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BOXER, Charles. “Vila Rica de Ouro Preto”.

In: A idade de ouro no


Brasil. Trad. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 183-221.

‘’O ouro de Minas Gerais teve, assim, papel que se mostrou bem longe de ser
insignificante no cenário mundial do século XVIII, e podemos considerar aqui, mais
pormenorizadamente, os homens e mulheres que mineraram, gastaram e manipularam o
cobiçado metal amarelo’’. (p. 184)
‘’O fato de tantas pessoas de ambos os sexos e de várias côres viverem no Brasil "à lei
da Natureza", conforme vice-reis, bispos, magistrados e missionários estavam
constantemente explorando, deu origem a um enxame de mendigos sem lar, errantes e vadios,
que em parte alguma se constituíram problema tão grande como para as autoridades de Minas
Gerais’’. (p. 188)
‘’A crença comum de que o brasileiro era um se?hor de escravos excepsionalmente
bom, aplica-se apenas à escravidão: sob o Impéno, ~o século, XIX e sofre con tradição
quando se trata de período colonial, através do depoimento de numerosas testemunhas
oculares, dignas de crédito, desde Vieira até Vilhena, para nada dizer da correspondência
oficial entre a Coroa e as autoridades coloniais’’. (p. 193 - 194)
‘’Além disso, pela natureza de seu trabalho na pesquisa do ouro ele placer, era-lhes
relativamente fácil esconder ouro em pó, e mesmo pequenas pepitas, além de alguns senhores
consentirem que seus escravos procurassem ouro para si próprios, depois de terem trabalhado
um determinado número de horas para os donos. Dessa maneira, um razoável número de
escravos pôde comprar sua liberdade, e a esperança de fazer a mesma coisa era dada a muitos
mais’’. (p. 197)
‘’Como ficou mencionado acima, ele se mostra insistente na importância da higiene
pessoal e do banho diário, numa época em que o europeu médio via o banho como mn luxo, e
quando o Dr. Johnson podia confessar que não fazia grande questão de ataduras limpas’’.
(p. 205)
‘’As atas da Câmara Municipal de Vila Rica regurgitam referências aos indesejáveis a
atividades de monopolistas e atravessadores, e aos esforços dos camaristas para combatê-los.
Os piores transgressores eram os que escondiam provisões importadas, tais como peixe seco,
azeite de oliva, vinagre, farinha de trigo e queijo·, vendendo-as a preço de fome em época de
escassez, muitas vêm artificialmente provocadas’’. (p. 206)
‘’Acima de todas essas exigências da Coroa, os mineiros tinham de pagar, também,
impostos locais, recolhidos pelas Câmaras Municipais para a conservação de estradas e
pontes, e outros serviços públicos. As taxas recolhidas pela Coroa eram normalmente sub
estabelecidas a contratadores, que, em troca de um pagamento a vista ou a prazo combinado,
fazia o'recolhimento dos débitos em nome da Coroa e tinha o direito de conservar o
excedente, se houvesse, depois que as necessidades da administração local fossem
satisfeitas’’. (p. 208)
‘’Em maio de 1730, Dom Lourenço baixou o pagamento dos quintos de vinte para
doze por cento, o que resultou - conforme se esperava - num grande aumento na quantidade
de ouro entregue. Essa experiência, contudo, teve curta duração, pois o limite mais alto foi
restaurado em setembro de 1732, por ordem da Coroa’’. (p. 216)
‘’A taxa de captação mostrou ser altamente impopular, pelas seguintes razões, entre
outras: incidia mais duramente sobre os pobres do que sôbre os ricos, pois os mineiros cujos
escravos tinham sorte na lavagem do ouro pagavam sôbre cada escravo a mesma quantia que
pagavam os outros mineiros cujos escravos pouco ou nada ganhavam - e êsses formavam a
grande maioria. Da mesma maneira, os donos de oficinas, lojas, e hospedarias que não davam
lucros, pagavam as mesmas taxas impostas sobre os que estavam retirando grandes proventos
de seus estabelecimentos’’. (p. 217)
‘’A Coroa dava as ordens mais rigorosas para que se perseguisse os culpados e
ameaçava com severas penalidades os que fossem pronunciados. Grande número
arraia-miúda foi apanhado, mas ninguém ousava apresentar testemunho contra as pessoas
poderosas que estavam contrabandeando em larga escala, e que, quase sempre, trabalhavam
de acôrdo com os funcionários do governo, que deviam obrigá-los a acatar a lei’’. (p. 219)
Seja como for, o contrabando de ouro e a falsificação de ouro em barras continuou por
todo o resto do período colonial, mas parecem ter alcançado o ponto mais alto da maré
durante os trinta dos setecentos. Foi nesse período, também, que a produção ilícita de
diamantes provocou reações punições mais brutais por parte das autoridades. (p. 221)

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