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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

EXTENSIVO

VESTIBULARES
Exasiu 2024
Aula 00 – Conceitos Fundamentais

Exasi
O que é Literatura. História da Literatura. Os dois eixos
temáticos: forma e conteúdo. A intertextualidade. Movimentos
Literários. Gêneros literários: poesia, prosa e teatro.
Interpretação de obras artísticas.

u
Prof. Luana Signorelli

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


estretegiavestibulares.com.br vestibulares.estrategia.com
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 5

Metodologia 5

1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 9

1.1. HISTÓRIA E FUNÇÃO DAS ARTES E DA LITERATURA 9

1.2. O CONTEXTO 11

1.3. VALORES, EXPRESSÃO E FORMAÇÃO SENTIMENTAL 13

1.4. FORMA E CONTEÚDO 13

1.5. TEXTO LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO 17

1.6. INTERTEXTUALIDADE 19

2. HISTÓRIA DA LITERATURA: AS BELAS ARTES 22

2.1. MOVIMENTOS LITERÁRIOS 22

3. GÊNEROS LITERÁRIOS 29

3.1. POESIA 32
3.1.1 Características da poesia 32

3.2. PROSA 42
3.2.1 CARACTERÍSTICAS DA PROSA 44

3.3. TEATRO 46
3.2.1 CARACTERÍSTICAS DO TEATRO 47

4. INTERPRETAÇÃO DE OBRA DE ARTE 50

5. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 53

6. GRAMÁTICA APLICADA À LITERATURA 56

7. CRÍTICA LITERÁRIA 57

8. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 61

8.1GABARITO 96

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9. QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 97

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 148

10.1. REFERÊNCIAS DAS IMAGENS DO QUADRO DOS MOVIMENTOS LITERÁRIOS 149

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS 150

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Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora @profa.luana.signorel


Luana Signorelli li

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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Lembrando que a aula de número 00 é demonstrativa e gratuita, sendo disponibilizada


no nosso site: www.estrategiavestibulares.com.b

APRESENTAÇÃO

Quem Sou Eu?


Olá, alunos.
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e
Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e
Doutoranda em Teoria e História Literária pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já
qualificada. Tenho 11 anos de experiência com revisão
e padronização textual e 10 anos em curso pré-vestibular,
tendo passado por instituições conhecidas e renomadas.
Assim, pode-se dizer que Literatura não é só a
minha especialidade, como também minha paixão!
Costumo dizer que faço o que amo e amo o que faço. Eu
garanto que vocês terão todo o apoio de que necessitam
e seus estudos estarão em mãos de pessoal qualificado
e competente.
Como diz o escritor russo Liév Tolstói em seu romance Anna Kariênina: “qualquer que
seja ou venha a ser o nosso destino, somos nós que o fazemos”. Então, vamos tomar as rédeas
de nossas vidas, a fim de construirmos juntos o seu sonho rumo à sua aprovação!
Lembrem-se sempre de nosso lema:

“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.

Hoje iniciamos nosso Curso Extensivo de Literatura para ENEM 2023. Logo abaixo,
encontra-se a nossa metodologia e também como será organizado nosso plano de aulas.

METODOLOGIA

Essa é a nossa aula demonstrativa. Em relação ao Estratégia Vestibulares, veja como


produtos o que oferecemos a você:
• Livro digital completo (PDF) com muitos exercícios. A proposta é ter questões ao longo
do material e ao final dele, com lista da instituição e uma lista de fixação de questões
de outras instituições, pertinentes ao momento pedagógico.
• Fórum de dúvidas: um canal de comunicação entre o aluno e o professor, disponível
na área do aluno, junto com a ferramenta de notificação;
• Sala VIP: outra via de comunicação. Costuma ser uma conversa semanal que dura 1
hora. Vocês podem me sugerir o que pretendem estudar, estou aberta a sugestões!

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• Videoaulas gratuitas em todos os horários de todas as disciplinas no Canal do


YouTube do Estratégia Vestibulares. Nesse ano, vamos reaproveitar as aulas
anteriores e nos focar no PDF;
• Webinários e eventos extras acerca do seu concurso no Canal do YouTube do
Estratégia Vestibulares;
• Simulados inéditos e gratuitos todo final de semana. Acesso fácil, simples e direto por
meio dos links disponibilizados com antecedência nas redes sociais;
• Blog do Estratégia Vestibulares, com artigos, informações e materiais gratuitos;
Para cumprir a tarefa de ofertar um material suficiente para seu preparo, elaborei um curso
no qual vocês encontrarão a seguinte base:

LITERATURA

Estudo de
Estudo da Fornecimento de
movimentos Formação de
historiografia instrumentos
artísticos: repertório e
literária e dos críticos-teóricos e
Linguagens e bagagem cultural
movimentos de interpretação
Códigos

Dessa maneira, vocês poderão contar com informações completas e apoio especializado
rumo ao que vocês precisam. E o melhor de tudo – em um único local não físico, o que lhes
permite flexibilidade nos estudos. Deixem o conteúdo por nossa conta e concentrem-se no que
realmente é importante para vocês. Acreditem no nosso material a partir de nossas escolhas
didáticas e metodológicas:

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Teoria literária, Vinculação do


focando no tema da aula a
Resolução de
cânone (autores movimentos
METODOLOGIA questões ao
e obras mais artísticos
longo da teoria
importantes) e (Linguagem e
além dele Códigos)

Resolução de
Seção da aula Seção da aula
muitas questões
dedicada à dedicada à
de diversos
Gramática e compreensão de APROVAÇÃO!
níveis, para
Interpretação de textos de crítica
sedimentar o
Texto literária
conhecimento

CURSO REGULAR: na modalidade


extensiva (ano inteiro) e intensiva (meio do
ano) + carreira geral/medicina + Gigantes
Paulistas.

SPRINT: intensivo, perto da prova e focado


em exercícios. Oferecemos SPRINT ENEM
em 2020 e 2021. No primeiro, resolvemos
todas as questões da banca; no segundo,
questões inéditas e autorais

JORNADAS: são os cursos de reta final,


incluindo: hora da verdade, premonição,
revisões de véspera, gabarito ao vivo, pós-
prova, mapa de prova.

Agora, prestem atenção em algumas informações importantes!


• Se a sua instituição cobrar lista obrigatória de livros, não se preocupem, corujinhas!
O Estratégia Vestibulares irá fornecer cursos específicos no seu determinado
momento. O cronograma de dos PDFs dos cursos de obras literárias será lançado
assim que forem publicados os novos editais. Não se preocupem, pois o seu material
será adequado, atualizado e adaptado para contemplar as suas necessidades, de
acordo com as demandas de sua instituição.

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• O curso de Literatura será ministrado por mim. Os cursos de obras literárias, quando
for lançados, será dividido entre a Equipe de Português. Meus colegas de equipe são:
Professora Celina Gil e Professor Wagner Santos (Gramática e Interpretação de
Texto); Professor Fernando Andrade (Redação e Filosofia); Professora Bete Ana
(Literatura e Obras Literárias) e Professora Marina Ferreira (Gramática; Interpretação
de Texto e Obras Literárias).
• As informações que precisarmos passar para vocês será feita via plataforma digital,
principalmente mediante a ferramenta de notificação. Para além disso, para problemas
técnicos de TI ou burocráticos, por exemplo, vocês também podem entrar em contato
com o seguinte endereço de e-mail: vemsercoruja@estrategiavestibulares.com.br.

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1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Para se preparar para Literatura, é importante que você entenda a lógica dessa área do
conhecimento, pois isso pode ajudá-lo a prever o que será pedido na sua prova. Nesse primeiro
momento, vamos discutir o sentido de Literatura, entendendo que ela compreende um caminho
em direção à humanização.

A Literatura é uma Ciência Humana produzida por seres humanos e para seres humanos.
Isto quer dizer que seres humanos são tanto o sujeito produtor desse tipo de arte em
particular quanto o seu público-alvo receptor. Muito possivelmente, a banca da sua prova,
ao cobrar Literatura, pretende orientar os seus estudos rumo a uma capacidade crítica de
raciocínio menos técnica e mais autônoma, subjetiva, sensível, refinada.

1.1. HISTÓRIA E FUNÇÃO DAS ARTES E DA LITERATURA


Qual é a função da arte? Aparentemente nenhuma, dado que não produz nada que
garanta a sobrevivência física do ser humano. Por outro lado, não se pode desvincular o homem
da produção artística. Até mesmo hoje, numa sociedade profundamente marcada pelo valor
monetário que reduz tudo a número, a representação através de música, pintura, vídeos, entre
outros, constituiu também em formas lucrativas do sistema.

No momento de seu surgimento, o ser humano já produzia representações de sua própria


existência. É como se a vida fosse insuportável se ele não pudesse apreciá-la e condensá-la em
imagens cheias de sentido e significado. Posto que a imagem vinha carregada de sentido, ela
surge junto com os rituais mágicos, inspirando cuidados, terror e reverência.
No Paleolítico Superior (aproximadamente 40.000 a. C.), os homens primitivos faziam
desenhos de animais como se quisessem, a partir da imagem, evocar espíritos que pudessem
determinar uma boa caçada. A partir da imagem que eles produziram, é possível entender a
dinâmica da vida deles e sentir em nós próprios aquilo que há de humano em nós: o desejo de
proteção, a admiração diante de um mundo hostil, a capacidade de extrair beleza daquilo que é
efêmero etc.
Fonte: Pixabay.

Isso é o que chamamos de expressão. Grandes artistas conseguem expressar medos,


vontades e desejos de suas épocas tanto nas Artes Visuais quanto na Literatura.
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A partir da interpretação dessas obras, é possível perceber a forma de viver desses nossos
ancestrais e manter vivo o canal de compreensão com aquilo que nos formou.

Até o Renascimento, arte e religião caminharão lado a lado. Naquele momento, o campo
artístico começa a se tornar independente. Contudo, a compreensão e o sentido da arte só será
mais bem avaliado no Iluminismo.

Iluminismo: movimento filosófico e literário do século XVIII, caracterizado por profunda


crença no poder da razão humana e da ciência como forças propulsoras do progresso
da humanidade; Ilustração; Século das Luzes (dicionário Aulete).

O valor que damos a esse campo do mundo humano foi forjado dentro daquele movimento
filosófico. Os Iluministas perceberam que o desenvolvimento da racionalidade científica
deixava cada vez menos espaço para a religião. E qual era o problema disso? Ora, a religião
sempre foi um guia ético e existencial importante para os homens.

A fé nunca renegou os sentimentos e as angústias humanas, sempre deixou espaço para


esse lado interior do homem que poderia ser discutido publicamente. O medo da morte, a
frustração em não se conseguir alcançar um alvo, as desgraças que se abatem sobre os seres
humanos, todos esses temas eram discutidos nos púlpitos das Igrejas. Isso tudo acontecia sob
o signo da certeza proporcionada pela fé.
O problema é que o mundo racionalizado não admite certezas (a ciência se funda na
dúvida) e esse novo homem que estava sendo forjado teria que se preparar para as incertezas
da vida terrena. Era preciso introduzir o indivíduo nessa nova forma de viver. Como?
Os iluministas começaram a rever o campo das Artes em geral e da Literatura em
particular. Essas áreas poderiam proporcionar uma nova educação sentimental. Como isso
funcionaria? As obras seriam capazes de trazer experiências de indivíduos ficcionalizados (na
Literatura) ou novas formas de representação (Artes) que expressariam os desafios de novos
modos de vida. O efeito proposto seria fazer o leitor passar por esses dilemas e aprender a lidar
com suas angústias e com novas formas de socialização.
Observem o comentário de Antonio Candido, um dos mais importantes críticos literários
do Brasil e um dos fundadores do Departamento de Teoria Literária da USP.

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“Seja como for, a sua função educativa é muito


mais complexa do que pressupõe um ponto de
vista estritamente pedagógico... A literatura pode
formar; mas não segundo a pedagogia oficial, que
costuma vê-la ideologicamente como um veículo
da tríade famosa, — o Verdadeiro, o Bom, o Belo,
definidos conforme os interesses dos grupos
dominantes, para reforço da sua concepção de
vida. Longe de ser um apêndice da instrução
moral e cívica (esta apoteose matreira do óbvio,
novamente em grande voga), ela age com o
impacto indiscriminado da própria vida e educa
como ela, — com altos e baixos, luzes e
sombras.” (CANDIDO, 2002, p. 391).

Nesse ponto, chegamos a um primeiro pressuposto que fundamenta as questões de


Literatura.

O texto literário e as expressões artísticas lidam com ideias e sentimentos que


circulavam na época em que foi escrito.

1.2. O CONTEXTO
Se um texto literário depende do tempo em que foi produzido, podem cair questões sobre
as condições de sociabilidade que existiam na época e as ideias que serviram de contexto na
produção da obra literária. Vejam, não cabe discutir se essas ideias são verdadeiras ou falsas;
ou se os sentimentos são próprios ou impróprios. Antes procurem perceber quais polêmicas são
representadas (ou reapresentadas) ao leitor. Sua capacidade interpretativa será posta à
prova!

A NOÇÃO DE CONTEXTO

Primeiramente, vamos conceituar o que é o texto. Devemos pensar no texto sempre como
uma costura, um todo coeso e costurado. Se tem uma palavra que paira sobre “texto” é “têxtil”,
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material tecido, qualidade daquilo que é testado com os dedos. E também “tecido”: é tudo aquilo
que envolve essa habilidade técnica.
Já o contexto significa abordar o texto na sua totalidade. Trata-se de um conjunto de
circunstâncias ou fatos inter-relacionados que contribuem para o sentido global do texto e
também o encadeamento das ideias do discurso.
Identificar um contexto é a tentativa de perceber que um texto busca produzir significados
e ele compõe uma unidade de sentido. A ele estão incorporados certos elementos que dão
pistas de como interpretá-lo.

APREENDER DEPREENDER

pegar, capturar, apanhar, alcançar com o raciocínio e a


captar, assimilar inteligência, perceber o sentido,
assimilar com clareza
entendimento mais aprofundado do
ideia, pensamento, conhecimento texto, dos seus detalhes e de suas
nuances.
a noção geral que você tem do texto capacidade de operar o caminho
depois de lê-lo dentro do texto para fora (além) dele

conjunto de elementos que


compõem o mesmo texto e
Interno são relevantes para a sua
apreensão.

Contexto

está ligado à depreensão do


texto, o modo como o lemos e
Externo os dados necessários para
compreendê-lo.

Essa Interpretação do Texto e até do mundo só se concretiza com um conhecimento da


época na qual o texto foi escrito e, nesse ponto, podemos destacar uma outra função da
Literatura: ela estabelece um elo entre você e sua tradição cultural da qual vocês são
herdeiros.
A Literatura também pode abordar questões sociais. Nesse caso, muitas vezes, a
questão acaba tendo um caráter interdisciplinar, em que se observa uma mistura entre Literatura
e História.
Nesse ponto, já podemos definir algumas tipologias de questão.

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interpretar o texto literário


Questões que
pedem para
reconhecer o contexto histórico-social

A partir do momento em que formos avançando, vamos preenchendo melhor esse


quando. Agora, vamos observar abaixo um exemplo de cobrança de questão que pede para
interpretar o texto literário. Elas são a tipologia de questões que mais podem cair na sua prova!

1.3. VALORES, EXPRESSÃO E FORMAÇÃO SENTIMENTAL


A tal da educação sentimental pela Literatura vai além de fazer
circular ideias e formas de entender a realidade em uma dada época.
Geralmente, a Literatura explora de tal forma os sentimentos que, para

Fonte: Pixabay
a maioria das pessoas, essa matéria é sinônimo de amor, tristeza ou
mesmo angústia.
Além disso, o estudo sistemático das obras de um autor passa
pelo levantamento dos sentimentos e dos valores morais que animam
os personagens ou a poesia. É comum ler que, em Carlos Drummond
de Andrade, percebe-se o desencanto e a angústia; que, em Álvares de
Azevedo, sobressai o erotismo; que, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, destaca-se o
cinismo. Estes serão autores e obras que estudaremos no momento devido. Muitas vezes, essa
análise do sentimento se mistura à questão da ética comportamental. De qualquer forma, essa
é uma tipologia de questão que pode ser esperada.

Questões que nomear e definir que sentimento (melancolia, tristeza, angústia


pedem para etc.) oculta-se por trás do fragmento dado

1.4. FORMA E CONTEÚDO


A forma ou estrutura configura um eixo lógico na interpretação do texto literário. Aliás,
esse eixo não se restringe a questões de Literatura. Boa parte dos exercícios exige do candidato
que ele perceba as ousadias linguísticas presentes no texto (em uma propaganda, em uma
charge, em um artigo de jornal e, claro, em textos literários).

Tudo isso para dizer o seguinte: fiquem atentos, pois uma


questão aparentemente sobre Literatura pode se tornar
mais complexa, abrangendo outros ramos.

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Pode ser que a banca cobre questões sobre figuras de linguagem. Esse tipo de questão
de estilística pura está mais para Interpretação de Texto do que para Literatura. Contudo, é
possível que o idealizador da questão peça para que você reconheça um movimento literário por
algum traço de estilo ou por algum recurso expressivo mais utilizado. Por exemplo, no Barroco,
a antítese pode ser um elemento que justifique o reconhecimento do texto como pertencente
àquele movimento, por causa de sua visão de mundo dualista.

Figuras de Palavra Figuras de Sintaxe


Catacrese, Comparação, Metáfora, Assíndeto, Polissíndeto, Elipse,
Metonímia, Perífrase e Sinestesia. Hipérbato, Pleonasmo, Silepse
(número, gênero e pessoa), Zeugma

Figuras de
Linguagem

Figuras de Pensamento Figuras de Som


Antítese, Eufemismo, Gradação,
Aliteração, Assonância,
Hipérbole, Ironia, Paradoxo,
Onomatopeia, Paronomásia.
Personificação (prosopopeia).

FIGURAS DE LINGUAGEM NA LITERATURA

Prezados alunos, essa seção se dedica a fazer uma breve historiografia literária no que
tange ao uso de figuras de linguagem. Não se preocupem, pois retomaremos estes assuntos ao
longo do curso.

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Quinhentismo
• Carta de Pero Vaz de Caminha: hipérbato, metáfora,
comparação, ironia.

Barroco
• Dualidades: antíteses e paradoxos -> chiaroscuro
• Rebuscamento formal: hipérbato, hipérbole

Arcadismo
• Assunção de uma identidade ficcional -> metáfora. Não é
um movimento conhecido pelo excesso de figuras.

Romantismo
• Indianismo, heroísmo e idealismo: hipérbole; metáfora;
comparação
• Arrebatamento; êxtase: hipérbole

Realismo
• Denúncia de comportamentos sociais da burguesia: ironia

Naturalismo
• Patologias, grotesco: hipérbole
• Homem como ser biológico e sensorial: sinestesia

Simbolismo
• Subjetivismo, antimaterialismo, sonho, loucura, mulher
• Figuras de linguagem de som: aliterações e assonâncias

Parnasianismo
• Objetividade, materialismo, vasos, descrição, cientificismo
• Mitologia: metáfora

Modernismo
• Primeira geração: vanguardista; segunda: social; terceira:
técnica
• Ironia, metáfora
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Estamos discutindo agora estes dois eixos: tema e estrutura, que aparecem nas provas
com nomenclatura variada. Seguem alguns termos utilizados: “ideia” e “estilo”; “conteúdo” e
“forma”; “tese” e “recursos linguísticos”. Sempre que o examinador inquirir sobre o que o
escritor diz, suas ideias, teses etc., ele estará exigindo que vocês demonstrem compreensão
sobre o tema.
Quanto à estrutura, as questões podem variar de acordo com o gênero literário em
questão. Na poesia, estrutura se refere à estrofação, a sílabas poéticas, à ausência ou
presença de rima etc. Na prosa (romance, conto, crônica, sermão), a estrutura está associada
ao tipo de frase, à forma da paragrafação, à escolha de palavras, à linearidade do enredo etc.
Além desses fundamentos, a forma inclui ainda os elementos estilísticos (figuras de
linguagem).

FORMA CONTEÚDO
Do latim, forma pode significar Do latim, contenutus é tomado na
molde, imagem, figura. Equacionada acepção de essência, matéria, fundo,
sempre em relação ao vocábulo mensagem, doutrina, assunto, pensamento,
“conteúdo”, toma-se a acepção geral de ideologia. O vocábulo conteúdo encerra um
gênero ou espécie, ou se materializa sentido que, ambíguo por natureza, somente
linguisticamente, por exemplo, no fato se caracteriza em função da forma: a rigor,
literário, como é o caso da poesia, que é os dois termos implicam-se mutuamente, de
organizada entre versos, estrofes, ritmo modo que delimitar o significado de um
etc.; ou então a montagem de capítulos em pressupõe considerar o do outro.
um romance. Alguns teóricos defendem a Tendem a se confundir
supremacia da forma em detrimento do inextricavelmente, como uma unidade
conteúdo, e chega a falar em “forma de indissolúvel, o que alguns consideram como
apresentação” ou “técnica”. estrutura. Porém, estudá-los juntos ou
Historicamente, desde Pitágoras, separadamente depende do período e da
“forma” apresenta significados diferentes, escola, por exemplo, os formalistas russos
inclusive no terreno das artes: estrutura, preconizam o binômio forma-conteúdo e os
aparência, ideal, arranjo, organização, parnasianos pré-modernistas defendem a
arranjo harmonioso, modo de expressão forma pela forma.
FONTE: MOISÉS, 2013, P. 194; 87.

