo (1.5-7; 9.7-37). Além
do mais, Ele é Santo e exige um povo justo, um sacerdócio santificado, e um lugar
sagrado de culto (12.30; 13.9, 23-28, 30).
3. A Oração.
As orações de Neemias polvilham a narrativa com invocações da bênção
divina (5.19; 6.9b; 13; 14; 22b; 31b) ou maldições sobre a oposição dos ímpios
(4.4-5; 6.14; 13.29; 2.4-5; 4.9). Orações de confissão também são encontradas no
livro (1.4-11; 9.5 b-37).
4. A Escritura.
A Lei de Moisés, em particular, foi a linha de prumo na qual mediram o
sucesso de sua reconstrução espiritual. A Lei foi lida, interpretada e aplicada à vida
da comunidade (8.1–18; 9.3). A Lei condenou (8.9; 9.2–3), incitou à adoração
(8.11–18) e gerou a reforma (13.1–3, 17–22a, 23).
5. O Templo.
Os muros de Jerusalém, mesmo nos dias de Neemias, não ofuscaram o
templo: “... não desampararíamos a casa do nosso Deus” (10.39). Assim, os judeus
cumpriram suas obrigações de culto na casa de Deus através dos dízimos, ofertas e
8 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). Vol. 1: The Bible
knowledge commentary: an exposition of the scriptures (674). Wheaton, IL: Victor Books.
9 Dockery, D. S., Butler, T. C., Church, C. L., Scott, L. L., Ellis Smith, M. A., White, J. E., &
6
primícias de acordo com a Lei de Moisés (10.32-39; 12.44). Porém, a santidade e a
perpetuação do templo foi a agenda do segundo mandato de Neemias como
governador (13.4-13, 30).
Esboço:
7
O RETORNO DO EXÍLIO
Fase Data Referência Líder Rei Extensão Eventos
Primeira 538 a.C. Esdras 1-6 Zorobabel Ciro - Qualquer um que - Holocaustos foram
Josué quisesse poderia ir e feitos.
voltar. - A Festa dos
- O templo de Tabernáculos foi
Jerusalém era para celebrada.
ser reconstruído. - A reconstrução do
- A tesouraria real templo foi iniciada.
financiou a - O governante persa
reconstrução do mandou reconstruir e
templo. interrompeu a obra.
- Artigos de ouro e - Dario, rei da Pérsia,
prata do templo autorizou a retomada
foram tomados por da restauração dos
Nabucodonosor muros de Jerusalém,
foram devolvidos. em 520 a.C
- O Templo foi
concluído e dedicado ao
Senhor, em 516 a.C.
Segunda 458 a.C. Esdras 7-10 Esdras Artaxerxes - Qualquer um que Homens de Israel
quisesse poderia ir e casaram-se com
voltar. mulheres estrangeiras.
- A tesouraria real
financiou a obra.
- Os magistrados
judeus e juízes
foram permitidos.
8
O líder q ue D eus us a
[Estudo 1 – Ne 1.1-11]
9
retorno de Neemias, reconstrutor dos muros. Na realidade, foram três grupos que
deixaram o cativeiro na babilônia: Zorobabel, em 538 a.C., Esdras, em 458 a.C., e os
cativos com Neemias, em 444 a.C.
Curiosamente, um dos irmãos de Neemias, Hanani, tinha acabado de
retornar de Judá com outros homens. Então Neemias, que estava profundamente
interessado, fez perguntas sobre o bem-estar de seu povo e a condição da cidade
de Jerusalém.
Todavia, antes de falar de seu interesse pelos outros, alguns fatos nos
chamam à atenção na vida deste homem de Deus. Vejamos:
Em segundo lugar, sua função. “Nesse tempo eu era copeiro do rei” (Ne
1.11). O cargo de copeiro soa muito humilde, mas esta não era a situação. O cargo
surgiu em sociedades antigas por causa do perigo que um imperador ou rei tinha
de ser envenenado por algum rival. O copeiro era uma pessoa de confiança,
nomeado para cuidar e provar o vinho para se certificar de que estava seguro antes
de ser servido ao rei. Essa pessoa era, obviamente, muito estimada e confiável.13
Por causa de seu acesso constante e regular ao governante, Neemias naturalmente
adquiria influência não apenas diante do rei, mas também diante de outros líderes
militares e nobres. Ele tinha acesso ao rei, contudo, o seu coração estava com o
povo de Deus.
12 Elwell, W. A., & Comfort, P. W. (2001). Tyndale Bible dictionary. Tyndale reference library
(942). Wheaton, IL: Tyndale House Publishers.
13 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (15). Grand Rapids, Mich.:
BakerBooks.
10
portas destruídas pelo fogo (v. 3). As más notícias que Neemias recebeu podem ser
resumidas em quatro palavras: insegurança, injustiça, indigência e inferiorização.
Quando Neemias soube das más notícias sobre Jerusalém, ele poderia ter
dito: “Isso é muito ruim, mas o que posso fazer?” Todavia, no versículo 4, cinco
verbos expressam o que se passava em seu coração: ele se sentou, lamentou,
chorou, jejuou e orou.
14 JOSEFO, Flávio. A história do povo hebreu. Editora CPAD, São Paulo, 2002, p.
15 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (16). Wheaton, Ill.: Victor Books.
11
2. Ele lamentou e chorou – São palavras frequentemente usadas para os
períodos de luto, na Bíblia. Neemias lamentou e chorou por algum
tempo. Inconscientemente, Neemias estava imitando o luto dos judeus
cativos na Babilônia, anos antes (Sl 137.1). Ele não foi a última pessoa a
chorar sobre os problemas de Jerusalém. Durante a última semana de
seu ministério, Jesus olhou para a cidade rebelde e achou impossível
conter as lágrimas (Lc 19.41-44). Como Neemias, Ele também estava
infinitamente mais preocupado com o bem-estar do povo do que o dele.
3. Ele jejuou – O jejum era exigido somente dos judeus, uma vez por ano,
no dia anual de expiação (Lv 16.29), mas Neemias passou vários dias em
jejum, chorando e orando. O jejum bíblico não significa simplesmente
“deixar de comer”. O jejum bíblico sempre acontece acompanhado da
oração. Todos podem orar sem jejuar, mas ninguém pode jejuar sem
orar. Jejum bíblico significa privar-se de alimento por uma razão
espiritual: comunicação e relação com o Pai.
Esta é a primeira das doze orações registradas no livro (1.5-11; 2.4, 4.4, 9;
5.19; 6.9, 14; 9.5; 13.14, 22, 29, 31). Em 9.5, a oração foi realizada pelos levitas.
Porém, o Livro de Neemias abre e fecha com oração.19 Três fatos nos chamam à
atenção nessa primeira oração de Neemias:
16 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 1.4). James L. Fleming.
17 CATT, Michael. Vivendo corajosamente. São Paulo: Imprensa da Fé, 2012, p. 114.
18 Cyril J. Barber, in Nehemiah and the dynamics of effective leadership (Neptune, NJ:
12
Neemias reconhece a grandeza de Deus
“E disse: ah! SENHOR, Deus dos céus, Deus grande e temível...” (v. 5) – Neemias
não pede nada antes de reconhecer o caráter de Deus. Em sua oração ele focaliza a
grandeza de Deus, antes de pensar na grandeza do seu problema. Quanto maior
Deus se torna para ele, menor se torna o seu problema.20 O verdadeiro intercessor
aproxima-se de Deus sabendo que Ele é soberano, onipotente, capaz de resolver
qualquer dificuldade.
2. A persistência na oração.
1
No mês de nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes, uma vez posto o
vinho diante dele, eu o tomei para oferecer e lho dei; ora, eu nunca
antes estivera triste diante dele.
Neemias orou em favor de seu povo dia e noite (v. 6). Ele orou até que
obteve a resposta de Deus. Sabemos que ele era persistente em suas orações por
causa de um detalhe que liga o primeiro versículo do capítulo 1 com o primeiro
versículo do capítulo 2. No capítulo 1, Neemias diz que a delegação de Jerusalém foi
até ele no mês de quisleu, que corresponde aos nossos meses de
novembro/dezembro. No capítulo 2, quando Artaxerxes ouve o pedido de Neemias
e concede permissão para ir a Jerusalém e reconstruir seus muros, é o mês de nisã,
que corresponde aos nossos meses de março/abril. Em outras palavras, quatro ou
20 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 18.
21 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (19). Grand Rapids, Mich.:
BakerBooks.
13
cinco meses se passaram entre o momento em que Neemias começou a suplicar a
Deus sobre Jerusalém e o tempo em que suas solicitações foram atendidas.
Essa é a perseverança da oração, uma característica de todos os grandes
líderes. Alguns são ótimos em perseverar com os homens. Neemias era grande
nessa área, mas antes de perseverar com os homens ele perseverou com Deus, e foi
bem-sucedido.
22 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 21.
23 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (21). Wheaton, Ill.: Victor Books.
24 Elwell, W. A., & Comfort, P. W. (2001). Tyndale Bible dictionary. Tyndale reference library
14
Em primeiro lugar, o líder sábio se preocupa com as pessoas. O
verdadeiro líder se assegura de que os problemas dos seus liderados sejam
resolvidos antes de lidar com seus próprios problemas. Um líder que se identifique
de perto com aqueles a quem lidera poderá motivá-los a conseguir mais. Conforme
disse Bernard L. Montgomery: “O início da liderança é uma luta pelos corações e
pelas mentes dos homens”.25
Conclusão:
Um líder é uma pessoa do povo. Um líder vê as necessidades dos outros e
sofre com eles. Neemias ouviu sobre a situação precária do seu povo e chorou.
Contudo, ainda mais importante do que suas lágrimas foi o fato de que Neemias
orou. Todavia, mais importante do que sua amizade com as pessoas foi a sua
amizade com Deus, pois somente Deus poderia mudar o coração do rei e prover
suas necessidades.
Abraão se importou e clamou a Deus pela vida de Ló (Gn 18-19). Moisés se
importou e libertou os israelitas do Egito. Davi levou a nação e o reino de volta ao
Senhor. Ester se importou e arriscou sua vida para salvar a sua nação de genocídio.
Paulo levou o Evangelho por todo o Império Romano.27 Deus ainda está
procurando por pessoas que se importam, pessoas como Neemias, que se
importam o suficiente para lamentar, chorar, jejuar e clamar a Deus por ajuda e,
em seguida, oferecer-se para o trabalho.
É tempo dos verdadeiros intercessores se levantarem. Onde estão os
intercessores de Deus? Onde estão os Neemias de Deus?
25 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 22.
26 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 22-23.
27 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (22). Wheaton, Ill.: Victor Books.
15
Deus nos dará sucesso
[Estudo 2 – Ne 2.1-20]
16
1. Neemias orou.
Ao longo do livro, encontramos Neemias orando nada menos do que 11
vezes em 13 capítulos (1.5-11; 2.4, 4.4, 9; 5.19; 6.9, 14; 13.14, 22, 29, 31). Muitas
delas são orações frases, como em 2.4, mas refletem o fato de que em toda e
qualquer situação, Neemias buscava a ajuda Deus.
“O rei me disse: Por que está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem
de ser tristeza do coração. Então, temi sobremaneira” (v. 2) – Neemias tinha
esperado pacientemente pela oportunidade certa para se apresentar diante do rei
Artaxerxes e fazer o seu pedido. Ele corria um grande risco. Os reis gostam de estar
rodeados de pessoas felizes. Essa atitude poderia ter causado a perda do emprego.
A gravidade de sua situação pode ser vista quando ele declara: “Então, temi
sobremaneira” (2.2). Era a oportunidade que ele estava esperando, mas quando
surgiu, estava apavorado. Como lidar com isso? Neemias orou!
“Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus” (Ne
2.4) – Sua oração foi um grito silencioso de “Ajuda-me, Senhor!” Ou: “Senhor, dá-
me sabedoria agora!” Esta oração rápida mostra que Neemias dependia do Senhor
em cada situação. Neemias não atribuiu a resposta favorável do rei à boa sorte.
Mais adiante, ele declara: “E o rei mas deu, porque a boa mão do meu Deus era
comigo” (Ne 2.8). Como Provérbios diz: “Como ribeiros de águas assim é o coração
do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21.1). Ou, como
Hudson Taylor disse: “É possível mover os homens através de Deus somente pela
oração”.29
Se você deseja realizar qualquer coisa grandiosa para Deus, precisa começar
pela oração. Charles Trumbull declarou: “Orar é liberar as energias de Deus. Pois a
oração é pedir que Deus faça aquilo que não podemos fazer”.30 Neemias era um
homem de oração.
Além do mais, é importante destacar a grande diferença entre o trono de
Artaxerxes com o trono de Deus. Neemias teve que esperar por um convite antes
de compartilhar a sua dor com o rei, mas a Bíblia diz que podemos chegar ao trono
da graça a qualquer momento, com qualquer necessidade (Hb 4.14-16). Artaxerxes
viu a tristeza no rosto de Neemias, mas nosso Senhor vê nossos corações e não
apenas conhece as nossas tristezas, mas também sente a nossa dor. Warren
Wiersbe, com muita propriedade, declarou que: “Nunca temos certeza sobre o
ânimo de um líder humano, mas você sempre pode ter a certeza de que será bem-
vindo diante do Deus amoroso”. 31
29 Citado por Charles Swindoll, Hand me another brick [Thomas Nelson Publishers], p. 43.
30 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 30.
31 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (26). Wheaton, Ill.: Victor Books.
17
2. Neemias planejou.
5
e disse ao rei: se é do agrado do rei, e se o teu servo acha mercê em
tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de
meus pais, para que eu a reedifique. 6 Então, o rei, estando a rainha
assentada junto dele, me disse: Quanto durará a tua ausência? Quando
voltarás? Aprouve ao rei enviar-me, e marquei certo prazo.
32 MAXWELL, John. 21 minutos de poder na vida de um líder. Rio de Janeiro: Thomas Nelson
Brasil, 2007, p. 77.
33 MACARTHUR, John. O livro sobre liderança. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009, p. 31.
34 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (29). Grand Rapids, Mich.:
BakerBooks.
18
II. Neemias avaliou a situação
11
Cheguei a Jerusalém, onde estive três dias. 12 Então, à noite me
levantei, e uns poucos homens, comigo; não declarei a ninguém o que
o meu Deus me pusera no coração para eu fazer em Jerusalém. Não
havia comigo animal algum, senão o que eu montava.
1. Informação.
“De noite, saí pela Porta do Vale, para o lado da Fonte do Dragão...” (v. 13) –
Esse é um dos incidentes mais conhecidos no livro de Neemias, quando ele cavalga
pela noite para inspecionar o muro da cidade. Há muitas coisas que poderíamos
esperar que Neemias fizesse ao chegar pela primeira vez em Jerusalém: talvez
assumir o poder, talvez realizar entrevistas com os homens mais importantes da
cidade, talvez até mesmo tentar criar alianças com os líderes das cidades
circunvizinhas.35 No entanto, durante os primeiros três dias, ele não fez nada.
Então, no terceiro dia, à noite, leva alguns homens de confiança e sai examinando
os muros. Ele é tão detalhado em seu relatório que até hoje este (juntamente com o
cap. 3) é o melhor registro histórico da extensão da cidade no período pós-exílico.
Em determinado lugar, o entulho era tanto que impediu que Neemias
passasse a cavalo. Como líder, ele precisava saber exatamente a situação da cidade
para desenvolver um plano prático de ação. Neemias não encobriu os problemas.
Ele os descreve ao povo como sendo “uma miséria... um opróbrio” (v. 17).
2. Avaliação.
Depois de reunir as informações necessárias, Neemias desenvolveu um
conceito de como a reconstrução poderia ser feita. Alguém pode argumentar se,
após uma inspeção noturna dos muros danificados, Neemias poderia ter adquirido
todas as informações necessárias para reconstruí-los. A resposta é não! Mas apesar
de Neemias provavelmente não ter recebido todas as informações que precisava
para concluir a reconstrução, ele tinha o suficiente para ter formulado um plano
(capítulo 3).
Warren Wiersbe mais uma vez estava certo quando escreveu: “Neemias viu
mais à noite do que os moradores viram à luz do dia, pois ele viu o potencial, bem
como os problemas. É isso que faz um líder!”36 Para ter um plano exequível, não é
necessário obter toda a informação, mas é necessário ter a informação necessária
e, em seguida, formular um plano sábio. Neemias fez isso antes de falar ao povo de
Jerusalém.
19
3. Implementação
Neemias foi positivo, ele centrou-se na glória e grandeza do Senhor. Ele
tinha estado na cidade, apenas a alguns dias, mas falou de “nós” e “nós” e não
“você” e “eles”. Como fez em sua oração (1.6-7), ele se identificou com as pessoas e
suas necessidades. A cidade era um opróbrio para o Senhor (1.3, 4.4, 5.9), mas a
mão do Senhor estava com eles.
Os judeus responderam fortalecendo as mãos para a boa obra (v. 18). Eles
nem lembram a Neemias que o rei havia embargado a restauração no tempo de
Esdras (Ed 4).
A boa mão de Deus estava sobre o líder, e os seguidores “fortaleceram as
mãos” para o trabalho (Ne 2.8, 18). É preciso ambas as mãos da liderança e as
mãos dos cooperadores para realizar a obra do Senhor. Os líderes não podem fazer
o trabalho sozinhos, e os trabalhadores não podem realizar muito sem a liderança.
37
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 31.
38 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (26). Grand Rapids, Mich.:
BakerBooks.
20
Neemias sabia que o seu pedido exigiria a reversão de uma ordem do rei
Artaxerxes (Ed 4.7-23), e ele entendia que qualquer pedido para fortificar uma
cidade seria suspeito. Então, Neemias tratou o assunto como uma questão pessoal.
É interessante notar que, apesar de Neemias pedir permissão para
reconstruir os muros de Jerusalém, em nenhum momento ele menciona o nome da
cidade. Ele se referiu a ela como “a cidade onde estão os sepulcros dos meus pais” (v.
3) e “a cidade de Judá” (v. 5). É um ponto simples, mas de extrema sabedoria. Como
Dale Carnegie expressou: “Se você quer recolher o mel, não chute a colmeia”.39
Além disso, Neemias havia adquirido o respeito do rei através de sua
competência no trabalho. O questionamento do rei sobre o tempo que ele ficaria
em Jerusalém demonstra sua importância no palácio. Todo cristão deve ser uma
testemunha em seu emprego por seu caráter, competência e pelas suas palavras.
Neemias teve sucesso diante do rei, mas agora, ao chegar a Jerusalém, ele
enfrentou outros dois problemas: uma derrota na memória do povo e um grupo de
trabalhadores desencorajados.
39Dale Carnegie, How to win friends and influence People (New York: Simon & Schuster,
1963), 19.
21
Neemias mexe com o brio do povo. Desperta no coração do povo o
sentimento de patriotismo. Em seguida, convoca o povo para o trabalho. Neemias
os desafiou com a obra a ser feita: os motivou para a realização da tarefa, e os
encorajou com a segurança do sucesso.40 Neemias deve nos ensinar a combinar
sabedoria e tato com a verdade simples.
Felizmente, o povo aceitou a visão do seu líder e o seguiu. Eles estavam
prontos para reconstruir o muro. Mas lembre-se que nem todos ficarão felizes
quando você começar a fazer algo grande para Deus.
Quando você tenta coisas grandes e impossíveis para Deus, o inimigo estará
ali para rir, desprezá-lo, ridicularizá-lo e tentar destruir a sua fé.41 Sambalate era o
governador de Samaria, ao norte. Tobias, cujo nome é judeu (Jeová é bom),
governava os Amonitas, ao leste. Gesém era o líder dos árabes, ao sul. Todos eles se
opuseram a uma Jerusalém fortificada porque ameaçava a suas posições políticas.
Eles estavam descontentes (2.10), se uniram para ridicularizar o projeto e
acusaram o povo de rebelião contra o rei (2.19).
Se Jerusalém fosse reconstruída, haveria interferência na supremacia
econômica de Samaria. A estratégia de Sambalate era diminuir a autoestima,
enfraquecer a determinação e destruir a moral deles. Os críticos só agem em seu
próprio interesse.42
Neemias demonstra sabedoria ao lidar com estes inimigos. Ele enfrentou
corajosamente e desenhou a linha entre eles e o povo de Deus para que não
pudessem participar do projeto com o objetivo de sabotá-lo. Ele não usou o poder
político das cartas do rei, mas a influência espiritual: “O Deus do céu nos dará
sucesso” (2.20, NTLH).
Toda vez que o povo de Deus disser: “Vamos levantar e construir”, o inimigo
dirá: “Vamos levantar e detê-los”. Um líder piedoso deve ter o discernimento de
saber quando trabalhar com as pessoas e quando confrontá-las. Às vezes, os líderes
têm de negociar, mas há momentos em que os líderes devem desenhar uma linha e
defendê-la. Infelizmente, nem todo mundo concordou, em Jerusalém, com o seu
líder, alguns deles colaboraram com Sambalate, Tobias e Gesém.43
Todo líder enfrentará críticas. Só existe uma forma de não recebê-las: não
faça nada e não diga nada. Se você está fazendo a vontade de Deus, espere
oposição. Elogios e críticas vêm e vão. Agradar a Deus é tudo que importa.
Assim, para servir a Deus de forma realista, você deve aprender a esperar
em Deus e trabalhar com pessoas.
40
Cyril J. Barber, in Nehemiah and the dynamics of effective leadership (Neptune, NJ:
Loizeaux Brothers, 1976), 39.
41 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 2.19–20). James L. Fleming.
42
CATT, Michael. Vivendo corajosamente. São Paulo: Imprensa da Fé, 2012, p. 117.
43 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (33–34). Wheaton, Ill.: Victor Books.
22
Conclusão:
O povo de Jerusalém foi motivado pela sua cidadania terrena e respondeu,
como a história mostra, através da reconstrução dos muros de sua cidade. Mas nós
não apenas temos uma cidade, e sim uma pátria celestial (Fp 3.20). Temos orgulho
dessa cidadania? Somos motivados a trabalhar com entusiasmo para a expansão do
reino de Deus, aqui? Há trabalho a ser feito, muros a serem reconstruídos. Além
disso, o que construímos neste mundo, seja nosso caráter ou nossas boas ações,
durará para sempre (Ap 14.13).
