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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU


ALANNA JÚLIA E SILVEIRA NASCIMENTO
RA:81714260

O CASAMENTO PUTATIVO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

SÃO PAULO
2020
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ALANNA JÚLIA E SILVEIRA NASCIMENTO

O CASAMENTO PUTATIVO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial para a
obtenção de título de Graduação do Curso
de Direito da Universidade São Judas
Tadeu

ORIENTADORA: PROF. Me. ISA GABRIELA DE ALMEIDA STEFANO

São Paulo
2020
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………...

CAPÍTULO 1 - ORIGEM DO CASAMENTO PUTATIVO…………………………5

1.2 Etimologia e conceito ………………………………………………………………..6

1.3 Princípios Constitucionais que baseiam o Casamento Putativo………………………7

1.3.1 Princípio da dignidade humana no Direito de Família…………………………..…7

1.3.2 Princípio da igualdade de filiação…………………………………………………10

CAPÍTULO 2 – CASAMENTO

2.1 Introdução……………………………………………………………………….…….

2.2 Natureza jurídica do casamento………………………………………………………..

2.3 Casamento inexistente……………………………………………………….………...

2.4 Das hipóteses de nulidade…………………………………………………….………..

2.5 Das hipóteses de anulabilidade………………………………………………………...

CAPÍTULO 3 - DOS PRESSUPOSTOS DA PUTATIVIDADE……………………...

3.1 Quando presente a boa-fé de pelo menos um dos contraentes, ao tempo da celebração
do casamento………………………………………………………….…………………...

3.2 Da invalidade do casamento…………………………………………………………..

3.3 Erro de fato e erro de direito………………………………………………….………..

3.4 Da sentença que declara a putatividade……………………………………………….

CAPÍTULO 4 - DOS EFEITOS DO CASAMENTO PUTATIVO…………………...

4.1 Quando ambos os consortes agirem de boa-fé…………………………………………

4.2 Quando apenas um dos consortes agir de boa-fé………………………….……………

4.3 Quando ambos os consortes agirem de má-fé……………………………………….…

4.4 Quanto ao uso do nome de casado………………………………………….………….


4

4.5 Quanto aos filhos e a terceiros………………………………………………………....

4.6 Quanto aos alimentos………………………………………………………………….

4.7 Em relação as doações………………………………………………………………....

CONCLUSÃO……………………………………………………………………………

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA…………………………………………………...
5

CAPÍTULO 1 – ORIGEM DO CASAMENTO PUTATIVO

A doutrina diverge em relação a origem do casamento putativo, alguns


doutrinadores afirmam que surgiu no Direito Romano, a título de exemplo, o doutrinador
Washington de Barros Monteiro cita que o casamento putativo foi desenvolvido na igreja
católica, porém foi o direito romano que conheceu a teoria, sendo necessário a existência
de três requisitos: bona fide, opinione justa e solemnitas (boa-fé, erro escusável e
celebração do casamento).1

De acordo com Jorge Jorge Shiguemitsu e Luiz Accacio (2013 p. 95), um exemplo
de casamento putativo em Roma é o da Flavia Testula com o seu tio por vontade de seu
avô, tendo em vista o elemento boa-fé.

Já a outra parte da doutrina majoritária, concorda que o casamento putativo teve


origem no Direito Canônico. Neste sentido, o direito canônico que estabeleceu a teoria
do casamento putativo por volta do século XII, sobretudo com as Decretais de Alexandre
III, através do qual, se um dos nubentes estivesse de boa-fé, o matrimônio embora nulo,
produziria efeitos.

Aduz o autor Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 64):

Foi o direito canônico que desenvolveu a sua teoria, como consequência


da necessidade de mitigar os efeitos desastrosos da nulidade, tornada
frequente em razão da multiplicidade dos impedimentos matrimoniais,
principalmente para proteção da prole inocente que, sem tal instituto,
não teria acesso ao status da filiação legítima.
Todavia, o direito canônico pode ser definido “como conjuntos das normas gerais
e positivas que regulam a vida social no grêmio da igreja católica.”

