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Tema:

No mundo da fantasia
DE LHO NA IMAGEM

Observe a obra a seguir, criada pelo pintor americano Norman Rockwell.

Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães


1. Há, na pintura, dois planos: no primeiro vemos um menino e uma menina e, no segundo, de
fundo, vemos vários elementos. Observe o primeiro plano.
a) O que o menino e a menina estão fazendo?
b) Que idade você imagina que eles tenham?
c) Pelas roupas, é possível dizer que esses meninos são do nosso tempo ou de uma época pas-
sada? Por quê?

2. Abaixo das crianças, há uma inscrição em inglês, cuja tradução é o próprio nome do quadro: A
terra do encantamento. Observe que, no plano de fundo da pintura, há várias personagens.
a) Em que lugar elas estão?
b) Quem são elas?
c) Que relação há entre elas e os livros que as crianças estão lendo?
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3. Na “terra do encantamento”, vivem personagens que povoam a fantasia de crianças e adultos de
todo o mundo. Tente descobrir as histórias a que elas pertencem.

4. Observe as crianças lendo e os objetos que estão do lado delas. Na sua opinião, elas gostam de
ler? Por quê?

5. Quando lemos, nos transportamos para um mundo em que tudo pode acontecer: animais falam,
piratas perigosos nos ameaçam com mão de gancho, sapos nojentos viram lindos príncipes,
monstros horríveis transformam-se em pessoas bonitas por dentro e por fora... Essa é a “terra do
encantamento” ou o mundo da fantasia que está à nossa espera nos livros.
a) Quais das histórias do mundo da fantasia você já leu?
b) De qual gostou mais? Por quê?
c) Para você, o que é a leitura?
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Tema:
No mundo da fantasia
ESTUDO DO TEXTO

O Chapeuzinho Vermelho
Havia, numa cidadezinha, uma menina que todos achavam muito bonita. A mãe era doida por
ela e a avó ainda mais. Por isso, a avó mandou fazer um pequeno capuz vermelho que ficava muito
bem na menina. Por causa dele, ela ficou sendo chamada em toda parte de Chapeuzinho Vermelho.
Um dia em que sua mãe tinha preparado umas tortas, disse para ela:
— Vai ver como está passando sua avó. Pois eu soube que ela anda doente. Leva uma torta e este
potezinho de manteiga.
Chapeuzinho Vermelho saiu em seguida para ir visitar sua avó, que morava em outra cidadezinha.
Quando atravessava o bosque, ela encontrou compadre Lobo, que logo teve vontade de comer a
menina. Mas não teve coragem por causa de uns lenhadores que estavam na floresta.
O Lobo perguntou aonde ela ia. A pobrezinha, que não sabia como é perigoso parar para escutar
um lobo, disse para ele:
— Eu vou ver minha avó e levar para ela uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe
está mandando.
— Ela mora muito longe? — perguntou o Lobo.
— Oh! Sim — respondeu Chapeuzinho Vermelho. — É pra lá daquele moinho que você está
vendo bem lá embaixo. É a primeira casa da cidadezinha.
— Pois bem — disse o Lobo —, eu também quero ir ver sua avó. Eu vou por este caminho daqui
e você vai por aquele de lá. Vamos ver quem chega primeiro.
O Lobo pôs-se a correr com toda a sua força pelo caminho mais curto. A menina foi pelo cami-

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nho mais longo, distraindo-se a colher avelãs, correndo atrás de borboletas e fazendo ramalhetes com
as florzinhas que encontrava.
O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Bateu na porta: toc, toc.
— Quem está aí?
— É sua neta, Chapeuzinho Vermelho — disse o Lobo, mudando a voz. Eu lhe trago uma torta
e um potezinho de manteiga que minha mãe mandou pra você.
A bondosa avó, que estava de cama porque não passava muito bem, gritou:
— Puxe a tranca que o ferrolho cairá.

