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Professora Luana Signorelli

Aula 02: Obras Literárias para UFRGS 2021

Aula 02: Úrsula –


Maria Firmina
dos Reis
Obras Literárias para
UFRGS 2021

Professora Luana Signorelli

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 1


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Sumário

Introdução ......................................................................................................................... 3
1 – Contextualização .......................................................................................................... 4
1.1 – Romantismo: características gerais ......................................................................................... 4
1.2 – Romantismo: características específicas ................................................................................. 6
2 – Maria Firmina dos Reis ................................................................................................. 8
2.1 – Maria Firmina dos Reis na UFRGS e nos Vestibulares ............................................................ 13
3 – Pré-Leitura ................................................................................................................. 13
4 – Resumo Analítico ....................................................................................................... 16
5 – Maria Firmina dos Reis e a Intertextualidade ............................................................. 43
6 – Quadro Sinóptico ....................................................................................................... 44
7 – Questões sem Comentários ........................................................................................ 46
8 – Gabarito ..................................................................................................................... 52
9 – Questões com Comentários ........................................................................................ 53
10 – Referências Bibliográficas......................................................................................... 64
11 – Considerações Finais ................................................................................................ 65

Epígrafe
A mente, esta ninguém pode escravizar.

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli

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Introdução
Olá, vestibulandos.
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e
Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e
Doutoranda em Teoria e História Literária pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Tenho 10 anos de
experiência com revisão e padronização textual e 9 anos em
cursinho pré-vestibular, tendo passado por instituições
conhecidas e renomadas.
Vamos iniciar nossa programação de estudo de Obras
Literárias para UFRGS 2021. Lembrem-se sempre de nosso
lema:

“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.

Veja o que vamos estudar na aula de hoje no quadro abaixo:

AULA 2 –Análise de obra da leitura obrigatória: Úrsula – Resumo, análise, crítica,


Maria Firmina dos Reis. exercícios.

Eu irei organizar a aula da seguinte maneira:


• Pré-aula: contextualização do período e do movimento literário do Modernismo;
• Análise: Úrsula (resumo do enredo, passagens importantes e ) e intertextualidade.
• Pós-aula: quadro sinóptico, questões sem e com comentários.
O quadro sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco
antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com muita informação.
A aula de Úrsula vai nos fazer adentrar no mundo do Romantismo e do Condoreirismo. Nesse
sentido, devemos lembrar que é uma obra com uma as temáticas voltadas para a escravidão, o que
a torna uma obra interdisciplinar.
Então, vamos lá, não percamos tempo!

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1 – Contextualização
1.1 – Romantismo: características gerais
A palavra “romântico” é frequentemente associada a um conjunto de comportamentos e
valores, como dar ou receber flores, gostar de ler ou escrever poemas e histórias de amor,
emocionar-se facilmente, ser gentil e delicado com a pessoa amada. Esse tipo de romantismo,
porém, é diferente do Romantismo na arte. Este também está relacionado aos sentimentos, mas foi
muito mais do que isso. Foi um amplo movimento que surgiu no século XIX e representou
artisticamente os anseios da burguesia que havia acabado de chegar ao poder na França via
Revolução. Estudar a literatura do período implica conhecer as transformações então ocorridas e
ver de que modo elas acarretaram uma nova forma de ver e sentir o mundo.
Os principais autores que constituíram o Romantismo na Europa e serviram de inspiração
para os escritores brasileiros são:

Byron
• Poeta inglês conhecido pelo estilo sombrio e melancólico, que inspirou a 2ª geração
romântica do Brasil.
• Principal Obra: Don Juan (1819).

Edgard Allan Poe


• Escritor estadunidense caracterizado por uma escrita sombria, de horror, mistério
e fantasia.
• Principais obras: contos. Alguns dos mais conhecidos são O Retrato Oval, A queda
da casa de Usher e O gato preto. O celébre poema O corvo foi inclusive traduzido
por Machado de Assis.

Irmãos Schlegel
EUROPA

• August e Friedrich Schlegel foram críticos, filósofos e tradutores alemães. Seus


estudos foram variados, tendo incluído até a cultura oriental. Desenvolveram o
conceito de ironia romântica.
• Principais obras: fragmentos. Athenaeum - August (1798-1800), Lucinde -
Friedrich (1799).

Goethe
• Autor alemão considerado percursor do romantismo como movimento literário.
• Suas obras tem grande presença da natureza ligada à uma religiosidade, sendo
entendida como uma imagem do paraíso.
• Principais obras: Os sofrimentos do Jovem Werther (1774), Os anos de
Aprendizado de Wilhelm Meister (1797) e Fausto (1806).

Victor Hugo
• Escritor francês cujas principais características são obras de forte crítica social e
posição política progressista.
• Principais obras: O corcunda de Notre-Dame (1831) e Os miseráveis (1862).

As principais características do Romantismo na literatura são:

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Amor romântico + erotismo


• Amor romântico (alma) convive com amor físico (erótico);
• Realização do ato sexual como realização completa do indivíduo.

Evasão (fuga à realidade)


• Apologia à morte;
• Gosto pelo isolamento e os locais macabros;
• Introspecção.
Idealização
• A natureza como espaço idílico, paradisíaco;
• A projeção da mulher perfeita;
• Desejo de liberdade, ideal de mundo melhor.
Liberdade
• Desejo de livrar-se do modo de vida burguês;
• Certa rebeldia.

Nacionalismo
• Busca dos traços característicos de cada povo (os laços de semelhança);
• Constituição das identidades nacionais a partir da exaltação da natureza;
• Histórias de heróis fundadores;
• Na Europa, traduz-se nas novelas cjas personagens são cavaleiros medievais.
Oposição aos clássicos
• Rompimento com as inspirações greco-latinas;
• Valorização da Idade Média (início das colônias);
• Métricas não clássicas na poesia e romance como principal forma na prosa.
Sentimentalismo
• Valorização da escrita subjetiva;
• Sofrimento do amor não correspondido;
• Sofrimentos existenciais, inclusive a inescapabilidade da morte;
• Sentimnto de inadequação na sociedade.
Spleen (mal do século)
• Inspiração na poesia de Byron;
• Vida boêmia e decadência;
• Melancolia e pessimismo;
• Preseça da tuberculose: a morte se torna o destino próximo.
Sublime e grotesco
• A ideia de que algo sublime não precisa ser necessariamente belo;
• Temas baixos e linguagem de baixo calão.

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1.2 – Romantismo: características específicas


Por específicas, entendam-se características nacionais. Agora eu explico como a força de
expressão romântica ocorreu no Brasil. Poucos anos depois da independência política em 1822,
surge o Romantismo no Brasil, e por isso a sua história se confunde com a história política do país.
Com a fuga da família real em 1808, uma vez que Portugal fora invadido por Napoleão, a colônia
passou por uma série de mudanças.
➢ Criação de escolas de nível superior;
➢ Fundação de museus e bibliotecas públicas;
➢ A criação de tipografias;
➢ A criação de uma imprensa regular.
A produção literária mais consistente entre os séculos XVII e XVIII se justificou pelo advento
de um público leitor. Depois da Independência em 1822, os intelectuais e artistas da época se
engajaram no processo de tentativa de criação de uma identidade nacional.
No Brasil, o Romantismo teve um significado a mais: ele tinha a característica de ser
anticolonialista e antilusitano, o que representava uma rejeição à literatura produzida na época
colonial por ela estar ligada aos modelos de cultura portuguesa. Foi nesse sentido que o Romantismo
brasileiro também integrou o nacionalismo.
Tradicionalmente, divide-se o Romantismo no Brasil em três gerações, com características
principais distintas.

PRIMEIRA GERAÇÃO
• Nacionalista
• Indianista
• Religiosa
• Principal autor: Gonçalves Dias

SEGUNDA GERAÇÃO
• Egocentrismo
• Pessimismo
• Ligação com a morte
• Principais autores: Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu

TERCEIRA GERAÇÃO
• Cunho político-social
• Abolicionismo
• Principal autor: Castro Alves

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Os escritores de prosa romântica não se enquadram exatamente em nenhuma das fases, pois
dialogam com características de todas elas. Na prosa, divide-se os romances não por gerações, mas
por tendências:

ROMANCE ROMANCE ROMANCE ROMANCE


INDIANISTA HISTÓRICO REGIONALISTA URBANO

• Resgate da • Retrato dos • Ambiente rural • Histórias da alta


cultura e história costumes de uma ou cultura típica sociedade das
dos indígenas época do de determinadas capitais.
brasileiros. passado. regiões. • Crítica aos
• Índio como figura • Mistura dados • Diversidade do costumes.
heróica, reais com Brasil e ideia de • Principais
idealizada. ficcionais. "Brasil autores: José de
• Valorização da • Principal autor: verdadeiro". Alencar, Joaquim
natureza José de Alencar. • Principais Manuel de
brasileira. autores: José de Macedo e
• Principal autor: Alencar, Bernardo Manuel Antônio
José de Alencar. Guimarães e de Almeida.
Visconde de
Taunay.

As gerações também não se aplicam ao teatro propriamente dito. Temos como principais
autores no teatro romântico brasileiro:
• Martins Pena, José de Alencar, Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Álvares de
Azevedo.
Vamos estudar primeiramente o marco inicial do Romantismo.

Gonçalves de Magalhães
Nome completo: Domingos José Gonçalves de
Magalhães, foi considerado introdutor do Romantismo no
Brasil. No teatro, ele escreveu Antônio José ou O poeta e a
Inquisição (1838).

A publicação da obra Suspiros poéticos e saudade (1836), de


Gonçalves de Magalhães, tem sido considerada o marco inicial
do Romantismo no Brasil. A importância dessa obra, porém,
reside muito mais nas novidades teóricas de seu prólogo, em
que Magalhães anuncia a revolução literária romântica, do que
propriamente na execução dessas teorias (CEREJA;
MAGALHÃES, 2004, p. 62).

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2 – Maria Firmina dos Reis

O abolicionismo foi uma tomada de posição contra o modelo


econômico escravagista no Brasil. Uns escritores se afirmavam
literariamente no gênero lírico (poesia) e outros na prosa, como é o
caso de Maria Firmina dos Reis. Maranhense, nasceu em 1822 e
faleceu em 1917. Publica o romance Úrsula (1859), considerado o
primeiro escrito por uma brasileira. Além de tudo, também pode ser
considerado o primeiro romance de autoria negra e feminina do
Brasil. Em 1887, publica “A escrava” na Revista Maranhense. No ano
de 2017, completou-se centenário dessa escritora tão importante
para a História Literária Brasileira, o que só comprova que a banca
do Vestibular da UFRGS está preocupada com questões sociais.
Maria Firmina dos Reis era uma mulher negra que
participava ativamente do círculo cultural de sua região. Publicava
constantemente na imprensa, tendo publicado os contos Gupeva
de 1861-1862 e Cantos à beira-mar (1871). Liga-se, portanto, ao Romantismo Tardio (segunda
metade do século XIX) e à luta abolicionista. Segundo o sociólogo Rafael Balseiro Zin:

Proveniente das massas, mas não se dirigindo necessariamente a elas, a escritora encontrou na
literatura uma forma de expressão artística, mas, principalmente, política. Até porque, mesmo
não tendo vivido sob a condição de cativa, assistiu de perto às mazelas da escravidão, o que fica
evidente em boa parte de seus trabalhos.

Então, para compreender essa escritora e também o romance Úrsula, primeiro precisamos
conhecer a causa abolicionista.

O QUE É O ABOLICIONISMO? A OBRA DO PRESENTE E A DO FUTURO

Não há muito que se fala no Brasil em abolicionismo e Partido Abolicionista. A ideia de


suprimir a escravidão, libertando os escravos existentes, sucedeu à ideia de suprimir a
escravidão, entregando-lhe o milhão e meio de homens de que ela se achava de posse em 1871
e deixando-a acabar com eles. Foi na legislatura de 1879-80 que, pela primeira vez, se viu dentro
e fora do Parlamento um grupo de homens fazer da emancipação dos escravos, não da limitação
do cativeiro às gerações atuais, a sua bandeira política, a condição preliminar da sua adesão a
qualquer dos partidos.
A história das oposições que a escravidão encontrara até então pode ser resumida em
poucas palavras. No período anterior à Independência e nos primeiros anos subsequentes,
subsequentes, houve, na geração trabalhada pelas ideias liberais do começo do século, um certo
desassossego de consciência pela necessidade em que ela se viu de realizar a emancipação
nacional, deixando grande parte da população em cativeiro pessoal. Os acontecimentos

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políticos, porém, absorviam a atenção do povo, e, com a revolução de 7 de abril de 1831,


começou um período de excitação que durou até à Maioridade. Foi somente no Segundo
Reinado que o progresso dos costumes públicos tornou possível a primeira resistência séria à
escravidão. Antes de 1840 o Brasil é presa do tráfico de africanos; o estado do país é fielmente
representado pela pintura do mercado de escravos no Valongo.
(...)
O abolicionismo, porém, não é só isso e não se contenta em ser o advogado ex officio da
porção da raça negra ainda escravizada; não reduz a sua missão a promover e conseguir — no
mais breve prazo possível — o resgate dos escravos e dos ingênuos. Essa obra — de reparação,
vergonha ou arrependimento, como a queiram chamar — da emancipação dos atuais escravos
e seus filhos é apenas a tarefa imediata do abolicionismo. Além dessa, há outra maior, a do
futuro: a de apagar todos os efeitos de um regímen que, há três séculos, é uma escola de
desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsabilidade para a casta dos senhores, e que fez
do Brasil o Paraguai da escravidão.
Quando mesmo a emancipação total fosse decretada amanhã, a liquidação desse regímen
daria lugar a uma série infinita de questões, que só poderiam ser resolvidas de acordo com os
interesses vitais do país pelo mesmo espírito de justiça e humanidade que dá vida ao
abolicionismo. Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao poder sinistro que
representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma
educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de despotismo,
superstição e ignorância.
NABUCO, Joaquim. Essencial. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [Kindle, p. 27].

Joaquim Nabuco (1849-1910) foi um político, diplomata e


jurista brasileiro. oi um dos fundadores da Academia Brasileira de
Letras, junto com Machado de Assis (inclusive, há uma foto histórica
de ambos nos degraus da ABL). Apesar de uma educação
escravocrata advinda da formação familiar, optou pessoalmente
pela luta a favor dos escravos, tendo publicado O Abolicionismo em
1883. Também escreveu uma obra sobre Camões e Balmaceda, uma
biografia em forma de ensaios da personalidade de José Manuel
Balmaceda, presidente do Chile entre 1886 e 1891.
Nesse texto em particular, Nabuco fala como foi longo o
processo rumo à real libertação dos escravos, e se questiona se de
fato ela seria possível, pois, de uma maneira visionária, questiona-
se quais seriam as consequências que tal modelo acarretaria em
todos, sobretudo, no modo de pensar.

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Outros abolicionistas

Castro Alves
Ocupante da cadeira de no 7 na Academia Brasileira de Letras, era considerado o poeta dos
escravos e nasceu em 1847. Estudou Direito em Recife e São Paulo. Representou maturidade em
relação à ingenuidade das gerações anteriores, como o idealismo indianista e amoroso e o
nacionalismo ufanista. A crítica objetiva ao regime social prefigura o movimento posterior do
Realismo. Abaixo encontramos o resumo de suas principais obras.

• Poesia: principais obras


*Espumas flutuantes (1870);
*A Cachoeira de Paulo Afonso (1876);
*Os Escravos – O Navio Negreiro (1883);
*Hinos do Equador (1921).

• Teatro: principais obras


*Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875).

I
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes


Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora


Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
A temática condoreira pode ser cobrada
Homens do mar! ó rudes marinheiros, numa abordagem interdisciplinar. O
Tostados pelo sol dos quatro mundos! movimento Blacks Lives Matter (vidas
Crianças que a procela acalentara negras importam) é um movimento ativista
que busca por igualdade étnica que ganhou
No berço destes pélagos profundos! importância no ano de 2020, após um
ataque violento a George Floyd.
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?

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Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira


Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,


Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
Comentários
Estão aqui apenas uns trechos. No final de alguns versos há perguntas e
questionamentos, evidenciando um eu lírico atribulado.
Há o contraste entre a condição degradante da escravidão e o sentimento de liberdade
vivido no mar, representado pelo pássaro do albatroz ao final. Dar asas ao eu lírico
significa a ele mais do que liberdade, mas sim fuga daquela situação.

Luís Gama
Nasceu em 1830 e faleceu em 1882. Foi um escritor e jornalista
brasileiro que ganhou várias alcunhas: Patrono da Abolição da Escravidão
do Brasil e ainda Libertador dos Escravos. Sua principal obra é Primeiras
Trovas Burlescas do Getulino, que além de tudo é muito ousada, porque
acusa autoridades de corrupção.

Se os nobres desta terra, empanturrados, Se o Governo do Império Brasileiro,


Em Guiné têm parentes enterrados; Faz coisas de espantar o mundo inteiro,
E, cedendo à prosápia, ou duros vícios, Transcendendo o Autor da geração,
Esquecendo os negrinhos seus patrícios; O jumento transforma em sor Barão;
Se mulatos de cor esbranquiçada, Se o estúpido matuto, apatetado,
Já se julgam de origem refinada, Idolatra o papel de mascarado;
E curvos à mania que domina, E fazendo-se o lorpa12 deputado,
Desprezam a vovó que é preta-mina: – N’Assembléia vai dar seu – apolhado!
Não te espantes, ó Leitor, da novidade, Não te espantes, ó Leitor, da novidade,
Pois tudo no Brasil é raridade! Pois tudo no Brasil é raridade!

