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O Autor

José Maria Eça de Queiroz foi um importante


romancista português do século XIX. Nasceu em 25
de novembro, de 1845, na cidade portuguesa de
Póvoa de Varzim.

Aos 16 anos de idade, foi estudar Direito na cidade


de Coimbra. Seus primeiros trabalhos como escritor
apareceram no Jornal Gazeta de Portugal. Trabalhou como administrador municipal no
município de Leiria. Trabalhou também como cônsul de Portugal na Inglaterra. Esta
época foi uma das mais produtivas de sua carreira.

Foi discípulo do escritor francês Gustave Flaubert, de quem recebeu grande influência
literária. Eça de Queiroz foi um dos pioneiros da literatura realista em Portugal.

Abordou, em suas obras, diversos temas. Porém, podemos observar algumas


características comuns em seus romances, como, por exemplo, abordagem de temas
cotidianos, descrição de locais e comportamento de pessoas, pessimismo, ironia e
humor.

Eça de Queiroz morreu na cidade de Paris em 1900. Suas obras foram traduzidas em
várias línguas. É considerado até os dias de hoje como sendo um dos principais
representantes do realismo português.

Eça de Queirós é considerado o mais importante ficcionista do Realismo em Portugal e


um dos maiores em língua portuguesa. Exerceu influência não só sobre escritores
portugueses, mas também sobre as literaturas brasileiras e espanholas.

O objetivo do autor em seus escritos foi adequar sua visão de mundo, criando um
estilo solto, livre e transparente, em uma linguagem expressiva, que, incorporado à
língua corrente em Lisboa, também contribuiu para aumentar seu público.
Resumos dos Contos “O tesouro” e “A prefeição”
O tesouro
A narrativa “O tesouro” descreve a história de três irmãos de Medranhos: Rui, Guanes e
Rostabal, que viviam em plena miséria a ponto de, em noites de frio intenso e nevasca,
pernoitarem no estábulo que abrigava suas três éguas, já que a velha choupana em que
habitavam era descoberta de telhas e vidros.

Em certa manhã de domingo, enquanto procuravam pegadas de caça, encontraram


em Roquelanes um velho cofre de ferro, com três fechaduras e três chaves. Ao mesmo
tempo em que abriram o cofre e mergulharam no ouro, a desconfiança tomou conta
dos três, que imediatamente levaram as mãos ao cabo de suas espadas. Rui, descrito
como sendo aparentemente o líder dos três, argumenta que o tesouro vinha de Deus, e
que deveria ser dividido em três partes. Porém, parecia perigoso sair dali com tanto
ouro, sendo necessário arrumarem uma maneira segura de transportá-lo. Decidiram
que Guanes, por ser o mais leve dentre eles, deveria pegar uma parte do ouro e ir à
cidade de Retortilho comprar alforjes, vinho e comida para eles e para as éguas a fim de
aguetarem a caminhada de volta.

Guanes, então, assegura-se de levar consigo a sua chave e sai em cavalgada até a cidade
para comprar os mantimentos e, no caminho sai cantarolando:
Olé! Olé!
Sale la cruz de la iglésia
Vestida de negro luto...

Enquanto aguardam o irmão mais novo voltar, Rui e Rostabal conversam entre si que
Guanes não deveria estar com eles, pois havia se recusado mais cedo a fazer a
caminhada, e que isso deveria ser má sorte para ele. Ambos chegam à conclusão de que
Guanes também era egoísta, que jamais dividiria o tesouro com eles, por isso decidem
matá-lo.
Rostabal esconde-se aguardando a volta de Guanes, com a espada em punho, quando
escuta Guanes se aproximando:
Olé! Olé!
Sale la cruz de la inglésia,
Vestida de negro luto...

Rostabal desfere um golpe de espada abaixo do ventre do irmão, a pedido de Rui, que
também não se esquece de pedir para Rostabal pegar a chave de Guanes. Após o feito,
Rostabal, ao lavar-se do sangue do irmão, é atacado no coração por Rui, com um golpe
pelas costas.

Possuindo agora as três chaves, Rui abre o cofre, olha as garrafas de vinho, as azeitonas
e a carne assada que Guanes trouxera e, sentindo fome e ignorando o fato de que havia
ali apenas duas garrafas do vinho, decide comer e beber. Deliciando-se com a comida,
com o vinho e com o tesouro em suas mãos, Rui sente que algo o queima por dentro.
Rui que até então era o mais safo entre eles, grita então pelos irmãos Guanes e Rostabal,
e percebe que o que tomara era veneno e que a intenção do irmão mais novo era igual
à dele: de matar os irmãos e ficar com o tesouro sozinho. Agonizando, Rui morre
envenenado.

