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Sumário
Introdução ..................................................................................................................... 4
1 – Contextualização ...................................................................................................... 5
1.1 – Em Portugal.......................................................................................................................... 5
1.2 – No Brasil ............................................................................................................................... 6
1.3 – Na França ............................................................................................................................. 7
1.4 – O Simbolismo ....................................................................................................................... 8
2 – Florbela Espanca ....................................................................................................... 9
2.1 – Florbela Espanca na UFRGS e nos Vestibulares ................................................................... 11
3 – Pré-Leitura ..............................................................................................................13
3.1 – Figuras de Palavra .............................................................................................................. 15
3.2 – Figuras de Sintaxe .............................................................................................................. 16
3.3 – Figuras de Pensamento ...................................................................................................... 18
3.3 – Figuras de Som ................................................................................................................... 19
4 – Resumo Analítico dos Poemas..................................................................................20
4.1 – "Fanatismo" ....................................................................................................................... 21
4.2 – "Horas Rubras" ................................................................................................................... 25
4.3 – "Eu" - Livro de Mágoas ....................................................................................................... 28
4.3.1 – "Eu" - Charneca em Flor ............................................................................................... 32
4.4 – "Vaidade" ........................................................................................................................... 33
4.5 – "Lágrimas Ocultas" ............................................................................................................. 36
4.6 – "A Minha Dor" .................................................................................................................... 39
4.7 – "Suavidade"........................................................................................................................ 42
4.8 – "Se Tu Viesses Ver-Me"....................................................................................................... 44
4.9 – "Ser Poeta" ......................................................................................................................... 47
4.10 – "Fumo" ............................................................................................................................. 50
4.11 – "Frêmito do Meu Corpo"................................................................................................... 53
4.12 – "Realidade" ...................................................................................................................... 55
4.13 – "Súplica" ........................................................................................................................... 58
4.14 – "Doce Certeza" ................................................................................................................. 60
4.15 – "Quem Sabe?!..." .............................................................................................................. 62
Luana Signorelli
Introdução
Olá, vestibulandos.
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e
Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e
Doutoranda em Teoria e História Literária pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Tenho 10 anos de
experiência com revisão e padronização textual e 9 anos em
cursinho pré-vestibular, tendo passado por instituições
conhecidas e renomadas.
Vamos iniciar nossa programação de estudo de Obras
Literárias para UFRGS 2021. Lembrem-se sempre de nosso
lema:
AULA 2 –Análise de obra da leitura obrigatória: Úrsula – Resumo, análise, crítica, exercícios.
Maria Firmina dos Reis.
Logo, segundo o nosso cronograma de aulas, o espaço da aula de hoje será dedicado para
estudar os Poemas Selecionados de Florbela Espanca. São 23 ao total. Eu irei organizar a aula da
seguinte maneira:
• Pré-aula: contextualização do período e do movimento literário do Simbolismo;
• Análise: Poemas (resumo e análise dos poemas selecioandos); análise de alguns outros
poemas importantes com temática condizente; fortuna crítica e intertextualidade.
• Pós-aula: quadro sinóptico, questões sem e com comentários.
O quadro sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco
antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com muita informação.
A aula de Florbela Espanca é exigente, pois envolve vários temas. Nessa aula em particular,
gostaria de agradecer aos seguintes professores: Marco Túlio, Alessandra Lopes, Bruna Klassa e
Guilherme Alves e Priscila Lima. Obrigada pelas explicações, cada um da sua área, e por me ajudarem
a deixar o material mais interdisciplinar.
Então, vamos lá, não percamos tempo!
1 – Contextualização
Para quem viveu a virada do século XX para o XXI sabe que geralmente nessas ocasiões da
humanidade predominam dois sentimentos contraditórios: ou um completo êxtase, uma alegria,
uma emoção por estar presenciando um fato histórico ou um medo diante do desconhecido. Era
mais ou menos assim que também se sentiam as pessoas na virada do século XIX para o XX.
Nesse período, houve uma determinada forma de expressão no plano artístico. Em termos
de estilo, segue a tradição do le fin de siècle (o fim de século) e da la décadence (a decadência),
movimentos originalmente franceses que pretendiam representar a onda de pessimismo, declínio e
a atmosfera sufocante dessa época. Romances que são exemplos disso são Madame Bovary (1856)
do francês Gustave Flaubert e Anna Kariênina (1877) do russo Tolstói, obras que anteviram e
anteciparam essa temática. E ainda Os Buddenbrooks (1901), do alemão Thomas Mann, traz temas
semelhantes acerca da falência de uma família. Logo, a tendência se propagou e esses movimentos
não se restringiram localmente, mas sim se generalizaram. Eles foram se alastrando até chegar em
Portugal, e foi nesse contexto que se insere a poetisa Florbela Espanca.
Entre os artistas dessa geração, prevaleciam os seguintes aspectos:
➢ Pessimismo diante de tantas teorias científicas do século XIX que tanto prometiam, mas que
só acabaram acentuando problemas, como a desigualdade, por exemplo;
➢ O movimento literário do Simbolismo surgiu como uma reação ao materialismo e à
racionalidade do século XIX;
➢ Havia uma parte dos jovens que adotou uma postura revolucionária e rebelde. Reivindicavam
basicamente a queda de regimes monárquicos e proclamavam o republicanismo;
➢ Porém, muitos sofriam de desânimo e tédio para com a vida burguesa. Muitos desses artistas
procuravam negar a própria classe e até a vida, com isso procurando saídas como fuga da
realidade; uso (mais ou menos) exagerado de drogas e apelavam até mesmo para o suicídio.
1.1 – Em Portugal
Infográfico:
1908 1910 1917 1930 1961 1974
Showeet.
Revolução
Proclamação da República Ditadura Militar
dos cravos
Em 5 de outubro de 1910, a República é Golpe nacionalista e antiparlamentar Em 25 de abril de
implementada. Foi organizada pelo contra a Primeira República. O 1o 1974, o regime
Partido Republicano Português. Depôs presidente foi General Carmona. salazarista é deposto.
a Monarquia Constitucional.
1.2 – No Brasil
Cruz e Sousa (1861-1898) foi o poeta simbolista brasileiro mais
conhecido, tendo se tornado popular no mundo todo. É considerado
um dos primeiros escritores negros brasileiros, tendo sido chamado
de Cisne Negro. Ele era filho de escravos forros.
Ao longo da vida, ele combateu o preconceito racial e militou pelo
fim da escravidão. Assim, a condição do negro na época era um de seus
temas de interesse na literatura. Ele também produz muitas obras
retratando sofrimento e dor, com uma fixação na ideia de morte.
Obras principais: Broquéis (1893) e Missal (1893).
1.3 – Na França
Charles Baudelaire (1821-1867) foi um célebre poeta francês.
Morreu aos 46 anos de idade. Teve uma vida desregrada desde
criança. Foi expulso do colégio, fez uma expedição à Índia, retorna
à França onde vive em completa boemia com o colega Jeanne
Duval. Principais obras: Flores do mal (1857); Paraísos artificiais
(1860) e O Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa (1869). O
spleen definia o estado de melancolia. Era reconhecido como um
dândi pelo seu requinte.
1.4 – O Simbolismo
Não-racionalidade
• Numa espécie de resgate dos valores românticos caídos em desuso, os simbolistas buscam
se afastar da abordagem racional da realidade e buscam observá-la de maneira mais
sensível.
• Antimaterialismo.
Pessimismo
• Os poetas simbolistas não se sentem confortáveis num mundo que valoriza a
racionalidade. Assim, eles têm uma visão soturna do cotidiano.
Subjetividade
• Interesse pelas noções de inconsciente e pela investigação da mente humana,
tangenciando assuntos como a loucura e o subconsciente.
• O tema do sonho é muito frequente no simbolismo, normalmente referido pela palavra
onírico.
2 – Florbela Espanca
Dúvidas de Química?
O professor Guilherme Alves responde
Barbitúricos é um grupo de moléculas, compostos, que são
usados como sedativos e hipnóticos. O Veronal foi o
primeiro barbitúrico comercial, utilizado como remédio
receitável. Para Florbela Espanca ter se suicidado por essa
via, ela fez uso indiscriminado desse remédio, que é da
classe dos barbitúricos.
Ela era afastada das grandes capitais e não participou do movimento modernista. A
pesquisadora Renata Junqueira destaca que talvez o maior experimentalismo de Florbela Espanca
tenha sido a criação de uma teatralidade, uma criação de uma persona fictícia que predomina em
seus poemas e que acaba por lhe conferir uma aura mítica.
Algo importante de destacar na biografia de Florbela Espanca são suas escolhas literárias. Ela
escreveu predominantemente sonetos, porém, escreveu também outros gêneros como quadras,
quintilhas e também cartas. A opção pelos sonetos tornaram possível uma aproximação com o
movimento literário do Parnasianismo, afinal, contemporâneo a ela. Porém, iremos estudar melhor
na análise que Florbela Espanca na verdade encarna uma mistura de tendências. Por exemplo, as
quadras e quintilhas a aproximam de um gosto popular comum na Idade Média, sobretudo nas
cantigas de amor do Trovadorismo. Então, vemos uma poetisa que ao mesmo tempo consegue
sintetizar o popular e o erudito.
Florbela Espanca se suicida na noite de 7 de dezembro de 1930
com uma overdose do calmante Veronal. Lembrando que vários
Fonte: Shutterstock.
poetas malditos tiveram vida curta. Para tal, não custa nada lembrar a
campanha Setembro Amarelo: mês de prevenção ao suicídio e
também que existe um apoio no número 188 – Centro de Valorização
da Vida.
Florbela Espanca integra o cânone literário português e foi
reconhecida postumamente. Alguns artistas prestaram homenagem a
ela inclusive literariamente. Para ficar em apenas alguns exemplos:
➢ Agustina Bessa-Luís – A vida e a obra de Florbela Espanca. Biografia/ficção (1979).
➢ Adília Lopes – Florbela Espanca espanca. Poemas (1999).
Abaixo encontramos o resumo de suas principais obras.
Eis na tabela abaixo como a poetisa Florbela Espanca caiu nos vestibulares.
Vimos acima o histórico de cobrança da poetisa. Essas questões estarão no nosso material,
com exceção da questão sobre gramática. Além do mais, vamos ajudá-lo ao máximo em nossas
análises, inclusive, com questões autorais. Abaixo vocês encontram se separam os 22 poemas
cobrados pela UFRGS 2021. Eram exatamente os mesmos cobrados para o vestibular UFRGS 2020.
Trocando Olhares
• 3 poemas: "A Mulher I"; "A Mulher II" e "Súplica" (embora ela tenha 3 poemas com esse título;
estando 2 deles em Trocando Olhares e 1 em O Livro D'Ele. Porém, a UFRGS especificou.
O Livro D'Ele
• 2 poemas: "Doce Certeza" e"Quem Sabe!?...", embora haja um poema chamado "Quem Sabe?..."
apenas com a interrogação em Charneca em Flor.
Livro de Mágoas
• 6 poemas: "Vaidade"; "Lágrimas Ocultas"; "A Minha Dor"; "Amiga"; "Neurastenia" e "Eu",
embora tenha outro poema diferente, mas com mesmo nome em Charneca em Flor.
Livro de Sóror Saudade
• 5 poemas: "Fanatismo"; "Horas Rubras"; "Suavidade"; "Fumo" e "Ódio", embora o poema que
esteja lá tenha interrogação, ao passo que a UFRGS não especificou essa pontuação.