GAMA, Luís. Primeiras Trovas Burlescas do Getulino. Fonte: Domínio Público.


Disponível em: https://tinyurl.com/rn7hwwk. Acesso em: 29 set. 2020.

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José do Patrocínio
Nasceu em 1853 e faleceu em 1905. Foi jornalista e trabalhou na Gazeta da Tarde. Escreveu
o romance Os retirantes (1879), mas também o Manifesto da Confederação Abolicionista (1883). Foi
a vanguarda do movimento negro no Brasil.

Estamos em plena aurora.


Dentro em três dias via começar a história moderna do Brasil e fechar-se a triste
história dos tempos bárbaros da nossa terra.
Não é possível imaginar de um lance de pensamento o que será todo esse iluminado
futuro, não obstante o presente fornecer-nos o esboço do que ele será nos largos traços
dos acontecimentos que nos surpreendem.
O que está por trás do dia 3 de maio não cabe na previsão dos políticos e não é
demasiado otimismo profetizar que a nossa evolução nacional será feita com a mesma
rapidez da dos Estados Unidos.
As estrelas do Sul dentro em um quarto de século não invejarão o fulgor da
constelação do Norte.
PATROCÍNIO, José. Semana política. Fonte: ABL.
Disponível em: https://tinyurl.com/yxfvcaqz. Acesso em: 28 ago. 2020.

Para os condoreiros, “aurora” pode ser considerada sinônimo de


liberdade ou libertação. Como nessa passagem de Úrsula: “Susana
ouviu tudo isto com a cabeça baixa; depois ergueu-a, fitou aos céus,
onde a aurora começava a pintar-se (...)”.

Chiquinha Gonzaga
O condoreirismo no Brasil não permitiu
aberturas e liberdades maiores ao movimento
negro, como também prefigurou movimentos
femininos. Chiquinha Gonzaga nasceu em 1847 e
faleceu em 1935. Foi compositora, instrumentista
e maestrina. Escreveu “As pombas” e a marchinha
carnavalesca “Ó abre alas”, entre outros. Em 1869,
ela se separa do marido. Além de abolicionista era
republicana.

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2.1 – Maria Firmina dos Reis na UFRGS e nos Vestibulares

Eis na tabela abaixo como a romancista Maria Firmina dos Reis caiu nos vestibulares.

INSTITUIÇÃO ANO OBRA/TEMA


UFRGS 2020 Questão de julgar sobre a obra no geral.
UFRGS 2019 Questão de julgar sobre literatura comparada: Maria
Firmina dos Reis – Úrsula e Maria Carolina de Jesus –
Quarto de despejo: diário de uma favelada
UFRGS 2019 Questão de julgar sobre a obra no geral.
UFRGS 2019 Questão de julgar sobre a obra no geral.
UESPI 2010 Questão de múltipla escolha sobre a obra no geral.
UESPI 2009 Questão de múltipla escolha sobre a obra no geral.
UFMA 2006 Questão de múltipla escolha sobre a obra no geral +
crítica literária.
UFMA 2006 Questão de julgar sobre literatura comparada: Maria
Firmina dos Reis – Úrsula e Almeida Garrett –
Frei Luís e Sousa

O livro também constava na lista obrigatória da PUC-MG 2019 Então, nosso material vai
contemplar a resolução dessas questões, além de trazer também questões autorais
complementares, para sedimentar o conhecimento.

3 – Pré-leitura
O romance Úrsula é um típico romance romântico. Pelas referências às propriedades e à
escravidão, parte-se do pressuposto de que é um romance romântico regionalista, como exposto
na contextualização. Agora eis abaixo elencados alguns tópicos essenciais que nos ajudarão a
conduzir a análise do romance.

• ESPÍRITO ROMÂNTICO. A linguagem do livro é toda voltada para a tradição romântica. Por
isso, no livro há vários comportamentos, tanto masculinos quanto femininos, que revelam
alguns valores. Primeiramente, o cavalheirismo de Tancredo, que lembra os heróis medievais
trovadorescos, como ilustra o quadro abaixo.

AMOR CORTÊS
O relacionamento entre amantes pode recorrer à expressão do amor cortês, isto é,
um tipo de amor convencional, cheio de regras sociais como:
*Submissão absoluta à dama;
*Vassalagem humilde e paciente;
*Promessa de honrar e servir a dama com fidelidade;

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*Prudência para não abalar a reputação da dama, sendo o cavaleiro, por essa razão,
proibido de falar diretamente dos sentimentos que tem por ela;
*A amada é vista como a mais bela de todas as mulheres;
*Pela amada o trovador despreza todos os títulos, as riquezas e a posse de todos os
impérios.

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, p. 85 (adaptado).

Depois disso, várias das personagens se voltam para o arrebatamento. Tanto o herói quanto
a heroína são tipicamente românticos, o que equivale a dizer que no romance há
previsibilidade e personagens planas.

Construída
ao redor
de uma
única ideia

PERSONAGEM Carece de
Estática PLANA profundidade

Previsível

Por fim, maus presságios no livro, como a ave sangrando no vestido de Úrsula, já antecipam
um final trágico, típico do Ultrarromantismo.

• HISTÓRIAS PARALELAS. O narrador de Úrsula é um narrador em terceira pessoa: ele se coloca


acima da história como se fosse um deus observando seus personagens. Porém na narrativa
histórias paralelas, que costumam ser relatos pessoais das vivências das próprias
personagens. Além disso, há também interrupções reflexivas do narrador, para comentar
questões como morte, justiça etc. Nesse sentido, ele se configura igualmente como um
narrador crítico, que conta a história comentando a ação e o enredo.

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• SÍNTESE DAS 3 GERAÇÕES. Após o exposto, pode-se considerar que Úrsula é um romance-
síntese das 3 gerações românticas. Isso porque na obra estão presentes todos estes
elementos: a transcendência, a religiosidade, o arrebatamento e o sublime da primeira
geração; a morbidez, o pessimismo e o apego à morte da segunda geração; e o condoreirismo
e a eloquência e a temática abolicionista da terceira geração. Nesse sentido, até se aproxima
também da prosa poética.

Quadro de personagens

Típica moça romântica, é pura, delicada e solícita. Tem pele branca,


chegando a ser pálida, e cabelos escuros. Além de tudo, está na flor
da mocidade. Vive para cuidar da mãe, Luiza B., que há 12 anos está
Úrsula
doente. Sua vida muda quando conhece Tancredo, um desconhecido
se machuca perto da propriedade de sua família. Ao cuidar dele
enquanto ele convalescia, ela se apaixona por ele.
Jovem a partir do qual a narrativa começa. Ele está andando de cavalo
sozinho, muito cansado, quando cai e se machuca. O cavalo cai em
cima de sua perna e ele quase morre. Quem o salva é o escravo Túlio,
Tancredo que estava passando por perto, dando água para ele beber. Depois
que Tancredo é levado à casa da família, Úrsula cuida dele e ele
também se apaixona por ela, sendo capaz de deixar para trás sua
história mal-resolvida com Adelaide.
Mãe de Úrsula, paralítica e doente. Típica mulher romântica que sofre
e padece, representa no romance uma situação de inércia, pois não
Luiza B. sai do lugar. Tem um passado enigmático, sendo que depois se
descobre que seu esposo Paulo B. foi assassinado pelo irmão
Fernando, o comendador.
Escravo honrado que, mesmo embora tendo sofrido muito por causa
de sua condição, não perdeu sua humanidade. Primeiro ajuda
Túlio Tancredo, salvando-o, e depois Antero no momento de sua fuga. Túlio
recebe o conhecimento eterno de Tancredo, que acaba por alforriá-
lo e de quem também se torna amigo.
Escrava idosa que cuida de Túlio depois que a mãe dele o deixa com
ela. Personagem importante, integra e leal, que conta sua história
desde a vinda da África. Seu relato descreve a situação infernal do
Preta Suzana Navio Negreiro. Conta que, por causa da escravidão, foi arrancada do
lar e da família, especialmente da filha. Nessas terras, jurou proteger
Úrsula e de fato não conta o segredo de onde a moça está, quando
ela foge para o convento.
Homem brutal e perseguidor, cuja truculência se formou ao longo da
vida. Amava a irmã Luiza B., mas ela se casa com alguém que ele julga
Comendador Fernando P.
ser de condição social inferior à deles. Nunca aceita o relacionamento
da irmã, e assassina o marido dela. Como caçador, encontra Úrsula na

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floresta e deseja desposar a moça, mesmo ela já estando noiva de


Tancredo. Ele não admite que ela não seja dele, revelando um
comportamento conservador e patriarcalista.
Marido de Luiza B., pouco se sabe sobre ele. Ele foi assassinado pelo
Paulo B.
comendador.
Prima de Tancredo por quem ele se apaixonara na juventude, tendo
Adelaide pedido a moça em casamento. Porém, ela era órfã e de condição
social inferior, então há empecilhos para o casal ficar junto.
Irônico e manipulador, impõe ao filho a condição de passar um ano
fora de casa (exílio) antes de se casar com Adelaide. Nesse meio
Pai de Teodoro
termo, ele se aproveita para desposar Adelaide, antes do filho,
privando-o da possibilidade de se casar com a moça.

Outras personagens

• Padre amigo do Comendador Fernando P. É uma personagem que, mesmo tendo se


aproximado de Fernando anteriormente e o apoiado, quando percebe que sua perseguição e
ódio são ilimitados passa a repreendê-lo e depois o abandona. Dá um sermão moral para que
ele libere seus escravos, como expiação da culpa pelos seus crimes.
• Padres carmelitas ao fim da narrativa. Um deles inclusive é incumbido de dar a Extrema Unção
ao Frei Luís de Santa Úrsula, isto é, o Comendador Fernando que foi para aquele
estabelecimento a fim de se converter, tendo inclusive mudado de nome..
• Antero. Negro que cuida de Túlio quando é ordenado por Fernando a mantê-lo prisioneiro.
Revela vício para bebida, mas Túlio acaba por ajudá-lo no final.

4 – Resumo Analítico
Para a análise do romance, vou acompanhar a ordem sequencial dos capítulos, mesclando
resumo do enredo com os comentários analíticos propriamente ditos. Primeiramente, vamos
lembrar que Úrsula é um romance do Romantismo Tardio e está repleto de costumes da época.

Joaquim Manuel de Macedo e Manuel Antônio da Almeida escrevem um tipo


de romance romântico chamado de urbano. Essa prosa costuma ser mais
social, crítica e irônica e por isso mesmo geralmente configuram obras de
transição, pois tendem a abandonar o idealismo. Por exemplo, em Lucíola
(1862) a protagonista é uma prostituta. Como já se trata da segunda metade
do século XIX, também é conhecido como Romantismo Tardio. Os escritores
desse período inovaram até algumas formas literárias, pois os romances
costumavam amalgamar cartas, bilhetes e outros focos narrativos.

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PRÓLOGO
Essa seção funciona como um preâmbulo; um elemento pré-textual e uma justificativa. A obra
começa com uma falsa modéstia, dizendo que o livro em si é mesquinho e humilde, parecendo
inclusive querer ressaltar esse traço dele. Quem parece falar é o autor e não o narrador, lembrando
que eles nem sempre coincidem.

Então por que o publicas? – perguntará o leitor.

Como uma tentativa, e mais ainda, por este amor materno, que não tem limites, que tudo
desculpa – os defeitos, os achaques, as deformidades do filho – e gosta de enfeitá-lo e aparecer
com ele em toda a parte, mostrá-lo a todos os conhecidos e vê-lo mimado e acariciado.

A autora compara a criação de seu livro a um amor materno, prevendo certos efeitos que ele
vai ter. Parece intuir que o livro irá passar despercebido; parece não valorizá-lo. Compara-o também
a uma donzela feia. Como se o dever da mulher fosse ser bonita, uma donzela feia é como se fosse
imprestável; para ter amor próprio por si, somente a dona mesmo. Essa falsa modéstia antes de
começar o livro também já se encontra na obra de outros autores, conhecidos por ser irônicos:

Michel de Montaigne – Prefácio aos Ensaios Machado de Assis – Memórias póstumas de


Brás Cubas
Aqui está um livro de boa-fé, Leitor. Ele te Ao leitor
adverte, desde o início, que não me propus Que Stendhal confessasse haver escrito um de
outro fim além do doméstico e privado. Nele seus livros para cem leitores, coisa é que admira
não tive nenhuma consideração por servir-te e consterna. O que não admira, nem
nem por minha glória: minhas forças não são provavelmente consternará, é se este outro
capazes de tal desígnio. Dediquei-o ao uso livro não tiver os cem leitores de Stendhal,
particular de meus parentes e amigos, a fim de nem cinquenta, nem vinte, e quando muito,
que, tendo-me perdido (o que breve terão de dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de
fazer), possam aqui encontrar alguns traços de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se
minhas atitudes e humores, e que por esse meio adotei a forma livre de um Sterne, ou de um
nutram, mais completo e mais vivo, o Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas
conhecimento que têm de mim. Se fosse para rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de
buscar os favores do mundo, teria me enfeitado finado.
de belezas emprestadas. Quero que me vejam Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da
aqui em meu modo simples, natural e corrente, melancolia, e não é difícil antever o que poderá
sem pose nem artifício: pois é a mim que sair desse conúbio. Acresce que a gente grave
retrato. Meus defeitos, minhas imperfeições e achará no livro umas aparências de puro
minha forma natural de ser hão de se ler ao romance, ao passo que a gente frívola não
vivo, tanto quanto a decência pública me achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica
permitiu. Pois se eu estivesse entre essas privado da estima dos graves e do amor dos
nações que se diz ainda viverem sob a doce frívolos, que são as duas colunas máximas da
liberdade das leis primitivas da natureza, opinião.
asseguro-te que teria com muito gosto me

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pintado por inteiro e totalmente nu. Assim, Mas eu ainda espero angariar as simpatias da
Leitor, sou eu mesmo a matéria de meu livro: opinião, e o primeiro remédio é fugir a um
não é razão para que empregues teu vagar em prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o
assunto tão frívolo e vão. Portanto, adeus. De que contém menos coisas, ou o que as diz de
Montaigne, neste primeiro de março de mil um jeito obscuro e truncado.
quinhentos e oitenta. Conseguintemente, evito contar o processo
extraordinário que empreguei na composição
destas Memórias, trabalhadas cá no outro
mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso,
aliás desnecessário ao entendimento da obra. A
obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino
leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar,
pago-te com um piparote, e adeus.
Brás Cubas

A diferença entre esses exemplos e Maria Firmina dos Reis é que ela fala a partir da condição
de uma escritora mulher. Ressaltadas essas falsas modéstias e ironias, observem o tom parecido que
se encontra no prólogo de Úrsula: “Deixai pois que a minha Úrsula, tímida e acanhada, sem dotes
da natureza, nem enfeites e louçanias de arte, caminhe entre vós.”
Com isso, são verificados alguns aspectos dessa autora/narradora:
• A relação da autora com o livro maternal: de proteção e não de abandono;
• Uma mulher é como se fosse inútil, a não ser que seja bonita.
Então, entende-se que neste prólogo Maria Firmina dos Reis situa o papel da mulher escritora
na sociedade, aproximando-se da estética do Romantismo Tardio, a qual já se assemelha com alguns
pontos do Realismo.
Por fim, essa tendência de o livro falar do próprio livro se remete à metalinguagem.

Metalinguagem é tanto uma função de linguagem quanto um efeito de texto


em que a linguagem se remetendo a ela mesma. Porém, pode ser um filme
se remetendo a ele mesmo; ou uma fotografia se remetendo a ela mesma →
trata-se de algo se remetendo a si mesmo.

1 – Duas almas generosas


Um dos aspectos para a obra reside no quesito gramatical, quanto à adjetivação, o que já está
presente já desde o título, quando as almas são qualificadas de generosas. E são assim porque nesse
capítulo encontram-se Túlio e Tancredo, ainda sem saberem as suas identidades.
Quanto à linguagem, reparem nessas semelhanças:

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• "Mesquinho e humilde livro é este que


Prólogo vos apresento, leitor".

Capítulo 1 • "São vastos e belos os nossos campos"

O parágrafo inicial desse capítulo já revela a estética romântica, baseando-se na descrição do


ambiente: o lugar é comparado à Criação Divina; portanto, liga-se ao sublime e infinito.

São vastos e belos os nossos campos; porque inundados pelas torrentes do inverno semelham o
oceano em bonançosa calma – branco lençol de espuma, que não ergue marulhadas ondas, nem
brame irado, ameaçando insano quebrar os limites que lhe marcou a onipotente mão do rei da
criação. Enrugada ligeiramente a superfície pelo manso correr da viração, frisadas as águas, aqui
e ali, pelo volver rápido e fugitivo dos peixinhos, que mudamente se afagam, e que depois
desaparecem para de novo voltarem – os campos são qual vasto deserto, majestoso e grande como
o espaço, sublime como o infinito (REIS, 2018, p. 95).

