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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CAMPUS VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E
ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
LET 337 - Literatura Infanto-juvenil
Prof.ª Joelma Siqueira
31 de janeiro de 2022

Apreciação crítica do conto


Chapeuzinho Vermelho

Ana Carolina Barbosa Rosa (102553)


Gabriella Araújo Duarte Mello VIeira (66842)

Viçosa 2022
Introdução 2

Análise 3

Bibliografia 8

Anexos 9
Anexo 1: Chapeuzinho vermelho – Charles Perrault 9
Anexo 2: Chapeuzinho Vermelho – Jacob e Wilhelm Grimm 12
Anexo 3: Chapeuzinho Vermelho (Coleção Mamãe tranquila) – Leia Reis e Leo Reis 16
Anexo 4 : Chapeuzinho Vermelho em cordel – R. B. Covo 22
Introdução

Na introdução de Contos de Fadas: Edição bolso de luxo escrita por Ana


Maria Machado a autora afirma “[...] Falar em conto de fadas é evocar histórias para
crianças, lembranças domésticas, ambiente familiar. Equivale também a uma
filiação ao maravilhoso, em que tudo é possível acontecer.” (TATAR, P-6) São
histórias que estão normalmente ligadas a memórias da infância, a um familiar que
contava essas histórias, normalmente essa relação com os contos de fadas é
sempre relatada com uma pesada camada de saudosismo, um carinho não só com
a história mas de todo o contexto em que o leitor vivenciou essa história.
Outro ponto recordado pela autora é que Contos de Fadas estão também
ligados a uma cultura oral, de uma tradição anônima e coletiva. Essas histórias
foram, e são, contadas por séculos, sendo adaptadas às realidades de quem a
contam, servindo a diferentes funções, e assim criando várias versões de uma
mesma história, segundo a autora: “[...] Em vários casos, foram recontados e
reelaborados – ora ganhando qualidade literária nas novas roupagens, ora se
perdendo em adaptações cheias de intenções de corrigir as matrizes populares. Ora
mantendo seu vigor original, ora se diluindo em pasteurizações.” (P-7)
Por isso, para o presente trabalho, foram escolhidas quatro versões do
mesmo conto: Chapeuzinho Vermelho. A primeira versão Chapeuzinho Vermelho
(anexo 1) é a considerada original escrita por Charles Perrault no século XVII, a
segunda versão (anexo 2) foi a escrita por Jacob e Wilhelm Grimm no século XIX, a
terceira versão (anexo 3) é pertencente a coleção mameã tranquila organizada por
Lia Reis e Leo Reis de 2019, e, por fim, a quarta versão (anexo 4) Chapeuzinho
Vermelho em cordel de R. B Côvo e Samia Rebeca Santos de 2021.
Análise