Charneca em Flor
• 5 poemas: "Se Tu Viesses Ver-me"; "Ser Poeta"; "Frêmito do meu corpo (III numa série de X)";
"Realidade"; "Amar!". Embora haja um poema chamado "Eu" e outro "Quem Sabe?..." nesse
mesmo livro.
Reliquiae
• 1 poema: "O Maior Bem".
3 – Pré-leitura
Eis abaixo elencados alguns tópicos essenciais que nos ajudarão a conduzir a
análise dos poemas. Vamos prestar bastante atenção, pois esses tópicos serão
desenvolvidos no momento específico da análise.
• AMBIGUIDADE. Muito do que diz Florbela Espanca passa pelo efeito de texto da
ambiguidade, a começar já desde os títulos dos poemas. A ambiguidade ocorre quando um
mesmo vocábulo ou expressão pode ser interpretado de mais de uma maneira. Ela pode
aparecer de duas maneiras: como recurso expressivo, principalmente no caso da publicidade
ou dos textos humorísticos; ou como um defeito na construção, prejudicando a clareza da
mensagem. Ou seja, ela pode ser intencional ou não. Por exemplo: brincadeiras com classes
morfológicas, como a preposição “a”, que não sabemos se indica direcionamento/dedicatória
ou um adjunto adverbial de lugar, como no soneto “Ao vento” do Livro de Mágoas.
• MISTURA DE ESTILOS. Como já vimos nas seções anteriores, Florbela Espanca varia estilos
que vão do popular ao erudito, mas também uma série de escolas literárias, passando pelo
Trovadorismo, Ultrarromantismo, Realismo, Simbolismo e Modernismo. Não só em relação
aos movimentos literários em si, mas, aprimorando um conceito importante do século XIX
que se chama Gesamtkunstwerk (obra de arte total), cunhado pelo compostir alemão Richard
Wagner, a poesia simbolista tentava incorporar a si elementos de outras artes, como é o caso
da música e da pintura. Como a expressão: ut pictura poiesis (pintura e poesia). Por isso,
vocês encontrarão frequentemente na poesia de Florbela a representação de cores, de
sensações (e órgãos de sentidos: visão, tato, paladar, audição e olfato) e figuras de linguagens
sonoras, como aliterações e assonâncias, o que estudaremos abaixo. Um exemplo é o uso
frequente de adjetivos, que costumam indicar o estado de espírito do eu lírico, como em
“Horas rubras” do Livro de Sóror Saudade.
• SUBENTENDIDOS. Em se tratando de poesia, às vezes é muito mais importante do que ela diz
é o que ela NÃO DIZ. Portanto, precisamos nos atentar para as insinuações para além da
palavra escrita, aprendendo a lidar com mecanismos de interpretação de texto que envolvem
inferências, a fim de identificarmos o que está nas entrelinhas. Faz parte do estilo refinado
de Florbela Espanca, da construção de sutiliezas e de seu jogo entre essência e aparência.
Princesa Monja
Feiticeira amorosa Velha solitária
encantada enclausurada
• Características: • Características: • Características: • Características:
espera pelo afastada do busca num projeta na Morte
príncipe mundo exterior e parceiro ideal a idealizada e
redentor mergulhada na imagem personificada os
• Obras imaginação • Obras sonhos que, na
• Livro de Mágoas onírica • Charneca em Flor vida, não
• Obras consegue
• Trocando Olhares • Trocando Olhares
• Livro de Sóror realizar
• O Livro D'Ele
Saudade • Obras
• Trocando Olhares • Reliquiae
• O Livro D'Ele • Trocando Olhares
No geral, assinala “os motivos centrais que se repetem numa obra, ou na totalidade da
obra, de um poeta ou prosador” (KAYSER, 1958).
Verdadeiramente, porém, a recorrência de um objeto no decurso de uma obra não
constitui, por si só, um Leitmotiv; para sê-lo, é preciso que o seu reaparecimento envolva
alguma significação especial.
Comparação
Quando se estabelece confronto entre dois termos a partir do que eles têm de semelhante.
Ex.: Seus olhos são como o céu.
ATENÇÃO: Essa figura de linguagem vem sempre acompanhada de um conectivo: como, assim
como, tal qual, que nem.
Metáfora
É uma comparação subentendida: emprega-se um termo com significado de outro a partir da
semelhança entre ambos.
“Água fria” é algo que assusta, que pode apagar o fogo, que pode acordar
alguém dormindo, entre outras possibilidades. Aqui, a expressão é empregada
simbolicamente para significar algo que causou desânimo: a notícia desanimou as
pessoas, “apagou o fogo”.
Comparação: Metáfora:
Sua boca é como um túmulo. Sua boca é um túmulo.
Sinestesia
Se caracteriza pela mistura de sensações (audição, olfato, paladar, tato, visão).
Ex.: Sentiu o cheiro doce da liberdade.
Assíndeto
Quando as palavras ou orações se sucedem sem conectivos.
Ex.: “Eu chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando” (Gonzaguinha)
As palavras aqui são encadeadas por vírgulas, omitindo os conectivos possíveis, nesse
caso, o “e” entre “adorando” e “gritando”.
Polissíndeto
O oposto de assíndeto: quando um conectivo é reiterado muitas vezes na ligação entre
palavras ou orações.
Ex.: Ela trabalha e sofre e se cansa e recomeça.
Outros exemplos: Não conseguiu nem dinheiro, nem reconhecimento, nem nada.
“Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral!” (Florbela Espanca)
ATENÇÃO: mesmo com a presença de vírgulas nos exemplos acima, a repetição dos conectivos
caracteriza como polissíndeto.
Assíndeto: Polissíndeto:
Ausência de conectivos. Reiteração de conectivos.
Hipérbato (inversão)
Ocorre quando há inversão da ordem normal das palavras em uma oração ou da ordem das
orações em um período.
Ex.: Está pronto o almoço.
Na ordem normal, essa frase seria “O almoço está pronto”. Aqui, há uma inversão dos
termos, sem, no entanto, prejudicar o entendimento do significado.
Pleonasmo
Ocorre quando há repetição de uma palavra a fim de intensificar o significado.
Essa repetição serve para reforçar a ideia de que o que está sendo dito é uma opinião
pessoal. Na construção comum seria: “Parece-me que deveríamos ficar em casa.”
Outros exemplos: “E rir meu riso” (Vinícius de Moraes)
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)
Hipérbole
Ocorre quando há o uso de uma expressão exagerada, claramente simbólica.
Ex.: Eu estava morta de cansaço.
Ironia
Ocorre quando aquilo que está sendo dito é o contrário do que realmente se pretende dizer.
Ex.: Quem foi o gênio que tirou zero na prova?
Paradoxo
Ocorre quando são apresentadas ideias de sentidos opostos formando um todo de sentido,
ou seja, é uma expressão formada por palavras cujos significados são aparentemente excludentes.
Outros exemplos: “Estou cego e vejo./Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade)
“Só sei que nada sei” (Sócrates)
Personificação (prosopopeia)
Ocorre quando se atribuem características humanas a seres inanimados ou irracionais.
Ex.: O dia acordou triste.
Aliteração
Ocorre quando há repetição de sons consonantais.
Ex.: O rato roeu a roupa do rei de Roma.
Outros exemplos: Quem com ferro fere com ferro será ferido.
“Chove chuva, chove sem parar” (Jorge Bem Jor)
Assonância
Ocorre quando há repetição de sons vocálicos.
4.1 – “Fanatismo”
Este soneto se encontra no Livro de Sóror Saudade.
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..." utiliza o mecanismo moderno de discurso direto
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
Comentário geral
O título do poema é um único substantivo. Segundo o Dicionário Houaiss (2009, p. 872), esse
termo pode significar: 1) zelo religioso obsessivo que pode levar a extremos de intolerância; 2)
faccionismo partidário; adesão cega a um sistema ou doutrina; dedicação excessiva a alguém ou
algo; paixão. Logo, parte-se já desde o título de um termo polissêmico, isto é, com mais de um
significado. Aqui, o eu lírico embaralha as noções de sagrado e profano: o fanatismo está ao mesmo
tempo para a condição da idolatria quanto para a de amor.
Já no primeiro verso, observamos algo muito típico da prosódia portuguesa, isto é, da
entonação: a contração de uma vogal entre o pronome possessivo “minha” e o substantivo “alma”.
Outro elemento típico é a ênclise (colocação pronominal ao fim do verbo), em “sonhar-te”. Chamo
atenção para os verbos no infinitivo.
Da mesma forma, chamo atenção para os particípios: “perdida”, “enlouquecida”, “lida” (que
dialoga com o infinitivo “ler”) e “postos”. Aqui, no caso, os particípios atuam como adjetivos, pois
concordam em gênero e número com o termo com que concordam. Outros adjetivos no soneto são:
“cegos”, “misterioso”, “frágil”, “divina”.
Ainda no plano gramatical, há o uso do verbo andar não como verbo de movimento, mas sim
verbo de ligação (VL). Aliás, eles são predominantes no poema, pois o verbo “ser” também está nas
seguintes construções:
morram, pois ela sabe que o amor dela é eterno e não vai passar. O amor dela, o “tu” dela, é como
se fosse Deus, um princípio uno, indivisível e, portanto, atemporal: o princípio e o fim, o alfa (A) e o
ômega (Ω). Há um ditado latino que diz que vox populi, vox Dei, isto é, a voz de povo é a voz de Deus.
Aqui, a voz do poeta é a voz de Deus; elas se coincidem e é o eu lírico quem dá a palavra final. Se é
ela quem diz que o seu amor vai durar, é porque ele vai mesmo. Se o eu lírico é uma mulher, ela está
na condição de freira, pois espera o amado e se dirige a Deus.
Por fim, ter consciência da efemeridade da vida já é um passo dado rumo a poder ter domínio
dela. Aqui há uma relação entre duração do amor e duração da vida. O soneto é difícil, pois tem mais
de um ponto de vista: o da personagem, o de um “tu” ao qual ela alude como sendo seu amor, o de
alguém que dá conselhos a ela. Isso pode ser indício também de loucura, ainda mais, esquizofrenia
(confusão de várias vozes). Lembrando que a loucura também é um tema importante para o
Simbolismo. As reticências indicam um sentimento vago e no final elas ainda acompanham a
exclamação.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO Eu lírico em primeira pessoa do singular que leva em consideração uma
segunda pessoa do singular, um “tu”, com quem dialoga. Embaralha as
seguintes noções: eu e tu; sagrado e profano; eterno e passageiro; razão e
sentimento; Deus e mundo; Deus e poeta; razão e loucura. Temas
importantes: metalinguagem (leitura, a voz do poeta é a voz de Deus), fuga
da realidade (loucura, leitura), processo de endeusamento do amor. Pela
inovação na forma (introdução do discurso direto), o poema está mais ligado
ao movimento do Modernismo.
Horas profundas, lentas e caladas sinestia: mistura dois órgãos de sentido diferentes
Feitas de beijos sensuais e ardentes, coordenação por adição
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas... pronome relativo/tema da insconsciência
Comentário geral
A ambiguidade está presente novamente. Se as horas são rubras, elas podem ser horas do
amanhecer ou do crepúsculo. E se são lentas, trata-se do tempo psicológico.