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O Lobo puxou a tranca e a porta se abriu. Ele avançou sobre a pobre mulher e devorou-a num
instante, pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, fechou a porta e foi-se deitar na cama
da avó. Ficou esperando Chapeuzinho Vermelho, que, um pouco depois, bateu na porta: toc, toc.
— É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz uma torta pra você e um potezinho de manteiga
que minha mãe lhe mandou.
O Lobo gritou para ela, adocicando um pouco a voz:
— Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
Chapeuzinho Vermelho puxou a tranca e a porta se abriu.
O Lobo, vendo que ela tinha entrado, escondeu-se na cama, debaixo da coberta, e falou:
— Ponha a torta e o potezinho de manteiga sobre a caixa de pão e venha se deitar comigo.
Chapeuzinho Vermelho tirou o vestido e foi para a cama,
ficando espantada de ver como sua avó estava diferente ao natu-
ral. Disse para ela:
— Minha avó, como você tem braços grandes!
— É pra te abraçar melhor, minha filha.
— Minha avó, como você tem pernas grandes!
— É pra correr melhor, minha menina.
— Minha avó, como você tem orelhas grandes!
— É pra escutar melhor, minha menina.
— Minha avó, como você tem olhos grandes!
— É pra ver melhor, minha menina.
— Minha avó, como você tem dentes
grandes!
— É para te comer.
E, dizendo estas palavras, o Lobo sal-
tou pra cima de Chapeuzinho Vermelho e a
devorou.

Moral
Vimos que os jovens,
Principalmente as moças,
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Lindas, elegantes e educadas,


Fazem muito mal em escutar
Qualquer tipo de gente.
Assim, não será de estranhar tranca: barra de ferro ou de madeira que se
Que, por isso, o lobo as devore. põe transversalmente atrás das portas para
Eu digo o lobo porque todos os lobos segurá-las.
ferrolho: peça de ferro, com a qual se
Não são do mesmo tipo.
fecham portas e janelas.
Existe um que é manhoso,
fel: mau-humor, azedume, ódio.
Macio, sem fel, sem furor. adulador: bajulador, aquele que agrada por
Fazendo-se de íntimo, gentil e adulador, interesse próprio.
Persegue as jovens moças meloso: semelhante ao mel, doce; excessiva-
Até em suas casas e seus aposentos. mente sentimental, baboso.
Atenção, porém! manhoso: esperto, vivo, astuto, sagaz.
As que não sabem
Que esses lobos melosos
De todos eles são os mais perigosos.
(Charles Perrault. O Chapeuzinho Vermelho. Porto Alegre: Kuarup, 1987.)

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COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO

1. Como todos os contos de fadas, O Chapeuzinho Vermelho apresenta um herói ou uma heroína e
um vilão (ou antagonista), isto é, aquele que se opõe ao herói.
a) Quem é a heroína do conto lido?
b) Quem é o vilão?

2. É comum, nos contos de fadas, o herói ser vítima de uma armadilha planejada pelo vilão. É o
caso, por exemplo, da maçã envenenada que Branca de Neve come no conto Branca de Neve e os
sete anões. No conto O Chapeuzinho Vermelho:
a) Qual é a armadilha que o vilão planeja?
b) Quem são suas vítimas?

3. No final da história, o Lobo alcança seu objetivo: devorar a menina. Contudo, desde o início
do conto as intenções do Lobo estavam claras.
a) Identifique em que parágrafo aparece pela primeira vez a intenção do Lobo de comer Chapeu-
zinho Vermelho.
b) O que impediu o Lobo de comer a menina nesse momento?

4. Além de divertir, os contos de fadas normalmente procuram transmitir às crianças alguns conhe-
cimentos. No caso do conto O Chapeuzinho Vermelho, a história parece alertar as pessoas contra
os perigos da imprudência e da ingenuidade.
a) Qual teria sido a imprudência da mãe de Chapeuzinho Vermelho?
b) Qual a imprudência da avó?
c) O trecho “A pobrezinha, que não sabia como é perigoso parar para escutar um lobo, disse para
ele” demonstra que a menina era imprudente ou ingênua? Por quê?

