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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

CORREÇÃO DE PROVA

UEMA
2023
Exasiu
Obras Literárias
Exasi
u
Profa. Luana Signorelli

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 1


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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3

1. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 3

1.1. GABARITO 9

2. QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 9

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 19

Professora Luana Signorelli

Professora Luana @profa.luana.signorelli


/luana.signorelli
Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

INTRODUÇÃO

Olá, alunos.
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e
Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e
Doutoranda em Teoria e História Literária pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), já qualificada. Tenho 12
anos de experiência com revisão e padronização textual e 11
anos em curso pré-vestibular, tendo passado por instituições
conhecidas e renomadas.
Lembrem-se sempre de nosso lema:

“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.

Hoje vamos corrigir a prova da UEMA 2023 – Obras Literárias. Foram 10 questões da
minha parte.

2. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

01. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Clarice Lispector nasceu em uma aldeia
na Ucrânia (antiga União Soviética). Ao chegar ao Brasil, desembarcou em Manaus,
quando tinha dois meses de idade, depois se mudou para Recife. Viveu fora do Brasil,
fez leituras de grandes brasileiros e de estrangeiros, trazendo inovações, produzindo
um estilo que a tornou uma das grandes escritores de Língua Portuguesa.

Leia um fragmento de um dos capítulos de seu primeiro livro.

ALEGRIAS DE JOANA
A LIBERDADE QUE ÀS VEZES sentia não vinha de reflexões nítidas, mas de um
Estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em
pensamentos. Às vezes no fundo da sensação tremulava uma ideia que lhe dava leve
consciência de sua espécie e de sua cor.
O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade. O próprio
pensamento adquiria uma qualidade de eternidade. Aprofundava-se magicamente e
alargava-se, sem propriamente um conteúdo e uma forma, mas sem dimensões
também. A impressão de que se conseguisse manter-se na sensação por mais uns
instantes teria uma revelação — facilmente, como enxergar o resto do mundo apenas
inclinando-se da terra para o espaço. Eternidade não era só o tempo, mas algo como
a certeza enraizada-mente profunda de não poder contê-lo no corpo por causa da
morte; a impossibilidade de ultrapassar a eternidade era eternidade; e também era
eterno um sentimento em pureza absoluta, quase abstrato. Sobretudo dava ideia de
eternidade a impossibilidade de saber quantos seres humanos se sucederiam após
seu corpo, que um dia estaria distante do presente com a velocidade de um bólido.

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Definia eternidade e as explicações nasciam fatais como as pancadas do coração.


Delas não mudaria um termo sequer, de tal modo eram sua verdade. Porém mal
brotavam, tornavam-se vazias logicamente. Definir a eternidade como uma quantidade
maior que o tempo e maior mesmo do que o tempo que a mente humana pode suportar
em ideia também não permitiria, ainda assim, alcançar sua duração. Sua qualidade era
exatamente não ter quantidade, não ser mensurável e divisível porque tudo o que se
podia medir e dividir tinha um princípio e um fim. Eternidade não era a quantidade
infinitamente grande que se desgastava, mas eternidade era a sucessão.
LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.

Em Alegrias de Joana, deve-se compreender que o narrador inicia o texto e o


desenvolve, em estilo, no qual predomina a forma
a) linear, privilegiando fatos e transformando-os em relatos objetivos.
b) coloquial da linguagem para expressar com clareza a estrutura episódica ao leitor.
c) distanciada do relato, para que a personagem se manifeste, ela mesma, conforme as
marcas verbais em primeira pessoa.
d) estética autônoma, seguindo o ritmo da memória da personagem e do mundo concebido
por ela.
e) superficial da concretude pessoal da personagem, retendo a essência dos fatos para
alcançar um pacto de leitura.

02. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) As três palavras ou expressões que


permitem que o leitor reconheça as alegrias de Joana, conforme o fragmento, são as
seguintes:
a) eternidade, liberdade, magicamente.
b) orgânicas, terra, morte.
c) tremulava, às vezes, impossibilidade.
d) pensamento, impossibilidade, vazias.
e) desgastava, corpo, bólida.

03. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) O trecho a seguir, retirado de Alegrias


de Joana, serve de base para responder à questão 03.

“Definia eternidade e as explicações nasciam fatais: como as pancadas do coração.


Dela não mudaria um termo sequer, de tal modo eram sua verdade. Porém, mal
brotavam, tornavam-se vazias logicamente.”

Os efeitos semântico-discursivos conseguidos pelo narrador revela quem Joana deixa


transparecer a sensação de:
a) desinteresse pela eternidade, pois não a questionava, já que as alegrias eram mínimas.
b) impossibilidade para definir a eternidade, pois lhe era inatingível, ainda que suas alegrias
fossem momentos eternos.

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c) mergulho no inconsciente, pois a eternidade perdia importância ou qualidade diante das


situações vividas.
d) fragilidade contínua, pois a eternidade, por ser estática, não traz princípios ou raízes.
e) intolerância, pois trazia o reconhecimento de que a eternidade é um tempo frio e abstrato,
ao anular a perpetuação das coisas.

04. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Analise os seguintes trechos para


responder à questão 04.