A história conta que até hoje o tesouro encontra-se na mata de Roquelanes.

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Eram três irmãos, o Rui, o Guanes e o Rostabal. Certo dia os três foram procurar comida
perto das éguas. Lá encontraram um cofre com três fechaduras, cheio de moedas.
Resolveram que Guanes iria à aldeia comprar três sacos de couro, três kg de cevada, três
empadões de carne e três garrafas de vinho. Guanes levou uma chave do cofre.
Enquanto Guanes foi, o Rui e o Rostabal diziam que o Guanes não era para ir com eles,
e não achavam justo ele ficar com parte do tesouro. Então decidiram matá-lo. Puseram-
se atrás de um arbusto, e ao Guanes passar espetaram-lhe uma espada no coração e
pegaram na sua chave do cofre.
Rostabal como estava todo sangrado foi à fonte lavar-se, mas caiu e também morreu.
Assim, Rui era o único dono do tesouro.
No dia seguinte, Rui todo contente ia comer o beber o que o seu irmão trouxera da
aldeia, mas ao beber o vinho sentiu o estômago a arder, bebeu água a ver se melhorava,
mas não. Depois pensou que o seu irmão teria posto veneno no vinho, para que ele e o
Rostabal morressem para que o tesouro fosse só para ele.
O Rui acabou também por morrer.
Esta história faz lembrar um provérbio: “Quem tudo quer tudo perde”.

ESTRUTURA DA AÇÃO

 Introdução (dois primeiros parágrafos) – Apresentação das personagens e


descrição do ambiente em que vivem;
 Desenvolvimento (até ao penúltimo parágrafo) – Descoberta do tesouro,
decisão de partilha e esforços para eliminar os concorrentes;
 Conclusão (dois últimos parágrafos) – Situação final.

Da conclusão interpretamos que a história dos "três irmãos de Medranhos", é uma


narrativa fechada; por outro lado, se nos centrarmos sobre o "tesouro", consideramos
a narrativa aberta, dado que ele continua por descobrir ("...ainda lá está, na mata de
Roquelanes.").

Por sua vez, o desenvolvimento tem também uma estrutura dividida em 3 partes:

 Descoberta do tesouro e decisão de o partilhar;


 Rui e Rostabal decidem matar Guanes; morte de Guanes; morte de Rostabal;
 Rui apodera-se do cofre e morre envenenado.

Categorias da narrativa

PERSONAGENS
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA CARACTERIZAÇÃO PSICOLÓGICA

RUI Gordo e ruivo Avisado, calculista, traiçoeiro

Pele negra, pescoço de grou,


GUANES Desconfiado, calculista, traiçoeiro
enrugado

Alto, cabelo comprido, barba


ROSTABAL longa, olhos raiados de Ingénuo, impulsivo
sangue
TEMPO

Tempo histórico – A referência ao "Reino das Astúrias" permite localizar a ação por
volta do século IX, isto é até á idade média. Por outro lado, no século X encontramos já
constituído o Reino de Leão, que sucedeu ao das Astúrias.

Tempo na ação – A ação decorre entre o inverno e a primavera, mas concentra-se num
domingo de primavera, de manhã até à noite, decorrendo um dia.

ESPAÇO

A ação é localizada no Reino das Astúrias, a parte inicial, nos "Paços de Medranhos" e,
a parte central, na mata de Roquelanes. Apenas o episódio do envenenamento do
vinho é situado num local um pouco mais longínquo, na vila de Retorquilho.

Modos de apresentação do discurso


- Narração – sucessão de acontecimentos que permitem a evolução da ação;
predomina o pretérito perfeito, embora o presente e o pretérito mais-que-perfeito.
- Descrição – faz-se uma pausa na evolução dos acontecimentos para caracterizar
personagens e localizar a ação no espaço e no tempo; predomina o pretérito
imperfeito.
- Dialogo e monólogo – introduzido por travessões, predomina a 1ª pessoa e a 2ª
pessoa

Recursos Expressivos
Ironia
Considera-se ironia quando, pelo contexto, pela entoação, ou pela contradição de
termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou frases parecem exprimir. A
intenção é, geralmente, depreciativa ou sarcástica, embora o sarcasmo tenha um tom
mais agressivo.
Ex: Ln. 181 Pag. 67 “..., ele seria o magnífico senhor de Medranhos,...”