Antes de concluir este estudo, devemos olhar um princípio final
demonstrado por Neemias. Ele disse aos seus inimigos “vós, todavia, não tendes
parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém” (v. 20). Pense sobre o que ele está
dizendo. Os poderes das trevas, representados por esses três homens que se
levantariam contra a reconstrução do programa físico ou espiritual, não têm
nenhum direito legal no passado, presente ou futuro dentro do Reino de Deus (veja
Cl 2.13-15).44
Portanto, você não tem que sucumbir às acusações de Satanás e suas
mentiras. Se você é filho de Deus, o Eterno fará com que você tenha sucesso em sua
jornada. Não desista dos seus sonhos!
44 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 2.19–20). James L. Fleming.
23
Mãos à obra!
[Estudo 3 – Ne 3.1-32]
I. A visão
“Então, disseram: Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as
mãos para a boa obra” (Ne 2.18)
1. O mesmo propósito.
A tarefa dos trabalhadores era específica e mensurável: restaurar os muros
em torno de Jerusalém para fornecer uma defesa contra seus inimigos. Neemias
45 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 3.1–32). James L. Fleming.
46 MacArthur, J. (2001). Nehemiah: experiencing the good hand of God. MacArthur Bible
studies (28). Nashville, TN: W Publishing Group.
47 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (41). Grand Rapids, Mich.:
BakerBooks.
24
dividiu os muros em indivíduos e grupos diferentes. Utilizou pessoas diferentes, de
profissões diferentes e de graus culturais diferentes para a restauração. O capítulo
3 pode ser dividido em três partes: 1. A expressão junto a ele (3.1-15); 2. A
expressão depois dele (3.16-31); 3. A expressão entre (3.32).48
Ao analisar os escombros em Jerusalém durante três dias (Ne 2), Neemias
foi capaz de elaborar uma estratégia para que o trabalho fosse iniciado e concluído
com sucesso. Ele sabia onde cada pessoa ou grupo trabalharia, e designou os
homens de Tecoa, Jericó, Mispa, entre outros, para a restauração dos muros.
Isso é maravilhoso, pois cada pessoa sabia onde deveria estar. Sabia,
também, qual era a responsabilidade de reconstruir sua parte do muro desde o
alicerce, enquanto outros tiveram apenas de fazer reparos.49 Ou seja, tinham a
mesma visão. Em todo o trabalho havia coordenação de esforços.
2. A mesma causa.
Há trinta e oito nomes mencionados neste capítulo. Isso significa que
Neemias teve ampla ajuda dos moradores de Jerusalém. Nenhum grupo ou
indivíduo pode fazer todo o trabalho; mas sim, o trabalho de restauração dos
muros foi compartilhado por numerosos indivíduos. Neemias nos mostra que
todos são importantes e necessários para completar a obra.
Este capítulo é um belo exemplo do que a igreja pode fazer quando se
trabalha em conjunto, quando se está unido com o mesmo propósito e a mesma
causa: o reino de Deus. As palavras de Jesus em Sua oração sacerdotal devem ser a
força motivadora para todo o ministério cristão: “Eu te glorifiquei na terra,
consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo 17.4). Deus tem uma tarefa
especial para cada um de Seus filhos (Ef 2.10), e quando fazemos essa tarefa em
humildade e fidelidade, glorificamos o Seu nome.
A reconstrução dos muros e a fixação das portas também significavam
proteção e segurança para as pessoas. Todavia, ao longo dos anos, os cidadãos
tinham se acostumado com a situação. Como muitos crentes na igreja, eles se
contentaram em viver o status quo. Então Neemias chegou ao local e os desafiou a
reconstruir a cidade para a glória de Deus.50
A cooperação obtida por Neemias demonstra até que ponto ele pôde unir
tão diversificado grupo.51 Todos que trabalharam tinham um objetivo comum e a
mesma visão. Isto é, os membros da equipe completam-se uns aos outros – jamais
competem uns com os outros.52
Hoje as pessoas estão desesperadas por líderes verdadeiros na política, nos
negócios e na igreja. Onde aprender a escolher e ser o que nós e tantos outros
desejamos? Neemias é um excelente livro sobre liderança.
48 Irmão André, Edificando um mundo em ruínas. São Paulo: CPAD, 2009, 119-120.
49
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 44.
50 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (37). Wheaton, Ill.: Victor Books.
51
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 46.
52
MAXWELL, John. 21 minutos de poder na vida de um líder. Rio de Janeiro: Thomas Nelson
Brasil, 2007, p. 212.
25
II. A missão
1
Então, se dispôs Eliasibe, o sumo sacerdote, com os sacerdotes, seus
irmãos, e reedificaram a Porta das Ovelhas; consagraram-na,
assentaram-lhe as portas e continuaram a reconstrução até à Torre dos
Cem e à Torre de Hananel. 2 Junto a ele edificaram os homens de
Jericó; também, ao seu lado, edificou Zacur, filho de Inri.
26
correta e encorajamento. Neemias também se destacou nesta área, mesmo que
estivesse lidando com um povo desencorajado, que tivera uma história de
derrota.55
Segundo J. Packer “... todo líder verdadeiro é um mestre da motivação”.56
Motivação é a chave para a produtividade. Uma maneira sábia que Neemias
utilizou a fim de motivar as pessoas foi fazer com que muitos grupos trabalhassem
sobre a parte dos muros que tinham particular interesse. Os sacerdotes
trabalharam na Porta das Ovelhas (3.1), onde as pessoas levavam os sacrifícios
para o templo. O portão ficava perto da área do templo, por isso o interesse dos
sacerdotes. Outros repararam os muros em frente dos seus próprios lares (3.10,
23, 28-30). Muitos foram designados para (ou escolheram) partes dos muros de
Jerusalém na frente ou junto às suas casas. O judeu Jedaías trabalhou na parte do
muro “... defronte de sua casa; e, ao seu lado” (v. 10), Benjamim e Hasube repararam
“... defronte de sua casa” (v. 23), e Azarias reparou “... junto a sua casa” (v. 23), e
assim por diante. Isto seria conveniente para tudo, até mesmo para não perder
tempo ao sair para almoçar em casa. Eles tinham um incentivo especial para fazer
um bom trabalho! Uma pessoa faria o melhor trabalho e deixaria a parte do muro
mais fortalecida, onde a sua própria casa precisasse ser protegida.
James M. Boice estava certo quando escreveu: “A melhor gestão reconhece
um elemento de auto-interesse, mesmo nos melhores trabalhadores e até nos
projetos mais altruístas”.57 Warren Wiersbe, sabiamente comentando sobre esses
versos, declarou que, “Se todos nós seguíssemos este exemplo, os nossos bairros e
cidades estariam muito melhor! Claro, há uma lição espiritual aqui: o serviço
cristão começa em casa”.58
BakerBooks.
56 Packer, J. I. (1995). A passion for faithfulness: wisdom from the book of Nehemiah.
BakerBooks.
58 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined (41). Wheaton, Ill.: Victor Books.
59 Packer, J. I. (1995). A passion for faithfulness: Wisdom from the book of Nehemiah.
27
B. Um líder deve supervisionar.
Delegar não significa abandonar o trabalho. Ao designar as tarefas, Neemias
inspecionou o andamento, conversando com seus líderes, ajudando-os a manter as
coisas em ordem e na direção correta. Em 3.20, ele observa que Baruque reparou
“com grande ardor” uma parte do muro. Aparentemente, Neemias sabia não só o
que estavam fazendo, mas também como eles estavam fazendo. Baruque fez um
trabalho excepcional.
60 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1983-). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 3.28–32). Wheaton, IL: Victor Books.
61 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (47). Grand Rapids, Mich.:
BakerBooks.
62
CATT, Michael. Vivendo corajosamente. São Paulo: Imprensa da Fé, 2012, p. 122.
28
distância. Assim que pode, o capitão deixou os homens em segurança e foi à vila e
encontrou o soldado passeando em um belo jardim. Ele foi submetido a corte
marcial e sua única defesa foi: “Mas eu não estava fazendo nada!” Isso,
naturalmente, era o motivo de sua convicção de que em um momento de conflito,
ele estava totalmente indiferente às ordens de seu superior.63
Lamentavelmente, os soldados e desertores, trabalhadores e preguiçosos,
estão conosco hoje. Você é como os nobres de Tecoa, que queriam os benefícios de
uma Jerusalém reconstruída, mas se recusam a se envolver no trabalho do Senhor?
III. Os valores
Para cumprir o propósito de Deus, precisamos de trabalhadores dispostos a
fazer a sua parte. As pessoas ouviram a visão de Neemias e lhe responderam:
“Vamos levantar e construir” (2.18). Trabalhando juntos, conseguiram o que
ninguém poderia ter realizado individualmente.
63 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 3.1–32). James L. Fleming.
29
Infelizmente, hoje temos que concordar com a afirmação de James M. Boice:
“... as igrejas se assemelham, mais do que qualquer outra coisa, a um jogo de
futebol em um grande estádio. Há oitenta mil espectadores nas arquibancadas que
precisam de muito exercício, e há vinte e dois homens no campo que precisam
muito de um descanso.64
Conclusão:
Quando se trata da obra do Senhor, não há lugar para espectadores,
conselheiros ou críticos. Mas há sempre espaço para os trabalhadores.66 O povo
trabalhou com disposição, zelo e coragem. Como resultado, os muros foram
restaurados em 52 dias (6.15). O que parecia impossível tornou-se realidade.
O trabalho do Senhor requer o envolvimento de todos os tipos de pessoas
de diferentes esferas da vida. Quando olhamos para Neemias, capítulo 3,
descobrimos que indivíduos de todas as esferas da vida estavam lá para ajudar
(sacerdotes, ourives, boticários, comerciantes, entre outros).
Os trabalhadores também surgiram de diferentes partes da Judéia. Alguns
de Jerusalém (v. 1), homens de Jericó (v. 2), Tecoa (v. 5) e Gibeão, assim como de
30
outros lugares, como Mispa e Bete-Zur.67 Este foi um trabalho que exigiu todo o
povo de Deus, independentemente de onde eles viviam.
Além disso, homens e mulheres se juntaram ao trabalho (Ne 3.12). Isso nos
ensina que todos são necessários. Não importa de onde somos. Não importa se
homens ou mulheres. Não importa o tipo de trabalho. Todos são necessários na
edificação da obra do Senhor.
Os muros separam e protegem as pessoas. Essa é a razão pela qual eles são
construídos. A Grande Muralha da China foi construída para impedir a entrada de
tribos saqueadoras. Em contraste, o Muro de Berlim, na Alemanha, mantinha as
pessoas separadas por questões econômicas, ideológicas e políticas. No entanto, a
reconstrução dos muros de Jerusalém serviu para unir as pessoas. Além de
oferecer proteção, esse muro foi uma demonstração do trabalho em equipe. Todos
estavam juntos com seus dons e talentos, estavam unidos para realizar muito mais
do que poderia ser feito individualmente.
Deve ser assim na igreja, hoje. Nossos dons e talentos são presentes de Deus
e devem ser utilizados para a edificação do Seu reino. Trabalhamos melhor quando
trabalhamos juntos.
Com demasiada frequência, a igreja transmite a mensagem equivocada de
que precisa de voluntários para servir a Jesus. O problema com essa visão é que se
você pode escolher servir, então você também pode optar por não servir ou deixar
de servir se o trabalho não está do seu agrado. Mas um recruta não tem escolha. Se
você já passou pelo exército você sabe muito bem o que significa ser chamado para
servir. Você pode não gostar da comida, você pode não gostar dos dormitórios,
você pode não gostar do acampamento na selva, mas, você teve que servir de
qualquer maneira, porque você estava debaixo das ordens do seu comandante.
De forma semelhante, é assim que os cristãos devem ver a si mesmos. Se
Cristo comprou a sua vida com o Seu sangue derramado na cruz, você pertence a
Ele como Seu escravo. Escravos não escolhem servir. Se o serviço não é agradável
ou divertido, ele não tem o direito de abandoná-lo.
Em uma escala de 1 a 10, que nota você dá para o seu envolvimento na vida
e ministério de sua igreja? Você é um trabalhador incansável ou um expectador de
braços cruzados?
O que impede você de um maior grau de envolvimento na vida e ministério
de sua igreja?
67 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 3.1–32). James L. Fleming.
31
Deus pelejará por nós
[Estudo 4 – Ne 4.1-23]
Este ciclo mostra que a vida cristã é uma guerra contínua. Enquanto o povo
em Jerusalém estava acomodado com a situação da cidade, o inimigo os deixou
sozinhos; mas quando os judeus começaram a servir ao Senhor, o inimigo tornou-
se ativo.69
Como lidar com a oposição e como vencer o inimigo? A primeira defesa
contra o inimigo é estar ciente dos tipos de ferramenta que ele usa. Vamos olhar
primeiro para as várias formas de oposição, e depois para a forma como devemos
responder a cada uma delas.
68 Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 illustrations: signs of the times. Garland, TX: Bible
Communications, Inc.
69 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (46). Wheaton, IL: Victor
Books.
32
I. É impossível fazer a obra de Deus sem oposição
1
Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira, e
se indignou muito, e escarneceu dos judeus. Obra num só dia?
Renascerão, acaso, dos montões de pó as pedras que foram
queimadas?
1. Ira e indignação.
“Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se
indignou muito, e escarneceu dos judeus...” (v. 1) – Sambalate, o governador de
Samaria, ficou irado e indignado (4.1, 7). A expressão “ardeu em ira” significa
“tornar-se furioso ou inflamar-se”.70 Uma Jerusalém segura e independente seria
uma ameaça ao seu domínio e minaria o seu controle sobre a rota de comércio com
a região; assim prejudicaria sua economia.71
Um inimigo comum e uma causa comum fizeram com que quatro grupos
diferentes se unissem para atrapalhar o trabalho dos muros de Jerusalém. A cidade
estava completamente cercada por inimigos! Ao norte estavam Sambalate e os
samaritanos, ao leste, Tobias e os amonitas, ao sul, Gesém e os árabes, ao oeste, o
asdoditas (v. 7).
Você já observou que as pessoas do mundo não têm nenhuma dificuldade
em se unir em oposição à obra do Senhor (Sl 2.1-2, At 4.23-30, Lc 23.12)? Mas, às
vezes, o povo de Deus tem muitas dificuldades em trabalhar unido!
Quando os inimigos viram e ouviram que o trabalho estava progredindo,
ficaram irritados e planejaram um ataque secreto contra Jerusalém. Se a ira não
parar o trabalho, Satanás utilizará outra ferramenta.
2. Zombaria e sarcasmo.
“Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se
indignou muito, e escarneceu dos judeus...” (v. 1) – Além de ficar irado,
Sambalate escarneceu os judeus. A palavra hebraica para “escarnecer” significa
“gaguejar ou balbuciar”.72 Os inimigos continuaram repetindo seus comentários
negativos, esperando desencorajar o povo e sua obra. Chuck Swindoll escreveu:
“Parte dos requisitos implícitos que um líder deve ter para um emprego é a
habilidade de lidar com a crítica. Faz parte do pacote da liderança. Se nunca for
criticado, é possível que você nunca consiga realizar algo”.73
A maneira mais fácil de se opor a algo que não gostamos é ridicularizá-lo, e
esta é a primeira coisa que Sambalate e Tobias fizeram. Eles e seus amigos fizeram
várias perguntas sarcásticas (4.2). É a arma mais antiga do inimigo. O crítico e
escritor escocês Thomas Carlyle chamou a zombaria de “a língua do diabo”.74
70 Strong, J. (2009). Vol. 2: A concise dictionary of the words in the greek testament and the
hebrew Bible (43). Bellingham, WA: Logos Bible Software.
71 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: An expositional commentary (50–51). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
72 Strong, J. (2009). Vol. 2: A concise dictionary of the words in the greek testament and the
33
Muitos personagens das Escrituras experimentaram o peso e a dor do escárnio.
Golias zombou de Davi quando viu apenas um estilingue em sua mão (1Sm 17.41-
47). Jesus foi zombado pelos soldados durante o seu julgamento (Lc 22.63-65), e
pela multidão, enquanto estava pendurado na cruz (23.35-37); e alguns dos heróis
da fé tiveram de suportar a zombaria (Hb 11.36). No entanto, escreveu Warren
Wiersbe, acertadamente, “nunca devemos esquecer de que, quando o inimigo ri do
povo de Deus, geralmente é um sinal de que Deus vai abençoar o Seu povo de uma
forma maravilhosa”.75 Quando os inimigos se enfurecem na terra, Deus ri no céu (Sl
2.4).
Se a crítica não funcionar, os inimigos utilizarão outra ferramenta. Os
oponentes de Neemias ficaram furiosos e resolveram combater o trabalho o tempo
todo (4.7-8).
3. Ameaças e intimidações.
“Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isso? Sacrificarão?
Darão cabo da obra num só dia? Renascerão, acaso, dos montões de pó as
pedras que foram queimadas?” (v. 2) – Os inimigos de Neemias tinham que ter
cuidado, pois os judeus estavam trabalhando com a permissão do rei Artaxerxes.
Eles não podiam simplesmente reunir as suas tropas e marchar contra Jerusalém,
ou seriam acusados de oposição ao rei. Mas, eles fizeram ameaças de violência (4.8,
11), que circularam entre os judeus que viviam perto deles (4.12). Assim, como os
militantes muçulmanos, hoje, a ameaça terrorista colocou os judeus sob intensa
pressão psicológica.
Satanás ainda usa ameaças sutis, ou ostensivas, de intimidação para oprimir
os cristãos. “Se você não ficar quieto sobre a corrupção do chefe, você vai ser
demitido”. Anos atrás, uma igreja evangélica em Phoenix, nos Estados Unidos, teve
um poderoso advogado e membro do Conselho envolvido em um caso
extraconjugal. Quando os Presbíteros o confrontaram e lhe disseram para
abandonar o cargo, ele os ameaçou com um processo que levaria a igreja à falência
com os honorários advocatícios, mesmo se eles ganhassem a causa. Ele finalmente
concordou em deixar o cargo se todos os presbíteros também renunciassem.
Infelizmente, a igreja cedeu diante das ameaças!
4. Desânimo e cansaço.
Aparentemente havia um provérbio ou música desanimadora que circulava
entre os trabalhadores neste momento: “Os carregadores já estão cansados, e
ainda há muito entulho para carregar...” (4.10) – As pessoas estavam cansadas e
os escombros não diminuíam.
O desânimo é uma arma fundamental no arsenal de Satanás. Foi o desânimo
que impediu Israel de entrar na Terra Prometida em Cades-Barnéia (Nm 13). “Nós
não somos capazes de ir contra o povo, porque eles são mais fortes do que nós” (v.
31). Os dez espias incrédulos “... desencorajaram o coração dos filhos de Israel”
(32.9), e como resultado, a nação vagou no deserto quarenta anos até que a nova
geração estivesse pronta para conquistar a terra.
75Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (50). Wheaton, IL: Victor
Books.
34
A história é contada do dia em que o diabo realizou um leilão. Ele colocou
algumas de suas ferramentas à venda em um leilão público. Quando os possíveis
compradores se reuniram, uma ferramenta estranha tinha um rótulo diferente com
a seguinte inscrição: “Não está à venda!” Perguntado a respeito, o diabo respondeu:
“Eu posso dispensar ou trocar todas as minhas ferramentas, exceto essa. Ela é a
mais útil de todas. Eu a chamo “Desânimo”, e com ela eu posso trabalhar em
corações geralmente inacessíveis. Com essa ferramenta eu penetro a mente de uma
pessoa, o que não conseguiria com nenhuma outra; consigo plantar qualquer coisa
que queira. O desânimo suscita dúvida; a dúvida leva à derrota; a derrota ao
desalento; o desalento à depressão; a depressão à destruição. Tudo o que eu
preciso é essa única ferramenta, o desânimo, para trabalhar a minha maneira na
vida das pessoas”.
Note que o inimigo ataca, muitas vezes, quando estamos fracos (v. 10).
Nesse momento de fraqueza, podemos facilmente nos tornar desanimados.76
5. Negativismo.
“Quando os judeus que habitavam na vizinhança deles, dez vezes, nos
disseram: De todos os lugares onde moram, subirão contra nós” (v. 12) – A
crítica e a zombaria (4.2-3) surgiram do inimigo. Mas este negativismo veio dos
próprios judeus que viviam perto deles (4.12). Essas pessoas não estavam
envolvidas no trabalho da restauração do muro. Isso é significativo! Eles viviam
perto do inimigo e, assim, estavam constantemente expostos aos seus ataques
negativos sobre o trabalho. Deste modo, estavam ouvindo relatos negativos e
ameaças e não ficaram sabendo, em primeira mão, o que Deus estava fazendo em
Jerusalém. Eles vieram repetidamente (“dez vezes” é uma expressão que significa
em hebraico “muitas vezes”) para avisar Neemias e aqueles que trabalhavam nos
muros.77
Sentimentos negativos destroem nossa confiança. Porém, precisamos
entender que nossa preocupação com dada situação não fará com que ele
desapareça. Cyril Barber estava certo ao escrever: “A ansiedade nunca tira a
tristeza do amanhã; só tira a força do hoje”.78
Invariavelmente, o negativismo na igreja surge a partir de cristãos
professos que vivem perto do inimigo e não estão envolvidos na obra do Senhor.
Tal negativismo é o inimigo da fé. “Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque
são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos
e assim também o éramos aos seus olhos” (Nm 13.28-29, 31-33).
Neemias não ignorou o perigo, mas se tivesse escutado esses profetas do
desânimo, ele nunca teria terminado o muro.
6. Medo.
“... inspecionei, dispus-me e disse aos nobres, aos magistrados e ao resto
do povo: não os temais...” (v. 14) – O medo é o efeito cumulativo de todos os
fatores acima. As pessoas haviam visto a ira do inimigo e tinham ouvido suas
76 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 4.10). James L. Fleming.
77 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (54–55). Wheaton, IL:
Victor Books.
78
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 59.
35
constantes ameaças. Eles estavam trabalhando à exaustão. Em seguida,
repetidamente ouviram a melancolia e a tristeza de seus companheiros Judeus que
viviam perto do inimigo. Neemias identificou o medo e os exortou a não temerem.