“O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade.” / “Aprofundava-se


magicamente e alargava-se, sem propriamente um conteúdo e uma forma, mas sem
dimensões também.”

Os trechos podem exemplificar a afirmação de críticos consagrados sobre uma das


surpreendentes marcas estilísticas de Clarice Lispector. Essa característica se traduz
como
a) escrita de experimentação.
b) contaminação lírica.
c) narração hermética.
d) canto elegíaco.
e) temática cômica.

05. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) A adjetivação no título da obra de


Lispector, “Perto do Coração Selvagem”, apresenta carga semântica que
a) a concepção de uma mulher indomável, diversa e complexa, com aspectos morais bem
definidos, sem se importar com os questionamentos sociais, embora esteja sempre se
questionando, a personagem mãe.
b) a atitude de engajamento e de protecionismo, de forma incisiva e questionadora, atento
às questões existenciais da filha, revelando-se diferente do espectro masculino da época: o
personagem pai.
c) a ação de descentralização e fóbica, com traços de sentimentos de raiva e de outros
sentimentos negativos, que se revela anticristã nas relações extrafamiliares: o personagem
Otávio.
d) a sensação de medo de sermos vítimas da maldade de outros, marcada, ao mesmo tempo
pela sedução por ações más que causam um suspense e deixam em constante expectativa:
a personagem Lídia.
e) a acepção de um indivíduo mediado por atitudes de rudeza, um tipo rústico, que não aceita
ser doutrinado e inserido em uma moral, pelo menos não sem antes questioná-la: a
protagonista Joana.

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06. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Nas palavras da autora Marina


Colasanti, “Uma ideia toda Azul” é um livro de contos de fadas. Antes que o estudante
do Ensino Médio se espante com a temática, “num mundo de avançada tecnologia
espacial”, a autora julga importante esclarecer que seu interesse e sua busca se
voltam para aquela coisa intemporal chamada inconsciente.

O Último Rei
Todos os dias Kublai-Khan, último rei da dinastia Mogul, subia noalto da muralha
da sua fortaleza para encontrar-se com o vento. O vento vinha de longe e tinha o
mundo todo para contar.
Kublai-Khan nunca tinha saído da sua fortaleza, não conhecia o mundo. Ouvia as
palavras do vento e aprendia.
– A Terra é redonda e fácil, disse o vento. Ando sempre em frente, e passo pelo lugar
de onde saí. Dei tantas voltas na Terra, que ela está enovelada no meu sopro.
Kublai-Khan achou bonito ir e voltar sem nunca se perder.
Um dia o vento chegou mais frio, vindo das montanhas.
– Fui pentear a neve, gelou o vento ao pé do ouvido do rei. A neve é pesada e macia.
Debaixo do seu silêncio as sementes se aprontam para a primavera. Só flores brancas
furam a neve. Só passos brancos marcam a neve. Na neve mora o Rei do Sono.
Kublai-Khan teve desejo de neve. Então prendeu fios de prata na Lua e a empinou
contra o vento. Do alto, espelho do frio, a Lua trouxe a neve para Kublai-Khan. E um
sono tranquilo.
Todos os dias o vento contava seus caminhos no alto da muralha.
Todos os dias os longos cabelos do rei deitavam-se no vento e recolhiam seus sons,
como uma harpa. [...]
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.

O rei Kublai-Khan, diariamente, no alto da muralha da sua fortaleza, encontrava-se com


o vento.

Essa cena, metaforicamente, ilustra o poder de sua alteza.

O trecho em análise, contudo, permite ao leitor afirmar que, apesar desse poder, o
soberano revela-se suplantado pelo vento. Na trama narrativa, o vento vivencia um
a) inigualável conhecimento sobre as coisas.
b) espantoso retorno a lugares já visitados.
c) incondicional exercício de liberdade.
d) particular domínio sobre o planeta terra.
e) elevado saber sobre a vida hibernal.

09. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) O conto a seguir serve de base para
responder à próxima questão.