Tempo psicológico
É o tempo que transcorre numa ordem determinada pela vontade, pela memória ou pela
imaginação do narrador ou personagem. É característico do enredo não linear, ou seja, do
enredo em que os acontecimentos estão fora da ordem natural.
Fonte: (CEREJA; MAGALHÃES, 2005, p. 281-283).
Todos os dois primeiros versos servem para caracterizar que horas são estas e são
empregados numa função adjetiva. Os beijos sensuais e ardentes, isto é, sensações, teoricamente
abstratas, aqui funcionam como matéria para as horas. O soneto então descreve essa passagem do
tempo que muito mais tem a ver com o plano da sensibilidade do que o tempo cronológico de fato.
A noite é espaço ao mesmo tempo para quentura, virgindade e desmaio.
Não só o eu lírico como também toda a natureza sente. As
árvores riem e são ouvidas pelo eu lírico. Há num mesmo verso a
união de gerúndio e particípio, de novo, num uso adjetivo: “olaias
rindo desgrenhadas”. Os astros tombados podem ter dois sentidos:
ou estrelas cadentes, que trazem sorte, ou a queda real de algo
superior, o que já remete a um sentido negativo. A demência dialoga
com o desmaio no sentido da inconsciência. Lembrando que Florbela
Espanca foi contemporânea do psicanalista Sigmund Freud,
estudioso, entre outros temas, justamente do inconsciente e das
neuroses (vide soneto “Neurastenia”). E palavra “astros” ainda se
repete nesse verso. É como se a loucura fosse uma mulher, e esse tema também lembra o poema
simbolista de Alphonsus Guimaraens: “Quando Ismália enlouqueceu...”.
Outro elemento que se repete é a preposição “de”: “E do luar os beijos languescentes/São
pedaços de prata p’las estradas”. Pode ser encontrada a figura de linguagem da metonímia (parte
pelo todo). Aqui pode ser observada a prosódia (entonação) portuguesa na contração das palavras.
Os lábios brancos indicam um estado apático, doentio, que se remete à estética do
Ultrarromantismo, revela um certo apego à morte. Bem como a imagem do luar, que
metaforicamente vestem os braços do eu lírico como se fosse seda.
No último terceto, mais do que se revelar como primeira pessoa, o eu lírico se revela com
atributos, por meio de verbo de ligação: “Sou chama e neve branca e misteriosa”. Aqui observa-se
polissíndeto, mediante a repetição do conectivo “e”. E ao mesmo tempo paradoxo, na formação de
uma imagem que é ao mesmo tempo quente (chama), dialogando com a quentura e ardência da
primeira estrofe, e fria como gelo. Isto é, uma possibilidade não exclui a outra. Retornam os temas
da noite e da volúpia: “na noite voluptiosa” é um adjunto adverbial temporal (ênfase para o tempo).
Por fim, o eu lírico invoca o poeta e deixa transparecer o porquê de as horas serem rubras:
porque elas são de espera. É como se houvesse um “tu”, que é Poeta igual a ela, aqui elevado à
categoria divina, pois novamente o substantivo comum se tornou próprio. E, se esse Poeta a procura,
ela o está esperando. Há relação de reciprocidade. A pontuação mesclada de reticências e pontos
de exclamação marcam um estado de espírito oscilante entre o êxtase e a espera.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico associa a noção de tempo ao plano da sensibilidade, dos sentidos.
As horas são rubras, pois elas são sofridas, sentidas, trata-se de um tempo
psicológico de uma espera pelo Poeta/Amado. Distingue-se como primeira
pessoa apenas na segunda estrofe, a primeira é mais descritiva. Na última, há
verbos de ligação, que revelam ainda mais do eu lírico. Temas importantes:
queda, noite, luar, insconsciência, procura x espera. O poema segue mais a
tendência do movimento literário do Romantismo.
Eu sou a que no mundo anda perdida, perdição: vagar pelo mundo sem direção
Eu sou a que na vida não tem norte, a inominada, a não determinada, a vaga = Simbolismo
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte plano onírico = Simbolismo; tema da irmandade
Sou a crucificada... a dolorida... sacrifício religioso que lembra o fanatismo
Sou talvez a visão que Alguém sonhou, cria uma categoria: pronome indefinido definido
Alguém que veio ao mundo pra me ver, preposição “para” + infinitivo = finalidade
E que nunca na vida me encontrou! apelo constante à morte como única redenção
Comentário geral
Já desde o título, a centralidade na individualidade, ou seja, num eu que fala, lembra a escola
do existencialismo, da qual autores como Albert Camus e Jean-Paul Sartre fizeram parte. Lembrando
que o poeta pré-modernista brasileiro Augusto dos Anjos também tem uma obra chamada Eu
(1912). Ela se define com uma estrutura gramatical formada por: pronome de primeira pessoa “eu”,
que inclusive dá título ao soneto + verbo de ligação ser + pronome demonstrativo. Dois 2 primeiros
versos da primeira estrofe para os 2 últimos há o desaparecimento do sujeito, sendo que ele passa
a ser oculto (desinencial).
As duas últimas palavras do primeiro verso – “anda perdida” – são idências as do poema
“Fanatismo”. Observamos aqui o Leitmotiv, a repetição de temas com significação. O eu lírico se
sente errante e errática, sem turmo e torta, como poeta brasileiro modernista Carlos Drummond de
Andrade se sentia gauche (justamente torto, errado), na sua fase pessimista. A imagem crucificada
e dolorida formam adjetivos na forma de particípio e indicam sacrifício.
O eu lírico crucificado de Florbela Espanca, com um vestido adornado de brocados, vagando pelo mundo,
mais especificamente, no castelo de sua cidade natal, Vila Viçosa.
Continuando, nada mais simbolista do que o verso “Sombra de névoa tênue e esvaecida”, ou
seja, imagem de total fluidez. É como se ela se consolasse a si próprio: mesmo o mais pungente
sofrimento se esvai, já que tudo está submetido a esse estado de corrente. Porém, ela retorna a uma
série de adjetivos colocados em série por assíndeto (conectados sem conetivo): amargo, triste e
forte. O “amargo” remete ao plano das sensações. O luto e a morte invocam temas do movimento
literário do Ultrarromantismo, a segunda geração romântica e, ao mesmo tempo, a vertente
filosófica do fatalismo que estava em voga na Europa, com romances como Madame Bovary e Anna
Kariênina por exemplo (romances em que as protagonistas se suicidam ao final). Esse aspecto
também alude ao plano religioso, já que ela não é deusa e sente que perde o controle de sua vida.
Então paira ali naquela atmosfera uma desolação total. Uma diferença entre ser
incompreendida x se sentir de fato incompreendida. O eu lírico perde a noção de realidade, não
sabe mais definir o que está ao redor de si. Elementos no poema vão se tornando ambíguos aos
poucos: “norte” pode indicar direção ou ponto cardeal e “desta sorte” pode significar o destino ou
o conectivo.
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida... (...)
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida! (...)
a) V – F – F – V
b) V – V – F – F
c) V – F – F – F
d) V – V – V – V
e) V – F – V – F
Comentários
Uma das maneiras de a UFRGS cobrar mais poemas de Florbela Espanca é comparando-os.
Por isso, eu aposto em uma questão de Literatura Comparada.
Afirmação I: verdadeira. Tanto é que as duas últimas palavras dos dois primeiros versos
são idênticas. O tema da perdição é central na poesia de Florbela Espanca.
Afirmação II: falsa. Cuidado: apenas o segundo sujeito lírico fala de um “tu”, de sonhar com
o amado. A centralidade no primeiro poema é na individualidade, na subjetividade.
Afirmação III: verdadeira. Como é o caso do uso da palavra “irmã” na primeira estrofe, que
pode se remeter a “sóror”, o que já foi explicado e inclusive nomeia um dos livros de Florbela
Espanca, e pelo próprio título do segundo poema, cujo fanatismo implica uma atitude
fervorosa, religiosa, devota, reverente, embora aqui para com o amado, e não
necessariamente Deus.
Afirmação IV: falsa. Cuidado: apenas o primeiro eu lírico, e o trecho que esse
questionamento aparece não é nem exatamente a estrofe que cobrou. Dica: algumas questões
da UFRGS partem do subentendido que o aluno domina a obra inteira. Então, ao dizer que o
eu lírico feminino (e sabemos disso pelas flexões de gênero) anda perdida no mundo,
posteriormente, descobrimos que ela também está sozinha, é julgada e incompreendida.
Sequência correta: V – F – V – F.
Gabarito: “e”.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico é aquela que busca determinações, identidade própria,
autoafirmação, mas ainda se sent presa. Temas importantes: existencialismo,
identidade, determinação x indeterminação (do sujeito, inclusive:
“chamam”), subjetivismo, individualismo, ambiguidade, perda da noção da
realidade, papel da mulher, criação x criatura. Este poema segue mais a
tendência do Simbolismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Eu-sou-a-que-no-mun-doan-da-per-di-da, (10 sílabas poéticas)
Eu-sou-a-que-na-vi-da-não-tem-nor-te, (10 sílabas poéticas)
Sou-air-mã-do-So-nho,-e-des-ta-sor-te (10 sílabas poéticas)
Sou-a-cru-ci-fi-ca-da...a-do-lo-ri-da... (10 sílabas poéticas)
Mas que eu não era Eu não o sabia tautologia introduzida por um conectivo de adversidade
E, mesmo que o soubesse, o não dissera…
Olhos fitos em rútila quimera Barroco
Andava atrás de mim… e não me via! condição de invisibilidade
E esta ânsia de viver, que nada acalma, perturbada por sensações e pensamentos
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma! paradoxo: chama e cinza (tu és pó e ao pó retornarás)
Comentário geral
Por esse poema podemos passar mais brevemente, uma vez que entendemos que muito
provavelmente o que a UFRGS irá cobrar será o primeiro.
Aqui o eu lírico revela a tendência barroca do cultismo, isto é, um jogo de ideias calcado na
repetição de palavras e mesmo construções sintáticas. O Barroco também está presente na figura
da quimera, isto é, ser híbrido que pode simbolizar a combinação de 2 ou mais outros seres, como
o grifo (mistura de leão com águia). Esta é a característica do feíismo e a representação do grotesco,
aspectos do movimento literário do Barroco, bem como rebuscamento na forma.
Nesse hibridismo, o eu lírico é como se fosse uma esfinge que guarda o segredo, repleta de
aura de mistério. Começa a entender a alteridade e reconhecer o outro é reconhecer a si. Por fim,
há o processo de busca por idenficiação, por autoconhecimento, o que pode ser frustrante e
enlouquecedor, podendo culminar em cinzas. A ânsia de viver e a de morrer andam juntas, como diz
o psicanalista Sigmund Freud: os impulsos de eros e tânatos.
4.4 – “Vaidade”
Este soneto se encontra no Livro de Mágoas.
Sonho que sou Alguém cá neste mundo... ter sucesso, reconhecimento, “ser alguém” é só sonho
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada! posição de submissão
E quando mais no céu eu vou sonhando, uso de locução verbal + verbo no gerúndio
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!... a realidade é frustrante
Comentário geral
Só o título do soneto já é ambíguo. Vaidade pode remeter ao universo feminino, mas também
àquilo que é vão, passageiro, logo, humano. Então, o gênero feminino converge para o humanismo,
não está excluída dele. Ela se autoproclama poetisa da vaidade, mas há um vínculo subentendido
entre poetisa/profetisa. Então, o poema ganha uma aura mística, buscando uma perfeição que pode
ser parnasiana. Na mitologia greco-latina, as profetisas eram videntes, tinham o poder de desvendar
oráculos. A linguagem estava envolvida, portanto, com um plano desconhecido.