Longa passagem então é dedicada à descrição desse lugar, que nunca é determinado, apenas
descrito. O ciclo da natureza se revela e com ele toda a perfeição. Lembrando que a exaltação da
natureza é uma característica da primeira geração romântica.
Primeiro, prioriza-se a paisagem com toda a sua grandeza e depois um único rapaz solitário é
apresentado.

“(...) um jovem cavaleiro melancólico, e como que


exausto de vontade, atravessando porção de um
majestoso campo, que se dilata nas planuras de uma das
nossas melhores e mais ricas províncias do Norte, deixava-
se levar ao través dele por um alvo e indolente ginete.
Longo devia ser o espaço que havia percorrido; porque o
pobre animal, desalentado, mal cadenciava os pesados
passos.
Abstrato, ou como que mergulhado em penosa e
profunda meditação, o cavaleiro prosseguia sem notar a
extrema prostração do animal ou então fazia semblante
de a não reparar; porque lhe não excitava os nobres
estímulos. Dir-se-ia ter já concluído sua longa jornada.”

Então, se percebermos, o romance nos desloca pelo mais de uma vez: primeiro, porque seu
título é um nome próprio feminino, ao passo que a primeira personagem apresentada é um rapaz.
Segundo, porque em vez de começar as personagens, inicia-se com foco na paisagem.
Porque há toda a descrição da natureza, inferimos que ação se passa no campo, por isso a
aproximação do romance com a tendência regionalista. Portanto, há outro ideal presente também:

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"O campo, o mar, a abóbada celeste ensinam a adorar o


supremo Autor da natureza e a bendizer-lhe a mão;
porque é generosa, sábia e previdente." (REIS, 2018, p. 97)

Rousseau → o homem nasce bom, é a sociedade


que o corrompe (teoria do Bom Selvagem)

O escritor romântico se sente próximo de Deus porque considera que ambos são Criadores.
Por isso, nessa passagem em Úrsula há o uso de “Autor” com letra maiúscula.
Então, até agora tudo o que sabemos é que um cavaleiro distraído vai passando pelo
ambiente. Ele cisma e parece sofrer; só Deus conhece seus pensamentos. Seria esse viajante assim
tão distraído? Até que...

O rapaz cai do cavalo! Sabe quem morre de uma queda de cavalo na vida real? O escritor
ultrarromântico Álvares de Azevedo, aos 21 anos de idade. De tal forma que a tragicidade também
é considerada uma característica tipicamente romântica. A natureza que antes era boa (locus
amoenus: lugar ameno) agora se transforma em um ambiente hostil (locus horrendus: lugar
horrível). O semblante do cavaleiro se transfigura.
Há algo que marca esse personagem misterioso: a incompreensão. Não o conhecemos ainda
e o narrador tarda a apresentá-lo. Intencionalmente, presenciamos um ritmo lento da narrativa,
que demora a se desenrolar. Com isso, o objetivo do narrador é captar a nossa atenção, tentando
manter viva nossa curiosidade.
Tudo o que sabemos desse rapaz é que ele é solitário, como um típico herói romântico rumo
ao digno destino de sua missão. Até que, convenientemente, alguém que estava passando por ali o
encontra. É logo destacada uma diferença entre ambos: a cor da pele, pois o cavaleiro caído era
branco e quem passa por ali era um escravo negro.
E quando essa segunda alma generosa, para aludir ao título do capítulo, encontra o cavaleiro
caído e machucado é apresentado, observa-se uma mudança na linguagem: o narrador o apresenta,
mas também aproveita a ocasião para estabelecer algumas reflexões, principalmente sobre a
escravidão e sobre o papel divino de Deus, traços que parecem ser contraditórios. É como se Deus
estivesse sendo questionado, como se Ele não fosse tão perfeito e justo assim.

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O sangue africano fervia-lhe nas veias; o mísero


ligava-se à odiosa cadeia da escravidão; e embalde o
sangue ardente que herdara de seus pais, e que o nosso
clima e a servidão não puderam resfriar, embalde –
dissemos – se revoltava, porque se lhe erguia como
barreira – o poder do forte contra o fraco!...
Ele entanto resignava-se; e se uma lágrima a
desesperação lhe arrancava, escondia-a no fundo da sua
miséria.
Assim é que o triste escravo arrasta a vida de
desgostos e de martírios, sem esperança e sem gozos!
Oh! Esperança! Só a tem os desgraçados no
refúgio que a todos oferece a sepultura!... Gozos!... Só
na eternidade os anteveem eles!
Coitado do escravo! Nem o direito de arrancar do
imo peito um queixume de amargurada dor!...
Senhor Deus! Quando calará no peito do homem
a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti
mesmo –, e deixará de oprimir com tão repreensível
injustiça ao seu semelhante!... Àquele que também era
livre no seu país... Àquele que é seu irmão?

Um lembrete importante é que o Romantismo enquanto movimento artístico-literário surgiu


no século XIX e ele será muito guiado pelos ideais da Revolução Francesa que ocorreu no fim do
século passado (1789): liberdade, igualdade e fraternidade. Então, não é despropositada a alusão à
irmandade nesse trecho. É esse sentimento nobre que motiva o escravo a desviar sua rota para
ajudar o homem machucado.
O dia que estava alvorecendo também é uma metáfora para a liberdade: a aurora representa
a libertação de convenções sociais as quais impedem tradicionalmente impedem que pessoas
diferentes se aproximem. O mais importante na cena é que um ser humano sofria e precisava de
ajuda. Portanto, essa passagem demontra o humanismo.
E eis que o escravo é associado ao índio Peri, personagem do romance romântico indianista
de José de Alencar, quando o indígena arranca uma palmeira do chão. Esses traços heroicos são
resquícios da tradição medieval trovadoresca.

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Úrsula O Guarani
Reunindo todas as suas forças, o jovem escravo Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se
arrancou de sob o pé ulcerado do desconhecido entrelaçavam pelos ramos das árvores já
o cavalo morto, e deixando-o por um momento, cobertas de água, e com esforço desesperado
correu à fonte para onde uma hora antes se cingindo o tronco da palmeira no seus braços
dirigia, encheu o cântaro, e com extrema hirtos, abalou-o até as raízes.
velocidade voltou para junto do enfermo, que
com desvelado interesse procurou reanimar.

Isso comprova novamente pontos de aproximação entre Úrsula e outros romances


românticos. No caso, seria o idealismo nessa capacidade sobrenatural.
Continuando, ainda não sabemos quem é o rapaz machucado. Ele está semiconsciente; vê
que o rapaz negro tenta ajudá-lo e se surpreende com a visão. A diferença de cor de pele faz com
que o escravo peça perdão por ter se aproximado dele, mesmo que para salvá-lo. Mas o cavaleiro
não se importa; pelo contrário, mostra-se muito agradecido. Tem-se o primeiro diálogo entre eles.
Um gesto simbólico sela a amizade: um beijo do escravo na mão do cavaleiro.

— Meu amigo, – continuou – podes acreditar no meu reconhecimento e na minha amizade. Quem
quer que sejas, eu a prometo: sou para ti um desconhecido; e inda assim foste generoso e
desinteressado. Arrancando-me à morte tens desempenhado a mais nobre missão de que o homem
está incumbido por Deus – a fraternidade.

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Arrastado diálogo se dá em que o cavaleiro tenta comprovar sua gratidão. Não só ela, como
seus ideiais progressistas: “dia virá em que os homens reconheçam que são todos irmãos.” O
escravo parece não acreditar que possa existir ser humano assim tão bondoso:

— Ah! Meu senhor – exclamou o escravo enternecido


– como sois bom! Continuai, eu vo-lo suplico, em nome
do serviço que vos presto, e a que tanta importância
quereis dar, continuai, pelo céu, a ser generoso e
compassivo para com todo aquele que, como eu, tiver a
desventura de ser vil e miserável escravo! Costumados
como estamos ao rigoroso desprezo dos brancos, quanto
nos será doce vos encontrarmos no meio das nossas
dores! Se todos eles, meu senhor, se assemelhassem a
vós, por certo mais suave nos seria a escravidão.

Aqui há um traço muito importante: o escravo fala. Quer dizer que ele tem voz, opiniões e
sentimentos, que se sente livre para expressar depois da demonstração de gratidão do cavaleiro.
Sabem que não estão numa situação típica, mas conseguem se entender e se aceitar. Para além
disso, o vínculo humano da amizade estava se formando.
O narrador intrometido apresenta o nome do escravo: “Pobre Túlio!” Ao fim do capítulo, as
reflexões do narrador se embaralham com o enredo. A narrativa avança e Túlio leva o rapaz
machucado para a casa de Luiza B.

2 – O delírio
E eis que o capítulo começa novamente com adjetivação: “Violenta, terrível, espantosa tinha
sido a crise, e Túlio velava à cabeceira do enfermo.” Uma série de descrição da fauna e flora
transmitem a noção de cor local: noitibó e acauã (pássaros) e agoureiro (planta).
Conhecemos Luiza B., a mãe de Úrsula, antes do que a moça que dá nome ao título em si.
Novamente, o narrador adia ao máximo o momento de sua apresentação. Luiza B. confessa que está
à beira da morte, passas os seus dias presa a um leito.
Além dela, agora há o cavaleiro que demanda cuidados também. Então, Túlio leva o cavaleiro
para casa e Úrsula cuida dele. Cuidada de ambos, na verdade. Começa sendo a apresentada como
uma mulher sofrida, pois é muito solícita e trabalha muito. O narrador intrometido justifica o seu
estilo ao descrevê-la, chegando ao ponto de ser irônico:

Nenhuma exageração havia nesse piedoso desempenho; porque Úrsula era ingênua e singela
em todas as suas ações; e porque esse interesse todo caridoso, o mancebo não podia avaliá-lo,
tendo as faculdades transtornadas pela moléstia. Este sentimento era pois natural em seu coração,
e a donzela não se envergonhava de o patentear (REIS, 2018, p. 110).

Agora observa-se um tom de mau agouro:

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“A Túlio parecia aqueli delírio precurso da morte, e da perda do


Presságio amigo, o primeiro talvez que o céu lhe dera (...) sentia estranho
desassossego” (REIS, 2018, p. 111).

Úrsula também sente enorme inquietação. Assim como é apresentada no início, ela se
movimenta constantemente para ajudar e também sente sua alma aflita. Isso porque nela está
crescendo o sentimento de amor verdadeiro pelo rapaz de quem está cuidando. O amor tem um
tom de novidade, é por si só revolucionário e arrebatador. Aquela moça só conheceu a vida
doméstica e familiar em toda sua existência e agora algo novo se lhe colocava em seu caminho.
Há o típico sentimentalismo exacerbado romântico: “Pelo céu, nem faleis nisso; e em seus
grandes olhos errou uma lágrima.” (REIS, 2018, p. 113). Todos sentem os nervos à flor da pele.
Outro traço romântico típico é a associação do delírio com a loucura:

“O enfermo entrou a sorrir-se; a febre começava a declinar. Ao delírio violento


seguiu-se plácida alucinação – parecia que um mundo de gratas ilusões, povoado de
meigos seres, o afagava; estendia os braços como para estreitar entes que lhe eram
caros e o rosto se lhe expandia suavemente.” (REIS, 2018, p. 114-115).

O narrador aproveita a ocasião para fazer uma reflexão, uma a qual inclusive serve de
epígrafe para o livro:

Cadeia infame e rigorosa, a que chamam “escravidão”?!... E


entretanto este também era livre, livre como o pássaro, como
o ar; porque no seu país não se é escravo. Ele escuta a nênia
plangente de seu pai, escuta a canção sentida que cai dos
lábios de sua mãe, e sente como eles, que é livre; porque a
razão lho diz, e a alma o compreende. Oh! A mente! Isso sim
ninguém a pode escravizar! Nas asas do pensamento o
homem remonta-se aos ardentes sertões da África, vê os
areais sem fim da pátria e procura abrigar-se debaixo daquelas
árvores sombrias do oásis, quando o sol requeima e o vento
sopra quente e abrasador: vê a tamareira benéfica junto à
fonte, que lhe amacia a garganta ressequida: vê a cabana onde
nascera, e onde livre vivera! Desperta porém em breve dessa
doce ilusão, ou antes sonha que a engolfara, e a realidade
opressora lhe aparece: é escravo e escravo em terra estranha!

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 24


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A escravidão não é o tema central do livro. Pode-se dizer que é


um tema secundário, mas não de menor importância, pelo
contrário. São justamente nessas reflexões do narrador que se
observa a grandeza humanista que marca essa obra.

3 – Declaração de amor
E Úrsula vai se revelando melancólica quando o cavaleiro vai se curando. Isso porque ela já
está apaixonada por ele e não quer que ele vá embora. Nesse sentido, não vê a cura dele como algo
de todo positivo.
Mas há sim algo muito bom: Túlio é alforriado!

Túlio obteve pois por dinheiro aquilo que Deus lhe dera, como a todos os viventes. Era livre como
o ar, como o haviam sido seus pais, lá nesses adustos sertões da África; e, como se fora a
sombra do seu jovem protetor, estava disposto a segui-lo por toda a parte. Agora Túlio daria todo
o seu sangue para poupar ao mancebo uma dor sequer, o mais leve pesar; a sua gratidão não
conhecia limites. A liberdade era tudo quanto Túlio aspirava; tinha-a – era feliz! (REIS, 2018, p.
118-119).

Mas parece uma ironia, quando ele se assume como “escravo voluntário”, pois passa a servir
Tancredo. É assim que o jovem machucado se chama.
Cada vez mais Úrsula se assemelha à típica heroína romântica: recatada, pura e ideal. Deseja
evitar Tancredo, pois não entende ainda a natureza de seu sentimento em relação a ele. Portanto,
resguarda-se. Tanto é assim que parece alienada, não entende que o que sente é amor. “Onde
levava o ardor da mente? Úrsula, interrogada, mal o saberia dizer” (REIS, 2018, p. 120).
Devemos entender que o Romantismo é contraditório. Nesse sentido, essa mocinha, ao
mesmo tempo que é muito sentimental, também é muito racional porque pensa muito. Seus
pensamentos estão sempre divagando.

Razão
Sentimento

Constamentemente, o narrador se aproxima de suas personagens. Frequentemente, chama


Úrsula de pobre menina. E narra agora que a moça tinha um hábito de caminhar nas florestas, mas
uma vez indicando aproximação do ser humano com a natureza.

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 25


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Ninguém em casa sabia dos seus passeios matinais, e ninguém os adivinhava, e por isso
esperava com ânsia o romper do dia: e a hora em que a natureza desperta, só, e sem temor,
tomava o caminho que bem lhe convinha e ia conversar com a solidão, essa conversa que só
Deus compreende, e quando voltava achava-se mais aliviada.

Úrsula enganava-se – cada dia mais se agravavam seus males. (REIS, 2018, p. 121).

Novela ou romance, ger.de caráter melodramático, publicado


regularmente em capítulos pela imprensa, esp. no séc. XIX;
Folhetim jornal ou obra literária considerada de baixa qualidade; seção de
um periódico destinada a artigos sobre literatura e artes.

Pouco a pouco Úrsula se assemelha a um romance de folhetim, cheio de desencontros e mal-


entendidos que prendem a atenção do leitor. Isso porque Tancredo também gostava de Úrsula, mas
ela, por pudor e recato, fugia dele: “Era preciso ver Úrsula, e Úrsula fugia-lhe como a caça foge ao
caçador. E o dia passava, e vinha a noite, e sucedia-se outro, e mais outro dia, e o moço dilatava a
sua viagem.” (REIS, 2018, p. 121).
E Úrsula ainda tentava entender seus sentimentos. Seus pensamentos se mesclam à fala do
narrador no discurso indireto livre:

Úrsula sentou-se sem o menor reparo num desses


degraus, e continou nos seus pensamentos loucos, ou
talvez inocentes como a sua alma; mais profundos,
penosos para ela, que pela vez primeira sentia a
necessidade de uma alma que compreendesse a sua, de
um pensamento que se harmonizasse como o seu.
Mas amava ela a alguém? Ao cavaleiro? Talvez!
Úrsula sentia uma vaga necessidade de ser amada, de
amar mesmo; mas em quem empregar esse amor, que
devia ser puro como a luz do dia, ardente como o fogo
de madeira resinosa?! Em quem? Não o sabia ainda.
Úrsula, malgrado seu, experimentava todo o fogo de
um primeiro amor (...)

Observa-se um importante recurso estilístico no texto: as intertextualidades. As


comparações com algumas figuras já existentes são extremamente didáticas e instrutivas e servem
para explicar certas situações dos personagens. O narrador diz que os pensamentos de Úrsula são
como o “leito de Procusto”. Procusto era uma personagem mitológica sádica que se divertia

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 26


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prendendo viajantes em sua cama. Então, a metáfora serve para descrever o sentimento atribulado
de Úrsula.
E agora retornam os presságios, que também aparecem como intuições. Em seu passeio no
bosque, ela é seguida por alguém:

Úrsula, temerosa, e sem poder atinar com quem seria, estremeceu, mas não de verdadeiro medo,
antes por um pressentimento incompreensível e que às vezes pressagia vagamente algum
acontecimento futuro da nossa vida. Úrsula tudo ignorava; mas alguém com íntima satisfação
descobriu seus passeios matinais, alguém, que sentia a necessidade de vê-la, de falar-lhe um
momento, e que devassou-lhe o retiro e foi perturbá-la em sua meditação (REIS, 2018, p. 123).