Satanás usa o medo para paralisar o povo de Deus de realizar algo
significativo para o Senhor. Foi um ponto crítico no projeto, e as pessoas
provavelmente teriam abandonado o trabalho se não fosse por Neemias. Ele estava
orando, sabia da força desta ameaça; também sabia de suas limitações. Acima de
tudo, ele sabia que a força de Deus estava do seu lado.79
Essas são algumas das táticas que Satanás usa para se opor ao trabalho de
Deus. Entretanto, como devemos responder a essa oposição? O restante do
capítulo quatro é um relato detalhado de como Neemias respondeu às ameaças dos
inimigos.
Sempre que você encontrar oposição, você têm várias opções. Você pode
abandonar o que estava fazendo, boa parte das pessoas tomam essa atitude! Você
pode tentar elaborar um acordo, ou enfrentar a oposição e continuar trabalhando.
A última abordagem é a única atitude biblicamente correta. Neemias decidiu
enfrentar seus adversários. Sua atitude pode ser dividida em quatro aspectos: eles
clamaram a Deus em oração, colocaram seus corações no trabalho, eles
mantiveram os olhos sobre o inimigo em constante vigilância, e eles mantiveram
suas mentes focadas no Senhor, com fé.
Books.
36
lo ser o árbitro da disputa e o juiz dos “adversários” dos judeus. “Caia o seu
opróbrio sobre a cabeça deles...” (v. 4). Além disso, ele pediu a Deus para que os
seus inimigos fossem “despojados numa terra de cativeiro” (v. 4).
A oração eficaz e sincera restaura a nossa perspectiva e nos dá respostas
positivas em vez de emoções negativas. A oração sincera faz brotar em nosso
coração a esperança; a esperança nos dará confiança renovada; e o resultado será
um novo surto de ânimo.81
Apesar de tudo, Neemias continuou com o trabalho. Tendo em vista que ele
havia deixado as provocações de seus inimigos com Deus, não precisava mais se
preocupar com eles e poderia continuar com a tarefa que Deus lhe dera. O que ele
diz é maravilhoso: “Assim, edificamos o muro, e todo o muro se fechou até a metade
de sua altura; porque o povo tinha ânimo para trabalhar” (v. 6).
Neemias nos ensina que a oração é a coisa mais prática que podemos fazer
na crise, mas também que ela não é um substituto da ação.82 A maneira como
reagimos às críticas revelará se temos coragem ou se estamos intimidados. As
palavras doeram, mas não produziram o menor tremor de indecisão, somente
indignação.83 A oração deve ser a nossa primeira resposta à oposição.
81
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 59.
82 LOPES, Hernandes Dias. Neemias, o líder que restaurou uma nação. São Paulo: Editora
37
Entretanto, é importante observar que a oração de Neemias não fez com
que o inimigo fosse embora: ao contrário, o inimigo aumentou as ameaças! Orar
não significa que você deve ignorar as ameaças do inimigo ou fingir que eles não
existem. Neemias colocou em prática um sistema de alerta, de modo que onde a
trombeta fosse tocada, os trabalhadores rapidamente deveriam se reunir e
defender suas famílias e a cidade (v. 19-20). Os trabalhadores não tiravam nem a
roupa durante a noite para que estivessem sempre prontos para defender a cidade
(v. 23). Vigilância!
No entanto, muitos cristãos estão alheios aos ataques do nosso adversário, o
diabo, que anda como um leão que ruge, buscando nos devorar (1Pe 5.8). Se você
não quer ser vítima do inimigo, você tem que definir uma estratégia de defesa. A
Bíblia possui muitos exemplos de homens e mulheres que não vigiaram e caíram
diante das armadilhas do inferno. Sansão caiu não diante de um exército inimigo,
mas no colo de uma mulher (Jz 13-16). Davi não perdeu a batalha mais importante
de sua vida no campo de guerra contra seus inimigos, mas na cama do adultério.
Devemos permanecer alertas, vigiar, orar e nos manter firmes. Precisamos
ser fortes quando as pessoas tentam nos derrubar ou impedir o trabalho que
estamos fazendo. Quanto maior o progresso do trabalho do Senhor, maior a crítica.
Quanto mais bem-sucedido o trabalho, mais intensos são os ataques.84
84CATT, Michael. Vivendo corajosamente. São Paulo: Imprensa da Fé, 2012, p. 119.
85 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (56–57). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
86 Packer, J. I. (1995). A passion for faithfulness: wisdom from the book of Nehemiah.
38
Neemias não só organizou os trabalhadores e guardas e os encorajou a
confiar no Senhor, mas também definiu o tipo certo de exemplo diante deles (v.
23). Ele era um líder que servia e um servo que liderava. Ele permaneceu no
emprego e estava alerta em todos os momentos.87 Ele inspecionava as defesas da
cidade todas as noites e se certificava de que os guardas estavam de plantão (v.
14).
Conclusão:
Cyril Barber, acertadamente, declarou que: “Foi a fé que tirou Neemias do
vale do desespero e transladou seus esforços em façanhas nobres. Sua fé gerou
confiança. Sua confiança inspirou a outros. O segredo do sucesso de Neemias pode
ser nosso.89 Como disse o apóstolo João: “Esta é a vitória que venço o mundo, a
nossa fé” (1Jo 5.4).
E quando o desânimo chegar? Como lidar com o desânimo? Alguém, certa
vez, perguntou ao pregador Charles Haddon Spurgeon se ele nunca ficou
desanimado. Ele disse: “Não nos últimos 20 anos, eu acho”. Quando perguntado
como ele explicava isso, disse, “Porque não passo 15 minutos sem pensar em
Cristo” (Hb 12.3).
Um ministro desanimado certa vez sonhou que estava em pé, no topo de
uma grande rocha de granito, tentando quebrá-la com uma picareta. Ele trabalhou
várias horas sem nenhum resultado. Por fim, disse: “É inútil, vou parar”.
87 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (57). Wheaton, IL: Victor
Books.
88 Carson, D. A., France, R. T., Motyer, J. A., & Wenham, G. J. (Orgs.). (1994). New Bible
commentary: 21st century edition (4th ed., p. 435). Leicester, England; Downers Grove, IL:
Inter-Varsity Press.
89 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 59.
39
De repente, um homem que estava ao seu lado, perguntou: “Você não
recebeu esta tarefa? Então, por que você vai abandoná-la?”
“Meu trabalho é em vão, eu não consigo causar nenhum arranhão sobre o
granito”, foi a resposta do ministro.
Em seguida, o estranho, solenemente, respondeu: “Seu dever é bater na
rocha, e não ficar preocupado com os resultados. O trabalho é seu, os resultados
estão nas mãos de outros; trabalhe!”
Em seu sonho, o ministro voltou ao trabalho, e em seu primeiro golpe a
pedra voou em centenas de pedaços.
Não permita que o desânimo tome conta do seu coração. Não permita que
pensamentos ou palavras negativas tirem a sua paz e, principalmente, os seus
olhos do Senhor. São aqueles que conhecem a Deus que são capazes de manter o
controle diante da oposição e do desânimo, e eles podem fazer isso por causa do
que está em seu coração. Para onde você olha quando fica desanimado? Quem você
ouve? Quando olhamos para o Senhor nada mais importa!
40
Resolvendo conflitos internos
[Estudo 5 – Ne 5.1-19]
90
Packer, J. I. (1995). A passion for faithfulness: wisdom from the book of Nehemiah.
Wheaton, IL: Crossway Books.
91 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (57). Wheaton, IL: Victor
Books.
92 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (57–59). Wheaton, IL:
Victor Books.
41
O primeiro grupo a reclamar foram os mercadores e trabalhadores
(Ne 5.2). Embora os moradores houvessem retornado para Jerusalém muitos anos
antes, eles ainda estavam cercados de problemas econômicos. Devemos lembrar
que aqueles que estavam trabalhando nos muros eram, em sua maioria,
agricultores que haviam deixado suas terras para cooperarem com a obra. E não
havia ninguém para cuidar de suas plantações. Agora, sem fonte de renda, já não
podiam sustentar os que dependem deles. Seus recursos foram usados. A situação
que enfrentaram era negra. Não havia saída do impasse, a não ser que recebessem
ajuda de fora.93 Apesar de terem penhorado os filhos, esse grupo ainda não tinha
comida.
93
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 70.
94 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (59). Wheaton, IL: Victor
Books.
95 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 5.1–5). Wheaton, IL: Victor Books.
42
comemorado de 50 em 50 anos, em Israel. Nesse ano a terra não era cultivada;
todas as terras vendidas ou confiscadas eram devolvidas aos seus donos
anteriores; e todos os escravos eram libertados (Lv 25.8-55; 27.16-25).96 Além
disso, no quinquagésimo ano, todas as dívidas tinham de ser perdoadas.97
Além das questões apontadas nos vv. 2-4, o v. 5b indica que muito
provavelmente as jovens eram abusadas sexualmente por aqueles a quem elas
tinham sido entregues como penhor.98 “... e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas
filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão reduzidas à escravidão”
(v. 5). A palavra “sujeitar” (kābaš, em hebraico), é usada no sentido de
forçar/violentar sexualmente [em Ester 7.8]. O desespero dos pais diante dessa
situação humilhante de suas filhas é que eles não podiam fazer mais nada.
A atitude de Neemias diante desse problema foi uma demonstração de
verdadeira liderança.
“... Vocês estão explorando os seus irmãos!” (v. 7, NTLH) – Os judeus ricos
estavam cobrando juros de seus irmãos que estavam precisando,
desesperadamente, de uma ajuda financeira somente para colocar comida na mesa.
96 Kaschel, W., & Zimmer, R. (1999). Dicionário da Bíblia de Almeida 2ª ed. Sociedade Bíblica
do Brasil.
97 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (59–60). Wheaton, IL:
Victor Books.
98 TÜNNERMANN, Rudi. As reformas de Neemias. São Paulo: Editora Sinodal, 2001, p. 148.
99 Franky Schaeffer. A time for anger: the myth of neutrality. Westchester, Ill.: Crossway
43
Moisés instruiu os israelitas como tratar um irmão com dificuldades financeiras:
“Se você emprestar dinheiro a algum pobre do meu povo, não faça como o agiota, que
cobra juros” (Êx 22.25, NTLH).
44
Alguns pensam que Neemias (5.10) está admitindo seu próprio passado
falho ao emprestar dinheiro a juros aos seus compatriotas judeus (com base no
plural “vamos deixar de fora a usura”), porém, ao que tudo indica, ele está apenas
usando o plural para se identificar com estes homens. Neemias havia emprestado
dinheiro de acordo com a Lei, sem cobrança de juros. Ele, na verdade, está
apelando aos homens ricos para se juntarem a ele para fazerem o mesmo. Em
seguida, suplica aos nobres e magistrados para restituírem as terras, vinhas, olivais
e suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite,
que exigistes deles (v. 11).
Há muitos líderes cristãos que têm medo de enfrentar aqueles que falharam,
seja em particular ou em público. Esse temor aumenta quando a pessoa é rica e
poderosa. Mas devemos seguir o exemplo de Neemias de confrontar aqueles que
estão em pecado. Neemias exibiu a ira adequada e domínio próprio. Sua raiva lhe
deu a coragem para enfrentar aqueles que estavam errados.
101 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (65). Wheaton, IL: Victor
Books.
102 Henry, M. (1994). Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: Complete and
p. 18.
45
não têm noção de estar sob a autoridade espiritual: “Lembrai-vos dos vossos guias,
os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua
vida, imitai a fé que tiveram” (Hb 13.7).
104
TÜNNERMANN, Rudi. As reformas de Neemias. São Paulo: Editora Sinodal, 2001, p. 160.
46
Em terceiro lugar, ele foi generoso e pronto para compartilhar (5.17-
18).
Todos eles participaram da reconstrução do muro (v. 16). Eles não eram
assessores que, ocasionalmente, saíam de suas torres de marfim, mas
trabalhadores que estavam com as pessoas na reconstrução da defesa da cidade.
Jesus disse: “Eu estou entre vocês como quem serve” (Lc 22.27), e Neemias e seus
assessores tiveram a mesma atitude.
Ele menciona a Deus em oração não porque achava que tinha que
merecer qualquer favor de Deus, como uma dívida, mas para
mostrar que ele não olhava para nenhuma recompensa da
generosidade dos homens, mas dependia apenas de Deus para dar
até mesmo o que ele tinha perdido, o favor de Deus era o
suficiente.105
105 Henry, M. (1994). Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: Complete and
unabridged in one volume (Ne 5.14–19). Peabody: Hendrickson.
106
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 84.
47
Conclusão:
Poderíamos nos perguntar: “Por que Deus incluiu este capítulo sobre os
conflitos internos dos judeus?” Talvez a melhor resposta seja esta: conflitos não
resolvidos e lutas internas causarão mais danos para a restauração dos muros em
Jerusalém, do que poderiam fazer os inimigos Sambalate e Tobias.
O capítulo 5 de Neemias é um grande incentivo para resolver os conflitos na
igreja, com sucesso. Problemas não resolvidos podem trazer terríveis
consequências. Às vezes guardamos mágoas em nosso coração, ressentimentos que
duram anos e nenhum bem trazem à nossa saúde. As decepções armazenadas ao
longo dos anos servem apenas para destruir nossas forças, fomentar intrigas e
privar-nos da alegria de viver em paz e harmonia.
Lidar com a amargura é algo extremamente sério. Alguém, sabiamente,
declarou: “... não devemos magoar o coração de uma pessoa, afinal de contas,
podemos estar dentro dele!”
Você teria a coragem de usar a mesma leiteira do dia anterior para ferver o
leite, sem antes lavá-la? O leite certamente ficaria azedo. O mesmo acontece com o
nosso coração quando permitimos que amargura crie raízes. Nosso coração azeda,
bem como nossas palavras.
Existem pessoas com as quais você tem “alguma coisa contra”, em sua
igreja? Como podemos “andar no temor do nosso Deus” no meio do conflito?
Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (68). Wheaton, IL: Victor
107
Books.
48
C u i d a d o c o m o s i n i m i go s
[Estudo 6 – Ne 6.1-19]
108 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 6.1–4). James L. Fleming.
49
Satanás ainda usa todos os tipos de apelos aparentemente inocentes para
atrair crentes em uma armadilha. Ele não está brincando: ele quer devorar você
(1Pe 5.8).
Observe como o apóstolo Paulo enfrentou a forte oposição dos judaizantes.
Aqueles homens alegavam crer em Jesus como Senhor e Salvador. Acreditavam que
Ele era o Messias. Por que, então, Paulo se opôs a eles? Porque eles disseram que,
além de crer em Jesus, o gentio tinha que ser circuncidado para ser salvo. E Paulo
disse: “Seja anátema” (Gl 1.8, 9). Paulo declarou que, ao acrescentar qualquer obra
humana, o indivíduo está separado de Cristo, caiu da graça (Gl 5.4). O objetivo de
Satanás é destruir o povo de Deus através do engano sutil. Cuidado com as ciladas
do inimigo. Ele é “o pai da mentira” (Jo 8.44).
“Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer...” (v. 3) –
Ele não estava sendo arrogante. Ele sabia que o que estava fazendo era
extremamente importante. Sabia que os muros ainda não estavam concluídos, eles
estavam sem as portas. Muros sem portas são ineficazes contra os inimigos. Sua
prioridade era terminar a reconstrução. Ele não permitiu que uma reunião
desnecessária com o inimigo o distraísse do seu objetivo.
109 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 86.
110 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 6.1–4). Wheaton, IL: Victor Books.
50
A maior defesa de um homem é a obra que ele está fazendo.111 Se um líder
reage constantemente aos ataques dirigidos a si, não consegue trabalhar e não
conseguirá cumprir o seu objetivo.
Como crentes, a nossa prioridade é glorificar a Deus (Mt 6.33). Tudo o que
nos afasta desta prioridade é um truque do diabo. Ao nos distrair com outras
coisas, mesmo boas coisas, cedemos aos esquemas do inimigo.
Um líder deve saber dizer não. Algumas pessoas não conseguem fazer isso.
Seja por causa da própria insegurança ou do desejo desequilibrado de sempre
agradar aos outros. No entanto, Neemias teve a coragem de dizer “não” quatro
vezes.
A intriga de Sambalate, Tobias e Gesém, não produziu os resultados
desejados. E assim, eles utilizaram outros meios para se livrar do grande líder
judeu, Neemias.
111 CATT, Michael. Vivendo corajosamente. São Paulo: Imprensa da Fé, 2012, p. 120.
51
Primeiro, enviou uma mensagem de volta a Sambalate, afirmando a verdade
e, firmemente, negando as acusações: “Nada do que você está dizendo é verdade. Foi
você quem inventou tudo isso...” (v. 8, NTLH). A resposta corajosa de Neemias
demonstrou sua confiança em Deus.112
A única maneira de lidar com um falso rumor é negá-lo imediatamente; foi
exatamente o que Neemias fez.113 Depois que perdeu a eleição presidencial para
Gorge Bush, em 1988, Michael Dukakis foi questionado sobre a causa do seu
fracasso. Dukakis respondeu culpando a campanha de Bush por seus ataques a ele.
Ele disse: “Nosso erro foi não responder a essas acusações falsas de imediato”.
Quer sejam acusações verdadeiras ou falsas, as pessoas vão julgar de diferentes
maneiras.
Em seguida, como Neemias fez regularmente, ele orou, desta vez pedindo a
Deus força. Ele disparou outra de suas orações, “Agora, pois, ó Deus, fortalece as
minhas mãos” (v. 9). É maravilhoso perceber que as ameaças de Sambalate, ao
invés de enfraquecê-lo, fizeram Neemias voltar para a obra com determinação
ainda maior.114 Pela fé e oração podemos suplicar a graça de Deus e silenciar
nossos medos, e reforçar nossas mãos enquanto os inimigos se esforçam para nos
destruir.
A crise não faz a pessoa, a crise revela a pessoa. Em um momento de
provação, você busca aquilo no qual você confia. Um alcoólatra se volta para a
garrafa. Um viciado busca, nas drogas, o alívio. Uma pessoa do mundo se volta para
a sabedoria do mundo. Um cristão deve se voltar para o Senhor.
Durante um terremoto, há alguns anos, os habitantes de uma pequena
aldeia ficaram alarmados com o tremor, mas também ficaram alarmados com a
tranquilidade e a alegria aparente de uma mulher idosa, que todos conheciam.
Alguém perguntou a ela: “A senhora não tem medo?” “Não!”, ela respondeu: “Eu me
alegro em saber que tenho um Deus que pode agitar o mundo”.
Neemias resistiu aos ataques do inimigo, pois permaneceu firme em suas
prioridades, não abriu mão da verdade e da oração. Mas Satanás não desistiu.
112 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 6.8–9). Wheaton, IL: Victor Books.
113 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (72). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
114 Willamson, H. G. M. (1998). Vol. 16: Ezra, Nehemiah. Word biblical commentary (257).
52
trancou em sua casa e deu a impressão de que, como Neemias, sua vida estava em
perigo. Quando Neemias chegou para vê-lo, Semaías sugeriu que ambos se
refugiassem no templo, onde o inimigo não poderia alcançá-los (Êx 21.13-14; 1Rs
1.50-53). Suas palavras foram muito ameaçadoras: “Nós dois precisamos nos
esconder juntos no Lugar Santo, no Templo. E vamos fechar as portas porque eles
virão matar você. Sim, qualquer noite destas eles virão matá-lo” (v. 10, NTLJ).
Isto merece uma explicação. Quando Semaías sugeriu que ele e Neemias
fugissem para a “Casa de Deus”, para se salvarem, o termo que ele usou significa
“Lugar Santo” (como na Nova Tradução na Linguagem de Hoje), e não apenas o
recinto do templo. Esta foi uma sugestão pagã, pois todos os judeus sabiam que
ninguém poderia se salvar fugindo para o templo. Os judeus tinham um dispositivo
similar nas seis cidades de refúgio (cf. Dt 19.1-13; Js 20.1-9.), embora estes fossem
culpados apenas de homicídio involuntário, e não assassinato. Não havia nada na
Lei em referência ao templo. Semaías estava falando como um pagão neste
momento.
Além disso, ele estava sugerindo algo que era contrário ao ensinamento do
Antigo Testamento. Neemias era um leigo, e os leigos não eram permitidos nas
partes internas do templo (Nm 18.7). O Rei Uzias, que violou a referida proibição,
tinha tido a sorte de escapar, mas ficou leproso (2Cr 26.16-21). Se Neemias
sucumbisse às sugestões engenhosas de Semaías, ele poderia até mesmo perder a
vida. Se Neemias tivesse agido com medo e fugido para o templo, seus inimigos
teriam espalhado a notícia e arruinado sua reputação (Ne 6.13).
Cyril Barber escreve que Neemias triunfou, “não por quebrar a Lei de Deus
para fugir do assassínio, mas por guardá-la!”115
Tenha cuidado quando alguém que se diz um cristão o convidar para fazer
algo que você sabe que é errado. Ele pode usar táticas assustadoras para
pressioná-lo: “Todo mundo faz isto”. “Se você não participar, ninguém vai gostar de
você”, etc. É o inimigo tentando pressioná-lo a um comportamento pecaminoso
para arruinar o seu testemunho. Não se renda! Como Neemias respondeu?
115
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 96.
116 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (76). Wheaton, IL: Victor
Books.
53
em tempos de crise. Porém, por trás dessas orações breves estava uma vida de
oração que lhe dava força diária.
O resultado de manter-se firme na presença de Deus fez com que Neemias
concretizasse a obra em 52 dias (v. 15). Um feito surpreendente para uma tarefa
considerada impossível aos olhos humanos.
1. A vitória de Neemias.
Quando os inimigos e as nações vizinhas viram que os muros estavam
restaurados, eles temeram e admitiram que este trabalho havia sido concluído por
causa de Deus (6.16). Todos os inimigos que Sambalate envolveu em suas tramas
contra os judeus só ampliaram o círculo da glória de Deus quando a obra terminou.
Isso deve ser um modelo para nós. Devemos trabalhar tão duro como se o
sucesso dependesse de nós, mas ao mesmo tempo devemos lembrar que se o
Senhor não edificar a casa e guardar a cidade, nosso trabalho será em vão (Sl
127.1).