No plano da gramática, o pronome demonstrativo elenca ações: diz tudo e tudo sabe
(havendo inversão), tem a inspiração pura e perfeita (parnasiana) e reúne num verso a imensidade
(profetisa).
Ao dizer “Poetisa eleita”, possivelmente, ela poderia estar aludindo também à república
portuguesa, proclamada em 1910. Então, a poetisa tem inspiração como se remetesse ao poema
épico de Ilíada, em cujo começo o eu lírico também pede por inspiração às Musas. Logo, há
brincadeira com os gêneros textuais: é um soneto que se alça a épico.
Usa também figuras de linguagem como a anáfora (repetição no início do verso) e a sinestia
(um verso que tem cor). Nesse soneto, ela parece querer explorar temas históricos de Portugal, pois
quem morre de saudade pode aludir ao Sebastianismo.
A noção de imensidade e encher todo o mundo novamente lembra algo divino. Só Deus
conseguiria fazer isso, mas a Poetisa também o tenta. Poesia é poder, capaz de fazer mesmo a Terra
se curvar sobre a linguagem. Isto é, há uma hierarquia. No latim, há positio, uma posição forjada. E
quando mais alto o eu lírico voa, parece o mito de Ícaro, o qual voou tão perto do céu que teve suas
penas de suas asas de cera derretidas e caiu. A realidade é entendida como uma queda, isto é, a
volta à consciência é dura. E ela no fim se descobre um nada, lembrando os versos que iniciam o
poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos, um heterônimo de Fernando Pessoa:
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO Três estrofes seguidas começa com a palavra “sonho”, ambígua, pois pode ser
verbo conjugado na primeira pessoa ou o próprio substantivo. No caso, é a
primeira opção. O eu lírico em primeira pessoa está no plano do sonho e
insiste nele. Temas importantes: universo feminino; republicanismo; épico;
Aqui o eu lírico segue mais o movimento literário do Parnasianismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
So-nho-que-sou-a-Po-e-ti-sae-lei-ta, (10 sílabas poéticas)
A-que-la-que-diz-tu-doe-tu-do-sa-be, (10 sílabas poéticas)
Que-tem-ains-pi-ra-ção-pu-rae-per-fei-ta, (10 sílabas poéticas)
Que-re-ú-ne-num-ver-soai-men-si-da-de! (10 sílabas poéticas)
Comentário geral
Aqui o eu lírico se mostra perfeitamente portuguesa, pois
sente nostalgia de outros tempos, vê-se numa condição que
está pensando no passado. E é sempre aquela máxima: o
passado é melhor que o presente. Lá é o lugar quando ela ria e
cantava, pairava outra atmosfera que não a de agora. Há uma
ambiguidade entre o substantivo “era” e o verbo no imperfeito
“era”, que são idênticos. Logo, há trocadilho. As lágrimas
indicam tristeza, mas poderiam muito bem ser as mesmas
daquelas choradas em “Mar português” de Fernando Pessoa:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal /São lágrimas de Portugal!”
Porém, logo o eu lírico usa uma hipérbole: “parece que foi
em outra vida” e a imagem distorcida de uma boca lembra o
grotesco barroco. Uma série de exageros nos faz crer se o eu
lírico realmente está falando a verdade ou se, na verdade, não
está amplificando o sentido.
Além disso, a temática das lágrimas, causadas por saudade e que lembram o mar é bem
importante para os portugueses. Eles não só valorizavam o mar (símbolo do império português,
pioneiro nas grandes navegações a partir da Escola de Sagres), como também o Rio Tejo.
Continuando, o poema começa com uma oração subordinada adverbial condicional: “se me
ponho”, junto a verbo reflexivo. Estamos no plano da hipótese e não da realidade. No título, temos
um substantivo + adjetivo (adjunto adnominal). A questão do ocultismo lembra de novo o papel da
poetisa, que deveria desvelar significados. É preciso escavar pelo passado para buscar sentido.
E o passar do tempo indica um movimento orgânico, mas negativo. É como algo que apodrece
e se deteriora, estando sujeito ao efeito do tempo. Essa castidade à que ela se impõe parece forçada,
algo de antinatural. É negativa, pois paralisa: ela parece marfim. Aqui temos um paradoxo, num
poema que está falando sobre o passar do tempo, ao passo que o rosto do eu lírico se mostra
estanque como escultura.
O rosto dela é branco e calmo. A presença da cor lembra o movimento literário do
Simbolismo. A repetição no final soa como uma acusação: ninguém! Ninguém. O eu lírico quer
desesperadamente se fazer notar.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico revela uma vida de privações de quem quis ter realizações, grandes
feitos heroicos, concretizações na vida e no entanto não conseguiu. A
sensação é de vazio, tentando entender o processo pelo qual se chegou até
ali. Logo, há um resgate do passado por meio do pensamento. Temas
A minha Dor é um convento. Há lírios não mais ideal, mas as flores confortam
Dum roxo macerado de martírios, a cor remete à violência, sofrimento, mas também à flor
Tão belos como nunca os viu alguém! idealismo
Comentário geral
Em vários momentos, Florbela Espanca assume um ar de coitadinha. Por exemplo, em
“Pobrezinha” de Reliquiae, “Mendiga” de Charneca em Flor e “Velhinha” no Livro de Mágoas. Então,
o autossacrifício consiste numa imagem recorrente em sua poesia. O eu lírico se abdica dos bens
materiais mundanos em prol de algo que considera maior, superior, ideal. Talvez, algo que nem
exista, só negando a realidade puramente.
O título do poema é composto de artigo definido + pronome possessivo + substantivo = a
minha dor. Porém, a epígrafe é para uma pessoa indeterminada. Então, neste soneto o eu lírico
brinca com a relação entre determinação x indeterminação. No primeiro verso há metáfora,
equiparando a Dor, elevada à condição divina, a um convento ideal.
Então, o eu lírico diz que sua dor é ideal e está presa em um convento, mas logo se revela
farta, cheia. Na realidade, há ambiguidade: em português, a expressão “cheio de” pode representar
plenitude, preenchimento; porém, “estar cheio de” pode indicar esgotamento, estafa. Então, pode
significar ambas as coisas, quando o eu lírico diz estar “Cheio de claustros, sombras, arcarias”. Pois
a dor envelhece, consome. E com pedras sobre pedras constrói-se um requinte escultural. Aqui, o
poema se aproxima da estética do Parnasinanismo.
Na segunda estrofe, os sinos se personificam e testemunham a dor do eu lírico. Eles também
sentem sua agonia, gemem seus gemidos, sente seu mal-estar, comovem-se. Os sons de funeral
lembram o apego à morte Ultrarromântico, mas ao mesmo tempo uma mistura de sensações típica
do Simbolismo. Portanto, é um poema bem variado de tendências. O som se mistura ao tempo, os
sinos marcam o passar das horas e tudo é triste.
Há a repetição de um verso, a insistência nele. Porém, com uma alteração:
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico adota uma posição de monja, de santidade, de autossacrificada.
Fala de uma dor que não parece ser de mais ninguém, apenas exclusivamente
dela. Ou seja, toma a dor humana para si. Temas importantes: dor,
sofrimento, estafa, escultura, funeral, lírios, convento. Nesse soneto, o eu
lírico amalgama várias tendências: Parnasianismo, Ultrarromantismo,
Simbolismo.
4.7 – “Suavidade”
Este soneto se encontra no Livro de Sóror Saudade.
Hás-de contar-me nessa voz tão q’urida sentido de futuro: expressão há-de + infinitivo
A tua dor que julgas sem igual, projeção da dor: não é só mais dela
E eu, pra te consolar, direi o mal jogo entre eu e tu
Que à minha alma profunda fez a Vida. hipérbato
Comentário geral
Suavidade é não pensar. No Modernismo, não há espaço para o idealismo. O eu lírico já
começa o soneto com a cabeça dolorida de tanto pensar, de tantos pensamentos híbridos. O soneto
é baseado em ambiguidades. A primeira está no verbo “pousar”, que pode significar aterrissar ou
repousar, residir, situar-se. A cabeça então lembra um pássaro; os pensamentos movimento a
cabeça, que precisa descansar. Essa mesma imagem dialoga com a chave de ouro, com as penas de
aves. “Pousa a tua cabeça dolorida”, diz o eu lírico, quando na realidade é a mente dela que precisa
repousar, que precisa de descanso, alento, que pode ser tanto no regaço da mãe quanto no do
amado. Trata-se de uma ordem imperativa ainda, pois o verbo “pousar” está conjugado no modo
imperativo na segunda pessoa do singular. Há transferência de amor libidinal, exatamente como
diz Freud na formulação da teoria do Complexo de Édipo.
E a maternidade não se concretiza, pois ela
está ligada à religiosidade. Ao eu lírico não é
permitido esse dom. Florbela Espanca não teve
filhos. Em cartas, chega a se mostrar grávida uma
Fonte: Pixabay.
vez, mas não sabemos que ela teve tido filho. Faz
parte de mais umas ausências de sua vida.
Chamo atenção para o tempo futuro nesse
poema, pois ele está centrado numa espécie de
promessa vindora, esperada, mas que não chega.
Na segunda estrofe, mediante o jogo entre eu e tu,
há um diálogo possível, o eu lírico chega a pensar
que será compreendida. Projeta a sua dor “sem igual” em outro alguém que também julga sua dor
como sendo sem igual. Tenta consolar o amado em seu regaço, a quem serve de amada e mãe ao
mesmo tempo. É pondo as suas dores juntas que eles vão se entender. Porque amar também
significa compartilhar dores.
O eu lírico assume então uma postura que lembra a Pietá, Nossa Senhora carregando Jesus
morto em seus braços, imagem de dor profunda e desoladora. Porém, é como se o eu lírico
assumisse uma santidade suprema, uma Santíssima Trindade: mãe, amada e Irmã. Daí, observa-se
a ambiguidade no termo “Irmã”, que pode ser sóror ou irmã humanista, irmã de dor. E nessa
condição divina o consolo é possível, a vida há-de se fazer leve e suave. A suavidade está nessa
apoteose, nesse ascensão ao plano divino.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO A mulher assume para si a condição de mãe e amada, uma religiosa Pietá,
consoladora. Encontra sentido na vida ao aliviar sua dor podendo aliviar a dos
outros. Porém, além de mãe e amada também é Irmã. Temas importantes:
trindade, maternidade, idealismo, pensamento, voo, movimento, Irmã, vida,
morte, queda. Nesse soneto, misturam-se as seguintes tendências:
Modernismo e Barroco.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Pou-saa-tu-a-ca-be-ça-do-lo-ri-da (10 sílabas poéticas)
Tão-chei-a-de-qui-me-ras,-dei-de-al, (10 sílabas poéticas)
So-breo-re-ga-ço-bran-doe-ma-ter-nal (10 sílabas poéticas)
Da-tu-a-do-ceIr-mã-com-pa-de-ci-da. (10 sílabas poéticas)
Comentário geral
O título do poema começa com uma conjunção de condicionalidade. Que ele vá vê-la não é
certeza, apenas uma hipótese, uma conjectura, um desejo. O título expõe o desejo de laço, união,
pois contém as duas pessoas gramaticais: o pronome “tu” e o pronome oblíquo átono “me”. “Tu”
está colocado na posição de sujeito e “me” na posição de objeto. Isto é, já desde o título e por meio
da gramática, o eu lírico está na posição de objeto, gramatical ou de amor. A ênclise em “ver-me”
indica a prosódia portuguesa. O crepúsculo é o momento mais bonito do dia para o eu lírico. É um
tempo propício, a hora do dia que tudo perdoa.