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1.5. TEXTO LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO


Será que quando no território brasileiro só havia índios, havia Literatura? Por que não
ouvimos falar de Literatura indígena, por exemplo? Ouvimos falar só de Literatura indianista,
sobre o índio, mas não produzida por ele? Isso porque, para haver Literatura, é preciso haver
uma cultura escrita, e a maioria das tribos indígenas eram ágrafas (não possuíam escrita).
Para Fiorin e Savioli (1996), apesar de em certas épocas os textos privilegiarem alguns
temas em relação a outros, isso por si só não serve de quesito para demarcar a fronteira entre o
texto literário e o não literário. Alguns autores caracterizam o critério ficcional e não ficcional.

Muitas vezes, em um texto, o importante não é o que é dito, mas sim como se diz.

TEXTO LITERÁRIO TEXTO NÃO LITERÁRIO

Função estética. Do grego, aesthesis


Função utilitária: informar, convencer,
(αισθηsις) significa sentidos, percepção,
explicar, documentar etc.
sensação, sensibilidade.

CANÇÃO DO TAMOIO
I

Domínio
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.

Público.
A vida é combate,

Fonte:
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar (GONÇALVES DIAS).

Percebemos que este não é um texto convencional, escrito em forma de parágrafos, com
os quais estamos acostumados. O primeiro aspecto que chama atenção no texto é a sua
organização estrutural, em forma de linhas a que denominamos versos. Esse é um tipo de texto
chamado de poesia, constituindo um gênero textual à parte.
O que interessa para nós primeiramente é a maneira como esse texto é construído. Vários
fatores são importantes nesse texto: o som, pois há rimas (terminações iguais dos termos –
vida/renhida; combate/abate); há ritmo e métrica (pois todos os versos são redondilhas
menores, isto é, apresentam 5 sílabas poéticas, com acento na segunda e na terceira sílaba
poética – não-cho-res-meu-fi-lho); há figuras de linguagem (uma, por exemplo, é a anáfora, a
repetição de termos no início do verso – não/não; que/que).
E, no sentido mais global ou geral, o trecho é bonito, pois alude à luta na vida, que pode
remeter à luta cotidiana de cada um, a qual pode tanto representar um índio no século XVIII
quanto um brasileiro no século XXI. Ou seja, é universal.
Agora, vamos entender – em contraposição ao poema – um exemplo de texto não literário.

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Sabe-se pouco da história indígena: nem a origem nem as cifras de população são seguras,
muito menos o que realmente aconteceu. Mas progrediu-se, no entanto: hoje está mais clara,
pelo menos, a extensão do que não se sabe. Os estudos de casos existentes na Literatura
são fragmentos de conhecimento que permitem imaginar, mas não preencher as lacunas de
um quadro que gostaríamos que fosse global. Permitem também, e isso é importante, não
incorrer em certas armadilhas. A maior dessas armadilhas é talvez a ilusão de primitivismo.
Na segunda metade do século XIX, essa época de triunfo do evolucionismo, prosperou a ideia
de que certas sociedades teriam ficado na estaca zero da evolução, e que eram portanto algo
como fósseis vivos que testemunhavam o passado das sociedades ocidentais (...) (CUNHA,
2012, p. 11, adaptado).

Cuidado: Literatura aqui está sendo utilizado em um outro sentido que não a de texto
ficcional: é o conjunto das obras científicas, filosóficas etc., sobre determinada matéria ou
questão; bibliografia (dicionário Houaiss).
Notem a forma de tratamento desse texto e as estratégias textuais escolhidas pela
autora (Manuela Cunha). Já desde o começo, o termo “sabe-se” indica o uso de um índice de
indeterminação do sujeito, isto é, o uso da partícula “-se” que impessoaliza o texto e o torna
objetivo. Isso é válido também para outra forma verbal, como “progrediu-se”. Quem progrediu?
Aqui não importa o sujeito, mas sim a ação. Apesar de o conteúdo geral ser semelhante
ao poema da "Canção do Tamoio", do escritor romântico Gonçalves Dias, a forma muda, pois
no primeiro caso se tratava do gênero textual do poema, e, aqui, do discurso historiográfico.
Se repararmos muito bem, a Gramática Normativa, ou seja, as regras gramaticais estão
sendo seguidas no segundo texto. Por exemplo, há colocação pronominal correta em “do que
não se sabe”, porque o advérbio negativo “não” atrai o pronome oblíquo “se”. As regras também
são atendidas na regência verbal de “incorrer em”, ou seja, o uso correto da preposição exigida
por esse verbo especificamente.

Assim, a linguagem literária é menos rígida em relação à Gramática


Normativa, e está mais preocupada em criar novos sentidos do que
seguir veementemente as regras.

E, para além da correção gramatical, aspectos temporais como “na segunda metade do
século XIX” marcam historicidade, objetividade. Afinal, a História alude ao passado e o passado
não muda.
Um texto literário também pode demarcar o tempo, mas de modo diferente, e com
funções diferentes: em um texto literário, geralmente, a demarcação do tempo é para
contextualizar a história ou o enredo; já no discurso historiográfico, a menção a datas é
extremamente importante para pontuar fatos, eventos e acontecimentos históricos.
Para além da diferenciação de texto literário e não literário, pode ser cobrada a distinção
entre texto verbal e não verbal.

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TEXTO VERBAL TEXTO NÃO VERBAL

Costuma usar linguagem escritar= Intersemiótico e pode apresentar vários


a apresentar estrutura linear signos simultaneamente
Utiliza predominantemente signos da Pode mesclar elementos verbais ou ser
escrita intersemiótico
Exemplos: a pintura, a mímica, a dança, a
Exemplos: romances, poesias
música

Algumas bancas compreendem a Literatura dentro


de uma perspectiva de Linguagens e Códigos. Isso
quer dizer que a Literatura pode ser associada a
outras Artes.

Questões que
reconhecer movimentos artísticos
pedem para

1.6. INTERTEXTUALIDADE
Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual a
natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente; outras, não. Pode
também aparecer entre textos de diferentes tipos, verbais e visuais.
Também é um sistema linguístico com algumas características mais acentuadas. Um texto
escolhido para compor o campo literário invariavelmente passa a se relacionar com os outros
textos e autores modificando o significado deles ou ampliando-os.
Se por um lado, a comparação entre obras literárias é um expediente muito importante
dentro da crítica, por outro, é um campo que permite ao examinador avaliar a capacidade do
aluno de comparar duas ou mais situações simultaneamente. Há algumas possiblidades
nessa operação mental chamada comparação.
A intertextualidade pode se tornar mais complexa se considerarmos os elementos que
podem ser comparados: enredo, tema, forma, estilo, personagens, época etc. Trata-se de um
exercício interpretativo que requer conhecimento da obra e dos pressupostos estilísticos para
perceber semelhanças e diferenças.
A complementariedade é um caso à parte, pois exige que o leitor perceba em que sentindo
a obra ou aquele trecho dialoga com outro produzindo novos efeitos de sentido.

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Nesse âmbito, também pode ser levada em consideração o que é chamado de


Literatura Comparada.

QUAL É A OPERAÇÃO?
• Nesse tipo de questão, vocês devem comparar textos, de naturezas iguais ou
diferentes. Então, vocês devem aproximá-los ou contrastá-los. Eles ainda podem se
complementar.

QUANTOS TEXTOS?
• Dois ou mais, quantos a banca quiser. Quanto mais textos forem cobrados, maior
tende a ser o grau de complexidade da questão. E ainda podem ser textos literários
contrastados com textos não literários, textos verbais com não verbais etc.

QUAIS TEXTOS?
• Podem ser comparados textos de um mesmo autor; de autores diferentes, mas de um
mesmo contexto; de autores diferentes e de diferentes contextos; e ainda textos de
nacionalidades/épocas diferentes.

Questões que
comparar dois ou mais textos
pedem para

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(ENEM/2016)

Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto,
ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos
significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor pretendia e,
dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo uma
outra não prevista.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos,


valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato de o
texto
a) ressaltar a importância da intertextualidade.
b) propor leituras diferentes das previsíveis.
c) apresentar o ponto de vista da autora.
d) discorrer sobre o ato de leitura.
e) focar a participação do leitor.
Comentários
Questão de interpretação de texto.
Alternativa A: incorreta. Intertexualidade significa diálogo entre obras, podendo estas ser
do mesmo autor ou não e podendo ela estar explícita ou implítica.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: embora o texto aborde isso, não é esse elemento o
principal caracterizador da metalinguagem.
Alternativa C: incorreta. Não se sabe exatamente se é uma autora nem o texto é
essencialmente opinativo, argumentativo.
Alternativa D: correta – gabarito. A principal característica da função metalinguística é o
fato de a mensagem estar centrada no próprio código como, por exemplo, nos dicionários,
cujos verbetes explicam a própria palavra, no filme que tem por próprio tema o cinema, no
teatro que tem por tema a própria dramaturgia, etc. No texto do enunciado, a autora chama a
atenção do leitor para a importância do ato de ler.
Alternativa E: incorreta. A função de linguagem não é voltada para o público-alvo.
Gabarito: D.

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2. HISTÓRIA DA LITERATURA: AS BELAS ARTES

Nesse ponto, vocês que já compreenderam que


caráter de formação sentimental é importante para a

Fonte: Pixabay.
Literatura devem estar questionando: ora, e por que
considerar só esses textos difíceis e não outras obras?
Afinal, uma série televisiva também apresenta ideias e faz
com que experimentemos sentimentos ambíguos diante
de uma realidade ficcional problemática muito próxima da
que vivemos.
Aqui entra um outro componente importante da
história da Literatura. Quando os Iluministas
revalorizaram as Artes em geral e a Literatura em particular, eles fizeram isso sobre uma tradição
que vinha da Antiguidade.
Em Roma, as artes da oratória e da poesia eram consideradas como o meio para se
conseguir a imortalidade da memória. Os belos discursos ou as mais engenhosas poesias
poderiam enaltecer os homens pela grandeza moral e política e, em contrapartida, tornavam os
poetas imortais também.
A Arte Poética era vista a partir da beleza da construção linguística, do uso de figuras de
linguagem, da estrutura não usual de inversões frasais etc. Nesse sentido, outro traço vem se
juntar ao já estudado: o tema ou o sentimento deve ser expresso numa linguagem não usual,
através de criação de significados e do manejo individual dos recursos fônicos, sintáticos,
semânticos para a criação de novas formas de expressão.

Não é em metrificar ou não que diferem o historiador e o poeta (...) a


diferença está em que um narra acontecimentos e o ouro, fatos quais
poderiam acontecer. Por isso, a Poesia encerra mais filosofia e
elevação do que a História; aquela enuncia verdades gerais; esta
relata fatos particulares (ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Cultrix,
2014, p. 28).

2.1. MOVIMENTOS LITERÁRIOS


As ideias que servem de contexto na produção de uma obra literária específica
relacionam-se à escola literária ou artística. Outro termo utilizado é movimento literário. São
sinônimos, mas eu – professora Luana – particularmente prefiro "movimento", para representar
a ideia de dinâmica.
O termo, na verdade, aponta para uma certa unidade de temas e forma de escrever que
arrebata um número significativo de escritores(as) de uma mesma época e faz com que eles(as)
escrevam de forma semelhante e troquem influências.
Às vezes, isso ocorre de caso pensado. Por exemplo, os poetas que escrevem por volta
de 1700 têm em comum o fato de se colocarem contra os exageros poéticos dos escritores mais
antigos.
Além disso, a moda de criar agremiações de escritores levou a uma uniformidade de
critérios de escrita, os topos ou lugares comuns.

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Em outros momentos, isso é inconsciente. Por exemplo, literalmente, não existiram poetas
barrocos, eles não se autodenominavam assim. Eles se viam, em Portugal, como imitadores de
Camões ou Gôngora. Contudo, dadas as semelhanças entre a produção deles, posteriormente
foram denominados pela Crítica Literária assim, daí diz-se que pertencem à escola literária do
Barroco.

Vale a pena lembrar a divisão dos Movimentos. Grosso modo, distinguimos aqueles
presos à tradição Medieval (Trovadorismo, Humanismo e Quinhentismo no Brasil); os
Clássicos, por serem pautados por regras poéticas bem determinadas e pela referência à
tradição greco-latina (Classicismo, Barroco e Arcadismo) e o período Moderno (do Romantismo
até os dias de hoje). A estes agrupamentos maiores chamamos de eras; e aos menores,
movimentos.

ERA
Há 3 grandes eras: a
MOVIMENTO
medieval, a clássica e
a moderna. Movimento literário ou GERAÇÃO
Costumam durar mais escola literária
de um século. consiste no esforço Geração costuma
FASE
de reunir no mesmo durar em torno de 30
período autores e anos, basta lembrar Podemos ter várias
obras com unidades da diferença de idade fases na nossa
temáticas e entre nós e nossos própria vida. Então,
estilísticas. pais. Movimentos fase costuma durar
literários separados menos. Exemplo:
por gerações são o Machado de Assis
Romantismo e o teve uma fase
Modernismo. romântica e outra
realista.

Abaixo, vocês encontram uma tabela que resume as informações principais acerca dos
movimentos literários as quais nos orientarão nas aulas futuras. Dica: para algumas bancas,
fase e geração são sinônimos! É como a banca entende esses conceitos. E o termo “momento”
já apareceu em provas também. Fiquem atentos!

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Medieval Clássico Moderno


Séculos: XII Séculos: XVI -XIX
Séculos: XIX até hoje
-XVI
Origem das Predomínio da poesia Vários Gêneros
formas
Formas poéticas consagradas: Introdução do gênero
poéticas
soneto, poesia épica Romance
Vários Gêneros
Grandiosidade Mundo Prosaíco

Trovadorismo Realismo
Modernismos
E Classicismo Barroco Arcadismo Romantismo Simbolismo
Até hoje
Quinhentismo Parnasianismo

Românico Realismo Vanguardas


Neo-
Gótico Renascimento Barroco Romantismo Impresionismo Abstracionismo
Classicismo
Bizantino Transição Pop Arte

MOVIMENTOS LITERÁRIOS: CÂNONE

É fundamental dominar o cânone literário (autores e obras mais importantes da


historiografia literária). Eis abaixo um resumo do que vamos trabalhar ao longo do curso. Não se
preocupem, pois estes assuntos serão aprofundados posteriormente.

Quinhentismo

• 2 tendências principais: literatura de informação e de catequese


• Pero Vaz de Caminha; José de Anchieta e Manuel de Nóbrega

Barroco

• Visão de mundo teocêntrica: obras religiosas


• Poesia (Gregório de Matos) e prosa (Padre Antonio Vieira)

Arcadismo

• Retomada de valores clássicos: mitologia e latinismos


• Poesia lírica (Tomás Antônio Gonzaga; Cláudio Manoel da Costa).

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Romantismo
• 3 gerações na lírica + 4 tipos de romance romântico + teatro
• Gonçalves Dias (1ª geração); Álvares de Azevedo (2ª geração); Castro Alves
(3ª geração) + José de Alencar (prosa)

Realismo
• Denúncia de comportamentos sociais da burguesia
• Machado de Assis e Raul Pompeia

Naturalismo
• Teorias do fim do século XIX (-ismos) + patologias, grotesco, minorias
• Aluísio de Azevedo – “O cortiço” e “O mulato”

Simbolismo
• Subjetivismo, antimaterialismo, sonho, loucura, mulher
• Cruz e Sousa + Alphonsus Guimaraens

Parnasianismo
• Objetividade, materialismo, vasos, descrição, cientificismo
• Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira

Pré-Modernismo
• Messianismo, linguagem popular, mistura de estilos
• Prosa (Euclides da Cunha; Monteiro Lobato; Euclides da Cunha) e poesia
(Augusto dos Anjos).

Primeira geração modernista

• Influência das vanguardas, experimentalista, inovadora


• Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira

Segunda geração modernista

• Denúncia social (prosa – romance de 30) volta do rigor formal (poesia)


• Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto

Terceira geração modernista

• Mistura das duas, aperfeiçoamento de técnicas, regionalismo/urbano


• Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Mário Quintana

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MOVIMENTO AUTOR E OBRA PIONEIRA NA


HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA BRASILEIRA
Quinhentismo Carta de Pero Vaz de Caminha (1500)

Barroco Prosopopeia de Bento Teixeira (1601)

Arcadismo “Obras poéticas de Glauceste Satúrnio” (1768), pseudônimo


de Cláudio Manoel da Costa

Romantismo “Suspiros poéticos e saudades” de Gonçalves de Magalhães


(1836)
Realismo “Memórias póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis
(1881)
Naturalismo “O mulato” de Aluísio de Azevedo (1881)

Parnasianismo “Fanfarras” de Teófilo Dias (1882), embora "Poesias" de


Olavo Bilac seja mais importante

Simbolismo “Missal e Broquéis” de Cruz e Sousa (1893)

Modernismo “Pauliceira desvairada” de Mário de Andrade (1922)

Literatura A crítica literária considera que a partir de 1960 se inicia a


Contemporânea Literatura Contemporânea.

BIZU IMPORTANTE: um movimento literário não é uma


prisão! Quer dizer que um movimento pode ser
contemporâneo do outro, como é o caso do
Naturalismo/Realismo. Ambos os movimentos foram
introduzidos no mesmo ano no Brasil: 1881.

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Texto escrito
Prosa
em parágrafos
Gêneros
Texto escrito
Poesia
em versos

MODALIDADES NARRATIVAS

• CONTO. É um texto curto que pertence à Literatura. É condensado, tem poucas


personagens e a descrição costuma se limitar ao essencial. Não faz rodeios: vai direto ao
assunto.
• CRÔNICA. Gênero mais breve ainda que o conto. Esse gênero textual oscila entre a
Literatura (ficcional) e o Jornalismo (não ficcional). Os temas abordados costumam ser
fatos circunstanciais, situações corriqueiras do cotidiano, episódios dispersos e
acidentais. Quase sempre é um texto curto, imitando a técnica fotográfica, como se fosse
uma lente de aumento.
• FÁBULA. Conjunto de fatos e aventuras (reais ou imaginários) que servem de base à
ação de personagens alegóricas. Geralmente, são histórias com lição de moral.
• APÓLOGO. Narrativa que traz uma lição moral e geralmente tem como personagens
animais ou objetos que agem e dialogam como seres humanos.
• PARÁBOLA. Narrativa alegórica que evoca, por comparação, valores de ordem superior,
encerra lições de vida e pode conter preceitos morais ou religiosos.
• NOVELA. Gênero literário que consiste numa narrativa breve, de extensão entre o conto
e o romance, sobre um acontecimento em torno do qual gira o enredo.

POEMAS DE FORMA FIXA

• ELEGIA. Trata de acontecimentos tristes, muitas vezes enfocando a morte de um ente


querido. Contrário do epitalâmio, canção que comemora o casamento, a união.
• HAICAI. O haicai é um poema de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabas poéticas,
o 2º verso possui 7 sílabas poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas poéticas. Originário da
poesia medieval japonesa do século XVI.
• ODE. Poema originado na Grécia Antiga que exalta os valores nobres, caracterizando-se
pelo tom de louvação.
• RONDÓ. Poema de forma fixa, com duas rimas apenas e treze versos dispostos em três
estrofes (uma quintilha, um terceto e uma quintilha, nesta ordem), no qual se repetem,
como refrão, as primeiras palavras das segunda e terceira
estrofes.
• ÉCLOGA. Poesia pastoril e bucólica, especialmente quando
dialogada.
• SONETO. Inventado pelo italiano Jacopo da Lantini, a forma
clássica tem 14 versos, organizados em 2 quartetos e 2 tercetos.

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Porém, também existe o soneto shakespeareano (William Shakespeare é o da caricatura


ao lado), formado por três quartetos e um dístico.

FORMA TRADICIONAL DE COBRAR LITERATURA

Começa-se o estudo de Literatura, considerando os fatos


históricos mais importantes e seus consequentes impactos
na cultura.

Passa-se aos traços mais importantes do movimento.

Por fim, considera-se obras e autores (cânone).