Na história contada por Charles Perrault Chapeuzinho Vermelho leva


bolinhos e um potinho de manteiga para a avó que se encontra doente. Elas não
moravam próximas, a avó morava em outra aldeia e era necessário Chapeuzinho
cruzar um bosque para chegar a casa da avó. É nesse percurso que Chapeuzinho
encontra o lobo, ele deseja devorá-la imediatamente, mas não o fez porque sabia
que havia lenhadores trabalhando na floresta. Ao conversar com a criança o lobo
descobre que ela está indo para a casa da avó, ele diz a menina que também vai
visitar a senhora, mas que vai por um caminho diferente. Assim ele corre e
consegue chegar antes que a menina a casa da avó, ele finge que é Chapeuzinho e
a avó informa como abrir a porta, que é só puxar a lingueta e o ferrolho abrirá. O
lobo devora a senhora e se veste com as roupas dela para enganar Chapeuzinho.
Quando a menina chega a casa, ela estranha avó e ocorre o seguinte diálogo:
“Minha avó, que braços grandes você tem!”
“É para abraçar você melhor, minha neta.”
“Minha avó, que pernas grandes você tem!”
“É para correr melhor, minha filha.”
“Minha avó, que orelhas grandes você tem!”
“É para escutar melhor, minha filha.”
“Minha avó, que olhos grandes você tem!”
“É para enxergar você melhor, minha filha.”
“Minha avó, que dentes grandes você tem!”
“É pra comer você” (TATAR, P.60-61)
E assim o lobo pula na Chapeuzinho Vermelho e a devora, terminando a
história. Em versos, após o término da história, há a moral que fala sobre belas
moças jovens que são enganadas por lobos e são devoradas por eles, e que nem
sempre a ameaça irá aparecer de forma violenta, que o lobo pode ser gentil e
acompanhar a jovens até o portão de casa e que esses são os mais perigosos.
De certa forma todas as outras versões irão percorrer esse pequeno resumo
da história da Chapeuzinho vermelho e sendo essa versão de Charles Perrault a
mais antiga e a estamos tomando como base para comparar todas as outras três
versões. Mas é interessante observar que a versão da história contada pelos irmãos
Grimm é onde aparece a mãe de Chapeuzinho pedindo para que ela não desvie do
caminho, não conversar com estranhos, o que a menina leva para avó são bolinhos
e vinho, como na história original ela encontra o lobo que a acompanha por um
tempo até que ele a convida a observar as flores e os passarinhos e Chapeuzinho
decide levar um buque de flores para avó, ficando assim para trás. É nesse
momento que o lobo se aproveita para correr até a casa da senhora e devorá-la
então o lobo se veste como a avó de Chapeuzinho, e espera para poder devorar as
guloseimas quanto a menina. Novamente Chapeuzinho estranha avó, mas no
diálogo que possui a mesma estrutura que na versão do século XVII quase como
uma charada, o que Chapeuzinho estranha é diferente:
“Ó avó, que orelhas grandes você tem!”
“É para melhor te escutar!”
“Ó avó, que olhos grandes você tem!”
“É para melhor te enxergar!”
“Ó avó, que mãos grandes você tem!”
“É para melhor te agarrar!”
“Ó avó, que boca grande, assustadora, você tem!”
“É para melhor te comer!”
A diferença no texto não impede o lobo de também devorar a criança. Na
versão de Charles Perrault a história acaba aqui na versão dos irmãos Grimm não.
O lobo tendo sua fome saciada cai no sono e dorme roncando muito alto. O barulho
chama atenção de um caçador que passava perto da casa e, sabendo que naquela
casa vivia uma senhora, decide conferir o que está acontecendo na casa e lá
encontra o lobo, saca a espingarda para matar o lobo mas pensa que talvez ele
tenha comido a avó então decide abrir o lobo com uma tesoura, primeiro encontra
chapeuzinho e depois a vó. Após resgataada Chapeuzinho enche a barriga do lobo
com pedras e “[...] Quando acordou, o lobo tentou sair correndo, mas as pedras
eram tão pesadas que suas pernas bambearam e ele caiu morto.”
Ao final da história há uma fala de chapeuzinho consigo indicando que ela
aprendeu a lição: “Nunca se desvie do caminho e nunca entre na mata quando sua
mãe proibir.” E acrescentando a essa moral é contado que Chapeuzinho encontrou
novamente um lobo quando foi visitar sua avó, mas que dessa vez não deu atenção
a ele e foi correndo para a casa da avó. Chegando lá contou o ocorrido para avó e
elas trancaram a porta e esperaram pelo lobo, desta vez o lobo não conseguiu
devorar nenhuma das duas e foi morto pela Chapeuzinho e sua avó.
É a versão dos irmãos Grimm que é adaptada nas outras duas versões de
nossa análise. Na versão em cordel que o texto é adaptado para estar em versos,
possui rimas e marcas de oralidade que são características do cordel mas mantém
a mesma história contada pelos irmãos Grimm, mas sem o encontro com o segundo
lobo.
Na versão da Coleção Mamãe tranquila há maiores diferenças, o texto é
adaptado para atender a motivação na produção dessa coleção:
“Sobre a Coleção Mamãe Tranquila
(Edição e Organização: Lia Reis e Leo Reis)
A Coleção Mamãe Tranquila nasce de uma necessidade: garantir que
nossos filhos e filhas tenham acesso aos grandes clássicos da literatura
infanto-juvenil em edições que sejam livres de conteúdos obsoletos,
apelativos ou inadequados (ainda que estes fossem aceitos até bem pouco
tempo atrás).
Com as grandes evoluções sociais que temos experimentado
especialmente nos últimos anos, percebemos a necessidade de se realizar
