Você está na página 1de 2

Ficha de Educação Literária 13

Nome N.o 10.o Data / /

Avaliação E. Educação Professor

Os Lusíadas, de Luís de Camões


Lê a cantiga Canto VII d’Os Lusíadas, de Luís de Camões. Caso seja necessário, consulta as notas.
78 81
Um ramo na mão tinha… Mas, ó cego, E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Eu, que cometo, insano e temerário, Que tamanhas misérias me cercassem,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego, Senão que aqueles que eu cantando andava
Por caminho tão árduo, longo e vário! Tal prémio de meus versos me tornassem:
Vosso favor invoco, que navego A troco dos descansos que esperava,
Por alto mar, com vento tão contrário Das capelas6 de louro que me honrassem,
Que, se não me ajudais, hei grande medo Trabalhos nunca usados me inventaram,
Que o meu fraco batel se alague cedo. Com que em tão duro estado me deitaram.

79 83
Olhai que há tanto tempo que, cantando Pois logo, em tantos males, é forçado
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos, Que só vosso favor me não faleça7,
A Fortuna me traz peregrinando, Principalmente aqui, que sou chegado
Novos trabalhos vendo e novos danos: Onde feitos diversos engrandeça:
Agora o mar, agora experimentando Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Os perigos Mavórcios1 inumanos, Que não no empregue em quem o não mereça,
Qual Cánace2, que à morte se condena, Nem por lisonja louve algum subido8,
Nua mão sempre a espada e noutra a pena; Sob pena de não ser agradecido.

80 84
Agora, com pobreza avorrecida, Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
Por hospícios alheios degradado3; A quem ao bem comum e do seu Rei
Agora, da esperança já adquirida, Antepuser seu próprio interesse,
De novo, mais que nunca, derribado; Imigo da divina e humana Lei.
Agora às costas escapando a vida4, Nenhum ambicioso que quisesse
Que dum fio pendia tão delgado Subir a grandes cargos, cantarei,
Que não menos milagre foi salvar-se Só por poder com torpes exercícios9
Que pera o Rei Judaico5 acrecentar-se. Usar mais largamente de seus vícios;

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 10.o ano 125


85 86
Nenhum que use de seu poder bastante Nem quem acha que é justo e que é direito
Para servir a seu desejo feio, Guardar-se a lei do Rei severamente,
E que, por comprazer ao vulgo errante10, E não acha que é justo e bom respeito
Se muda em mais figuras que Proteio11. Que se pague o suor da servil gente;
Nem, Camenas12, também cuideis que cante Nem quem sempre, com pouco experto14 peito,
Quem, com hábito13 honesto e grave, veio, Razões aprende, e cuida que é prudente,
Por contentar o Rei, no ofício novo, Para taxar15, com mão rapace16 e escassa,
A despir e roubar o próprio povo! Os trabalhos alheios que não passa.

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de A. J. Costa Pimpão, Lisboa, MNE-IC, 2003, pp. 319-321.

1
perigos Mavórcios: perigos de Marte (da guerra); 2 Cánace: filha de 16
capelas: coroas, grinaldas; 7 faleça: falte; 8 subido: figura
Éolo, que foi incentivada pelo pai a suicidar-se por ter cometido incesto importante; 9 torpes exercícios: atos vergonhosos;
10
(é descrita por Ovídio a escrever ao irmão com a pena numa mão e a vulgo errante: povo inconstante; 11 Proteio: Proteu, deus que
espada na outra); 3 por hospícios alheios degradado: exilado em terras tinha a capacidade de se metamorfosear; 12 Camenas: Musas;
estranhas; 4 às costas escapando a vida: salvando a vida nas costas 13
hábito: aspeto; 14 experto: experiente; 15 taxar: lançar um
(depois de naufragar); 5 Rei Judaico: referência a Ezequias, rei de Israel, imposto sobre; 16 rapace: que tem o hábito de roubar, ávida de
que, estando a morrer, viu Deus prolongar-lhe a vida por 15 anos; lucro.

1. Com base na estância 78, aponta o motivo pelo qual o poeta sente necessidade de pedir
inspiração às Ninfas do Tejo e do Mondego.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

2. Tendo em conta as estâncias 79 e 80, enuncia as contrariedades que o poeta teve de


enfrentar.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

3. Atenta na estância 81.


3.1 Aponta o fator que contribuiu para adensar o sofrimento do poeta.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

4. Considera os versos «Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado / Que não no empregue em quem
o não mereça» (estância 83, versos 5-6).
4.1 Identifica quem é que o poeta considera indigno de figurar na sua obra.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

126 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 10.o ano

Você também pode gostar