Em seguida, lemos: “Então Satanás desistiu da batalha e foi para casa, e
Neemias e os judeus viveram felizes para sempre”. Não exatamente!
Precisamos prestar atenção ao conselho do ministro escocês Andrew A.
Bonar, que disse: “Permaneçamos tão vigilantes depois da vitória, quanto antes da
batalha”.117
117 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (77). Wheaton, IL: Victor
Books.
118 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (78). Wheaton, IL: Victor
Books.
54
professam ser crentes. Mas seus corações estão no mundo, e eles se opõem aos
homens piedosos, como Tobias se opôs a Neemias.
Quando firmamos compromisso com as pessoas do mundo, dificultamos o
trabalho de Deus. Tobias e seu filho haviam feito aliança com alguns dos nobres
judeus. Tobias os convenceu de que ele era uma pessoa boa (6.19), mesmo que
estivesse em oposição ao projeto de Neemias. Mais tarde, durante a ausência de
Neemias, que estava na Pérsia para dar um relatório ao rei Artaxerxes, o sacerdote
Eliasibe concedeu a Tobias uma sala grande onde antes eram guardadas as ofertas
de cereais e de incenso, e os objetos usados no Templo, porque havia se ligado com
Tobias por laços de parentesco.
Mas quando Neemias voltou, ele viu isso como uma aliança com o mundo, e
pessoalmente jogou todos os móveis de Tobias para fora da sala. Depois deu ordem
para que a sala fosse purificada e que os objetos do Templo, as ofertas de cereais e
o incenso fossem colocados ali, novamente (13.4-9).
Todos nós precisamos ponderar sobre a advertência do apóstolo João: “Não
ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não
está nele” (1Jo 2.15).
Conclusão:
Há uma história de uma senhora que nunca falava mal de ninguém. A amiga
lhe disse: “Eu acredito que você diria algo bom até mesmo sobre o diabo”.
“Bem”, ela respondeu, “você não tem que admirar, mas ele é persistente”.
Ela estava certa: ele é persistente! Com isto em mente, parece apropriado
reconhecer o valor da liderança e fazer o máximo para proteger e preservar nossos
líderes.
O comentarista bíblico Fleming, J. L., com sabedoria e de forma prática, nos
dá quatro sugestões de como proteger nossos líderes dos ataques do inimigo.119
Vejamos:
1. Ore pelos seus líderes – “Irmãos, orai por nós” (1Ts 5.25). “Finalmente,
irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada,
como também está acontecendo entre vós” (2Ts 3.1). “Orai por nós, pois estamos
persuadidos de termos boa consciência, desejando em todas as coisas viver
condignamente” (Hb 13.18).
2. Apoie seus líderes – “Ora, as mãos de Moisés eram pesadas; por isso,
tomaram uma pedra e a puseram por baixo dele, e ele nela se assentou; Arão e Hur
sustentavam-lhe as mãos, um, de um lado, e o outro, do outro; assim lhe ficaram as
mãos firmes até ao pôr-do-sol. E Josué desbaratou a Amaleque e a seu povo a fio de
espada” (Êx 17.8-16).
3. Incentive seus líderes – O que você acha que encorajou Neemias? Estou
convencido de que, ao se levantar todos os dias e começar a trabalhar nos muros, o
que o incentiva era o fato de que todo mundo também estava lá para ajudá-lo. Eles
119 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 6.17–19). James L. Fleming.
55
enfrentaram muitas das mesmas provações e tribulações que Neemias enfrentou.
E, no entanto, acreditavam em sua liderança e passaram a trabalhar acreditando
que Deus lhes permitira completar o muro.
56
Deus se importa com seus servos
[Estudo 7 – Ne 7.1-73]
120 KIDNER, Derek. Esdras e Neemias. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011, p. 11.
121 John Owen. The works of John Owen (Carlisle: The Banner of Truth, 1990), IX: 77.
122 PIPER, John. Let the nations be glad! [Baker Academic], 2 nd ed., p. 17
57
tenha o que eles estão vendendo. E enquanto as vendas e a evangelização não
sejam análogas, as testemunhas mais eficazes são aqueles que, obviamente, são
cativados pela grandeza de Deus e Sua salvação.
Em Apocalipse, aprendemos que uma boa parte do céu será investida em
louvor e adoração a Deus. Os santos se reunirão com os anjos, com os quatro seres
viventes e com os 24 anciãos e cantarão: “Digno é o Cordeiro que foi morto de
receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5.9,
12, 13). Seremos tão impactados pela beleza da glória de Deus que nos juntaremos
aos seres celestiais para glorificar ao Eterno!
Quando você contempla um cenário de beleza natural, como um pôr do sol
nas montanhas ou na praia, mesmo que não conheça ninguém ao seu lado, você
sente o desejo de dizer alguma coisa às pessoas que estão em sua volta: “Uau, isso é
incrível, não é!” Fazemos isso porque a beleza gera em nosso coração um louvor
espontâneo, e o louvor é melhor quando compartilhado. O céu será um tempo de
contemplar da beleza de Deus, e compartilhá-la com os outros, eternamente.
Entretanto, é relevante destacar que a adoração não é algo que os crentes
devem aprender somente no céu. O pregador britânico Charles H. Spurgeon disse
que, “Se queremos ser fiéis ao coral celestial, às melodias devem ser aprendidas
aqui em baixo”.123
Neemias foi um líder exemplar, ele sabia que para ser eficaz, era necessário
delegar responsabilidades. Enquanto certas habilidades administrativas são
necessárias para uma liderança efetiva, o requisito principal é um caráter piedoso.
Neemias nomeou dois homens. Hanani, o seu irmão, que tinha chegado a
Susã com o triste relatório a respeito de Jerusalém (1.1-3), como o seu líder civil. Já
Hananias foi nomeado como o líder militar porque “ele era homem fiel e temente a
Deus, mais que muitos” (v. 2). Juntos, eles deveriam abrir os portões de Jerusalém
somente quando o sol começasse a esquentar. E deveriam fechar os portões antes
que os guardas deixassem o serviço. Também receberam a ordem para escolher
guardas entre o povo que morassem em Jerusalém (v. 3).
1. A fidelidade.
“Hananias era homem fiel...” (v. 2) – Alguns escritores têm acusado
Neemias de nepotismo por nomear o próprio irmão. Porém, em um ambiente
cercado por corrupção e acordos escusos, essa pode ter sido a razão pela qual
Hanani foi o escolhido de Neemais. Não foi um caso de nepotismo, mas a escolha do
melhor e mais fiel para o trabalho. Hanani já havia demonstrado preocupação com
o bem-estar da cidade, fazendo a longa viagem para a Babilônia (Ne 1.1-2).
123 Charles Spurgeon. The treasury of the Bible (reprint, Grand Rapids: Baker, 1981), 8:743.
58
A palavra hebraica para fidelidade (’emeth), significa confiável, verdadeiro e
firme. Além de Hanani, Neemias também nomeou Hananias para ocupar o cargo de
chefe dos guardas. Ele era um homem que Neemias poderia confiar. A palavra
“fiel”, em hebraico, expressa o conceito básico de apoio e é usada no sentido dos
braços fortes de um pai apoiando a criança indefesa.124
A fidelidade é fruto que o Espírito Santo produz em nós quando andamos na
dependência dele (Gl 5.16, 22). Todos nós somos mordomos dos dons e do tempo
que Deus nos concede. Paulo disse que, o que se exige dos administradores é que
sejam encontrados fiéis (1Co 4.2).
A fidelidade é também um ingrediente essencial nos relacionamentos. Se
você não confia em alguém, você não vai querer se aproximar dessa pessoa. No
entanto, o nosso Deus é um Deus fiel, que sempre fala a verdade e guarda a sua
palavra, assim como crescemos em santidade, devemos, também, crescer em
fidelidade.
2. O temor a Deus.
“Hananias era homem temente a Deus...” (v. 2) – A palavra “temor” (yare’,
em hebraico), tem várias significados que enriquecem a nossa compreensão.
Incluem terror, reverência, obediência e adoração. Muitas dessas nuances são
encontradas em Deuteronômio: “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de
ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o
ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para
guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para
o teu bem?” (Dt 10.12-13).
O temor ao Senhor pode ser equiparado com a entrega total da própria vida
a Deus. Quem teme a Deus não aceita suborno, não se corrompe. Havia fortes
pressões internas e externas e só um homem temente a Deus poderia cuidar da
cidade.125 O temor ao Senhor fala da vida total voltada à realidade de que Deus
existe, e que Ele é o centro da vida. Temor do Senhor ainda incita a servir a Deus
com todo o coração. É o grito do coração de Isaías: “Eis-me aqui Senhor, envia-me”
(Is 6).
Entretanto, sabemos que nem todo mundo é chamado a ser um Neemias,
mas alguns de nós podem ser Hananis ou Hananias, trabalhar e servir ao Senhor, e
ajudar aos líderes a fazerem um excelente trabalho. Deus está à procura de homens
e mulheres fiéis e tementes a Deus, que terão a coragem e a convicção de servi-Lo
em todas as circunstâncias.126
3. A vigilância.
“E lhes disse: não se abram as portas de Jerusalém até que o sol
aqueça...” (v. 3) – Neemias não só restaurou os muros de Jerusalém com a espada
e com a colher de pedreiro, ele também colocou guardas e deu instruções
cuidadosas sobre a necessidade de vigiarem a cidade. Ele confiava em Deus, mas
também vigiava a cidade (cf. 4.9). Os dois não estão em oposição.
124 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 7.1–4). James L. Fleming.
125 LOPES, Hernandes Dias. Neemias, o líder que restaurou uma nação. São Paulo: Editora
Hagnos, 2006, p. 124.
126 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (84). Wheaton, IL: Victor
Books.
59
Note que um momento de sucesso é um momento crítico para estar em
guarda. Os muros estavam restaurados, os portões estavam no local. Teria sido
fácil relaxar e ensarilhar as armas. O inimigo muitas vezes nos ataca logo após uma
vitória.
Neemias sabia deste fato. De que adiantaria portas novas e fortes se
ninguém estivesse guardando e controlando a entrada da cidade? A Grande
Muralha da China foi penetrada pelo inimigo, pelo menos, quatro vezes, e cada vez
os guardas foram subornados.127 Portas e muros são bons itens de segurança, mas
não podemos esquecer as pessoas que os protegem.
Além disso, precisamos estar especialmente atentos em nossos próprios
lares. Neemias deu instruções aos guardas para que se posicionassem na frente de
sua própria casa (7.3). Precisamos de guardas também em nossos lares.
Precisamos de homens e mulheres fiéis que amem ao Senhor e estão dispostos a
defender suas famílias a qualquer custo. Precisamos de vigias sobre os muros para
nos avisar quando o inimigo está se aproximando, ou o inimigo assumirá nossos
lares e nossas igrejas (2Co 11.13-15).
127 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (84). Wheaton, IL: Victor
Books.
128 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (80). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
129 Embora eles contenham praticamente os mesmos nomes e os agrupamentos, as duas
listas, no entanto, não são idênticas. O total de indivíduos é o mesmo: 42.360 (Ed 2.64; Ne
7.66.). Mas os itens individuais se somam aos totais diferentes e contraditórios: 29.818 em
Esdras e 31.089 em Neemias. Houve tentativas para explicar os milhares desaparecidos
como os membros das tribos do norte, mulheres ou crianças. Mas o texto não diz nada
sobre isso, e nenhuma explicação científica foi inteiramente convincente. A opinião entre os
estudantes da Bíblia é que os erros aconteceram no texto por causa das diversas cópias,
devido à dificuldade especial de compreender e reproduzir listas numéricas ou nomes
muito parecidos. Para uma discussão sobre esses problemas, consulte Derek Kidner, Esdras
e Neemias. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011), e Howard F. Vos, Bible study commentary:
Ezra, Nehemiah, and Esther (Grand Rapids: Zondervan, 1987), 36, 115.
130 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (86). Wheaton, IL: Victor
Books.
60
A RELAÇÃO DOS QUE VOLTARAM A JERUSALÉM EM ESDRAS 2 E NEEMIAS 7
61
Harim 320 320
Lod, Hadide e Ono 725 721 -4
Jericó 345 345
Senaá 3630 3930 300
LEVITAS 74 74
OS FILHOS DE DELAÍAS,
OS FILHOS DE TOBIAS, 652 642 - 10
OS FILHOS DE NECODA
A questão de Esdras era religiosa: quem entre o corpo dos exilados retornou
com os judeus? Em Neemias, a questão é: quem está disponível para repovoar e
revitalizar a cidade? O documento contém nove categorias.131
1. Os líderes (v. 6-7). Não sabemos quem foram estas pessoas, mas pelo
menos, as duas primeiras são bem conhecidas e importantes. Eles são Zorobabel,
chefe civil, e Jesua (ou Josué), o líder religioso que, juntos, conduziram o primeiro
grupo de exilados de Judá. Esses líderes figuram fortemente em dois dos últimos
livros do Antigo Testamento, os profetas Ageu e Zacarias. Zorobabel era da
linhagem real de Judá. Ele é descendente de 14 sucessivas gerações de sacerdotes.
62
indivíduos e seus descendentes. A segunda parte apresenta 20 cidades de onde
voltaram os exilados.
132Dois pequenos objetos usados pelos sacerdotes israelitas para consultarem a Deus a fim
de se saber qual a sua vontade sobre algum assunto (Êx 28.30; Nm 27.21; 1Sm 28.6).
Kaschel, W., & Zimmer, R. (1999). Dicionário da Bíblia de Almeida 2ª ed. Sociedade Bíblica
do Brasil. Pouco se sabe sobre o Urim e Tumim. Eles são mencionados pela primeira vez em
Êxodo como sendo mantido pelo sumo sacerdote em um “peitoral do juízo” (Êxodo 28.15-
30). Mais tarde, Moisés deu à tribo de Levi a responsabilidade especial por seus cuidados
(Dt 33.8). Após a morte de Arão e de Moisés, Eleazar deveria transportar e utilizar os
objetos para consultar o Senhor (Nm 27.18-23). Holman illustrated Bible dictionary. 2003
(C. Brand, C. Draper, A. England, S. Bond, E. R. Clendenen, T. C. Butler & B. Latta, Ed.)
(1643). Nashville, TN: Holman Bible Publishers.
63
Neemias pode ter tido razões para as diferentes figuras que não foram citadas;
portanto, hoje desconhecidas.133
133Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 7.7). Wheaton, IL: Victor Books.
64
Entretanto, o marido deve amar a sua esposa e cooperar na formação de
seus filhos. O marido jamais deve transferir tão grande responsabilidade ou
despejar todo o trabalho para sua esposa!
“Adom e Imer, porém não puderam provar que as suas famílias e a sua
linhagem eram de Israel... “ (v. 61) – Aqueles que afirmavam ser sacerdotes e não
conseguiram encontrar qualquer registro, foram excluídos do sacerdócio (7.61-
65). Mesmo assim, um crente deve ser capaz de verificar onde Deus promete vida
eterna àqueles que creem em Cristo e dizer: “Eu coloquei a minha confiança nessa
promessa específica de Deus”. E, o crente deve ver alguma evidência de que Deus
mudou o seu coração. Antes, éramos inimigos de Deus. Agora, por Sua graça,
amamos a Deus e as coisas de Deus.
O mais lindo neste capítulo não é contar todas as pessoas que foram
registradas, mas perceber que as pessoas foram contadas, elas não foram
esquecidas. Conforme o comentarista bíblico Warren Wiersbe, é possível encontrar
no capítulo 7 algumas lições importantes.135 Vejamos:
134
KIDNER, Derek. Esdras e Neemias. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011, p. 112.
135Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (90–92). Wheaton, IL:
Victor Books.
65
profetas Ageu e Zacarias para proclamar uma mensagem ao Seu povo. Não importa
quão desanimadora seja a situação, Deus é capaz de cumprir Seus propósitos se
confiarmos Nele e fizermos a Sua vontade.
Conclusão:
É bom aprender com exemplos piedosos, seja na Bíblia ou na história da
igreja. Mas também é importante chegar a um acordo sobre como Deus criou você.
Não despreze a si mesmo! Você ficará frustrado se começar a se comparar com
outras pessoas e com o trabalho que elas fizeram. Eu amo o pregador Charles H.
Spurgeon, mas não chego nem aos seus pés. Eu desejo aprender muito com ele,
mas eu não sou Spurgeon!
Cada um de nós é único e Deus atribuiu a cada pessoa um papel diferente a
cumprir. Em Neemias 7, alguns eram sacerdotes, outros porteiros, cantores e
funcionários do templo. Cada papel é importante para Deus. Descubra quem você é
em Cristo e comprometa-se, totalmente, a ser tudo o que Deus quer que você seja.
Jim Elliot, que deu a sua vida pela causa do Evangelho, escreveu em seu diário:
“Onde quer que você esteja, esteja todo lá. Viva ao máximo cada situação que você
acredita ser a vontade de Deus”.136 Comprometa-se com as coisas que importam
para Deus. Essa é a única maneira de fazer com que a vida realmente valha a pena!
66
O poder da Palavra de Deus
[Estudo 8 – Ne 8.1-18]
Ao longo dos séculos, o povo de Deus enfrenta períodos onde a Sua Palavra
tem sido negligenciada e, como resultado, a vida espiritual se deteriora. No
entanto, em Sua graça, Deus envia tempos de refrigério. Inevitavelmente, uma das
marcas principais de tal renovação é uma ênfase na Palavra de Deus.
A Reforma Protestante (iniciada em 1517), por exemplo, teve como objetivo
precípuo uma volta às Sagradas Escrituras, a fim de reformar a Igreja que havia
caído, ao longo dos séculos, numa decadência teológica, moral e espiritual.137 O
“reavivamento” da pregação da Palavra foi um dos marcos fundamentais da
Reforma. Além disso, os Reformadores criam que se as Escrituras estivessem numa
língua acessível, todos poderiam ouvir a voz de Deus. John Wycliffe e William
Tyndale trabalharam para obter a Bíblia traduzida em inglês. Martinho Lutero
traduziu a Bíblia para o alemão. João Calvino começou a pregar sermões
expositivos, explicar e aplicar a Palavra ao povo de Genebra. A Reforma foi
construída sobre o fundamento da centralidade da Bíblia. O princípio da Sola
Scriptura (“Somente as Escrituras”) ensinava que somente a Escritura Sagrada tem
a palavra final em matéria de fé e prática.138
A Palavra de Deus é viva e eficaz. É o leite que pode nutrir a vida nova e
fortalecer a alma. É um martelo e um fogo para se livrar do pecado e bálsamo para
curar as feridas. É uma espada para derrotar o diabo e mel para o coração.139
Não é de surpreender as tantas vezes que Neemias deixou a sua colher de
pedreiro de lado para tomar o Livro da Lei. Neemias 8 nos apresenta três marcas
de uma renovação espiritual relacionada com a Palavra de Deus:
137 COSTA, Herminsten Maia Pereira. Raízes da teologia contemporânea. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2003, p. 80.
138 MacArthur, J. F., Jr. (1992). Rediscovering expository preaching (47). Dallas: Word
Publishing.
139 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 8.1–6). James L. Fleming.
67
1. A Palavra procurada.
“Em chegando o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas
cidades, todo o povo se ajuntou...” (v. 1) – A fase inicial dos muros foi concluída
no dia 25 de Elul, o sexto mês (6.15). No primeiro dia do sétimo mês, todos os que
viviam em áreas periféricas se reuniram como um só homem, em Jerusalém.
O sétimo mês era um momento especial no calendário judeu porque eles
celebravam a Festa das Trombetas, no primeiro dia; o Dia da Expiação, no décimo
dia; e a Festa dos Tabernáculos, do décimo quinto dia ao vigésimo primeiro dia (Lv
23.23-44).140 Era o momento perfeito para a nação se reconciliar com Deus e
começar uma nova caminhada com o Altíssimo.
As pessoas se reuniram e pediram a Esdras que trouxesse o livro
(pergaminho) da Lei de Moisés, que o Senhor tinha dado a Israel (8.1). Todos
queriam ouvir a Palavra de Deus. Aparentemente, desde a destruição de Jerusalém,
em 586 a.C., não somente os cultos do templo haviam cessado, mas parece que
tudo associado com a adoração do Senhor Deus havia sido interrompido. Agora,
depois que a cidade estava reconstruída, as pessoas ansiavam por um retorno as
suas raízes espirituais.141
140 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (96). Wheaton, IL: Victor
Books.
141 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 8.1–6). James L. Fleming.
142 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (96). Wheaton, IL: Victor
Books.
143 Campbell, Nehemiah: man in charge. p. 73.
68
Nós vivemos em uma cultura onde quase todos sabem ler. Aqueles que não
sabem ou não leem bem, podem facilmente aprender. Nós temos várias traduções
da Bíblia em nossa língua. Porém, boa parte dos cristãos gasta mais tempo
brincando no computador ou sentado em frente à TV, do que lendo e estudando a
Palavra de Deus.
Para o bem da sua alma, quero desafiá-lo a ler e reler a Bíblia todos os dias
de sua vida. Se você quer uma renovação espiritual, ela virá por meio da Palavra de
Deus. No Salmo 119, nove vezes o autor menciona como a Palavra de Deus traz
avivamento (Salmo 119.25, 50, 93, 107, 149, 154, 156). Para uma renovação
espiritual, o povo de Deus deve ler a Sua Palavra.
2. A palavra proclamada.
“Edras, o sacerdote, trouxe a Lei perante a congregação, tanto de
homens como de mulheres e de todos os que eram capazes de entender
o que ouviam. Era o primeiro dia do sétimo mês” (v. 2)
Embora essa seja a primeira vez que o nome de Esdras aparece no livro de
Neemias, há um livro inteiro que leva o seu nome. A Bíblia diz que “Ele era escriba
versado na Lei de Moisés, dada pelo SENHOR, Deus de Israel; e, segundo a boa mão do
SENHOR, seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira”
(Ed 7.6).
Não obstante, o coração de Esdras nos é revelado em seu livro, “... Esdras
tinha disposto o coração para buscar a Lei do SENHOR, e para a cumprir, e para
ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Ed 7.10). Ele não só queria
conhecer o que a Lei ensinava, mas o mais importante, ele queria obedecê-la!