um minucioso trabalho de revisão de diversas histórias infantis, com maior
atenção para aquelas que são repassadas de geração em geração.
Isso é especialmente importante, pois o período em que as crianças
geralmente costumam ter acesso a essas histórias coincide com as fases
em que, de acordo com a ciência, passam a desenvolver diversas
habilidades que serão essenciais na formação de suas personalidades, tais
como:
✔ Noções de independência e responsabilidade (entre 3 e 4 anos de
idade);
✔ Noções de regras e padrões de comportamento básicos (entre 4 e 5
anos de idade);
✔ Desenvolvimento psicológico, especialmente emocional e social (entre 4
e 6 anos de idade); e
✔ Racionalizações e questionamentos do mundo à sua volta (entre 6 e 8
anos de idade).
Assim, o propósito da Coleção Mamãe Tranquila é garantir às nossas
crianças o direito de acesso a histórias que sejam divertidas, seguras e
livres de conteúdos inadequados1 aos quais não devem ser expostas
prematuramente.
Dessa forma, você terá a garantia de ter total tranquilidade enquanto os
pequenos curtem as suas historinhas prediletas!” (REIS, P-2)
Como informado temas considerados inadequados foram alterados,
Chapeuzinho leva sucos e chás para avó, não há vinho. Há o encontro entre
Chapeuzinho e o lobo na floresta onde ela conta que vai a casa da vovozinha, o
lobo oferece ajuda mas ela lembrando do conselho da mãe para não conversar com
estranhos negou a ajuda do lobo. Mas como lobo conhecia a mata ele conseguiu
chegar antes de Chapeuzinha a casa da avó, engana a senhora mas não a devora,
a esconde dentro do armário que tem a madeira bem grossa. Quando Chapeuzinho
chega também é enganada pelo lobo e novamente o diálogo charada entre os dois
acontece idêntico ao feito pelos irmãos Grimm, até o ponto onde a menina comenta
da boca imensa da vovó, o lobo responde: “É para comer tudo o que você trouxe
nessa cesta! Agora, passe logo ela já para cá!” (Reis, p-8). O lobo não a devora e
nem ameaça fazê-lo. Ele tranca Chapeuzinho no armário junto com a avó, depois de
comer tudo o que a menina trouxe cai no sono. Como na versão dos irmãos Grimm,
o ronco alto do lobo chamou a atenção dos lenhadores que passavam por perto e
que foram ver o que acontecia na casa. Para assustar o lobo um dos lenhadores
jogou o machado na porta do armário, o lobo acorda assustado e tenta fugir mas
não consegue e é preso pelos lenhadores e enviado para longe. Quando o lenhador
vai recuperar o machado cravado na porta do armário encontra Chapeuzinho e sua
avó.
O que foi considerado inadequado foi a violência, o lobo não devorou
ninguém e nem foi morto no final, mas os momentos de tensão foram mantidos. Não
há uma simplificação da história, a moral se mantém, o risco de falar com estranhos
está presente mesmo que o lobo não devore ninguém. E é muito interessante o
cuidado de não simplesmente esquecer do lobo no final, deixa claro que ele não
morreu, ele foi preso e levado para longe dali. A punição existe, mas sem os
requintes de crueldade presente na história dos irmãos Grimm.
Segundo Maria Tatar:
Por meio de histórias, adultos podem conversar com crianças
sobre o que é importante em suas vidas, sobre questões que
vão do medo do abandono e da morte a fantasias de vingança
e triunfos que levam a finais ‘felizes para sempre’. Enquanto
olham figuras, leem episódios e viram páginas, adultos e
crianças podem estabelecer o que a crítica cultural Ellen
Handler-Splitz chama ‘leitura interativa’, diálogos que
ponderam os efeitos da história e oferecem a orientação para o
pensamento sobre assuntos similares do mundo real. Esse tipo
de leitura pode assumir muitas feições diferentes: séria,
brincalhona, meditativa, didática, empática ou intelectual.”
(TATAR, P-12)
Analisando a versão de Chapeuzinho Vermelho da coleção da Mamãe
tranquila com o trecho acima é possível que grande parte dos diálogos provocados
pela história são ainda mantidos, e isso ocorre em todas as versões que é o risco
em conversar com estranhos, a partir da versão dos irmãos Grimm a moral é
acrescentada de prestar atenção no que seus pais falam. Mas enquanto na versão
de Charles Perrault Chapeuzinho conversa com estranhos e fazem ela e a avó
serem devoradas, na versão dos irmãos Grimm os lobos são mortos de forma
extremamente cruel, o primeiro lobo corre com pedras na barriga até morrer de
exaustão e o segundo lobo morre afogado, em ambas execuções Chapeuzinho
Vermelho participa ativamente, uma criança participa da execução de um criminoso.
E aqui sendo necessário se perguntar o quão adequado é essa discussão para uma
criança, na versão da mamãe tranquila há a consequência de todas as ações mas
não há execuções. É importante observar que o lobo é punido no final e o texto
toma o cuidado de deixar isso claro, ele é preso e mandado para longe e não
executado de forma cruel.
Bibliografia
CÔVO, R. B. . Chapeuzinho Vermelho em cordel. Edição do Kindle.
GRIMM, Jacob; Grimm, Wilhelm. Chapeuzinho vermelho. Expresso Zahar. Edição
do Kindle.
REIS, Leo; REIS Lia. Chapeuzinho Vermelho (Coleção Mamãe Tranquila - Livre de
Conteúdos Apelativos ou Inadequados.) Mamãe Tranquila. Edição do Kindle.
TATAR, Maria. Contos de fadas: edição bolso de luxo (Clássicos Zahar) Clássicos
Zahar. Edição do Kindle.
TATAR, Maria. Contos de fadas edição comentada e ilustrada. Clássicos Zahar.
2013
Anexos