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TIPOLOGIA DE QUESTÕES DE LITERATURA

interpretar o texto literário

reconhecer contexto histórico-social, relações


sociais e ideias filosóficas por trás do diálogo,
enredo ou expressão artística
nomear e definir que sentimento (melancolia,
tristeza, angústia etc) se oculta por trás do
Questões que fragmento dado
pedem para
reconhecer movimentos artísticos

comparar dois ou mais textos

reconhecer o movimento literário ou


característica do escritor

3. GÊNEROS LITERÁRIOS

No caso de Literatura, os gêneros exigidos podem ser divididos em prosa, poesia e


teatro. Em Literatura, a maneira como se diz algo é tão importante quanto o conteúdo, ou seja,
o formato do texto define gêneros diferentes e gera interpretações diferentes.
Em linhas muito gerais, os gêneros textuais surgiram na Antiguidade, o que significa dizer
que eles são históricos. Os gêneros servem para estratificar e classificar as obras.

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Quando interagimos com outras pessoas por meio da


linguagem, seja a linguagem oral, seja a linguagem escrita,
produzimos certos tipos de texto, que, com poucas
variações, se repetem no conteúdo, no tipo de linguagem e
na estrutura. Constituindo os chamados gêneros textuais ou
discursivos, esses gêneros foram historicamente criados
pelo ser humano a fim de atender a determinadas
necessidades de interação verbal. Por isso, de acordo com
o momento histórico, pode nascer um gênero novo, podem
desaparecer gêneros de pouco uso ou, ainda, um gênero
pode sofrer mudanças até transformar-se em outro gênero
(CEREJA; MAGALHÃES, 2005, p. 13).

Agora, vamos ressaltar uma distinção importante, baseando-nos no que já estudamos:

Gênero textual Gênero literário

Pode ser qualquer Necessariamente


texto, inclusive um não texto ficcional
ficcional

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A prosa é o texto organizado em parágrafos, sem a sujeição às


convenções da poesia (rima, ritmo, métrica, sílabas,
musicalidade); permite maior desenvolvimento da ideia;
utilizado para
narrativas em geral.

A poesia é um texto composto em versos, cuja mensagem é


Gêneros literários resumida e densa; mais apropriado para expressar
sentimentos.

O teatro é um texto configurado em falas de personagens com


algumas orientações do dramaturgo (rubricas).

GÊNERO LÍRICO
• Poemas que falam sobre os sentimentos e estados de espírito, direcionados
diretamente ao leitor.
• As emoções e opiniões do eu lírico são bastante evidentes e o seu conteúdo
particularmente subjetivo e poético.

GÊNERO NARRATIVO OU ÉPICO


• Geralmente, é objetivo e pode ser escrito em verso ou prosa.
• Verso: canção de gesta; balada; epopeia ou poema épico; poema burlesco.
• Prosa: romance; novela; conto; crônica; anedota; fábula; parábola. O crítico
literário húngaro György Lukács considera o romance como o épico moderno.
• Poemas em que são narrados grandes feitos heroicos, reais ou mitológicos.
• Os relatos são grandiosos e extensos, contando com muitas estrofes.
• Ilíada e Odisseia (Homero), Eneida (Virgílio) e Os Lusíadas (Luís de Camões)
são os poemas épicos mais conhecidos.

GÊNERO DRAMÁTICO
• Na poesia dramática, não há a figura de um narrador, ou seja, as personagens
são responsáveis por contar a própria história.
• Pode apresentar traços tanto épicos quanto líricos em seu conteúdo.
• Nos moldes clássicos, é divida em: tragédia e comédia. Na Idade Média:
milagres e autos. Um gênero híbrido é a tragicomédia.
• É precursora do texto teatral.

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3.1. POESIA
A poesia é um tipo de texto encadeado por versos. Um verso é uma linha de sentido e se
opõe ao parágrafo na forma. É o principal elemento estrutural que diferencia a poesia da prosa.
Um verso geralmente vem acompanhado de mais aspectos, como ritmo, metro, melodia.
Melodia!? Isso mesmo. Na Antiguidade, a poesia estava associada a práticas de
musicalidade. Isso pode ser cobrado: uma letra de música, por exemplo, é considerada poesia
também.
Na poesia, o conteúdo é subjetivo, isto é, gira em torno de um “eu”, que no caso é o eu
lírico. Ela se preocupa com a estética (a beleza do texto) e a combinação de sons, geralmente
atreladas a figuras de linguagem. Há uma que é essencial para o entendimento de poesia: a
metáfora.
A metáfora é uma comparação subentendida, na qual um termo é empregado numa
relação de semelhança ou correspondência com outro. Exemplo: “Amor é fogo que arde sem se
ver” (Luís de Camões).
A poesia é um conteúdo lírico e emotivo escrito em versos. Para entender melhor o que é
poesia, devemos enquadrá-la dentro do gênero lírico.

CATEGORIA DEFINIÇÃO

É a voz do ser abstrato que fala no poema. Ele pode ser uma invenção
EU LÍRICO do poeta ou pode coincidir com o poeta, mas nem sempre. Também é
chamado de eu-lírico (com hífen), eu poético ou poemático.
Sucessão de sílabas ou fonemas que formam uma unidade rítmica e
melódica, correspondendo em geral a uma linha no poema.
VERSO
Livres: versos sem métrica;
Brancos: versos sem rima.
É a medida dos versos, isto é, o número de sílabas poéticas
MÉTRICA apresentadas pelos versos. Cuidado: a sílaba poética não coincide
com a sílaba gramatical.
É um recurso musical baseado na semelhança sonora de palavras no
RIMA final de versos (rima externa) e, às vezes, no interior de versos (rima
interna).
RITMO Alternância de sílabas acentuadas, variando quanto à sua intensidade.
Formas de poema que têm estrutura fixa de construção. Entre tais,
FORMAS destacam-se: balada, canção, cantata, elegia, glosa, haicai, hino, lira,
FIXAS madrigal, noturno, ode, rondó, soneto, terça, trova, vilancete,
versículo.

3.1.1 Características da poesia


O metro é a medida do verso. O estudo dos metros se chama metrificação ou escansão.
A escansão é a contagem dos sons e dos versos.

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A contagem das sílabas métricas NÃO coincide com as sílabas gramaticais. Metrificação é
sinônimo de escansão, ou seja, contagem dos versos poéticos.

A regra principal é que se contam as sílabas ou sons até a tônica (mais forte) da última
palavra de um verso. A sucessão do som das sílabas tônicas é o que confere ritmo ao texto
poético. Exemplo:

Tal a chuva
Transparece
Quando desce (Gonçalves Dias, romântico brasileiro).

Tal-a-chu-va (3 sílabas poéticas)


Trans-pa-re-ce (3 sílabas poéticas)
Quan-do-des-ce (3 sílabas poéticas)

Vamos ver os principais aspectos de diferenciação.

ELISÃO

Fenômeno no qual a vogal seguida de vogal em palavras contíguas é absorvida (inclui-se


o “h” que não é um fonema, mas simples letra). Observem abaixo os versos de Alexandre
Herculano, escritor romântico português.
A-mo-te,-ó-cruz-no-vér-ti-ce-fir-ma-da (11 sílabas poéticas)
De es-plên-di-das-i-gre-jas (6 sílabas poéticas)

Na nossa análise, esse símbolo representa a elisão.

Nesse caso, a vírgula entre “amo-te” e a interjeição “ó” marca uma pausa e, portanto, a
contagem de uma nova sílaba poética.
Quando a primeira vogal é forte, ou quando se trata de ditongo tônico, geralmente não se
faz a elisão (TAVARES, 2002, p. 184).

ESCANSÃO

A escansão é a ação ou resultado de escandir, de decompor um verso


em seus componentes métricos (dicionário Aulete). Observem abaixo os
versos de Manuel Bandeira, poeta modernista brasileiro.

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Lá-on-de-mais-den-sa (5 sílabas poéticas)


A-noi-te in-fi-ni-ta (5 sílabas poéticas)

Ves-te a-som-bra i-men-sa (5 sílabas poéticas)

Do grego, crásis (κρᾶσις) significa ação de misturar, mistura.


Essa união é representada graficamente pelo acento grave ( `
). A diferença é mais escrita, pois, na pronúncia, a distinção é
nula. Trata-se de um tipo específico de elisão: a de vogais
iguais (na poesia, não só da vogal "a", mas também geralmente
"e", "i" e "o").

TIPOS DE VERSOS MAIS COMUNS

QUANTIDADE DE SÍLABAS
NOME DO VERSO
POÉTICAS

Dissílabo Duas sílabas poéticas


Trissílabo Três sílabas poéticas
Tetrassílabo Quatro sílabas poéticas
Pentassílabo ou redondilha
Cinco sílabas poéticas
menor
Hexassílabo ou heroico quebrado Seis sílabas poéticas
Heptassílabo ou redondilha maior Sete sílabas poéticas
Octassílabo Oito sílabas poéticas
Eneassílabo Nove sílabas poéticas
Decassílabo ou heroico Dez sílabas poéticas
Hendecassílabo Onze sílabas poéticas
Dodecassílabo ou alexandrino Doze sílabas poéticas
Bárbaro Treze ou mais sílabas poéticas

• Os versos marcados de vermelho são os mais importantes e mais utilizados.


• Também é possível haver versos monossílabos. Nesse caso, a contagem da sílaba
poética coincide com a gramatical.

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brancos sem rima


Versos
sem
livres
métrica fixa

APOIOS RITMÍCOS

NÚMEROS DAS SÍLABAS POÉTICAS DE


NOME DO VERSO
APOIO

Trissílabo 1; 1-3
Tetrassílabo 4; 1-4; 2-4
Pentassílabo ou redondilha menor 2-5; 3-5; 1-5; 1-3-5; 1-2-5
Hexassílabo ou heroico quebrado 2-4-6; 2-6; 1-3-6; 1-4-6; 1-6; 3-6
Heptassílabo ou redondilha maior 2-5-7; 2-4-7; 3-7; 4-7; 1-7
Octassílabo 1-4-8; 2-4-8; 4-6-8; 3-6-8; 2-4-6-8; 1-3-5-8
Eneassílabo 1-4-6-9; 1-4-9; 1-3-6-9; 3-6-9
Heroico: 6-10;
Decassílabo ou heroico Sáfico: 4-6-10;
Provençal: 4-7-10.
Hendecassílabo 2-5-8-11; 3-5-9-11
Dodecassílabo ou alexandrino 4-8-12; 2-4-8-12; 1-4-8-12

• Os esquemas rítmicos apresentados na segunda coluna são os mais comuns. Não que
não seja possível haver outras opções.

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

TIPOS DE ESTROFES

NOME DA ESTROFE NÚMERO DE VERSOS

Monóstico Estrofe formada por um único verso


Dístico ou parelha Estrofe formada por 2 versos
Terceto ou trístico Estrofe formada por 3 versos
Quarteto ou quadra Estrofe formada por 4 versos
Quintilha, quinteto ou pentástico Estrofe formada por 5 versos
Sextilha, sexteto ou hexástico Estrofe formada por 6 versos
Hepteto, Heptástico, Sétima ou Septena Estrofe formada por 7 versos
Oitava ou Octástico Estrofe formada por 8 versos
Nona Estrofe formada por 9 versos
Décima ou década Estrofe formada por 10 versos

• As estrofes marcadas de vermelho são as mais importantes e mais utilizadas.

TIPOS DE RIMAS MAIS COMUNS

CATEGORIA DEFINIÇÃO

RIMA PERFEITA Há repetição total e idêntica tanto de sons vocálicos quanto consonantais.
OU Exemplo: “E como isto lhe vem por geração/ (...) Morder os que provêm
CONSOANTE de outra nação” (Gregório de Matos – Ao mesmo assunto).

Em que há apenas correspondência parcial de som. Classifica-se assim:


Rima toante ou assonante: tipo de rima na qual há somente
repetição de sons vocálicos. Exemplo: “A alta muralha das serras/
(...) Os diamantes entre as pedras” (Cecília Meireles – O
RIMA Romanceiro da Inconfidência).
IMPERFEITA Rima aliterante: tipo de rima na qual há somente repetição de sons
consonantais. Dica: basta lembrar da figura de linguagem da
aliteração.
Exemplo: luta/luto.

Quando as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais


RIMA RICA diferentes. Exemplo: já/dirá (o primeiro é um advérbio de tempo e o
segundo o verbo “dizer” conjugado no futuro).

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Quando as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical.


RIMA POBRE
Exemplo: andar/conservar (ambos são verbos no infinitivo).

Quando se atinge uma combinação incomum de rima, geralmente com


RIMA RARA OU
classes gramaticais diferentes, como substantivos e pronomes. Exemplo:
PRECIOSA
estrela/vê-la (o segundo verbo vem acompanhado de pronome oblíquo).

RIMA AGUDA
(OU Que ocorre entre palavras oxítonas. Exemplo: céu/chapéu.
MASCULINA)

RIMA GRAVE
Que ocorre entre palavras paroxítonas. Exemplo: cedo/medo.
(OU FEMININA)

RIMA
Que ocorre entre palavras proparoxítonas. Exemplo: propósito/depósito.
ESDRÚXULA

Que ocorre no fim do verso. Exemplo: “Silencioso e branco como a


RIMA EXTERNA bruma/E das bocas unidas fez-se a espuma” (Vinicius de Moraes – Soneto
da Separação).

Que ocorre no interior do verso. Exemplo: “No dia triste o meu coração
RIMA INTERNA
mais triste que o dia” (Fernando Pessoa – Nuvens).

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Perfeita ou
consoante
Som ou
fonética
Imperfeita

Rica

Valor ou
Pobre
qualidade

Rara ou
preciosa
Rimas
Aguda ou
masculina

Acentuação
Grave ou
ou
feminina
intensidade

Esdrúxula

Externa
Disposição ou
posição no
verso
Interna

Toda vez que um termo tiver dois ou mais nomes na nomenclatura


tradicional, procurem estudar todos possíveis, para evitar surpresa na
hora da prova. Outra dica: a pontuação das barras indicam quebra de
soneto (sonetos diferentes) na linguagem corrida.

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

CLASSIFICAÇÃO DOS ESQUEMAS DE RIMAS

CATEGORIA DEFINIÇÃO

Combinam-se alternadamente, seguindo o esquema ABAB.


“Meu Amor, não é nada: – Sons marinhos (A)
RIMAS
Numa concha vazia, choro errante... (B)
ALTERNADAS OU
Ah, olhos que não choram! Pobrezinhos... (A)
CRUZADAS
Não há luz neste mundo que os levante! (B)” (Florbela Espanca –
Filtro).
Combinam-se de duas em duas, seguindo o esquema AABB.
“Vagueio campos noturnos (A)
RIMAS Muros soturnos (A)
EMPARELHADAS paredes de solidão (B)
OU PARALELAS sufocam minha canção (B)” (Ferreira Gullar – Sete poemas
portugueses).
Combinam-se numa ordem oposta, seguindo o esquema ABBA.
RIMAS “Eu, filho do carbono e do amoníaco, (A)
INTERPOLADAS Monstro de escuridão e rutilância (B)
OU Sofro, desde a epigênese da infância, (B)
INTERCALADAS A influência má dos signos do zodíaco (A)” (Augusto dos Anjos –
Psicologia de um vencido).

Quando as palavras que rimam no fim do verso acabam por se repetir


em outro lugar nos próximos versos.
“Salve Bandeira do Brasil querida
RIMAS
Toda tecida de esperança e luz
ENCADEADAS
Pálio sagrado sobre o qual palpita
A alma bendita do país da Cruz” (Francisco de Aquino Correia).

Quando não têm esquema fixo.


“Vou-me embora pra Pasárgada
RIMAS MISTAS OU Vou-me embora pra Pasárgada
MISTURADAS Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura” (Manuel Bandeira – Vou-me embora
pra Pasárgada).

Alternadas ou cruzadas

DIFERENÇA ENTRE ABAB


POESIA CLÁSSICA E
Emparelhadas ou paralelas
MODERNA
AABB
Interpoladas ou intercaladas
ABBA

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


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Primeiramente, cuidado com algumas terminologias.


Quando o crítico diz que o poema é clássico ou que tem influência clássica, o que ele quer
dizer? Isso pode significar o seguinte:

ANTIGUIDADE CLÁSSICA
•Quer dizer que a poesia foi produzida no período entre os séculos VIII a. C. – V
d. C. Presença de poetas como Horário, Ovídio e Virgílio.
CLASSICISMO
•Foi produzida durante o movimento artístico-literário do Classicismo (século
XVI), também chamado de Renascimento. Presença de poetas como Luís de
Camões em Portugal e Dante Aliguieri e Francesco Petrarca na Itália.
NEOCLASSICISMO
•Foi produzida no período do Neoclassicismo (século XVIII), sinônimo de
Arcadismo.
SENTIDO LATO (GERAL)
•Uma poesia que, independentemente do período de sua produção, foi
influenciada pela cultura greco-latina e resgata características formais dos
poemas escritos nessa era áurea da Literatura.
• Características da poesia "clássica" no sentido geral: rigor na metrificação; uso
de formas clássicas, como soneto; uso dos versos mais consagrados:
decassílabo (10 sílabas poéticas) ou alexandrino (12 sílabas poéticas); temas
elevados ou grandiosos.

Nesse sentido, quais são as características de um poema modernista? O Modernismo,


movimento ocorrido no século XX, iniciado em 1915 em Portugal, em 1922 no Brasil, consolidou
uma nova maneira de fazer poesia. A palavra-chave é LIBERDADE. Vale quase tudo. Isso
significa que o escritor poderá se valer das regras antigas ou dos parâmetros inovadores. Ele
decide.
Considerem o quadro abaixo quanto à poesia moderna.

FORMA CONTEÚDO

Verso livre (sem métrica definida) Imagens não-lógicas (justaposição de


imagens, colagem)
Prosaísmo linguístico (palavras do
cotidiano, "não poéticas) Prosaísmo (valorização do momento,
do cotidiano)
Pontuação livre Automatismo psíquico
Desrespeito pelas regras
gramaticais Fragmentação
Desprezo pela sintaxe
tradicional Ironia e metalinguagem

COMO LER POESIA?

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(FUVEST/2000/1ª fase)

Ossian o bardo é triste como a sombra


Que seus cantos povoa. O Lamartine
É monótono e belo como a noite,
Como a lua no mar e o som das ondas...
Mas pranteia uma eterna monodia,
Tem na lira do gênio uma só corda;
Fibra de amor e Deus que um sopro agita:
Se desmaia de amor a Deus se volta,
Se pranteia por Deus de amor suspira.
Basta de Shakespeare. Vem tu agora,
Fantástico alemão, poeta ardente
Que ilumina o clarão das gotas pálidas
Do nobre Johannisberg! Nos teus romances
Meu coração deleita-se... Contudo,
Parece-me que vou perdendo o gosto,
(...)
(Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos).

Considerando-se este excerto no contexto do poema a que pertence (“Ideias íntimas”), é


correto afirmar que, nele,
a) o eu-lírico manifesta tanto seu apreço quanto sua insatisfação em relação aos escritores
que evoca.
b) a dispersão do eu-lírico, própria da ironia romântica, exprime-se na métrica irregular dos
versos.
c) o eu-lírico rejeita a literatura e os demais poetas porque se identifica inteiramente com a
natureza.
d) a recusa dos autores estrangeiros manifesta o projeto nacionalista típico da segunda
geração romântica brasileira.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

e) Lamartine é criticado por sua irreverência para com Deus e a religião, muito respeitados
pela segunda geração romântica.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/teoria literária. Mais informações sobre Álvares
de Azevedo serão encontradas na aula 03.
O poeta da segunda geração do Romantismo, Álvares de Azevedo, no trecho apresenta
duas características principais: pessimismo (com “triste como a sombra”) e erudição,
mencionando Lamartine, e Ossian, é o narrador e suposto autor de um ciclo de poemas épicos
publicados pelo poeta escocês James Macpherson desde 1760.
Alternativa A: correta – gabarito. É essa a função da intertextualidade nesse poema.
Alternativa B: incorreta. Os versos são regulares, trata-se de decassílabos, mas a ironia
romântica é um conceito inventado por Schlegel, filósofo e poeta alemão, filosofia que alia
poesia à conhecimento e sabedoria, entre outras características. A dispersão do eu lírico não
é reflexo disso, mas de sentimentalismo.
Alternativa C: incorreta. Ele não a rejeita, pelo contrário, mas sim a incorpora.
Alternativa D: incorreta. Não há recusa, mas menção, quase veneração, desejo de ser
igual.
Alternativa E: incorreta. Deus e religião são importantes para o movimento do Barroco, não
para o Romantismo.
Gabarito: A.

3.2. PROSA
Nos primórdios da Literatura, a prosa não tinha o prestígio que foi adquirindo com o passar
do tempo. Com a ascensão da burguesia, esse modelo de narrativa veio atender à necessidade
da nova classe social em se reconhecer nas histórias. Os escritores começam a se valer desse
padrão para apresentar histórias do cotidiano, nas quais o personagem, geralmente um burguês,
enfrenta seus dilemas pessoais. Aos poucos, essa narrativa vai abarcando questões existenciais
de uma sociedade que se transforma rapidamente a partir do século XVIII.
As narrativas literárias ficcionais giram em torno de algum tipo de crise que o personagem
deve resolver. Predominam verbos de ação, pois o protagonista (o personagem principal) vai
se envolver em peripécias que acabam por revelar algo sobre ele ou sobre as circunstâncias em
que vive.
Vamos estudar algumas características que um texto comum desse tipo pode ter.

