Você está na página 1de 5

A FARSA DE INÊS PEREIRA

Índice
1

.CARACTERISTICAS DO GÉNERO FARSA........................................................................................1


2.RESUMO....................................................................................................................................1
3.PERSONAGENS..........................................................................................................................2
3.1 Inês Pereira.........................................................................................................................2
3.2 Mãe....................................................................................................................................3
3.3 Lianor Vaz...........................................................................................................................3
3.4 Pêro Marques.....................................................................................................................3
3.5 Brás da Mata......................................................................................................................4
3.6 Judeus – Vidal e Latão........................................................................................................4
3.7 Moço..................................................................................................................................4
3.8 Ermitão...............................................................................................................................4
4. REPRESENTAÇÃO DO QUOTIDIANO.........................................................................................4
5. A DIMENÃO SATIRICA...............................................................................................................5
5.1 Personagens-tipo................................................................................................................5
5.2 Tipos de cómico..................................................................................................................5

CARACTERISTICAS DO GÉNERO FARSA


 Representação de cenas da vida profana através da sátira
 Reprodução do ambiente popular da época e de flagrantes da vida quotidiana
 apresentação de um conflito entre forças opostas
 Estrutura interna - intriga com princípio meio fim
 Estrutura externa - não se organiza em atos ou em cenas
 Número reduzido de personagens, algumas delas personagens-tipo

RESUMO
Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da
sorte por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-
se com um homem que seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o
que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas
têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas
obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso,
cortesão.
O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, que
satisfazia a ideia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão,
desajeitado, factos que desagradam Inês. Por isso Pero Marques é descartado pela moça.

Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, a quem
somente interessa o dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando
importância ao bem-estar da moça. Então apresentam-lhes Brás da Mata, um escudeiro, que
se mostra exatamente com as características que Inês esperava, apesar das desconfianças de
sua mãe.

Casa com Brás da Mata. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser
tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não
olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e
discreta.

Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra a sua desgraça. Mas a desventura dura pouco
pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro
quando fugia de forma covarde.

Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se
com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, comete
adultério descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo
apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pêro, seu marido, a leve ao
encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao
encontro do amante.

Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "Mais quero asno que me leve
do que cavalo que me derrube”

PERSONAGENS
Inês Pereira
– Protagonista da farsa, toda a intriga se desenvolve em torno do seu desejo de casar (para
ascender socialmente e ter mais liberdade). Desde início surge como alguém descontente com
a vida que leva: sente-se “cativa”, gostaria de ter a mesma vida que as outras jovens, mais
folgada. É uma personagem que apresenta grande densidade psicológica e que vai evoluir ao
longo da peça.

– Sendo “muito fantasiosa” constrói uma imagem idealizada do marido: “não hei de casar
senão com homem avisado ainda que pobre pelado seja discreto em falar”. A mãe e Lianor Vaz
tentam orientá-la, mas Inês mostra-se decidida e irredutível nas suas opiniões, acabará assim
por aprender às suas custas.

– Numa primeira fase enganada pelo escudeiro Brás da mata e pela sua aparência Inês opta
pelo pretendente mais galante o que representa o “cavalo”. Porém apercebe-se da má escolha
e arrepende-se. Constata-se uma mudança de atitude da parte da protagonista que revela um
plano futuro a fim de se vingar do sucedido.

– Depois de Brás da mata Inês escolhe a personagem que representa o “asno”, o lavrador Pêro
Marques, pois aprendeu com a sua própria experiência “sobre quantos mestres são/
experiência dá lição”.
– As características apresentadas sobre esta personagem foram sobretudo depreendidas a
partir daquilo que ela diz ou faz, trata-se de uma caracterização indireta. No entanto a mãe
também ajuda na sua caracterização (direta que é feita por outra personagem) –
heterocaracterização. A própria Inês também se autocaracteriza.