E eis que o narrador antecipa os pensamentos do leitor! “Era o cavaleiro


convalescente o homem que assim falava, como o leitor perspicaz tê-lo-á já
adivinhado.” (REIS, 2018, p. 124, grifo meu). Esse leitor ideal se chama narratário,
figura na qual o narrador projeta a intenção de ser lido. O que pode ser irônico,
pois depende do leitor.

A declaração de amor de Tancredo envolve a história da sua vida e a explicação de sua


identidade. Aproxima a paixão que sente da Úrsula de uma verdadeira salvação, pois antes de chegar
naquela propriedade, ele caminhava solitário sofrendo pela sua vida pregressa. Nesse sentido,
Úrsula pode se associar ao romance português Amor de salvação, de Camilo Castel Branco, que
também escreveu outro romance paralelo chamado Amor de perdição.
Tancredo narra sua história mal-resolvida com Adelaide: “Quisera que o meu passado fugisse
como a sombra de uma ave inquieta”, ele chega a dizer. E selam o amor deles na floresta, símbolo
da natureza que símbolo dessa união.
Tancredo termina esse capítulo mencionando a mãe. Amor maternal e erótico se confundem.

4 – A primeira impressão
É primeira porque até agora não conhecemos esse rapaz! A história constantemente passa
por retardamento e agora assume forma de relato explicativo e pregresso do Tancredo. Então ele
conta como se afastou de casa numa condição de exílio, importante tema para os românticos:

MARIA FIRMINA DOS REIS –ÚRSULA CASIMIRO DE ABREU – MEUS OITO ANOS
Só apartei-me de minha mãe quando fui para Oh! que saudades que tenho
São Paulo cursar as aulas de Direito, e seis anos Da aurora da minha vida,
de saudades aí passei, tendo-a sempre em meus Da minha infância querida
pensamentos; porque amava-a com uma Que os anos não trazem mais!
ternura que só vós podeis compreender. Num Que amor, que sonhos, que flores,
dia recebi o grau de bacharel e noutro segui Naquelas tardes fagueiras
para a minha terra natal. Ah! Como me À sombra das bananeiras,
transbordava a alma de prazer! Eu vinha rever Debaixo dos laranjais!
aquela que cercara de amor e de cuidados a
minha infância!

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 27


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Mas nem o lar o completa. Ele diz que não era de todo feliz. Isso até quando a mãe lhe
apresenta uma novidade:

– Meu filho – disse-me minha mãe,


apresentando-me a formosa donzela – eis Adelaide, a
minha querida Adelaide. É filha de minha prima, e órfã
de mãe e pai. Recolhi-a e amo-a como se fora minha
própria filha.
— Tancredo – continuou – não poderei esperar
de ti desvelada proteção para aquela que adotei por
filha, para aquela que tem enxugado as lágrimas de tua
mãe na ausência de seu filho?!...

Então, observamos um típico traço romântico: as promessas, as juras. O nome de Tancredo


aparece pela primeira vez aqui nesse relato. Ele se explica para Úrsula, para quem acaba de devotar
seu amor; então, julga que ela tem o direito de conhecer seu passado.
E observa-se uma passagem na narrativa, em que é abordado o tema da violência contra a
mulher. A mãe de Tancredo sofria abusos do pai e crescer nesse ambiente o traumatizou:

Não sei por quê; mas nunca pude dedicar a meu pai amor filial que rivalizasse com aquele que
sentia por minha mãe, e sabeis por quê? É que entre ele e sua esposa estava colocado o mais
despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava em silêncio, e
resignava-se com sublime brandura.

Meu pai era para com ela um homem desapiedado e orgulhoso – minha mãe era uma santa e
humilde mulher (REIS, 2018, p. 134).

O pai de Tancredo era um desmodelo de homem para ele. Não era uma figura
paterna; pelo contrário, causava nele temor. O pai o separou da mãe na infância por
seis anos; não permitia vê-la. Para além da violência física, há também a violência
psicológica.
Assim, Tancredo cresceu sentindo que devia proteger as mulheres, como bom cavalheiro
romântico, a começar pela mãe e a prima Adelaide.
Se Tancredo era o primeiro amor de Úrsula, Adelaide foi o primeiro amor de Tancredo. Ele é
sincero ao admiti-lo. Mas tudo parece tragédia anunciada: Adelaide é órfã e pobre; o pai é maldoso
e nunca permitiria aquela relação. A mãe de Tancredo tenta alertá-lo; aconselha porque conhece.
Porém, ele é ingênuo; ainda acredita que o pai pode aceitar. A mãe só tolera o esposo pelo filho:
“Ah! Ela temia seu esposo, respeitava-lhe a vontade férrea; mas com uma abnegação sublime quis
sacrificar-se por seu filho.” (REIS, 2018, p. 138).
O pai de Tancredo, quando sabe da história, chama a mulher de louca. Tem certeza de que
Adelaide quer se casar com Tancredo por dinheiro, pois tal relação só poderia ser por interesse.

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MARIA FIRMINA DOS REIS – ÚRSULA JOSÉ DE ALENCAR – SENHORA


— Louvo-vos a generosidade, minha nobre As revoltas mais impetuosas de Aurélia eram
mensageira; – disse pouco depois com tom de justamente contra a riqueza que lhe servia de
sarcasmo, que me fulminou – guardai para uma trono, e sem a qual nunca por certo, apesar de
esposa mais digna de Tancredo essa parte de suas prendas, receberia como rainha
vossa fortuna com que pretendeis tão desdenhosa, a vassalagem que lhe rendiam. Por
desinteressadamente dotar a vossa Adelaide. isso mesmo considerava ela o ouro, um vil metal
que rebaixava os homens; e no íntimo sentiase
profundamente humilhada pensando que para
toda essa gente que a cercava, ela, a sua pessoa,
não merecia uma só das bajulações que
tributavam a cada um de seus mil contos de réis.

A desavença entre Tancredo e o pai também representa a luta entre o novo e o velho. Como
Jesus na cruz, Tancredo parece se perguntar: por que, Senhor, me abandonaste?

Toda essa situação de opressão familiar lembra a escravidão, mesmo


dentro de casa de famílias abastadas e avantajadas. As personagens
desse romance sentem-se frequentemente presas; pois há várias
formas de prisão: física e espiritual.

5 – A entrevista
Esse capítulo continua o relato familiar de Tancredo.
Ele se indigna com a situação toda e a mãe não consegue
ajudá-lo também. Isso porque ela é resignada e sente
medo. Chega a defender o pai!!! “Meu filho, não levantes a
voz para acusar aquele que te deu a vida” (REIS, 2018, 142).
Ela parece estar presa em um círculo vicioso de opressão.

“Cruzava-o meu pai com passos rápidos e incertos; seus


olhos refletiam o ódio que lhe dominava nesse momento o
pensamento. Notei que suas feições estavam
transtornadas, e que baça palidez lhe anuviava o rosto.
Semelhava o leão ferido, que despede chama dos olhos, e
eu julguei que ia prorromper em insensatos brados.
Enganei-me.” (REIS, 2018, p. 143).

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Aquela luta entre pai e filho era uma guerra de egos e feições. O pai era extremamente
manipulador e não ia deixar o filho simplesmente seguir as vontades. Impunha-se em sua vida como
um obstáculo. Apela para a moral: casar com Adelaide não era bom para as aparências em
sociedade, chega a falar em “decência”.
Constantemente quer desmoralizar todo mundo de sua família, a começar pela mulher,
chamando-lhes de loucos. Como ele é o provedor, sente-se no direito, agindo como se fosse o mais
racional de todos, o superior a ser respeitado. Revela um cinismo que lembra Brás Cubas, chegando
a confundir inteligência com frieza.

E esse pai malvado impõe uma condição para Tancredo se casar com Adelaide. Nunca teve
boa intenção; a condição só serve para oprimir e dilacerar ainda mais o coração do jovem, que agora
tem que esperar pelo casamento.

— Sua educação não está completa; ademais – continuou apresentando-me um papel dobrado, e
selado – eis aqui um despacho, que obtive para ti, meu filho. Honroso é o emprego que te oferecem,
e eu ouso esperar que o meu Tancredo não só o não recusará, porque foi solicitado por seu pai,
como não deixará de partir breve, obedecendo às ordens superiores que o mandam à cidade de
***.

Abri o fatal papel, li-o, e gelei de dor.

Era para longe da minha província que me desterravam. (REIS, 2018, p. 147).

Frequentemente, obras românticas pretendem tender ao universalismo e à


generalização. Por isso, intencionalmente não indicam nome de lugares e
tempo, como é o caso também de A moreninha, com a Ilha de..., de Joaquim
Manuel Macedo. Infere-se que Paquetá, mas ainda assim é ambíguo.

Tancredo sofre sendo o sujeito diante do incontrolável. Tem que cumprir a demanda do pai,
depois do que sua vida nunca mais vai ser a mesma.

6 – A despedida
A mãe de Tancredo sabe que separação vai ser mais do que um teste: ela pode ser eterna!
Adelaide tinha 18 anos e já era maior de idade. Antes de partir, Tancredo pede cartas ao pai, para
abrandar seu amargor no exílio e pede especificamente para proteger a mãe.
Chamo atenção para como os capítulos são terminados. Costuma-se deixar o leitor curioso:
“Nesse olhar, em que lhe estava a alma, disse-me a infeliz seu derradeiro adeus!”

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7 – Adelaide
Outro detalhe para que se chama atenção são os títulos dos capítulos: costumam ser simples,
são tipos ou nomes de pessoas.
Treta! Tancredo percebe que tem algum problema quando Adelaide começa a esparsar as
cartas. Lembrando que era a troca de cartas na época era algo muito típico. Há na tradição literária
o chamado romance epistolar, todo embasado em cartas. Além de estar presente em Os sofrimentos
do jovem Werther e Amor de perdição, era muito comum no período do Romantismo.

Filme: Ligações Perigosas (1988).


Sinopse: França, 1788. A Marquesa de Merteuil
precisa de um favor do seu ex-amante, o
Visconde de Valmont, pois seu ex-marido está
planejando se casar com uma jovem virgem e
ela deseja que o Marquês, que é conhecido por
sua vida devassa e suas conquistas amorosas, a
seduza antes do dia do casamento. No entanto,
ele tem outros planos, pois planeja conquistar
uma bela mulher casada, que sempre se
mostrou fiel ao marido e é religiosa. A Marquesa
exige então uma prova escrita dos seus
encontros. Mas os jogos de sedução fogem do
controle e os resultados são bem mais trágicos
do que se podia imaginar.

Sentimento romântico da segunda geração, mal de século. Era


um tédio mortal, uma indiferença que se contrapõe ao
Spleen sentimentalismo exacerbado. Assim, o sujeito costumava
alternar esses dois estados de espírito.

E é nesse marasmo que se sente Tancredo naquela espera:

Levava no coração a imagem desse anjo idolatrado; mas uma mágoa estranha anuviava-me o
coração, e eu não podia compreendê-la, e o absoluto e tétrico silêncio desse espaço, que percorria,
mais aumentava esse sentir vago de indefinível melancolia.

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E dei de rédeas ao animal com loucura e sem parar, porque sentia a necessidade do
movimento; mas depois a aflição sempre crescente trazia-me o abatimento, e eu deixava o cavalo
andar como lhe parecia. (REIS, 2018, p. 154, grifos meus).

É com muito pesar que Tancredo é informado que a mãe havia falecido. Forças maiores
levam-no de volta ao lar. Sofre uma desilusão! Adelaide está casada com o pai.
Porém, ingênuo que é, não percebe que foi uma artimanha do pai; apenas infere que o
casamento ocorreu, porque Adelaide quis! O pai conseguiu manipulá-lo, colocando anteriormente
em sua cabeça que Adelaide era maldosa.

Tancredo sente-se uma vítima do destino. Do seu primeiro amor sofre também a primeira
desilusão amorosa. Parte para xingamentos contra Adelaide; é incapaz de compreender totalmente
a situação. Sente-se como o homem rejeitado que está ferido. Compara Adelaide ao demônio. E é
nesse estado de espírito que sai com seu cavalo e vai parar na propriedade de Luiza B. A narração
agora se volta para o tempo presente.

8 – Luiza B.
Tancredo e Úrsula voltam da fazenda para conversar com Luiza B. Assim como nomes e datas,
os sobrenomes das personagens são omitidos em forma de abreviação. Mais um ciclo repete-se: ao
pé do leito de morte de Luiza, Tancredo jura proteger Úrsula.
Agora quem conta a sua própria história é a mãe. Há doze anos que ela estava naquela
situação. Fala do triângulo formado por ela, o irmão e Paulo B. Estes mistérios desvelados são uma
constante no romance.

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— Sim, senhor – tornou-lhe a mãe de Úrsula, – e um desvelado irmão foi ele. Conhecei-lo talvez
pela sua reputação de fereza de ânimo; mas esse homem tão implacável como o vedes, era um
terno e carinhoso irmão. Amou-me na infância com tanto extremo e carinho que o enobreciam aos
olhos de meus pais, que o adoravam, e depois que ambos caíram no sepulcro, ele continuou sua
fraternal ternura para comigo. Mais tarde, um amor irresistível levou-me a desposar um homem,
que meu irmão no seu orgulho julgou inferior a nós pelo nascimento e pela fortuna. Chamava-se
Paulo B. (REIS, 2018, p. 168).

Assim como a mãe de Tancredo defendia o pai abusivo, Luiza B. defendeu


o irmão abusivo também. Tratam-se de mulheres que tinham medo de
enfrentar a autoridade patriarcal. Luiza B. diz: “E ele teria sido bom; sua
regeneração tornar-se-ia completa, se o ferro do assassino lhe não tivesse
cortado em meio à existência!” (REIS, 2018, p. 169).

O marido de Luiza B. é assassinado. Os mal-entendidos só se agravam; os culpados


responsáveis são desconhecidos. Outro crime na ausência: foi numa tarde que o marido “tinha
deixado” Luiza B. ir em alguma cidade. Naturalmente, o irmão de Luiza B. enriquecera e rapidamente
se tornara bem-sucedido.

— Meu irmão? – tornou ela sorrindo-se dolorosamente — Esse comprou as dívidas do meu casal,
e estabeleceu-se na fazenda de Santa Cruz, outrora habitação de meus pais, onde eu passei os
anos de minha juventude, onde nascera minha pobre Úrsula. (REIS, 2018, p. 170).

Tancredo promete proteger Úrsula. Sempre está prometendo e não é pragmático; no fundo,
revela-se despreparado para a vida. Luiza B. morre sem ter proferido as últimas palavras; mais uma
mistério fica solto no ar. Mas o importante é que a promessa foi feita e o casal de pombinhos ao
menos vai ter a possibilidade de se casar, pois Luiza B. havia dado a bênção.
Só quando há o pedido de casamento é que Tancredo se revela como Tancredo de ***, o que
parece inverossímel: um conhecido nas terras da família sem antes nunca ninguém ter lhe
perguntado o nome.
Tancredo não se preocupa com posições sociais. Pretende casar com Úrsula, porque a ama.
Isso comprova o amor romântico, que está acima das barreiras financeiras e dos interesses
mundanos. O pacto está selado. Há uma esperança por fim.

9 – A preta Susana
Suspensão da história central do casal para ingressar em uma história paralela. A preta Susana
é uma senhora que assumiu a criação de Túlio quando a mãe dele o abandonara. Ela conta sua
história triste, vinda em um navio negreiro. Novamente, o narrador encontra espaço para levantar
suas reflexões acerca da escravidão.
Túlio dirige a palavra a ela, pois vai partir com Tancredo, que foi chamado para assumir um
trabalho. Ele pretende deixar a propriedade por um mês; não para ir embora, mas sim com a
pretensão de voltar e se casar com Úrsula.

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Susana revela que Luiza B. sempre fora boa com ela e que sempre lhe será leal; a ela e a
Úrsula, depois de sua morte.
Porque Túlio diz que vai partir, ela se torna emotiva e conta como foi arrancada brutalmente
de seu lar, deixando para trás marido e filha, para se tornar escrava em terras estranhas.

Spleen
romântico Saudades dos
escravosda terra

Vou contar-te o meu cativeiro.


Tinha chegado o tempo da colheita, e o milho e o inhame e o
amendoim eram em abundância nas nossas roças. Era um destes dias em
que a natureza parece entregar-se toda a brandos folgares, era uma manhã
risonha, e bela, como o rosto de um infante, entretanto eu tinha um peso
enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que atribuir minha
tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha
filha sorria-se para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava
Susana
um anjo. Desgraçada de mim! Deixei-a nos braços de minha mãe, e fui-me à
roça colher milho. Ah! Nunca mais devia eu vê-la...
Ainda não tinha vencido cem braças do caminho, quando um
assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar acerca do perigo
iminente, que aí me aguardava. E logo dois homens apareceram, e
amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! (...) tudo
me ficava – pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade! Meu Deus! O que se
passou no fundo da minha alma, só vós o pudestes avaliar!...
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio
e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis
tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida
passamos nessa sepultura até que abordamos às praias brasileiras. Para
caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que
não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das
nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. Davam-
nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda
mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar,
de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a
seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à
sepultura asfixiados e famintos!