5. Numa parte do conto, fica clara a intenção de alertar, as moças principalmente, sobre os riscos

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da imprudência e da ingenuidade.
a) Que parte é essa?
b) De acordo com essa parte, existe um tipo de lobo que é o mais perigoso de todos. Qual é esse
tipo? Por que ele é o mais perigoso?

Contos de fadas no cinema


Além de alguns filmes da Disney, que são adaptações dire-
tas dos contos de fadas, muitos outros apresentam uma estrutura
semelhante. É o caso, por exemplo, dos filmes O jardim secreto,
de Agnieszka Holland, e Willow, de Ron Howard.

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6. O russo W. Propp, estudando os contos maravilhosos, observou que algumas situações se repe-
tem em quase todos eles. Veja algumas delas:
1) o herói se distancia do lar
2) o herói adentra o bosque ou a floresta
3) o herói cai numa armadilha
4) há luta entre herói e vilão
5) o herói vence o vilão ou
6) o herói é vencido pelo vilão
7) o herói volta para casa
8) o vilão é punido
9) o herói se casa
a) Quais dessas situações ocorrem na versão lida de O Chapeuzinho Vermelho?
b) Os irmãos Grimm deram outro final à mesma história: um caçador corta a barriga do Lobo e
salva a menina e a avó. Chapeuzinho coloca pedras na barriga do Lobo, causando sua morte.
Quais dos elementos acima existem apenas na versão dos irmãos Grimm?

7. Você já imaginou se Chapeuzinho Vermelho fosse Magali, a


personagem comilona de Mauricio de Sousa? Observe a capa da
revista Magali ao lado. Nela, Magali mostra a cesta de lanches ao
Lobo.
a) Por que, provavelmente, a cesta está vazia?
b) Compare a expressão facial dos dois. O que sugere cada
uma delas?

8. A capa dessa revista sugere uma história diferente da versão


original.
a) Na história sugerida pela capa, em que o comportamento de
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Magali difere do comportamento de Chapeuzinho Vermelho?


b) Nessa história, quem seria a personagem mais faminta: o
Lobo ou Magali?
(nº 18, fev. 1990.)

A LINGUAGEM DO TEXTO

1. Releia esta frase do conto lido e observe o trecho destacado:

“Eu digo o lobo porque todos os lobos não são do mesmo tipo.”

Note que o autor escreveu “todos os lobos não são”, o que equivale a dizer:
a) qualquer lobo é.
b) nenhum lobo é.
c) todo lobo é.
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2. Observe:

“O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Bateu na porta: toc, toc.”

Toc, toc reproduz o som das batidas dos dedos na porta. As palavras que imitam, na escrita, sons
e ruídos são chamadas de onomatopeias.

Onomatopeias são palavras que imitam aproximadamente sons e ruídos produzidos por
sinos, campainhas, instrumentos musicais, armas de fogo, vozes de animais, movimentos, etc.

Nos textos seguintes, identifique as onomatopeias e indique o que imitam.


a) “Prrrrii!
— Aí Heitor!
A bola foi parar na extrema esquerda. Melle desembestou com ela.”
(Antônio de Alcântara Machado)

b) “O bicho, raposa-lobo como se dizia, rosnava e depois regougava pelos caminhos. De longe se ouviam
os uivos que ele dava.”
(Luís Jardim)

c) “Em cima do meu telhado


Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.”
(Mário Quintana)

3. Imagine a seguinte situação: você está no centro da cidade às 6 horas da tarde. As lojas fecham
suas portas. Barulho de vozes, buzinas, motor de carros e ônibus, escapamentos de motos, apito
de guarda de trânsito. Um carro freia repentinamente, uma mulher grita. Um cachorro, ganindo,

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passa por você.

Escreva um pequeno texto que narre essa situação. Faça uso de onomatopeias.