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Entre as folhas do Verde O


O príncipe acordou contente. Era dia de caça. Os cachorros latiam no pátio do
castelo. Vestiu o colete de couro, calçou as boas. Os cavalos batiam os cascos
debaixo da janela. Apanhou as luvas e desceu.
Lá embaixo parecia uma festa. Os arreios e os pelos dos animais brilhavam ao Sol.
Brilhavam os dentes abertos em risadas, as armas, as trompas que deram o sinal de
partida.
Na floresta também ouviram a trompa e o alarido. Todos souberam que eles vinham.
E cada um se escondeu como o pode.
Só a moça não se escondeu. Acordou com o som da tropa, e estava debruçada no
regato quando os caçadores chegaram.
Foi assim que o príncipe a viu. Metade mulher, metade corça, bebendo no regato. A
mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher queria amar, a corça ele queria matar. Se
chegasse perto será que ela fugiria? Mexeu num galho, ela levantou a cabeça ouvindo.
Então o príncipe botou a flecha no arco, retesou a corda, atirou bem na pata direita. E
quando a corça-mulher dobrou os joelhos tentando arrancar a flecha, ele correu e a
segurou, chamando homens e cães.
Levaram a corça para ao castelo. Veio o médico, trataram do ferimento. Puseram a
corça num quarto de porta trancada. Todos os dias o príncipe ia visitá-la. Só ele tinha
a chave. E cada vez se apaixonava mais. Mas a corça-mulher só falava a língua da
floresta e o príncipe só sabia ouvir a língua do palácio. Então, ficavam horas se
olhando calados, com tanta coisa para dizer.
Ele queria dizer que a amava tanto, que queria casar com ela e tê-la para sempre no
castelo, que a cobriria de roupas e joias, que chamaria o melhor feiticeiro do reino para
fazê-la virar mulher.
Ela queria dizer que o amava tanto, que queria se casar com ele e levá-lo para a
floresta, que lhe ensinaria a gostar dos pássaros e das flores e que pediria à Rainha
das Corças para dar-lhe quatro patas ágeis e um belo pelo castanho.
Mas o príncipe tinha a chave da porta. E ela não tinha o segredo da palavra.
Todos os dias se encontravam. Agora se seguravam as mãos. E no dia em que a
primeira lágrima rolou nos olhos dela, o príncipe pensou ter entendido e mandou
chamar o feiticeiro.
Quando a corça acordou, já não era mais corça. Duas pernas só, e compridas, um
corpo branco. Tentou levantar, não conseguiu. O príncipe lhe deu a mão. Vieram as
costureiras e a cobriram de roupas. Vieram os joalheiros e a cobriram de joias. Vieram
os mestres de dança para ensinar-lhe a andar. Só não tinha a palavra. E o desejo de
ser mulher.
Sete dias ela levou para aprender sete passos. E na manhã do oitavo dia, quando
acordou e viu a porta aberta, juntou sete passos e mais sete, atravessou o corredor,
desceu a escada, cruzou o pátio e correu para a floresta à procura de sua Rainha.
O Sol ainda brilhava quando a corça saiu da floresta, só corça, não mais mulher. E
se pôs a pastar sob as janelas do palácio.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.

Esse conto nos ajuda a explicar a polaridade entre os gêneros que apontam
dicotomias biológicas e psicológicas, ilustrando as diferenças entre macho-fêmea,
homem-mulher, visto na vida cotidiana como bem-mal, certo-errado, temática central
dos contos de fadas.

Pode-se depreender, mais de que mera dicotomia, o tema central do conto revela

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a) a hierarquização que se faz em torno de um indivíduo privilegiado, ou seja, o homem é


positivo, o que torna a mulher negativa, oprimida, excluída.
b) o arranjo entre o desejo de ser e a necessidade de ter, ou seja, privilegiando sentimentos,
o que a torna a mulher submissa ao que é desejado pelo seu amor.
c) a alternativa possível de diferentes conhecimentos de mundo, ou seja, privilegiando
sentimentos, o que torna o homem um predestinado e a mulher dependente.
d) o reconhecimento catártico em que a mulher tem um procedimento estético, de fazer, ou
seja, de querer, enquanto o homem apresenta a visão da realização.
e) a transformação de todos os cidadãos, parecidos uns com os outros, ou seja, irradiando
uma força centralizadora e uniformizante.

10. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Leia o fragmento para responder à


questão 10.

“Um dia, indo o rei de manhã cedo visitar a filha em seus aposentos, viu o unicórnio
na moita de lírios. Quero esse animal para mim. E imediatamente ordenou a caçada.”
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.

Em relação às características do rei recorrendo-se às leis da natureza que se


conhecem, de imediato, é sugerida ideia de
a) curiosidade metafísica.
b) aventura e prazer.
c) descoberta inédita.
d) afeição e emotividade.
e) poder e autossuficiência.

12. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Leia o final do conto “Um Espinho de
Marfim”.

“E nesse último dia aproximou a cabeça do seu peito, com suave força, com força de
amor empurrando, cravando o espinho de marfim no coração, enfim florido. Quando o
rei veio em cobrança da promessa, foi isso que o sol morrente lhe entregou, a rosa de
sangue e um feixe de lírios.”

O leitor pode fazer uma interpretação simbólica do dilema vivido pela princesa que
decide por
a) autodestruição por incapacidade do ser.
b) consenso social concreto.
c) vingança abstrata do mundo.
d) ruptura com o sistema instituído.
e) renúncia à fragilidade do amor.

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15. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) “Cazuza” é considerado pela crítica um


romance memorialista, confessional. O fragmento do texto que possibilita enquadrá-
lo nesse tipo de romance é:
a) “Contei o que tinha ouvido em casa: a conversa de meu pai resolvendo a viagem, a
conversa de minha mãe sobre o enxoval que me ia fazer. Quando acabei de falar, estavam
todos comovidos.”
b) “Para o povo roceiro da beira dos rios, o "gaiola" não era bem uma máquina: era um ser
extraordinário e maravilhoso, que pensava e agia como se tivesse vida própria.”
c) “Sobre rumas de cana, melancias, espigas de milho ou sacos de feijão, vinham dezenas
de meninos gritando festivamente.”
d) “Quanto rapazinho não achou insuportável a casa paterna e quanto não deixou a palhoça
dos pais para ser desgraçado na cidade!”
e) “Os vaga-lumes caíam das copas verdes, aos milhares, aos milhões, numa chuva de luz.
Parecia que o céu esfarinhava estrelas sobre a terra.”