Mãe
– Esta “mulher de baixa sorte” (caracterização direta – apresentada na didascália inicial),
bastante perspicaz, manifesta opiniões totalmente discordantes das da filha relativamente ao
casamento e ao marido que ela deveria escolher.

– Analisando as suas falas repletas de provérbios e de expressões populares, e as suas atitudes


- caracterização indireta - podemos dizer que a mãe é a voz do bom senso, da razão e também
da experiência.

– Dá conselhos a Inês sempre que um dos pretendentes a vai visitar mostrando assim o seu
cuidado e a sua preocupação. Outras vezes coloca perguntas à filha esperando dessa forma
levá-la a refletir e a ponderar melhor sobre o futuro fazendo referência à necessidade de
garantir um futuro seguro em termos monetários e aludindo às vantagens de ter um marido
trabalhador do mesmo nível social.

– O discurso da mãe em incorpora a crítica ao desejo de promoção social tão comum na época.
Porém é mais realista do que Inês e interessa-se pela condição social económica do Lavrador.
Ainda assim Inês decide casar com o Escudeiro pelo que, à mãe, nada mais resta se não aceitar
e abençoar a união preparando uma festa deixando a filha entregue ao marido. A partir do
casamento a mãe não volta a aparecer como se a sua missão já tivesse sido concluída e “todo
o mal” você agora responsabilidade da escolha que tinhas fé.

Lianor Vaz
– Esta personagem-tipo, uma alcoviteira, é uma mulher cujo ofício consistia também em
“arranjar” casamentos. É Ela quem dá a conhecer Pêro Marques a Inês e a sua mãe,
considerando-o “um bom marido/ rico, honrado, conhecido”.

– Partilha das opiniões esta manhã quanto à escolha de Inês, e ela expressou através de
expressões populares – “mais quero eu quem m’adore, / que quem me faça mal”

– Não consegue convencer Inês a optar pelo lavrador e é só após a morte do primeiro marido
de Inês que Lianor Vaz aparece e aconselha-a novamente, chamando-a à atenção para as
vantagens económicas de tal união.

– Com Lianor Vaz também se denuncia o comportamento devasso do clero, através do


encontro com o clérigo que a assedia, o que constitui um exemplo da crítica social.

Pêro Marques
– Retrato fiel do camponês, homem rústico e simples, Pêro Marques é uma personagem-tipo
e aparece como o primeiro pretendente, aquele que é desprezado por Inês.

– Esta, não hesita em caracterizá-lo de uma forma bastante negativa e sarcástica: “viste tão
parvo vilão? / eu nunca tal coisa vi / nem tanto fora de mão”, “Oh Jesu! que João das, Bestas! /
olha aí aquela canseira!

– Esta caracterização direta decorre dos comportamentos e atitudes que Pedro Marques
revela não só antes de conhecer Inês (carta), como no momento em que se encontra com ela
(não sabendo para que serve a cadeira, senta se ao contrário; procura em vão as peras na
chapéu)

– Para além disso, Pêro Marques também se autocaracteriza como sendo um homem de bem,
sério e decente. No entanto, para Inês estas qualidades não são de valorizar, antes pelo
contrário.

– A imagem do camponês inocente, ingénuo e desajeitado fica completa no último episódio da


peça, quando o vemos a transportar Inês, agora sua mulher, às costas, levando-a ao encontro
do Ermitão. Pêro Marques encarna então o papel de marido obediente, crédulo e enganado
pela mulher.

Brás da Mata
– O segundo pretendente da Inês Pereira parece corresponder ao perfil que ela tinha em
mente para marido. O Escudeiro, também ele personagem-tipo, parece ser um homem
encantador, hábil com as palavras e com os instrumentos musicais: “sei bem ler/ e muito bem
escrever / e bom jogador da bola /e quanto o tanger viola / logo me vereis tanger.”

– Na verdade, o Escudeiro é um homem falso, pretensioso, pelintra e prepotente, traços


caracterizadores que podem ser deduzidos a partir dos diálogos que trava com o Moço
(caracterização indireta), ou a partir das a partes que produz (caracterização direta).