Anexo 1: Chapeuzinho vermelho – Charles Perrault


ERA UMA VEZ uma pequena aldeã, a menina mais bonita que poderia haver. Sua
mãe era louca por ela e a avó, mais ainda. Esta boa senhora mandou fazer para a
menina um pequeno capuz vermelho. Ele lhe assentava tão bem que por toda parte
aonde ia a chamavam Chapeuzinho Vermelho.
Um dia sua mãe, que assara uns bolinhos, lhe disse: “Vá visitar sua avó para ver
como ela está passando, pois me disseram que está doente. Leve para ela um
bolinho e este potinho de manteiga.”
Chapeuzinho Vermelho partiu imediatamente para a casa da avó, que morava
numa outra aldeia. Ao passar por um bosque, encontrou o compadre lobo, que teve
muita vontade de comê-la, mas não se atreveu, por causa dos lenhadores que
estavam na floresta. Ele lhe perguntou para onde ia. A pobre menina, que não sabia
que era perigoso parar e dar ouvidos a um lobo, respondeu:
“Vou visitar minha avó e levar para ela um bolinho com um potinho de manteiga que
minha mãe está mandando.”
“Sua avó mora muito longe?” perguntou o lobo. “
Ah! Mora sim”, respondeu Chapeuzinho Vermelho. “Mora depois daquele moinho lá
longe, bem longe, na primeira casa da aldeia.”
“Ótimo!” disse o lobo. “Vou visitá-la também. Vou por este caminho aqui e você vai
por aquele caminho ali. E vamos ver quem chega primeiro.”
O lobo pôs-se a correr o mais que podia pelo caminho mais curto, e a menina
seguiu pelo caminho mais longo, entretendo-se em catar castanhas, correr atrás das
borboletas e fazer buquês com as flores que encontrava. O lobo não demorou muito
para chegar à casa da avó. Bateu: Toc, toc, toc.
“Quem está aí?”
“É sua neta, Chapeuzinho Vermelho”, disse o lobo, disfarçando a voz. “Estou
trazendo um bolinho e um potinho de manteiga que minha mãe mandou.”
A boa avó, que estava de cama por andar adoentada, gritou: “Puxe a lingueta e o
ferrolho se abrirá.”
O lobo puxou a lingueta e a porta se abriu. Jogou-se sobre a boa mulher e a
devorou num piscar de olhos, pois fazia três dias que não comia. Depois fechou a
porta e foi se deitar na cama da avó, à espera de Chapeuzinho Vermelho, que
pouco tempo depois bateu à porta. Toc, toc, toc.
“Quem está aí?”
Ouvindo a voz grossa do lobo, Chapeuzinho Vermelho primeiro teve medo, mas,
pensando que a avó estava gripada, respondeu:
“É sua neta, Chapeuzinho Vermelho. Estou trazendo um bolinho e um potinho de
manteiga que minha mãe mandou.”
O lobo gritou de volta, adoçando um pouco a voz: “Puxe a lingueta e o ferrolho se
abrirá.”
Chapeuzinho Vermelho puxou a lingueta e a porta se abriu. O lobo, vendo-a entrar,
disse-lhe, escondendo-se na cama debaixo das cobertas:
“Ponha o bolo e o potinho de manteiga em cima da arca, e venha se deitar comigo.”
Chapeuzinho Vermelho tirou a roupa e foi se enfiar na cama, onde ficou muito
espantada ao ver a figura da avó na camisola. Disse a ela:
“Minha avó, que braços grandes você tem!”
“É para abraçar você melhor, minha neta.”
“Minha avó, que pernas grandes você tem!”
“É para correr melhor, minha filha.”
“Minha avó, que orelhas grandes você tem!”
“É para escutar melhor, minha filha.”
“Minha avó, que olhos grandes você tem!”
“É para enxergar você melhor, minha filha.”
“Minha avó, que dentes grandes você tem!”
“É para comer você.” E dizendo estas palavras, o lobo malvado se jogou em cima
de Chapeuzinho Vermelho e a comeu.