Esdras voltou a Jerusalém em 458 a.C., um total de 14 anos antes de
Neemias. Seu principal objetivo era ensinar a Lei de Deus aos judeus. Quando
Esdras chegou a Jerusalém, as condições morais e espirituais do povo eram
deploráveis. Não havia templo, sacerdócio, sacrifícios e cultos.
Quatorze anos depois, em 444 a.C., Neemias chegou a Jerusalém e desafiou o
povo a confiar em Deus e reconstruir os muros. E com a renovação da esperança
veio um desejo sincero de ouvir o livro da Lei de Moisés.
Que momento emocionante deve ter sido para Esdras quando este grupo se
aproximou dele e, em essência, disseram, “Nós queremos ouvir a Palavra. Vá, pegue
o livro da Lei para compartilhá-lo conosco!” Uma das maiores alegrias de qualquer
líder é ouvir o povo de Deus pedir para ouvir a Palavra.144
144 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 8.1–6). James L. Fleming.
69
3. A Palavra explicada.
“E leu no livro, diante da praça, que está fronteira à Porta das Águas,
desde a alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres e os que
podiam entender; e todo o povo tinha os ouvidos atentos ao Livro da
Lei. Esdras, o escriba, estava num púlpito de madeira, que fizeram
para aquele fim; estavam em pé junto a ele, à sua direita, Matitias,
Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaseias; e à sua esquerda, Pedaías,
Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão” (v. 3 e 4).
145 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (93). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
146 Charles Spurgeon. Lectures to my students [Zondervan], p. 391-392)
70
II. O Reavivamento inflama com a compreensão da
Palavra de Deus
“E Jesua, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaseias,
Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã, Pelaías e os levitas ensinavam o
povo na Lei; e o povo estava no seu lugar. Leram no livro, na Lei de
Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o
que se lia” (v. 7 e 8).
147 CALVINO, João. Romanos, São Paulo: Edições Paracletos, 1997, p. 430-432.
148 CALVINO, João. Romanos, p. 330.
149 CALVINO, João. 1Coríntios. São Paulo: Edições Paracletos, 1996, p. 377.
150 CALVINO, João. 1Coríntios. São Bernardo do Campo, SP: Edições Paracletos, 2003.
71
Calvino recebeu o título de o “príncipe dos expositores”.151 Até mesmo um
dos mais conhecidos opositores das doutrinas de Calvino, Jacobs Arminius,
reconheceu a excelência dos seus comentários e chegou a recomendá-los: “Depois
da leitura das Escrituras eu recomendo a leitura dos Comentários de Calvino... Pois
afirmo que na interpretação das Escrituras, Calvino é incomparável, e que seus
Comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legado
nos escritos dos pais.”152
Lutero explicava e frisava a lição do dia, enquanto Calvino falava de todo um
livro da Bíblia, dia após dia, passagem por passagem. Mas se hoje quisermos usar a
capa deixada pelos reformadores, não precisamos seguir servilmente seus
métodos. “Tal como eles tentaram interpretar a Palavra escrita em padrões de
pensamento da sua própria época, também nós temos que apresentar a verdade de
Deus em formas que apelem ao povo dos nossos dias.”153 Martyn Lloyd-Jones
escreveu que “... a tarefa da pregação é relacionar o ensino das Escrituras com
aquilo que está acontecendo em nossos próprios dias”.154
As palavras de John Stott certamente são oportunas neste momento: “... o
ideal no sermão é que a Palavra de Deus fale, ou melhor, Deus fale através de sua
Palavra... O pregador fica mais satisfeito quando sua pessoa é eclipsada pela luz
que brilha da Escritura, e quando sua voz é superada pela voz de Deus.”155
Mesmo os apóstolos, que foram ensinados diretamente por Cristo, tiveram
que dedicar-se à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4). Se eles tiveram que se
dedicar à tarefa da pregação, quem somos nós!
Mas os que são ensinados também devem estar comprometidos com a
Palavra. Na igreja, isso significa que aqueles que não são chamados para ensinar
assumem outras tarefas ministeriais necessárias para que aqueles que ensinam
possam estudar e se preparar. Em outras palavras, deve haver uma divisão do
trabalho de acordo com os dons espirituais.
Isso é muito claro em Neemias 8. Até agora, Neemias estava na vanguarda.
Ele era um administrador talentoso que poderia organizar e mobilizar as pessoas
para conseguir a restauração dos muros. Mas quando chegou a hora de ensinar a
Palavra, ele deu lugar a Esdras, que era hábil na Lei de Moisés, que tinha preparado
o seu coração para estudá-la, praticá-la e ensiná-la (Ed 7.6, 10). Estes dois homens
ilustram plenamente o princípio do ministério de equipe. Assim, para renovação
espiritual, o povo de Deus deve ler e ouvir, reverentemente, a Sua Palavra quando
esta é ensinada.
151 MURRAY, John. Calvin as theologian and expositor. Carlisle, Pennsylvania, The Banner of
New Testament study. In: I.H. MARSHALL, ed. New Testament interpretation; essays on
principles and method, p. 33. A. Mitchell HUNTER, The teaching of Calvin: a modern
interpretation, p. 20; P. SCHAFF, History of the christian church, Vol. VIII, p. 280.
153 BLACKWOOD, Andrew Watterson, A preparação de sermões. Rio de Janeiro: Editora
72
III. Para uma renovação espiritual, o povo de Deus deve
responder a Sua Palavra
“Neemias, que era o governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os
levitas que ensinavam todo o povo lhe disseram: Este dia é consagrado
ao SENHOR, vosso Deus, pelo que não pranteeis, nem choreis. Porque
todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei” (v. 9).
1. Arrependimento.
“Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei” (v. 9) – O povo
chorou quando eles ouviram e entenderam a Palavra de Deus (8.9). Esta é a mesma
palavra usada para descrever o luto diante da morte de um ente querido. Essas
pessoas estavam experimentando a mesma profundidade do luto pela sua
incapacidade de viver de acordo com os caminhos de Deus.156
Além disso, normalmente, quando pensamos em choro, automaticamente
pensamos no derramamento de muitas lágrimas. No entanto, quando as pessoas do
Oriente Médio estavam tristes, eles expressavam com gritos de lamento. Tal é o
caso aqui. Com o coração quebrado por causa das relações rompidas com Deus, às
leis e os mandamentos quebrados, essas pessoas estavam experimentando o
verdadeiro arrependimento.
Quando o apóstolo Pedro se dirigiu aos judeus, na festa de pentecoste,
disse-lhes que desejava falar sobre o homem chamado Jesus. Então, em Atos 2.36,
Pedro continua a dizer: “... a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e
Cristo” (At 2.36). Agora, quando a multidão ouviu esta mensagem, compungiu-se-
lhes os corações. Eles perguntaram a Pedro o que deveriam fazer. Eles perceberam
que tinham feito! Eles perceberam que Deus enviou o seu Messias, mas O haviam
crucificado. O que eles deveriam fazer?
As palavras de Pedro foram: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo” (At 2.38).
Arrependam-se, arrependam-se! Quando ouvimos a Palavra de Deus,
sempre temos a mesma necessidade, e isso é para se arrepender, para transformar
nossas vidas de volta ao que Deus quer e voltar para onde Deus nos quer.
2. Alegria.
“... não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força” (v.
10) – Que belas palavras de incentivo! A alegria de Deus é uma cobertura protetora
para o filho de Deus. A alegria de saber que Deus perdoou todos os nossos pecados
e que somos o seu povo, deve preencher nossos corações.
O que eles deveriam fazer? Deus lhes disse o que fazer: “... comer, beber,
enviar porções e a regozijar-se grandemente, porque tinham entendido as palavras
156 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 8.9). James L. Fleming.
73
que lhes foram explicadas” (v. 11). Em outras palavras, todas essas delícias que
adoramos comer, eles deveriam comer! Preparem o jantar de Ação de Graças e
chamem a família, e celebrem o amor de Deus.
O que o escritor está dizendo aqui é que se você está em um lugar de perigo,
Deus tem um abrigo para você na hora da tempestade. E que o abrigo é a alegria do
Senhor. Esta alegria não é a alegria de assistir a um filme engraçado, mas a alegria
de saber que o seu futuro está nas mãos do Senhor.
O efeito inicial era de que as pessoas estivessem condenadas e angustiadas
sobre sua incapacidade de manter a Lei de Deus. Mas com a ajuda dos levitas,
Neemias convenceu as pessoas da misericórdia e do perdão de Deus.
Consequentemente, um profundo sentimento de alegria permeou o povo de Deus.
Com grande alegria, eles celebraram a Festa dos Tabernáculos.
3. Obediência.
As pessoas que ouviram a leitura da Lei entenderam que deveriam observar
a Festa dos Tabernáculos (v. 16). Os israelitas não tinham celebrado uma Festa
como esta desde o tempo de Josué (8.17)! Novamente, nota-se que a sua
obediência resultou em grande regozijo.
A Festa dos Tabernáculos era um festival de colheita, mas era para ser feita
de forma que pudesse lembrar as pessoas dos dias de sua peregrinação no deserto.
Era uma festa de sete dias, começando no dia quinze do mês. Neste ponto, eles
ainda tiveram duas semanas para se preparar para ela. Eles deveriam recolher
gravetos e fazer abrigos temporários fora ou sobre os telhados de suas casas. As
cabanas serviriam para lembrá-los dos quarenta anos de caminhada pelo deserto,
e a maneira como Deus os levou para uma terra que mana leite e mel.157 Ao
celebrarem a festa, eles deveriam lembrar que foi Deus quem os tinha sustentado e
abençoado abundantemente.
O resultado? Jerusalém não era apenas uma cidade com muros restaurados,
era uma cidade povoada por pessoas com um novo espírito e uma nova
determinação de viver à luz da Palavra de Deus!158
Conclusão:
A última parte do versículo 17 diz: “... E houve mui grande alegria entre o
povo de Deus”. Por quê? Porque eles se voltaram para a Palavra de Deus, eles se
arrependeram de seus pecados, eles adoraram a Deus, eles obedeceram, e o
reavivamento eclodiu entre eles.159
Algumas pessoas vêm à igreja com reverência a Deus e Sua Palavra,
dizendo: “Deus, me ensine! Eu quero aprender mais de Ti!” Eles estão prontos para
responder à Palavra. Eles aproveitam o ensino. Outros vêm para o mesmo culto
com o coração cheio de pecado e não desejam tratá-los. Eles estão desligados
157 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (95). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
158 MacArthur, J. (2001). Nehemiah: experiencing the good hand of God. MacArthur Bible
74
diante da mesma mensagem que ajuda aos outros a crescerem. Se você quer uma
renovação espiritual, verifique seu coração. Ela acontece quando nossos corações
estão sensíveis e reverentes a Palavra de Deus, quando esta é lida e proclamada
com fidelidade.
Conta-se a história sobre um pai que teve que fazer uma viagem até a cidade
para comprar provisões para sua família. Antes de sair em viagem, ele disse a seu
filho para limpar o canal que conduzia água ao poço da casa.
O filho começou a fazer a tarefa todos os dias, mas depois ficou cansativo
para ele; assim, ele parou de ir ao canal e limpar os detritos que se acumulavam lá.
No dia seguinte, a mãe percebeu que a água já não estava fluindo de maneira
correta em casa.
Quando o pai chegou de viagem, uma das primeiras coisas que a mãe lhe
disse foi que a água já não estava fluindo corretamente. O pai chamou o filho e
perguntou se ele havia limpado o canal que conduzia água ao poço a cada dia. O
filho confessou que havia deixado de fazer a tarefa. Juntos, pai e filho foram até o
canal e limparam os escombros. Mais uma vez a água da montanha fluiu
perfeitamente até a cisterna da casa.
Assim é a nossa vida. Às vezes permitimos que os detritos se acumulem em
nosso relacionamento com o nosso Deus. Precisamos limpar os escombros para
que as águas vivificantes de Deus possam fornecer o alimento espiritual a sua
necessidade!
Depois de estudar Neemias 8, quais são os seus desejos pessoais para o
crescimento e reavivamento?
75
Nosso grande Deus
[Estudo 9 – Ne 9.1-37]
“No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel...” (v. 1)
– Quando o povo se reuniu na porta das Águas era o primeiro dia do mês, quando
se juntaram para ouvir a Lei do Senhor durante toda a manhã, possivelmente por
cinco horas de duração. No segundo dia, os chefes de família retornaram, e
descobriram em seu estudo nos livros da Lei de Deus que não estavam mantendo a
Festa dos Tabernáculos - a Festa da Colheita. Então, no dia quinze do mês, eles
celebraram a Festa dos Tabernáculos – uma festa que durava sete dias. E no oitavo
dia realizaram uma assembleia solene. Mas agora, no vigésimo quarto dia, depois
da alegria da Festa dos Tabernáculos, o povo começou a chorar e a lamentar.
Durante um quarto do dia (v. 3), eles ouviram a leitura das Escrituras, e por mais
três horas adoraram e confessaram seus pecados a Deus.
Na maioria das igrejas, hoje, seis horas de culto, com três horas de pregação
e três horas de oração, provavelmente resultaria em alguns pedidos de demissão
76
do Pastor, mas para o povo judeu, aquele dia era o começo de uma nova vida para
eles e sua cidade.160
Assim, temos que ler este capítulo e perceber que estamos olhando no
espelho. Ele descreve a propensão do nosso coração!
160 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (107). Wheaton, IL:
Victor Books.
161 CALVINO, João. As institutas da religião cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p.
48.
77
“... em outra quarta parte dele fizeram confissão e adoraram o SENHOR,
seu Deus” (v. 3) – No vigésimo quarto dia do mesmo mês, três semanas e meia
mais tarde, um dia nacional de arrependimento foi realizado.162 O povo também
teve tempo para confessar os seus pecados (v. 2-3) e buscar o perdão do Senhor. O
Dia anual da Expiação havia passado, mas os adoradores sabiam que precisavam
de uma purificação e renovação do Senhor.
Oito levitas se levantaram e expressaram seu sofrimento espiritual. Um
segundo grupo de oito levitas conduziu uma oração responsiva de louvor.
Aparentemente, todos eles recitaram a oração em uníssono, por isso deve ter sido
escrita antes. Tendo em vista que a linguagem é semelhante à oração em Esdras 9,
é bem provável que, o grande escriba e sacerdote seja o autor da oração (9.3-4).163
As pessoas não só reconheceram o seu pecado individual, mas também
entenderam que eles faziam parte de um povo ou nação e, portanto, também eram
coletivamente culpados (v. 2).
Este é o oposto do que algumas pessoas fazem hoje. Quando os judeus dos
dias de Neemias confessaram os pecados de seus pais, eles reconheceram a própria
culpa pelos pecados de seus pais. Hoje, se as pessoas se referem aos pecados de
seus pais, eles se desculpam, em vez de assumirem qualquer responsabilidade. Eles
culpam seus erros em seus temperamentos ou pela maneira como foram
educados.164
Há um paradoxo na vida cristã: quanto mais você anda com Deus, mais você
fica ciente da depravação terrível de seu próprio coração. Não foi no início da vida
cristã de Paulo, mas justamente no fim que ele disse, “... Cristo Jesus veio ao mundo
para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.15). Ele não disse,
“entre os quais eu costumava ser o maior de todos”, mas em vez disso, “Eu sou o
maior de todos”. Quanto mais Paulo andava com Deus e contemplava Sua justiça
perfeita, mais ele estava consciente de seu próprio pecado, ainda que em sua
caminhada diária ele estivesse crescendo em santidade. Assim, quanto mais você
conhece a Deus e seu próprio coração, através de Sua Palavra, mais você vai
perceber o quão propenso ao pecado você realmente é.
Em uma ocasião, o grande reformador Martinho Lutero estava muito
deprimido. Não desejava levantar-se a despeito dos apelos da família e amigos.
Finalmente, sua esposa, Katie, colocou um vestido preto, parecendo uma viúva, em
luto. Quando Lutero percebeu, perguntou-lhe quem havia morrido. Ela respondeu
que Deus, no céu, deve ter morrido, a julgar pelo comportamento de Lutero. Sua
depressão foi embora de imediato, ele sorriu e beijou a sua sábia esposa.
Você pode estar deprimido hoje - talvez devido ao seu pecado ou talvez
devido a algumas outras circunstâncias difíceis, como no caso de Lutero. Apenas
lembre-se, não importa o quão quebrado você esteja, o caminho de volta ao nosso
soberano Senhor, suficiente e gracioso, está sempre aberto. Ele convida você a
voltar para Ele.
162 Packer, J. I. (1995). A passion for faithfulness: wisdom from the book of Nehemiah.
Wheaton, IL: Crossway Books.
163 Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament survey Series (Ne 9.1–4). Joplin,
BakerBooks.
78
II. Deus é tão rico em misericórdia
“Os levitas Jesua, Cadmiel, Bani, Hasabneias, Serebias, Hodias,
Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao SENHOR, vosso
Deus, de eternidade em eternidade. Então, se disse: Bendito seja o
nome da tua glória, que ultrapassa todo bendizer e louvor. Só tu és
SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra
e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os
preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora. Tu és o
SENHOR, o Deus que elegeste Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e
lhe puseste por nome Abraão” (Ne 9.5-7)
165 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (100). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
166 Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament Survey Series (Ne 9.5–15). Joplin,
BakerBooks.
79
imperador. Então, o rabino levou o imperador para fora e pediu-lhe que olhasse
diretamente para o sol do meio-dia. – Impossível! – respondeu o imperador.
- Se você não consegue olhar para o sol que Deus criou – respondeu o rabino
– muito menos poderá ver a glória do próprio Deus!168
168 MCGRATH, Alister. Teologia para amadores. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2008, p.
12.
169Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (102). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
80
Como essas pessoas deram as costas para Deus, depois de tudo o que Ele
havia feito por Eles? Não é essa também a nossa reação diante da graça de Deus,
muitas vezes?
170 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (112–113). Wheaton, IL:
Victor Books.
171 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (113). Wheaton, IL:
Victor Books.
81
como uma aula de História, mas os atos graciosos de Deus na história que estavam
sendo contados.172
Deus foi bom para com o Seu povo quando eles não foram bons para com
Deus. Ele, pacientemente, enviou-lhes profetas para ensiná-los e exortá-los, mas a
nação se recusou a ouvi-Lo (2Cr 36.14-21). Ele foi misericordioso ao perdoá-los
quando eles clamavam por socorro, e Ele foi longânimo quando eles,
repetidamente, se rebelaram contra a Sua Palavra (Êx 32.10; Nm 14.11-12);
entretanto, Ele misericordiosamente os poupou. Em Sua misericórdia, Deus não
nos dá o que merecemos, e na sua graça, Ele nos dá o que não merecemos.173
“Eis que hoje somos servos; e até na terra que deste a nossos pais, para
comerem o seu fruto e o seu bem, eis que somos servos nela” (v. 36) – Os levitas
reconheceram a grandeza e a bondade de Deus, e agora, com base na sua graça,
pediram-lhe um novo começo para a nação. Eles não poderiam mudar a servidão
em que estavam, mas poderiam entregar-se a um Mestre maior e buscar a Sua
ajuda.
Israel merecia tudo o que tinha experimentado. Assim, naquele momento,
mesmo que estivessem vivendo na terra que Deus havia prometido a seus pais,
viviam como escravos uma nação estrangeira. Os impostos persas consumiam
grandes porções de seus produtos de origem agrícola, inclusive gados (9.32-37).174
Sendo escravos, eles tinham que pagar impostos para a Pérsia. A oração dos levitas
termina com uma confissão melancólica de sua grande angústia.175
172 Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 9.1–38). James L. Fleming.
173 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (115). Wheaton, IL:
Victor Books.
174 Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament survey series (Ne 9.32–37).
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 9.32–37). Wheaton, IL: Victor Books.
82
“Por causa de tudo isso, estabelecemos aliança fiel e o escrevemos; e
selaram-na os nossos príncipes, os nossos levitas e os nossos sacerdotes” (v.
38) – Os líderes civis, religiosos (levitas e sacerdotes), e todas as demais pessoas
concordaram em colocar os seus selos num acordo por escrito de que eles iriam
obedecer às prescrições da Lei de Moisés (cf. v 29). A lista começa com Neemias,
que mais uma vez foi um excelente exemplo para o povo (Ne 10.1).
Devemos retornar dos nossos maus caminhos. Nada é mais difícil do que
se arrepender. Se arrepender é andar na contramão de nossa natureza
pecaminosa, mas é necessário para a felicidade pessoal e a bênção de Deus. A
promessa é que, se nos arrependermos dos nossos pecados, então Deus ouvirá do
céu (Ele nunca tapa os ouvidos ao arrependido), perdoará nossos pecados (o
quanto precisamos dele), e sarará a nossa terra.
83
Conclusão:
O comentarista bíblico John MacArthur estava certo quando escreveu:
177 MacArthur, J. (2001). Nehemiah: experiencing the good hand of God. MacArthur Bible
studies (92–93). Nashville, TN: W Publishing Group.
178
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 120.
84
O preço do avivamento
[Estudo 10 – Ne 10.1-39]
Um pastor estava ensinando sobre como estudar a Bíblia. Ele mostrou como
encontrar as promessas e os mandamentos nas Escrituras. Finalmente, revisou e
perguntou: “Agora, o que você faz com os mandamentos?” Uma senhora levantou a
mão e disse: “Eu os sublinho com caneta azul”.
Sublinhar os mandamentos da Bíblia, em azul, pode deixar a Bíblia colorida,
mas os mandamentos existem para serem obedecidos. Infelizmente, algumas
pessoas possuem muitas informações acerca da Bíblia, mas não obedecem ao que a
Bíblia ordena. Esse é, sem dúvida alguma, um dos grandes problemas da igreja
contemporânea, pouco conhecimento e pouca obediência.