– Concretizado o casamento, o Escudeiro revela Inês a sua verdadeira personalidade como


marido autoritário e insensível, impedindo-a dizer socializar outra estar sequer a janela,
dando-lhe liberdade apenas para ir à igreja.

– Inês percebe então o engano em que caíra. Ela própria, depois de saber da morte do
Escudeiro, realça a sua cobardia: “Guardar de cavaleirão / barbudo, repetenado, que em figura
d’avisado, / é malino e sotrancão”.

Judeus – Vidal e Latão


– Apresentam o segundo pretendente a Inês. São personagens cómicas e que recorrem a uma
linguagem caricatural. Pertencem a um grupo, daí a linguagem contribuir para a sua
caracterização indireta como personagens-tipo. São gananciosos, pois, concretizado o
casamento exigem imediatamente a quantia devida. funcionam como uma única personagem,
um completa o outro ao nível do discurso e do comportamento.

Moço
– É criado do escudeiro, acompanha o ao longo da peça e é uma voz crítica do mesmo. leva
uma vida dura, de pobreza e maus-tratos. É fiel, contudo, ao seu senhor.

Ermitão
– Seduz Inês e representa a vida de liberdade que a moça pretendia levar, com a aprovação do
próprio marido que não vê maldade em nada. representa uma crítica ao clero, a sua
devassidão e a imoralidade.

REPRESENTAÇÃO DO QUOTIDIANO
Uma das características da farsa enquanto género é representar flagrantes da vida quotidiana.
Daí que na farsa de Inês Pereira seja possível identificar vários episódios que espelham os
hábitos das pessoas daquela época, em especial no que diz respeito:

 Ao casamento
 Ao estatuto da mulher, sobretudo da mulher solteira
 A vida doméstica
 A vida palaciana
 A vida do campo, simples, autêntica, mas pouco considerada
 A vida do clero

A DIMENÃO SATIRICA
O teatro da Gil Vicente é eminentemente satírico. Um dos principais objetivos do dramaturgo
era chamar a atenção para as mudanças que afetavam a sociedade dos Quinhentos e que, na
sua perspetiva, a corrompiam. Estes comportamentos são denunciados através das
personagens-tipo e do cómico.

Personagens-tipo
 Alcoviteira e Judeus - Figuras gananciosas que agem com um fim económico
 Pêro Marques - personagem rústica, serve para fazer rir agente da corte, com a sua
ignorância e simplicidade.
 Brás da Mata - género de parasita, ocioso e vadio, que imita os padrões da nobreza - toca
guitarra, faz serenatas, finge se de bravo - mas é medroso e a explorador do Moço. Não
trabalha e passa fome.
 Ermitão - há uma desconformidade entre os atos e os ideais, pois, em lugar de praticar a
austeridade, à pobreza e à renúncia ao mundo, busca a riqueza e os prazeres mundanos.

Podemos ainda dizer que cada uma destas personagens ilustram um determinado conjunto de
defeitos e de vícios que Gil Vicente através do seu olhar perspicaz queria criticar. As
personagens tipo são assim cruciais para a sátira social que o dramaturgo pretende
concretizar.

As personagens tipo ajudam a compor o quadro do cotidiano e da sociedade da época, nesse


sentido, as personagens tipo podem também contribuir para o cómico.

Tipos de cómico
 Cómico de carácter - assenta na personalidade, no modo de ser da personagem, traduz-se
muitas vezes na sua incapacidade para se integrar num determinado ambiente, meio
social.
 Cómico de situação - baseia-se na intriga, no próprio desenrolar dos episódios que podem
provocar desencontros, contrastes, o inesperado ou o insólito.
 Cómico de linguagem - resulta da desadequação do que é dito ou do modo como é dito
relativamente ao contexto envolvente; pode ser produzido através da ironia, do sarcasmo,
de apartes ou outros comentários, de trocadilhos e jogos de palavras, de expressões
populares, de calão…

Você também pode gostar