MORAL
Vemos aqui que as meninas,
E sobretudo as mocinhas
Lindas, elegantes e finas,
Não devem a qualquer um escutar.
E se o fazem, não é surpresa
Que do lobo virem o jantar.
Falo “do” lobo, pois nem todos eles
São de fato equiparáveis.
Alguns são até muito amáveis,
Serenos, sem fel nem irritação.
Esses doces lobos, com toda educação,
Acompanham as jovens senhoritas
Pelos becos afora e além do portão.
Mas ai! Esses lobos gentis e prestimosos,
São, entre todos, os mais perigosos.

Tatar, Maria. Contos de fadas: edição bolso de luxo (Clássicos Zahar) (pp. 57-62).
Clássicos Zahar. Edição do Kindle.
Anexo 2: Chapeuzinho Vermelho – Jacob e Wilhelm Grimm
ERA UMA VEZ uma menininha encantadora. Todos que batiam os olhos nela a
adoravam. E, entre todos, quem mais a amava era sua avó, que estava sempre lhe
dando presentes. Certa ocasião ganhou dela um pequeno capuz de veludo
vermelho. Assentava-lhe tão bem que a menina queria usá-lo o tempo todo, e por
isso passou a ser chamada Chapeuzinho Vermelho.
Um dia, a mãe da menina lhe disse:
“Chapeuzinho Vermelho, aqui estão alguns bolinhos e uma garrafa de vinho.
Leve-os para sua avó. Ela está doente, sentindo-se fraquinha, e estas coisas vão
revigorá-la. Trate de sair agora mesmo, antes que o sol fique quente demais, e
quando estiver na floresta olhe para a frente como uma boa menina e não se desvie
do caminho. Senão, pode cair e quebrar a garrafa, e não sobrará nada para a avó. E
quando entrar, não se esqueça de dizer bom-dia e não fique bisbilhotando pelos
cantos da casa.”
“Farei tudo que está dizendo” Chapeuzinho Vermelho prometeu à mãe.
Sua avó morava lá no meio da mata, a ais ou menos uma hora de caminhada da
aldeia. Mal pisara na floresta, Chapeuzinho Vermelho topou com o lobo. Como não
tinha a menor ideia do animal malvado que ele eram não teve u pingo de medo.
“Bom dia, Chapeuzinho Vermelho”, disse o lobo.
“Bom dia, senhor Lobo”, ela respondeu.
“Aonde está indo tão cedo de manhã, Chapeuzinho Vermelho?”
“À casa da vovó.”
“O que é isso debaixo do seu avental?”
“Uns bolinhos e uma garrafa de vinho. Assamos ontem e a vovó, que está doente e
fraquinha, precisa de alguma coisa para animá-la”, ela respondeu.
“Onde fica a casa da sua vovó, Chapeuzinho?”
“Fica a um bom quarto de hora de caminhada mata adentro, bem debaixo dos três
carvalhos grandes. O senhor deve saber onde é pelas aveleiras que crescem em
volta”, disse Chapeuzinho Vermelho.
O lobo pensou com seus botões: “Esta coisinha nova e tenra vai dar um petisco e
tanto! Vai ser ainda mais suculenta que a velha. Se tu fores realmente matreiro, vais
papar as duas.”
O lobo caminhou ao lado de Chapeuzinho Vermelho por algum tempo. Depois disse:
“Chapeuzinho, notou que há lindas flores por toda parte? Por que não para e olha
um pouco para elas? Acho que nem ouviu como os passarinhos estão cantando
lindamente. Está se comportando como se estivesse indo para a escola, quando é
tudo tão divertido aqui no bosque.”
Chapeuzinho Vermelho abriu bem os olhos e notou como os raios de sol dançavam
nas árvores. Viu flores bonitas por todos os cantos e pensou: “Se eu levar um buquê
fresquinho, a vovó ficará radiante. Ainda é cedo, tenho tempo de sobra para chegar
lá, com certeza.”
Chapeuzinho Vermelho deixou a trilha e correi para dentro do bosque à procura de
flores. Mal colhia uma aqui, avistava outra ainda mais bonita acolá, e ia atrás dela.
Assim, foi se embrenhando cada vez mais na mata.
O lobo correu direto para a casa da avó de Chapeuzinho e bateu à porta.
“Quem é?”
“Chapeuzinho Vermelho. Trouxe uns bolinhos e vinho. Abra a porta.”
“É só levantar o ferrolho”, gritou a avó. Estou fraca demais para sair da cama.”
O lobo levantou o ferrolho e a porta se escancarou. Sem dizer uma palavra, foi
direto até a cama da avó e a devorou inteirinha. Depois, vestiu as roupas dela,
enfiou sua touca na cabeça, deitou-se na cama e puxou as cortinas.
Enquanto isso Chapeuzinho Vermelho corria de um lado para outro à cara de flores.
Quando tinha tantas nos braços que não podia carregar mais, lembrou-se de
repente de sua avó e voltou para a trilha que levava à casa dela. Ficou surpresa ao
encontrar a porta aberta e, ao entrar na casa, teve uma sensação tão estranha que
pensou: “Puxa! Sempre me sinto tão alegre quando estou na casa da vovó, mas
hoje estou me sentindo muito aflita.”
Chapeuzinho Vermelho gritou um olá, mas não houve resposta. Foi até a cama e
abriu as cortinas. Lá estava sua avó, deitada, com a touca puxada para cima do
rosto. Parecia muito esquisita.
“Ó avó, que orelhas grandes você tem!”
“É para melhor te escutar!”
“Ó avó, que olhos grandes você tem!”
“É para melhor te enxergar!”
“Ó avó, que mãos grandes você tem!”
“É para melhor te agarrar!”
“Ó avó, que boca grande, assustadora, você tem!”
“É para melhor te comer!”
Assim que pronunciou estas últimas palavras, o lobo saltou fora da cama e devorou
a coitada da Chapeuzinho Vermelho.
Saciado a seu apetite, o lobo deitou-se de costas na cama, adormeceu e começou a
roncar muito alto. Um caçador que por acaso ia passando junto à casa pensou:
“Como essa velha está roncando alto! Melhor r ver se há algum problema.” Entrou
na casa e, ao chegar junto à cama, percebeu que havia um lobo deitado nela.
“Finalmente te encontrei, seu velhaco”, disse. “Faz muito tempo que ando à sua
procura.”
Sacou sua espingarda e já estava fazendo pontaria quando atinou que o lobo devia
ter comido a avó e que, assim, ele ainda poderia salvá-la, Em vez de atirar, pegou
uma tesoura e começou a abrir a barriga do lobo adormecido. Depois de algumas
tesouradas, avistou um gorro vermelho. Mais algumas, e a menina pulou fora,
gritando: “Ah, eu estava tão apavorada! Como estava escuro na barriga do lobo.”
Embora mal pudesse respirar, a idosa vovó também conseguiu sair da barriga. Mais
que depressa Chapeuzinho Vermelho catou umas pedras grandes e encheu a
barriga do lobo com elas. Quando acordou, o lobo tentou sair correndo, mas as
pedras eram tão pesadas que suas pernas bambearam e ele caiu morto.
Chapeuzinho Vermelho, sua avó e o caçador ficaram radiantes. O caçador esfolou o
lobo e levou a pele para casa. A avó comeu os bolinhos, tomou o vinho que a neta
lhe levara, e recuperou a saúde. Chapeuzinho Vermelho disse consigo: “Nunca se
desvie do caminho e nunca entre na mata quando a sua mãe proibir.”
HÁ UMA história sobre uma outra vez em que Chapeuzinho Vermelho encontrou um