A noite é um espaço mágico. Na verdade, o eu lírico une no
elemento da noite o tempo e o espaço. Este poema se encontra em
Charneca em Flor, livro de 1931. Já em 1905 o físico alemão Albert
Fonte: Pixabay.
Os olhos cerrados do último terceto também lembram inconsciência. Essa metáfora dos olhos
fechados se repete em outros poemas de Florbela Espanca. Seus braços se estendem numa
dispositivo de fervor, que pode ser tanto de êxtase religioso quanto de entrega amorosa.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico funde tempo e espaço na noite, esse símbolo místico, signo da
espera. A lembrança é descritiva, mas permanece na memória. Os braços
elevados indicam apelo, oração, louvor. Temas importantes: crepúsculo,
noite, tempo, espaço, misticismo, loucura. Nesse soneto, as tendências
predominantes são: Simbolismo e Modernismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Se-tu-vi-es-ses-ver-me-ho-jeà-tar-di-nha, (11 sílabas poéticas)
Aes-sa-ho-ra-dos-má-gi-cos-can-sa-ços, (10 sílabas poéticas)
Quan-doa-noi-te-de-man-so-sea-vi-zi-nha, (10 sílabas poéticas)
E-me-pren-des-ses-to-da-nos-teus-bra-ços... (10 sílabas poéticas)
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior ambiguidade: ser poeta é ser e não ser humano
Do que os homens! Morder como quem beija! comparação: grau e figura de linguagem
É ser mendigo e dar como quem seja postura de autossacrifício; o artista é um doador
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! assim na terra como no céu: apoteose do poeta
Comentário geral
”Ser poeta” e não “Ser poetisa” é o título do soneto. O eu lírico se coloca numa condição
universal, generalizada, em que a flexão gramatical de gênero parece não lhe importar muito nesse
caso. O título é ambíguo, pois é formado de verbo na forma nominal do infinitivo + substantivo. E
não é um verbo qualquer, é um verbo de ligação. Logo, o poema é baseado em definições do que
seria cumprir esse papel de poeta. O eu lírico está tateando a existência do poeta. E ainda há
ambiguidade, porque depois do verbo de ligação, geralmente vem um adjetivo e não um
substantivo. Logo, o questionamento filosófico levantado é: ser poeta é um substantivo ou um
adjetivo? É um cargo funcional ou um papel para toda a vida.
Para esse tema, sugiro a leitura do conto “Teoria do medalhão”
do realista brasileiro Machado de Assis, em que o escritor discute
justamente essas duas classes morfológicas de palavras.
Portanto, o soneto tem cunho metalinguístico. E também Florbela Espanca dialoga com o
poema do clássico Luis de Camões, “Amor é fogo que arde sem se ver”, composto por uma série de
definições do que seria o amor. E “morder como quem beija”, além de indicar sadomasoquismo,
uma vertente erótica, lembra os versos do pré-modernista brasileiro, Augusto dos Anjos, quando ele
diz em seus “Versos íntimos”: “Escarra nessa boca que te beija!”.
Ser poeta tem algo a ver com ser irreal, ser impossível, uma vez
que o Reino dos Céus religioso só é acessível para os bem-aventurados
após a morte. Logo, há um paradoxo temporal: ser poeta seria estar
morto?
O poeta é um diferenciado; há algo nele que o distingue dos
comuns. É passar por tudo, é se submeter em busca do Infinito. É primar
pela liberdade e ao mesmo tempo utilizar a forma fixa do soneto. O
soneto que é uma forma síntese. Então, o poeta é aquele capaz de
sintetizar, como diria o filósofo alemão Friedrich Hegel em sua dialética:
capacidade de unir teses e antíteses em sínteses.
Qual seria o átomo da poesia? O condensamento do mundo em
um grito, um verso, um soneto? A unidade mínima está sendo
questionada. E é preciso falar de poesia para falar do amor. O amado aparece no último terceto, em
forma de pronome oblíquo: “amar-te” é “cantar-te”. O maior, mais nobre e mais digno objeto da
poesia ainda continua sendo o mesmo do amor.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico usa o pretexto de falar da poesia para poder falar do amor.
Enumera uma série de conceitos, quando, no fundo, o conteúdo se revela
sendo o amado. Temas importantes: metalinguagem, superioridade, orgulho,
amor. Nesse soneto, as tendências predominantes são: Classicismo e
Parnasianismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Ser-po-e-taé-ser-mais-al-to,é-ser-mai-or (11 sílabas poéticas)
Do-queos-ho-mens!-Mor-der-co-mo-quem-beija! (10 sílabas poéticas)
É-ser-men-di-goe-dar-co-mo-quem-se-ja (10 sílabas poéticas)
Rei-do-Rei-no-deA-quém-e-deA-lém-Dor! (10 sílabas poéticas)
4.10 – “Fumo”
Este soneto se encontra no Livro de Sóror Saudade.
Comentário geral
O eu lírico coloca o “ti” numa posição de
dependência, mais do que física até, química. O amado
é uma condição necessária para a sobrevivência do eu
lírico, pois, como é indicado por meio da repetição da
anáfora, na estrutura sintática “longe de ti” só há
elementos negativos: “longe de ti” + verbos como
“ser” e “haver”, e o “haver” envolvido num jogo: no
segundo verso na negativa e no terceiro na afirmativa.
Essa dependência beira o desespero, o parasitismo. Há
várias hipérboles que sugerem que sem o amado o eu
lírico não pode viver. O eu lírico projeta no “ti” todas
as suas frustrações e desesperanças.
Os olhos são personificados, são uns
coitadinhos. De tanto chorarem e sofrerem se tornam
roxos igual crisântemos. No soneto “A Minha Dor”, os
lírios também se tornam roxos. Então, o amor não
correspondido é esse sofrimento capaz de
transformar a cor das cores, mesmo as naturais.
Os olhos sonham e estão perdidos, mas abertos ao mesmo tempo. As mãos também sonham,
personificadas. Só há imagens noturnas, de noites que são ora silenciosas (sem música, portanto,
sem vida), ora invernosas (indica estação temporal). E do inverno não sucede estação melhor, pois
vem o Outono, com sua imagem de queda. Só as mãos dele são plenas de carinho, pois o dias de
Outono, também eles personificados, tudo o que fazem é chorar. O choro é uma ação que se repete,
insistente. O sentimento extravasa o peito; a alma não dá conta dele. Na imagem acima, o eu lírico
não sente vontade de viver. Espera a morte, descomposta, deitada em sua cama de crisântemos
rosas/roxos (depende do ponto de vista) e cravos amarelos.
A cor foge das flores, do rosto, a vida se esvai. Há apelo desesperado, há invocação, que
lembra o fervor religioso. Porém, há um elemento interessante: um tertium datum. No verso, “E ele
é, meu Amor”, parte-se do pressuposto que “ele” não coincide com “meu Amor”. Logo, só pode ser
outra pessoa, mas quem? O Amor está deificado, como é de costume, mas “ele” aparece com letra
minúscula. No fundo, tudo o que é sólido se desmancha no ar. O fumo foge entre os dedos, a vida
escoe pelos dedos também. Tudo é vago. A atmosfera simbolista está consolidada. O sonho também
se embruma, se envolve no fumo. Nada mais tem consistência e há perda da noção da realidade,
como se fosse uma onda de torpor, embriaguez.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico sente dependência química pelo amado. Longe dele, não consegue
se sustentar, sua vida não tem sentido, está imobilizada numa inação. Os dias
são como Outonos, tristes, e até as rosas incorporam cores tristes. No fim, o
eu lírico se encontra em apelo, invocação. Temas importantes: embriaguez;
fuga da realidade; paraísos artificiais. A escola predominante desse poema é
o Simbolismo.
III
Frémito do meu corpo a procurar-te, saga do eu lírico que procura
Febre das minhas mãos na tua pele estado de embriaguez, anormalidade, doença
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, pronome relativo + sinestesia
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te, repetição da construção: a + infinitivo; pleonasmo
E vejo-te tão longe! Sinto tua alma sensibilidade à flor da pele: sentir o insentido
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas... fofoca, personificação, desolação, frustração
E o meu coração que tu não sentes, poeta da percepção aguçada x amado indiferente
Vai boiando ao acaso das correntes, gerúndio + fluidez
Esquife negro sobre um mar de chamas... paradoxo: morte e vida
Comentário geral
Esse poema integra uma série de dez poemas. Logo, ao intitulá-los com números romanos e
ter uma projeção serial de extensão um pouco maior que a do próprio soneto, Florbela Espanca
parece pretender se aventurar no épico.
O corpo passa por frêmito, está em estado de choque. A procura provoca uma espécie de
exaustão. As mãos estão quentes de febre, querendo passar esse calor também para o corpo do
amado. O pronome relativo “Que” o qual inicia o terceiro verso é ambíguo: não se sabe se ele se
remete ao que vem imediatamente anteriormente, “pele” ou se se remete à “febre”. Essa
ambiguidade é gerada gramaticalmente.
Esse estado de confusão em que se encontra o eu lírico lhe faz confundir os sentidos. Sente o
gosto de baunilha e mel, logo, gostos adocicados, ao mesmo tempo em que enxerga a cor âmbar. O
anseio é doido e doído, ao mesmo tempo, de forma que o tema da loucura, junto com a febre,
também está posto aí.
Os sentidos são aflorados. Ela sente sede, ou os seus beijos têm sede? Seus olhos buscam,
como que personificados. Também eles participam dessa busca. Paradoxalmente à primeira estrofe,
o gosto evocado na segunda estrofe é o amargor do veneno. O veneno também lembra “Fumo”,
como se fosse uma droga, algo tóxico, que faz mal. Por isso, ela sente mal-estar, tontura. Sente
também fome, trata-se de uma eterna insaciabilidade não só espiritual, como também sensorial.
Ela está incompleta. Pensa que o vê de longe, mas como ter certeza? Apenas sente uma
intuição de que ele está perto. Há um elemento da natureza, um lago, que transmite ideia de calma,
mas ao mesmo tempo, fluidez. E esse lago é inxerido, personifica-se e conta ao eu lírico uma fofoca:
ele não te ama, ele não te quer.
O amado é indiferente para com o eu lírico. Seu coração sente e sofre sem ser percebido. Há
novamente a condição da invisibilidade. O coração boia e flui, embora esse fluxo conduza mais à
morte (esquife negro) e à perdição (mar de chamas) do que à vida.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico está numa eterna saga de procura. O amado é indiferente para com
ela. Os sentimentos estão à flor da pele, tanto é que o eu lírico se fia neles.
Temas importantes: confusão, sensação, loucura, insaciabilidade, intuição.