O falecido pastor Presbiteriano James M. Boice, em seu comentário sobre
Neemias, disse que algo que sempre o intrigou era o fato de que dificilmente as
pessoas mudam de comportamento depois de anos de terapia ou aconselhamento
com especialistas. Certa vez, ele perguntou a um amigo psicólogo, “Por que há tão
pouca mudança através da terapia?” O amigo respondeu: “É porque as pessoas
realmente não querem mudar. As mudanças não ocorrem, a menos que você
queira”.179
Em Neemias 8, vimos o início de um avivamento quando o povo de Deus se
reuniu para ouvir a Sua Palavra lida e explicada. No capítulo 9, o povo se
arrependeu e confessou seus pecados. Agora, no capítulo 10, eles fazem um pacto
para colocar a verdade de Deus em prática em várias áreas específicas. O texto
revela cinco áreas onde o povo estava decidido a aplicar, de forma pessoal, à
verdade de Deus.
179 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (106). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
180 Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament survey series (Ne 9.38–10.27).
85
Alguns destes nomes são idênticos aos da lista de Esdras 2 e Neemias 7. Outros
representam famílias novas que se dividiram no tempo de Zorobabel, ou recém-
chegados da Babilônia.
A desobediência traz, inevitavelmente, o castigo; e os judeus sentiam que já
tinham sofrido bastante. Agora querem a bênção de Deus. Seu primeiro
compromisso, portanto, foi com a sua Palavra.181 Primeiramente, eles se
comprometeram em submeter-se à Palavra de Deus e separar-se de seus vizinhos
pagãos. Mas o pacto incluiu, também, questões envolvendo o templo (v. 32-39).
Leis para todas as ofertas de forma a não “negligenciar a casa de Deus” (v. 39).182
Neemias foi o primeiro a colocar o seu selo sobre o documento. Cyril Barber
estava certo quando disse que, “Ele dá um passo e oferece exemplo para que os
demais o sigam”.183 Os líderes colocaram seus nomes na linha pontilhada e
comprometeram-se a fazer o que eles esperavam que os seus liderados fizessem.
Certa mãe, que mentia sobre a idade do filho só para não pagar de forma
integral a passagem de ônibus, foi reprender o menino por não dizer a verdade.
“Johnny”, ela disse com firmeza: “você sabe o que acontece com meninos que
dizem mentiras?” “Sim”, respondeu o menino, “eles viajam pagando a metade da
passagem”. Ele, obviamente, tinha aprendido com a liderança de sua mãe!
O exemplo de contar as chamadas “mentiras brancas”, quando,
aparentemente, não teremos nenhuma vantagem ao dizer a verdade, pode levar
nossos filhos a aprender rapidamente! Pregar uma mensagem e viver de forma
diferente é hipocrisia.
A mudança na vida do povo de Deus começa na liderança. O povo segue os
seus líderes. Na verdade, o povo é como um espelho que reflete sua liderança.
181
BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 125.
182 MacArthur, J. (2001). Nehemiah: experiencing the good hand of God. MacArthur Bible
86
os judeus estavam se comprometendo a viver sob a autoridade da Lei de Moisés
que Deus havia dado a eles.
Ao referir-se à Lei como “Lei de Deus”, dada por meio de Moisés, eles
estavam afirmando que acreditavam na plena inspiração e autoridade dos Escritos
de Moisés como Palavra de Deus. Porque ela é a Palavra de Deus, não a palavra de
Moisés; eles eram obrigados a obedecer a tudo.
Se a Bíblia é a Palavra de Deus, então nós não podemos obedecer apenas às
partes que gostamos e rejeitar o que não gostamos. O conhecimento das Escrituras
deve produzir uma transformação em nossa vida.
John Bunyan, o autor do best-seller “O Peregrino”, disse, com inteireza:
“Somente quando a Palavra for verdadeiramente guardada em nosso coração é que
seremos capazes de declarar sua verdade aos outros com autoridade e graça”.
O mais prestigiado centro de estudos islâmicos do mundo é a Universidade
Al-Azhar, na cidade do Cairo, Egito. A universidade conta com trinta mil alunos.
Porém, o que chama mais atenção é o pré-requisito para estudar lá, ou seja, a
capacidade de recitar o Alcorão de cor. O alcorão tem 114 capítulos e cerca de 78
mil palavras.184
“... e todos os que se tinham separado dos povos de outras terras para a
Lei de Deus...” (v. 28) – Além disso, observe que as pessoas deste pacto “tinham se
separado dos povos de outras terras”. O ensino da separação precisa ser enfatizado
em nossos dias. Todavia, em algumas situações o povo de Deus se separa de tal
modo do mundo, que se isola daqueles que foram chamados a evangelizar.
No entanto, parece que os cristãos têm oscilado ao outro extremo, onde não
existe uma diferença significativa entre a maneira como vivem e a maneira como o
mundo vive.
O equilíbrio que precisamos manter é o de estarmos no mundo, mas não
sermos do mundo (Jo 17.14-17). Devemos viver no mundo para influenciar
costumes culturais (Mt 5.13-16). Mas temos que ser distintos porque devemos
obedecer à Palavra de Deus (Jo 17.14, 17; Ne 10.28). Esse conhecimento nos faz
diferentes do mundo em termos de nossos relacionamentos, metas e valores.
DIETZ, Wilhelm, Holy war, New York, Macmillan, 1984, p. 108 e 109. apud. LARSEN, L.
184
87
Canaã (Dt 7.3-4). Embora existam muitos casos em que Deus, graciosamente,
utiliza uma pessoa para levar o cônjuge incrédulo à salvação, essas situações não
podem justificar a desobediência à ordem clara de Deus para não entrar em um
jugo desigual com os incrédulos (2Co 6.14). Esdras tinha lidado com este problema
alguns anos antes (Ed 10), e Neemias teria de lidar com esse problema novamente
no final do período de seu serviço em Jerusalém (Ne 13).
Essa decisão de não se envolver com outros povos não era um preconceito
étnico, uma vez que o povo judeu sempre teve alguns indivíduos de outros povos.
Moisés se casou com uma etíope. Raabe de Jericó, e Rute, a moabita, foram
incluídas ao povo de Israel. A preocupação não era racial, mas religiosa (Êxodo
34.12-16).185 Casamento misto é um caminho muito tênue que pode levar o povo
de Deus para longe dos caminhos do Senhor.
Quando os crentes se afastam dos caminhos de Deus, mais cedo ou mais
tarde vão se juntar com pessoas erradas. E Satanás usa pessoas erradas para levá-
lo ainda mais para longe do Senhor. O Apóstolo Paulo escreveu: “Não vos enganeis:
as más conversações corrompem os bons costumes...” (1Co 15.33). Se você deseja ser
um homem ou uma mulher segundo o coração de Deus, então você não pode
fomentar amizades com aqueles que se opõem a Deus e as pessoas de Deus.
A tentação de casamentos mistos tem sido uma armadilha permanente que
Satanás tem usado por séculos contra o povo de Deus. Se você é solteiro, não se
case com um incrédulo! Além disso, cuidado com crentes nominais que afirmam
conhecer a Cristo, mas que não sejam comprometidos em viver em obediência a
Ele. O apóstolo Paulo sabia disso. Nas palavras que ecoam a preocupação do povo
judeu sob Neemias, ele escreveu: “Não vos ponhais em jugo desigual com os
incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou
que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que
união, do crente com o incrédulo?” (2Co 6.14-15; 7.1).
Assim, a aplicação pessoal da verdade espiritual deve começar com a
liderança. Ela começa com a santidade pessoal, baseada em submissão à Palavra de
Deus, e estende-se ao lar.
BakerBooks.
88
judeus lidavam com o sábado como qualquer outro dia. O versículo 31 indica que a
venda de bens e alimentos no sábado se tornou uma prática comum: “trazendo os
povos da terra no dia de sábado qualquer mercadoria e qualquer cereal para
venderem, nada comprariam deles no sábado” (v. 31). Mas agora, eles estavam
destinados a transformar o sábado em um dia de descanso dedicado ao Senhor.
É importante saber que a palavra “shabbath”, traduzida por sábado, em
Êxodo 20, significa, literalmente, “descanso”. Essa informação é importante, pois
mostra que os cristãos que guardam o domingo não descumprem o mandamento.
Nós continuamos descansando um dia, depois de seis trabalhados. O Shabbath
seria um dia que marca o fim da semana e a cessação do seu trabalho.186
Embora existam opiniões diferentes sobre se os cristãos devem guardar ou
não o sábado, a Bíblia diz que não estamos mais debaixo da Lei (Rm 6.14). Assim, o
domingo não é o sábado cristão, com uma lista de coisas que podemos ou não
podemos fazer (Rm 14.5; Gl 4.10; Cl 2.16-17). Entretanto, ao mesmo tempo há
princípio nas Leis do sábado no Antigo Testamento que podemos e devemos
aplicar hoje.
Murray afirma corretamente que “... o Shabbath... não deve ser definido em
termos de cessação das atividades, mas cessação do tipo de atividade que fazia
parte do trabalho nos outros seis dias”.187 Domingo é também um bom dia para
investir tempo com outros crentes, e tempo com o Senhor durante os horários que
estávamos ocupados durante a semana, no trabalho.
Conforme a Confissão de Fé de Westminster, “Deus designou
particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por
Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último
da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da
semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de
continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão”. Ref. Êx 20.8-11; Gn 2.3; 1Co
16.1-2; At 20.7; Ap 1.10; Mt 5.17-18. (Capítulo XXI, Do Culto Religioso e do
Domingo, Seção VII).
186 CARSON, D. A. (organizador), Do Shabbath para o dia do Senhor. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2006, p. 23.
187 MURRAY, John. Principles of conduct (Grand Rapids: Eerdmans, 1957), p. 33.
188 MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do fogo. Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos.
89
condenado inocentes. Porque o Filho do Homem é senhor do sábado” (Mt 12.7-8).
Jesus honrou e reconheceu o sábado, mas ainda o mais importante, Ele identificou-
se como o Senhor do sábado.
Mais adiante os fariseus, tentando apanhar Jesus na quebra do sábado,
questionaram se era lícito curar no sábado. Observe o que aconteceu: “Tendo Jesus
partido dali, entrou na sinagoga deles. Achava-se ali um homem que tinha uma das
mãos ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Jesus: É
lícito curar no sábado? Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que,
tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço,
tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos
sábados, fazer o bem. Então, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e ela ficou
sã como a outra. Retirando-se, porém, os fariseus, conspiravam contra ele, sobre
como lhe tirariam a vida” (Mt 12.9-14).
Para os fariseus, o sábado havia se tornado uma imposição e uma mera
instituição. Contudo, somente Deus tem o direito de definir o sábado e Ele o faz,
definitivamente, em Cristo.189 Perceba que os fariseus estavam dispostos a tirar a
vida do Senhor Jesus e assim quebrar o sexto mandamento “não matarás” (Êx
20.13), simplesmente porque entendiam que Jesus não cumpria o quarto
mandamento.
189
MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do fogo. Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos.
São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 70.
190 Achtemeier, P. J., & Society of Biblical Literature. (1985). Harper’s Bible dictionary (1st
90
3. O Propósito do Dia do Senhor.
O propósito do Dia do Senhor é o mesmo do sábado do Antigo Testamento?
A resposta é não! No Novo Testamento, o Dia do Senhor é principalmente sobre
adoração, sobre a pregação da Palavra, sobre a Ceia do Senhor, onde a comunhão
dos santos aponta para uma refeição que ainda está por vir. O Dia do Senhor
aponta não apenas para o passado, para a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, mas
também aponta para frente, escatologicamente, para aquele descanso que vamos
desfrutar quando estivermos na presença do Senhor e não houver mais nenhum
trabalho.191 “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que
entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus
das suas” (Hb 4.9-10).
No céu, não haverá evangelismo, missões ou obras de caridade. Tudo vai ser
perfeito. Todos ficarão bem! Todos os olhos estarão secos e cada lágrima será
enxugada.
191 MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do fogo. Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos.
São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 74.
192
MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do fogo. Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos.
São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 76.
193 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (111). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
91
Algumas considerações sobre o domingo:
194 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (123). Wheaton, IL:
Victor Books.
92
V. Aplicação pessoal da verdade de Deus deve se estender
ao nosso compromisso com a igreja
“32 Também sobre nós pusemos preceitos, impondo-nos cada ano a
terça parte de um siclo para o serviço da casa do nosso Deus, 33 e para
os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e para o
contínuo holocausto dos sábados e das Festas da Lua Nova, e para as
festas fixas, e para as coisas sagradas, e para as ofertas pelo pecado, e
para fazer expiação por Israel, e para toda a obra da casa do nosso
Deus”.
195O siclo era a unidade básica de peso. Além do siclo regular, houve um siclo “real” (2Sm
14.26). O siclo tem sido estimado em (11,4 gramas). O siclo é usado nas Escrituras quase
exclusivamente em contextos que lidam com valor monetário. Se a prata, o ouro, a cevada,
ou farinha, a avaliação da mercadoria atribui um valor relativo a siclo na economia. As
exceções a isto são a armadura e lança de Golias (1Sm 17.5-7), que são descritos em termos
do seu peso - siclo. Elwell, W. A., & Comfort, P. W. (2001). Tyndale Bible dictionary. Tyndale
reference library (1299). Wheaton, IL: Tyndale House Publishers.
93
O fogo no altar de bronze deveria ser mantido aceso constantemente (Lv
6.12-13), sendo necessária uma fonte constante de madeira.
“os levitas e o povo deitamos sortes acerca da oferta da lenha...” (v. 34) –
Os líderes sorteavam e atribuíam às famílias o tempo em que deveriam levar a
madeira até o altar. Nem todo mundo em Israel era um sacerdote ou levita. Alguns
poderiam doar cordeiros ou bois para sacrifícios, mas todo mundo poderia levar
um pouco de madeira e ajudar a manter o fogo aceso.196
Eles prometeram fornecer a madeira necessária para o templo. Da mesma
forma, organizações sem fins lucrativos precisam de doações de alimentos e
roupas. Podemos oferecer nossa experiência em determinadas áreas.197 E, o mais
importante, podemos contribuir com nosso tempo.
3. As primícias.
“E que também traríamos as primícias da nossa terra e todas as
primícias de todas as árvores frutíferas...” (v. 35) – A terceira responsabilidade
foi renovar a oferta de primícias (v. 35-37a). Esta oferta é mencionada várias vezes
na Lei do Antigo Testamento (Êx 23.19, 34.26 e Dt 26.2). A Lei declarou que o
primogênito de cada família, bem como o primogênito de todos os rebanhos,
pertencia ao Senhor. A oferta de primícias era entregue em reconhecimento de que
tudo o que se seguia também vinha das mãos do Senhor, como um presente
gracioso ao seu povo.
4. O dízimo.
“As primícias da nossa massa, as nossas ofertas, o fruto de toda
árvore...” (v. 37) – A quarta responsabilidade foi o dízimo (v. 37b-39). O dízimo
diferia da oferta das primícias, sendo a décima parte de tudo o que era produzido
pelos judeus. O precedente foi estabelecido por Abraão, que apresentou um décimo
dos seus despojos a Melquisedeque, o sacerdote de Salém. Todo judeu do Antigo
Testamento sabia que 10 por cento de toda sua renda era devido ao Senhor. Essa
responsabilidade, evidentemente, também caiu no esquecimento.
Novamente, não estamos sob a Lei de Moisés, mas há princípios, nela, que se
aplicam a nós. O princípio geral é que devemos estar comprometidos com a casa do
Senhor. Dar as primícias significa que devemos dar o melhor ao Senhor e não as
sobras. Nossa oferta deve ser planejada e alegre, mostrando que Deus tem o
primeiro lugar em nossos corações (1Co 16.1-2; 2Co 8 e 9).
O padrão do Novo Testamento para dar o dízimo não é (10%), mas 100%
(1Co 16.2). Ele é o dono de tudo, nós apenas administramos para fins do Seu reino.
Administrar bem as finanças à luz do propósito de Deus é um indicador muito
confiável do seu compromisso com Jesus Cristo (Lc 16.10-13).
Deus não precisa do nosso dinheiro para manter Sua obra. Nem a Igreja
deixará de existir, se alguns membros forem infiéis no dízimo, porque nosso Deus
tem todo poder para multiplicar pães e peixes (Mc 6.41). Quando entregamos os
196 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (125). Wheaton, IL:
Victor Books.
197 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (112). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
94
dízimos e ofertas estamos adorando e, sobretudo, com a afirmativa de que não
estamos escravizados aos bens, e que confiamos no Senhor (Hb 13.5-6; 1Tm 6.7-
10).
Lamentavelmente, existem muitos crentes infiéis que, por causa da
infidelidade e do devorador, tornaram-se reféns da farmácia, do agiota, da oficina
mecânica, dos acidentes na empresa, incêndios, negócios mau feitos, etc. (Dt 28.15-
68; JI 1.4;12; Ag 1.6; At 5). Tudo por causa da infidelidade.
A maneira de acabar com esta maldição financeira não é pedindo a Pastores
que orem por você, nem jejuando ou fazendo votos de dar isto ou aquilo outro para
a igreja ou alguma entidade filantrópica; porém, tomando uma atitude de ser fiel a
Deus nos seus dízimos e nas suas ofertas. Assim, o devorador desaparecerá da sua
vida (MI 3.11).
Deus tem o remédio ideal para acabar com a crise financeira em nossa vida.
O nome deste precioso remédio é fidelidade. Devolva aquilo que pertence ao
Senhor. Comece hoje uma vida de fidelidade com Deus.
Conclusão:
Uma fé que não custa nada não vale nada.198 Se desejamos experimentar
uma renovação espiritual, precisamos aplicar a Palavra de Deus em todas as áreas
de nossa vida.
Uma senhora de cabelos grisalhos, que era membro de longa data da sua
igreja, saiu pela porta num domingo e disse ao seu pastor, “foi um sermão
maravilhoso. Tudo o que o Senhor disse se aplica a alguém que eu conheço”. A
chave para a renovação espiritual não é aplicar a verdade de Deus aqueles que
conhecemos. Na verdade, devemos aplicá-la pessoalmente e especificamente.
Você quer a bênção de Deus em sua vida? Se você disser que sim, então não
seja um ouvinte negligente da Palavra. Seja um praticante eficaz e você será
abençoado por Deus.
198Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament survey series (Ne 10.30–39).
Joplin, MO: College Press.
95
Deus não é injusto
[Estudo 11 – Ne 11.1-36]
199Restoring and renewing the people of God (A Study of Ezra & Nehemiah) by Jack W.
Hayford with Joseph Snider. Nashville, TN: Thomas Nelson Publishers, Inc. 1998 by Jack W.
Hayford. Page 133.
96
vivia nas cidades ou em vilarejos longínquos. No primeiro momento não era um
oportunidade econômica habitar na capital. Era muito mais fácil viver e cultivar o
seu próprio pedaço de terra. Assim, a maioria das pessoas se contentava em não
abandonar as terras e viver nas aldeias vizinhas.
Por que não havia muitas pessoas vivendo na cidade Jerusalém? A cidade
estava sem muros por cerca de 160 anos. Os judeus passaram 70 anos na
Babilônia, e um adicional de 90 anos se passou antes de Neemias entrar em cena.
Assim, por mais de 160 anos, Jerusalém era uma pilha de escombros. Então, o que
as pessoas fizeram? Eles construíram casas espaçosas, ricamente decoradas, no
subúrbio. A maioria dos judeus havia abandonado a vida urbana.
A outra razão para a falta de pessoas foi o fato de que, se alguém mudasse
para a cidade, teria muito trabalho para fazer. Então, como é que eles levaram as
pessoas para a cidade? Isso deve ter incomodado a Câmara de Comércio de
Jerusalém, nos dias de Neemias. Eles tinham que elaborar um plano.
Veja o versículo 1 de Neemias 11. Alguém vivia em Jerusalém? Sim, os
membros da Câmara de Comércio: “Os líderes do povo viviam em Jerusalém”. Eles
tinham que morar lá, era parte do trabalho. Recebiam um bônus anual, que
provavelmente fazia parte de um plano de incentivo para encorajar a viver na
cidade.200 Mas o restante do povo, não. Eles viviam nas aldeias vizinhas, atraentes
pelo vale-subúrbio.
“... mas restante deitou sortes para trazer um de dez para que habitasse
na santa cidade de Jerusalém...” (v. 1) – Neemias sabia que para a cidade se
tornar forte e próspera, ela teria que ser habitada por pessoas dispostas a defendê-
la. Porém, foi necessário tirar a sorte e escolher um de cada dez pessoas para
morar em Jerusalém.
Alguns desses cidadãos tiveram que ser quase “arrastados” para Jerusalém
(Ne 11.1-2). O povo havia prometido dizimar seus produtos (Ne 10.37-38). Agora,
Neemias decidiu dizimar o povo, e 10 por cento dele foi escolhido por sorteio para
abandonar as aldeias em Jerusalém. 201
200 Swindoll, Charles R. Hand me another brick. [Word Publishing, Thomas Nelson
Company], 1998, p. 135).
201 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (129–130). Wheaton, IL:
Victor Books.
202 Willamson, H. G. M. (1998). Vol. 16: Ezra, Nehemiah. Word biblical commentary (350–
the Whole Bible (Ne 11.1). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.
97
“... Os homens voluntariamente se ofereciam...” (v. 2) – O que torna esta
ação dos voluntários significativa é a palavra traduzida por “voluntariamente”. É
uma palavra hebraica (nadab), que significa “impulsionar, impelir, incitar a partir
de dentro”. Inerente à palavra está a ideia de generosidade interior e vontade. Em
outras palavras, bem no fundo, estes voluntários foram despertados, eles foram
impelidos por Deus a se moverem.204 E eles o fizeram de boa vontade e
generosidade. Se não houvesse voluntários, a cidade não teria prosperado, nem
poderia ter resistido aos ataques inimigos que surgiram nos anos posteriores.
Aqueles que se mudaram tiveram que arrancar as raízes de onde estavam,
desistir de sua área cultivada e mudar-se para o que, rapidamente, se tornou uma
cidade povoada. Com base no número de homens que se mudaram para a cidade
(3044), havia cerca de 10.000 pessoas (uma estimativa conservadora), que se
mudaram para a cidade, com uma população total de 100.000 judeus na terra.205
Embora fosse inconveniente, essas pessoas estavam dispostas a viver onde Deus
queria que eles estivessem, a fim de servi-Lo em Seu propósito.
