O formato da narrativa se torna denso pelo linguajar próprio da região e em
alguns momentos até de difícil compreensão.
A trama desse conto, como nas demais narrativas de Guimarães Rosa, é
relativamente simples.
Em O burrinho pedrês, Guimarães procura mostrar, tendo como pano de fundo o
mundo dos vaqueiros, que todos têm a sua hora e sua vez de ser útil. É o caso do burrinho Sete-de-Ouros: a gente segue a esperteza mansa do bicho, a sua finura de instinto e inteligência que o faz poupar-se, furtar-se a choques e maus pisos e, por fim, orientar-se e salvar-se numa cheia onde os cavalos afogam, carregando um bêbado às costas e ainda outro náufrago enclavinhado no rabo.
O burrinho pedrês é uma estória que metaforiza a experiência da velhice, um
burrinho experiente sabe se orientar onde cavalos de boa montaria sucumbem. Neste conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber. A ironia do escritor vale-se do decadente burrinho para pôr a nu a onipotência presunçosa do homem, que julga controlar o próprio destino, ignorando as inesperadas surpresas que este lhe reserva. A perspectiva místico-religiosa, a luta entre o bem e o mal, os riscos morais que acompanham o homem no perigoso ofício de viver, são os temas preponderantes que alimentam a ficção.
Em Sagarana renasce o anônimo "contador de estórias", o homem-coletivo que se
enraíza nos rapsodos gregos e nas canções de gesta medievais. Desde o início do conto (Era um burrinho pedrês...) esboça-se claramente a atitude ingênua e espontânea da "palavra lúdica", que não aprisiona o falar nos limites rígidos do individualismo, mas se identifica com a palavra anônima e coletiva.
Seja pela fórmula lingüística caracterizadora da narrativa elementar, da fábula, da
lenda (Era um burrinho...), tempo e modo verbais que, de imediato, tiram à narrativa o caráter de coisa datada, para projetarem na esfera intemporal do universo de ficção; seja pela mescla de precisão e imprecisão documental no registro do espaço (vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão); seja pela dimensão antropomórfica (forma humana) que é dada à personagem central, o "burrinho-gente", e que situa a narrativa na fronteira entre o real e o mágico; seja pela funcionalidade das cantigas inseridas no fluxo narrativo, tudo isso e muito mais nos revela, no universo da palavra rosiana, a presença do "homo ludens" (homem lúdico), descompromissado com as estruturas convencionais do pensamento lógico.
Com relação a linguagem o autor trabalha com jogo de palavras, trocadilhos e
associações inesperadas de imagens, trabalha os aspectos sonoros e dá um caráter nitidamente poético à sua prosa utiliza também em sua obra vários processos estilísticos, que dão singularidade aos seus textos, ele explora o linguajar regionalista e com o ritmo, apela para os aspectos auditivos.