Esse soneto segue predominantemente o movimento do Simbolismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
III
Fré-mi-to-do-meu-cor-poa-pro-cu-rar-te, (10 sílabas poéticas)
Fe-bre-das-mi-nhas-mãos-na-tu-a-pe-le (10 sílabas poéticas)
Que-chei-raa-âm-bar,-a-bau-ni-lha-ea-mel, (11 sílabas poéticas)
Do-í-doan-sei-o-dos-meus-bra-ços-aa-bra-çar-te, (12 sílabas poéticas)
4.12 – “Realidade”
Em ti o meu olhar fez-se alvorada, Iluminismo, racionalidade, foge dos padrões anteriores
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho, processo de naturalização: VL + predicativo
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho. mistura de cores
Minhas pálpebras são cor de verbena, vampiresca, planta com propriedades místicas
Eu tenho os olhos garços**, sou morena, autodescrição
E para te encontrar foi que eu nasci... objetivo de vida
Comentário geral
A realidade é uma possibilidade, concretizada (o tempo verbal utilizado é pretérito perfeito):
“fez-se”. Há uma brincadeira com a classe morfológica das palavras, pois depois do verbo de ligação
há substantivo – alvorada – e não adjetivo. Essa realização só é possível no olhar dele; logo, o eu
lírico ainda sofre dessa dependência.
Há uma enumeração de órgãos de sentidos: olhar, voz, boca. Existe a representação das cores
e alusão ao frescor da natureza. O gorjeio do ninho indica musicalidade, vida natural, e o linho
lembra a própria tessitura do texto. Porém, nesse poema a paixão passa pela iluminação; a
atmosfera aqui não é mais de pura dor e sofrimento. Pode-se até falar de certo resgate de ideiais
iluministas.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico ainda sente paixão, mas agora não está mais sofrida. Sente-se
iluminada, a paixão se naturaliza. Temas principais: racionalidade,
iluminação. Este poema segue predominantemente a tendência do
Parnasianismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Em-ti-o-meu-o-lhar-fez-seal-vo-ra-da, (10 sílabas poéticas)
Ea-mi-nha-voz-fez-se-gor-jei-o-de-ni-nho, (11 sílabas poéticas)
Ea-mi-nha-ru-bra-bo-caa-pai-xo-na-da (10 sílabas poéticas)
Te-vea-fres-cu-ra-pá-li-da-do-li-nho. (10 sílabas poéticas)
4.13 – “Súplica”
Existem 3 poemas com título igual, mas conteúdo diferente.
Porém, a UFRGS especificou qual é o poema exatamente mediante a disponibilização de
um link, já tendo em vista que este é um assunto importante para a autora.
Comentário geral
O eu lírico espera pelo amado enquanto apela por ele. Lembra as cantigas de amigo
têm raízes na Península Ibérica, em festas rurais e populares, com música e dança, com vestígios da
cultura árabe. São suas características:
• Ambientação rural;
• Linguagem simples;
• Repetições;
• Estrutura paralelística;
• Forte musicalidade.
Na cantiga de amigo, o eu lírico é geralmente feminino, e o tema mais frequente é um lamento
amoroso da moça cujo namorado partiu para as guerras árabes.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO Temas importantes: espera, medievalismo, trovadorismo, dama. O soneto
segue predominantemente a tendência do Trovadorismo.
VERSO Vamos simplificar essa análise, pois ela costuma ser mais regular. Vamos
nos ater somente à primeira estrofe.
*Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
O-lha-pra-mim,-a-mor,-o-lha-pra-mim; (10 sílabas métricas)
Meus-o-lhos-an-dam-doi-dos-por-teo-lhar! (10 sílabas métricas)
Ce-ga-me-com-o-bri-lho-de-teus-o-lhos (10 sílabas métricas)
Que-ce-gaan-doeu-há-mui-to-por-tea-mar. (10 sílabas métricas)
MÉTRICA Versos regulares = decassílabos.
RIMAS Os segundos versos costumam rimar com os quartos das quadras.
RITMO *Seguem marcações abaixo de apoio rítmico.
Olha pra mim, amor, olha pra mim; (4-6-10)
Meus olhos andam doidos por te olhar! (2-4-6-10)
Cega-me com o brilho de teus olhos (1-6-10)
Que cega ando eu há muito por te amar.
FORMA FIXA Quadra. Segundo Moisés (2012, p. 387), a quadra ou quadrinha “consiste num
quarteto, ou estrofe de quatro versos, que autonomizou e se fixou como
poema”. É conhecida desde a Idade Média pelo gosto popular e geralmente
tem versos redondilhos.
Mas nunca encontrarás p' la vida fora, como se fosse uma vingança
Amor assim como este amor que chora
Neste beijo d'amor que são meus versos! metáfora
Comentário geral
Há uma sinestesia já desde o título: uma certeza (abstrato) que é doce (palatável). O estado
de espírito do eu lírico é de ciúme. Diante da indiferença do amado, o eu lírico se vinga, desejando
que ele também não encontre o amor, que ele não se satisfaça. Ao mesmo tempo, sabe que ele
procurará por outros beijos, outros braços. Até se resigna com isso, não tem o que fazer.
Está certa como a certeza que tem da morte de que ele não se lembrará dela. Os olhos andam
imersos, aqui o verbo “andar” não está sendo utilizado no sentido de movimento, mas sim como
verbo de ligação. O amado lembra o Rei Midas, como se tudo o que ele tocasse virasse ouro.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico sente-se enciumado por causa da indiferença do amado. Enquanto
ele vive sua vida e busca por outros amores, ela se ressente contra ele. Temas
importantes: recalque, vingança, luz. Segue predominantemente a tendência
do Simbolismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Por-es-sa-vi-da-fo-rahás-dea-do-rar (10 sílabas poéticas)
Lin-das-mu-lhe-res,-tal-vez;-em-án-sia-lou-ca, (11 sílabas poéticas)
Em-in-fi-ni-toan-sei-ohás-de-bei-jar (10 sílabas poéticas)
Es-tre-las-d'oi-ro-ful-gin-do-em-mui-ta-bo-ca! (12 sílabas poéticas)
Tu foges-me, e eu sigo o teu olhar bendito; só é possível encontrar bonança com ele
Por mais que fujas sempre, um sonho há de alcançar-te projeções
Se um sonho pode andar por todo o infinito,
De que serve fugir se um sonho há de encontrar-te?! fatalismo, inexorabilidade
Comentário geral
O título do poema é uma expressão idiomática. O eu lírico parece não fazer muito caso, mas
segue uma lógica perniciosa de ressentimento, desejando o mal ao amado por não querê-la, por ser
indiferente com ela. A eterna perseguição parece mitológica, há seres como Sísifo que são
condenados eternamente a repetir o mesmo trabalho. “Beijo divino” e “olhar bendito” são imagens
insólitas, ela glorifica demais o amado.
Em “perceba se o amor é (...)”, a conjunção indica uma conjectura, ela ainda não chegou a
nenhuma conclusão. A chave de ouro é quase um comentário à parte. Há, por fim, ambiguidade no
termo “fuga”.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O sujeito se ressente contra o amado. A fuga é eterna, mas essa fuga pode ser
a duração de uma música ou o processo de busca. O eu lírico endeusa o
amado que continua por menosprezá-la. Temas importantes: O soneto segue
predominantemente a tendência do Modernismo.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Eu-si-go-tee-tu-fo-ges.-É-es-teo-meu-des-ti-no: (13 sílabas poéticas)
Be-ber-o-fel-a-mar-goem-lu-mi-no-sa-ta-ça, (12 sílabas poéticas)
Cho-rar-a-mar-ga-men-teum-bei-jo-teu,-di-vi-no, (12 sílabas poéticas)
E-rir-o-lhan-doo-vul-toal-ti-vo-da-des-gra-ça! (12 sílabas poéticas)
4.16 – “A Mulher I”
Este soneto se encontra em Trocando Olhares.
E gritam então os vis: “Olhem, vejam julgamento = discurso direto (falas, senso comum)
É aquela a infame!” e apedrejam como a prostituta apedrejada na Bíblia
A pobrezita, a triste, a desgraçada!
Comentário geral
Este é o primeiro poema de uma série de dois, um atrás do outro, intitulados e
igualmente enumerados. A mulher é um ser trágico. Já dizia Eurípides em sua
tragédia Medeia: “De todos os seres viventes é a mulher a que mais sofre”. Florbela
Espanca neste poema fala de uma importante questão: a condição da mulher. O
eu lírico não é sofrido à toa, é por que é mulher. A mulher é uma incompreendida.
Nós somos as que devemos reprimir os sentimentos; não podemos mostrar
sentimentalismo exacerbado, senão, logo já somos julgadas.
Por falar em mitologia, o universo feminino é ligado à deusa do amor, Vênus/Afrodite, mas
também ao de Marte/Ares, o deus da guerra, não por que a mulher é feminina, mas sim por que ela
deve ser forte no enfrentar de suas lutas.
Mas não é sempre que é possível ser forte. Às vezes, a mulher é uma pobrezinha. A diferença
entre ela e o homem é marcada também no julgamento: se a mulher se relaciona com o homem,
ela será a maculada; ele não, segue incólume. Mas a mulher é a melhor amiga de si, como se fosse
no Juca-Pirama de Gonçalves Dias, diz a si mesma: seja forte, seja brava.
Logo, há uma diferença acentuada entre os comportamentos masculinos e femininos.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico é feminista antes do feminismo. Denuncia diferenças entre
comportamentos e a injustiça de o mundo ser mais masculino do que
feminismo. Temas importantes: condição da mulher, feminismo,
comportamentos. O soneto é predominante modernista em sua temática.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Um-en-te-de-pai-xão-e-sa-cri-fí-ci-o, (10 sílabas poéticas)
De-so-fri-men-tos-chei-o,-eis-a-mu-lher! (10 sílabas poéticas)
Es-ma-gao-co-ra-ção-den-tro-do-pei-to, (10 sílabas poéticas)
E-nem-te-do-as-co-ra-ção,-se-quer! (10 sílabas poéticas)
Comentário geral
A temática amorosa desaparece e o eu lírico parece resgatar o amor-próprio. É autorreflexiva,
pensa na sua própria condição. Esse poema está dialogando com o anterior. A serialidade entre os
poemas tornam a sua temática ainda mais forte, mais potente. E é a mulher a responsável por se
conferir força. Um coletivo de mulheres pode se entender, pode surgir sororidade.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO A mulher está começando a abandonar um papel de sofrida e percebe que a
sua vida não é só esperar por um homem. Ainda há limitações, mas se elas se
pluralizarem, elas podem se entender. A compreensão partirá do coletivo.
Temas importantes: condição da mulher, feminismo, comportamentos. O
soneto é predominante modernista em sua temática.
VERSO *Os grifos em vermelho significam as elisões, quando houver, e em azul é a
última sílaba poética
Ó-mu-lher!-Co-moés-fra-cae-co-moés-for-te! (10 sílabas poéticas)
Co-mo-sa-bes-ser-do-cee-des-gra-ça-da! (10 sílabas poéticas)
Co-mo-sa-bes-fin-gir-quan-doem-teu-pei-to (10 sílabas poéticas)
A-tu-aal-ma-sees-tor-cea-mar-gu-ra-da! (10 sílabas poéticas)
Prezados alunos!
A partir daqui os quadros sinópticos se tornarão mais
concisos e menos técnicos. Sugiro preencherem por conta
própria! As anotações autorais são muito importantes para
o seu aprendizado!