Nas palavras da doutrinadora Flávia Lajes de Castro (2016, 12ª, p. 132), o “direito
Canônico é o nome dado ao Direito da Igreja Católica e é chamado canônico por causa
da palavra ‘cânon’ que, em grego, significa regra.”

1
MONTEIRO, Washington; SILVA, Regina. Curso de Direito Civil: Direito de Família, 2012, p. 122.
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A putatividade no direito canônico foi de grande preocupação, uma vez que, o


cônjuge de boa-fé não poderia ser lesado devido ao vício no casamento. Ou seja, a
finalidade do casamento putativo no direito canônico é atribuir efeitos de um casamento
válido.

O casamento putativo é previsto no artigo 1.061 §3º do Código do Direito


Canônico, o qual dispõe, “o matrimónio inválido diz-se putativo se tiver sido celebrado
de boa-fé ao menos por uma das partes, até que ambas venham a certificar-se da sua
nulidade.”

Neste mesmo seguimento Cahali (apud GARCIA, Marco Túlio Murano, 2012,
cap. 5) esclarece:

A igreja, tendo ministrado o sacramento, não podia quedar-se inerte,


decepcionando os cônjuges de boa-fé, expondo-os à frustração; tinha de
protegê-los. E o paliativo que se buscou como necessário, foi
encontrado na instituição do casamento putativo.
O sistema jurídico brasileiro adotou a teoria do casamento putativo no artigo 1.561
e parágrafos do Código Civil.

Por fim, conclui-se que o casamento putativo teve sua teoria conhecida no direito
romano, porém foi desenvolvida no direito canônico, que para produzir efeitos de um
casamento válido, é necessário que os consortes ou pelo menos um deles estejam de boa-
fé, ou seja, é na ignorância do vício que estabelece a boa-fé para então ser eficaz os efeitos
do casamento até a decretação da sentença anulatória. Ademais, no direito canônico
referente aos filhos provenientes da relação, os efeitos para estes, sempre serão válidos.

1.2 Etimologia e conceito

O termo putativo deriva do verbo latino putare que significa presumir ser e
imaginar. Na doutrina, Coelho (1952, p. 337) ensina:
7

Em latim putare quer dizer julgar, crer, pensar, imaginar. Desse modo,
teremos que casamento putativo será aquele que, embora nulo ou
anulável, possa ser julgado verdadeiro, isto é, reputado o que, de fato,
não é.
Já em relação ao conceito, o aludido autor Alípio Silveira (1972, p. 7), esclarece:

Casamento putativo é aquele nulo ou anulável, mas que, em atenção à


boa-fé com que foi contraído por um ou ambos os cônjuges, produz,
para o de boa-fé e os filhos, todos os efeitos civis até passar em julgado
a sentença anulatória.

Nesse sentindo, define o doutrinador Washington de Barros Monteiro, “putativo


é o casamento que, embora nulo ou anulável, foi, todavia, em boa-fé contraído por um só
ou por ambos os cônjuges. É o casamento declarado inválido, mas a que a lei outorga
efeitos de casamento válido”.

Sendo assim, o casamento putativo é aquele casamento realizado de boa-fé por


ambos ou um dos cônjuges, mas é um casamento que contém vícios que o torna nulo ou
anulável.

Muito embora, o casamento putativo seja nulo ou anulável, ele não possui
emprego das causas para o divórcio, pois acarreta apenas a dissolução de um casamento
válido, em virtude de fatos após a sua celebração, conforme elenca o artigo 1.571, § 1.º
do Código Civil.

Bem como não se aplica a separação judicial, porque a ela incorre somente a
dissolução da sociedade conjugal, não rompendo o vínculo conjugal, entretanto, os
cônjuges não poderão convolar novas núpcias, assim especifica o artigo 1.571, III do
Código Civil.

1.3 Princípios Constitucionais que baseiam o Casamento Putativo

1.3.1 Princípio da dignidade humana no Direito de Família


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O princípio da dignidade humana encontra-se no artigo 1º, inciso III da


Constituição Federal de 1988. Resumidamente, o princípio estabelece valor moral
inerente ao ser humano com conjuntos de direitos fundamentais.