Sinestesia
Consiste na mistura de sensações que pertencem a diferentes sentidos,
nomeadamente a audição, o olfato, a visão, o tato, e o paladar.
Ex: Ln. 74 Pág. 63 “Um cheiro errante de borboletas adoçava o ar luminoso.”

Comparação
Consiste em estabelecer uma relação de semelhança por meio de uma palavra ou
expressão comparativa (como, mais do que, maior que, tão) ou de verbos que também
sirvam para comparar (parecer, lembrar, sugerir...).
Ex: Ln. 14 Pág. 60 “E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.”
Personificação
Consiste na atribuição de características humanas a coisas, animais, ou mesmo ideias.
Ex: Ln.246 pág. 68 “A fonte, cantando,...”
Dupla adjetivação
Consiste no uso de dois adjetivos numa única expressão.
Ex. Ln. 77 Pág. 63

Formação de palavras
Por prefixação
Não ser feliz – infeliz
Por sufixação
Modo de ser feliz – felizmente
Por sufixação e por prefixação
Modo de não ser feliz – infelizmente

Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre

Discurso Direto
É a transcrição fiel das falas das personagens, num texto. Formalmente escrito, surge
depois dois pontos, antecedidos ou não de um verbo declarativo (dizer, perguntar,
responder, etc), parágrafo e travessão. Ex: Os resumos são muito cansativos! – disse o
Vasco.
Discurso Indireto
É a reprodução da fala das personagens, por outra entidade narradora ou outra
personagem, o que implica algumas transformações, sobretudo ao nível dos
indicadores de tempo e de espaço, bem como de pessoa verbal. O Vasco disse que os
resumos eram muito cansativos.
Discurso Indireto Livre
É o discurso que, parecendo direto, não apresenta as marcas gráficas características, e
o discurso que, sendo indireto, não utiliza o verbo declarativo e a conjunção.”E há
quanto tempo não provava capão!
Elementos do Discurso Discurso Direto Discurso Indireto

Sujeito da enunciação 1ª e 2ª pessoas 3ª Pessoa


(todos os determinantes
e pronomes associados
ao sujeito da enunciação,
bem como a pessoa
verbal

Tempo e modo verbal Presente, Pretérito Imperfeito, Condicional,


Perfeito, Futuro e Pretérito, mais-que-perfeito,
Imperativo Imperfeito do conjuntivo

Elementos definidores de Maior proximidade (aqui, Maior afastamento (acolá,


espaço e tempo agora) naquele lugar, nesse dia)
(advérbios de tempo e
lugar)

Analise das palavras


Enquanto ele esperava que ele descesse.
Descesse – É uma forma do verbo “descer” , 2ª conjugação , pretérito imperfeito , do
conjuntivo na 3ª pessoa do singular .
A Perfeição

“A Perfeição” é um notável conto de Eça de Queiroz, no qual ele evoca o canto V da


"Odisseia" para narrar, à sua maneira, o repouso forçado de Ulisses na “ilha divina”
da deusa Calipso, que se apaixona pelo herói grego, prisioneiro em seus braços
durante longos sete anos.

Desesperado de tédio nesse exílio, saudoso de seu reino e de sua esposa Penélope,
eis que de repente ele é liberado, por ordem de Zeus, e se prepara para partir numa
jangada construída pelas próprias mãos, saturado de respirar naquele domínio onde
tudo era eternamente, abusivamente perfeito.

No adeus dirigido à inconsolável Calipso, Ulisses prorrompe num longo discurso,


externando todos seus sentimentos à deusa escandalizada:

“O meu coração saciado já não suporta esta paz, esta doçura e esta beleza imortal.
Considera, oh Deusa, que em oito anos nunca vi a folhagem dessas árvores
amarelecer e cair. Nunca este céu rutilante se carregou de nuvens escuras. ...Todas
essas flores que brilham nas hastes airosas são as mesmas. ...E há lírios que odeio
pela impassibilidade da sua alvura eterna! ...Estou privado de ver o trabalho, o
esforço, a luta e o sofrimento... Não posso mais com esta serenidade sublime!”

E prossegue Ulisses com a mesma eloquência. Ao ouvir a resposta da deusa gabando


tudo o que seu hóspede iria perder, “minha Ilha perfeita, entre os meus braços
perfeitos”, neste ponto Odisseu pronuncia sua palavra final e irredutível, “com um
brado magnífico”:

“- Oh Deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!” (Eça de Queiroz, “A


Perfeição”, do livro “Contos”, Lello & Irmão Editores, Porto, 1947).