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(UFRGS/2020)

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o romance Úrsula, de


Maria Firmina dos Reis.

( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, jovem negra escrava, que aprendeu
a ler com a patroa, D. Susana.
( ) Adelaide é a menina pobre que busca ascensão social através do casamento, como muitas
mulheres faziam na época.
( ) A crítica ao modelo patriarcal está especialmente centrada nas figuras de Tancredo e de
seu pai.
( ) O romance caracteriza-se como transgressor à produção romanesca do período, ao
apresentar Túlio e Antero como sujeitos constituídos de humanidade.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) V – V – F – F.
b) V – F – F – V.
c) F – V – V – V.
d) F – F – V – V.
e) V – V – V – F.
Comentários
Questão de verificação de leitura. Atenção: a banca cobra detalhes da obra, como nome
de personagens e tipo de narrador, e não apenas uma noção geral.
Afirmação I: incorreta. Úrsula é uma mulher de etnia branca, filha de Luiza B. As
personagens que são negras e escravas no romance são Túlio e a a Preta Suzana, a quem um
capítulo é dedicado inclusive. Além disso, o romance é narrado em terceira pessoa e não em
primeira. Em algumas partes, o relato pessoal em primeira pessoa das personagens se alonga
em vários parágrafos, mas são discurso direto (falas das personagens) e não do narrador.
Afirmação II: incorreta. Adelaide é uma moça pobre e órfã, de quem a mãe de Tancredo se
compadece e quer cuidar. Como a típica heroína romântica, não é vaidosa e não tem nenhuma
intenção de enriquecer. Quando Tancredo propõe casamento a ela, o pai se opõe, pois acha
que a moça está interessada no dinheiro da família, mas esse é um julgamento pessoal dele.
Depois que Tancredo retorna do exílio, condição imposta pelo pai para o filho casar com ao
moça, encontra o pai casado com Adelaide. Cuidado: o romance deixa ambígua a conclusão
dessa história, mais uma trama mal-resolvida no livro. Porém, parte-se do pressuposto de que
Adelaide foi vítima das artimanhas cruéis do pai de Tancredo, para privar o filho de conquistar
o seu desejo real de se casar com Adelaide.
Afirmação III: correta. Tancredo é um moço ingênuo e honrado, cuja função no romance é
demonstrar que ainda é possível existir um homem assim. Ele é o oposto do pai, homem
ardiloso e irônico, que em muito se assemelha ao Comendador Fernando P.

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 35


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Afirmação IV: correta. Ambos são escravos que se ajudam mutuamente. Antero é
encarregado pelo Comendador de vigiar Túlio, que foi preso. Porém, Túlio descobre que o velho
Antero sofre com o vício da bebida e lhe oferece bebida alcóolica para poder escapar. Para que
o negro não fosse responsabilizado pela sua fuga, ele o deixa embriagado, forjando uma cena
para ajudá-lo. Antes disso Túlio já tinha ajudado Tancredo a se recuperar da queda de cavalo,
tendo com este ato de humanidade conquistado a sua alforria.
Gabarito: C.

Continuando, eis o lugar de fala de Susana, a capaz de contar a sua própria história, ainda que
triste. Sente que ainda tem propósito na vida, e vive para ajudar Úrsula. Deve isso à Luiza e à filha,
mas denuncia que Paulo B. era mau: “Pouco depois casou-se a senhora Luísa B., e ainda a mesma
sorte: seu marido era um homem mau, e eu suportei em silêncio o peso do seu rigor.” (REIS, 2018,
p. 182). Observa-se a repetição do ciclo de violência, ao qual as mulheres constantemente estão
sujeitas.
Depois do desabafo, permite que Túlio parta. Foi como um lamento final antes de sua partida.
Sentimento físico se acumula com o sofrimento emocional.

10 – A mata
Capítulo central na narrativa, em que há um presságio fatal: Úrsula vai fazer seus passeios
habituais depois da partida de Tancredo. Sem ele, sofre, pois ama e desejesa etar com ele.
Porém, na floresta encontra um pássaro morto que suja seu vestido, um sinal de virgindade
maculada. Descobre que há um caçador por perto, o responsável por aquela morte.
Logo, esse caçador trava conversa com ela e se revela perseguidor. A moça se sente
incomodada e constrangida, pois o homem parece conhecê-la.
No fundo, aquele monstro era o Comendador Fernando que desejava se casar com ela. Outra
informação inverossímil, já que acabaram de se conhecer. A mulher romântica constantemente está
com medo; novamente, o lugar ameno da floresta, onde Úrsula gravava o nome dela junto ao de
Tancredo nas árvores, transforma-se um lugar horroroso.
Não sabe se é presságio ou loucura quando de fato encontra o homem. E Fernando que se
mostra fervoroso e especialmente controlador:

— Mulher! Anjo ou demônio! Tu, a filha de minha irmã! Úrsula, para que te vi eu? Mulher, para
que te amei?!... Muito ódio tive ao homem que foi teu pai: ele caiu às minhas mãos, e o meu ódio
não ficou satisfeito. Odiei-lhe as cinzas; sim odiei-as até hoje; mas triunfaste do meu coração;
confesso-me vencido, amo-te! Humilhei-me ante uma criança, que desdenhou-me e parece
detestar-me! Hás de amar-me. (REIS, 2018, p. 195).

11 – O derradeiro adeus
Outro capítulo se chama “A despedida”. Constantemente, as personagens desse romance se
sentem em uma situação limítrofe.

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 36


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Um mal entendido se resolve: Luiza B. ainda vive. Pareceu que morreu em outro capítulo, mas
essa é sua vida eternamente. Úrsula está em dúvida se conta para a mãe ou não sobre o caçador da
floresta, mas resolve não fazê-lo, para não abatê-la.
Eis que chega uma carta: Fernando se aproxima, não quer mais se esconder! Esse caçador é
o mesmo comendador irmão da Luiza: caçador de mãe e filha.

É necessário que nos vejamos ainda uma vez na vida, e conto que anuirás
a este desejo, ou antes súplica de teu irmão.
Minha irmã! Minha Luísa! Muito me tens a perdoar; porque gravíssimo
é o mal que te hei feito; mas és boa, teu coração não pode alimentar ódio por
aquele que foi sócio dos teus jogos infantis, e que na juventude te amou com
essa doçura fraternal, que só tu compreendias; porque eram gêmeas as nossas
almas.
Luísa, minha doce irmã, porque me tornei eu mau e odioso a meus
próprios olhos depois que tomaste Paulo B. por esposo? Por quê? Nem o sei
eu! Talvez o desejo que sempre tive de dar-te uma posição mais brilhante,
como muitas vezes te fiz sentir. Malograste, no entretanto, as minhas
intenções, esposando esse homem, que...
Esse foi o teu crime, crime que eu nunca te haveria perdoado, se o céu
se não incumbisse desta conversão, que sem dúvida te há de admirar; porque
a mim mesmo me admira.
O mais dir-te-ei vocalmente; porque só deve esta preceder-me uma
hora.
Adeus.
Teu afetuoso
FERNANDO

Afetuoso desde quando??? Fernando, depois do encontro com Úrsula na floresta, sente-se
no direito de se aproximar daquela família de novo. Reparem no superlativo “gravíssimo” que ele
usa, para intensificar a linguagem.

Como se já estivesse lá, no ambiente, só esperando, brota na sala Fernando! É pintada toda
uma imagem dele como se ele fora o verdadeiro injustiçado.

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 37


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Fernando tinha vivido solitário, e desesperado com essa luta terrível do coração com o orgulho: e
esses desgostos íntimos, que ele próprio forjava, o tinham embrutecido, e tanto lhe afearam a
moral, que era odiado, e temido de quantos o praticavam ou conheciam de nome.

Ele tornara-se odioso e temível aos seus escravos: nunca fora benigno e generoso para com eles;
porém o ódio, e o amor, que lhe torturavam de contínuo, fizeram-no uma fera – um celerado.

Nunca mais cansou de duplicar rigores às pobres criaturas,


que eram seus escravos! Apraziam-lhe os sofrimentos
destes; porque ele também sofria. Eis aí pois a alma
implacável na maldade do irmão de Luísa.

E Úrsula! Onde estava ela? (REIS, 2018, p. 203).

Em Luto e melancolia, Sigmund Freud diz que quando


alguém passa por algo muito traumático tende a mudar o objeto
de desejo. Então, Freud explica! Fernando encontrou na vida
um mecanismo de compensação. O que não justifica, mas ao
menos entendemos como Fernando se tornou assim.

12 – Foge!
Luiza B. conhece o irmão que tem e orienta a filha Úrsula a fugir o mais rápido que pode.
Agora sim Luiza morre e o romance etede à mudança e à adaptação da heroína.

13 – O cemitério de Santa Cruz


Como romance ultrarromântico, agora apresenta-se a morbidez e o apego à morte. Grande
passagem se desenvolve narrando o luto de Úrsula.

Nesse capítulo, há uma suspensão da narrativa e uma reflexão sobre a


morte. Há uma longa passagem do narrador, que se introme na história
e faz comentários intertextuais, citando Bernadin de Saint-Pierre e sua
obra Paulo e Virgínia, um romance escrito em 1787 por um escritor
francês. Essa parte também lembra o Sermão de Quarta-Feira de Cinzas
de Padre Antonio Vieira, texto barroco em que há o memento mori:
lembra-te de que és pó e ao pó retornarás (Gen. 3-16).

Sente-se um perigo latente, uma constante ameaça. A mulher romântica está sempre
desprotegida e sentimentos aflitivos lhe acometem. E o narrador se intromete mais uma vez, para
introduzir na cena Tancredo, que, apesar da distância, soube que Úrsula estava em perigo e veio
para salvá-la: “— Louvado seja o Senhor Deus! – exclamou Tancredo, a quem sem dúvida já o
benigno leitor terá reconhecido.” (REIS, 2018, p. 215, grifo meu).
Úrsula diz para Tancredo que a mãe morreu e ambos rezam por ela.

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14 – O regresso
Agora há um momento de digressão. Percebe-se então que trata-se de uma narrativa não
linear. Agora conta-se como é que Tancredo apareceu no lugar certo na hora certa
convenientemente! Parece haver forças atuando a favor do casal ao menos.
Fernando está numa caça mortal de Úrsula, com quem quer casar. Por feliz coincidência,
chega na propriedade de Luiza B., já falecida, e não encontra ninguém, só Susana, que é muito leal
e nada denuncia sobre o casal.
O narrador desenvolve mais uma reflexão sobre a escravidão:

Ainda as casas dos escravos, que outrora tinham sido de


um aspecto agradável, tapadas de barro e cobertas de
telha, hoje mal representavam esse singelo asseio de
outras eras. Já arruinadas, desmoronavam-se aqui e ali;
porque os desgraçados escravos do comendador,
espectros ambulantes, não dispunham de uma só hora no
dia, que pudessem dedicar em benefício de suas moradas;
à noite trabalhavam ordinariamente até o primeiro cantar
do galo. Esfaimados, seminus, espancados cruelmente,
suspiravam pelas duas ou três horas de sono fatigado, que
lhes concedia a dureza de seu senhor.

15 – O convento de ***
Assim como em Amor de perdição de Camilo Castelo Branco a personagem Teresa vai para
um convento, aqui o casal também vai. Porém, Úrsula não vai se tornar freira, mas sim esposa de
Tancredo. O convento serve como lugar de proteção para eles, embora seja indeterminado. Há mais
uma reflexão do narrador, agora quanto ao papel da mulher:

E a mulher cumpre na terra sua missão de amor e de paz; e depois de a ter cumprido volta ao
céu; porque ela passou no mundo à semelhança de um anjo consolador.

Esta é a mulher.

Mas aquela, cujas formas eram tão sedutoras, tão belas, aquela, cujas aparências mágicas e
arrebatadoras escondiam um coração árido de afeições puras, e desinteressadas... Oh! Essa não
compreendeu para que veio habitar entre os homens; porque a cobiça hedionda envenenou-lhe
os nobres sentimentos do coração.

O brilho do ouro deslumbrou-a, e ela vendeu seu amor ao primeiro que lho ofereceu.

Maldição!... Infâmia sobre a mulher que não compreendeu a sua honrosa missão, e trocou por
outro os sublimes afetos da sua alma. (REIS, 2018, p. 230).

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16 – O comendador Fernando P.
O comendador Fernando vai buscar um capelão que mantém por perto. Esse religioso até que
o apoiava no início, mas começa a perceber que Fernando está caminhando rumo a um destino de
virulência extrema. Fernando acha que todos são seus súditos e escravos, especialmente as
mulheres. Ninguém quer enfrentá-lo, contradizê-lo. Sem o menor pudor e necessidade, castiga os
escravos como bem lhe convém.

Nem mais o padre é seu amigo. Essa personagem vai se perdendo. Manda prender Susana e
castigá-la, mesmo ela sendo idosa. Não quer acreditar que ela não sabe onde o casal se encontra.
Tudo indica que parece que vai ter um duelo entre Fernando e Tancredo. O padre expõe sua
hipocrisia e seu falso moralismo. Apela em favor de Susana, que era inocente.

Para onde me irei de vosso espírito?


Salmo 138 E para onde fugirei de vossa face?

Poesia e oração se mesclam. A situação é de desespero total; até o padre intervém. Fernando
não abranda; é implacável e autoritário. Quer torturar Susana, quando chega um escravo com um
recado: um cavaleiro foi avistado; poderia ser o alvo. Funciona como se fosse o deus ex-machina na
tragédia grega antiga: uma salvação repentina e inesperada. Em sua mentalidade, Fernando julga-
se o verdadeiro injustiçado. O senso de justiça confunde-se com o de religião.

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17 – Túlio
Fernando representa um ódio mortal, contra tudo e todos que não compreende. Representa
a intolerância e a limitação: a incapacidade de sentir empatia por outro ser humano. Nesse sentido,
é o contrário do escravo Túlio.
Tancredo vai se casar com Úrsula no meio desse tumulto todo. Porém, assombra-o mais um
presságio: Túlio não aparece. Onde estaria?
Fernando ainda encontra-se em cólera e não partui.

18 – A dedicação
Aqui conhecemos outra personagem: o velho negro Antero, incumbido por Fernando de
vigiar Túlio. Sabemos agora o que aconteceu com ele: foi abordado por dois capangas de Fernando
e foi preso.
Porém, Túlio descobre que Antero tem vício na bebia e se disponibiliza para comprá-la para
ele. Parte-se do pressuposto de que essa seria uma reação contra as torturas da escravidão. Forja
uma cena de fuga em que faz parecer que Antero não teve culpa nenhuma, de forma a livrá-lo da
tortura de Fernando. Esse ato bondoso comprova mais uma vez sua humanidade, mesmo em
situações limítrofes.
Uma cena confusa ocorre: Tancredo e Túlio morrem. Mais uma vez Úrsula se vê com o vestido
com manchas de sangue. Cai em letargo.

19 – O despertar
Os sobreviventes daquela caçada foram Úrsula e Fernando. Fernando não se sente vingado,
porque Úrsula acorda louca, brincando com a florzinha de seu casamento, o último lembrete da vida
que tivera tido um dia.

20 – A louca
Tipicamente romântica, Úrsula enlouquece. Essa obra tem final trágico: Susana falece e é
carregada para seu enterro. O padre, em despero, roga pela piedade de Fernando, tentando
convencê-lo ainda. Dá a Fernando uma sentença que seria a salvação dos escravos: a alforria. Pois a
condenação de uns é a libertação de outros.

Vivei a vida de solitário, passai em ardente e fervorosa oração os dias e as noites.

Indenizai os vossos escravos do mal que lhes haveis feito, dando-lhes a liberdade. Esse ato de
abnegação e de caridade cristãs agradará a Deus, e então talvez na sua misericórdia infinita ele
abra para vós os tesouros da sua inefável graça. (REIS, 2018, p. 275).

EPÍLOGO
Eis que Fernando até tenta cumprir a penitência dada pelo padre. Muda de nome, chamando-
se Frei Luís de Santa Úrsula (Santa Úrsula das Colônias é a padroeira das jovens). Vai a um convento
de padres carmelitas para tentar se converter.

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Até no momento da extrema unção tem dificuldade. O padre quer perdoá-lo, lembrando-lhe
de Madalena, mas depois de ouvir seus crimes e que Fernando não se arrependera, tem dificuldades
de perdoá-lo. A obra termina de uma maneira ambígua, parecendo que Fernando não havia se
convertido de fato. Em todo caso, Úrsula sempre lhe assombra, ela que morrera mesmo. O romance
termina com a inscrição em sua lápite. Úrsula é um fantasma, mas já o era em vida, desde que
enlouquece.

