Moço Com o que me vós deixais
nam comerei eu galinhas. para comer, o que revela que o escudeiro não tem
Escudeiro Vai-te tu por essas vinhas
Que diabo queres mais?
Moço Olhai olhai como rima
e depois de ida a vendima?
Escudeiro Apanha esse rabisco.
Moço Pesar ora de sam Prisco
convidarei minha prima.
E o rabisco acabado
ir-m’-ei espojar às eiras.
Escudeiro Vai-te por essas figueiras
e farta-te desmazelado.
Moço Assi.
Escudeiro Pois que cuidavas?
E depois virão as favas.
Conheces túbaras da terra?
Moço I-vos vós embora à guerra
que eu vos guardarei as oitavas. (8)
Ido o Escudeiro, diz o Moço:
Senhora o que ele mandou
nam posso menos fazer.
Inês Pois que te dá de comer
faze o que te encomendou.
Moço Vós fartai-vos de lavrar
eu me vou desenfadar
com essas moças lá fora.
Vós perdoai-me senhora
porque vos hei de fechar.
Aqui fica Inês Pereira só fechada lavrando
e cantando esta cantiga:
Quem bem tem e mal escolhe
por mal que lhe venha nam s’anoje.
(1) O moço queixa-se ao Escudeiro que não terá nada
dinheiro para sequer alimentar o seu “escravo”. Isto
(1) também revela que o escudeiro não se importa com a
situação em que as outras pessoas estão (ignorante).
(2) (2) Significa: E quando acabar a comida, o que eu vou
fazer?
(3)
(3) Significa: Comerás a comida estragada e/ou os
restos de comida.
(4) Significa: Como eu tenho muita sorte, vai haver
(4) comida até para chamar as pessoas de fora (no caso a
prima) e que de tão cheio que vou vai ficar com essa
(5) comida até vou a descansar ao sol (nas eiras) - IRONIA
(6) (5) O Escudeiro diz ao Moço para ir à procura de
comida pela cidade (pelas figueiras) até ficar cheio.
(6) O moço fica “indignado” com tal resposta
(7) Significa: O que é que esperavas? Ainda à de vir a
(7)
época dos cogumelos e terás muito que comer. -
INTERROGAÇÃO RETÓRICA
(8) Significa: Vai lá para a guerra que eu guardo as
tuas Terras. - IRONIA
(9) (9) O Escudeiro vai embora e o Moço fala com Inês.
(10) O Moço diz que vai ter de prendê-la em casa pois
(10) ele tem de seguir as ordens do Escudeiro.
(11) Significa: Pois se é ele (O Escudeiro) que te
(11) mantém, então faz o que ele manda.
(12) O Moço diz a Inês para continuar a costurar
(lavrar) e que enquanto isso ele vai passear com as
moças da cidade, e sai.
(12)
(13) Inês fica sozinha em casa e começa a falar sozinha
(13) (monólogo - característica do texto dramático).
Este provérbio tem o mesmo significado do ditado
“Quem muito escolhe, pouco acerta”. Significa que
quem tem muita escolha e ainda assim faz escolhas
erradas, não se pode queixar dos resultados que terá.
 Falado: Renego da discrição
comendo ao demo o aviso
que sempre cuidei que nisso
estava a boa condição.
Cuidei que fossem cavaleiros
fidalgos e escudeiros
nam cheos de desvarios
e em suas casas macios
e na guerra lastimeiros.
Vede que cavalaria
vede já que mouros mata
quem sua molher maltrata
sem lhe dar paz um dia.
E sempre ouvi dizer
que homem que isto fizer
nunca mata drago em vale
nem mouro que chamem Ale
e assi deve de ser.
Juro em todo meu sentido
que se solteira me vejo
assi como eu desejo
que eu saiba escolher marido.
À boa fé sem mal engano
pacífico todo o ano
que ande a meu mandar.
Havia-me eu de vingar
deste mal e deste dano.
O ponto mais importante da violência doméstica é o combate e a prevenção onde podemos optar por
"contactar" a organização mundial de saúde e a ONU mulheres ou até falar com familiares ou amigos caso esteja
a sofrer violência doméstica onde eles podem fazer algo contra o agressor, como comunicar o caso à polícia.
(14) Significa: por tantos ideais que Inês tinha criado
ela pensava que iria ficar em boas mãos, mas foi
totalmente o contrário.
(14) (15) Inês pensava que os cavaleiros, os fidalgos e os
escudeiros eram boas pessoas em casa e só na guerra é
que se mostravam cruéis, mas fica desapontada ao
descobrir que eles também são cruéis em casa.
(15)
(16) Significa: Vejam que “cavalheiro” que até mata os
mouros sem piedade e que também maltrata a própria
mulher, não lhe dando paz pois sofre violência do
(16) marido. - IRONIA, ANÁFORA e ANTÍTESE.
(17) Os homens que praticam violência com as suas
esposas são covardes.
(17)
(18) Inês quer ficar solteira o mais rápido possível, e
se conseguir ela quer escolher um marido mais
decente.
(18) (19) Ela quer que o seu próximo marido seja um homem
gentil com ela, que não lhe bata e que lhe faça tudo o
que ela quiser, pois ela quer vingar-se por ter sido
enganada ao casar com este Escudeiro.
(19)