Trocando ideias

1. Podemos dizer que, no conto O Chapeuzinho Vermelho, a menina representa a ingenuidade e a


inexperiência, ao passo que o Lobo representa a astúcia e a malícia. No mundo real de hoje, quem
poderia ser:
a) Chapeuzinho Vermelho?
b) o Lobo?

2. Se os contos de fadas pretendem transmitir ensinamentos às crianças, qual das duas versões — a
de Perrault ou a dos irmãos Grimm — é a mais educativa? Por quê?
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No mundo da fantasia
ESTUDO DO TEXTO

O ganso de ouro
Era uma vez um homem que tinha três filhos. Os dois mais velhos eram tidos como inteligentes
e espertos, ao passo que o caçula, todos o consideravam um bobalhão e só o chamavam de João Bocó.
Um dia, o filho mais velho precisou ir buscar lenha na floresta. A mãe lhe preparou um lanche
com um delicioso bolo e uma garrafa de vinho, para que ele não sentisse fome nem sede.
Quando ia entrando na mata, o moço encontrou um velho grisalho que lhe desejou bom-dia
e pediu:
— Por favor, me dê um pedacinho do seu bolo e um gole de sua garrafa. Estou morrendo de
fome e sede.
— Era só o que faltava! — respondeu ele com maus modos. — Se eu lhe der, o que é que
sobra para mim? — e, dando-lhe as costas, afundou-se na mata. Mais adiante, quando começou a
golpear uma árvore, errou o golpe e feriu-se no braço. Então foi obrigado a voltar para casa, sem
trazer um cavaquinho que fosse, sem desconfiar que o acontecido foi por artes do velho grisalho,
que era mágico.
No dia seguinte, o segundo filho foi à floresta buscar lenha. Também para ele, a mãe preparou
um bom lanche com bolo e vinho e, assim como aconteceu ao irmão, quando entrou na mata, encon-
trou o velho grisalho, que lhe pediu um pedaço de bolo e um gole de vinho.
— Essa é boa! Pensa que vou repartir com um velho vagabundo o que posso comer sozinho? —
respondeu o rapaz continuando a andar.
E não teve melhor sorte que o irmão. Mal começou a golpear uma
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árvore, a lâmina — por alguma magia que o velho fez — resvalou


e o feriu no pé. E lá se foi ele de volta para casa, mancando,
sem trazer sequer um galhinho seco.
No outro dia, João Bocó pediu ao pai que o deixasse
buscar lenha na mata.
— De jeito nenhum! — respondeu ele. — Se seus irmãos
se machucaram, o que acontecerá a um bobo e desastrado
como você?
Mas João Bocó tanto amolou, que o pai acabou cedendo.
— Está bem, vá! Se lhe acontecer alguma coisa, tanto
melhor! Quem sabe se assim você toma jeito!
E ele partiu para a floresta, levando de lanche apenas
um pãozinho e uma garrafa de água. Lá chegando, encontrou
o mesmo velho grisalho que lhe disse “bom dia” e pediu um
pedacinho de bolo e um gole de vinho.
— Só tenho um pãozinho e uma garrafa de água. Mas
o que é meu é seu. Vamos comer juntos — e sentando-se

