Você está na página 1de 3

Universidade de Brasília – Faculdade de Ciência da

Informação Brasília, 01.06.23


Disciplina: Fundamentos da Literatura Brasileira
Contemporânea
Docente: Maria Isabel Edom Pires
Giovana Chagas da Costa Matrícula: 222024882
Alex Neo Fernandes Alves Matrícula: 222018384

Interpretação

O conto As margens da alegria conta a estória das novas experiências de um


menino em uma viagem com sua família para uma cidade em construção. A história
também mostra como o menino lida com essas emoções que ele está sentindo, sempre de
uma forma muito imaginativa e fantasiosa.
“As margens da alegria” se encontra no livro de contos Primeiras Estórias, escrito
por Guimarães Rosa e publicado em 1962. Os capítulos do livro são protagonizados por
personagens tocados por alguma paixão, ou seja, tem-se uma preferência pelo irracional
ao invés do racional. Pode-se ver isso no próprio protagonista do conto citado, pois como
ele é uma criança, ele não pensa de forma prática. Além disso, ao lidar com frustações,
considerado também como ele não está acostumado com isso, os seres humanos, mesmo
sendo adultos, tendem a lidar de forma irracional. Mas é com a idade que se aprende a
controlar essas emoções, pois a vida é repleta de momentos assim. Considerando isso,
pode-se observar também que o conto retrata esse menino se adaptando a sociedade e a
forma como ele está aprendendo a enfrentar a vida.

A estória em partes

O conto é dividido em 5 partes, sendo o primeiro aquele que retrata a viagem de


avião do menino, mostrando como essa nova experiência do menino é proporcionada a
ele de uma forma protetora e agradável, onde ele se sente protegido nesse "amável
mundo". Além disso, deve-se notar como o menino estava agitado e empolgado,
observando tudo e pensando em cada coisinha que aparecesse.
Logo em seguida, na segunda parte, onde ele já chegou ao seu destino, é
apresentado um animal, o Peru, que o encanta e o faz entrar em uma fantasia. Quando ele
o descreve, é como se fosse o animal mais resplandecente e maravilhoso que ele já teria
visto. Momentos após isso, vem a terceira parte em que o menino enfrenta a morte do
Peru e aquilo é para ele como a destruição de seu mundo amável e doce, e isso é bem
explicitado em “Tudo perdia a eternidade e a certeza; num lufo, num átimo, da gente as
mais belas coisas se roubavam", onde ele é frustrado e sofre uma perda.
No quarto momento do livro a cidade em construção é apresentada, e esse menino
se vê em um estado de desânimo e tristeza, no qual não sente nem mais desejo de ser
imaginativo, de fazer mil perguntas, sem mais sua empolgação de antes. E quando ele vê
toda a bagunça das construções, ele a considera como algo medonho e até melancólico, o
mundo (e aqui há uma comparação entre o mundo moderno e o mundo novo que ele está
descobrindo) pode ser assustador e cruel também. Ele passa a ter medo de tudo aquilo,
não mais vendo o mundo como amável. E isso pode ser visto em: "[...]descobria o possível
de outras adversidades, no mundo maquinal, no hostil espaço; e que entre o
contentamento e a desilusão, na balança infidelíssima, quase nada medeia."
O início da quinta parte é uma continuação dessa sofrimento do menino, mas
também mostra sua confusão de pensamentos. Quando outro Peru aparece, não há como
substituir o que já se foi e de novo o menino se vê numa situação de frustração onde nada
poderia consolá-lo. Porém quando no último momento ele vê os vaga-lumes, há uma
esperança de que o mundo não seja feito somente de tristezas e frustrações e que também
há de ter alegria. Nesse momento, também percebe-se como a imaginação e a exaltação
dele vai a mil, o mundo pode ser fantasioso novamente.

Sobre o autor

João Guimarães Rosa, renomado escritor brasileiro, médico, diplomata, filho, pai
e avô, pode se considerar um dos grandes nomes, se não o mais importante, da literatura
brasileira. Muito se fala sobre ele, não faltam sites, estudos, livros (...) que contem sobre
sua história, seu estilo de literatura e suas obras. Acredito que minhas palavras serão só
mais algumas no meio de tantas outras mais preparadas, portanto, creio eu que, dessa vez,
deva apresentá-lo a partir do conto As margens da alegria.
Guimarães Rosa, como Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade,
“brinca” com os acontecimentos mais banais, com momentos do cotidiano, e extrai sua
beleza melancólica oculta. O conto é um ótimo exemplo disso, já que trata um tema tão
ordinário e mínimo, como o ato de fazer uma viagem, de ver um peru, de ver um
vagalume, com tamanho sentimentalismo que ainda consegue provocar reflexão até hoje.
Arrisco dizer que em As margens da alegria, somos apresentados a um lado mais
otimista de Guimarães Rosa. Citando-o: “Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E
para estas duas vidas, um léxico só não é o suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser
um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os
grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito
vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos
homens.”. Reiterando a afirmação sobre Guimarães retratar situações banais com muita
beleza e complexidade, e relacionando-a com a citação e o conto, me parece uma ideia
muito semelhante à da raposa de O pequeno príncipe, quando ela profere que “O essencial
é invisível aos olhos.”. Guimarães não “transforma” momentos/gestos banais em algo
bonito. Ele apenas traz sua complexidade para a superfície. Ele era, acima de tudo,
apaixonado pela beleza e complexidade da essência e espírito dos seres humanos.

REFERÊNCIAS

ROSA, Guimarães. As margens da alegria. In: Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006.
As margens da alegria (Conto de primeiras estórias), de Guimarães Rosa. PASSEIWEB,
2015. Disponível em: https://www.passeiweb.com/as_margens_da_alegria_conto/.
Acesso em: 29 de maio de 2023
João Guimarães Rosa – Academia Brasileira de Letras. Disponível em: <
https://www.academia.org.br/academicos/joao-guimaraes-rosa/biografia > Acesso em 28
de maio de 2023.

Você também pode gostar