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“No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para

esperar o navio em que chegava o bispo”.

Qual a nossa responsabilidade com a informação? O que você faria se ouvisse


que alguém pode ser assassinado? Você acreditaria ou ignoraria? Você impediria
ou não iria se envolver? Quanto de sangue temos nas mãos quando optamos por
não nos posicionar? Qual é o nosso papel na mudança do destino?

Lançado em 1981 pelo mestre Gabriel Garcia Márquez, Crônica de uma morte
anunciada narra os acontecimentos que levaram ao assassinato de Santiago
Nasar. E, assim, anunciando o final da história nas primeiras linhas, Gabo conta
como uma tragédia se abateu sobre uma pequena cidade litorânea colombiana e
sobre como seus habitantes, que ouviram várias vezes o anúncio do crime e
praticamente nada fizeram para impedi-lo, fazendo florescer uma culpa
compartilhada entre todos.

Fortemente baseado em uma experiência pessoal, o livro é narrado em primeira


pessoa por alguém que acompanhou de perto os acontecimentos que levariam ao
crime. Estruturado em uma narrativa quase jornalística, o narrador “solta”
informações relevantes para o entendimento do contexto ao longo da obra, dando
a falsa ideia de que nós, leitores, já deveríamos conhecer aquelas informações.

Gabo foi jornalista e se inspirou em um crime acontecido na década de 50 em


Sucre, região onde morou por anos, para criar esse livro tão espetacular. Mesmo
em uma trama jornalística, que navega pelo suspense com facilidade, ele coloca
sua poesia em cada linha, como se tomássemos doses necessárias para sentir a
história em nossa própria pele, em nosso próprio sangue.

Consagrado por seu realismo mágico, é no realismo cru da descrição de lugares e


cheiros que Gabo mostra, em Crônica de uma morte anunciada, todo seu talento
para criar universos quase palpáveis, trazendo, aos nossos sentidos, de cheiros
de sangue à dores (físicas e emocionais). Impossível de largar, é na morte de
Santiago e na inação de tantos, que vemos como o destino pode se mostrar e
dizer, em alto e bom som: Estou aqui, me vejam, me sintam, me toquem e
acreditem em mim.

site: https://www.instagram.com/p/CJ61Ig8jkNA/

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