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num tronco caído, João Bocó abriu a sacola. Então arregalou os olhos surpresos. O que encontrou
dentro dela foi um saboroso bolo e uma garrafa de vinho. “Como a mãe foi boazinha!”, pensou, sem
se dar conta de que aquilo foi magia do velho. Comeram os dois com grande apetite e o velho disse:
— Quem tem um bom coração, como você, e não hesita em dividir com os outros o pouco que
tem, bem merece uma sorte melhor. Está vendo aquela árvore ali adiante? Entre suas raízes, encon-
trará um presente meu que o fará muito feliz — assim falando, desapareceu.
João Bocó correu para a árvore e encontrou aninhado entre suas altas raízes uma beleza de ganso,
cujas penas eram de ouro puro. Com ele debaixo do braço, resolveu sair pelo mundo em busca de
aventuras, em vez de voltar para casa onde era tão pouco querido. Andou, andou e, à tardezinha, che-
gou a uma estalagem, onde resolveu passar a noite.
Ora, acontecia que a dona da casa tinha três filhas, três mocinhas abelhudas que, mal viram o
ganso de ouro, decidiram que, custasse o que custasse, haveriam de ter algumas de suas peninhas
tão lindas. A mais velha ficou espionando e, quando viu o rapaz sair, entrou no quarto dele, aproxi-
mou-se devagarinho do ganso e agarrou-o. Foi só fazer isso, ficou com uma das mãos presas nele,
sem poder se libertar. Logo depois chegou a outra e, vendo a irmã agarrada ao ganso, pensou: “Se
ela pensa que as penas são só dela, engana-se!” e puxou-a pelo vestido. Com isso, ficou com uma das
mãos grudada na irmã. Finalmente, com passos de lã, chegou a mais moça. As outras pediram aflitas:
— Pelo amor de Deus, não chegue perto de nós!
Isso só serviu para deixar a mocinha desconfiada.
— Querem me passar para trás, heim? — assim dizendo, puxou a segunda das irmãs pela mão
e ficou presa também. E todas as três tiveram que passar a noite ao lado do ganso.
No outro dia bem cedo, João Bocó partiu com seu ganso debaixo do braço, sem nem ligar para as
moças. As coitadas, uma presa à outra, foram obrigadas a segui-lo de um lado para outro, para cima
e para baixo, onde quer que ele fosse, e como andava ligeiro o danado!
Um padre que vinha vindo, ao ver passar aquela estranha
procissão, parou boquiaberto.
— Mas que é isso, moças! Não têm vergonha? Onde
já se viu correr assim atrás de um rapaz! — e decidido
a detê-las, agarrou a última pelo braço. O resultado é
que não pôde mais tirar as mãos do braço dela e, bem
contrariado, teve que acompanhar o bando.

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Nesse meio tempo, o sacristão passou por ali e ficou admi-
rado ao ver o padre correndo atrás das moças.
— Senhor padre! — chamou ele. — Onde vai com tanta
pressa? Esqueceu que temos um batizado hoje? — e agarrou-o
pela batina, ficando preso também.
Agora eram cinco em fila atrás de João Bocó, que não
dava sinais de querer parar. Mais adiante, cruzaram com
dois robustos camponeses que vinham voltando da lavoura.
Aos gritos, o padre pediu-lhes, por favor, que libertassem
ele e o sacristão com um bom puxão.
— Lá vai! — disseram eles. E largando a enxada
arregaçaram as mangas e agarraram o sacristão. Só o que
conseguiram, foi ficarem presos também. E todos os sete,
trotando atrás de João Bocó, chegaram enfim a uma cidade
onde vivia uma princesa tão séria e carrancuda, que jamais
alguém a viu sorrir. Em desespero de causa, o rei mandou
proclamar por todo o reino que daria a filha em casamento ao
primeiro que a fizesse rir.
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João Bocó soube disso e dirigiu-se ao palácio real.
Mas nem precisou entrar. A princesa estava na jane-
la, de queixo na mão, cara sombria olhando a rua.
Quando viu o rapaz com toda aquela gente em fila
atrás dele, as moças chorando, o padre mancando,
o sacristão rezando e os camponeses reclamando,
desatou a rir com tanto gosto, que parecia não
poder parar mais. Então, acabou-se o encanto. Os
prisioneiros de João Bocó de repente se viram livres
e só pensaram em uma coisa: voltar para casa deles
o mais depressa possível.
Diante de tal sucesso, João Bocó não titubeou
em reclamar a mão da princesa. Mas o rei, que não
gostou nada do pretendente, depois de muito dis-
cutir concordou em dar-lhe a filha com uma con-
dição: o rapaz tinha que trazer alguém que fosse
capaz de comer todo o pão do reino.
João Bocó pensou logo no velho da floresta e
foi procurá-lo ao pé da árvore onde havia acha-
do o ganso. O que encontrou foi um homem
enorme, com a cara mais triste deste mundo. E
quando perguntou a causa de tamanha tristeza,
ele respondeu:
— Ai de mim! Estou com tanta fome que acho que vou morrer! Acabei de comer cinco fornadas
de pão e fiquei na mesma! Será que vou levar a vida apertando o cinto para enganar a fome?
“É o homem que eu preciso!”, pensou João Bocó. E convidou-o a ir com ele ao palácio do rei,
prometendo que encontraria lá o suficiente para matar a fome por três meses. E, de fato, encontraram
diante do palácio uma montanha de pão feita com toda a farinha que puderam encontrar no reino.
O homem da floresta subiu em cima dela e pôs-se a comer com tal voracidade que, à tardezinha, a
montanha já não existia. Então João Bocó reclamou novamente a noiva prometida.
Mas o rei, que continuava não querendo saber de um genro que, além de pobre, tinha o apelido
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de João Bocó, veio com nova exigência: só daria a filha se o moço lhe trouxesse um barco que andasse
tanto em terra como na água.
João Bocó voltou à floresta e, desta vez, encontrando o velho mágico em pessoa, explicou-lhe a
situação e disse o que queria.
— Quem ajuda os outros merece ser ajudado! — o velho disse isso, piscou um olho e desapare-
ceu, deixando no seu lugar o barco exigido.
Quando o rei viu o rapaz chegar com o barco navegando em chão enxuto, compreendeu que não
havia mais jeito. Concedeu-lhe a mão da filha e o casamento realizou-se. Dizem que nunca houve um
casal tão feliz nem alguém tão sorridente como a esposa de João Bocó.
(Contos de Grimm. Adaptação de Maria Heloisa Penteado. São Paulo: Ática, 1989. p. 23-30.)