Figuras de linguagem utilizadas por Maria Firmina dos Reis em Úrsula

Hipérbole: ocorre quando há o uso de uma expressão


Comparação: ocorre quando se
exagerada, claramente simbólica.
estabelece confronto entre dois
Exemplos em Úrsula: “Deixar-vos? Oh, não, mil vezes termos a partir do que eles têm de
não!” (REIS, 2018, p. 192, grifo meu). semelhante.
“em vão contra mil privações que o desgastaram e Exemplos em Úrsula: “Oh! o sol é
aniquilaram” !” (REIS, 2018, p. 240, grifo meu). como o homem maligno e perverso”
(REIS, 2018, p. 99, grifo meu).
“nesse momento extremo mil meios de seduzi-los” “Era livre como o ar, como o haviam
(REIS, 2018, p. 252, grifo meu). sido seus pais” (REIS, 2018, p. 118,
“Maldição! Mil vezes o mataria, se mil vidas o inferno grifo meu).
lhe tivesse dado”. (REIS, 2018, p. 268, grifo meu).

12 anos de escravidão (2014)


Filme baseado e umm livro com a questão escravagista nos
Estados Unidos, levando em consideração que não foi um modelo
unicamente empregado no Brasil naquela época. Solomon Northup
(Chiwetel Ejiofor) é um escravo liberto, que vive em paz ao lado da
esposa e filhos. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra
cidade, ele é sequestrado e acorrentado. Vendido como se fosse um
escravo, Solomon precisa superar humilhações físicas e emocionais para
sobreviver. Ao longo de doze anos ele passa por dois senhores, Ford e
Edwin Epps, que, cada um à sua maneira, exploram seus serviços.

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Xica da Silva (1996)


Telenovela dirigida por Walcyr Carrasco que se iniciou em 1996
e terminou em 1998. Atrevida e muito inteligente, Xica da Silva foi uma
escrava que virou rainha no século 18 no Brasil. Ela conquistou João
Fernandes, o homem mais rico e poderoso da época, e deixou de ser
escrava, escandalizando a sociedade. Há também um filme de 1976,
com Zezé Motta no papel principal de Xica (ou Chica) da Silva.

Django livre (2012)


Django é um escravo liberto cujo passado brutal com seus
antigos proprietários leva-o ao encontro do caçador de recompensas
alemão Dr. King Schultz. Schultz está em busca dos irmãos assassinos
Brittle, e somente Django pode levá-lo a eles. O pouco ortodoxo
Schultz compra Django com a promessa de libertá-lo quando tiver
capturado os irmãos Brittle, vivos ou mortos.

5 – Maria Firmina dos Reis e a Intertextualidade


Essa seção é um desdobramento da análise. Eis umas possibilidades de comparação do
romance Úrsula com outras obras, lembrando que a abordagem da literatura comparada pode ser
uma abordagem da UFRGS.
Depois das aproximações já apontadas ao longo da teoria, Úrsula dialoga com a tradição do
Romantismo e depois com o Simbolismo.

MARIA FIRMINA DOS REIS – ÚRSULA GONÇALVES DIAS – CANÇÃO DO EXÍLIO


Não permita Deus que eu morra,
Oh! Meu Deus!... Meu Deus, permiti, Senhor, que Sem que eu volte para lá;
eu me engane, e que jamais o torne a ver. Sem que desfrute os primores
Tancredo! Livrai-me desta aparição ou deste ente Que não encontro por cá;
repulsivo e ameaçador!... Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Tancredo! Onde estás a esta hora? Onde canta o Sabiá.

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Não chores, meu filho;


Silêncio, minha pobre filha! Agora escuta-me: são Não chores, que a vida
estas talvez minhas derradeiras palavras, pesa-as É luta renhida:
bem. Não chores, não, minha filha, não chores, se Viver é lutar.
queres ainda ouvir-me por um instante. Bem sei A vida é combate,
quanto te é penosa esta dura separação; mas tarde, Que os fracos abate,
ou cedo, ela devia chegar, e tu deves resignar-te, e Que os fortes, os bravos
aproveitar o tempo, que urge. Só pode exaltar. (Canção do Tamoio)

MARIA FIRMINA DOS REIS – ÚRSULA ÁLVARES DE AZEVEDO – GLÓRIA MORIBUNDA

— Oh! Senhor, por quem sois, deixai-me voltar


agora mesmo para ao pé de minha mãe! – e deu um Como canta na treva um vagabundo,
passo; mas esse passo foi vagaroso e trêmulo, e o Perdeu-se acaso no sombrio vento,
mancebo eletrizado, encantado por essa cândida Como noturna lâmpada, apagou-se?
timidez, que revelava a mais angelical pureza, E a centelha da vida, o eletrismo
correu para ela com indefinível transporte, Que as fibras tremulantes agitava
misturado de amorosa veneração (...) [fala de Morreu para animar futuras vidas?
Tancredo, sua declaração para Úrsula]

MARIA FIRMINA DOS REIS – ÚRSULA ALPHONSUS GUIMARAENS – ISMÁLIA


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
— Foge, Susana! – bradou-lhe da orla da estrada Viu uma lua no céu,
uma voz forte: ela pareceu nada ouvir, e o padre Viu outra lua no mar.
continuou:
— “Se subira ao céu, vós lá estais; se descera aos No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
infernos ali vos encontraria”.
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

6 – Quadro Sinóptico
Caros alunos.
Essa seção tem a finalidade de ajudá-los nos dias antes da prova. Trata-se de uma breve ficha
de leitura com algumas informações essenciais, dignas de serem memorizadas.

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Romance com 20 capítulos, mais dois elementos pré- e pós-textuais, um


prólogo e um epílogo. Como os capítulos são curtos, a obra se assemelha
também a uma novela. Tudo indica que a estrutura se assemelha à do
romance romântico regionalista.
• Prólogo: na Grécia antiga, a primeira parte da tragédia, na qual se fazia a
ESTRUTURA exposição do seu tema; cena inicial em que os acontecimentos se passam
muito antes da ação que se vai desenrolar (Dicionário Aulete).
• Epílogo significa remate de uma peça literária em que se faz a recapitulação
e o resumo da ação; desfecho, fecho, final; capítulo, comentário ou cena,
geralmente breve, que, no final de uma narrativa, complementando-lhe o
sentido (Dicionário Houaiss).
Úrsula, Luiza B, Tancredo, Túlio, Preta Suzana, Comendador Fernando P.,
PERSONAGENS
Paulo B., Adelaide, pai de Tancredo.
A menção direta é ao mês de agosto, citado no capítulo “Duas almas
generosas”. Porém, o tempo tende a ser indefenido, sendo que todas as
TEMPO referências são vagas: um recurso frequente usado para indeterminar as
informações são os asteriscos. Parte-se do pressuposto de que seja no século
XIX, pelos costumes românticos aludidos.
A menção direta é à cidade de São Paulo, onde Tancredo estudou Direito.
Porém, o espaço tende a ser indefinido, sendo que todas as referências são
ESPAÇO
vagas: o convento de ***, a cidade de *** etc. Assim como para o tempo, um
recurso frequente usado para indeterminar as informações são os asteriscos.
Úrsula é uma moça impecável de boa, super solícita e humilde, sem vaidade
nenhuma. Vive para cuidar da mãe doente, Luiza B. Tudo muda quando aos
CONFLITO arredores da propriedade de sua família um desconhecido se fere, caindo do
cavalo e quase morrendo. O honrado escravo Túlio o ajuda, levando-o à casa.
Úrsula ajuda a cuidar dele e naturalmente o casal acaba se apaixonando.
Não é só de Tancredo que Úrsula tem que cuidar. Sua mãe, Luiza B., é uma
mulher que há 12 anos vive doente e de cama, totalmente debilitada e
CLÍMAX
paralítica. Ela vem a falecer, mas, antes disso, Tancredo jura a ela cuidar e
proteger de Úrsula, a quem aproveita para pedir em casamento.
Não tarda na narrativa para percebermos que a obra está cheia de dramas
familiares. Luiza B. é viúva, porque seu irmão, o Comendador Fernando P.,
cruel e maldoso, era apaixonado por ela, porém nunca aceitara seu
conhecimento. Então, ele assassina o amado da irmã. No presente, descobre
DESFECHO que a sobrinha Úrsula tem um pretendente e se engendra numa caçada fatal
para atrapalhar a vida da moça. Acaba por matar Tancredo também e Úrsula
enlouquece. Ao fim, ele tenta se arrepender, indo para um convento de
carmelitas, mas seu arrependimento não parece verdadeiro. A obra termina
com a descrição da lápide de Úrsula que, depois de enlouquecer, morre.

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7 – Questões sem Comentários


Vestibulandos, eis algumas informações práticas, antes de começarem a resolver as questões.
Essa é uma aula de análise de obra literária, portanto, muito densa. Porém, é essencial
resolvermos exercícios para a sedimentação do conhecimento. Para a aula de hoje, iremos encontrar
exercícios organizados da seguinte maneira:
1) do vestibular UFRGS;
2) de outros vestibulares;
3) questões autorais.

1. (UFRGS/2019)
Considere as seguintes afirmações sobre Maria Firmina dos Reis e seu romance Úrsula.

I. O romance Úrsula foi publicado no Maranhão, em 1859, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”,
e quase não se tem notícia de sua circulação à época da publicação. Recuperado na segunda metade
do século XX, só então o livro passa a ser reeditado e minimamente debatido no meio literário.
II. Nas primeiras páginas do romance, uma voz que pode ser lida como a da autora apresenta, a
modo de prólogo, seu livro ao leitor, consciente das limitações que seriam impostas a ele por ter
sido escrito por uma mulher brasileira de educação acanhada.
III. A circulação limitada de Úrsula dá mostras de que, associados ao valor estético, fatores como
classe social, gênero e raça do escritor também participam da definição do cânone literário.

Quais estão corretas?


a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

2. (UFRGS/2019)
Sobre Úrsula, romance de Maria Firmina dos Reis, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
seguintes afirmações.

( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, jovem negra escravizada e depois
alforriada por Tancredo, senhor com quem a protagonista se casa.
( ) A linguagem apresenta variedade de registro: personagens negras comunicam-se de forma
coloquial, personagens brancas adotam a norma culta da língua.

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( ) O enredo está centrado no amor fracassado entre Úrsula e Tancredo, embora personagens
como Túlio e mãe Susana sejam cruciais para o romance, especialmente na definição de seu caráter
antiescravista.
( ) O escravocrata comendador Fernando P., antagonista de Tancredo na disputa por Úrsula,
arrepende-se de seus crimes no final da vida e, recolhido em um convento, transforma-se no frei
Luís de Santa Úrsula.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) V – F – V – F.
b) V – V – F – F.
c) F – F – V – V.
d) F – V – F – V.
e) V – V – F – V.

3. (UFRGS/2019)
No bloco superior abaixo, estão listados os títulos dos livros de Maria Firmina dos Reis e Carolina
Maria de Jesus; no inferior, trechos desses livros.

Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1. Úrsula
2. Quarto de despejo

( ) Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele
estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa arvore. O guarda civil
é branco. E há certos brancos que transforma preto em bode expiatorio. Quem sabe se guarda civil
ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?
( ) [...] dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma
escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os
bárbaros sorriam das minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei
morrer, mas não me foi possível... a sorte me reservava ainda longos combates.
( ) Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, e comida má e ainda mais água. É
horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a
consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!
( ) Ontem eu comprei açucar e bananas. Os meus filhos comeram banana com açucar, porque não
tinha gordura para fazer comida. Pensei no senhor Tomás que suicidou-se. Mas, se os pobres do
Brasil resolver suicidar-se porque estão passando fome, não ficaria nenhum vivo.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) 1 – 2 – 2 – 1.
b) 2 – 1 – 1 – 2.
c) 2 – 1 – 2 – 1.
d) 1 – 2 – 1 – 2.
e) 1 – 1 – 2 – 2.

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4. (UESPI/2010)
Úrsula, romance que aborda a questão feminina e do negro cativo, foi publicado em 1859 por Maria
Firmina dos Reis. A obra se destaca por colocar na ordem do dia questões atuais do Brasil de então.
Ainda sobre esta obra é correto afirmar que:
a) toda a obra se desenvolve a partir de um narrador na segunda pessoa.
b) o romance versa sobre a história de amor de Úrsula e o estudante de medicina Valfredo.
c) no “Prólogo” ao seu romance, a autora tece elogios à sua obra e se compara aos grandes escritores
do seu tempo.
d) a autora se vale do pseudônimo “Uma Maranhense” para assinar seu romance.
e) a autora não só assina seu nome completo, como evoca sua condição de mulher instruída e
educada na Europa.

5. (UESPI/2009)
Publicado em 1859, Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, aborda não somente a condição feminina,
mas se firma como um dos primeiros romances abolicionistas da literatura brasileira. No entanto,
para expor suas idéias de maneira mais livre, a autora piauiense faz uso de qual recurso?
a) Apresenta-se no “prólogo” da obra como uma mulher instruída, que estudou na Europa e que
domina vários idiomas.
b) Declara que pouco vale seu romance, pois fora escrito por uma mulher brasileira, de educação
acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados.
c) Usa o pseudônimo de “Uma Cearense”.
d) Assina o livro com um nome masculino, maneira encontrada de despistar a crítica da época e de
ser ouvida em suas pretensões.
e) Assina o livro com o seu próprio nome. Porém, evoca uma co-autoria masculina; um autor
chamado “Um Maranhense”.

6. (UFMA/2006)
O romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis – que, segundo Eduardo de Assis Duarte, aborda a
escravidão a partir do ponto de vista do outro – apresenta três personagens negros, dentre os quais
se destaca Mãe Susana, por representar:
a) a gratidão do escravo alforriado para com o branco libertador.
b) a ligação com a África e os ancestrais e a consciência da verdadeira liberdade.
c) a decadência moral e física provocada pela condição de escravo.
d) a voz feminina que aconselha a suportar em silêncio a condição de escravo.
e) a voz rancorosa que a identifica como representante do ódio dos quilombolas.

7. (UFMA/2006)
As obras Frei Luis de Sousa, de Almeida Garrett, e Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, são
consideradas como pertencentes a um mesmo estilo de época – o Romantismo. Embora produzidas
em países diferentes, as duas obras apresentam algumas características comuns.

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Assinale a alternativa em que o conjunto das afirmações sobre as obras acima mencionadas está
correto.

I. Valorização do elemento local e das marcas particulares de cada país, como em Úrsula.
II. Presença marcante de idéias nacionalistas, como em Frei Luís de Sousa.
III. Ênfase nos temas de cunho medieval, em Úrsula.
IV. Temática do amor como única possibilidade de realização, presente nas duas obras.
V. Escolha de personagens burgueses idealizados, como em Frei Luís de Sousa.

a) I – II – III
b) I – II – IV
c) III – IV – V
d) I – IV – V
e) II – III – IV

8. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Leia o texto abaixo, que consiste no trecho inicial de A escrava de Maria Firmina dos Reis (1822-
1917), para responder às próximas 4 questões.

Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e será sempre um grande mal. Dela a
decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não
pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado. Ele não tem futuro; o seu trabalho
não é indenizado; ainda dela nos vem o opróbrio, a vergonha; porque de fronte altiva e
desassombrada não podemos encarar as nações livres; por isso que o estigma da escravidão, pelo
cruzamento das raças, estampa-se na fronte de todos nós. Embalde procurará um dentre nós,
convencer ao estrangeiro que em suas veias não gira uma só gota de sangue escravo...
E depois, o caráter que nos imprime e nos envergonha!
O escravo é olhado por todos como vítima – e o é.
O senhor, que papel representa na opinião social?
O senhor é o verdugo – e esta qualificação é hedionda.
Eu vou narrar-vos, se me quiserdes prestar atenção, um fato que ultimamente se deu. Poderia
citar-vos uma infinidade deles; mas este basta, para provar o que acabo de dizer sobre o algoz e a
vítima.
E ela começou:
— Era uma tarde de agosto, bela como um ideal de mulher, poética como um suspiro de
virgem, melancólica e suave como sons longínquos de um alaúde misterioso.
Eu cismava, embevecida na beleza natural das alterosas palmeiras que se curvaram
gemebundas, ao sopro do vento, que gemia na costa.
E o sol, dardejando seus raios multicores, pendia para o ocaso em rápida carreira.
Não sei que sensações desconhecidas me agitavam, não sei!... Mas sentia-me com
disposições para o pranto.
REIS, Maria Firmina de. A escrava. In: Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018
(Edições Câmara; Série Prazer de Ler nº 11, e-book).

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 49


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A partir do trecho, depreende-se que a visão da escravidão é


a) melancólica, uma verdadeira imagem de declínio.
b) inaudita, pois a narradora não consegue descrevê-la em palavras.
c) deprimente, já que a narradora sofre de uma desolação amorosa.
d) extasiante, haja vista o engajamento condoreiro da narradora.
e) inadimplente, porque a paisagem descreve a cor local.

9. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


“Ele não tem futuro; o seu trabalho não é indenizado; ainda dela nos vem o opróbrio, a vergonha,
porque de fronte altiva e desassombrada não podemos encarar as nações livres; por isso que o
estigma da escravidão, pelo cruzamento das raças, estampa-se na fronte de todos nós. Embalde
procurará um dentre nós, convencer ao estrangeiro que em suas veias não gira uma só gota de
sangue escravo...”.

Os termos sublinhados podem ser substituídos por:


a) desonra | sem resultado.
b) fluência | consequentemente.
c) pessimismo | destarte.
d) glória | inutilmente.
e) merecimento | assim.

10. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


“— Era uma tarde de agosto, bela como um ideal de mulher, poética como um suspiro de virgem,
melancólica e suave como sons longínquos de um alaúde misterioso”.