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CATEGORIA DEFINIÇÃO

A narrativa de acontecimentos cuja ênfase recai na relação de causa e


efeito. Uma ação pode ser externa ou interna; intensa, densa. Sinônimo
ENREDO
de "história" com letra minúscula, pois "História" com maiúscula consiste
na disciplina.

Voz que fala dentro da narrativa e acaba por assumir o ponto de vista.
O narrador está para a prosa como o eu lírico está para a poesia.
Classifica-se em:
*Narrador em primeira pessoa: ele também é personagem, expressa
sua visão de mundo própria de quem vivenciou a história.
• Narrador ficcional: o escritor cria um personagem narrador com
características e biografia totalmente diferentes da sua.
• Narrador-testemunha: o escritor elege um protagonista, mas quem
conta a história é um personagem secundário.
• Alter ego: o escritor cria um narrador que conta uma experiência
muito próxima da vivida pelo autor. Por exemplo, em O Ateneu, o
protagonista Sérgio fala de suas vivências no internato em que
NARRADOR passou parte da sua adolescência, situação vivida pelo próprio
Raul Pompéia.
*Narrador em terceira pessoa: ele se coloca acima da história como se
fosse um deus observando seus personagens.
• Narrador impessoal: aquele que nos dá a impressão de não existir,
comporta-se como se fosse simplesmente um jornalista
registrando com fidelidade a história; tipo de narrador
frequentemente utilizado pelos realistas e naturalistas.
• Narrador condescendente ou simpático: o escritor adota um ponto
de vista que deixa claro quais são seus personagens preferidos,
idealizando-os. Esse é o narrador típico do Romantismo.
• Narrador crítico: ele conta a história comentando a ação e o
enredo.

PERSONAGENS Os seres fictícios construídos para figurarem dentro da história.

Os fatos apresentam relação com o tempo em dois níveis: cronológico


TEMPO (tempo real, numérico) e psicológico (as percepções subjetivas da
personagem).

ESPAÇO Lugar no qual se passa a história e o enredo (a ação) se articula.


CONFLITO Uma oposição entre elementos da história da qual resulta numa tensão.

CLÍMAX É o momento culminante da história, o momento de maior tensão.

DESFECHO Desenlace ou conclusão. É a solução do conflito, a parte final.

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Ponto de vista, foco narrativo e perspectiva são sinônimos. Trata-se de um conceito


fundamental na Literatura.

3.2.1 CARACTERÍSTICAS DA PROSA

O problema é que a depender do gênero do texto (um romance, um conto), pode haver
várias personagens, mais de um espaço, mais de um tempo, mais de um conflito e por aí vai.
Para entendermos um texto com profundidade, é preciso saber identificar todos esses
elementos.

PROSA POÉTICA

No seu concurso, podem aparecer gêneros textuais híbridos, também chamado de


mistos e conhecidos pela mistura de tendências de gêneros.

PROSA POÉTICA

A poesia pode estar contida numa linguagem versificada ou em prosa. Quando ocorre a
segunda possibilidade, dá-se o poema em prosa ou prosa poética. De um modo geral, haverá
prosa poética quando existem as seguintes características:
*conteúdo lírico emotivo;
*recriação lírica da realidade;
*utilização artística do poético;
*linguagem conotativa, (...) “carga lírica”, devido à capacidade dela mesma de criar ideias,
visões, imagens, por meio de imitações sonoras, melódicas e rítmicas.
Fonte: TAVARES, 2002, p. 162.

Dicionário (linguagem literal)


Conotativo: Coração (linguagem figurada)
Denotativa Dicionário Literal Sentido único

Linguagem
Vários sentidos,
Conotativa Coração Figurativa
inclusive todos

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Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma!
Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada ― erra rumo,
dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dôr não
dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos ― não dói sem precisar de
se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah,
medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O
senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demónio. Deus existe
mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver
― a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O
inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é
porque quer um fim! mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se
eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci
para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução
do senhor... (ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019).

Guimarães Rosa (1908-1967) foi um


escritor modernista da segunda geração (1945)
que se dedica à compreensão e descrição do
interior. Suas obras são marcadas pela
oralidade e por uma linguagem cheia de
regionalismos e neologismos (palavras criadas
que não existem originalmente no léxico de uma
língua). O exemplo acima representa a prosa
poética por causa da construção de imagens
insólitas (incomuns): "presa encantoada"; pela
repetição na linguagem imitando a fala coloquial;
pelas reflexões filosóficas e místicas acerca de
Deus e do Diabo.

Guimarães Rosa é um escritor modernista. Iremos estudá-lo de fato na nossa aula de


número 07. Ele apareceu hoje aqui a título de exemplificação de prosa poética.

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A PROSA MODERNA

FORMA CONTEÚDO

Diálogo com o leitor Pouca importância da ação e do


enredo
Metalinguagem e intrusão do narrador
Análise psicológica e social
Digressão e intertextualidade Inclusão do inconsciente, sonho,
fantasia
Narrativa não linear Novas técnicas de apresentação
Mistura de gêneros (bilhetes, cartas Neologismos, fluxo de consciência
diário etc. no corpo do romance) etc.

3.3. TEATRO
E não só de poesia e prosa se faz a Literatura. Um gênero menos explorado, mas que
não obstante pode cair na sua banca, é o teatro. Gênero que surge na Antiguidade Clássica,
sendo que seus principais representantes rivalizavam entre si em competições no século V a. C.
– IV a. C.: Sófocles, Eurípides e Ésquilo.
A concepção moderna que temos de palco e plateia por exemplo vem dessa época. O
teatro grego nasceu de cultos e rituais dedicados aos deuses de seu panteão; logo, ocupava
um lugar de destaque na civilização. Eram encenados no teatro de arena.
Vamos estudar abaixo as classificações acerca do gênero dramático.

CATEGORIA DEFINIÇÃO

Do grego, δράμα significa ação. Texto de ficção, peça teatral ou filme


de caráter sério, que apresenta um desenvolvimento de fatos e
DRAMA
circunstâncias compatíveis com os da vida real. Um texto dramático
se classifica como tragédia ou comédia.
O ato está para o teatro como o capítulo está para uma narrativa.
ATO Consiste na divisão geral da peça.
Subdivisões da peça, em que cabe uma unidade de ação. Geralmente,
CENA marca a entrada/saída de atores. Exemplo: ato III, cena 2: “Ser ou não
ser, eis a questão” (Shakespeare – Hamlet).

No teatro, as personagens são como personae, isto é, uma máscara,


uma ficcionalização, uma teatralização. Elas vestem a indumentária,
PERSONAGENS
um vestuário específico que condiz com seu caráter, personalidade
etc.

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O tempo pode ser cronológico (tempo real, numérico ou histórico) ou


TEMPO psicológico (as percepções subjetivas da personagem). O tempo ainda
pode não ser caracterizado.

No teatro, o espaço é uma cenografia, um lugar criado. Lugar no qual


ESPAÇO
se passa a história e o enredo (a ação) se articula.

O teatro apresenta toda uma técnica diferenciada. No início,


geralmente, há uma espécie de ficha catalográfica com algumas
informações sobre a peça. Ao longo do texto, também há orientações
RUBRICA
sobre gestos, posturas etc., geralmente, em relação a personagens.
São como intromissões do dramaturgo e normalmente vêm antes das
falas entre parênteses.

3.2.1 CARACTERÍSTICAS DO TEATRO


O melhor a se dizer, para além do quadro, é mostrando um exemplo de texto dramático.
Uma peça teatral é estruturada basicamente por meio de falas de personagens e algumas
intromissões ou orientações do dramaturgo que lhe servem para guiar as ações.

DOROTÉA – Isso me parece contraproducente; vai fazer dele


um herói e aumentar a venda do pasquim. Além do mais, o
senhor teria que mandar surrar muita gente. A oposição está
ganhando terreno dia a dia. E o que Neco escreveu n’A
Trombeta é mais ou menos o que os nossos inimigos dizem por
aí.
ODORICO – Eu sei. É um movimento subversivo procurando me
intrigar com a opinião pública e criar problemas à minha
administração. Sei, sim. É uma conspiração! Eles não queriam o
cemitério. Desde o princípio foram contra. E agora que o
cemitério pronto caem de pau em cima de mim, me chamam de
demagogo, de tudo, somentemente, porque aconteceu o que
não devia acontecer. Ou melhor: só porque não aconteceu o que
devia acontecer. Como se eu tivesse culpa! (GOMES, Dias. O
bem-amado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014).

Alfredo de Freitas Dias Gomes é um dramaturgo brasileiro


que faleceu em 18 de maio de 1999. Nasceu em Salvador em
uma família de classe média. Escreveu a primeira peça com 15
anos de idade. Sua obra “Pé de Cabra” (1942) sofreu censura na
Ditadura Vargas por suposto conteúdo comunista. Também foi
autor de radionovelas. Escreveu O pagador de promessas (1960)
e O bem-amado, tendo ambos se tornado filmes. Teve várias
produções televisivas também, como, por exemplo, a novela
Roque Santeiro.

Acima, há reprodução de um trecho de O bem-amado.


Nessa peça, com subtítulo “farsa sociopolítico-patológica em
nove quadros”, Odorico Paraguaçu é eleito prefeito sob a premissa de construir um cemitério na
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cidade. Político corrupto, recorre a vários estratagemas ilícitos para a inauguração do local, mas
nenhuma de suas armações teve sucesso. Acaba por ser morto por Zeca Diabo, contribuindo
ironicamente para a inauguração, o que lhe traz elogios fúnebres da população que o reverencia
como grande benfeitor da cidade. No trecho em particular, seu perfil de político está imitado no
palavrório verborrágico, recorrendo inclusive a neologismos como "somentemente".

O TEATRO MODERNO

FORMA CONTEÚDO

Rompe com a quarta parede Pode beirar o absurdo (non sense: sem
(ilusão de ficção) sentido)
Os atores podem encenar dentro e fora Monólogos e preocupação com a
do palco sondagem interior
A plateia pode ser envolvida no
espetáculo As peças podem ter duração variada

(UNESP/2021/1ª fase/2ª aplicaçãp)

Para responder à próxima questão, leia o trecho da peça “A mais-valia vai acabar, seu Edgar”,
de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. A peça foi encenada em 1960 na arena da Faculdade
de Arquitetura da Universidade do Brasil e promoveu um amplo debate. A mobilização
resultante desse debate desencadeou a criação do Centro Popular de Cultura (CPC).

Coro dos desgraçados: Trabalhamos noite e dia, dia e noite sem parar! Então de nada
precisamos, se só precisamos trabalhar! Há mil anos sem parar! Fizemos as correntes que
nos botaram nos pés, fizemos a Bastilha onde fomos morar, fizemos os canhões que vão nos
apontar. Há mil anos sem parar! Não mandamos, não fugimos, não cheiramos, não matamos,
não fingimos, não coçamos, não corremos, não deitamos, não sentamos: trabalhamos. Há mil
anos sem parar! Ninguém sabe nosso nome, não conhecemos a espuma do mar, somos
tristes e cansados. Há mil anos sem parar! Eu nunca ri — eu nunca ri — sempre trabalhei. Eu
faço charutos e fumo bitucas, eu faço tecidos e ando pelado, eu faço vestido pra mulher, e
nunca vi mulher desvestida. Há mil anos sem parar! Maria esqueceu de mim e foi morar com
seu Joaquim. Há mil anos sem parar!
(Apito longo. Um cartaz aparece:
“Dois minutos de descanso e lamba as unhas.”
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Todos vão tentar sentar.


Menos o Desgraçado 4 que fica de pé furioso.)
Desgraçado 1: Ajuda-me aqui, Dois. Eu quero me dá uma sentadinha.
(Desgraçado 2 ri de tudo.)
Desgraçado 3: Senta. (Desgraçado 1 vai pôr a cabeça no chão.) De assim, não. Acho que
não é com a cabeça não.
Desgraçado 1: Eu esqueci.
Desgraçado 3: A bunda, põe ela no chão. A perna é que eu não sei.
Desgraçado 2: A perna tira.
(Desgraçado 3 e Desgraçado 2
desistem de descobrir. Se atiram no chão.)
Desgraçado 1: A perna dobra! (Senta. Satisfeito.)
Desgraçado 2: Quero ver levantar.
(Todos olham para Desgraçado 4,
fazem sinais para que ele se sente.)
Desgraçado 4: Não! Chega pra mim! Eu só trabalho, trabalho, trabalho… (Perde o fôlego.)
Desgraçado 3: Eu te ajudo: trabalho, trabalho, trabalho...
Desgraçado 4: E tenho dois minutos de descanso? Nunca vi o sol, não tomei leite condensado,
não canto na rua, esqueci do sentar, quando chega a hora de descansar, fico pensando na
hora de trabalhar! Chega!
Slide: Quem canta seus males espanta.
Desgraçado 1: (cantando) A paga vem depois que a gente morre! Você vira um anjo todo
branco, rindo sempre da brancura, bebe leite em teta de nuvem, não tem mais fome, não tem
saudade, pinta o céu de cor de felicidade!
(Peças do CPC, 2016. Adaptado.)

O texto mostra-se crítico em relação ao conteúdo da seguinte citação:


a) “O homem é o lobo do homem.”
b) “O homem nasce livre, a sociedade o corrompe.”
c) “O trabalho dignifica e enobrece o homem.”
d) “Onde não há lei, não há liberdade.”
e) “O trabalho não é vergonha, é só uma maldição.”
Comentários
Alternativa A: incorreta. Ditado que vem do latim "Lupus est homo homini lupus", mas que
também foi utilizado por Thomas Hobbes (1588-1679), autor de "Leviatã" (1651). Significa que
o homem se torna hostil a si mesmo, uma das ideias defendidas pela peça, e não criticadas.
Alternativa B: incorreta. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo francês que
defendia ideias como "O homem nasce livre, mas em toda parte se encontra preso em ferros"
e "O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe". A peça indica a diferença entre
classes sociais a partir da noção de trabalho e essa alternativa aborda valores que extrapolam
diretamente as defesas e as críticas da peça.
Alternativa C: correta - gabarito. Cuidado: a comando pedia para o texto da peça teatral
ser associado criticamente em relação a um desses ditados populares. O que equivale a dizer
que deveria se opor a seu sentido. No caso, as personagens da peça teatral são anônimas.
Trabalham tanto que não mais se identificam, sendo chamadas de Desgraçado 1, 2, 3, 4 etc.
Por falarem juntas, em forma de coro, seu sofrimento é amplificado. Lembrando que a
presença do coro no teatro (personagem coletivo) é uma tradição que advém da Antiguidade
Clássica e que está sendo reutilizada nessa peça brasileira contemporânea.
Essa alternativa diz respeito ao lema protestante “O trabalho dignifica e enobrece o
homem.” Ou seja, uma visão positiva do trabalho, sendo que o bordão motiva as pessoas a
trabalharem. No caso, a peça teatral se mostra crítica quanto a esse ditado, porque os
personagens estão desencorajados e têm consciência de que fazem um trabalho que se volta
contra si. O trabalho dos desgraçados é hostil a eles próprios, o que é fruto de um processo
histórico: "fizemos a Bastilha onde fomos morar, fizemos os canhões que vão nos apontar. Há
mil anos sem parar!" Pelo acúmulo repetitivo de trabalho, os desgraçados se sentem
exaustos: "somos tristes e cansados".

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Alternativa D: incorreta. A peça não propõe que leis sejam feitas. Os desgraçados são tão
alienados que se esqueceram como se sentar, ou seja, nem mais lembravam como
descansar. Desprovidos de raciocínio e coordenação básica, dificilmente conseguiriam se
organizar para criar novas leis e refletir na sua própria liberdade.
Alternativa E: incorreta. Tudo com que os desgraçados se preocupavam era o trabalho, o
que dominava suas vidas. Julgavam o trabalho como condenação, pois tendiam a ser
fatalistas, mas não como vergonha necessariamente.
Gabarito: C.

4. INTERPRETAÇÃO DE OBRA DE ARTE

Como já foi dito anteriormente, pode ser que a banca compreenda Literatura dentro da
lógica de Linguagens e Códigos. Logo, fornecerei alguns métodos de interpretação de obras
artísticas, o que pode lhes ser útil.

Quais são os passos para interpretação de obra artística?

Descreva para si o que a imagem desperta em você.

A figura ao lado é bizantina. Como estamos acostumados com


imagens em trigésima definição e cheias de efeito, a imagem nos
parece pobre. Parece que estamos diante de uma obra feita por
alguém que não sabe pintar ou desenhar, embora, a figura nos pareça
agradável. Para compreendê-la, teríamos que seguir alguns passos.

Bom, trata-se de uma figura religiosa. A expressão séria tanto da Virgem Maria quanto do
Menino Jesus expressam seriedade e devoção. Provavelmente, você deve sentir essa seriedade
e circunspecção.

Observe aspetos técnicos: cores e tons; linhas (retas, circulares etc.).

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As cores são fortes e não são realistas. O critério nesse caso, provavelmente, não foi
pintar as cores do jeito que são na realidade, mas escolher aquelas que chamem a atenção de
quem as olha. Predomina o amarelo que lembra ouro. As linhas são suaves, mas também
desnaturais, basta observar as dobras do pano.

Observe a composição: se há perspectiva, o que há no fundo, o que há na


frente,
o jogo de claro e escuro.

As imagens ocupam o campo central. Não há profundidade e não há nada de significativo


atrás das figuras. A ideia é que o espectador da imagem não se distraia e olhe diretamente para
a figura. As figuras são chapadas, com o mínimo de jogo de claro e escuro. O amarelo dourado
do halo em torno do rosto da Virgem Maria e do Menino Jesus chama o olhar para as expressões
das figuras.

Até agora você levantou os elementos formais. Agora, deve analisar o tema. O que você
reconhece na cena?
Nesse caso, os personagens são bem conhecidos: a Virgem Maria e o Menino Jesus.
Note que o rosto do menino parece ser de um homem e os traços da Virgem Maria são bastante
simples. A imagem é bela como um todo, é bela pela composição de cores.
Essa imagem é bizantina. Arte desenvolvida depois da conversão de Constantino ao
Cristianismo no século IV. A Igreja tornou-se a religião oficial e deveria ostentar poder e glória
do Império. A seriedade dos personagens revela isso. O gosto pela opulência e a referência à
riqueza também.
Agora junte todas as informações. A imagem tinha como função despertar os fiéis para a
espiritualidade cristã. Deveria passar para o espectador acolhimento (o olhar da Virgem Maria)
e poder (as cores e o trono em torno dos personagens expressam isso). O artista propositalmente
rejeita o realismo, representa as figuras pelo jogo do que elas simbolizam socialmente, até
porque o espiritual não pode ser mostrado de forma humana. Isso explica inclusive a falta de
perspectiva e o aspecto frontal da obra.
Para que você perceba a diferença, observe os três quadros abaixo, aparentemente sobre
o mesmo tema (Madona, ou seja, o tema da Virgem Maria que carrega em seu colo o Menino
Jesus).

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

O primeiro quadro é de Rafael (1483-1520); portanto, a obra é renascentista. A figura


humana é representada com todo realismo, marca da influência do antropocentrismo e da
imitação das esculturas greco-latinas.
A segunda obra é de Parmigianino (1503-1540) e manifesta outro estilo, o Maneirismo.
Note o exagero na representação de pessoas, na dramaticidade da cena, na expressão da
Virgem Maria. Todos esses elementos apontam para a influência de um movimento próximo ao
do Barroco, em que a técnica passa a superar o equilíbrio que se observa no quadro anterior.
Por fim, a última obra é a do pintor expressionista Edvard Munch (1863-1944). O nome da
obra é Madona. Nela percebe-se a ausência de elementos sacros. A mulher aparece sensual e
ao mesmo tempo enigmática. Não segura o menino ao colo e as pinceladas são bem marcadas.
Isso significa que você precisa entender em linhas gerais os movimentos artísticos e como
as ideias de cada época são traduzidas em temas e técnicas que expressam ideias e
valores. Por conta disso, os PDFs aos quais vocês terão acesso sempre que possível
apresentarão as características dos movimentos artísticos que se desenvolviam na mesma
época em que os movimentos literários ocorriam. Essa abordagem, além de ampliar a nossa
noção da realidade, faz aumentar nosso repertório cultural
Atenção, alunos! Reproduzi para vocês imagens com boa qualidade, o que pode não
acontecer no dia da prova. Caso no dia vocês não consigam ler ou entender algo, dirija-se ao
fiscal da sala. Isso é importante em provas nas quais costumam cair obras de Artes Plásticas e
Visuais coloridas e com detalhes, especialmente provas que cobram a tipologia de questão de
linguagens e códigos.