lobo quando ia para a casa da avó, levando-lhe uns bolinhos. O lobo tentou fazê-la
desviar-se da trilha, mas Chapeuzinho Vermelho estava alerta e seguiu em frente.
Contou à avó que encontrara um lobo e que ele a cumprimentara. Mas tinha olhado
para ela de um jeito tão mau que “se não estivéssemos num descampado, teria me
devorado inteira”.
“Pois bem”, disse a avó. “Basta trancar a porta e ele não poderá entrar.”
Alguns instantes depois o lobo bateu à porta e gritou: “Abra a porta, vovó. É
Chapeuzinho Vermelho, vim lhe trazer uns bolinhos.”
As duas não abriram a boca e se recusaram a atender a porta. Então o espertalhão
rodeou a casa algumas vezes e pulou para cima do telhado. Estava planejando
esperar até que Chapeuzinho Vermelho fosse para casa. Pretendia rastejar atrás
dela e devorá-la na escuridão. Mas a avó descobriu suas interações. Havia um
grande cocho de pedra na frente da casa. A avó disse à menina: “Pegue este balde,
Chapeuzinho Vermelho. Ontem cozinhei umas salsichas. Jogue a água da fervura
no cocho.”
Chapeuzinho Vermelho levou vários baldes d’água ao cocho, até deixá-lo
completamente cheio. O cheiro daquelas salsichas chegou até as narinas do lobo.
Ele esticou tanto o pescoço para farejar e olhar em volta que perdeu o equilíbrio e
começou a escorregar telhado abaixo. Caiu bem dentro do cocho e se afogou.
Chapeuzinho Vermelho voltou para casa alegremente e ninguém lhe fez mal algum.
Grimm, Jacob; Grimm, Wilhelm. Chapeuzinho vermelho. Expresso Zahar. Edição do
Kindle.
Anexo 3: Chapeuzinho Vermelho (Coleção Mamãe tranquila) –
Leia Reis e Leo Reis
Era uma vez uma linda menina que vivia em um vilarejo que ficava às margens de
uma imensa floresta.
A menina era tão gentil e amável que era muito querida e adorada por todos que a
conheciam, além de ser também o xodó de sua vovozinha.
A senhorinha tinha tanto amor pela neta que, certa vez, decidiu que iria costurar
uma linda capa com um capuz para lhe dar de presente. Assim, sempre que a
netinha saísse para brincar, estaria protegida da friagem pela roupa feita com tanto
carinho por sua vovó.
A vovozinha mal podia esperar para ver o rostinho da neta ao receber o presente,
feito com um lindo tecido de veludo vermelho, que era a cor favorita da menina.
E a garotinha gostou tanto, mas tanto da capa com o capuz vermelho que começou
a andar com ela por todos os lugares, apenas tirando-a para lavar quando sua mãe
pedia.
Logo, os moradores do vilarejo em que ela morava passaram a chamá-la de
Chapeuzinho Vermelho, por conta do pequeno capuz que sempre recobria a sua
cabeça.
A menina achava graça e adorava quando a chamavam por esse apelido!
Outra coisa que Chapeuzinho Vermelho também gostava muito era de visitar a vovó
que fez sua capa, já que ela era sempre recebida com deliciosos biscoitinhos com
geleia, além de muito carinho.
Mas em um certo dia nublado, algo chato aconteceu: um carpinteiro que cortava
lenha na floresta próxima à casa da vovó bateu na porta da casa de Chapeuzinho
Vermelho e avisou à mãe da menina que a velhinha não estava nada bem.
Quando soube que sua querida avozinha estava doente, Chapeuzinho Vermelho
ficou muito aflita e preocupada!
Então, ela pediu para que sua mamãe preparasse algumas guloseimas, para que
ela pudesse levar ao visitar a avó que tanto amava.
A mamãe logo correu até a cozinha e tratou de preparar um bolo bem gostoso, além
de alguns sucos e chás. Após organizar tudo em uma bela cesta de palha, ela disse
à filha:
- Chapeuzinho Vermelho, leve esta cesta para a sua avó! Como ela está fraquinha,
esses sucos e chás farão bem para a sua saúde, e o bolo também, ajudará a
animá-la!
Chapeuzinho respondeu com um sorriso no rosto:
- Pode deixar, mamãe! Estou indo agora mesmo!
A mãe entregou a cesta à menina, mas antes que ela saísse de casa, a mulher a
alertou:
- Tome cuidado, pois há muitos perigos na floresta! Não desvie do caminho certo e
nem converse com estranhos. Quero que você esteja aqui em casa antes do pôr do
sol, está bem? Comporte-se na casa da sua avó e não faça bagunças. Lembre-se
de que ela está doente e precisa descansar!
A menina deu um longo beijo na mãe, se despedindo:
- Sim, senhora! Tomarei bastante cuidado e me comportarei direitinho. Não se
preocupe!
A avó de Chapeuzinho Vermelho morava em uma charmosa e aconchegante
casinha no interior da floresta, a cerca de meia hora de distância do vilarejo onde a
menina morava com sua mãe.
Quando Chapeuzinho Vermelho adentrou a floresta, logo podia ouvir o alegra canto
dos passarinhos nas copas das árvores, o som tranquilo das águas dos riachos que
passavam por ali, o balançar dos galhos e folhas com o vento e, bem ao longe, o
ruído dos serrotes e machados dos lenhadores.
No entanto, ela mal podia imaginar que um enorme lobo de olhos brilhantes e pelos
escuros a observava por entre os troncos das árvores.
Aquele lobo era muito mau, e logo pensou em aparecer na frente da garotinha para
assustá-la, mas ficou com receio de que os lenhadores que já o conheciam
pudessem ouvir os gritos da menina.
Assim, após elaborar um outro plano, ele se aproximou de Chapeuzinho Vermelho
e, parecendo ser bastante gentil disse:
- Bom dia, menininha!
Sem saber que aquele lobo era uma criatura perversa, Chapeuzinho Vermelho
respondeu:
-Bom dia, senhor Lobo!
O Lobo Mau continuou:
- Qual é o seu nome, minha jovem?
Ela disse:
- Pode me chamar de Chapeuzinho Vermelho, que é a forma como meus amigos
me chamam!
O lobo Mau riu do jeito singelo da menina e, olhando para sua cesta, perguntou:
- Me diga então, senhorita Chapeuzinho Vermelho, para onde você vai sozinha
carregando esta cesta recheada de coisas aparentemente tão gostosas?
Ela explicou:
- Vou à casa da minha vovó, que está doente, Essa cesta é para ela!
O Lobo Mau, muito esperto, tentou oferecer ajuda, com a intenção de botar as mãos
naquela cesta:
- Deixe-me ajudá-la! Isto deve estar um tanto pesado para uma menina tão delicada
como você. Eu posso carregá-la até a casa da sua avó!
No mesmo instante, Chapeuzinho Vermelho se lembrou dos conselhos de sua mãe,
especialmente da parte em que ela não deveria conversar com estranhos.
Sem perder a educação, ela tentou encerrar a conversa:
- Não se preocupe, senhor Lobo. A cesta está leve e a casa da minha vovó não fica
muito longe daqui. De qualquer forma, obrigada pela sua gentileza!
O Lobo Mau se despediu de Chapeuzinho Vermelho e, sem perder tempo, disparou