2.1. GABARITO

01) D 02) A 03) B

04) B 05) E 06) C

09) A 10) E 12) D

15) A

3. QUESTÕES COM COMENTÁRIOS

01. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Clarice Lispector nasceu em uma aldeia
na Ucrânia (antiga União Soviética). Ao chegar ao Brasil, desembarcou em Manaus,
quando tinha dois meses de idade, depois se mudou para Recife. Viveu fora do Brasil,

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fez leituras de grandes brasileiros e de estrangeiros, trazendo inovações, produzindo


um estilo que a tornou uma das grandes escritores de Língua Portuguesa.

Leia um fragmento de um dos capítulos de seu primeiro livro.

ALEGRIAS DE JOANA
A LIBERDADE QUE ÀS VEZES sentia não vinha de reflexões nítidas, mas de um
Estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em
pensamentos. Às vezes no fundo da sensação tremulava uma ideia que lhe dava leve
consciência de sua espécie e de sua cor.
O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade. O próprio
pensamento adquiria uma qualidade de eternidade. Aprofundava-se magicamente e
alargava-se, sem propriamente um conteúdo e uma forma, mas sem dimensões
também. A impressão de que se conseguisse manter-se na sensação por mais uns
instantes teria uma revelação — facilmente, como enxergar o resto do mundo apenas
inclinando-se da terra para o espaço. Eternidade não era só o tempo, mas algo como
a certeza enraizada-mente profunda de não poder contê-lo no corpo por causa da
morte; a impossibilidade de ultrapassar a eternidade era eternidade; e também era
eterno um sentimento em pureza absoluta, quase abstrato. Sobretudo dava ideia de
eternidade a impossibilidade de saber quantos seres humanos se sucederiam após
seu corpo, que um dia estaria distante do presente com a velocidade de um bólido.
Definia eternidade e as explicações nasciam fatais como as pancadas do coração.
Delas não mudaria um termo sequer, de tal modo eram sua verdade. Porém mal
brotavam, tornavam-se vazias logicamente. Definir a eternidade como uma quantidade
maior que o tempo e maior mesmo do que o tempo que a mente humana pode suportar
em ideia também não permitiria, ainda assim, alcançar sua duração. Sua qualidade era
exatamente não ter quantidade, não ser mensurável e divisível porque tudo o que se
podia medir e dividir tinha um princípio e um fim. Eternidade não era a quantidade
infinitamente grande que se desgastava, mas eternidade era a sucessão.
LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.

Em Alegrias de Joana, deve-se compreender que o narrador inicia o texto e o


desenvolve, em estilo, no qual predomina a forma
a) linear, privilegiando fatos e transformando-os em relatos objetivos.
b) coloquial da linguagem para expressar com clareza a estrutura episódica ao leitor.
c) distanciada do relato, para que a personagem se manifeste, ela mesma, conforme as
marcas verbais em primeira pessoa.
d) estética autônoma, seguindo o ritmo da memória da personagem e do mundo concebido
por ela.
e) superficial da concretude pessoal da personagem, retendo a essência dos fatos para
alcançar um pacto de leitura.

Comentários:
Questão de verificação de leitura.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: essa obra não tem compromisso com a linearidade,
sendo cheia de digressões.
Alternativa B: incorreta. A linguagem não é necessariamente coloquial, pois se trata do
discurso do narrador.

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Alternativa C: incorreta. Nesse trecho em particular, Joana não se manifesta. Consiste no


ponto de vista do narrador.
Alternativa D: correta – gabarito. O narrador começa a expor questões importantes para
Joana e a linguagem automaticamente assume as suas próprias reflexões, pautadas em seus
pensamentos.
Alternativa E: incorreta. O trecho evidencia a profundidade das temáticas e não a sua
superficialidade.
Gabarito: D.

02. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) As três palavras ou expressões que


permitem que o leitor reconheça as alegrias de Joana, conforme o fragmento, são as
seguintes:
a) eternidade, liberdade, magicamente.
b) orgânicas, terra, morte.
c) tremulava, às vezes, impossibilidade.
d) pensamento, impossibilidade, vazias.
e) desgastava, corpo, bólida.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário; semântica e Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: correta – gabarito. Joana é uma mulher hipersensível que percebe o
universo e se espanta com ele. Seu maravilhamento se liga ao advérbio de modo “magicamente”.
Já os substantivos abstratos “eternidade” e “liberdade” guiam seu modo de vida.
Alternativa B: incorreta. Morte não é uma alegria para Joana, que sofreu o luto após o
falecimento do pai.
Alternativa C: incorreta. A expressão “às vezes” é repetida, mas se remete às incertezas
do texto e não às alegrias.
Alternativa D: incorreta. O pensamento para Joana se liga à música, o que pode ser uma
de suas alegrias. Mas não “impossibilidade” nem “vazias”, que são palavras com teor semântico
negativo.
Alternativa E: incorreta. O desgaste não é uma alegria.
Gabarito: A.

03. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) O trecho a seguir, retirado de Alegrias


de Joana, serve de base para responder à questão 03.

“Definia eternidade e as explicações nasciam fatais: como as pancadas do coração.


Dela não mudaria um termo sequer, de tal modo eram sua verdade. Porém, mal
brotavam, tornavam-se vazias logicamente.”

Os efeitos semântico-discursivos conseguidos pelo narrador revela quem Joana deixa


transparecer a sensação de:
a) desinteresse pela eternidade, pois não a questionava, já que as alegrias eram mínimas.

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b) impossibilidade para definir a eternidade, pois lhe era inatingível, ainda que suas alegrias
fossem momentos eternos.
c) mergulho no inconsciente, pois a eternidade perdia importância ou qualidade diante das
situações vividas.
d) fragilidade contínua, pois a eternidade, por ser estática, não traz princípios ou raízes.
e) intolerância, pois trazia o reconhecimento de que a eternidade é um tempo frio e abstrato,
ao anular a perpetuação das coisas.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: incorreta. Joana não se desinteressa pela eternidade.
Alternativa B: correta – gabarito. Apesar de ser sua verdade, para Joana a eternidade é
volátil, bem como sua felicidade igualmente volúvel. No texto, são usadas expressões como
“velocidade” e a eternidade como “sucessão”.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: apesar de na obra como um todo haver vários
mergulhos no inconsciente, a eternidade não perde a importância para Joana. Pelo contrário: é
sua verdade.
Alternativa D: incorreta. Não é fragilidade tampouco estática.
Alternativa E: incorreta. Não é intolerância.
Gabarito: B.

04. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Analise os seguintes trechos para


responder à questão 04.

“O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade.” / “Aprofundava-se


magicamente e alargava-se, sem propriamente um conteúdo e uma forma, mas sem
dimensões também.”

Os trechos podem exemplificar a afirmação de críticos consagrados sobre uma das


surpreendentes marcas estilísticas de Clarice Lispector. Essa característica se traduz
como
a) escrita de experimentação.
b) contaminação lírica.
c) narração hermética.
d) canto elegíaco.
e) temática cômica.

Comentários:
Questão de crítica literária/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Cuidado para o duplo sentido da palavra “experimentação”.
Clarice Lispector é uma escritora modernista conhecida pelo uso da técnica do fluxo de
consciência, que já estava sendo usada na Europa desde o fim do século XIX. Segundo a crítica
literária, o primeiro a utilizá-lo foi o escritor francês Édouard Dujardin em “Os loureiros estão
cortados” (1887). Também a epígrafe de “Perto do coração selvagem” (1943) foi inspirada em

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James Joyce, escritor modernista irlandês. Isso atesta a ligação de Clarice Lispector com o alto
modernismo e com as vanguardas (escrita experimentalista).
Porém, outro sentido de “experimentação” se deve ao fato de este ser o romance de
estreia da escritora. Ela não precisou “experimentar” nem “testar” nada, porque, apesar de
estreante, o livro já apresenta alta técnica literária, também pela sua bagagem cultural e pelas
suas vivências, como explicado anteriormente. É como se o estilo literário de Clarice Lispector
já nascesse técnico. Também Antonio Candido já identificara na adolescente um acontecimento
único na História Literária Brasileira.
Alternativa B: correta – gabarito. Por “contaminação” lírica, entende-se invasão da poesia
na prosa, ou então prosa poética. Clarice Lispector é uma autora conhecida pela tendência do
intimismo. Estar perto de um coração selvagem e estar próximo da personagem, entendê-la e
não se assustar com ela. O livro é um convite para uma aproximação com a protagonista, daí
seu lirismo (sentimentalidade, empatia).
Alternativa C: incorreta. Hermético quer dizer fechado.
Alternativa D: incorreta. Elegia é um gênero textual da Antiguidade Clássica e o romance
se trata de uma obra modernista. É um pequeno poema lírico, geralmente de tom melancólico
(dicionário Aulete).
Alternativa E: incorreta. Clarice Lispector não é uma autora conhecida por ser cômica,
mas sim pelo fluxo de consciência. Em “Perto do coração selvagem”, Joana é uma mulher que
enfrenta várias angústias e crises existenciais.
Gabarito: B.

05. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) A adjetivação no título da obra de


Lispector, “Perto do Coração Selvagem”, apresenta carga semântica que
a) a concepção de uma mulher indomável, diversa e complexa, com aspectos morais bem
definidos, sem se importar com os questionamentos sociais, embora esteja sempre se
questionando, a personagem mãe.
b) a atitude de engajamento e de protecionismo, de forma incisiva e questionadora, atento
às questões existenciais da filha, revelando-se diferente do espectro masculino da época: o
personagem pai.
c) a ação de descentralização e fóbica, com traços de sentimentos de raiva e de outros
sentimentos negativos, que se revela anticristã nas relações extrafamiliares: o personagem
Otávio.
d) a sensação de medo de sermos vítimas da maldade de outros, marcada, ao mesmo tempo
pela sedução por ações más que causam um suspense e deixam em constante expectativa:
a personagem Lídia.
e) a acepção de um indivíduo mediado por atitudes de rudeza, um tipo rústico, que não aceita
ser doutrinado e inserido em uma moral, pelo menos não sem antes questioná-la: a
protagonista Joana.