Para além das Artes Visuais, entendam como setores artísticos os


seguintes: música, escultura, dança, esporte. Em suma, tudo o que no
grego antigo era entendido como τέχνη (tékhne), isto é, técnica, envolve
também a arte.

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5. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Muito do que a banca pode compreender como ser Literatura também perpassa a noção
de Interpretação de Texto. Logo, ela pode ser uma ferramenta útil. Separei algumas técnicas que
podem ajudá-los.
Um texto geralmente representa uma dificuldade para o leitor por causa de sua
multiplicidade: de formas, de significados, de temas etc. Por isso, reconheço que não é fácil
para todo leitor encontrar a unidade por trás de tantas camadas e muitos param na superfície de
um texto.
Prezados alunos. Essa é uma nova seção no seu material que vai lhe servir como uma
útil ferramenta. Para facilitar a vida, vamos explicar alguns conceitos.

POEMA POESIA
É o produto pronto, escrito em versos. É a forma pela qual se escreve.
POESIA ≠ PROSA

Versos Parágrafos

Por todo o caos aparente de um texto, há ordem. Isso equivale


a dizer que todo texto tem um fio condutor, uma lógica, a sua
coerência interna. Assim, a partir da constatação dos dados da
superfície, pode-se chegar à compreensão de significados
abstratos, para além dos concretos, que ajudam a conferir
unidade e organização ao texto.

Vamos agora adotar um esquema de leitura por camadas. São os níveis de compreensão
que um texto costuma exigir.

1ª camada
Fonte da imagem: Shutterstock.

Título, fonte, ponto de vista:


quem está falando? O quê?
Para quem?

2ª camada
Texto em si: elementos
morfossintáticos, palavras,
pontuação

3ª camada
O que exige mais de uma
competência: gêneros
híbridos, intertextualidade
etc.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

❖ Camadas de leituras = quantidade de vezes de leitura

❖ Caminho do mais óbvio para o subentendido: aprender a ler nas entrelinhas. Às vezes,
é mais importante o que o(a) autor(a) NÃO diz do que aquilo que está dito.
• 1ª camada: título, fonte, pessoas do discurso (primeira, segunda ou terceira do singular
ou plural).
• 2ª camada: classes morfológicas; pontuação; sintaxe mais simples ou mais
rebuscada; registro formal ou informal da linguagem.
• 3ª camada:
- Gêneros híbridos: prosa poética; teatro em versos; tragicomédia; teatro psicológico;
- Interdisciplinaridade: Gramática (figuras de linguagem, interpretação de texto);
Biologia; Geografia; Física.

ELEMENTOS INTERNOS ELEMENTOS EXTERNOS


• Estilo do texto: se utiliza o registro formal • Época em que o texto foi publicado (na prova,
ou informal da linguagem; essa informação estará na nota de rodapé).
• Gênero textual: romance, conto, crônica, • Biografia do autor: a sua história de vida (caso
poesia, reportagem, charge, tirinha etc. vocês saibam algo sobre isso ou algo seja
• A pessoa que escreve: voz do discurso divulgado na prova).
(primeira, segunda ou terceira, do • Meio em que o texto foi publicado ou veiculado:
singular ou do plural): livro, revista etc.
prosa: narrador; • O contexto cultural: por exemplo, as vanguardas
poesia: eu lírico. no Pré-Modernismo.
• Para quem o texto se destina: o seu • Textos anteriores e posteriores que dialogam
público-alvo, se é adolescente ou idosos, com o texto analisado em questão
homem ou mulher, se é um público mais (intertextualidade).
abrangente etc. • Imagens que acompanham o texto.
• As relações do texto com a Política, a História, a
Sociologia etc.

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ANÁLISE LITERÁRIA
Podemos desentranhar as fases que devem presidir à análise literária:
Primeira: escolhida a obra ou fragmento dela, procede-se à sua leitura integral, leitura de
contato, descontraída, lúdica, que deve fornecer uma impressão inicial.
Segunda: releitura de análise (que pode e deve ser repetida tantas vezes quantas o texto
requerer), com o lápis na mão, assinalando no texto as passagens que mais chamam
atenção.
Terceira: consulta do dicionário (ampliar o léxico), para resolver as dúvidas quanto à
denotação das palavras e expressões.
Quarta: releitura, tendo em vista compreender o índice (valor) conotativo das palavras e
expressões.
Quinta: apontar as constantes, repetições ou recorrências do texto, sobretudo no
que toca à conotação.
Sexta: interpretar tais constantes ou recorrências, que constituem a camada externa das
forças motrizes, com base nos elementos do próprio texto e nas informações que o analista
já possui.
Sétima: consultar as fontes secundárias caso o texto reclame: história literária
(características dos movimentos), biografia do autor, bibliografia (fortuna crítica) sobre o autor,
o contexto sócio-econômico-social.
Oitava: organizar em ordem hierárquica de importância as constantes ou recorrências,
segundo o critério estatístico e qualitativo, ou seja, segundo a quantidade das constantes e
sua qualidade emocional, sentimental e conceitual.
Nona: interpretá-las e buscar depreender as deduções que comportam, à luz dos dados
selecionados, tendo em vista as forças motrizes, isto é, a cosmovisão do escritor.
Décima: conclusão do trabalho. Como a análise, via de regra, não caminha sozinha,
dessa análise pode também surgir elementos que orientem para a crítica literária.
Fonte: MOISÉS, 1974, p. 36-37, grifos meus.

Repito a dica: no dia da prova, utilizem a caneta a seu favor. Utilizem-na para grifar
elementos mais importantes do texto, sobretudo, para o caso de precisar retornar ao texto para
procurar informações, a fim de responder às perguntas. Outra dica é ler o enunciado antes de
ler o texto.
Por outro lado, naturalmente no dia da prova não será possível realizar consultas e
pesquisas à parte. É por isso que devemos estar o máximo preparados para evitar surpresas no
dia.

Outra questão: vocês foram ensinados a vida inteira a


não repetir palavras na Redação e em outros contextos
que envolvem Língua Portuguesa. Isso porque isso
pode indicar pobreza de vocabulário, além de falta de
domínio da linguagem. Portanto, quando houver
repetição no texto literário, prestem atenção: ela foi
usada intencionalmente, ela tem algum propósito ou
intenção dentro do texto, geralmente apresentando
função de ênfase.

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6. GRAMÁTICA APLICADA À LITERATURA

Sempre que possível, além de encontram uma seção dedicada à leitura e interpretação
de textos literários dos movimentos específicos, vocês também terão acesso à sua análise
gramatical. Isso porque a banca pode compreender Literatura numa chave de
interdisciplinaridade com o próprio Português (Gramática e Interpretação de Texto).
Abaixo, vamos destrinchar alguns dos conceitos que podem nos ser úteis. Primeiramente,
entre as partes da Gramática Normativa que mais nos interessam encontra-se a Morfologia. A
Morfologia é o estudo da forma e suas classificações. Na Morfologia, há 10 classes de palavras.
Dessas palavras, temos o seguinte quanto à sua capacidade de mudança:

VARIÁVEIS INVARIÁVEIS

Substantivo, verbo, adjetivo, artigo, numeral e Advérbio, conjunção, preposição e


pronomes. interjeição.

Substantivo

Interjeição Artigo

Conjunção Adjetivo

MORFOLOGIA

Preposição Numeral

Advérbio Pronome

Verbo

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Já aprendemos que um texto é como um tecido. Isso equivale a dizer que ele tem uma
coerência interna, um contexto que lhe é próprio, é permeado também por elementos
extratextuais e agora iremos aprender que uma parte se liga à outra.
• Se o texto for prosa, a ligação entre as suas partes se dá por parágrafos.
• Se ele for poesia, essa ligação se dá entre estrofes.

COESÃO TEXTUAL
A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados obviamente não é
fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles. Essas relações de sentido
são manifestadas sobretudo por certa categoria de palavras, as quais são chamadas
conectivos ou elementos de coesão. Sua função no texto é exatamente a de pôr em evidência
as várias relações de sentido que existem entre os enunciados.
São várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de elemento
de coesão:
*as preposições: a, de, para, com, por;
*as conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou;
*os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual;
*os advérbios: aqui, aí, lá, assim.
Fonte: PLATÃO; FIORIN, 1996, p. 271-272.

É assim que vai se formando a coerência e coesão de um texto literário, quer dizer, não
só o seu sentido, como também a relação entre a Morfologia e Sintaxe.
Não se preocupem. Quanto às classes gramaticais e os conceitos ainda não estudados,
iremos abordá-los quando forem necessários em aulas futuras.

7. CRÍTICA LITERÁRIA

A essa altura do campeonato vocês já devem ter percebido como será o formato de
nossas aulas futuras e suas respectivas seções. Nessa seção em particular, vocês encontrarão,
para além da literatura, análises de textos literários e seus movimentos, uma seção para
abordarmos Crítica Literária. Atenção: isso é muito importante!

Não subestimem o que eu chamo de cobrança indireta.


Uma as maneiras por meio da qual a banca pode cobrar
Literatura sem cobrá-la é por meio da cobrança indireta.
Ela pode cair no formato, justamente, de Crítica Literária,
por exemplo.

O ideal é que a Crítica Literária dialogue com os termos abordados em cada aula. Nesse
sentido e como essa é uma aula inicial, escolhi abordar os seguintes tópicos:
• O conceito de literatura propriamente dito;
• O conceito de foco narrativo.

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QUE É LITERATURA?
Um grito de dor é sinal da dor que o provoca.
Mas um canto de dor é ao mesmo tempo a própria dor e uma coisa que não a dor. Ou
seja, se quiser adotar o vocabulário existencialista, é uma dor que não existe mais, é uma dor
que é. Mas, dirá você, e se o pintor fizer casas? Pois bem, precisamente, ele as faz, isto é,
cria uma casa imaginária sobre a tela, e não um signo da casa. E a casa assim manifesta
conserva toda a ambiguidade das casas reais. O escritor pode dirigir o leitor e, se descreve
um casebre, mostrar nele o símbolo das injustiças sociais, provocar nossa indignação. Já o
pintor é mudo: ele nos apresenta um casebre, só isso; você pode ver nele o que quiser. Essa
choupana nunca será o símbolo da miséria; para isso seria preciso que ela fosse signo, mas
ela é coisa. O mau pintor procura o tipo, pinta o Árabe, a Criança, a Mulher; o bom pintor sabe
que o Árabe e o Proletário não existem, nem na realidade, nem na sua tela; ele propõe um
operário – determinado operário. E o que pensar de um operário? Uma infinidade de coisas
contraditórias. Todos os pensamentos, todos os sentimentos estão ali, aglutinados sobre a
tela, em indiferenciação profunda; cabe a você escolher. Artistas bem-intencionados já
tentaram comover; pintaram longas filas de operários aguardando na neve uma oferta de
trabalho, os rostos esquálidos dos desempregados, os campos uma emoção irreconhecível,
perdida, estranha para si mesma, esquartejada e espalhada pelos quatro cantos do espaço
e, no entanto, presente. Não duvido que a caridade ou a cólera possam produzir outros
objetos, mas neles elas ficarão atoladas da mesma forma; perderão seu significado, restarão
apenas coisas habitadas por uma alma obscura. Não se pintam significados, não se
transformam significados em música; sendo assim, quem ousaria exigir do pintor ou do músico
que se engajem? O escritor, ao contrário, lida com os significados. Mas cabe distinguir: o
império dos signos é a prosa; a poesia está lado a lado com a pintura, a escultura, a música.
Acusam-me de detestar a poesia: a prova, dizem, é que Tempos Modernos raramente publica
poemas. Ao contrário, isso prova que nós a amamos. Para se convencer disso, basta ver a
produção contemporânea. “Pelo menos a ela”, dizem os críticos em triunfo, “você não pode
nem sonhar em engajar”. De fato. Mas por que haveria eu de querer fazê-lo? Porque ela se
serve de palavras, como a prosa? Mas ela não o faz da mesma maneira; na verdade, a poesia
não se serve de palavras; eu diria antes que ela as serve. Os poetas são homens que se
recusam a utilizar a linguagem. Ora, como é na linguagem e pela linguagem, concebida como
uma espécie de instrumento, que se opera a busca da verdade, não se deve imaginar que os
poetas pretendam discernir o verdadeiro, ou dá-lo a conhecer. Eles tampouco aspiram a
nomear o mundo, e por isso não nomeiam nada, pois a nomeação implica um perpétuo
sacrifício do nome ao objeto nomeado, ou, para falar como Hegel, o nome se revela
inessencial diante da coisa – esta, sim, essencial. Os poetas não falam, nem se calam: trata-
se de outra coisa. (...)
Na verdade, o poeta se afastou por completo da linguagem-instrumento; escolheu de uma
vez por todas a atitude poética que considera as palavras como coisas e não como signos.
Pois a ambiguidade do signo implica que se possa, a seu bel-prazer, atravessá-lo como a
uma vidraça, e visar através dele a coisa significada, ou voltar o olhar para a realidade do
signo e considerá-lo como objeto. O homem que fala está além das palavras, perto do objeto;
o poeta está aquém.
Sartre, Jean-Paul. Que é a literatura? (Vozes de Bolso) (p. 17-19). Editora Vozes. Edição do Kindle.

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Jean-Paul Sartre (1905-1980), junto com Albert Camus,


foi um conhecido poeta francês do Existencialismo, um termo
filosófico que expressa a corrente de pensamento que destaca a
importância filosófica da existência individual como o foco da
conceituação filosófica (e não os sistemas e conceitos abstratos)
e segundo a qual o homem é livre e responsável por seu destino
(dicionário Aulete).
Nesse trecho em particular, ele retoma um ditado da
Antiguidade Clássica: ut pictura poesis, expressão utilizada por
Horácio em sua Arte Poética para dizer que a Literatura se
assemelha a outras artes, sobretudo, à pintura, por causa da
formação de imagens.

AUTOR ONISCIENTE INTRUSO


Esse tipo de NARRADOR tem a liberdade de narrar à vontade, de colocar-se acima, ou,
por trás, adotando um PONTO DE VISTA divino para além dos limites de tempo e espaço.
Pode também narrar da periferia dos acontecimentos, ou do centro deles, ou ainda limitar-se
e narrar como se estivesse de fora, ou de frente, podendo, ainda, mudar e adotar
sucessivamente várias posições. Como canais de informação, predominam suas próprias
palavras, pensamentos e percepções. Seu traço característico é a intrusão, ou seja, seus
comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres, a moral, que podem ou não estar
entrosados com a história narrada.
Em Língua Portuguesa, podemos pensar até mesmo em Machado de Assis.

Não, senhora minha, ainda não acabou este dia tão comprido; não sabemos o que se passou entre
Sofia e o Palha, depois que todos se foram embora. Pode ser até que acheis aqui melhor sabor que no
caso do enforcado. Tende paciência; é vir agora outra vez a Santa Tereza. A sala está ainda alumiada,
mas por um bico de gás; apagaram-se os outros, e ia apagar-se o último, quando o Palha mandou que
o criado esperasse um pouco lá dentro. A mulher ia sair, o marido deteve-a, ela estremeceu.

Trata-se do capítulo L do livro Quincas Borba. Escrito em 1891, o romance narra a


história de Rubião, herdeiro da fortuna de Quincas Borba. Quando este morre, deixa sua
fortuna para o professor Rubião e impõe, como uma condição, que ele fique com seu cachorro,
de nome Quincas Borba, como seu antigo dono. Rubião, agora rico, muda para o Rio de
Janeiro, onde vem a apaixonar-se por Sofia, mulher de seu sócio, Cristiano Palha. Como
ambos dependem economicamente de Rubião, cria-se uma situação muito ambígua que
Machado passa a explorar magistralmente: Palha tem ciúmes, mas atura as investidas de
Rubião por conveniência. E Sofia vai equilibrando a situação, pois nem trai o marido nem
desestimula o amor de Rubião. Pouco a pouco essa ambiguidade acaba levando-o à loucura
e à ruína. Doente e pobre, os amigos deixam-no sozinho. Rubião, fugindo de um asilo, volta
para Minas, onde morre, tendo como único companheiro seu cão.
Nesse capítulo, Sofia conta a Palha que Rubião lhe declarara o seu amor (capítulo
anterior). No trecho que destacamos, o narrador, onisciente intruso, procura fazer ligações
entre diferentes momentos do livro, falando diretamente às leitoras (as mulheres eram, no
século passado, o público mais visado pelos romancistas). Essa interferência do narrador –
comentando os acontecimentos, freando a HISTÓRIA e procurando se colocar do ponto de
vista das leitoras, para apreciar de fora as ações e reações das personagens – é típica de
Machado. Com isso, consegue um certo distanciamento irônico que acaba chamando a
atenção para os implícitos da HISTÓRIA, suas intenções últimas.
Aqui, por exemplo, dizendo-nos que a cena da declaração de Rubião no capítulo anterior
não tenha sido talvez o mais importante, Machado gera em nós a expectativa de grandes
reações por parte do marido ciumento. O capítulo, na sua sequência, com Palha controlando
perfeitamente o ciúme, ao ouvir o relato de Sofia, frustra essa expectativa e, por frustrá-la,
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aponta para o caráter de Palha e de Sofia, para o jogo de sedução desta, as ambições
daquele, as possíveis significações filosóficas que podemos ir tirando a partir daí e que
transcendem a mera historinha do tradicional triângulo amoroso, base da FÁBULA, no livro,
como em tantos outros romances da época.
Respondendo às questões: – quem narra? – um narrador onisciente intruso, um eu que
tudo segue, tudo sabe e tudo comenta, analisa e critica, sem nenhuma neutralidade. – De que
lugar? – provavelmente de cima, dominando tudo e todos, até mesmo puxando com pleno
domínio as nossas reações de leitores e driblando-nos o tempo todo. Quem nos fala é esse
eu. Os canais de que se utiliza são os mais variados, predominando a sua própria observação
direta. Finalmente, somos colocados a uma DISTÂNCIA, ao mesmo tempo menor, do narrado
– já que temos acesso até aos pensamentos das personagens –, e maior, porque a presença
do narrador medeia sempre, ostensiva, entre nós e os fatos narrados, conservando-nos
ironicamente afastados deles, impedindo nossa identificação com qualquer personagem bem
como frustrando a absorção na sequência dos acontecimentos, com pausas frequentes para
a reflexão crítica.
Muito comum no século XVIII e no começo do século XIX, o NARRADOR ONISCIENTE
INTRUSO saiu de moda a partir da metade desse século, com o predomínio da "neutralidade"
naturalista ou com a invenção do INDIRETO LIVRE por Flaubert que preferia narrar como se
não houvesse um narrador conduzindo as ações e as personagens, como se a história se
narrasse a si mesma.
Mas Machado, antecipando vertentes ultramodernas, utiliza esse narrador intruso
como ruptura da verossimilhança. Seu leitor não se esquece de que está diante de uma
FICÇÃO, de uma análise, da interpretação ficcional da realidade, um mero PONTO DE VISTA
sobre pessoas, acontecimentos, sociedade, lugar e tempo.
Fonte: CHIAPPINI, 2019, p. 26, grifo meu (adaptado).

Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio


de Janeiro. É um escritor do movimento literário do Realismo e
também um dos maiores da Literatura Brasileira. Filho de gente
humilde, aos 15 anos publica os primeiros versos e é aprendiz de
tipógrafo. Aos 27 anos, ingressa no serviço público, em que ficaria
até o fim da vida. Aos 29 anos, atinge o auge da estabilização
burguesa, quando casa com Carolina. Foi o fundador e presidente
da Academia Brasileira de Letras (ABL), criada em 1897. Era
atento à cena contemporânea, e não deixava nenhum detalhe
passar. As suas obras representam com profundidade o Brasil.

Nesse sentido, o trecho aborda um conceito-chave para a Literatura: a verossimilhança,


que pode ser compreendida como sinônimo de mimese. Trata-se ainda da teoria do reflexo:
intuito de representar a realidade de uma maneira mais fidedigna possível.

Imitar é natural ao homem desde a infância – e nisso difere dos animais, em ser o mais capaz
de imitar e de adquirir os primeiros conhecimentos por meio da imitação – e todos têm prazer
em imitar" (ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 21-22).

O trecho crítico alude a um romance específico de Machado de Assis: Quincas Borba


(1891). Rubião é o protagonista, que recebe uma herança da qual não consegue cuidar e acaba
a vida na maior ruína. Do ponto de vista da técnica de Machado de Assis, em Quincas Borba
não há um narrador-protagonista, como em Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Cubas. Ou seja, um narrador na primeira pessoa do singular (eu), que participa dos fatos e por
isso mesmo contamina o texto com as suas conjecturas e opiniões.
Quincas Borba, porém, utiliza regularmente um narrador em terceira pessoa do singular
(ele); porém, existe um narrador que está sempre se intrometendo na história, também com as
suas conjecturas e opiniões, apesar de não participar diretamente dela.
Frequentemente em Machado de Assis, o narrador se dirige ao leitor, e às vezes até
mesmo se mostra como primeira pessoa (em verbos, pensamentos etc.). Assim, como diz o
trecho crítico, há um jogo que perpassa o foco narrativo.

8. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem.


A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto.
Vamos trazer exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das
seguintes fontes:
• Essa aula 00 é demonstrativa. Então, trouxe questões da última prova, na tentativa
de tornar o material o mais atualizado possível, pois o objetivo inicial é se atentar para
as tipologias de questões variadas. Podem notar que eu sempre coloco antes da
resolução a tipologia da questão para orientá-los, inclusive indicando onde cada
assunto pode ser encontrado se for trabalhado em aulas futuras. Não se preocupe,
pois, quando for assim, retomaremos os tópicos abordados nas suas aulas
respectivas.
• Outra dica: após fazer os exercícios da sua banca, procure fazer os de outra com
cobrança parecida, o que se encontra na lista complementar de fixação que preparei
para vocês. No caso, optei por questões interpretativas e de múltipla escolha.
• Com honestidade, dificilmente os temas dessa aula caem de uma maneira pura e direta
nos vestibulares. Tentei fazer uma seleção o mais adequada e pertinente possível
quanto aos conteúdos abordados aqui hoje; porém, caso haja um conteúdo que ainda
não estudamos, não se preocupem, pois ele será trabalhado com mais profundidade
em aulas futuras. Então, aproveitem também o momento dos comentários e
correções para aprenderem, pois os(as) autores do cânone devemos conhecer.
Informações adicionais sobre os movimentos literários especificamente vocês
encontrarão na videoaula.

Para complementar seu estudo cada vez mais, vocês vão encontrar
questões ao longo da teoria e no final dela, com e sem gabaritos. Além
disso, também temos simulados inéditos e gratuitos todo fim de semana.
Isso quer dizer que vamos focar bastante na prática!

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

01. (FUVEST/2021/1ª fase)

Alferes, Ouro Preto em sombras


Espera pelo batizado,
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
Raios de sol brilharão nos sinos:
Dez vias dar;

Ai Marília, as liras e o amor


Não posso mais sufocar
E a minha voz irá
Pra muito além do desterro e do sal,
Maior que a voz do rei.
Aldir Blanc e João Bosco, trechos da música "Alferes", de 1973.

A imagem de Tiradentes - a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa
expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra
feita em Ouro Preto - torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários
momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo
contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso
a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.
b) da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.
c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditatura militar.
d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.
e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.

02. (FUVEST/2021/1ª fase)


A psicanálise do açúcar
O açúcar cristal, ou açúcar de usina,
mostra a mais instável das brancuras:
quem do Recife sabe direito o quanto,
e o pouco desse quanto, que ela dura.
Sabe o mínimo do pouco que o cristal
se estabiliza cristal sobre o açúcar,
por cima do fundo antigo, de mascavo,
do mascavo barrento que se incuba;
e sabe que tudo pode romper o mínimo
em que o cristal é capaz de censura:
pois o tal fundo mascavo logo aflora
quer inverno ou verão mele o açúcar.

Se os banguês* que-ainda purgam ainda


o açúcar bruto com barro, de mistura;
AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

a usina já não o purga: da infância,


não só depois de adulto, ela o educa;
em enfermarias, com vácuos e turbinas,
em mãos de metal de gente indústria,
a usina o leva a sublimar em cristal
o pardo do xarope: não o purga, cura.
Mas como a cana se cria ainda hoje,
em mãos de barro de gente agricultura,
o barrento da pré-infância logo aflora
quer inverno ou verão mele o açúcar.
*banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal.
João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra.

Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e
o banguê, pois
a) negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.
b) esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.
c) revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.
d) denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.
e) explicam que a estação do ano define em qualquer processo o tipo de açúcar.

03. (FUVEST/2021/1ª fase)


Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era
amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance.
Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria
saber já era conhecido. E ele me perguntava:
"Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia
escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e
mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência
na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria
me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que,
para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o
equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o
idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?".
Repetia. E, diante da sua insistência bovina tive de me render à evidência de que eu não
sabia responder à sua pergunta.
Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

Sem prejuízo de sentido e fazendo as adaptações necessárias, é possível substituir as


expressões em destaque no texto, respectivamente, por
a) incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.
b) altivez; brincadeira; ofendido; mansa.
c) ignorância; mentira; prejudicado; alienada.
d) complacência; invenção; bobo; cega.

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


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e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.

04. (FUVEST/2020/1ª fase) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

amora
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor
a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar
Marco Catalão, Sob a face neutra.

É correto afirmar que o poema


a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos
amargo e sombrio.
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da
palavra “talvez”.
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do
sentimento amoroso.
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e
“amar”.
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.

05. (FUVEST/2020/1ª fase) Tal como se lê no poema,


a) a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo.
b) o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”.
c) o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo.
d) o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”.
e) o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.

06. (FUVEST/2020/1ª fase)

Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava
morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó,
mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em
que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.
AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu
perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer
uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode
saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo,
outros morrem de repente sem sofrer.
Helena Morley, Minha Vida de Menina.

Perguntas
Numa incerta hora fria
perguntei ao fantasma
que força nos prendia,
ele a mim, que presumo
estar livre de tudo
eu a ele, gasoso,
(...)
No voo que desfere
silente e melancólico,
rumo da eternidade,
ele apenas responde
(se acaso é responder
a mistérios, somar‐lhes
um mistério mais alto):
Amar, depois de perder.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que


a) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira.
b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais.
c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido
filosófico da morte.
d) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo.
e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares.

07. (FUVEST/2017/1ª fase) Considere as imagens e o texto, para responder à próxima questão.

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II / São Francisco de Assis*


Senhor, não mereço isto.
Não creio em vós para vos amar.
Trouxestes-me a São Francisco
e me fazeis vosso escravo.

Não entrarei, senhor, no templo,


seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.

Dai-me, senhor, a só beleza


destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem,
paralela à das cinco chagas.

Mas entro e, senhor, me perco


na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
por que esta nova cilada?

Senhor, os púlpitos mudos


entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.

Perdão, senhor, por não amarvos.


Carlos Drummond de Andrade
*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de
Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Analise as seguintes afirmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do


Barroco:

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I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez os sentidos, de modo
que o público não possa escapar.
II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando nele uma reação forte de
maravilhamento.
III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar, entre outras coisas, a
preeminência da Igreja.

A experiência que se expressa no poema de Drummond registra, em boa medida, as


reações do eu lírico ao que se encontra registrado em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.

08. (FUVEST/2011/1ª fase)

A ROSA DE HIROXIMA
1Pensem nas crianças

Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
5Pensem nas mulheres

Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
10Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
15A rosa com cirrose

A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
(Vinicius de Moraes, Antologia poética.)

Neste poema,
a) a referência a um acontecimento histórico, ao privilegiar a objetividade, suprime o teor lírico
do texto.
b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem tradicionalmente positiva da
rosa a atributos negativos, ligados à ideia de destruição.
c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua despreocupação com a
elaboração formal.
d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito originalmente como letra
de canção popular.
AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em boa medida, pelo caráter
concreto do texto e pelo vigor de sua mensagem.

09. (FUVEST/2011/1ª fase) Dentre os recursos expressivos presentes no poema, podem-


se apontar a sinestesia e a aliteração, respectivamente, nos versos
a) 2 e 17.
b) 1 e 5.
c) 8 e 15.
d) 9 e 18.
e) 14 e 3.

10. (FUVEST/2010/1ª fase) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES

1Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava
que mormaço fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas
eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava
crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo
clamor público, vejo com estes 5olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto,
brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no
excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar
uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da
pedra fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com
os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos 10alojados os do
meu grupo num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do
Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas
e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos
de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em
meu entre dormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei atônito
para um tipo de 15chiru**, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido
sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida
calma: Pois é! Não vê que eu sou o sereno...
Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras.
Glossário
*estremunhado: mal acordado.
**chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: sul do Brasil).

No início do texto, o autor declara sua “tendência para personificar as coisas”. Tal
tendência se manifesta na personificação dos seguintes elementos:
a) Tia Tula, Justo e Getúlio.
b) mormaço, clamor público, sereno.
c) magro, arquejante, preto.
d) colegas, jornalistas, presidentes.

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e) vulto, chiru, crianças.

11. (FUVEST/2010/1ª fase) A caracterização ambivalente da “coletividade democrática” (L.


12-13), feita com humor pelo cronista, ocorre também na seguinte frase relativa à
democracia:
a) Meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo, e
nenhum, venerado (A. Einstein).
b) A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais (W. Churchill).
c) A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes (B.
Shaw).
d) É uma coisa santa a democracia praticada honestamente, regularmente, sinceramente
(Machado de Assis).
e) A democracia se estabelece quando os pobres, tendo vencido seus inimigos, massacram
alguns, banem os outros e partilham igualmente com os restantes o governo e as magistraturas
(Platão).

12. (FUVEST/2010/1ª fase) No contexto em que ocorre, a frase “estava devidamente


grandezinho, pois devia contar uns trinta anos” (L. 11 e 12) constitui
a) recurso expressivo que produz incoerência, uma vez que não se usa o adjetivo “grande” no
diminutivo.
b) exemplo de linguagem regional, que se manifesta também em outras partes do texto,
como na palavra “brandindo”.
c) expressão de nonsense (linguagem surreal, ilógica), que, por sinal, ocorre também quando o
autor afirma ouvir o M maiúsculo de “mormaço”.
d) manifestação de humor irônico, o qual, aliás, corresponde ao tom predominante no texto.
e) parte do sonho que está sendo narrado e que é revelado apenas no final do texto,
principalmente no trecho “em meu entre dormir”.

13. (FUVEST/2008/1ª fase)

A borboleta
Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama: “Olha uma borboleta!”
O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: – Ah!,
sim, um lepidóptero...
Mário Quintana, Caderno H.
nasóculos = óculos sem hastes, ajustáveis ao nariz.

Depreende-se desse fragmento que, para Mário Quintana,


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a) a crítica de poesia é meticulosa e exata quando acolhe e valoriza uma imagem poética.
b) uma imagem poética logo se converte, na visão de um crítico, em um referente prosaico.
c) o leitor e o poeta relacionam-se de maneira antagônica com o fenômeno poético.
d) o poeta e o crítico sabem reconhecer a poesia de uma expressão como “pedaço esvoaçante
de vida”.
e) palavras como “borboleta” ou “lepidóptero” mostram que há convergência entre as linguagens
da ciência e da poesia.

14. (FUVEST/2007/1ª fase)

DAS VÃS SUTILEZAS


Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs para atrair nossa atenção.
(...) Aprovo a atitude daquele personagem a quem apresentaram um homem que com
tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia passar pelo buraco de uma
agulha sem jamais errar o golpe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma recompensa
por essa habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de maneira prazenteira e justa a
meu ver, mandando entregar-lhe três medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar
a exercer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza de nosso julgamento
apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou ainda porque
apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si.
Montaigne, Ensaios.

O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte estrutura:


a) formulação de uma tese; ilustração dessa tese por meio de uma narrativa; reiteração e
expansão da tese inicial.
b) formulação de uma tese; refutação dessa tese por meio de uma narrativa; formulação de uma
nova tese, inspirada pela narrativa.
c) desenvolvimento de uma narrativa; formulação de tese inspirada nos fatos dessa narrativa;
demonstração dessa tese.
d) segmento narrativo introdutório; desenvolvimento da narrativa; formulação de uma hipótese
inspirada nos fatos narrados.
e) segmento dissertativo introdutório; desenvolvimento de uma descrição; rejeição da tese
introdutória.

15. (ENEM IMPRESSO/2021)


Introdução a Alda
Dizem que ninguém mais a ama. Dizem que foi uma boa pessoa. Sua filha de doze
anos não a visita nunca e talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa cidade triste
de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde não pôde mais sair. Lá, todos gritam-lhe
irritados, mal se aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos de areia para treinar os
músculos.

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Sei que para todos ele já não é, e ninguém lhe daria uma maçã cheirosa, bem
vermelha. Mas não é verdade que alguém não a possa mais amar. Eu amo-a. Amo-a
quando a vejo por trás das grades de um palácio, onde se refugiou princesa, chegada
pelos caminhos da dor. Quando fora do reino sente o mundo de mil lanças, e selvagem
prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criança brinca na areia sem medo. Uns pés
descalços, uma mulher sem intenções. Cercada de mundo, às vezes sofrendo-o ainda.
CANÇADO, M. L. O sofredor do ver. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

Ao descrever uma mulher internada em um hospital psiquiátrico, o narrador compõe um


quadro que expressa sua percepção
a) irônica quanto aos efeitos do abandono familiar.
b) resignada em face dos métodos terapêuticos em vigor.
c) alimentada pela imersão lírica no espaço da segregação.
d) inspirada pelo universo pouco conhecido da mente humana.
e) demarcada por uma linguagem alinhada à busca de lucidez.

16. (ENEM 2020/Reaplicação-PPL)

Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013.

Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta recorre a exemplificações com o


propósito de representar a escrita como uma atividade que
a) requer a criatividade do artista.
b) dispensa explicações racionais.
c) independe da curiosidade do leitor.
d) pressupõe a observação da natureza.
e) decorre da livre associação de imagens.

17. (ENEM 2020/Reaplicação-PPL)


Epitáfio
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Devia ter amado mais


Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
[...]
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
BRITTO, S. A melhor banda de todos os tempos da última semana.
Rio de Janeiro: Abril Music, 2001 (fragmento).

O gênero epitáfio, palavra que significa uma inscrição colocada sobre lápides, tem a
função social de homenagear os mortos. Nesse texto, a apropriação desse gênero no título
da letra da canção cria o efeito de
a) destacar a importância de uma pessoa falecida.
b) expressar desejo de reversão de atitudes.
c) registrar as características pessoais.
d) homenagear as pessoas sepultadas.
e) sugerir notações para lápides.

18. (UNESP/2022/1ª fase/2º dia) Para responder à próxima questão, leia o trecho inicial da
crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em
1943.

O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século,
tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas
muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem
da mesma forma – e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de
roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência
do veredicto.
Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios
gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta
centímetros, exatos, apesar de barrocas¹ e degraus. A espinha não se curvava, embora
descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as
duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam.

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Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na


encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e nenhum ousava
deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso.
Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou
calor, almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava
de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com
a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e
arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.
Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas,
e condenou o crime, infeliz consequência da paixão.
Se atentássemos nas palavras emitidas por via oral, poderíamos afirmar que o Dr.
França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não seguia a marcha dos
pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando
porém aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível
qualquer desvio.
Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios,
dividido em capítulos, títulos, artigos e parágrafos. E o que se distanciava desses
parágrafos, artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos
tormentos da imaginação.
(Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.)
1 barroca: monte de terra ou de barro.

Na crônica, o Dr. França é caracterizado como


a) irônico e arrogante.
b) arrogante e dissimulado.
c) introvertido e sarcástico.
d) pedante e displicente.
e) taciturno e metódico.

19. (UNESP/2020/1ª fase)


Tal movimento distingue-se pela atenuação do sentimentalismo e da melancolia, a
ausência quase completa de interesse político no contexto da obra (embora não na
conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a uma
expressão de tipo plástico. O mito da pureza da língua, do casticismo vernacular abonado
pela autoridade dos autores clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e foi
um critério de excelência. É possível mesmo perguntar se a visão luxuosa dos autores
desse movimento não representava para as classes dominantes uma espécie de
correlativo da prosperidade material e, para o comum dos leitores, uma miragem
compensadora que dava conforto.
(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

O texto refere-se ao movimento denominado


a) Romantismo.
b) Barroco.
c) Parnasianismo.
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d) Arcadismo.
e) Realismo.

20. (UNESP/2016/1o semestre/1ª fase) Considere o poema do português Eugênio de Castro


(1869-1944) para responder às próxima questão.

MÃOS

Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,


o vosso gesto é como um balouçar de palma;
o vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o vosso
[gesto canta!
Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,
rolas à volta da negra torre da minh’alma.

Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes,


Caridosas Irmãs do hospício da minh’alma,
O vosso gesto é como um balouçar de palma,
Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes...

Mãos afiladas, mãos de insigne formosura,


Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim,
Sois dois lenços, ao longe, acenando por mim,
Duas velas à flor duma baía escura.

Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas,


Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos ninhos,
Divinas mãos que me heis coroado de espinhos,
Mas que depois me haveis coroado de rosas!

Afilhadas do luar, mãos de rainha,


Mãos que sois um perpétuo amanhecer,
Alegrai, como dois netinhos, o viver
Da minha alma, velha avó entrevadinha.
(Obras poéticas, 1968.)

Verifica-se certa liberdade métrica na construção do poema. Na primeira estrofe, tal


liberdade comprova-se pela
a) construção do hendecassílabo fora dos rígidos modelos clássicos.
b) variedade do verso decassílabo e do verso alexandrino.
c) presença de um verso com número menor de sílabas que os alexandrinos.
d) desobediência aos padrões de pontuação tradicionais do decassílabo.
e) presença de dois versos com número maior de sílabas que os alexandrinos.

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21. (UNESP/2015/1o semestre/1ª fase) Para responder à próxima questão, leia o poema de
Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).

O Azulão e os tico-ticos
Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia,
cada vez mais se enflorava.

Se um tico-tico e outras aves


vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.

Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de tico-ticos
numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
desses garotos joviais,
tu continuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”

Numas volatas sonoras,


o Azulão lhe respondeu:
“Caro Amigo! Eu prezo muito
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!

Quando, há pouco, eu descantava,


pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
bravos! Bravos... muito bem!
Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
(irmão de Gonçalves Dias,
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um dos cantores mais ricos...)


— que caso pode fazer
das vaias dos tico-ticos?”
*Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado este Sabiá, pois foi a “Águia de
Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro “Poemas bravios”.
(Poemas escolhidos, s/d.)

Se, nos versos 32 e 33, as palavras “Sabiá” e “capoeirão” fossem pronunciadas “sa-bi-á”
e “ca-po-ei rão”, tais versos quebrariam o padrão e o ritmo dos demais, pois passariam a
ser
a) heptassílabos.
b) octossílabos.
c) eneassílabos.
d) hexassílabos.
e) decassílabos.

22. (UNESP/2014/1o semestre/1ª fase) Considere o poema de Raul de Leoni (1895-1926)


para responder à próxima questão.

A alma das cousas somos nós...


Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade,
Nunca mais se repete exatamente...

Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente


Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é imperceptivelmente desigual,
Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...

Estado de alma em fuga pelas horas,


Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, intimamente,
E eternamente,
Dentro da indiferença do Universo!...
AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
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(Luz mediterrânea, 1965.)

Embora pareça constituído de versos livres modernistas, o poema em questão ainda


segue a versificação medida, combinando versos de diferentes extensões, com
predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a alternativa que indica, na
primeira estrofe, pela ordem em que surgem, os versos de dez sílabas métricas,
denominados decassílabos.
a) 1 e 5.
b) 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 2 e 3.
e) 1, 3 e 5.

23. (UNESP/2012/1o semestre/1ª fase) A próxima questão toma por base um poema de
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

18
Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado,
apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
o tempo arrebatado,
que o mesmo bronze gasta!

Enrugaram-se as faces e perderam


seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza
das belezas que teve.

Assim também serei, minha Marília,


daqui a poucos anos,
que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhice


muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.
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As frias tardes, em que negra nuvem


os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno,
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendo


os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira,
apontando direi: — Ali falamos,
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira.

Verterão os meus olhos duas fontes,


nascidas de alegria;
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos
na mão formosa e pia,
que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docemente


meu corpo suportando
do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
quem, sentida, chorando
meus baços olhos cerra.
(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora,
1982.)

Assinale a alternativa que indica a ordem em que os versos de dez e de seis sílabas se
sucedem nas oito estrofes do poema.
a) 6, 10, 6, 6, 10, 10.
b) 10, 6, 10, 10, 6, 6.
c) 10, 10, 6, 10, 6, 6.
d) 10, 6, 10, 6, 10, 6.
e) 6, 10, 6, 10, 6, 6.

24. (UNICAMP/2022/1ª fase)

Na ribeira do Eufrates assentado,


Discorrendo me achei pela memória
Aquele breve bem, aquela glória,
Que em ti, doce Sião, tinha passado.
AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Da causa de meus males perguntado


Me foi: Como não cantas a história
De teu passado bem e da vitória
Que sempre de teu mal hás alcançado?

Não sabes, que a quem canta se lhe esquece


O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.

Respondi com suspiros: Quando cresce


A muita saudade, o piedoso
Remédio é não cantar senão a morte.
(Luís de Camões, 20 sonetos. Org. Sheila Hue. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p.113).

Considerando as características formais e o núcleo temático, é correto afirmar que o


poema retoma o dito popular
a) “longe dos olhos, perto do coração”.
b) “mais vale cantar mal que chorar bem”.
c) “a cada canto seu Espírito Santo”.
d) “quem canta seus males espanta”.