abelhudo: curioso, indiscreto; intrometido.


estalagem: hospedaria.
hesitar: estar ou ficar indeciso, perplexo, incerto; vacilar, titubear.
resvalar: fazer escorregar ou cair; deslizar.
Procure no dicionário outras palavras que você desconheça.

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COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO

1. O texto “O ganso de ouro” conta


uma história. O texto que conta uma Heróis, vilões e outras personagens
história chama-se texto narrativo.
Todo texto narrativo apresenta fatos As personagens classificam-se de acordo com o papel
que desempenham na história. A personagem que faz o papel
em sequência: um fato causa um
principal chama-se protagonista. Nos contos maravilhosos,
efeito, que dá origem a outro fato, e
o protagonista é um herói ou uma heroína que vive grandes
assim por diante. No conto em estu- aventuras e vence muitos obstáculos. A personagem que se
do, por exemplo, João Bocó divide opõe ao protagonista, seja porque age contra ele, seja porque
seu lanche com o homem velho. tem características opostas às dele, é chamada de antagonis-
a) Que efeito esse fato causa no des- ta. Essa personagem é o

Elizabeth MacKinstry
tino de João? vilão da história.
No conto, há tam-
b) Por que o conto “O ganso de bém personagens secun-
ouro” e outros contos semelhan- dárias. As personagens
tes a esse são conhecidos como secundárias são aquelas
contos maravilhosos? Dê sua que têm uma partici-
opinião. pação menor ou menos
frequente na história.
c) Em “O ganso de ouro”, que fatos
podem ser considerados fora do
comum, espantosos? Cite dois
exemplos.

2. Uma história pode ser vivida por


pessoas, animais e, às vezes, até por
objetos. Quem vive uma história
chama-se personagem. Leia o boxe
ao lado e responda:
a) No conto “O ganso de ouro”, quem é o protagonista?

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b) Nesse conto, não há um vilão cruel ou maldoso. Entretanto, quem se opõe à vontade de João
Bocó?
c) Nos contos maravilhosos que você conhece, como são normalmente os heróis?
d) O protagonista do conto “O ganso de ouro” assemelha-se aos heróis que você conhece?
Justifique sua resposta.
e) Apesar disso, que qualidades fazem de João Bocó um herói?