Acrescentando com a citação acima, o Ministro Gilmar Ferreira Mendes


determinou em decisão monocrática proferida no STF:

(...) lembre-se, sobretudo, do significado especial que a ordem


constitucional conferiu ao princípio da dignidade humana (art. 1º, III).
Na sua acepção originária, este princípio proíbe a utilização ou
transformação do ser humano em objeto de degradação por meio de
processos e ações estatais. O Estado está vinculado ao dever de respeito
e proteção do indivíduo contra exposição a ofensas ou humilhações (...).
(STF; Decisão Monocrática; Petição n° 29526; Relator Ministro Gilmar
Ferreira Mendes; Julgado em 01/08/2003).
No Direito de Família, o princípio é pautado no artigo 226 § 7º2 da Constituição
Federal, o qual a família é base da sociedade e tem a proteção do Estado. O planejamento
familiar e paternidade responsável é de livre decisão do casal, pois o Estado apenas
proporciona recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito. A título de
exemplo de recursos para o exercício do planejamento familiar é o Ministério da Saúde,
esse setor governamental produz mecanismos como a assistência a anticoncepção, como
também a assistência à infertilidade conjugal.

Logo adiante no §8º do referido artigo, nota-se que o Estado tem uma função de
amparar cada integrante da família, desenvolvendo aspectos para coibir a violência nas
relações intrafamiliares. Além dos mais, os mais vulneráveis em âmbito familiar, são as
crianças, os adolescentes e os idosos.

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Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
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Em síntese os artigos 1.6373 e 1.6384 do Código Civil, elenca seguimentos de


perda do exercício familiar em relação aos filhos, podemos citar alguns como, o abuso de
autoridade, castigar demasiadamente e o abandono.

Com base no princípio da dignidade humana, a Constituição trouxe expressamente


a comunhão plena de vida da forma mais humanitarista, porquanto é o dever da família
assegurar o bem do jovem não expondo a violência, exploração, discriminação e outros.
Já que, o Estado confere a criança e ao adolescente o direito à educação, à saúde, à vida,
ao lazer, à dignidade, à liberdade e entre outros direitos.

Segundo Beatriz Helena Braganholo:

O Direito Constitucional é, mais do que nunca, responsável por regular


as relações humanas, antes ditas meramente privadas e enquadradas
como reguladas pelo Direito Civil. Seus interesses individuais são
correspondentes a necessidades fundamentais do homem, tendo o dever
de propiciar meios que levem a viver e relacionar de uma forma mais
solidária, com respeito pelo outro.
Em relação ao idoso, a família, a sociedade e o Estado tem o dever de ampará-lo,
resguardando seu bem estar, a dignidade e sobretudo o direito à vida, dispõe o artigo 230
da Constituição Federal. Devido a condição de idoso, há famílias que os abandonam por
causa de sua fragilidade física e mental, o qual é deixado de ser útil, sofrendo
discriminação e maus tratos.

Para Monteiro (2007, p. 19), “é somente por meio do respeito a esses direitos que
pode ser alcançada a harmonia nas relações familiares e preservada a dignidade da pessoa
no seio familiar”.

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Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando
os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que
lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando
convenha.
4
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
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Contudo, o princípio da dignidade humana no Direito de Família tem como


finalidade estabelecer uma vida digna e respeitosa para todos integrantes do âmbito
familiar.

1.3.2 Princípio da igualdade de filiação

Encontra-se esse princípio exposto no artigo 227 §6º da Constituição Federal, cuja
finalidade é estabelecer direitos e qualificações para aqueles filhos não constituídos na
relação matrimonial.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi promulgada a Lei 7.841, de


17 de outubro de 1989, com desígnio de revogar o artigo 358 do Código Civil de 1916.
De modo que, antes da vigência do Código Civil de 2002, o artigo explicava que filhos
provindos de incestos e adultérios não poderiam ser reconhecidos. Ou seja, era negado a
estes a identidade e a dignidade, como fossem responsáveis pelos atos dos pais.