25. (UNICAMP/2020/1ª fase) O poema abaixo vem impresso na orelha do livro Psia, de
Arnaldo Antunes.

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Na orelha do livro, Antunes apresenta ao leitor seu processo de criação poética. É correto
dizer que o autor se propõe a
a) revelar a primazia da comunicação oral sobre a escrita das palavras.
b) discutir a flexão de gênero, que torna a palavra “psia” um substantivo.
c) defender a conversão das palavras em coisas, mudando seu estatuto.
d) explorar o poder de representação da interjeição exclamativa “psiu!”.

26. (UNEMAT/2018)

Texto 01
O tempo é
O tempo é qualquer coisa
que ninguém toma nas mãos
e beija no mesmo instante
(ou um instante depois).

PERSONA, Lucinda Nogueira. Entre uma noite e outra. Cuiabá, MT: Entrelinhas, 2014. p. 33.

A persistência da memória. Salvador Dali. Disponível em:


noticias.universia.com/destaques/noticias/2012/01/07/903289/conhecaa-persistencia-da-memoria-
salvador-dali.html Acesso em: fev. 2018.

Comparando o que aborda o poema O tempo é, da poetisa Lucinda Nogueira Persona, e


os sentidos presentes na tela A persistência da memória, do artista plástico Salvador Dali,
assinale a alternativa correta.

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

a) O poema traz uma definição clara e fixa sobre o tempo, contrariando o que aborda a tela, pois
esta ao trazer relógios em estado de deformação, sugere que o tempo é algo que se modifica
permanentemente.
b) O poema traz elementos que nos permitem fazer reflexões sobre o tempo, enquanto a
presença dos relógios na tela aborda o seu valor estético.
c) A tela de Salvador Dali traz, sobretudo nos relógios, elementos que nos permitem fazer
reflexões sobre a guerra, enquanto o poema diz da fixidez do tempo.
d) Os dois textos trazem linguagens diferentes em suas composições, por este motivo não é
possível correlacioná-los estilisticamente e fazer qualquer leitura comparativa entre eles.
e) Ambos os textos fazem uma discussão sobre a efemeridade e a fugacidade do tempo.

27. (UEG/2020-Medicina) Leia o poema a seguir para responder às próximas duas


questões.
Ergue-se Marco Antônio de repente...
Ouve-se um grito estrídulo, que soa
O silêncio cortando, e longamente
Pelo deserto acampamento ecoa.

O olhar em fogo, os carregados traços


Do rosto em contração, alto e direito
O vulto enorme, – no ar levanta os braços,
E nos braços aperta o próprio peito.

Olha em torno e desvaira. Ergue a cortina,


A vista alonga pela noite afora...
Nada vê. Longe, à porta purpurina
Do Oriente em chamas, vem raiando a aurora.

E a noite foge. Em todo o firmamento


Vão se fechando os olhos das estrelas:
Só perturba a mudez do acampamento
O passo regular das sentinelas.
BILAC, Olavo. O sonho de Marco Antônio – parte III. In: Melhores poemas de Olavo Bilac. 4. ed. Global,
2003. p. 37.

Quanto à forma, o fragmento citado apresenta versos


a) irregulares e dodecassílabos
b) assimétricos e alexandrinos
c) regulares e decassílabos
d) polimétricos e eneassílabos
e) brancos e hendecassílabos

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

28. (UEG/2020-Medicina) Embora pertença ao gênero lírico, o excerto poético apresentado


comporta características do gênero
a) dramático, tendo em vista que o eu-lírico lança mão de uma estrutura dialógica para construir
uma interação com os leitores.
b) trágico, já que a personagem retratada realiza ações grandiosas e heroicas.
c) cômico, pois o eu-lírico lança mão de um humor sutil para sensibilizar os leitores.
d) narrativo, uma vez que o sujeito poético faz um relato de parte do que acontece em um
acampamento militar durante a noite.
e) descritivo, porque se notam descrições das personagens e da paisagem que as circunda.

29. (UEG/2020-Medicina) Em termos de conteúdo, o excerto poético apresentado é


configurado por uma referência a elementos
a) metapoéticos.
b) nostálgicos.
c) históricos.
d) filosóficos.
e) metafísicos.

30. (UEG/2018) Observe a imagem e leia o poema a seguir para responder à(s)
questão(ões).

A leitura, tanto da imagem quanto do poema apresentados, metaforiza o caráter


a) recorrente da existência humana.
b) efêmero das paixões humanas.
c) linear de tudo que compõe a vida.

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d) duradouro das coisas e da vida.


e) moroso dos entusiasmos existenciais.

31. (UECE/2021/1o semestre/1ª fase)


Retrato
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Os versos acima são de autoria da escritora carioca Cecília Meireles (1901-1964). O poema
traça uma espécie de autorretrato, enfocando principalmente a questão da
a) transitoriedade da vida.
b) alegria de viver.
c) partilha de pequenos momentos.
d) felicidade de envelhecer.

32. (UECE/2021/1o semestre/1ª fase) O poema Retrato utiliza uma imagem poética
recorrente nas poesias de Cecília Meireles: o espelho. Essa imagem está atrelada a
questões existencialistas que, neste poema, são
a) o bem e o mal.
b) a fraqueza e a força.
c) a vida e a morte.
d) a juventude e a velhice.

33. (UECE/2018/1º semestre/1ª fase)

Retrato do artista quando coisa


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A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
BARROS, Manoel. O retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998.

Levando em conta as relações de sentido presentes no texto de Manoel de Barros acima,


é correto afirmar que o conteúdo temático geral do poema se estabelece na seguinte
oposição semântica:
a) humanização versus coisificação.
b) riqueza versus pobreza.
c) ação versus inércia.
d) grandeza versus pequenez.

34. (UERJ/2021)

Morro velho
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu.
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu.
5Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,
lindo a crescer.
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.

Filho do branco e do preto,


correndo pela estrada atrás de passarinho.
10 Pela plantação adentro,
crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,
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dá pro fundo ver.


Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.
15 Filho do sinhô vai embora,
tempo de estudos na cidade grande.
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante.
“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”
20 Some longe o trenzinho ao deus-dará.

Quando volta já é outro,


trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá.
25Já tem nome de doutor
e agora na fazenda é quem vai mandar.
E seu velho camarada
já não brinca, mas trabalha.
MILTON NASCIMENTO
Adaptado de miltonnascimento.com.br.

fazenda é o camarada que ao chão se deu. (l. 2)


No verso da canção de Milton Nascimento, o poeta apresenta uma definição da palavra
“fazenda”. Com base na primeira estrofe, essa definição destaca o seguinte elemento do
contexto descrito:
a) riqueza da propriedade
b) expectativa de liberdade
c) dedicação do trabalhador
d) necessidade de autonomia

35. (UERJ/2020)

PARA COMEÇAR
Desejou ter a beleza de uma árvore frondosa tatuada nas costas, copa espraiada sobre os
ombros. Temendo, porém, o longo sofrimento imposto pelas agulhas, mandou tatuar na base
da coluna, bem na base, a mínima semente.

Observe a imagem abaixo, que reproduz o quadro de René Magritte chamado “A


Clarividência”.

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arteeblog.com

O par “semente-árvore” do conto pode ser comparado ao par “ovo-ave” do quadro, devido
a uma mesma relação existente entre os elementos de cada par. Essa relação expressa,
no contexto das duas obras, a ideia de:
a) simultaneidade
b) possibilidade
c) instabilidade
d) uniformidade

36. (FAMECA/2013) Leia o poema “Ela canta, pobre ceifeira” do poeta português Fernando
Pessoa (1888-1935) para responder à próxima questão.

Ela canta, pobre ceifeira*,


Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de


ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,


Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p’ra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ’stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!


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Ter a tua alegre inconsciência,


E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!


Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
(Fernando Pessoa. Obra poética, 1995.)
*Ceifeira: mulher que trabalha no corte de cereais, utilizando foice ou outro
instrumento apropriado.

Todas as seis quadras do poema de Fernando Pessoa são compostas por versos
_____ e obedecem ao esquema de rimas _____.

As lacunas do texto são, correta e respectivamente, preenchidas por


a) decassílabos – ABBA.
b) octossílabos – ABBA.
c) dodecassílabos – ABAB.
d) decassílabos – ABAB.
e) octossílabos – ABAB.

37. (FAMECA/2017) Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade para responder às


próximas duas questões.

Papel
E tudo que eu pensei
e tudo que eu falei
e tudo que me contaram
era papel.
E tudo que descobri
amei
detestei:
papel.
Papel quanto havia em mim
e nos outros, papel
de jornal
de parede
de embrulho
papel de papel
papelão.
(As impurezas do branco, 2012.)

Quanto aos aspectos formais, o poema caracteriza-se pelo emprego de


a) rimas raras.
b) métrica irregular.
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c) versos decassílabos.
d) rimas alternadas.
e) linguagem rebuscada.

38. (UEA/2019) Leia o poema de Paulo Henriques Britto para responder às próximas duas
questões.
Nada nas mãos nem na cabeça, nada
no estômago além da sensação vazia
de haver ultrapassado toda sensação.

É em estado assim que se descobre a verdade,


que se cometem os grandes crimes, os gestos
mais sublimes, ou então não se faz nada.

É como as cobras. As mais silenciosas,


de corpo mais esguio, de cor esmaecida,
destilam o veneno mais perfeito.

Assim também os poemas. Os mais contidos


e lisos, os que menos coisa dizem,
destilam o veneno mais perfeito.
(Mínima lírica, 2013.)

No trecho “que se descobre a verdade, / que se cometem os grandes crimes, os gestos /


mais sublimes”, o eu lírico enumera
a) eventos extremos que ocorrem durante o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
b) acontecimentos catastróficos que sucedem o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
c) fatos impensáveis que causam o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
d) ações inconscientes que resultam do estado de vazio descrito na primeira estrofe.
e) processos raros que precedem o estado de vazio descrito na primeira estrofe.

39. (UEA/2019) Segundo as duas últimas estrofes,


a) os melhores poemas são mais produto de inspiração do que de trabalho.
b) o valor de um poema é medido pelos efeitos negativos que produz.
c) os poemas mais inofensivos são os que parecem mais perigosos.
d) a poesia é a arte de transformar algo discreto em algo significativo.
e) os poemas mais discretos produzem os efeitos mais contundentes.

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40. (UEA/2018)
Nos anos em que atuaram estes escritores, a poesia brasileira percorreu os meandros
do extremo subjetivismo, à Byron e à Musset. Alguns poetas adolescentes, mortos antes
de tocarem a plena juventude, darão exemplo de toda uma temática emotiva de amor e
morte, dúvida e ironia, entusiasmo e tédio.
(Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 2006. Adaptado.)

O texto refere-se
a) à segunda geração do Romantismo.
b) ao Barroco.
c) ao Arcadismo.
d) à primeira geração do Modernismo.
e) ao Condoreirismo.

41. (UEA/2014)
Tapuia

As florestas ergueram braços peludos para esconder-te


com ciúmes do sol.

E a tua carne triste se desabotoa nos seios,


recém-chegados do fundo das selvas.

Pararam no teu olhar as noites da Amazônia, mornas e imensas.

No teu corpo longo


ficou dormindo a sombra das cinco estrelas do Cruzeiro.

O mato acorda no teu sangue


sonhos de tribos desaparecidas
– filha de raças anônimas
que se misturaram em grandes adultérios!

E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,


que teus antepassados te deixaram de herança.

O vento desarruma os teus cabelos soltos


e modela um vestido na intimidade do teu corpo exato.
À noite o rio te chama
e então te entregas à água preguiçosamente,
como uma flor selvagem
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ante a curiosidade das estrelas.


(Raul Bopp apud Mário da Silva Brito. “Tapuia”. In: Poesia do Modernismo, 1968.)

No verso "E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio", a ideia expressa pelo verbo
destacado está de acordo com a seguinte afirmação:
a) Os indígenas erram ainda hoje, quando confiam nas promessas do homem branco.
b) Explorados e expulsos de suas terras, os indígenas vagueiam pelas florestas que sobraram.
c) Em função dos sucessivos ataques do homem branco, os indígenas lamentam os erros
cometidos.
d) Ao caminhar pelas margens do rio, os indígenas já não têm o senso de direção de seus
antepassados.
e) Remanescentes de tribos dizimadas, os indígenas continuam sofrendo pelos erros dos
brancos.

42. (UEA/2014) A metáfora é uma figura de linguagem em que um termo substitui outro,
em vista de uma relação de semelhança entre os elementos designados por tais termos.
Essa figura ocorre no verso:
a) que se misturaram em grandes adultérios!
b) O vento desarruma os teus cabelos soltos
c) As florestas ergueram braços peludos para esconder-te
d) e então te entregas à água preguiçosamente,
e) E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,

43. (UEA/2013) Leia o texto a seguir para responder às próximas duas questões.
Não sei que jornal, há algum tempo, noticiou que a polícia ia tomar sob a sua proteção
as crianças que aí vivem, às dezenas, exploradas por meia dúzia de bandidos. Quando li
a notícia, rejubilei. Porque, há longo tempo, desde que comecei a escrever, venho
repisando este assunto, pedindo piedade para essas crianças e cadeia para esses patifes.
Mas os dias correram. As providências anunciadas não vieram. Parece que a piedade
policial não se estende às crianças, e que a cadeia não foi feita para dar agasalho aos que
prostituem corpos de sete a oito anos… E a cidade, à noite, continua a encher-se de
bandos de meninas, que vagam de teatro em teatro e de hotel em hotel, vendendo flores
e aprendendo a vender beijos.
Anteontem, por horas mortas, quando saía de um teatro na rua central da cidade, vi
sentada uma menina, a uma soleira de porta. Ao lado, a sua cesta de flores murchas estava
atirada sobre a calçada. Pediu-me dez tostões, chorando... Só conseguira obter, ao cabo
de toda uma tarde de caminhadas e de pena, esses dez tostões — perdidos ou furtados.
E pelos seus olhos molhados passava o terror das bordoadas que a esperavam em casa…

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Fiquei parado, longo tempo, a olhá-la. O seu vulto fugia já, pequenino, quase invisível
na escuridão. Ainda de longe o vi, fracamente alumiado por um lampião, sumir-se,
dobrando uma esquina. Segui o meu caminho, com a morte na alma.
Ora — nestes tempos singulares em que a gente já se habituou a ouvir sem espanto
coisas capazes de horrorizar a alma de Deiber —, é possível que alguém, encolhendo os
ombros diante disto, me pergunte o que é que eu tenho com a vida das crianças que
vendem flores e são amassadas a sopapos, quando não levam para casa uma certa e
determinada quantia.
Tenho tudo, amigos meus! Não penseis que me iluda sobre a eficácia das providências
que possa a polícia tomar, a fim de salvar das pancadas o corpo e da devassidão a alma
de qualquer dessas meninas. Bem sei que, enquanto o mundo for mundo e enquanto
houver meninas — proteja-as ou não as proteja a polícia —, haverá pais que as
esbordoem, mães que as vendam, cadelas que as industriem, cães que as deflorem!
(Olavo Bilac [Gazeta de Notícias, 14.08.1894]. www.consciencia.org. Adaptado.)

Olavo Bilac, autor da crônica, é bastante conhecido no contexto da literatura brasileira


como poeta do
a) Romantismo, período do império da razão.
b) Parnasianismo, escola literária que buscava a perfeição formal.
c) Arcadismo, que aprofundou as características do Barroco.
d) Modernismo, responsável pela volta dos valores clássicos.
e) Simbolismo, estilo marcado pela experimentação.

44. (UEA/2013) De acordo com o texto, é correto afirmar que


a) o narrador leu a notícia sobre as providências da polícia no jornal em que trabalha.
b) a menina contou ao cronista que não conseguira vender nenhuma flor naquele dia.
c) a cadeia do Rio de Janeiro, segundo depoimentos de testemunhas, não recebe aproveitadores
de meninas.
d) vários leitores perguntaram ao cronista por que ele se envolvia com um assunto desses.
e) o narrador ficou muito tempo a olhar o vulto da menina que se perdia na escuridão da noite.

45. (UEMA/2020) O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira.

O Último Poema
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos


A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013

O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez
que o eu lírico
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade.
b) explicita seu dilema existencial.
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos.
d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano.
e) expressa em versos seu desejo poético.

46. (UFPR/2020) Leia o trecho abaixo, extraído de Sagarana, de João Guimarães Rosa:

Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-


de-sapo. A erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam,
sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de
folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul! A
pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas,
entrando em convulsões.
– Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se
acabar!... É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.
(GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”. Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.)

O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa,


exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale
a alternativa que reconhece esse aspecto de forma adequada.
a) A religiosidade cristã católica rege as decisões humanas e transforma os homens e a natureza
a partir da ação direta de Deus.
b) A ausência de aliterações e a economia de adjetivos são recursos utilizados para representar
a aridez da natureza.
c) A descrição pormenorizada do espaço físico visa a excluir a dimensão psicológica e mística
da narrativa, para fortalecer a feição pitoresca da região.
d) A descrição do meio físico é mediada pela visão do narrador, que apresenta a natureza como
elemento tão reversível quanto a condição humana.
e) São narrados duelos que se travam entre o meio e o homem e que são vencidos apenas pelo
uso da força física e da valentia.

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47. (UFU/2016)

Texto I
Logo descobriu que não podia absolutamente mais se mexer. Não se admirou com
esse fato, pareceu-lhe antes um pouco natural que até agora tivesse conseguido se
movimentar com aquelas perninhas finas. No restante sentia-se relativamente confortável.
Na realidade tinha dores no corpo, mas para ele era como se elas fossem ficar cada vez
mais fracas e finalmente desaparecer por completo. A maçã apodrecida nas suas costas
e a região inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira mole, quase não o
incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava
desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse
estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da
manhã. Ele vivenciou o início do clarear geral do dia lá do lado de fora da janela. Depois,
sem intervenção da sua vontade, a cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu
fraco o último fôlego.
KAFKA, Franz. A metamorfose. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 78.

Texto II
Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em atenção às voltas
violentas que a água pesada dava no estômago, acordando pequenos reflexos pelo resto
do corpo como luzes. A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de
Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore,
para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito
passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol estendia sobre
um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da
árvore e morreu.
LISPECTOR, Clarice. O grande passeio. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
p. 37-38.

Embora de épocas e nacionalidades distintas, os protagonistas de A metamorfose e do


conto “O grande passeio” têm em comum a
a) a incapacidade de decisão ante as instabilidades sociais.
b) o isolamento social devido ao descaso dos familiares.
c) o devaneio filosófico a respeito dos fenômenos da natureza.
d) a passividade diante das vicissitudes do curso da vida.

48. (UNCISAL/2017)

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A poesia de Augusto de Campos, conforme se pode ver no exemplo acima, propõe uma
revisão nas estruturas tradicionais das artes poéticas. Isso quer dizer que esse formato
proposto
a) valoriza a métrica e a rima.
b) abdica das interações com as diversas formas de artes visuais.
c) valoriza o sentido hermético da poesia sem pluralidade semântica.
d) expande-se para além da retórica pela valorização das múltiplas formas e sentidos.
e) considera como material poético a ditadura retórica da palavra em seus vários
desdobramentos.

49. (UNCISAL/2016)

ANTUNES, Arnaldo. Rio: o ir. Disponível


em:<http://www.arnaldoantunes.com.br/new/index.php?page=32>. Acesso em: 6 nov. 2015.

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O texto acima, um poema de Arnaldo Antunes, inscreve-se numa tradição de


procedimentos poéticos também recuperáveis no
a) Naturalismo, uma vez que o poema faz uso de recurso visual que se assemelha a uma rosa,
o que remete à natureza.
b) Arcadismo, uma vez que é perceptível que o poema se estrutura em torno da palavra “rio”, o
que remete a uma supervalorização deste elemento natural.
c) Concretismo, uma vez que o poema investe na materialidade visual da palavra, explorando
um arranjo geométrico que, com poucos recursos, provoca diversas leituras e compreensões.
d) Modernismo, uma vez que se percebe a estruturação do poema em torno da flexão de primeira
pessoa do verbo “rir”, o que recupera o humor característico dos poetas modernistas.
e) Parnasianismo, uma vez que a forma do poema se assemelha à de uma pedra preciosa, o
que metaforiza a aproximação que os parnasianos estabelecem entre o fazer poético e o trabalho
do ourives.

50. (UNITINS/2016.2) Leia o texto para responder à questão a seguir.