por entre as árvores da floresta.
Como ele conhecia muito bem os atalhos daquela mata, foi capaz de chegar à casa
da vovó bem antes da menina.
Aproximando-se da residência da senhora, o Lobo Mau respirou fundo e, com suas
enormes patas, bateu na madeira da porta a mais delicadamente possível.
A vovó enferma estava deitada e, vendo que não teria condições de chegar
rapidamente à porta, gritou do quarto, perguntando:
- Quem veio me visitar?
O Lobo mau fez uma voz doce para responder, fingindo ser a Chapeuzinho
Vermelho:
- Sou eu, a sua netinha! Vim trazer para a senhora uma cesta cheia de quitutes!
A vovó acreditou e respondeu, muito feliz:
- Ó, minha netinha querida! Que bom que você veio! A porta está destrancada e eu
estou aqui no quarto. Pode entrar!
Então, o Lobo Mau logo entrou na casa da vovó e, indo até o quarto, a trancou em
um pesado guarda-roupas de madeira maciça antes que ela pudesse gritar por
socorro.
Antes de fechar a porta do armário com a velhinha doente lá dentro, o Lobo Mau
ainda escolheu uma camisola e uma touca daquela senhora.
Assim, com o plano de se passar pela avó para enganar a verdadeira Chapeuzinho
Vermelho, o Lobo Mau vestiu a camisola e colocou a touca na cabeça, e logo se
enfiou debaixo das cobertas, ficando à espera da chegada da garota com a cesta.
Enquanto isso, sem imaginar o que estava acontecendo na casa de sua querida
vovó, Chapeuzinho Vermelho seguia alegre e sorridente caminhando sozinha pela
estrada afora, cantarolando com os pássaros e desfrutando do ar fresco.
A garota também ficava fascinada com as borboletas azuis, amarelas e
multicoloridas, e tentava correr mais rápido que os esquilos que surgiam em sua
frente.
Ela simplesmente adorava ver o brilho cintilante dos raios de sol ao tocar as águas
dos pequenos córregos que por ali passavam e, sempre que via uma árvore
carregada de frutas, logo se esticava para pegá-las, escolhendo as que acreditava
que sua vovó gostaria mais.
Finalmente, depois de mais alguns minutos de caminhada, ela chegou à casa de
sua avó, e deu uma leve batida na porta.
O Lobo Mau estava tão ansioso que foi logo perguntando, esquecendo-se de
disfarçar a sua voz:
- Quem está batendo aí?
Chapeuzinho Vermelho espantou-se com o tom da voz, mas logo relevou,
imaginando que a voz de sua avó deveria estar mais grossa por causa daquele
resfriado. Ela respondeu:
━ Sou eu, vovó, a Chapeuzinho Vermelho!
O Lobo Mau, lembrando-se de disfarçar melhor a voz, disse:
━ Finalmente! Por que você demorou tanto? Entre logo, que a porta está aberta.
Enquanto ia em direção ao quarto, Chapeuzinho Vermelho pensou que a avó,
sempre tão doce e festiva, deveria estar de mau humor para lhe dar uma resposta
tão seca. No entanto, ela se lembrou que também ficava mal humorada quando
estava doente, e assim, pensou que essa era a razão por trás da resposta curta e
grossa da senhorinha.
Assim que entrou no quarto, Chapeuzinho Vermelho colocou a pesada cesta sobre
a mesa e foi se aproximando da avó para lhe pedir a bênção, dizendo:
━ Vovó querida, eu lhe trouxe um delicioso bolo que mamãe preparou para
animá-la, além de alguns sucos e chás que farão muito bem para a sua saúde!
No entanto, à medida em que chegava mais perto da cama, Chapeuzinho Vermelho
reparou que sua avozinha definitivamente estava muito estranha. E foi notando:
━ Puxa, vovó! Mas que orelhas grandes a senhora tem!
O Lobo Mau, vestido como a avó, respondeu:
━ São para ouvir melhor...
A menina continuou:
━ E que olhos grandes a senhora tem!
O Lobo Mau explicou:
━ São para ver melhor...
Chapeuzinho Vermelho ia ficando ainda mais impressionada:
━ E que braços enormes e peludos a senhora tem!
O Lobo Mau começou a perder a paciência:
━ São para abraçar melhor...
Chapeuzinho Vermelho reparou no último detalhe:
━ E que boca imensa a senhora tem!
O Lobo Mau então perdeu a paciência, se revelando:
━ É para comer tudo o que você trouxe nessa cesta! Agora, passe logo ela já para
cá!
Em pânico, Chapeuzinho Vermelho começou a gritar, e o Lobo Mau logo a prendeu
dentro do pesado armário onde sua avó havia sido trancada anteriormente, para
que os gritos da menina não chamassem a atenção da vizinhança
O Lobo Mau era esperto e sabia que, como a madeira daquele armário era muito
grossa, por mais que Chapeuzinho Vermelho e sua avó gritassem, ninguém seria
capaz de escutar seus pedidos de socorro dali de dentro.
Livrando-se da menina e da senhora, o Lobo Mau se sentou à mesa e comeu todo o
bolo que estava na cesta até a última migalha e bebeu todos os sucos até a última
gota. Por fim, tomou os chás para ajudar na digestão.
Como estava com a barriga completamente cheia, ele achou que seria uma boa
ideia se deitar na cama da avó para descansar um pouco.
No entanto, o Lobo Mau acabou pegando em um sono profundo.
Ele roncava tão alto, mas tão alto que acabou chamando a atenção de todos os
lenhadores da floresta que moravam perto dali e que já voltavam para casa após um
longo dia de trabalho.
Os lenhadores estranharam aquele barulho e foram até a casa para perguntar à
senhorinha se estava tudo bem.
Como ela não respondeu aos chamados na porta, acharam por bem entrar na casa
e logo, logo, se depararam com a visão do Lobo Mau, com a barriga estufada,
dormindo que nem uma pedra naquela cama.
Um dos lenhadores não pensou duas vezes e, para assustar o Lobo Mau, lançou
com toda a força o seu machado contra a porta do armário.
O Lobo Mau acordou na mesma hora e, antes que pudesse fugir, foi capturado
pelos demais lenhadores, que o levaram preso para bem longe dali.
O primeiro lenhador, então, foi em direção ao armário com o objetivo de recuperar o
seu machado, que estava fincado na porta.
Assim que ele puxou o machado para tirá-lo, a pesada porta se abriu, e lá dentro o
lenhador encontrou Chapeuzinho Vermelho e sua avozinha, que ficaram muito
felizes e aliviadas em vê-lo!
Chapeuzinho Vermelho voltou para sua casa na companhia da avó e do lenhador,
que fez questão de protegê-las durante o caminho de volta.
Quando os três ali chegaram, Chapeuzinho Vermelho contou à sua mamãe tudo o
que tinha acontecido naquele dia movimentado.
A mãe preparou um novo bolo ainda mais gostoso para um lanche como forma de
agradecer ao lenhador por salvar Chapeuzinho Vermelho e sua avó, e a menina
aprendeu a lição de que nunca deve dar muita atenção a quem não conhece.