O registro dos que mudaram para Jerusalém inclui os filhos de Judá (468, Ne
11.6), os filhos de Benjamin (928, Ne 11.8), sacerdotes (822, Ne 11.12), levitas
(284, Ne 11.18), porteiros (172, Ne 11.19) e outros. Os cantores do templo tinha
um estatuto especial na cidade sob ordem direta do rei Artaxerxes (11.3-24).206
Uma das primeiras considerações que qualquer servo de Deus deve pensar
é: “Onde Deus quer que eu viva?” Você já imaginou o que iria acontecer se na igreja
local dez por cento dos membros fossem convidados a se mudar, a fim de
fortalecer e ampliar o trabalho do Senhor em outra região? Será que teríamos
algum voluntário?
204
Swindoll, Charles R. Hand me another brick. [Word Publishing, Thomas Nelson
Company], 1998, p. 136).
205 See Howard F. Vos, Bible study commentary: Ezra, Nehemiah, and Esther (Grand Rapids:
p. 133.
98
“Dos sacerdotes: Jedaías, filho de Joiaribe, Jaquim... Dos levitas: Semaías,
filho de Hassube, filho de Azricão, filho de Hasabias, filho de Buni” (v. 10 e 15) –
Em seguida, os sacerdotes, levitas, e os trabalhadores do templo são nomeados (Ne
11.10-24). No entanto, é importante notar que Deus havia reservado cidades
especiais para eles (Js 21), para que pudessem legitimamente viver fora de
Jerusalém; mas eles escolheram morar com o povo, enquanto serviam a Deus no
templo. Como Jeremias, eles optaram por permanecer com o povo, mesmo que
fosse mais seguro e mais confortável viver em outro lugar (Jr 40.1-6).
Os sacerdotes oficiavam no altar, e os levitas os assistiam. Alguns
supervisionavam a manutenção do templo (Ne 11.16), enquanto outros
ministravam com oração e louvor (v. 17, 22); e ambos eram importantes. Havia
cerca de 300 homens designados para proteger o templo (v. 19). Uma vez que os
dízimos e ofertas eram armazenados no templo, era importante que o edifício fosse
protegido.208
Eram necessárias muitas pessoas, com habilidades diversas, para manter o
ministério em Jerusalém, e cada pessoa servia a Deus em sua respectiva área.
Aqueles que viviam fora de Jerusalém tinham que cultivar sua terra e fornecer
alimentos para os outros moradores vizinhos. Cada um tinha um papel diferente,
mas cada papel era fundamental para a causa inteira.
De forma semelhante, no corpo de Cristo, cada membro é vital para o
funcionamento e saúde do corpo (1Co 12.12-30). Devemos aprender a cooperar
uns com os outros sem atrito ou rivalidade. Deus usa muitas pessoas com
diferentes dons e habilidades para fazer o seu trabalho neste mundo. O importante
é se entregar ao Senhor para que Ele possa nos usar como Seus instrumentos, para
realizar a Sua obra. Cada pessoa é importante e cada tarefa é significativa.
A vida de João Calvino é um belo exemplo do que significa viver para a
glória de Deus. Em 1538 os líderes de Genebra reagiram contra as doutrinas dos
pastores protestantes; Calvino e vários outros clérigos foram banidos da Suíça.
Porém, em maio de 1541, o Conselho de Genebra revogou a proibição de exercer
atividades litúrgicas de Calvino, e até o considerou como um homem de Deus. Isso
criou uma decisão agonizante para ele, porque sabia que a vida em Genebra seria
cheia de controvérsia e perigos. Mais tarde, em outubro, ele disse a William Farel
que, embora preferisse não ir, “... eu sei que eu não sou o meu próprio mestre, eu
ofereço meu coração como um verdadeiro sacrifício ao Senhor”. Isto se tornou o
lema de Calvino, e a imagem do seu emblema incluiu uma mão segurando um
coração para Deus, com a inscrição Prompte et sincero (“pronto e sinceramente”).
Na terça-feira, 13 setembro de 1541, Calvino entrou Genebra pela segunda
vez para servir à igreja até a sua morte, em 27 de maio de 1564.209
Quando ele tinha 30 anos de idade, descreveu uma cena imaginária de si
mesmo, no final de sua vida, prestando contas a Deus. Ele disse: “A coisa [ó Deus]
em que eu principalmente busco, e para o qual eu trabalhei mais diligentemente,
foi que a glória de tua bondade e justiça... resplandecesse, que a virtude e as
bênçãos de Cristo... pudessem ser totalmente exibidas”.210
208 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (130–131). Wheaton, IL:
Victor Books.
209 Piper, J. (2009). John Calvin and his passion for the majesty of god. Wheaton, IL:
Crossway.
210 John Dillenberger, John Calvin, selections from his writings (Atlanta: Scholars Press,
1975), 110.
99
Vinte e quatro anos depois, inalterado em suas paixões e metas, e um mês
antes de realmente prestar contas a Cristo, no céu (ele morreu com 54 anos), as
últimas palavras de Calvino foram: “Eu não escrevi nada por ódio a qualquer
pessoa, mas eu fielmente sempre propus e estimei viver para a glória de Deus”.
A maioria destes nomes não significa nada para nós. Alguns não foram nem
citados, mas foram relacionados com todos os seus parentes como um grupo
(11.12-14). Zabdiel é nomeado (11.14) e, embora não signifique nada para nós, os
seus 128 parentes, não mencionados, eram guerreiros valentes. Eles, mesmo não
tendo o nome mencionado, se destacam por manter a cidade segura.
Em Neemias 11 encontramos três grupos específicos que, voluntariamente,
se ofereceram para povoar a cidade, embora a sua entrega permanecesse anônima.
100
supervisão das instalações externas do edifício do templo (cf. Ed 8.33; 10.15; Ne
8.7). Embora tivessem uma função tão sublime, provavelmente você não se lembra
de um de seus nomes!
212 ARMSTRONG, John, O ministério pastoral segundo a Bíblia. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2007, p. 73.
213 BOUNDS, E. M., Purpose in prayer, Pensilvânia, Whitaker House, 11-14. apud. LOPES,
101
Hoje, esses nomes são desconhecidos; mas o fato de não serem conhecidos
não tem nada a ver com suas recompensas finais. Deus nunca verifica um medidor
de aplausos para determinar nossas recompensas.
De forma semelhante, a igreja precisa de muitas pessoas para funcionar
bem. A igreja teria sérios problemas se não tivéssemos pessoas trabalhando nos
bastidores. Existem pessoas que nunca aparecem debaixo dos holofotes, mas
fazem o que Deus lhes deu para fazer, nos bastidores. Eles são como nossos órgãos
vitais: você nunca irá vê-los, mas quando um deles se fecha para baixo, você está
em apuros! Observe duas coisas sobre essas pessoas:
214 Charles Swindoll. Hand me another brick. [Thomas Nelson Publishers], p. 133).
215 MacArthur, J. (1996). Ephesians (137). Chicago: Moody Press.
102
Os dons que recebemos podem nos tornar importantes, mas não
necessariamente famosos. Talvez você não se considere tão importante quanto
Neemias ou Esdras, porém, você não é anônimo para Deus.
Conclusão:
O missionário pioneiro, William Carey, era um sapateiro antes de ir para o
campo missionário. Ele mantinha um mapa da Índia em sua loja, parando de vez
em quando para estudá-lo, com o desejo de pregar o evangelho naquele país.
Um dia um amigo o aconselhou pelo fato de negligenciar o seu negócio.
“Negligenciar o meu negócio?” Carey disse: “Meu negócio é proclamar o reino de
Deus. Eu apenas conserto sapatos para pagar as despesas”. Essa deve ser a
mentalidade de cada cristão. Se você conhece a Cristo como seu Salvador, você está
no ministério, agora!
Não há nada de errado em ser bem sucedido nos negócios. Deus deseja que
sejamos diligentes e zelosos em nosso trabalho. Também não significa que todos os
cristãos devem deixar o emprego “secular” e trabalho em tempo integral em uma
agência missionária. Alguns são chamados para fazer isso, como William Carey o
foi, mas certamente não todos. É apenas uma questão de dom e de chamado.
Entretanto, se você é um seguidor de Jesus Cristo, você deve adotar o Seu
propósito para a sua vida. Sua palavra para todos nós é: “Não acumuleis para vós
outros tesouros sobre a terra...” e “... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a
sua justiça...” (Mt 6.19, 33). O seu objetivo deve ser o de glorificar a Deus e seu foco
principal é se tornar uma testemunha de Jesus Cristo através de seu
comportamento, atitudes e palavras. As pessoas que se relacionam com você são o
seu campo missionário.
Não muito tempo atrás, a organização Gallup realizou uma pesquisa com
moradores de cidades com população superior a 50 mil habitantes, perguntando
que organização poderia melhorar a vida da cidade. Havia todos os tipos de
sugestão: a prefeitura, a câmara de vereadores, jornais locais, empresas locais,
grupos de moradores, a câmara de comércio, bancos, clubes de serviços,
construtoras, tudo o que você possa imaginar. Você sabe que grupo liderou a lista?
As igrejas locais! Eles venceram com 48 por cento dos votos, à frente até mesmo da
prefeitura, que ficou em segundo lugar. Ela teve apenas 39 por cento.216
O mundo está esperando para ver o que os verdadeiros cristãos podem
fazer. Na realidade, Deus também está esperando. Os únicos que podem mudar
uma cidade são aqueles que amam a Deus sobre todas as coisas, e estão dispostos a
fazer o que Deus quer que eles façam.
Você está servindo a Deus de acordo com os dons que recebeu Dele?
103
O Deus de toda alegria
[Estudo 12 – Ne 12-1-47]
I. A preparação
“27 Na dedicação dos muros de Jerusalém, procuraram aos levitas de
todos os seus lugares, para fazê-los vir a fim de que fizessem a
dedicação com alegria, louvores, canto, címbalos, alaúdes e harpas.
28 Ajuntaram-se os filhos dos cantores, tanto da campina dos
arredores de Jerusalém como das aldeias dos netofatitas, 29 como
também de Bete-Gilgal e dos campos de Geba e de Azmavete; porque
os cantores tinham edificado para si aldeias nos arredores de
Jerusalém. 30 Purificaram-se os sacerdotes e os levitas, que também
purificaram o povo e as portas e o muro”.
217
Swindoll, Charles R. Hand me another brick. [Word Publishing, Thomas Nelson
Company], 1998, p. 144).
104
O livro pode ser divido em duas partes. A primeira diz respeito à construção
e restauração dos muros, uma tarefa na qual Neemias desempenhou o papel
principal (1-7). A segunda parte, mais curta, refere-se ao avivamento em
Jerusalém. Neste avivamento, Esdras, o sacerdote e chefe espiritual da nação, é a
figura mais proeminente (8.1-12.26). Todavia, na dedicação dos muros, essas duas
importantes seções do livro se encontram e se unem. Esdras está presente para
levar metade das pessoas em celebração. Neemias leva a outra metade.218 Além
disso, o mais importante é o fato de que os dois grupos circulam pelos muros que
Neemias construiu, e convergem para o templo, o centro espiritual de Jerusalém.
“Então, fiz subir os príncipes de Judá sobre o muro e formei dois grandes
coros em procissão...” (v. 31) – É significativo observar que a narrativa está na
primeira pessoa. O que foi feito na primeira metade do livro, é retomado agora; ou
seja, Neemias havia assumido um papel secundário, enquanto Esdras, o sacerdote,
assumiu o papel principal e conduziu o povo em uma renovação e dedicação ao
Senhor. Mas agora, Neemias reassume a liderança. Era certamente apropriado que
ele conduzisse as pessoas na dedicação dos muros, uma vez que ele havia sido o
motor principal na sua reconstrução.
218 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (126). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
219 Bridges, J. (2006). The fruitful life: the overflow of God’s love through you (75–77).
105
deixe Satanás, ou qualquer outra pessoa, roubar-lhe esse dom precioso de Deus
para sua vida.
II. A proclamação
“31 Então, fiz subir os príncipes de Judá sobre o muro e formei dois
grandes coros em procissão, sendo um à mão direita sobre a muralha
para o lado da Porta do Monturo”.
A dedicação dos muros foi um tempo precioso para louvar a Deus. Neemias
organizou dois corais para caminhar em sentidos opostos por cima dos muros, até
que os dois se encontrassem no templo.
1. Um grande coral.
“Então, fiz subir os príncipes de Judá sobre o muro e formei dois grandes
coros em procissão... Esdras, o escriba, ia adiante deles...” (v. 31 e 36) – Neemias
reuniu dois corais (v. 8, 27). O número de cada coro não é indicado. Os dois grupos,
provavelmente, começaram perto da porta do Vale, avançando em direções
opostas, que curiosamente é o lugar onde Neemias começou e terminou sua
inspeção noturna dos muros que estavam em ruínas (Ne 2.13-15).
220Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 12.27–30). Wheaton, IL: Victor Books.
106
O grupo sob a liderança de Esdras caminhou por cima dos muros em
direção à Porta do Monturo (v. 31), passando pela Porta da Fonte até a Porta das
Águas.
“O segundo coro ia em frente, e eu, após ele; metade do povo ia por cima
do muro, desde a Torre dos Fornos até ao Muro Largo...” (v. 28) – O segundo
grupo caminhou em sentido horário, provavelmente começando na porta do Vale e
passando por várias portas e torres, até chegar ao Portão da Guarda. Este grupo
incluía Neemias e metade dos magistrados (12.40), sacerdotes (sete deles, com
trombetas), e outras oito pessoas que, aparentemente, eram cantores.
Mas por que Esdras e Neemias organizaram este tipo de culto de dedicação?
Por que eles não se encontram na área do templo com os levitas e sacerdotes? Ao
que parece, a caminhada em cima dos muros (v. 31, 38) era uma excelente resposta
aos inimigos. Tobias havia declarado que depois de ser restaurado, o muro seria
tão fraco que mesmo uma raposa, em cima dele, seria capaz de destruí-lo (Ne
4.3).221
Ver as duas procissões marchando por cima dos muros deve ter sido uma
visão impressionante. Sem dúvida alguma, foi uma oportunidade para mostrar a
todos que o trabalho foi feito pelas mãos de Deus (6.16).
Liderado por Neemias (v. 38) Liderado por Esdras (v. 31-37)
Metade dos Funcionários (v. 40) Metade dos Príncipes (v. 32)
Sete sacerdotes com Sete sacerdotes com
trombetas, nomeados (v. 41) trombetas, nomeados (v. 33-35)
Oito Cantores liderados Oito instrumentistas liderados
por Jezraías (v. 42) por Zacarias (v. 35-36)
221Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 12.31). Wheaton, IL: Victor Books.
107
mas depois houve derrota vergonhosa. Quando a fundação do templo foi lançada,
quase um século antes, os trabalhadores gritavam de alegria, mas a alegria foi
misturada com a tristeza de muitos idosos. As pessoas mais velhas se lembravam
do antigo templo, que foi destruído por Nabucodonosor, e contrastavam com a
nova fundação (Ed 3.8-13). No entanto, os gritos na dedicação dos muros foram de
pura alegria, para a glória do Senhor. Warren Wiersbe sabiamente escreveu: “... por
causa desse registro na Palavra de Deus, aquele grito foi ouvido em todo o
mundo”!222
222 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (136). Wheaton, IL:
Victor Books.
223 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (131). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
108
alegre.224 Viver sem alegria é desonrar a Deus e negar o seu amor e o seu controle
sobre nossas vidas.
Quero convidá-lo, neste momento, a olhar para a fidelidade Deus. Você pode
não entender o que está acontecendo, mas se você ama ao Senhor, você pode ter a
certeza de que todas as coisas cooperam para o seu bem (Rm 8.28). Na verdade,
Deus pode realizar algo extraordinário em sua vida. Mattew Henry disse que,
quanto mais clara for a nossa visão da soberania e do poder do céu, menor será
nosso temor diante das calamidades desta terra.225
Não quero minimizar a sua dor, mas desejo que você tenha uma visão maior
da glória futura. Eu não quero que você finja que o sofrimento seja algo agradável,
mas que você seja capaz de dizer, como Paulo: “Por isso nunca ficamos
desanimados. Mesmo que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se
renovando dia a dia. E essa pequena e passageira aflição que sofremos vai nos trazer
uma glória enorme e eterna, muito maior do que o sofrimento. Porque nós não
prestamos atenção nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois o que pode
ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre”
(2Co 4.16-18, NTLH).
Um poema de um autor desconhecido descreve muito bem a promessa da
fidelidade de Deus na vida daqueles que O seguem e obedecem aos Seus
mandamentos:
224 Bridges, J. (2006). The fruitful life: the overflow of God’s love through you (85–86).
Colorado Springs, CO: NavPress.
225 Henry, Matthew: Matthew Henry's commentary on the whole Bible: Complete and
109
III. A provisão
“47 Todo o Israel, nos dias de Zorobabel e nos dias de Neemias, dava
aos cantores e aos porteiros as porções de cada dia; e consagrava as
coisas destinadas aos levitas, e os levitas, as destinadas aos filhos de
Arão”.
“Todo o Israel, nos dias de Zorobabel e nos dias de Neemias, dava aos
cantores e aos porteiros as porções de cada dia...” (v. 47) – Neemias, com muito
cuidado, utiliza as palavras “Ainda no mesmo dia” (v. 44); “nos dias” (v. 47) e
“naquele dia” (13.1).
226 KIDNER, Derek. Esdras e Neemias. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011, p. 140.
227 BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991,
p. 144.
228 LOPES, Hernandes Dias. Neemias, o líder que restaurou uma nação. São Paulo: Editora
Victor Books.
110
Isso significa que os tempos de alegria, embora sejam importantes, não são
fins em si mesmos. Neemias, ao invés de deixar o leitor em um final de conto de
fadas de celebração imaculada nos pátios do templo, declara como essa alegria
poderia ser mantida a longo prazo.230
Que dia foi aquele! Que celebração foi aquela! As pessoas deixaram os seus
interesses de lado e se voltaram completamente para o Senhor. Eles
experimentaram uma alegria genuína, uma alegria que veio do céu, da parte de
Deus. Você não gostaria de experimentar um dia assim?
Conclusão:
Como isso é possível? Warren Wiersbe estava certo quando disse que, “... é
nossa adoração constante que nos prepara para as crises da vida”.231 Ou seja,
aquilo que a vida faz conosco depende do que a vida encontra em nós.
A felicidade não depende de circunstâncias externas, mas de uma
perspectiva correta dos fatos. A crise não faz a pessoa, a crise revela a pessoa. Em
um momento de provação, você busca o que você confia. Um alcoólatra se volta
para a garrafa. Um viciado se entrega às drogas. Uma pessoa do mundo se volta
para a sabedoria do mundo. Um cristão deve voltar-se para o Senhor.
A pessoa que abandona “a sua fé” quando as coisas ficam difíceis está
apenas provando que ele realmente não tinha fé.232 Mas a fé genuína crescerá mais
forte através das provações. A melhor decisão a tomar em meio às aflições da vida
é confiar no coração amoroso e misericordioso do Eterno. Fé significa entregar
tudo a Deus e obedecer a Sua Palavra, a despeito das circunstâncias, consequências
ou sentimentos. As tragédias devem nos levar a uma fé mais profunda e duradoura
em Deus, como a única âncora que pode nos manter firmes durante os
vendavais.233
Com a ajuda de Deus, podemos acertar nossa perspectiva no meio da
calamidade e sair do outro lado melhores do que entramos. Podemos
experimentar, hoje, alguns benefícios da glória futura. O príncipe dos pregadores,
Charles Spurgeon, costumava dizer, “Uma fé pequena levará sua alma para o céu,
mas uma grande fé trará o céu a sua alma”.234
Os judeus se alegraram com a restauração dos muros e com provisão de
Deus. Eles cantaram juntos, e o júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe. As
circunstâncias mudaram? Não, eles tinham mudado. E você?
230Willamson, H. G. M. (1998). Vol. 16: Ezra, Nehemiah. Word Biblical commentary (389).
Dallas: Word, Incorporated.
231 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo. São Paulo: Editora Geográfica, 2007,
Vl, p. 198.
232 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.6). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
233 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas dificuldades da vida. São Paulo: Editora Textus, p.
2003, p. 61.
234 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.8). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
111
O Perigo da tolerância
[Estudo 13 – Ne 13.1-31]
O Senhor Jesus Cristo chamou Sua igreja para ser santa e pura em meio ao
pecado. A primeira instrução de Cristo a Sua igreja foi a respeito de como
confrontar o pecado (Mt 18.15-17).
No livro de Apocalipse, a carta à igreja de Tiatira é a mais longa das sete,
embora dirigida à menor das sete cidades. Ela tem uma mensagem importante
para a igreja de hoje: a falsa doutrina e o pecado não são permitidos, mesmo sob a
bandeira do amor, tolerância e unidade. Pode haver muita coisa que seja louvável
em uma igreja. Ela pode ter um ministério eficaz, pode ser uma igreja grande, e até
mesmo benquista na sociedade. Contudo, a imoralidade e a falsa doutrina, se não
forem confrontadas, trarão o julgamento do Senhor da Igreja.235 Alex D. Montoya
estava certo quando escreveu: “O que toleramos hoje, nossos filhos praticarão
amanhã”.236
Os cristãos de hoje também são tentados a buscar realização pessoal fazendo
concessões indevidas. Porém, a igreja não pode tolerar o pecado de qualquer
forma. Para a igreja de Corinto, que tolerava um homem acusado de incesto, Paulo
escreveu: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o
velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento...” (1Co
5.6-7). Se Deus é absolutamente intolerante com o pecado, a igreja também deve
ser! Aliás, se a igreja não for pura, o que vai proclamar ao mundo?
Neemias enfrentou o problema da permissividade moral. Depois de 12 anos
como governador de Jerusalém (Ne 5.14), ele voltou para a Pérsia (Ne 13.6). Não
sabemos quanto tempo ele ficou lá, mas durante a sua ausência houve uma
tolerância espiritual por parte da liderança que atingiu também o povo.