O excerto destacado faz alusão a uma figura de linguagem e a uma estética literária, que
correspondem respectivamente a:
a) Metáfora | Naturalismo.
b) Comparação | Naturalismo.
c) Metáfora | Romantismo.
d) Comparação | Romantismo.
e) Metáfora | Realismo.

11. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Acerca do ponto de vista desse relato, é correto inferir que predomina a
a) 3ª pessoa, ironizando um episódio de alforria de um escravo.
b) 3ª pessoa, com foco no narrador observador e indiferente.
c) 1ª pessoa, por causa do subjetivismo exacerbado do Ultrarromantismo.
d) 1ª pessoa, mediante reunião de dados objetivos com sentimentos subjetivos.
e) 1ª pessoa, por meio da frivolidade e superficialidade das ações narradas.

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12. (11º Simulado ENEM 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Meu pai era para com ela um homem desapiedado e orgulhoso – minha mãe era uma santa
e humilde mulher.
Quantas vezes na infância, malgrado meu, testemunhei cenas dolorosas que magoavam, e de
louca prepotência, que revoltavam! E meu coração alvoroçava-se nessas ocasiões apesar das
prudentes admoestações de minha pobre mãe.
É que as lágrimas da infeliz, e os desgostos que a minavam, tocavam o fundo da minha alma.
E meu pai ressentia-se da afeição que tributava a esse ente de candura e bondade; mas foram
as suas carícias, os seus meigos conselhos, que soaram a meus ouvidos, que me entretiveram nos
primeiros anos; ao passo que o gênio rude de meu pai me amedrontava.
O desprazer de ver preferida a si a mulher que odiava, fez com que meu implacável pai me
apartasse dela seis longos anos, não me permitindo uma só visita ao ninho paterno; e minha mãe
finava-se de saudades; mas sofria a minha ausência, porque era a vontade de seu esposo. Mas eu
voltava agora para o seu amor, e seus dias vinham a ser belos e cheios de doce esperança.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula e outras obras. Brasília: Edições Câmara, 2018.

A partir da constatação de memórias da infância, a narradora chega a conclusões bem diferentes da


mãe e do pai porque
a) a mãe era mais compreensiva com a filha do que o pai, lendo para ela histórias que a marcaram.
b) a mãe e o pai entram em um jogo de flerte, pois, além da filha, desejam ter outra criança.
c) o pai é o provedor da família e, embora agressivo, leva a filha para visitar a mãe nas férias.
d) a filha espelha o comportamento da mãe, porque também admira o pai como se fosse um herói.
e) o pai assustava a filha pelo seu comportamento impulsivo com os outros, sobretudo, a mãe.

13. (8º Simulado ENEM 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Estamos em plena aurora.
Dentro em três dias via começar a história moderna do Brasil e fechar-se a triste história dos
tempos bárbaros da nossa terra.
Não é possível imaginar de um lance de pensamento o que será todo esse iluminado futuro,
não obstante o presente fornecer-nos o esboço do que ele será nos largos traços dos
acontecimentos que nos surpreendem.
O que está por trás do dia 3 de maio não cabe na previsão dos políticos e não é demasiado
otimismo profetizar que a nossa evolução nacional será feita com a mesma rapidez da dos Estados
Unidos.
As estrelas do Sul dentro em um quarto de século não invejarão o fulgor da constelação do
Norte.
PATROCÍNIO, José. Semana política. Fonte: ABL. Disponível em: https://tinyurl.com/yxfvcaqz.
Acesso em: 28 ago. 2020.

O narrador imprime ao texto um sentido estético fundamentado no princípio do(a):


a) transcendência modernista.
b) perfeccionismo parnasiano.

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c) descritivismo naturalista.
d) eloquência condoreira.
e) digressão realista.

14. (6º Provão de Bolsasa Estratégia Vestibulares 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)
Quer saber o que me move? Quer saber o que me prende?
São correntes sanguíneas, não contas correntes
Não conta com a gente pra assinar seu jornal
Vocês descobriram o Brasil, né? Conta outra, Cabral
É um país cordial, carnaval, tudo igual
Preconceito racial mais profundo que o Pré-Sal
(...)
A guerra não é santa nem aqui e nem em Jerusalém
É o Brasil da mistura, miscigenação
Quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão
Eu só peço a Deus!
Inquérito – Eu só peço a Deus.
Disponível em: https://tinyurl.com/ybg3chbq. Acesso em: 12 jun. 2020.

O eu lírico da letra de rap chama atenção para o fato de que


a) a lembrança é importante para a reconstrução de uma identidade perdida.
b) o processo escrazivador no Brasil envolveu violência e repercute ainda no presente.
c) há conhecimento interdisciplinar em relação à História, mas não à Música.
d) o lugar de fala parte da premissa religiosa, aproximando música da religião.
e) a temática da corrupção atual condiz com a segunda geração romântica.

8 – Gabarito

1. E 8. A
2. C 9. A
3. B 10. D
4. D 11. D
5. B 12. E
6. B 13. D
7. B 14. B

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9 – Questões com Comentários

1. (UFRGS/2019)
Considere as seguintes afirmações sobre Maria Firmina dos Reis e seu romance Úrsula.

I. O romance Úrsula foi publicado no Maranhão, em 1859, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”,
e quase não se tem notícia de sua circulação à época da publicação. Recuperado na segunda metade
do século XX, só então o livro passa a ser reeditado e minimamente debatido no meio literário.
II. Nas primeiras páginas do romance, uma voz que pode ser lida como a da autora apresenta, a
modo de prólogo, seu livro ao leitor, consciente das limitações que seriam impostas a ele por ter
sido escrito por uma mulher brasileira de educação acanhada.
III. A circulação limitada de Úrsula dá mostras de que, associados ao valor estético, fatores como
classe social, gênero e raça do escritor também participam da definição do cânone literário.

Quais estão corretas?


a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
Comentários
Maria Firmina dos Reis, autora de “Úrsula”, obra que esteve cem anos fora do mercado
editorial, antecipa, em nota introdutória ao romance, que seu texto conterá traços reveladores da
sua condição de mulher negra e pobre, desculpando-se por enveredar pelo caminho do intimismo,
desconhecido até aquele momento. “Úrsula” denuncia as injustiças praticadas em uma sociedade
autoritária e patriarcal revelando ao leitor sentimentos e angústias vivenciados por seus
personagens escravizados. Assim, é correta a opção [E], pois todos as proposições são corretas.
Gabarito: E.

2. (UFRGS/2019)
Sobre Úrsula, romance de Maria Firmina dos Reis, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
seguintes afirmações.

( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, jovem negra escravizada e depois
alforriada por Tancredo, senhor com quem a protagonista se casa.

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( ) A linguagem apresenta variedade de registro: personagens negras comunicam-se de forma


coloquial, personagens brancas adotam a norma culta da língua.
( ) O enredo está centrado no amor fracassado entre Úrsula e Tancredo, embora personagens
como Túlio e mãe Susana sejam cruciais para o romance, especialmente na definição de seu caráter
antiescravista.
( ) O escravocrata comendador Fernando P., antagonista de Tancredo na disputa por Úrsula,
arrepende-se de seus crimes no final da vida e, recolhido em um convento, transforma-se no frei
Luís de Santa Úrsula.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) V – F – V – F.
b) V – V – F – F.
c) F – F – V – V.
d) F – V – F – V.
e) V – V – F – V.
Comentários
As duas primeiras proposições são falsas, pois o romance “Úrsula” apresenta narrador
onisciente com uso uniforme de linguagem, ou seja, sem variedade de registro, formal ou coloquial,
em função da origem étnica dos personagens.
Como as demais são verdadeiras, é correta a opção C: F – F – V – V.
Gabarito: C.

3. (UFRGS/2019)
No bloco superior abaixo, estão listados os títulos dos livros de Maria Firmina dos Reis e Carolina
Maria de Jesus; no inferior, trechos desses livros.

Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1. Úrsula
2. Quarto de despejo

( ) Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele
estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa arvore. O guarda civil
é branco. E há certos brancos que transforma preto em bode expiatorio. Quem sabe se guarda civil
ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?
( ) [...] dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma
escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os
bárbaros sorriam das minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei
morrer, mas não me foi possível... a sorte me reservava ainda longos combates.
( ) Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, e comida má e ainda mais água. É
horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a
consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!
( ) Ontem eu comprei açucar e bananas. Os meus filhos comeram banana com açucar, porque não
tinha gordura para fazer comida. Pensei no senhor Tomás que suicidou-se. Mas, se os pobres do
Brasil resolver suicidar-se porque estão passando fome, não ficaria nenhum vivo.

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A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é


a) 1 – 2 – 2 – 1.
b) 2 – 1 – 1 – 2.
c) 2 – 1 – 2 – 1.
d) 1 – 2 – 1 – 2.
e) 1 – 1 – 2 – 2.
Comentários
O primeiro e último excertos apresentam narrativas ligadas ao tema da violência, fome e
pobreza, inerentes à situação dos negros que ainda não viram concluída a abolição da escravatura
na sociedade contemporânea, denunciadas na obra “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de
Jesus: “já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?”. O segundo e terceiro
relatam as vivências de Susana durante a sua captura em África e viagem para o Brasil em navio
negreiro, relatos que constam na obra “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis: ”dois homens
apareceram, e amarraram-me com cordas: “Era uma prisioneira – era uma escrava!”, “vimos morrer
ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água”.
Assim, é correta a opção B: 2 – 1 – 1 – 2.
Gabarito: B.

4. (UESPI/2010)
Úrsula, romance que aborda a questão feminina e do negro cativo, foi publicado em 1859 por Maria
Firmina dos Reis. A obra se destaca por colocar na ordem do dia questões atuais do Brasil de então.
Ainda sobre esta obra é correto afirmar que:
a) toda a obra se desenvolve a partir de um narrador na segunda pessoa.
b) o romance versa sobre a história de amor de Úrsula e o estudante de medicina Valfredo.
c) no “Prólogo” ao seu romance, a autora tece elogios à sua obra e se compara aos grandes escritores
do seu tempo.
d) a autora se vale do pseudônimo “Uma Maranhense” para assinar seu romance.
e) a autora não só assina seu nome completo, como evoca sua condição de mulher instruída e
educada na Europa.
Comentários
Alternativa A: incorreta. A narração do livro é realizada em terceira pessoa.
Alternativa B: incorreta. Na obra, há o desenrolar do trágico romance entre Úrsula e o jovem
bacharel bem-sucedido Tancredo.
Alternativa C: incorreta. No “prólogo”, a autora apresenta seu romance como “mesquinho e
humilde livro”, além de salientar a provável maneira de recepção de sua obra: “sei que pouco vale
este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira”.
Alternativa D: correta. O manuscrito original, de fato, foi publicado de modo genérico, sob a
assinatura de “Uma Maranhense”.
Alternativa E: incorreta. A autora, também no prólogo, salienta que não frequentava os
grandes espaços intelectuais do período, pontuando o que denomina de “educação acanhada”.
Gabarito: D.

5. (UESPI/2009)

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Publicado em 1859, Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, aborda não somente a condição feminina,
mas se firma como um dos primeiros romances abolicionistas da literatura brasileira. No entanto,
para expor suas idéias de maneira mais livre, a autora piauiense faz uso de qual recurso?
a) Apresenta-se no “prólogo” da obra como uma mulher instruída, que estudou na Europa e que
domina vários idiomas.
b) Declara que pouco vale seu romance, pois fora escrito por uma mulher brasileira, de educação
acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados.
c) Usa o pseudônimo de “Uma Cearense”.
d) Assina o livro com um nome masculino, maneira encontrada de despistar a crítica da época e de
ser ouvida em suas pretensões.
e) Assina o livro com o seu próprio nome. Porém, evoca uma co-autoria masculina; um autor
chamado “Um Maranhense”.
Comentários
Alternativa A: incorreta. No prólogo, a autora expõe sua condição de mulher, brasileira, com
uma formação “acanhada” e distante dos renomados centros intelectuais.
Alternativa B: correta. O prólogo do livro amplia a possibilidade de compreensão da expressão
“Uma Maranhense” ao tratar da força dessa mulher que decide ocupar um lugar que, a princípio,
não seria para ela.
Alternativa C: incorreta. O livro é assinado com o pseudônimo “Uma Maranhense”.
Alternativa D: incorreta. Apesar de não revelar seu nome, a autora enfatiza sua condição de
mulher escritora.
Alternativa E: incorreta. A autora utiliza o recurso do pseudônimo, ou seja, uma expressão
que oculta a verdadeira identidade do autor, sem deixar, nesse caso, de carregar a evidência de
autoria feminina.
Gabarito: B.

6. (UFMA/2006)
O romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis – que, segundo Eduardo de Assis Duarte, aborda a
escravidão a partir do ponto de vista do outro – apresenta três personagens negros, dentre os quais
se destaca Mãe Susana, por representar:
a) a gratidão do escravo alforriado para com o branco libertador.
b) a ligação com a África e os ancestrais e a consciência da verdadeira liberdade.
c) a decadência moral e física provocada pela condição de escravo.
d) a voz feminina que aconselha a suportar em silêncio a condição de escravo.
e) a voz rancorosa que a identifica como representante do ódio dos quilombolas.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Na fala da personagem Susana, encontra-se a crítica direcionada às
várias formas de escravidão a que a mulher negra é submetida.
Alternativa B: correta. Susana mantém viva as memórias de sua terra, assim como o carinho
pelos entes amados. As narrativas são permeadas pela consciência de sua condição que contrasta
com a liberdade interior.
Alternativa C: incorreta. Mãe Susana ganha carta de alforria como forma de reconhecimento
de seus serviços prestados que refletem a manutenção de valores inegociáveis.
Alternativa D: incorreta. A voz feminina de Susana se transforma em resistência ao não
permitir que a história e a memória de seu povo sejam esquecidas.

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Alternativa E: incorreta. A firmeza de Susana em seu propósito diante da vida inclui a


serenidade para enfrentar as dificuldades.
Gabarito: B.

7. (UFMA/2006)
As obras Frei Luis de Sousa, de Almeida Garrett, e Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, são
consideradas como pertencentes a um mesmo estilo de época – o Romantismo. Embora produzidas
em países diferentes, as duas obras apresentam algumas características comuns.

Assinale a alternativa em que o conjunto das afirmações sobre as obras acima mencionadas está
correto.

I. Valorização do elemento local e das marcas particulares de cada país, como em Úrsula.
II. Presença marcante de idéias nacionalistas, como em Frei Luís de Sousa.
III. Ênfase nos temas de cunho medieval, em Úrsula.
IV. Temática do amor como única possibilidade de realização, presente nas duas obras.
V. Escolha de personagens burgueses idealizados, como em Frei Luís de Sousa.

a) I – II – III
b) I – II – IV
c) III – IV – V
d) I – IV – V
e) II – III – IV
Comentários
Afirmativa I: correta. As obras abordam de modo específico dramas sociais vivenciados em
cada país.
Afirmativa II: correta. Os sentimentos de amor à pátria, na obra portuguesa, reforçam a forte
presença dos temas pátrios, ilustrados por uma história do passado que indica um olhar crítico ao
presente.
Afirmativa III: incorreta. Em Úrsula, temos aspectos do amor romântico, como a
impossibilidade da realização amorosa e a idealização do ser amado.
Afirmativa IV: correta. A temática do amor, nas obras, expressa a liberdade almejada por seus
protagonistas, interditada pelas barreiras sociais de diferentes ordens.
Afirmativa V: incorreta. Em Frei Luís de Sousa, as personagens são marcadas pela densidade
psicológica e suas instabilidades que coincidem com as incertezas da história portuguesa.

Almeida Garrett

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O escritor Almeida Garrett (1799-1854) já era


conhecido quando saiu de Portugal. Em 1820, participou
de acontecimentos políticos, e sua produção escrita da
época foi reconhecida em países onde o Romantismo seria
muito forte, como França, Inglaterra e Alemanha.
Sua obra Camões (1825) é considerada o início do
Romantismo em Portugal, mas ainda está ligado às
tradições clássicas e fala sobre a vida do bardo.
Era preocupado e engajado politicamente. Na área
do teatro, procurou reconstruir o teatro português, no
sentido de resgatar o espírito de nacionalidade lusitano.
Depois de 2 casamentos, retoma a poesia lírica em
Flores sem fruto (1845) e Folhas caídas (1853), num tipo
de poesia confessional.

Frei Luís de Sousa (1844)

ESTRUTURA Peça em 3 atos.


Madalena, João de Portugal, Manuel de Sousa Coutinho, Maria de Noronha,
PERSONAGENS
Teimo Paes.
De 21 anos, desde a batalha de Alcácer-Quibir em 1578 até o presente de
TEMPO
1599.
O palácio de Manuel de Sousa Coutinho (ato I), palácio de D. João de Portugal
ESPAÇO
(ato II) e a capela e parte baixa do palácio (ato III).
Frei Luís de Sousa (1556-1632) foi um personagem real, um escritor
português, cujo nome a peça quer relembrar. A fidalga Madalena é casada
ENREDO com João de Portugal, dado como morto na batalha histórica de Alcácer-
Quibir. Viúva, ela se casa com Manuel de Sousa Coutinho, nobre por quem ela
já se apaixonara ainda casada, de cuja união nasce Maria de Noronha.
Madalena atormentava-se constantemente com a possibilidade de o primeiro
CONFLITO marido ainda estar vivo e retomar da guerra, temor alimentado por Teimo
Paes. De fato, ele retorna depois de 20 anos.
O retorno dele causa aflição nas personagens. Para expiar o pecado da culpa,
CLÍMAX
Manuel Coutinho e Madalena resolvem assumir o hábito religioso.
Manuel Coutinho torna-se Frei Luís de Sousa. A filha Madalena morre de
DESFECHO
desespero aos pés do pai.

