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Nome: Diego Santos Nogueira

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A dor em forma de letra


Análise crítica do Livro Cachorro Velho da escritora Teresa Cárdenas

CÁRDENAS, Teresa. Cachorro velho. Trad. Joana Angélica d'Avila Melo. São
Paulo: Pallas, 2010.

O Premiado livro cachorro velho (Prêmio Casa das Américas de 2005 , Prêmio
Nacional da Crítica Literária) da ecritora Teresa Cárdenas retrata de forma dolorosa a
realidade do que é ser escravo.

O livro conta a história de “Cachorro Velho” um escravo e já podemos observar a perda


de sua identidade numa violência sutil vinda do homem branco a ponto de querer
invalidar sua existência como ser humano. Ele já do alto dos seus setenta anos observa
sua vida de forma silenciosa a tudo o que já viveu e o livro se torna um grande retrato
de memórias e de como é sua sobrevivência a toda opressão diária.

O livro não se atém apenas a mostrar a violência física e privações a liberdade do corpo,
mas também a mente em toda uma sociedade que não os considera como iguais mas sim
como algo inferior. A leitura traz consigo um tremendo peso emocional ao leitor, onde
não importa quem você seja, a sensação é a de que trocamos de lugar com o
personagem onde cada palavra é sentida quase que como na própria pele, eu digo quase
porque jamais podemos mensurar o sofrimento de outro, seja aquele que sofre po causa
de sua cor ou que vive em condições humilhantes e sub humanas, sofrimento seja ele
qualquer que seja, é inimaginável.

O personagem não tem nada de heróico do que normalmente se vê nas grandes histórias
famosas pelo mundo, mas sim ele é bem humano, e essa característica se dá pelo estilo
da escritora em outras obras suas, como “Cartas Para minha mãe”. Toda essa
proximidade com a humidade com a qual o personagem é descrito e se comunica tem
como intenção nos aproximar e criar empatia com a história arrebantando de vez o
leitor.
A história se passa particularmente no engenho de açúcar onde vive o Cachorro velho é
possível a todo momento fazer um paralelo com a história do Brasil dos escravos e das
condições que eles viviam e de como que a sociedade era estruturada para esse tipo de
realidade nesse momento é muito similar se estuda na escravidão do Brasil que também
tinham seus engenhos de açúcar e as fazendas de café voltando a outro ponto
interessante, o protagonista ele já é um escravos para lá de setenta anos o que era algo
muito incomum de acontecer já que escravos tinham uma expectativa de vida muito
baixa devido às condições em que viviam. Sua função na fazenda é ser porteiro, e ele
passa muito dos seus dias só sentado ali na porta a disposição de vem e vai embora, sem
nem ao menos fitá-los no rosto, algo terminantemente proibido na época, até mesmo
erguer sua cabeça para encarar um senhor do engenho ou o homem branco propriamente
dito era tido como um desrespeito, acabava que todos para o escravo eram iguais, não
haviam homens brancos mais ou menos poderosos, haviam os senhores e todos eram o
mesmo independente de quanto poder detinham, era maior do que o nada que os
escravos tinham em suas mãos entregues a mercê de seus senhores.

O protagonista diversas vezes tem dificuldade em nos mostrar um olhar fora daquela
realidade que vive, onde o mesmo já se considera escravo desde que estava na barriga
de sua mãe. A autora não economiza no uso de linguagens características da época e de
seu país de origem, durante a leitura volta e meia me vi tendo que pesquisar o
significado de diversas palavras que eu não entendia o significado, seja por ser gírias da
época da escravatura ou apenas por ser de um país diferente como “bocabajo” que é
uma espécie de castigo com açoite de chicotes. O livro é um mar de lembranças e toda
narrativa praticamente gira em torno dessas memórias do que Cachorro velho já
vivenciou,situações onde ele faz uma reflexão rica sobre a sua vida sobre a sua condição
dada pela escravidão ele traz reflexões sobre os preconceitos sobre os sofrimentos e
sobre o conflito de classes sociais, sobretudo o que chama mais atenção são as
reflexões sobre a religião, aqui ela é apresentada em diversos pontos de vista, da pra
dizer que nós vemos a religião como a figura de autoridade, religião como algo que
causa medo a religião que conforta e que dá esperança, a religião como superstição e até
como ignorância. Outro ponto onde o livro é riquíssimo é o Cachorro velho nas suas
reflexões sobre a sua vida, ele não segue uma a cronologia e não é linear começando do
passado e ainda até os dias atuais da sua velhice, mas não, o livro ele tem idas e voltas e
nem sempre segue a ordem cronológica, o Cachorro velho, espírito livre na questão da
reflexão, onde às vezes está muito lá no passado, logo já está pensando no presente em
vida como um todo, e depois ele volta para infância, e mais uma vez vai ele denovo para
o tempo dele de velhice, e aí as reflexões vão se alternando temporalmente o que é
interessante. Podemos perceber que o personagem acha que ele não tem coração, ele
julga que no peito dele tem só uma pedra, mas que conforme a narrativa vai-se
desenvolvendo, nós vamos percebendo que sim Cachorro velho tem um coração, e ele é
capaz de amar apesar dele não perceber a sua capacidade e se julgar uma pessoa fria por
conta do sofrimento que passou e passa. isso também vem muito do pensar muitas vezes
de pessoas contidas, muito introspectivas e achamos que elas são frias, que elas não têm
sentimentos e etc, mas os aparentemente frios também trazem dentro da sua
interioridade um turbilhão de emoções e é isso que o cachorro velho é, ao mesmo tempo
que ele é suave ele é intenso nas suas reflexões e nas suas ideias, ele consegue explicar
de uma maneira muito poética o que ele está sentindo, isso vai muito do estido da autora
numa narrativa em terceira pessoa que, algumas vezes faz você mergulhar na
personalidade intensa dos sentimentos de Cachorro velho. Outro ponto bem interessante
é a riqueza de detalhes da autora para descrever cenários e até mesmo sentimento,
qualquer trecho que seja lido até mesmo que de forma solta do livro tem um poder de
imersão tremendo e agarra o leitor de uma maneira que poucos livros que conheci até
hoje o fazem , nos mergulhamos na interioridade dele, e compartilhamos das suas
percepções e das suas sensações,quando descreve um café, é possível sentir aquele
cheiro saboroso e aconchegante de café, quando a autora descreve uma árvore, parece
que estamos tocando aquela árvore,sentindo a textura, não existem palavras para
descrever o talento da narradora.

A obra tem momentos de até mesmo de romance e admiração, tem um “plot” bem
sólido que acontece na sua interação com a personagem Brie e tudo que se desenvolve a
partir dela também culminam num final poderoso e emocionante, emocionar é a palavra
que define uma leitura tão agradável que é a de Cachorro Velho, livro atemporal e que
nos mostra o quão criminoso o racismo pode ser seja ele apoiado em leis antigas ou até
mesmo velado hoje em nossa sociedade, é importante refletir sempre pois infelizmente
lidamos com isso todos os dias. Mesmo que seja um livro infanto juvenil, Cachorro
Velho nos traz uma leitura madura, emocionante e reflexiva e vale a pena a leitura para
qualquer que seja a idade.

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