Comentários:
Questão de verificação de leitura.
Alternativa A: incorreta. Não com aspectos morais definidos, pois Joana cria a sua própria
moral, não se submetendo às convenções.

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Alternativa B: incorreta. Joana não aparece no papel de filha sempre. Sua mãe Elza a
abandona e o pai morre. Joana é uma personagem livre da noção de família.
Alternativa C: incorreta. Fóbica diz respeito à fobia (medo). Pelo contrário: Joana é
corajosa em seus enfrentamentos à sociedade e não medrosa.
Alternativa D: incorreta. A alternativa fala na primeira pessoa do plural, mas o drama do
romance é individual (vida de Joana).
Alternativa E: correta – gabarito. Joana é como um animal arredio, como um cavalo solto
no pasto a correr. Uma mulher livre que encontrou seu próprio caminho, não se curvando às
imposições sociais nem aos seus traumas do passado.
Gabarito: E.

06. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Nas palavras da autora Marina


Colasanti, “Uma ideia toda Azul” é um livro de contos de fadas. Antes que o estudante
do Ensino Médio se espante com a temática, “num mundo de avançada tecnologia
espacial”, a autora julga importante esclarecer que seu interesse e sua busca se
voltam para aquela coisa intemporal chamada inconsciente.

O Último Rei
Todos os dias Kublai-Khan, último rei da dinastia Mogul, subia noalto da muralha
da sua fortaleza para encontrar-se com o vento. O vento vinha de longe e tinha o
mundo todo para contar.
Kublai-Khan nunca tinha saído da sua fortaleza, não conhecia o mundo. Ouvia as
palavras do vento e aprendia.
– A Terra é redonda e fácil, disse o vento. Ando sempre em frente, e passo pelo lugar
de onde saí. Dei tantas voltas na Terra, que ela está enovelada no meu sopro.
Kublai-Khan achou bonito ir e voltar sem nunca se perder.
Um dia o vento chegou mais frio, vindo das montanhas.
– Fui pentear a neve, gelou o vento ao pé do ouvido do rei. A neve é pesada e macia.
Debaixo do seu silêncio as sementes se aprontam para a primavera. Só flores brancas
furam a neve. Só passos brancos marcam a neve. Na neve mora o Rei do Sono.
Kublai-Khan teve desejo de neve. Então prendeu fios de prata na Lua e a empinou
contra o vento. Do alto, espelho do frio, a Lua trouxe a neve para Kublai-Khan. E um
sono tranquilo.
Todos os dias o vento contava seus caminhos no alto da muralha.
Todos os dias os longos cabelos do rei deitavam-se no vento e recolhiam seus sons,
como uma harpa. [...]
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.

O rei Kublai-Khan, diariamente, no alto da muralha da sua fortaleza, encontrava-se com


o vento.

Essa cena, metaforicamente, ilustra o poder de sua alteza.

O trecho em análise, contudo, permite ao leitor afirmar que, apesar desse poder, o
soberano revela-se suplantado pelo vento. Na trama narrativa, o vento vivencia um
a) inigualável conhecimento sobre as coisas.
b) espantoso retorno a lugares já visitados.
c) incondicional exercício de liberdade.

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 14


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

d) particular domínio sobre o planeta terra.


e) elevado saber sobre a vida hibernal.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Cuidado com informações extratextuais. O nível de conhecimento
do vento, se comparado ao de Kublai-Khan, difere-se especialmente porque o vento é livre para
sair do reino, mas não é levado em consideração o conhecimento de outras personagens para
podermos caracterizá-lo como igualável ou inigualável.
Alternativa B: incorreta. Não são visitados: o vento sussurra nos ouvidos do rei histórias
sobre lugares que ele visitou, mas Kublai-Khan não. Dessa forma, incita no grão-cã a ambição
de conhecer e dominar esses lugares.
Alternativa C: correta – gabarito. O rei Kublai-Khan (1215-1294) realmente existiu. Ele é o
último rei da dinastia Mogul (quinto grão-cã do Império Mongol). Apesar de poderoso, vivia
cercado nos domínios de seu reino, pois a cidade era murada, ao passo que o vento tinha o livre
direito de ir e vir e a transitoriedade é marca de sua natureza.
Alternativa D: incorreta. O conto destaca lugares específicos na terra: neve, deserto e mar.
Alternativa E: incorreta. Esse é um só dos lugares que visita o vento.
Gabarito: C.

09. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) O conto a seguir serve de base para
responder à próxima questão.