Gabarito: B.

8. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Leia o texto abaixo, que consiste no trecho inicial de A escrava de Maria Firmina dos Reis (1822-
1917), para responder às próximas 4 questões.

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Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e será sempre um grande mal. Dela a
decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não
pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado. Ele não tem futuro; o seu trabalho
não é indenizado; ainda dela nos vem o opróbrio, a vergonha; porque de fronte altiva e
desassombrada não podemos encarar as nações livres; por isso que o estigma da escravidão, pelo
cruzamento das raças, estampa-se na fronte de todos nós. Embalde procurará um dentre nós,
convencer ao estrangeiro que em suas veias não gira uma só gota de sangue escravo...
E depois, o caráter que nos imprime e nos envergonha!
O escravo é olhado por todos como vítima – e o é.
O senhor, que papel representa na opinião social?
O senhor é o verdugo – e esta qualificação é hedionda.
Eu vou narrar-vos, se me quiserdes prestar atenção, um fato que ultimamente se deu. Poderia
citar-vos uma infinidade deles; mas este basta, para provar o que acabo de dizer sobre o algoz e a
vítima.
E ela começou:
— Era uma tarde de agosto, bela como um ideal de mulher, poética como um suspiro de
virgem, melancólica e suave como sons longínquos de um alaúde misterioso.
Eu cismava, embevecida na beleza natural das alterosas palmeiras que se curvaram
gemebundas, ao sopro do vento, que gemia na costa.
E o sol, dardejando seus raios multicores, pendia para o ocaso em rápida carreira.
Não sei que sensações desconhecidas me agitavam, não sei!... Mas sentia-me com
disposições para o pranto.
REIS, Maria Firmina de. A escrava. In: Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018
(Edições Câmara; Série Prazer de Ler nº 11, e-book).

A partir do trecho, depreende-se que a visão da escravidão é


a) melancólica, uma verdadeira imagem de declínio.
b) inaudita, pois a narradora não consegue descrevê-la em palavras.
c) deprimente, já que a narradora sofre de uma desolação amorosa.
d) extasiante, haja vista o engajamento condoreiro da narradora.
e) inadimplente, porque a paisagem descreve a cor local.
Comentários
Cuidado: questão que mistura Interpretação de Texto com Semântica.
Alternativa A: correta – gabarito. Não só a primeira parte do relato, mais teórica, condiz com
a alternativa, como também a segunda parte, mais poética, lírica, descrevendo a paisagem. Tudo
soa melancolia, tormento, decadência.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, a narradora escreve bem em palavras tanto o que
pensa quanto o que sente.
Alternativa C: incorreta. Embora esse seja um tema comum ao movimento literário do
Romantismo, de que a autora faz parte, não há dados suficientes para se afirmar isso.
Alternativa D: incorreta. O Condoreirismo prevaleceu na poesia, não na prosa. Não há dados
suficientes no texto para se afirmar com certeza se a narradora é abolicionista ativa, apesar de que
ela condene claramente a escravidão.

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 59


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Alternativa E: incorreta. “Inadimplente” significa que não cumpre contrato; que não liquida
ou ainda não liquidou os encargos financeiros de um contrato (dicionário Aulete). A cor local diz
respeito ao regionalismo.
Gabarito: A.

9. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


“Ele não tem futuro; o seu trabalho não é indenizado; ainda dela nos vem o opróbrio, a vergonha,
porque de fronte altiva e desassombrada não podemos encarar as nações livres; por isso que o
estigma da escravidão, pelo cruzamento das raças, estampa-se na fronte de todos nós. Embalde
procurará um dentre nós, convencer ao estrangeiro que em suas veias não gira uma só gota de
sangue escravo...”.

Os termos sublinhados podem ser substituídos por:


a) desonra | sem resultado.
b) fluência | consequentemente.
c) pessimismo | destarte.
d) glória | inutilmente.
e) merecimento | assim.
Comentários
Agora questão puramente de Semântica. Por se tratar de vocabulário do século XIX, há uso
de termos mais frequentes à época. Porém, o vocabulário também poderia ser inferido por meio da
Interpretação de Texto, pois “opróbio” é relativo a algo ruim e “embalde” é um conectivo.
Alternativa A: correta – gabarito. Opróbio é uma afronta vergonhosa, ignomínia profunda
(dicionário Aulete); ao passo que o conectivo “embalde” é sinônimo de “debalde”, um advérbio que
significa sem resultados, inutilmente.
Alternativa B: incorreta. Nenhum dos dois se aplica.
Alternativa C: incorreta. Embora o primeiro termo transmita uma ideia negativa, “opróbio”
veicula uma ideia ainda mais grave, como se fosse uma mácula. Além disso, “destarte” significa
assim, consequentemente.
Alternativa D: incorreta. O segundo termo até poderia ser, mas o primeiro teria que ser
negativo.
Alternativa E: incorreta. Nenhum dos dois se aplica.
Gabarito: A.

10. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


“— Era uma tarde de agosto, bela como um ideal de mulher, poética como um suspiro de virgem,
melancólica e suave como sons longínquos de um alaúde misterioso”.

O excerto destacado faz alusão a uma figura de linguagem e a uma estética literária, que
correspondem respectivamente a:
a) Metáfora | Naturalismo.
b) Comparação | Naturalismo.
c) Metáfora | Romantismo.
d) Comparação | Romantismo.
e) Metáfora | Realismo.

Aula 02: Úrsula – Maria Firmina dos Reis 60


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Comentários
Alternativa A: incorreta. Nenhum dos dois se aplica.
Alternativa B: incorreta. O primeiro termo está certo, mas o segundo não. É Romantismo, e
não Naturalismo. No Naturalismo, a mulher é rebaixada às suas condições biológicas, fisiológicas.
Basta nos lembrarmos de Pombinha em O cortiço de Aluísio de Azevedo.
Alternativa C: incorreta. O segundo termo está certo, mas o primeiro não. É comparação e
não metáfora.
Alternativa D: correta – gabarito. A presença do conectivo “como” faz com que a figura de
linguagem seja a comparação, uma espécie de equiparação. Já a representação da mulher como
ideal remete-se à estética do Romantismo, movimento literário ao qual pertenceu inclusive Maria
Firmina dos Reis.
Alternativa E: incorreta. A visão da mulher no Realismo não é idealizada. Nesse movimento,
são destacados os dramas familiares e a decadência de instituições familiares, como a ênfase no
adultério.
Gabarito: D.

11. (3º Simulado UNESP 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Acerca do ponto de vista desse relato, é correto inferir que predomina a
a) 3ª pessoa, ironizando um episódio de alforria de um escravo.
b) 3ª pessoa, com foco no narrador observador e indiferente.
c) 1ª pessoa, por causa do subjetivismo exacerbado do Ultrarromantismo.
d) 1ª pessoa, mediante reunião de dados objetivos com sentimentos subjetivos.
e) 1ª pessoa, por meio da frivolidade e superficialidade das ações narradas.
Comentários
Alternativa A: incorreta. A imagem pintada da escravidão é a de pessimismo, não de
esperança. O relato é de uma história de algoz (carrasco) contra escravo (vítima).
Alternativa B: incorreta. Não há indiferença, mas, sim, certa intromissão da narradora ao dar
suas opiniões.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: o Ultrarromantismo é a 2ª geração da lírica (poesia)
romântica; a prosa se dividiu de outra maneira, em romances: regionais, urbanos, indianistas e
históricos.
Alternativa D: correta – gabarito. Primeiramente, o fato histórico da escravidão é comentado
e depois a descrição de um episódio que a própria narradora vivenciou. Há mistura de vozes
narrativas: “Eu vou narrar-vos” (1ª pessoa do singular) e “E ela começou” (3ª pessoa do singular),
mas, ainda assim, o que predomina é o tom subjetivo, evidenciado, entre outros recursos, a
adjetivação.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário, a narradora não se revela uma alienada, mas, sim,
consciente.
Gabarito: D.

12. (11º Simulado ENEM 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Meu pai era para com ela um homem desapiedado e orgulhoso – minha mãe era uma santa
e humilde mulher.

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Quantas vezes na infância, malgrado meu, testemunhei cenas dolorosas que magoavam, e de
louca prepotência, que revoltavam! E meu coração alvoroçava-se nessas ocasiões apesar das
prudentes admoestações de minha pobre mãe.
É que as lágrimas da infeliz, e os desgostos que a minavam, tocavam o fundo da minha alma.
E meu pai ressentia-se da afeição que tributava a esse ente de candura e bondade; mas foram
as suas carícias, os seus meigos conselhos, que soaram a meus ouvidos, que me entretiveram nos
primeiros anos; ao passo que o gênio rude de meu pai me amedrontava.
O desprazer de ver preferida a si a mulher que odiava, fez com que meu implacável pai me
apartasse dela seis longos anos, não me permitindo uma só visita ao ninho paterno; e minha mãe
finava-se de saudades; mas sofria a minha ausência, porque era a vontade de seu esposo. Mas eu
voltava agora para o seu amor, e seus dias vinham a ser belos e cheios de doce esperança.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula e outras obras. Brasília: Edições Câmara, 2018.

A partir da constatação de memórias da infância, a narradora chega a conclusões bem diferentes da


mãe e do pai porque
a) a mãe era mais compreensiva com o filho do que o pai, lendo para ela histórias que o marcaram.
b) a mãe e o pai entram em um jogo de flerte, pois, além do filho, desejam ter outra criança.
c) o pai é o provedor da família e, embora agressivo, leva o filho para visitar a mãe nas férias.
d) o filho espelha o comportamento da mãe, porque também admira o pai como se fosse um herói.
e) o pai assustava a filha pelo seu comportamento impulsivo com os outros, sobretudo, a mãe.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Nem sempre era compreensiva; ora repreendia (admoestava) o filha.
Tampouco lia histórias para ele; eram outros aspectos dele que encantavam o filho: “as suas carícias,
os seus meigos conselhos”.
Alternativa B: incorreta. Não se amam; pelo contrário, o pai é inflexível e não manifesta
sentimento caridoso com a família.
Alternativa C: incorreta. Infere-se que ele é o provedor pelo controle que assume na casa,
inclusive, estabelecendo pressão psicológica. Porém, não é benevolente e afastam mãe e filho.
Alternativa D: incorreta. O filho teme o pai; inclusive, sente rancor dele por tê-lo separado da
mãe.
Alternativa E: correta – gabarito. Parte-se do pressuposto de que o casal não vivia uma vida
feliz. A mãe não revelava tudo ao filho e o repreendia (admoestava) quando ele tentava intervir. No
fundo, não queria abalar a estrutura familiar.
Gabarito: E.

13. (8º Simulado ENEM 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)


Estamos em plena aurora.
Dentro em três dias via começar a história moderna do Brasil e fechar-se a triste história dos
tempos bárbaros da nossa terra.
Não é possível imaginar de um lance de pensamento o que será todo esse iluminado futuro,
não obstante o presente fornecer-nos o esboço do que ele será nos largos traços dos
acontecimentos que nos surpreendem.
O que está por trás do dia 3 de maio não cabe na previsão dos políticos e não é demasiado
otimismo profetizar que a nossa evolução nacional será feita com a mesma rapidez da dos Estados
Unidos.

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As estrelas do Sul dentro em um quarto de século não invejarão o fulgor da constelação do


Norte.
PATROCÍNIO, José. Semana política. Fonte: ABL. Disponível em: https://tinyurl.com/yxfvcaqz.
Acesso em: 28 ago. 2020.

O narrador imprime ao texto um sentido estético fundamentado no princípio do(a):


a) transcendência modernista.
b) perfeccionismo parnasiano.
c) descritivismo naturalista.
d) eloquência condoreira.
e) digressão realista.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Transcendência ligada ao misticismo geralmente é uma característica
presente em textos simbolistas ou românticos da primeira geração lírica.
Alternativa B: incorreta. Atenção: o Parnasianismo foi um movimento tipicamente poético e
não prosaico.
Alternativa C: incorreta. Há adjetivação como em “iluminado futuro” e “largos traços dos
acontecimentos”, mas isso condiz com a eloquência condoreira.
Alternativa D: correta – gabarito. Texto ligado ao movimento abolicionista.
Alternativa E: incorreta. O texto não faz rodeios, mas sim estabelece uma comparação entre
Norte e Sul.
Gabarito: D.

14. (6º Provão de Bolsasa Estratégia Vestibulares 2020/Questão Autoral – Luana Signorelli)
Quer saber o que me move? Quer saber o que me prende?
São correntes sanguíneas, não contas correntes
Não conta com a gente pra assinar seu jornal
Vocês descobriram o Brasil, né? Conta outra, Cabral
É um país cordial, carnaval, tudo igual
Preconceito racial mais profundo que o Pré-Sal
(...)
A guerra não é santa nem aqui e nem em Jerusalém
É o Brasil da mistura, miscigenação
Quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão
Eu só peço a Deus!
Inquérito – Eu só peço a Deus.
Disponível em: https://tinyurl.com/ybg3chbq. Acesso em: 12 jun. 2020.

O eu lírico da letra de rap chama atenção para o fato de que


a) a lembrança é importante para a reconstrução de uma identidade perdida.
b) o processo escrazivador no Brasil envolveu violência e repercute ainda no presente.
c) há conhecimento interdisciplinar em relação à História, mas não à Música.
d) o lugar de fala parte da premissa religiosa, aproximando música da religião.
e) a temática da corrupção atual condiz com a segunda geração romântica.
Comentários

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Alternativa A: incorreta. Não é como se essa identidade fosse perdida ou mesmo


reconstruída. A princípio, ela deve ser construída em primeiro lugar.
Alternativa B: correta – gabarito. A metáfora de “ter sangue de preto na mão” se remete à
violência do processo de escravização, ao mesmo tempo que “ter sangue de preto na veia” busca
representar uma identidade.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário, primeiramente, porque a poesia é uma letra de
música e, em segundo lugar, porque se parte de um subentendido que há intertextualidade com
versos da MPB: “Eu só peço a Deus /Um pouco de malandragem /Pois sou criança /E não conheço a
verdade.” Provavelmente, o objetivo é evocar uma música popularmente conhecida.
Alternativa D: incorreta. O título da música ecoa a música “Malandragem” da cantora Cássia
Eller, mais do que com a religiosidade propriamente dita.
Alternativa E: incorreta. Rap é uma forma de expressão que se enquadra na Literatura
Brasileira Contemporânea. Se condissesse com alguma geração romântica, seria a terceira, a
condoreira. Além disso, a mera alusão ao Pré-Sal não configura como crítica à corrupção, mas sim
ao preconceito estrutural.
Gabarito: B.

10 – Referências Bibliográficas
ALENCAR, José de. O Guarani. Disponível em: https://tinyurl.com/yy73z74g. Acesso em: 11 dez.
2020.
______. Senhora. Disponível em: https://tinyurl.com/s3dz8hn. Acesso em: 11 dez. 2020.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em:
https://tinyurl.com/6dhzxre. Acesso em: Acesso em: 11 dez. 2020.
BRANCO, Camilo Castelo de. Amor de salvação. Disponível em: https://tinyurl.com/y5x47zmx.
Acesso em: 11 dez. 2020.
______. Amor de perdição. Disponível em: https://tinyurl.com/y4f2o263. Acesso em: 11 dez. 2020.
DICIONÁRIO Aulete. Versão Digital. Disponível em: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 04 jul.
2020.
DICIONÁRIO Houaiss. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
CEREJA; William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. 4. ed. São Paulo:
Atual, 2004 (v. 1).
FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.
IMDB. Disponível em: https://www.imdb.com/. Acesso em: 24 jul. 2019.
MACEDO, Joaquim Manuel de. A moreninha. Disponível em: https://tinyurl.com/qqycp5v. Acesso
em: 11 dez. 2020.
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letra, 2010.
NABUCO, Joaquim. Essencial. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [Kindle, p. 27].
PATROCÍNIO, José. Semana política. Fonte: ABL. Disponível em: https://tinyurl.com/yxfvcaqz.
Acesso em: 28 ago. 2020.

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Aula 02: Obras Literárias para UFRGS 2021

REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Porto Alegre, RS: Zouk, 2018.
______. Úrsula. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018. (Série prazer de ler; n. 11 e-
book).
UFRGS – LEITURAS OBRIGATÓRIAS 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/y8gwvwav. Acesso em:
28 jun. 2020.
GOETHE, Johann Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther. Porto Alegre: L&M Pocket, 2001, p.
12-13.

11 – Considerações Finais

Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais e possíveis dúvidas.


Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas,
assim como podem me encontrar em redes sociais. E agora temos também a Sala VIP.

Versão Data Modificações


1 11/12/2020 Primeira versão do texto.
2 12/12/2020 Correção no gabarito.

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana


@luana.signorelli
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