Comenta-se ainda o autor Rolf Madaleno (2018, p. 146), em relação a


promulgação da lei:

Embora ainda não tenha sido atingido o modelo ideal de igualdade


absoluta de filiação, porque esquece a lei a filiação socioafetiva, ao
menos a verdade biológica e a adotiva não mais deveriam encontrar
resquício algum de diferenciação e tratamento, como ainda ocorre,
inadvertidamente, quando a lei trata de só presumir a paternidade no
casamento e não na união estável e também quando outorga apenas ao
marido de mulher casada impugnar a paternidade de filho gerado por
sua esposa.
Posto isto, é de suma importância a supremacia da igualdade filiação prevalecer
diante das causas que podem levar a discriminação perante os outros filhos, sejam esses
biológicos ou não, fora do casamento ou em sua constância, todos devem ser tratados de
forma igualitária. Podemos citar um avanço da aplicação do princípio no Tribunal de
11

Justiça do Rio Grande do Sul5, qual conferiu ao filho adotivo o direito de ser reconhecido
a sua paternidade biológica.

Outrossim, é destacar a importância sobre a igualdade entre os filhos, ela tem que
acontecer de forma iguais perante eles, seja por vínculo afetivo ou pelo regime jurídico.
Sobre o assunto, o Loureiro (2009, p. 1.126) discorre:

A igualdade entre os filhos contém dois significados, um formal e outro


material. A não discriminação ou igualdade em sentido formal, a menos
importante, seria a vedação ao uso de termos como legítimos, naturais,
bastardos. No que tange ao sentido material, a não discriminação
impede qualquer distinção ou diferença de regime jurídico que
consubstancie num desfavor ou numa desproteção que não seja objetiva
e razoavelmente fundada.
Com a vigência da Constituição Federal e com a promulgação da Lei 7.841, de 17
de outubro de 1989, revogando o artigo 358 do Código Civil trazendo consigo direito e
tratamentos iguais para aqueles filhos resultante de uma relação não matrimonial ou que
fossem filhos incestuosos e aqueles que fossem adotivos.

Concluindo, em relação ao casamento putativo, o Código Civil impôs que


os efeitos civis sempre prevalecerão diante de todos os filhos, independente da boa-fé dos
genitores, conforme enumera o artigo 1.5616 e seus parágrafos.

5
TJRS n. 2 176, p. 766- Apelação Cível nº 595118787, 8ª Câmara Cível, Des. Eliseu Gomes Torres.
6
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento,
em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos
aproveitarão.
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos
aproveitarão.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MONTEIRO, Washington; SILVA, Regina. Curso de Direito Civil: Direito de Família,


2012, p. 122

Revista,FMU Direito. São Paulo, ano 27, n. 39, p.87-100, 2013. ISSN: 2316-1515.

GONÇALVES, Carlos. Direito Civil brasileiro: Direito de Família, 2018, p.64

SAMPEL, Edson Luiz. Introdução ao Direito Canônico, editora Ltr, 2001, p. 15

CASTRO, Flávia lajes de. História do Direito Geral e do Brasil, 2016, 12ª, p. 132

GARCIA, Marco Túlio Murano. Revista dos Tribunais: Casamento Putativo. Apud
CAHALI, Yussef Said. op. cit., p. 15.

Coelho, Vicente de Faria. Nulidade e anulação do casamento. Rio de Janeiro: Freitas


Bastos, 1952. p. 337.

Silveira, Alípio. O casamento putativo no direito brasileiro, 1972, p. 7.

MONTEIRO, Washington; SILVA, Regina. Curso de Direito Civil: Direito de Família,


2012, p. 122

STF; Decisão Monocrática; Petição n° 29526; Relator Ministro Gilmar Ferreira Mendes;
Julgado em 01/08/2003.

BRAGANHOLO, Beatriz Helena. Algumas reflexões acerca da evolução, crise e

constitucionalidade do Direito de Família brasileiro. In: Revista Brasileira de Direito


de Família, Porto Alegre: Síntese e IBDFAM, v. 28, p. 71, fev./mar. 2005.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil, volume 2: Direito de


Família. 38ª Edição. Revista e Atualizada. São Paulo: Saraiva, 2007.

MADALENO, Rolf. Direito de Família, 2018, 8ª, p. 146.


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LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso completo de direito civil. 2ª Ed. São Paulo:
Método, 2009, p. 1.126.
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