Entre as folhas do Verde O


O príncipe acordou contente. Era dia de caça. Os cachorros latiam no pátio do
castelo. Vestiu o colete de couro, calçou as boas. Os cavalos batiam os cascos
debaixo da janela. Apanhou as luvas e desceu.
Lá embaixo parecia uma festa. Os arreios e os pelos dos animais brilhavam ao Sol.
Brilhavam os dentes abertos em risadas, as armas, as trompas que deram o sinal de
partida.
Na floresta também ouviram a trompa e o alarido. Todos souberam que eles vinham.
E cada um se escondeu como o pode.
Só a moça não se escondeu. Acordou com o som da tropa, e estava debruçada no
regato quando os caçadores chegaram.
Foi assim que o príncipe a viu. Metade mulher, metade corça, bebendo no regato. A
mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher queria amar, a corça ele queria matar. Se
chegasse perto será que ela fugiria? Mexeu num galho, ela levantou a cabeça ouvindo.
Então o príncipe botou a flecha no arco, retesou a corda, atirou bem na pata direita. E
quando a corça-mulher dobrou os joelhos tentando arrancar a flecha, ele correu e a
segurou, chamando homens e cães.
Levaram a corça para ao castelo. Veio o médico, trataram do ferimento. Puseram a
corça num quarto de porta trancada. Todos os dias o príncipe ia visitá-la. Só ele tinha
a chave. E cada vez se apaixonava mais. Mas a corça-mulher só falava a língua da
floresta e o príncipe só sabia ouvir a língua do palácio. Então, ficavam horas se
olhando calados, com tanta coisa para dizer.

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 15


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

Ele queria dizer que a amava tanto, que queria casar com ela e tê-la para sempre no
castelo, que a cobriria de roupas e joias, que chamaria o melhor feiticeiro do reino para
fazê-la virar mulher.
Ela queria dizer que o amava tanto, que queria se casar com ele e levá-lo para a
floresta, que lhe ensinaria a gostar dos pássaros e das flores e que pediria à Rainha
das Corças para dar-lhe quatro patas ágeis e um belo pelo castanho.
Mas o príncipe tinha a chave da porta. E ela não tinha o segredo da palavra.
Todos os dias se encontravam. Agora se seguravam as mãos. E no dia em que a
primeira lágrima rolou nos olhos dela, o príncipe pensou ter entendido e mandou
chamar o feiticeiro.
Quando a corça acordou, já não era mais corça. Duas pernas só, e compridas, um
corpo branco. Tentou levantar, não conseguiu. O príncipe lhe deu a mão. Vieram as
costureiras e a cobriram de roupas. Vieram os joalheiros e a cobriram de joias. Vieram
os mestres de dança para ensinar-lhe a andar. Só não tinha a palavra. E o desejo de
ser mulher.
Sete dias ela levou para aprender sete passos. E na manhã do oitavo dia, quando
acordou e viu a porta aberta, juntou sete passos e mais sete, atravessou o corredor,
desceu a escada, cruzou o pátio e correu para a floresta à procura de sua Rainha.
O Sol ainda brilhava quando a corça saiu da floresta, só corça, não mais mulher. E
se pôs a pastar sob as janelas do palácio.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.

Esse conto nos ajuda a explicar a polaridade entre os gêneros que apontam
dicotomias biológicas e psicológicas, ilustrando as diferenças entre macho-fêmea,
homem-mulher, visto na vida cotidiana como bem-mal, certo-errado, temática central
dos contos de fadas.

Pode-se depreender, mais de que mera dicotomia, o tema central do conto revela
a) a hierarquização que se faz em torno de um indivíduo privilegiado, ou seja, o homem é
positivo, o que torna a mulher negativa, oprimida, excluída.
b) o arranjo entre o desejo de ser e a necessidade de ter, ou seja, privilegiando sentimentos,
o que a torna a mulher submissa ao que é desejado pelo seu amor.
c) a alternativa possível de diferentes conhecimentos de mundo, ou seja, privilegiando
sentimentos, o que torna o homem um predestinado e a mulher dependente.
d) o reconhecimento catártico em que a mulher tem um procedimento estético, de fazer, ou
seja, de querer, enquanto o homem apresenta a visão da realização.
e) a transformação de todos os cidadãos, parecidos uns com os outros, ou seja, irradiando
uma força centralizadora e uniformizante.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: correta – gabarito. O próprio comando é tendencioso para as dicotomias
morais, como bem-mal, certo-errado, apesar de estes serem julgamentos morais. O príncipe tem
o privilégio de classe e de gênero, como se com isso ele pudesse manter um poder moral sobre
mulher-corça. É como se sua estirpe legitimasse a sua supremacia.
Alternativa B: incorreta. A mulher-corça não deseja ter suas patas cortadas: ela
simplesmente acorda assim um dia no castelo, pois sofrera essa violência sem consentimento.
Alternativa C: incorreta. Os personagens se diferem porque têm essências e origens
diferentes.

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 16


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

Alternativa D: incorreta. Catarse é a expurgação dos sentidos. Porém, a mulher-corça tem


suas patas amputadas, não se tratando de um procedimento estético (de beleza).
Alternativa E: incorreta. Cuidado com absolutismos: “todos os cidadãos”.
Gabarito: A.

10. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Leia o fragmento para responder à


questão 10.

“Um dia, indo o rei de manhã cedo visitar a filha em seus aposentos, viu o unicórnio
na moita de lírios. Quero esse animal para mim. E imediatamente ordenou a caçada.”
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.