3. Depois de ganhar o presente do velho grisalho, João Bocó sai em busca de aventuras.
a) Por que ele resolveu partir?
b) Compare o modo como o pai e a mãe de João Bocó o tratam e como eles tratam os outros
filhos. Há alguma diferença nessa forma de tratamento? Justifique sua resposta com elementos
do texto.

4. Ao chegar à cidade, João Bocó dirige-se ao palácio para tentar fazer a princesa rir e, assim,
casar-se com ela. Na sua opinião, João tinha a intenção de usar o ganso de ouro para isso?
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5. Apesar de João Bocó ter feito a princesa rir, o rei não cumpriu sua palavra e submeteu o herói a
duas provas que estavam além da capacidade dele.
a) Que tipo de ajuda João teve para vencê-las?
b) João Bocó era realmente um bobalhão como as pessoas achavam?

6. Que outro(s) título(s) você daria a esse conto?

7. Os contos maravilhosos quase sempre procuram transmitir ensinamentos relacionados a com-


portamentos dos seres humanos. Que ensinamentos a respeito das pessoas o conto “O ganso de
ouro” transmite?

A LINGUAGEM DO TEXTO
1. O conto “O ganso de ouro” mostra unidade de sentido, ou seja, é um texto que tem começo, meio
e fim. Ele está dividido em partes menores, os parágrafos. Parágrafos são partes do texto que
agrupam ideias. A indicação de início de parágrafo é feita pelo afastamento em relação à margem
esquerda do texto.
a) Quantos parágrafos há no texto lido?
b) Em que parágrafo o velho grisalho pede ao filho mais velho um pedacinho de bolo e um gole
de vinho?

2. Observe o primeiro parágrafo do texto. Como os outros parágrafos, ele apresenta partes menores,
as frases, que são delimitadas pelo ponto.
a) Observe o número de pontos desse parágrafo. Quantas frases há nele?
b) O parágrafo se inicia com letra maiúscula. E as frases, são iniciadas com letra maiúscula ou
com letra minúscula?

Tipos de frase
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Na escrita, a frase começa com letra maiúscula e termina com ponto. Na fala, a frase é demarcada
pela entonação, isto é, por um tom de voz que expressa a intenção de quem fala.
De acordo com o sentido que pretendemos construir, podemos produzir diferentes tipos de frase.
Tradicionalmente, a gramática classifica as frases em quatro tipos:
• Interrogativa: usada para fazer uma pergunta:
“Está vendo aquela árvore ali adiante?”
Na escrita, a frase interrogativa é indicada por ponto de interrogação.
• Declarativa: usada para dar uma resposta, uma informação ou contar alguma coisa:
“Era uma vez um homem que tinha três filhos.”
Na escrita, a frase declarativa é indicada por ponto.
• Exclamativa: usada para expressar espanto, surpresa, emoção, admiração, alegria, etc.:
“Era só o que faltava!”
Na escrita, a frase exclamativa é indicada por ponto de exclamação.
• Imperativa: usada para expressar uma ordem, um desejo, uma advertência, um pedido:
“Está bem, vá!”
Na escrita, a frase imperativa é indicada por ponto ou por ponto de exclamação.

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Leia a tira a seguir para responder às questões 3 e 4.

(Laerte. Folha de S. Paulo, 4/9/2003.)

3. Nas falas dos balões do 1º quadrinho:


a) De que tipo são as frases que a professora emprega?
b) Observe o entusiasmo com que os alunos respondem à professora. De que tipo são as frases
que eles empregam?

4. Considerando o contexto, responda: Por que a entrada triunfal do aluno Felipe surpreende os

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colegas e a professora, provocando humor?

Trocando ideias

1. Você acha que a história de João Bocó pode ser lida e contada para crianças e adultos do mundo
inteiro, em qualquer época? Por quê?

2. Nos dias de hoje há pessoas que, como o pai de João Bocó, tratam outras injustamente, por jul-
garem que elas são bobas e pouco inteligentes?

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