O conto de Eça “A Perfeição” pode ser lido como crítica, senão um libelo, contra o
mito do Progresso que nasceu no Iluminismo do século 18 e dominou totalmente o
século 19, primeiro com o Positivismo, depois com o socialismo e o marxismo,
apontando para a Idade de Ouro, na qual seria atingido o máximo esplendor da
perfeição na justiça social e no humanismo, numa civilização tão perfeita como na
ilha de Ogígia.

Eça de Queiroz, ironizando os esplendores da Ilha divina, repele, igualmente, os


exageros da idealização positivista e socialista da futura idade de ouro, pretendendo
ser fiel à sua doutrina realista.

Mas como falar hoje em “realismo”, se a realidade conhecida mudou tanto, e passou
a incluir tantas coisas e informações tão fantásticas, que até a ciência, (a física, por
exemplo,) está cada vez mais próxima da ficção científica em seus lances mais
audaciosos? Ser realista hoje é ser cada vez mais poeta.

O homem precisa do mito para se humanizar, como precisa do sol para viver. Mas,
assim como ele conserva certa distância do sol, para não ser tragado por ele, deve
conservar com o mito certa distância regulamentar, para não ser consumido e
aniquilado por ele, expondo-se ao mesmo perigo de Ulisses, sufocado pelos poderes
da Ilha perfeita nos braços perfeitos da encantadora ninfa que o devorava de
carinhos.

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A perfeição

Resumo: Dez anos tinham passado desde que Ulisses partira para a guerra de Tróia, da
qual saíra vencedor. Porém, a sorte não tardou a findar pois, lamentavelmente,
enquanto partia para a sua terra natal, o seu destino arrastara-o (após inúmeras
peripécias) para uma ilha praticamente deserta. Permanecia na ilha há sete anos.Era
uma ilha que transbordava uma natureza em perfeita sintonia e harmonia, de uma
beleza, paz e tranquilidade infindáveis e inefáveis. Nela reinava uma das cinquenta
nereidas, Calipso, e algumas ninfas. No entanto, o descontentamento de Ulisses era
notoriamente sentido: passava horas a divagar, sentado numa rocha, a invejar os
valorosos guerreiros que pereceram nas batalhas a que ele resistira, e para sempre
ficaram marcados nas memórias do Homem e dos Deuses, dos quais ele fora esquecido
e abandonado. A sua vida era um monótono ciclo de eventos, onde tudo lhe era
concedido abundantemente tanto em quantidade como em qualidade.Um dia aparece
Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos Deuses. Este transmite um recado de Júpiter
(Zeus) a Calipso que a obrigava a libertar Ulisses. Face ao Deus dos Deuses, Calipso
obedeceu incontestavelmente. Esta entregou a Ulisses um machado de bronze e
indicou-lhe as árvores propícias para a construção duma jangada. Ao quarto dia, a
jangada tinha sido construída e abastecida de mantimentos. Ulisses parte da ilha para
tentar regressar a Ítaca.

Comentário: Ulisses viveu angustiado durante os sete anos em que viveu na ilha. Tinha
uma Deusa que o amava, mas que se privava de sentimentos, era capaz de controlar os
seus desejos. Ulisses (aqui colocado como uma personagem tipo do Homem em geral)
não consegue ser subjugado à indiferença e ausência de sentimentos. Por oposição, um
ser perfeito é um ser conformista, pois não tem defeitos, apenas virtudes. Para alguém
imperfeito como o Homem, a perfeição só por si é um defeito, pois não existe uma
relação de complementaridade que lhe seja benéfica ? apenas o atormenta.Antes da
partida, Calipso questiona-se se Ulisses também sentiria esta angústia se não tivesse
motivos para partir (a sua mulher Penélope e o filho Telémaco). Ulisses garante que
mesmo sem motivos, ele afrontaria a ira dos Deuses, pois aquela vida não é capaz de
saciar os desejos dele, a liberdade do seu coração que o atormenta e impele a fugir da
ilha.O Homem é um ser incompleto: com virtudes, mas defeitos, consciente, mas incerto
e inseguro. O Homem é uma criação da natureza, a qual é também imperfeita ? basta
pensar na vida e na morte, inevitáveis a qualquer ser natural. Logo, não só o mundo a
que ele está acostumado a viver ? o mundo real e natural - é imperfeito, como também
ele próprio, tendo sido criado por esse mundo, é incompleto. Portanto, é inconcebível
o Homem adaptar-se a algo que não faz parte da sua essência ? a perfeição ? e daí deriva
a angústia que Ulisses vivera na ilha de Calipso. O bem e o mal coexistem no Homem e
a privação de um ou de outro só apelam à revolta e ao inconformismo.

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