4.18 – “Amiga”
Este soneto se encontra no Livro de Mágoas.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor jogo de palavras + acusação dele pelo seu sofrimento
O que me importa a mim?! O que quiseres pergunta retórica
É sempre um sonho bom! Seja o que for, há algo nela de não corruptível, não negativo
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Comentário geral
O título é ambíguo: parece sororidade a outrem quando no fundo fala de si. É outro o
interlocutor, retorna a imagem do Amor. Há contraste nos comparativos. A dor, o sacrifício, o
sofrimento, só são aceitáveis se partirem dele. Ela é desafiadora ou provocadora, ou ao menos
parece numa primeira instância, mas volta a permitir que ele a despreze.
Os dois últimos tercetos o eu lírico retorna a um idílio: o amor é percebido como ferramente
possível para sair do abismo.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico deseja tornar-se irmã do amado, no sentido da fraternidade, da
lealdade, da sororidade para com ele (não mais para com as mulheres). É
possível um idílio, uma cena de amor.
FORMA FIXA Soneto clássico. A chave de ouro diz respeito ao sonho e a temática do poema
é predominantemente simbolista.
4.19 – “Ódio?”
Este soneto se encontra no Livro de Sóror Saudade, embora a UFRGS não tenha
especificado o título com pontuação, e lá no livro o título inclua ponto de interrogação.
Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto, ela se autoindaga, faz uma autocrítica
Se tanto bem lhe quis no meu passado, anáfora
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto mulher que tudo aceita, tudo perdoa
Turva o meu triste olhar, marmorizado, imobilização
Comentário geral
Este poema no original tem uma epígrafe: “À Aurora Aboim”, uma mulher, na verdade.
Mesma a mais taxativa as palavas pode ser colocada em dúvida, pois o título no original também
leva o ponto de interrogação.
O amor (cego) que tudo perdoa e tudo desculpa lembra a santidade de Sóror Saudade. O
tempo do “nunca” mais é intensificado. O paraíso é um jardim sem início e fim, como o eu lírico
aponta em “Fanatismo”. Parece responder a Fernando Pessoa: nem tudo vale a pena se você está
sofrendo.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico se revela bem mais madura, consciente, sensata, ponderada e
comedida, quase parnasiana. Aqui não é mais tanto o lugar para excesso de
emoções.
FORMA FIXA Soneto clássico. A chave de ouro diz respeito a uma tomada de consciência.
Por esse motivo, o soneto pode ser aproximado do Realismo.
4.20 – “Amar!”
Este soneto se encontra no Charneca em Flor
Comentário geral
O título do poema é um verbo no infinitivo seguido de uma exclamação. Parece êxtase, mas
também indica uma dor de não poder amar. Amar a todos pressupõe humanismo, irmandade.
A imagem do canto e da primavera indicam um eu lírico num estado de espírito mais leve. No
fundo, ela se livra de um amor não correspondido e defende amor nenhum, apenas o amor-próprio.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico defende um amor humanitário e para consigo mesmo. Apesar do
título invocar um sentimento, o eu lírico revela-se consciente.
FORMA FIXA Soneto clássico. A chave de ouro diz respeito a uma tomada de consciência.
Por esse motivo, o soneto pode ser aproximado do Realismo.
Do teu frio desamor, dos teus desdéns, metonímia: até do desdém, ela é digna só de parte
E, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?
Comentário geral
No título, “O Maior Bem” parece ser um superlativo, mas só na linguagem, porque é uma
ironia. No fundo, ela se rebaixa constantemente.
O homem irá amar e ela irá sofrer. Essa imagem já foi bem pintada ao longo dos romances.
Muitas outras mulheres serão beijada se amadas e ela não. Ela não se reconhece nunca como objeto
de desejo e amor. Sente-se sempre abandonada, ignorada.
Porém, como diz a máxima: “quanto mais ele pisa, mais ela se apaixona”, ela valoriza dele até
mesmo o desdém. Seria esse o maior bem para ela, que não é físico, mas sim abstrato. É uma grande
ironia, porque sequer é um bem.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico volta a se rebaixar e situar seu amor acima de tudo e de todos. É
como se ela tivesse tido uma recaída.
FORMA FIXA Soneto clássico. A chave de ouro diz respeito a uma ironia, pois desdém não
é um bem, quanto muito o maior bem. Por esse motivo, o soneto pode ser
aproximado do Realismo.
4.22 – “Neurastenia
Este soneto se encontra no Livro de Mágoas.
Chuva ... tenho tristeza! Mas por quê?! desespero, tenta entender indagando
Vento ... tenho saudades! Mas de quê?! Sebastianismo português + pergunta retórica
Ó neve que destino triste o nosso! destino coletivo, português
Comentário geral
É extremamente importante nesse poemas os elementos naturais: chuva, flocos
de neve, aves, vento: tudo condiz à naturalidade dos sentimentos. Eles se vinculam
aos ciclos da natureza.
E ao mesmo tempo há estranhamento desses sentimentos, que conduzem a
várias saídas: religião, loucura, esgotamento total dos nervos.
Se é triste o nosso destino, seria o triste destino português pós-Primeira Guerra
Mundial. A humanidade se encaminhava para a loucura de uma outra guerra. A
responsabilidade do poeta não é mais só individual, mas sim social, coletiva. Esse poema se aproxima
do Realismo, também pelo seu cientificismo, por trazer um termo técnico já desde o título.
Crise nervosa ou colapso nervoso, é o sinal de que algo está, literalmente, fora de controle,
e é preciso estar atento, tanto às causas quanto às consequências desse mal.
Existem diversos fatores que podem levar o indivíduo a uma crise nervosa, e os principais
são:pressão excessiva no trabalho;conflitos no relacionamento;situações de violência;traumas
e perdas;estresse;ansiedade.
Neurastenia é um distúrbio psicológico que resulta do enfraquecimento aumentado do
sistema nervoso central (neuro = cérebro, astenia= fraqueza), ocasionado principalmente por
estafa, esgotamento mental, permanência por longos períodos em lugares pouco arejados,
sujeição a frequentes emoções fortes, entre outros fatores.
O indivíduo acometido por neurastenia apresenta, geralmente, impossibilidade de realizar
atividades físicas, oscilação contínua de humor, depressão, tremores sem causa aparente,
dormência e formigamentos dos membros, memória debilitada, vertigens, dores de cabeça e
musculares, insônia, dificuldade de concentração, problemas alimentares, perda da capacidade
de sentir prazer e ansiedade.
Pessoas neurastênicas devem evitar rotinas estressantes, para não vivenciarem crises
nervosas.
Quadro sinóptico
CATEGORIA DEFINIÇÃO
EU LÍRICO O eu lírico abandona uma postura individualista para adotar questionamentos
outros, de cunho coletivo.
FORMA FIXA Soneto clássico. A chave de ouro diz respeito ao enlouquecimento, a um não
mais aguentar, dar conta. Porém, pela temática social, o poema se associa ao
Realismo/Naturalismo.
5 – Fortuna Crítica
A UFRGS não tem tendência de cobrar crítica e essa seção serve tão somente para o
aprimoramento das nossas análises.
Selecionei apenas alguns trechos da fortuna crítica para compreendermos ainda melhor
nossas análises e ainda por cima um trecho de uma carta (logo, escrita em prosa) da escritora
Florbela Espanca, para percebermos como ela se manifestava nesse gênero.
A pesquisadora Eliana Barros diz que existem várias formas de amor em Florbela Espanca. O
amor pode ser idealizado ou sublimado por exemplo. O amor pode ser:
• paixão (sensorial);
• cortês (trovadoresco, com código de conduta, a dama é intocável);
• amor de transferência (de substituição, como a criação de uma ficção para preencher um
vazio);
• amor trágico (diferença entre querer e poder).
Além disso, vamos observar um trecho da pesquisadora Eliana Barros.
Florbela busca obstinada e sucessivamente o amor em seus escritos. Anseia ser muito mais
do que um objeto causa de desejo. Quer ser o próprio objeto do desejo e, como tal, aquela
que completa e se completa com o amado. Assim, comparece a agonia em face do não
reconhecimento do outro e da falta de amor – é preciso confirmação do outro, para que
possa reconhecer-se como mulher. Daí sua poesia queixosa, em que apreende um lamento,
uma ferida (...). Dito de outro modo, Florbela nunca se satisfaz, está sempre demandando,
porque sonha com a relação sexual, com o gozo pleno. Na busca desse gozo absoluto, jamais
alcançado, o que se repete de diferentes formas é o fracasso. Ela quer ser a flor mais bela,
o agalma*, o objeto precioso, mas essa fantasia transforma o impossível em impotência,
razão pela qual sua poesia é um testemunho poético do sofrimento.
*agalma = é um termo lacaniano, utilizado em seus seminários. Tem a ver com enigma.
Fonte: BARROS, 2014, p. 35 (grifos meus).
espécie de perda. Por isso, é comum ela representar a dor de existir e a dor como fonte de gozo, o
que já beira a margem do sadomasoquismo.
Essa eterna insatisfação e busca sem fim é um fato que também aparece na própria biografia
de Florbela Espanca. A poetisa se casou 3 vezes:
• Alberto de Jesus Silva Moutinho (1913-1920);
• António José Marques Guimarães (1921-1925);
• Mário Pereira Lage (1925-1930).
A pesquisadora Maria Lúcia dal Farra explica sobre a complexidade das cartas de Florbela
Espanca, pois lá também a poetisa se revelava como sendo várias Florbelas: introvertida;
estrategista; quando ela estava grávida de Guimarães, mas longe dele; com senso de humor;
destemida; desafiadora etc. Assinava a carta como Bela e chamava António de Toninho. A pesquisa
da autora se estende de 1920 a 1925, portanto, a esse relacionamento. A correspondência de
Florbela Espanca também tem outro importante destinatário: Apeles, seu irmão.
6.1 - Epígrafes
Florbela Espanca teve os seus admiradores, seus artistas de preferência, dedicando alguns de
seus poemas a eles e até mesmo utilizando-os como epígrafes em seus livros. Nesse sentido,
dialogou com o cânone e os seus contemporâneos. Vamos compreender então qual era o interesse
dela neles.
Rubén Darío
Maurice Maeterlinck
6.2 – Sugestões
Não que tenha sido intenção da própria autora estabelecer essas conexões. Esta é a minha
proposta aqui, para ampliarmos o nosso repertório e enxergar mais uma vez a importância de
Florbela Espanca, e a coerência de seu pensamento a qual proporciona um possível diálogo com
outros autores.
Que lança em mim a bênçâo dum afago... Noturnamente, entre remagens frias.
1. (UFRGS/2019)
Leia trechos dos poemas “Fanatismo”, de Florbela Espanca, e “Imagem”, de Cecília Meireles.
Fanatismo
(...)
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
Imagem
Tão brando é o movimento
das estrelas, da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.
e) V – F – V – F.
2. (UFRGS/2019)
Considere os poemas de Florbela Espanca.
Leia as seguintes afirmações sobre os sonetos “Fumo” e “Neurastenia”.
3. (UFRGS/2019)
Considere os poemas de Florbela Espanca.
Assinale a alternativa correta sobre o poema “Ser poeta”.
4. (PUC-MG/2015)
FANATISMO
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
A poesia de Florbela Espanca é conhecida por sua singular representação do universo feminino. No
poema, a imagem construída pelo eu lírico é a de uma mulher
a) convicta de seu amor.
b) devota à vida religiosa.
c) receosa diante da morte.
d) obcecada pelo ser amado.
5. (PUC-MG/2014)
“Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!”
(Florbela Espanca, “Ser poeta”).
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(Fernando Pessoa, “Autopsicografia”).