Em relação às características do rei recorrendo-se às leis da natureza que se


conhecem, de imediato, é sugerida ideia de
a) curiosidade metafísica.
b) aventura e prazer.
c) descoberta inédita.
d) afeição e emotividade.
e) poder e autossuficiência.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário/semântica.
Alternativa A: incorreta. Não é metafísica (para além da natureza), tampouco curiosidade,
mas sim ambição.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: estes são os sentimentos da filha em relação ao
unicórnio, mas não são os mesmos do pai.
Alternativa C: incorreta. Não é porque o unicórnio é um ser mítico que vai ser uma
descoberta inédita naquele reino necessariamente.
Alternativa D: incorreta. O rei não é motivado pelo sentimentalismo, mas sim pela
ganância.
Alternativa E: correta – gabarito. Assim que vê algo de extraordinário, o rei já sai dando
ordens, como se elas fossem automaticamente cumpridas. Isso atesta o seu poder e a sua
supremacia.
Gabarito: E.

12. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) Leia o final do conto “Um Espinho de
Marfim”.

“E nesse último dia aproximou a cabeça do seu peito, com suave força, com força de
amor empurrando, cravando o espinho de marfim no coração, enfim florido. Quando o
rei veio em cobrança da promessa, foi isso que o sol morrente lhe entregou, a rosa de
sangue e um feixe de lírios.”

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 17


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

O leitor pode fazer uma interpretação simbólica do dilema vivido pela princesa que
decide por
a) autodestruição por incapacidade do ser.
b) consenso social concreto.
c) vingança abstrata do mundo.
d) ruptura com o sistema instituído.
e) renúncia à fragilidade do amor.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. A princesa se sacrifica porque prefere morrer do que obedecer à
ordem do pai.
Alternativa B: incorreta. Não é consenso, pois a filha não concorda com a imposição do
pai. Está disposta a se suicidar para não ter que atendê-la.
Alternativa C: incorreta. Não é abstrata, mas sim concreta. No conto, a princesa morre,
apesar de simbolicamente nascerem flores de sua ferida.
Alternativa D: correta – gabarito. Este é um conto em que duas personagens masculinas
(o pai e o unicórnio) disputam pela atenção da filha. Em um mundo marcado pelo patriarcalismo,
a moça não teria opção a não ser aceitar a ordem do pai: de ficar com o unicórnio apenas 3 dias.
Porém, depois do prazo estipulado, a moça se sacrifica com o próprio chifre de marfim do
unicórnio, pois não quer renunciar ao seu amor nem se curvar ao pai. Portanto, vai contra o
sistema instituído do patriarcalismo. Por ser um conto com uma protagonista feminina, é este o
seu lugar de fala: o poder do livre-arbítrio.
Alternativa E: incorreta. Renuncia à vida e não ao amor, que não é frágil, mas sim forte.
Gabarito: D.

15. (UEMA/2023 – Professora Luana Signorelli) “Cazuza” é considerado pela crítica um


romance memorialista, confessional. O fragmento do texto que possibilita enquadrá-
lo nesse tipo de romance é:
a) “Contei o que tinha ouvido em casa: a conversa de meu pai resolvendo a viagem, a
conversa de minha mãe sobre o enxoval que me ia fazer. Quando acabei de falar, estavam
todos comovidos.”
b) “Para o povo roceiro da beira dos rios, o "gaiola" não era bem uma máquina: era um ser
extraordinário e maravilhoso, que pensava e agia como se tivesse vida própria.”
c) “Sobre rumas de cana, melancias, espigas de milho ou sacos de feijão, vinham dezenas
de meninos gritando festivamente.”
d) “Quanto rapazinho não achou insuportável a casa paterna e quanto não deixou a palhoça
dos pais para ser desgraçado na cidade!”
e) “Os vaga-lumes caíam das copas verdes, aos milhares, aos milhões, numa chuva de luz.
Parecia que o céu esfarinhava estrelas sobre a terra.”

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário/identificação de trecho.

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 18


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

Alternativa A: correta – gabarito. O memorialismo é uma tendência literária de resgate de


um passado individual. Este é o único trecho entre as opções em que o ponto de vista está na
primeira pessoa do singular, recuperando lembranças pessoais do protagonista Cazuza. São,
sobretudo, recordações familiares.
Alternativa B: incorreta. O excerto fala do povo roceiro, e não de uma memória particular.
O “gaiola” é uma embarcação a vapor.
Alternativa C: incorreta. Essa passagem descreve o divertimento de “dezenas de
meninos”. Trata-se de um grupo coletivo.
Alternativa D: incorreta. O termo “rapazinho” é uma reflexão generalizada.
Alternativa E: incorreta. Trecho puramente descritivo, que retrata o deslumbramento para
o mundo que tinha o menino Cazuza.
Gabarito: A.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas.


Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e a profundidade
exigidas, assim como podem me encontrar em redes sociais. Além disso, temos Sala VIP.

Versão Data Modificações Professora


1 28/11/2022 Entrega da primeira versão. Luana Signorelli

Professora Luana Signorelli

Professora Luana @profa.luana.signorelli


/luana.signorelli
Signorelli

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – UEMA 2023

Luana Signorelli @luanasignorelli1

CORREÇÃO DA UEMA 2023 – OBRAS LITERÁRIAS 20

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