É interessante obsevar que Neemias tinha aproximadamente 65 anos
quando retornou para Jerusalém. Nesta idade, boa parte das pessoas, hoje em dia,
procura se aposentar. Mas isso não passava pela cabeça Neemias. Neste capítulo,
ele volta para Jerusalém e alcança algumas de suas mais importantes vitórias.237
Neemias enfrentou corajosamente o problema da permissividade espiritual. Seu
exemplo nos ensina que para lidar com a tolerância espiritual, devemos estar
cientes das áreas problemáticas e devemos enfrentá-las vigorosamente.
Contexto:
BakerBooks.
112
falha pecaminosa. Possivelmente tendo ouvido a respeito da iniquidade de
Eliasibe, Neemias retornou (v. 4-7).
“Naquele dia, se leu para o povo no Livro de Moisés; achou-se escrito que
os amonitas e os moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus...”
(v. 1) – Em Deuteronômio, Deus havia declarado que nenhum amonita ou moabita
deveria entrar em aliança com o povo de Israel, por causa da maneira como essas
nações haviam tratado Israel quando eles estavam no deserto (Dt 23.3-5).
Amom e Moabe nasceram da união incestuosa de Ló e suas duas filhas (Gn
19.30-38), e seus descendentes tornaram-se inimigos declarados dos judeus.238 Foi
o casamento misto que deu a Moisés tantos problemas (Êx 12.38; Nm 22.4-6), e dá
problema à igreja, hoje. 239
Porém, no Antigo Testamento há uma história maravilhosa de uma moabita,
chamada Rute. Uma história que serve como um lembrete de que a nossa
fidelidade desempenha um papel no cumprimento das promessas de Deus.
A Bíblia diz que “... havia fome em Israel; e um homem de Belém de Judá saiu a
habitar na terra de Moabe...” (Rt 1.1). Havia escassez de alimentos em Belém,
cidade cujo nome significa “casa do pão”! A fome era evidência da disciplina de
Deus por seu povo haver pecado contra Ele (Lv 26.18-20; Dt 28.15, 23, 24).
Diante das dificuldades, um homem chamado Elimeleque leva sua mulher,
Noemi, e seus dois filhos para encontrar comida em Moabe.
Nos velhos tempos, o povo de Moabe tinha sido hostil com os israelitas em
sua jornada para Canaã. Suas mulheres também foram acusadas de seduzir os
homens de Israel e persuadi-los a adorar ao deus Baal (Nm 25.1-3). Como
resultado, os moabitas foram proibidos de se casar com israelitas por dez gerações
(Dt 23.3)!
Depois de dez anos vivendo em Moabe, Elimeleque e seus filhos morreram.
Naomi se sente abandonada por Deus - com o dilema de enfrentar a vida sem a
segurança de um marido ou filhos em uma terra estrangeira. Todavia, ouvindo que
a fome havia acabado em Belém, ela decide voltar para o seu povo.
No entanto, Naomi sabia que suas noras seriam consideradas estrangeiras
em Belém. Por isso, ela tenta convencê-las a voltar para suas próprias famílias. Sua
nora Orfa concorda, mas Rute insiste em ficar com Noemi e profere palavras
comoventes; ela se compromete com a sua sogra e com o Deus de Israel:
“16 Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue
a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que
pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o
238 Quando os israelitas chegaram a Cades, eles encontraram um reino bem organizado,
Edom. Mas foram proibidos de atravessar o território edomita (Nm 20.14-21). Eles
viajaram para o norte, que era ocupado pelo rei dos amorreus, Seom. Ele também proibiu
que o povo de Israel atravessasse por sua terra, mas os israelitas o derrotaram e ocuparam
seu país (Nm 21.21-24). Eles foram instruídos por Deus através de Moisés para não tentar
ocupar o território amonita, como já tinha sido dado aos descendentes de Ló (Dt 2.19, 37).
239 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (139). Wheaton, IL:
Victor Books.
113
meu Deus. 17 Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei
sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa
que não seja a morte me separar de ti” (Rt 1.16-17).
A escolha de Rute é notável, porque tudo o que ela sabe é tragédia e perda.
No entanto, ela, uma estrangeira em Israel, foi capaz de colocar sua confiança no
Senhor.
Quando Naomi chega em Belém, ela diz a todos de sua perda. Quando ela
saiu, tinha uma família, mas agora estava sozinha. Seu nome significa “agradável”,
mas sua vida se tornou amarga. Então, um raio de esperança invade a história. A
colheita da cevada estava começando.
A história de Rute continua com seu encontro com Boaz (Rt 2.1–3.18), um
parente de seu marido morto. Nos tempos do Antigo Testamento, era costume que
uma viúva que não retornasse à casa de seu pai se casasse com alguém da família
de seu marido morto. O parente mais próximo tinha esse privilégio e obrigação.
Na manhã seguinte, na porta da cidade, Boaz se reúne com o outro parente-
redentor. Ele o convida a comprar as terras de Elimeleque e se casar com Rute.
Havia uma lei na qual um homem deveria se casar com a viúva de seu irmão e
capacitá-la a ter um filho para continuar a linhagem da família (Dt 25.5-6).
O parente mais próximo recusa a oferta. Ou ele não queria se casar com uma
estrangeira, ou não podia se dar ao luxo de comprar um campo apenas para deixá-
lo para outra pessoa. O caminho estava aberto para Boaz para comprar o campo e
se casar com Rute.240
Boaz se casa com Rute e eles têm um filho, Obede. Seu nome significa
“servo”. Orgulhosamente Naomi leva seu neto e cuida dele. Agora ela tem um
parente! Obede foi o pai de Jessé; ele, por sua vez, foi o pai de Davi. O rei Davi
nasceu em Belém, a casa do pão. Ou seja, Rute se tornou um membro da genealogia
de Jesus. O Senhor Jesus também nasceu em Belém.
A história de Rute começou com rebelião, com uma família que vai a sua
própria maneira, ao invés da maneira de Deus, sofrendo as consequências
amargas. Ele termina com a renovação de Naomi e com os outros se regozijando
com ela diante da bondade de Deus, que havia concedido um parente-redentor.
Toda a esperança dela estava agora sobre o neto que nasceu, assim como a
esperança do cristão é focado no Filho, que nasceu para ser o Redentor.
É uma das histórias mais gloriosas do Antigo Testamento; por isso é
importante entender que a natureza dessa proibição “... achou-se escrito que os
amonitas e os moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus...” (Ne 13.1),
não é contra a etnia. Este não é um texto para justificar a superioridade de uma
etnia sobre a outra - neste caso, os israelitas ou os judeus contra os amonitas e os
moabitas. A preocupação aqui é sobre a pureza da adoração.
“Naquele dia, se leu para o povo no Livro de Moisés; achou-se escrito que
os amonitas e os moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus...”
(v. 1) – Antes da decadência moral se instalar em Jerusalém, as pessoas tinham
ouvido a leitura das Escrituras, que os tornaram conscientes dos preceitos de Deus
Knowles, A. (2001). The Bible guide (1st Augsburg books ed.) (130–131). Minneapolis,
240
MN: Augsburg.
114
(13.1-3). A razão por que Deus não queria que Israel aceitasse os estrangeiros em
seu meio era porque isso poderia corromper o povo de seguir somente ao Senhor.
Por exemplo, Balaão era um profeta mercenário que tentou amaldiçoar
Israel, mas cada uma de suas maldições se transformou em bênção para Israel (Nm
22-24). Todavia, Balaão incentivou os moabitas a praticar a política da “boa
vizinhança”. Ele os orientou para que convidassem os judeus a participarem de
suas festas religiosas, o que envolvia imoralidade e idolatria (Nm 25). Como
resultado, Israel foi punido por Deus, e 24.000 pessoas morreram (Nm 25.9).
Assim, em algum momento durante a ausência de Neemias, a leitura da
Escritura havia levado à obediência. A única maneira de detectar a permissividade
espiritual tanto na igreja quanto em nós mesmos é por meio da Palavra de Deus.
Entretanto, Satanás arquitetou um plano contra o povo de Israel, e o povo
de Deus cedeu à permissividade espiritual em quatro áreas.
241 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 12.44–47). Wheaton, IL: Victor Books.
242 KIDNER, Derek. Esdras e Neemias. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011, p. 142.
115
(Jó 19.14).243 Assim, Eliasibe, um israelita de destaque, estava em estreita aliança
com o inimigo (Tobias) de Israel, se não completamente íntimo dele.
“Então, soube do mal que Eliasibe fizera para beneficiar a Tobias...” (v.
7) – Quando Neemias tomou conhecimento do que Eliasibe havia feito, ficou
indignado e considerou tal atitude como algo mal. A palavra “mal” é (ra ,̀ em
hebraico), muitas vezes é utilizada em contraste com a palavra “bom” (tov, em
hebraico). Ou seja, a palavra “bom” se refere a algo da revelação divina. Foi a
maneira como Deus criou as coisas e as projetou para funcionarem. Vemos um
retrato disto em Gênesis, onde o escritor diz: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que
era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia” (Gn 1.31). Logo, a palavra ra '- é o
modo oposto de como Deus criou para funcionar.244 Assim, para Neemias, o
comportamento de Eliasibe era exatamente o oposto da maneira como Deus queria
que as câmaras fossem utilizadas.
Relacionamentos errados podem danificar seriamente nossa vida espiritual.
Paulo disse a Timóteo sobre aqueles que detêm uma forma de piedade, mas negam
o seu poder, “... Foge também destes” (2Tm 3.5).
“Isso muito me indignou a tal ponto, que atirei todos os móveis da casa
de Tobias fora da câmara” (v. 8) – Quando Neemias descobriu o que Eliasibe
tinha feito, ele não perdeu tempo, quer investigando ou negociando. Ele
simplesmente jogou todos os bens de Tobias para fora! Em seguida, ordenou a
limpeza do Templo e tornou a trazer as ofertas de cereais para o local de origem.
Imagine como Tobias deve ter reagido quando chegou em casa, perguntou o que
aquela pilha de móveis estava fazendo do lado de fora e, em seguida, abriu a porta
e viu seu “apartamento” cheio, até o teto, com grãos!
Um grande líder não anda de forma displicente. Na verdade, ele está sempre
atento, com os ouvidos e os olhos bem abertos. De forma semelhante, pais sábios
sempre olham e ouvem o que seus filhos estão fazendo.245 Eles ouvem atentamente
a música que sai do quarto, e descobrem o que está acontecendo por trás de
qualquer porta que permanece fechada.
“Também soube que os quinhões dos levitas não se lhes davam...” (v. 10)
– Este problema está ligado ao anterior. Problemas espirituais raramente ocorrem
243Strong, J. (2001). Enhanced strong’s lexicon. Bellingham, WA: Logos Bible Software.
244Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the wall (Ne 13.4–9). James L. Fleming.
245 Swindoll, Charles R. Hand me another brick. [Word Publishing, Thomas Nelson
116
isoladamente! Porque Tobias havia se mudado para o templo, não havia salas
suficientes para os dízimos. Assim, os sacerdotes não exigiam que as pessoas
entregassem seus dízimos e, como resultado, os levitas tiveram que abandonar as
suas possibilidades na Casa de Deus e realizar trabalho nos campos para garantir a
sobrevivência.
A razão da negligência dos dízimos não significa que Tobias havia se
apropriado deles.246 A Bíblia simplesmente declara que as pessoas não davam os
quinhões (a porção) dos levitas. Ora, se Eliasibe, o sumo sacerdote, estava agindo
de forma inescrupulosa, as pessoas provavelmente tinham começado a perder a
confiança no estabelecimento sacerdotal, e é compreensível que os dízimos fossem
negligenciados. Por outro lado, a obrigação do dízimo permanecia,
independentemente da qualidade espiritual da liderança; o dízimo era um
mandamento bíblico (Ml 3.8-10).247
246 Nem todos concordam com esta interpretação. Para Hernandes Dias Lopes, “as ofertas
para o sacerdócio foram desviadas para Tobias. Por isso, os obreiros da Casa de Deus, por
falta de sustento, precisaram fugir para os campos” (LOPES, Hernandes Dias. Neemias, o
líder que restaurou uma nação. São Paulo: Editora Hagnos, 2006, p. 207).
247 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (139). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
248 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (144). Wheaton, IL:
Victor Books.
117
“Por isto, Deus meu, lembra-te de mim e não apagues as beneficências
que eu fiz à casa de meu Deus e para o seu serviço” (v. 14) – Em seguida,
Neemias orou para que Deus se lembrasse dessas ações tomadas em nome de sua
casa (13.11-14).
Esta é a primeira oração registrada desde 6.14, e a sétima oração “rápida”
encontrada no livro. São encontradas mais três orações em 13.22, 29 e 31. Ele
tinha o hábito de falar com Deus enquanto trabalhava, um bom exemplo para
seguirmos.249 Ele lembrou a Deus de sua fidelidade e orou para que aquilo que
havia feito não fosse apagado.
“... e não apagues as beneficências que eu fiz à casa de meu Deus e para
o seu serviço” (v. 14) – A expressão “as beneficências” pode ser traduzida: “meus
atos de amor leal” (hesed, em hebraico). Uma qualidade que aceita uma obrigação e
a cumpre, custe o que custar.250 No verso 22 é Deus quem demonstra esta
qualidade.
Neemias não estava pedindo bênçãos sobre a função do seu mérito pessoal,
porque ele sabia que as bênçãos de Deus vêm só por causa da misericórdia de Deus
(v. 22). Esta oração é semelhante ao registrado em 5.19, onde Neemias apenas
pede a Deus para lembrar-se dele, e do que havia feito. Ele queria a recompensa de
Deus, não dos homens.
249 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (145). Wheaton, IL:
Victor Books.
250 KIDNER, Derek. Esdras e Neemias. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011, p. 143.
118
neste dia, elas vão apodrecer!” “Todo mundo está negociando” ou “Todos os peixes
importados vão apodrecer, se não vendermos!”
Antes de tudo, se faz necessário destacar que os cristãos não estão sob a Lei
específica do sábado do Antigo Testamento (Gl 4.10). Nos foi dado um novo dia, o
“Dia do Senhor”, para desfrutar. O dia do Senhor tem um direito de graça sobre
todos os filhos da graça. Nunca devemos esquecer isto. Isso não significa que não
devamos desfrutar no espírito de graça e liberdade; mas usá-lo para proveito
próprio não é usá-lo para Cristo.251 Agir assim é agir como aqueles que não
conhecem a Deus, os gentios.
No Novo Testamento, o Sábado foi substituído pelo domingo da
ressurreição. No entanto, o domingo (Dia do Senhor) deve ser um dia específico
para um fim específico (Is 58.1). A questão principal é o que devemos fazer em vez
do que não devemos fazer no dia do Senhor. Para um estudo mais aprofundado leia
o comentário do capítulo 10.
251 KELLY, William. Estudos sobre os livros de Esdras & Neemias. São Paulo: Depósito de
Leitura Cristã, 2007, p. 101.
252 Boice, J. M. (2005). Nehemiah: an expositional commentary (139). Grand Rapids, MI:
BakerBooks.
253 MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do fogo. Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos.
119
IV. Tolerância quanto aos casamentos mistos (13.23-29).
“23 Vi também, naqueles dias, que judeus haviam casado com
mulheres asdoditas, amonitas e moabitas. 24 Seus filhos falavam meio
asdodita e não sabiam falar judaico, mas a língua de seu respectivo
povo”.
O povo de Judá também havia prometido, por escrito, que não iria se casar
com pessoas pagãs (10.30). No entanto, quando Neemias chegou a Jerusalém,
descobriu que muitos tinham violado, também, este compromisso (cf. Ed 9.1-4;
10.44; Ml 2.10-11), casando-se com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas (cf.
Ed 10.1-3). Isso também tinha sido proibido na Lei de Moisés (Êx 34.12-16; Dt 7.1-
5).
Além do mais, as crianças estavam crescendo em lares onde eram incapazes
de falar a língua de Judá. Neemias viu, claramente, que o casamento misto estava
corrompendo a segunda geração, bem como a primeira. Neemias não podia
permitir que o compromisso de sua geração destruísse anos de trabalho duro. A
situação era desesperadora (13.23-24).
“Não pecou nisto Salomão, rei de Israel? Todavia, entre muitas nações
não havia rei semelhante a ele, e ele era amado do seu Deus...” (v. 26) – Em
seguida, Neemias cita o exemplo de Salomão para apoiar o argumento de que se
uma pessoa, tanto material quanto espiritualmente, poderia ser levada ao pecado
por intermédio de suas esposas estrangeiras (1Rs 11). As esposas e concubinas
estrangeiras levaram o rei Salomão à idolatria e pecado, e todo Israel sabia disso.
Salomão procurou garantir a paz e a prosperidade para Israel através de seus
muitos casamentos, mas ao invés disso, garantiu uma erosão espiritual e
instabilidade.256
254 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 13.25–27). Wheaton, IL: Victor Books.
255 Swindoll, Charles R. Hand me another brick. [Word Publishing, Thomas Nelson
120
Satanás nunca chega e diz a um jovem cristão: “Você não gostaria de se
casar com esta simpática jovem de Asdode? Ela vai levar os seus filhos para o mau
caminho. Seus filhos serão meio-pagãos e seus netos serão totalmente pagãos”. Em
vez disso, ele diz, “Seus pais são muito rigorosos. Eles seguem as Leis de Deus e
insistem que você as siga também. Saia fora! Olha quanta diversão você teria com
as jovens de Asdode! Você não tem que se casar com ela. Apenas saia e divirta-se
um pouco!” E antes que ele perceba, sua vida moral estará comprometida,
enquanto, ao mesmo tempo, ele promete que vai seguir o seu Deus depois que se
casar.
“Um dos filhos de Joiada, filho do sumo sacerdote Eliasibe, era genro de
Sambalate, o horonita, pelo que o afugentei de mim” (v. 28) – Neemias também
descobriu que o neto do sumo sacerdote havia se casado com a filha de Sambalate,
o horonita, um amargo inimigo que havia resistido tão resolutamente à construção
do muro (Ne 2.10,19; 4; 6).
Neemias expulsou de Jerusalém o neto de Eliasibe. Ele havia jogado os
móveis de Tobias fora do templo (v. 8), agora, ele faz o mesmo com o genro de
Sambalate.257
As relações familiares têm sido, muitas vezes, a causa da decadência
espiritual do povo de Deus. E, ainda hoje, os crentes colocam os interesses dos
membros da família sobre o bem-estar da igreja e da obra de Deus. Todo crente
precisa estar em guarda para manter a “família” na perspectiva correta. A
complacência é como uma pequena rachadura em uma barragem que, sutilmente,
vai crescendo até destruir tudo em sua volta. Nesse ponto, o dano é grave e
generalizado.
Outras medidas tomadas por Neemias, em seu retorno, incluíram: (1) a
purificação das pessoas de todos os estrangeiros; (2) a nomeação de deveres
específicos para os sacerdotes e levitas, (3) a organização do suprimento de
madeira para o templo, e a organização das primícias.
“Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem” (v. 31) – Pela quarta vez
neste capítulo, Neemias busca a presença de Deus (13.14, 22, 29, 31). Isso significa
que ele não estava agindo contra a permissividade do povo por seu próprio bem.
Ele estava fazendo isso por amor a Deus.258
Este livro ressalta a importância da proteção física para o povo de Deus em
Jerusalém, todavia, o mais importante: salienta a necessidade de seu povo
obedecer a sua Palavra, não cedendo ao pecado pela negligência, compromisso ou
desobediência.
A perseverança é uma qualidade de todos os grandes líderes. Devemos
cultivá-la até que possamos dizer com o apóstolo Paulo, “Combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a
todos quantos amam a sua vinda” (2Tm 4.7-8).
257 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas theological seminary. (1985). The Bible knowledge
commentary: an exposition of the scriptures (Ne 13.28–29). Wheaton, IL: Victor Books.
258 Wiersbe, W. W. (1996). Be determined. “Be” commentary series (148). Wheaton, IL:
Victor Books.
121
Para estas reformas Neemias orou para que Deus se lembrasse dele para
sempre.259 A inclusão das memórias de Neemias no cânon sagrado foi uma
resposta a sua oração (13.30-31).
Conclusão:
O último capítulo de Neemias reforça a impressão já criada nos capítulos
anteriores sobre este homem. Ele era fervoroso em seu zelo para com Deus. Ele
possuía uma Santa ousadia capaz de confrontar de maneira franca seus amigos e
inimigos. Além disso, Neemias era um planejador e magistral motivador. Ele
também era um homem de ação. Mais importante ainda, ele era um homem das
Escrituras e um homem de oração. O comentarista Smith, J. E, acertadamente
declarou: “Um homem que se aproxima de Deus de joelhos vai ficar acima de
qualquer geração”.260
O capítulo 13 pode ser resumido em três importantes palavras: retidão,
convicção e devoção.261
Em primeiro lugar, a retidão. Seja honesto com suas ações. Você deve
defini-las de acordo com a Palavra de Deus. Isso é retidão. Isso é ser honesto!
Talvez, o problema seja uma aliança comprometedora que você assumiu em sua
empresa, em sua vida social, ou em sua vida amorosa.
Hoje, no novo evangelho, a salvação é substituída pela terapia. O pecado dá
lugar à auto-estima; e a doutrina da justificação pela fé perde espaço para a
doutrina do pensamento positivo. Essa nova versão do cristianismo faz da Bíblia
não uma Palavra de salvação, mas um manual de instruções detalhadas para uma
vida feliz.262
Precisamos ser honestos com nossos erros, caso contrário, pagaremos um
preço alto por negligenciá-los. Sansão andou tão longe de Deus que nem percebeu
que Deus havia se apartado dele (Jz 16.20). Ele nem sabia que Deus o havia
deixado! Sansão tinha vivido uma mentira por tanto tempo que ele não conseguia
ver o impacto de sua hipocrisia.
259 Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament survey series (Ne 13.30–31).
Joplin, MO: College Press.
260 Smith, J. E. (1995). The books of history. Old Testament survey series (Ne 13.30–31).
122
Em terceiro lugar, a devoção. Este é o lugar onde muitos cristãos bem
intencionados perdem. Devemos manter um equilíbrio entre defender o que é
verdadeiro, e manter um coração vivo diante do Senhor.
Neemias termina o seu livro como começou: de joelhos! Ele lutou muito
para fazer o que era correto, mas ao mesmo tempo manteve seu coração firme
diante do Senhor. Ele era um homem reto, dedicado e piedoso.
123
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