6. (UNIVAG-MT/2014)
7. (UNIFESP/2009)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
ESQUECIMENTO
Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
8. (UNIFESP/2009)
O esquecimento descrito pelo eu lírico:
a) Decorre do seu sentimento de perda e de saudade.
b) É fruto dos seus sonhos, incompatíveis com a realidade.
c) Torna-o ciente de que sua agonia está por findar.
d) Traduz a esperança, pelo jogo de cores remetendo à claridade.
e) Mostra o amor como intenso e indesejável.
9. (UESPI/2008)
Os enunciados seguintes versam sobre o Modernismo em Portugal, suas fases e seus autores.
Assinale a alternativa correta.
a) Divide-se o Modernismo português em quatro momentos, todos eles marcados pelo viés
surrealista e cubofuturista.
b) Fernando Pessoa, inserido no primeiro momento do Modernismo em Portugal, experimentou
radicalmente a poesia, atribuindo, inclusive, muitos poemas a heterônimos determinados.
c) O segundo momento do Modernismo português ficou conhecido como Orfismo, caracterizado
pelo diálogo intenso com as vanguardas européias.
d) O neo-realismo português coincidiu com o neorealismo brasileiro, e se caracterizou pelo retorno
ao positivismo dominante nas obras de Eça de Queirós, escritor eleito como modelo da escrita
realista.
e) Florbela Espanca e José Saramago marcaram o início do quarto momento do Modernismo
português, caracterizado por uma estética romântico-sentimental.
10. (Mackenzie/1998)
I - Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
(Cecília Meireles)
III- Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)
11. (3º Provão de Bolsas – Estratégia Vestibulares 2020 – Profa. Luana Signorelli)
Leia o soneto abaixo para julgar aos itens.
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …
12. (2º Simulado FUVEST – Estratégia Vestibulares 2020 – Profa. Luana Signorelli)
FONÓGRAFO
Vai declamando um cômico defunto.
Uma platéia ri, perdidamente,
Do bom jarreta... E há um odor no ambiente
A cripta e a pó, do anacrônico assunto.
1. “Lágrimas Ocultas”
2. “A Minha Dor”.
TEXTO II – AMIGA
Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.
8 – Gabarito
1. A 9. B
2. D 10. E
3. C 11. B
4. A 12. C
5. C 13. D
6. D 14. E
7. E 15. A
8. A
1. (UFRGS/2019)
Leia trechos dos poemas “Fanatismo”, de Florbela Espanca, e “Imagem”, de Cecília Meireles.
Fanatismo
(...)
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
Imagem
Tão brando é o movimento
das estrelas, da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.
3. (UFRGS/2019)
Considere os poemas de Florbela Espanca.
Assinale a alternativa correta sobre o poema “Ser poeta”.
Alternativa “b”: incorreta. Pelo contrário. Florbela Espanca não trabalha com limites, com
impedimentos. Sua obra é aberta para potencialidades. No verso “Morder como quem beija!” de
“Ser Poeta”, o eu lírico compara a ânsia e o ímpeto de escrever como se fosse um impulso amoroso,
erótico (vide reflexões sobre Freud ao longo da aula).
Alternativa “c”: correta – gabarito. Como é expresso já desde o primeiro verso: “Ser poeta é
ser mais alto, é ser maior” até a chave de ouro: “E dizê-lo cantando a toda a gente!”. Logo, o poeta
é o artista da abrangência, da superioridade per se.
Alternativa “d”: incorreta. A linguagem é altamente metafórica. São dados vários conceitos
para o que seria ser poeta. Porém, a metaforicidade do texto não necessariamente coincide com as
realidades, as certezas. Até porque em vários outros poemas o que predomina é o contrário: são as
indeterminações.
Alternativa “e”: incorreta. Especifica os reinos: “Rei do Reino de Aquém e de Além Dor”, mas
também é mendigo. Ou seja, ser poeta é ser paradoxal, é conseguir encarnar em si forças
contraditórias e saber representá-las na arte.
Gabarito: “c”.
4. (PUC-MG/2015)
FANATISMO
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
A poesia de Florbela Espanca é conhecida por sua singular representação do universo feminino. No
poema, a imagem construída pelo eu lírico é a de uma mulher
a) convicta de seu amor.
b) devota à vida religiosa.
c) receosa diante da morte.
d) obcecada pelo ser amado.
Comentários
Alternativa “a”: correta – gabarito. Tão convicta que chega a comparar o ser amado a uma
divindade perfeita.
Alternativa “b”: incorreta. Cuidado: Florbela Espanca o tempo inteiro embaralha as noções
de sagrado e profano. Não é porque o poema mencione Deus que ele necessariamente vai abordar
temática religiosa.
Alternativa “c”: incorreta. O Amor é deificado como se fosse a divindade mitológica do
Cupido. O impulso erótico e o de morte (tânatos) caminham juntos. Ela não receia a morte, mas sim
tem apego a ela, chega a desejá-la. Em determinados momentos, a morte parece a única solução
possível. A morte, então, representaria o anseio pelo infinito.
Alternativa “d”: incorreta. Atenção: no fundo, a obsessão é pela busca. Só ela é eterna. Seja
pelo amado, seja por Deus.
Gabarito: “a”.
5. (PUC-MG/2014)
“Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!”
(Florbela Espanca, “Ser poeta”).
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
(Fernando Pessoa, “Autopsicografia”).
do amado em Deus), e a fuga da realidade são características que nos permitem enquadrar esse
poema na temática romântica.
Alternativa “e”: incorreta. Não detalhadamente, mas apenas com alusões vagas, como
repetição de ciclos, princípio e fim, o velho retorno do mesmo, como chamaria o filósofo alemão
Friedrich Nietzsche: “A mesma história tantas vezes lida!”.
Gabarito: “d”.
7. (UNIFESP/2009)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
ESQUECIMENTO
Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Alternativa “b”: incorreta. Nunca plenamente, pois há algo no substrato do inconsciente que
pode permanecer e retornar. Trata-se do amor sublimado.
Alternativa “c”: incorreta. Eufemismo é uma figura de linguagem de abrandamento,
mitigamento e não de contradição.
Alternativa “d”: incorreta. Metonímia é uma figura de linguagem que ocorre para representar
a relação entre uma parte e o todo. O estar com o amado é só um sonho. Na realidade, ela não está
com ele. E lamento que o fato do desaparecimento físico do amado também pode simbolizar o
mental, seu respectivo esquecimento.
Alternativa “e”: correta – gabarito. Pois é como diz o ditado popular: “quanto mais quer se
esquecer, pelo contrário, mais se lembra”.
Gabarito: “e”.
8. (UNIFESP/2009)
O esquecimento descrito pelo eu lírico:
a) Decorre do seu sentimento de perda e de saudade.
b) É fruto dos seus sonhos, incompatíveis com a realidade.
c) Torna-o ciente de que sua agonia está por findar.
d) Traduz a esperança, pelo jogo de cores remetendo à claridade.
e) Mostra o amor como intenso e indesejável.
Comentários
Alternativa “a”: correta – gabarito. A representação do amor em Florbela Espanca
frequentemente passa pela noção da perda, da falta. Nesse poema, reaparecem os crisântemos
roxos, as flores que simbolizam seu alento, que a amparam.
Alternativa “b”: incorreta. Não são incompatíveis. Seu desejo é que fossem compatíveis. O
esquecimento tem a ver com a realidade. O sonho é um lugar em que o eu lírico ainda pode resgatar
a lembrança do amado, mas, a partir do momento que acorda, percebe a sua ausência física.
Alternativa “c”: incorreta. Em nenhum momento. A busca por algo é eterna; logo, sempre vai
haver uma falta, a qual constantemente está associada à dor, à angústia, ao desespero.
Alternativa “d”: incorreta. A claridade é longínqua. Há versos que dizem literalmente: “Tudo
em redor escureceu, /e foi longínqua toda a claridade”. Talvez haja um jogo de luz e sombras, o que
remete à técnica do chiaroscuro do Barroco.
Alternativa “e”: incorreta. “A doce agonia de esquecer”, um paradoxo sadomasoquista. Ela
não gosta nem de lembrar nem de esquecer. Em tudo ela sente dor, mas parece se comprazer dessa
dor.
Gabarito: “a”.
9. (UESPI/2008)
Os enunciados seguintes versam sobre o Modernismo em Portugal, suas fases e seus autores.
Assinale a alternativa correta.
a) Divide-se o Modernismo português em quatro momentos, todos eles marcados pelo viés
surrealista e cubofuturista.
b) Fernando Pessoa, inserido no primeiro momento do Modernismo em Portugal, experimentou
radicalmente a poesia, atribuindo, inclusive, muitos poemas a heterônimos determinados.
c) O segundo momento do Modernismo português ficou conhecido como Orfismo, caracterizado
pelo diálogo intenso com as vanguardas européias.
10. (Mackenzie/1998)
I - Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
(Cecília Meireles)
III- Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
11. (3º Provão de Bolsas – Estratégia Vestibulares 2020 – Profa. Luana Signorelli)
Leia o soneto abaixo para julgar aos itens.
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …
c) I e II.
d) II e III.
e) I e III.
Comentários
Afirmação I: correta. O fonógrafo é um instrumento antigo para se tocar discos. Mudar o
registro é literalmente como trocar o disco.
Afirmação II: correta. Figura de linguagem que materializa a união de sentidos, como no verso
“Dum clarim de oiro o cheiro de junquilhos”.
Afirmação III: incorreta. Não há informações suficientes para se afirmar isso.
Gabarito: “c”.
1. “Lágrimas Ocultas”
2. “A Minha Dor”.
TEXTO II – AMIGA
Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.
10 – Referências Bibliográficas
ANJOS, Augusto de. Versos íntimos. Disponível em: https://tinyurl.com/mj6dxl. Acesso em: 07 jul.
2020.
APOLLINAIRE, Guillaume. Caligramas. Trad. Álvaro Faleiros. 2. ed. São Paulo; Brasília: Ateliê Editorial;
Editora UnB, 2019.
BARROS, Eliana Luiza dos Santos. Florbela Espanca: laços de amor e dor. Rio de Janeiro: Contra Capa,
2014.
BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa (o Spleen de Paris). Trad. Dorothée de Bruchard.
São Paulo: Hedra, 2009.
______. As flores do mal. Trad. Júlio Castañon Guimarães. São Paulo: Penguin Classics Companhia
das Letras, 2019.
BUARQUE, Chico. Tanto mar. Disponível em: https://tinyurl.com/y9n3syq6. Acesso em: 07 jul. 2020.
CITADOR – POEMAS. Disponível em: https://tinyurl.com/y8hk3dle. Acesso em: 06 jul. 2020.
CEREJA; William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta de
produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2005.
DICIONÁRIO Aulete. Versão Digital. Disponível em: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 04 jul.
2020.
SER POETA – Florbela Espanca – Cantado por Luís Represas. Disponível em:
https://tinyurl.com/y7vbh63o. Acesso em: 06 jul. 2020.
SOUSA, Cruz de. Violões que choram. Disponível em: https://tinyurl.com/yc3szwfk. Acesso em: 07
jul. 2020.
UFRGS – LEITURAS OBRIGATÓRIAS 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/y8gwvwav. Acesso em:
28 jun. 2020.
VERLAINE, Paul. A voz dos botequins e outros poemas. Trad. Guilherme de Almeida. São Paulo:
Hedra, 2009.
11 – Considerações Finais
Luana Signorelli