Leo Reis, Lia Reis e. Chapeuzinho Vermelho (Coleção Mamãe Tranquila - Livre de
Conteúdos Apelativos ou Inadequados. Mamãe Tranquila. Edição do Kindle.
Anexo 4 : Chapeuzinho Vermelho em cordel – R. B. Covo

Uma vez, há muito tempo


Num lugar muito distante
Houve uma menina linda
De imaculado semblante
Por todos muito amada
Do humilde ao mais pedante.
*
Sua avó tudo lhe dava
Bastava apenas pedir
Mesmo sem pedido algum
Deu-lhe, um dia, o que vestir –
Chapeuzinho de veludo
Teimoso no seu luzir.
*
Um chapeuzinho vermelho
Novinho, em primeira mão
Que a menina sempre usava
Não perdia ocasião;
Foi tanto que se fez nome
Muito boa foi a razão.
*
“Ó, Chapeuzinho Vermelho!”
Um dia, sua mãe chamou.
“Leva um pedaço de bolo
A vovó se adoentou.
Leva também este vinho
Uma garrafa lhe dou.”
*
“Saia antes que fique quente
Preste bem muita atenção
Quando for pro seu destino
Não escute opinião;
Bote os olhos no caminho
Não saia da sua mão.”
*
A mãe ainda lhe disse:
“Menina, faça cuidado!
Não corra, vá devagar
Não quero tudo quebrado.
Sua vozinha precisa
Desse remédio do lado”.
*
“Quando entrar no quarto dela”
Recomendou, finalmente
“Seja menina educada
Lembre-se: ela está doente;
Diga: bom dia, vozinha
E não mexa nem num pente!”
*
“Tomarei muito cuidado”
Chapeuzinho prometeu
E apontou pra floresta
Onde a avó sempre viveu.
Veio um lobo ao seu encontro
Com jeito que não comeu...
*
“Bom dia”, o lobo disse
Disse ela: “Muito obrigada”.
Chapeuzinho era inocente
Não via maldade em nada.
“Aonde vai?” – perguntou ele;
“À vovó adoentada”.
*
O lobo era curioso
Mais uma pergunta fez:
“No avental o que tens?
Tem um bolinho talvez?”
“Bolo e vinho” – disse ela
Sua dúvida desfez.
*
“Onde mora sua avó?
O lobo mais perguntou.
“Mora floresta adentro
Um quilômetro acabou;
Debaixo de três carvalhos”
A menina acrescentou.
*
O lobo era maldoso
Principiou a pensar:
“Que menininha tenrinha
Tão boa de devorar.
Que boquinha mais carnuda!
Eu vou já a abocanhar”.
*
“Preciso ser muito rápido
Para as duas engolir
Oportunidade desta
Não posso deixar fugir.”
Caminhou com a menina
Plano maldoso a urdir.
*
Perguntou: “Viu, Chapeuzinho
Como são lindas as flores?
Olhe bem, minha querida
As aves cantam amores.
Você caminha tão séria!
Há por aqui muitas cores”.
*
Chapeuzinho ergueu os olhos
Viu flores por toda a parte
Pensou: “Farei um buquê
Verdadeira obra de arte.
Vozinha se animará
Alegria se comparte”.
*
Se afastou, então, da trilha
Floresta adentro correu
Catando as flores que havia
De fascínio se perdeu.
Cada uma era mais linda
Que a anterior que colheu.
*
Enquanto isso, o lobo
Correu pra casa da avó
Bateu na porta, disse ela:
“É Chapeuzinho de vó?”
Disse ele: “É, sim, vozinha
Abra a porta que estou só”.
*
“Trago bolo e trago vinho
É do bom e do melhor.”
Disse ela: “Erga o trinco
Hoje, estou ainda pior.
Não posso me levantar
Eu estou de fazer dó”.
*
O lobo ergueu o trinco
Abriu a porta da frente
Correu pra caminha dela
Devorou-a de repente.
Era tão astuto e mau
Outro plano tinha em mente.
*
Correu até a janela
Os cortinados fechou
Vestiu as roupas da velha
Na sua cama se deitou.
Estava tão saciado
Adormeceu e roncou.
*
Chapeuzinho, entretanto
Ainda flores catava
Até ter juntado tantas
Que já mal as carregava.
Lembrou-se da sua avozinha
Sua mãe ficaria brava.
*
Correu pra casa da avó
Num instante, estava lá
A porta estava aberta
Ficou surpresa de estar.
Sentiu sensação estranha
Não evitou se inquietar.
*
Pensou: “Ai! Nossa Senhora!
Aqui dentro sinto um nó.
Em outras ocasiões
Me sinto muito melhor.
Gosto tanto de aqui vir
De ficar com a vovó...”
*
Gritou bem alto: “Bom dia!”
Não teve resposta alguma
Correu pra cama e viu
Vozinha como costuma:
A touca cobrindo os olhos
Não se via face nenhuma.
*
Disse: “Vó, como são grandes
Essas orelhas que tem!”
“É pra lhe escutar melhor”
É a resposta que vem.
“Mas, voinha, seus olhinhos
Como são grandes também!”
*
Disse: “É pra lhe ver melhor
Faço gosto em a admirar”.
“Oh, vovó, e as mãos grandes?”
“São pra melhor lhe abraçar.”
Chapeuzinho mais teimou
Voltou a inspecionar.
*
“Mas, vovó, que boca grande!
Boca assim eu nunca vi.”
Respondeu: “Vê essa boca?
É pra melhor lhe engolir”.
O lobo logo deu um pulo
Ela não pôde fugir.
*
Engoliu-a de uma vez
Satisfez seu apetite
Voltou a deitar na cama
Roncou demais, acredite.
Era tão alto o roncado
Coisa assim não se admite.
*
Um caçador que passava
Ouviu aquele trovão
Pensou: “Que ronco medonho
Eu vou lá ver como estão”.
Bateu à porta três vezes
Com os costados da mão.
*
Como ninguém respondeu
E o ronco muito alarmava
Entrou a medo na casa
Vendo tudo como estava.
Viu o lobo mau na cama
Disse: “Há muito o procurava!”.
*
Estava quase atirando
Bem quando lembrou assim:
“Se tiver comido alguém
Não quero a culpa pra mim”.
Pegou tesoura e rasgou
O malvado até ao rim.
*
Depois do segundo corte
Viu Chapeuzinho brilhar
Fez mais dois talhos e disse:
“Menina, vim lhe salvar!”
Logo ela saltou pra fora
Melhor sensação não há.
*
Gritou: “Que susto que tive!
Ai! Era escuro demais!”
Depois saiu a avozinha
Quase não vivia mais.
Chapeuzinho pegou pedras
Disse: “Olhem como se faz!”.
*
Encheu o bucho do lobo
Uma pedrinha por vez
Quando ele acordou, disse:
“Menina, o que me fez?”
Ainda tentou fugir
Mas isso não satisfez.
*
Desabou no chão sozinho
Boca torcida de medo
Foi lá para o outro mundo
A morte não é brinquedo.
Os três ficaram felizes
Foi à farta o folguedo.
*
O caçador tirou a pele
Daquele lobo medonho
A vovó comeu o bolo
Sua saúde foi de sonho.
Chapeuzinho riu demais
Falou: “Um brinde proponho”.
*
Brindaram e rebrindaram
E pensou a Chapeuzinho:
“Pelo tempo que eu viver
Nunca mais deixo o caminho
Respeitarei minha mãe
Digo-o com muito carinho”.
*
Há por aqui muito lobo
Fingindo boa qualidade
A gente cai na armadilha
Pensa ser tudo verdade.
Meu benzinho, abra o olho
No mundo há muita maldade.
FIM

CÔVO, R. B. . CHAPEUZINHO VERMELHO em cordel (pp. 3-12). Edição do Kindle.

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