“Movimento artístico e filosófico que surge com o conflito entre a Reforma Protestante e
a Contra Reforma. Seu objetivo era propagar a religião por meio de uma arte de impacto,
sinuosa, enfeitada ao extremo. Arte altamente contraditória.”
(Disponível em: <http://questoesdevestibularnanet.blogspot.com.br/2013/09/caracteristicas-e
representantes-do.html>. Acesso em: 4 nov. 2015)

O texto se refere a uma escola literária brasileira, denominada ________, que tem as
seguintes características _____________.
a) Arcadismo – regido pelas filosofias do cultismo e do conceptismo. Cultismo é o jogo de
palavras, o uso culto da língua, predominando inversões sintáticas. Conceptismo são os jogos
de raciocínio e de retórica que visam a melhor explicar o conflito dos opostos.
b) Realismo – tem por temática assuntos que tratam da exaltação da beleza natural e consideram
a existência humana como constante e paulatino morrer.
c) Modernismo – expressa conflito existencial gerado pelo dilema do homem dividido entre o
prazer pagão e a fé religiosa; há detalhismo e rebuscamento, ou seja, extravagância e exagero
nos detalhes.
d) Barroco – linguagem rebuscada e trabalhada ao extremo; uso de muitos recursos estilísticos,
como figuras de linguagem, hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos, para melhor expressar
a comparação entre o prazer passageiro da vida e a vida eterna.
e) Naturalismo – homem dividido entre o desejo de aproveitar a vida e o de garantir um lugar no
céu; há contradição de sentimentos, em que é comum a ideia de opostos: bem X mal, pecado X
perdão, homem X Deus.

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

8.1GABARITO

11) B 21) B 32) D 43) B


1) C
12) D 22) A 33) A 44) E
2) C
13) B 23) B 34) C 45) E
3) D
14) A 24) D 35) B 46) D
4) D
15) C 25) C 36) E 47) D
5) D
16) B 26) E 37) B 48) D
6) C
17) B 27) C 38) E 49) C
7) E
28) D 39) D 50) D
18) E
8) B
29) C 40) A
19) C
9) C
30) A 41) A
20) E
10) B
31) A 42) C

AULA 00 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

9. QUESTÕES COM COMENTÁRIOS

01. (FUVEST/2021/1ª fase)

Alferes, Ouro Preto em sombras


Espera pelo batizado,
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
Raios de sol brilharão nos sinos:
Dez vias dar;

Ai Marília, as liras e o amor


Não posso mais sufocar
E a minha voz irá
Pra muito além do desterro e do sal,
Maior que a voz do rei.
Aldir Blanc e João Bosco, trechos da música "Alferes", de 1973.

A imagem de Tiradentes - a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa
expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra
feita em Ouro Preto - torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários
momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo
contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso
a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.
b) da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.
c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditatura militar.
d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.
e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. Mais informações sobre canção de protesto
serão encontradas na aula 07.
Alternativa A: incorreta. Em certo sentido, as opiniões expressas na música aderem a ligas
engajadas, e não resistem a elas. Uso de verbos conjugados no futuro como "brilharão" e "irá"
representam esperança num futuro melhor.
Alternativa B: incorreta. Não minimizou essa importância. Pelo contrário. Tiradentes foi
heroicizado e é considerado um mártir, pois no período da Inconfidência Mineira (1789-1792) ele foi
perseguido, morto e esquartejado.
Alternativa C: correta – gabarito. A dica central para entender o contexto histórico de produção
desse poema era analisar sua fonte, presente no rodapé. Lá é dito que a música é de 1973, ano em que o
Brasil passava pelo período da ditadura militar. Nesse sentido, as mesmas figuras do século XVIII utilizadas
na obra de Cecília Meireles, como o Alferes Tiradentes e Marília de Dirceu, são usadas no poema acima;
porém, ressignificadas. Se o comando pede uma alternativa que representa um discurso de resistência,
trata-se de resistir contra a ditadura, expressão do autoritarismo e da repressão.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 97


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

*Alferes é uma patente militar. Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792) era uma figura histórica.
Na vida civil, foi dentista; porém, na carreira militar foi alferes. Por isso é constantemente referido assim,
até para aludir ao seu papel de contribuição cívica.
*Marília é a musa do poeta árcade Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), que nomeia a obra
Marília de Dirceu (1792). Maria Joaquina Dorotéia de Seixas (1767-1853) foi cantada em versos sob o
nome de Marília (breve corruptela de seu nome, como se fosse um diminutivo carinhoso), pelo noivo
Tomás Antônio Gonzaga, o qual se chamava poeticamente de Dirceu. Embora em sua obra lírica ela seja
pintada como utopia, foi uma figura real.
Alternativa D: incorreta. Muito embora o poema utilize tematicamente figuras árcades, não resiste
a elas. Pelo contrário, costuma usá-las como exemplos. Nem todos os árcades escreveram apenas lírica
amorosa. Tomás Antônio Gonzaga, por exemplo, escreveu lírica satírica, como é o caso de Cartas chilenas
Alternativa E: incorreta. Não era contra Portugal que se protestava na época da ditatura militar,
mas sim contra a forma opressiva de poder que tinha se instalado no sistema.
Gabarito: C.

02. (FUVEST/2021/1ª fase)


A psicanálise do açúcar
O açúcar cristal, ou açúcar de usina,
mostra a mais instável das brancuras:
quem do Recife sabe direito o quanto,
e o pouco desse quanto, que ela dura.
Sabe o mínimo do pouco que o cristal
se estabiliza cristal sobre o açúcar,
por cima do fundo antigo, de mascavo,
do mascavo barrento que se incuba;
e sabe que tudo pode romper o mínimo
em que o cristal é capaz de censura:
pois o tal fundo mascavo logo aflora
quer inverno ou verão mele o açúcar.

Se os banguês* que-ainda purgam ainda


o açúcar bruto com barro, de mistura;
a usina já não o purga: da infância,
não só depois de adulto, ela o educa;
em enfermarias, com vácuos e turbinas,
em mãos de metal de gente indústria,
a usina o leva a sublimar em cristal
o pardo do xarope: não o purga, cura.
Mas como a cana se cria ainda hoje,
em mãos de barro de gente agricultura,
o barrento da pré-infância logo aflora
quer inverno ou verão mele o açúcar.
*banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal.
João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 98


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e
o banguê, pois
a) negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.
b) esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.
c) revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.
d) denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.
e) explicam que a estação do ano define em qualquer processo o tipo de açúcar.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Não é a diferença química que está sendo discutida no texto, mas sim a
diferença histórica: a usina representa as fábricas modernas, ou seja, o sujeito moderno e a sua tendência
à mecanização dos processos humanos e econômicos, ao passo que o banguê, como indica a nota de
rodapé no glossário, é uma forma primitiva de engenho do açúcar.
Alternativa B: incorreta. Não é o tipo de cana cultivada o tema central desse poema.
Alternativa C: correta – gabarito. A diferença central apontada ao longo do processo histórico na
transposição do engenho de banguê para a usina é o tipo de força utilizada: antigamente, utilizava-se
força animal e na usina utiliza-se força humana, o que se depreende a partir do termo "mãos de barro".
Estas mãos só podem ser humanas, porque não são patas.
Alternativa D: incorreta. Não necessariamente: a alusão à pré-infância no poema tem outro
sentido, como já explicado. Se o trabalho é infantil ou não, isso não se sabe: trata-se de informação
extratextual.
Alternativa E: incorreta. Cuidado com os absolutismos, como é o caso do uso da expressão
"qualquer processo".
Gabarito: C.

03. (FUVEST/2021/1ª fase)


Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era
amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance.
Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria
saber já era conhecido. E ele me perguntava:
"Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia
escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e
mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência
na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria
me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que,
para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o
equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o
idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?".
Repetia. E, diante da sua insistência bovina tive de me render à evidência de que eu não
sabia responder à sua pergunta.
Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

Sem prejuízo de sentido e fazendo as adaptações necessárias, é possível substituir as


expressões em destaque no texto, respectivamente, por
a) incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 99


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

b) altivez; brincadeira; ofendido; mansa.


c) ignorância; mentira; prejudicado; alienada.
d) complacência; invenção; bobo; cega.
e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântica. Para resolver a questão, bastava
considerar a primeira palavra. O narrador, ao falar em paternalismo, dava a entender que se dirigia a
Leusipo como um pai se dirige ao filho. O problema é que a banca escolheu como sinônimo de
“paternalismo” a palavra “complacência”, que significa “gentileza”; palavra que nem todos conhecem.
Alternativa A: incorreta. “Paternalismo” não poderia ser sinônimo de “incompreensão”, aliás, no
texto, poderia ser substituído por “com compreensão”; forçando um pouco o significado, seria possível
trocar “historinha” por “armação”; “fazia-se de desentendido” significa que ele fingia não estar
entendendo, algo bem diferente de “inofensivo”; e o “bovino” refere-se a alguém que não se dispõem a
compreender.
Alternativa B: incorreta. O traço mais característico de um pai não é a “altivez”; “brincadeira”
poderia substituir “historinha”; “fazer-se de desentendido” refere-se ao fingimento e à irritação
provocada por uma ofensa; “mansa” poderia substituir “bovina”.
Alternativa C: incorreta. Um pai não é considerado pelo senso comum como sendo ignorante;
“mentira” poderia substituir “ historinha”; “prejudicado” não dá o sentido de alguém que finge que
entendeu; até certo ponto, “bovina” poderia ser substituída por “alienada”.
Alternativa D: correta – gabarito. Um pai deve ser conhecido por sua gentileza, ou seja, pela sua
“complacência”; o uso do diminuitivo de história dá a entender que se trata de algo inventado; o “fazia-
se de desentendido”, que se refere ao fingimento, pode ser trocado por “fazia-se de bobo”, sem
problemas; e o termo “cega” não é tão apropriado para substituição, mas não alteraria substancialmente
o sentido do texto, ressaltaria a teimosia de Leusipo.
Alternativa E: incorreta. O “paternalismo” não tem como principal característica a “arrogância”;
“historinha” dificilmente poderia ser substituída por “entretenimento”; no texto, não se discute se o rapaz
era capaz ou não, portanto, “fazia-se de incapaz” não teria sentido; “bovina” até poderia ser “animalesca”,
mas daí o texto teria uma conotação hiperbólica.
Gabarito: D.

04. (FUVEST/2020/1ª fase) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

amora
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor
a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 100


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

a memória da palavra amar


Marco Catalão, Sob a face neutra.

É correto afirmar que o poema


a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos
amargo e sombrio.
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da
palavra “talvez”.
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento
amoroso.
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e
“amar”.
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. Mais informações sobre a poesia
contemporânea serão encontradas na aula 07.
Alternativa A: incorreta. O tema principal do poema não é memória, é o amor.
Alternativa B: incorreta. O eu lírico não hesita diante da palavra, hesita diante dos efeitos
sensoriais evocados pelas palavras.
Alternativa C: incorreta. O poema manifesta uma perspectiva não-romântica, pois não
idealiza o amor. Na primeira estrofe, o poeta fala da doçura do amor, enquanto, na segunda
estrofe, destaca a amargura do amor.
Alternativa D: correta – gabarito. Há reiterações sonoras: a palavra “amora” contém “amor”
e a palavra “amargo” contém o verbo “amar”. O amor da primeira estrofe é doce, a ação de amar
da segunda estrofe é amarga. São opostos. O poema, implicitamente, defende a tese de que o
amor como ideia é perfeito, mas no cotidiano, quando passa a ser ação, ele é amargo.
Alternativa E: incorreta. As determinações atribuídas às palavras amor e a “amargo” são
ressignificadas.
Gabarito: D.

05. (FUVEST/2020/1ª fase) Tal como se lê no poema,


a) a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo.
b) o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”.
c) o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo.
d) o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”.
e) o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: incorreta. A palavra “amora” é realmente um substantivo, mesmo no poema,
nomeia uma fruta. A palavra “amargo” no texto não é adjetivo, se fosse, ela teria que se flexionar,
deveria ser “amarga” para acompanhar o substantivo “palavra”. Além disso, no poema, o
“amargo” tem corpo, ou seja, a palavra foi elevada a substantivo (derivação imprópria) e passou
a ser o núcleo da personificação.
Alternativa B: incorreta. O texto diz que a palavra “amargo” seria mais doce se não fosse
a “palavra amar”, ou seja, o verbo enfatiza o amargor da palavra.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 101


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa C: incorreta. O “corpo” está relacionado ou a “amora” ou a “amargo”, tais


elementos não têm corpo no sentido literal.
Alternativa D: correta – gabarito. Ao dizer que “palavra amora” talvez fosse “menos doce”
se não fosse a “palavra amor”, o eu lírico dá a entender que houve intensificação da doçura.
Alternativa "e" está incorreta. O “amor” se refere ao sentimento, que é doce; “amar” se
refere à ação, à efetivação do amor, que é algo amargo.
Gabarito: D.

06. (FUVEST/2020/1ª fase)

Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava
morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó,
mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em
que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu
perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer
uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode
saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo,
outros morrem de repente sem sofrer.
Helena Morley, Minha Vida de Menina.

Perguntas
Numa incerta hora fria
perguntei ao fantasma
que força nos prendia,
ele a mim, que presumo
estar livre de tudo
eu a ele, gasoso,
(...)
No voo que desfere
silente e melancólico,
rumo da eternidade,
ele apenas responde
(se acaso é responder
a mistérios, somar‐lhes
um mistério mais alto):
Amar, depois de perder.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que


a) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira.
b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais.
c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido
filosófico da morte.
d) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo.
e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares.
Comentários

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 102


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Questão de interpretação de texto literário/literatura comparada.


Alternativa A: incorreta. Helena veio de uma família protestante, mas a sua religião é
católica, frequentando bastante as missas, os cultos e as festas religiosas. Helena não aceita
passivamente a religião católica, mas sim demonstra senso crítico em relação a ela. Certa vez
ela questiona, por exemplo, por que as crianças precisavam rezar um tempão pela alma de
pessoas mortas que elas sequer conheciam.
Já a lírica de Drummond não tem dimensão religiosa, embora algumas vezes se valha de
algumas metáforas religiosas, como Babilônia. Há inclusive um poema chamado “Morro de
Babilônia”, mas que está em outro livro, Sentimento de mundo (1940).
Alternativa B: incorreta. Nenhum deles recebe resposta totalmente satisfatória; a avó de
Helena dá uma resposta voltada para a sabedoria popular, aspecto que inclusive marca bastante
o diário. No poema de Drummond, por sua vez, há os versos “ele apenas responde /(se acaso é
responder (...)”, o que gera hipótese quanto a essa resposta.
Alternativa C: correta – gabarito. Enquanto pré-adolescente de espírito e personalidade
em formação, ela demonstra a sua curiosidade. Já o eu lírico de Drummond é mais calejado na
vida; já conhecendo a morte, sua dúvida em relação a ela é mais metafísica, filosófica.
Alternativa D: incorreta. Segundo o dicionário Houaiss, ceticismo significa doutrina
segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o
que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata
incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. A primeira parte
da alternativa até pode estar certa, mas de acordo com essa concepção, o poeta não critica o
ceticismo.
Alternativa E: incorreta. Cuidado: apenas no diário de Helena verifica-se a presença de
crenças populares.
Gabarito: C.

07. (FUVEST/2017/1ª fase) Considere as imagens e o texto, para responder à próxima questão.

II / São Francisco de Assis*


Senhor, não mereço isto.
Não creio em vós para vos amar.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 103


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Trouxestes-me a São Francisco


e me fazeis vosso escravo.

Não entrarei, senhor, no templo,


seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.

Dai-me, senhor, a só beleza


destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem,
paralela à das cinco chagas.

Mas entro e, senhor, me perco


na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
por que esta nova cilada?

Senhor, os púlpitos mudos


entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.

Perdão, senhor, por não amarvos.


Carlos Drummond de Andrade
*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de
Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Analise as seguintes afirmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do


Barroco:
I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez os sentidos, de modo
que o público não possa escapar.
II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando nele uma reação forte de
maravilhamento.
III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar, entre outras coisas, a
preeminência da Igreja.

A experiência que se expressa no poema de Drummond registra, em boa medida, as


reações do eu lírico ao que se encontra registrado em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) I, II e III.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; literatura comparada; linguagens e códigos e
julgar itens. Mais informações sobre o Barroco serão encontradas na aula 02 e sobre Drummond
na aula 07.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 104


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Todas as proposições estão corretas, mas é uma questão complexa, que alia um poema
modernista à teoria e crítica da arte. Parte-se do pressuposto que características básicas do
barroco, como exagero e rebuscamento, fossem reconhecidas.
O barroco mineiro foi marcado pelo predomínio da Igreja, no plano cultural e social,
exercido sobre a população de Minas Gerais no século XVIII.
Afirmação I: correta. A pessoa não pode escapar, pois está assoberbada diante de tanto
luxo.
Afirmação II: correta. O efeito encantatório é realmente uma das principais pretensões do
artista.
Afirmação III: correta. A Igreja era uma obra de arte não à toa, mas para ressaltar o poder
e a influência, inclusive econômica, da Igreja.
Gabarito: E.

08. (FUVEST/2011/1ª fase)

A ROSA DE HIROXIMA
1Pensem nas crianças

Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
5Pensem nas mulheres

Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
10Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
15A rosa com cirrose

A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
(Vinicius de Moraes, Antologia poética.)

Neste poema,
a) a referência a um acontecimento histórico, ao privilegiar a objetividade, suprime o teor lírico
do texto.
b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem tradicionalmente positiva da
rosa a atributos negativos, ligados à ideia de destruição.
c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua despreocupação com a
elaboração formal.
d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito originalmente como letra
de canção popular.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 105


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em boa medida, pelo caráter
concreto do texto e pelo vigor de sua mensagem.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do contexto histórico. Nesse tipo
de questão, parte-se do pressuposto que vocês, alunos, tenham certo conhecimento de mundo
e conheçam esse episódio conhecido da Segunda Guerra Mundial (1939- 1945). Cuidado: pode
haver uma interface interdisciplinar com a História.
Quanto à análise do poema, a imagem da rosa é tradicionalmente associada à beleza em
contextos nos quais se pretende acentuar impressões positivas. Todavia, ao associá-la à
Hiroshima, cidade que protagonizou um dos episódios mais cruéis e destruidores da Segunda
Guerra Mundial, o eu lírico subverte esse sentido; ao emprestar-lhe conotações negativas,
aumenta a sua força poética e causa impacto no leitor pela estranheza que produz.
Já em relação às alternativas, termos e expressões como “objetividade” (letra A),
“despreocupação formal” (letra B), “originalmente letra de canção popular” (letra D) e “caráter
concreto” (letra E) são improcedentes e eliminam todas as outras opções.
A poesia é um gênero textual extremamente subjetivo e, apesar de partir de em evento
histórico (objetivo e concreto) no poema há reelaboração do tema e preocupação com a forma e
o gênero em questão.
Gabarito: B.

09. (FUVEST/2011/1ª fase) Dentre os recursos expressivos presentes no poema, podem-


se apontar a sinestesia e a aliteração, respectivamente, nos versos
a) 2 e 17.
b) 1 e 5.
c) 8 e 15.
d) 9 e 18.
e) 14 e 3.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de figuras de linguagem. A
sinestesia é a mistura de sentidos e a aliteração é a repetição de sons consonantais. Ambas são
figuras de linguagens (recursos expressivos).
Alternativa A: incorreta. Cuidado: “mudas” é adjetivo e não substantivo. “Telepatia” não é
uma sensação.
Alternativa B: incorreta. Não há sinestesia no primeiro verso: “Pensem nas crianças”.
Alternativa C: correta – gabarito. No verso 8, caracteriza-se a sinestesia em “rosa cálida”,
figura de linguagem que funde sensações percebidas através de órgãos diferentes: visual e tátil,
respectivamente. A aliteração está presente na paranomásia (figura de linguagem que aproxima
palavras com som e grafias diferentes, mas parecidos), “rosa com cirrose”, através da repetição
das consoantes “r” e “s”.
Alternativa D: incorreta. Não há sinestesia no nono verso: “Mas oh não se esqueçam”.
Alternativa E: incorreta. Não há aliteração no terceiro verso: “Pensem nas meninas”.
Gabarito: C.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 106


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

10. (FUVEST/2010/1ª fase) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES

1Desde pequeno, tive tendência para personificar as coisas. Tia Tula, que achava
que mormaço fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, menino, olha o mormaço!” Mas
eu ouvia o mormaço com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um velho que pegava
crianças! Ia pra dentro logo. E ainda hoje, quando leio que alguém se viu perseguido pelo
clamor público, vejo com estes 5olhos o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto,
brandindo um guarda-chuva, com um gogó protuberante que se abaixa e levanta no
excitamento da perseguição. E já estava devidamente grandezinho, pois devia contar
uns trinta anos, quando me fui, com um grupo de colegas, a ver o lançamento da
pedra fundamental da ponte Uruguaiana-Libres, ocasião de grandes solenidades, com
os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tanto assim que fomos 10alojados os do
meu grupo num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os demais jornalistas do
Brasil e Argentina. Era como um alojamento de quartel, com breve espaço entre as camas
e todas as portas e janelas abertas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos encantos
de uma coletividade democrática. Pois lá pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em
meu entre dormir, um vulto junto à minha cama, sentei-me estremunhado* e olhei atônito
para um tipo de 15chiru**, ali parado, de bigodes caídos, pala pendente e chapéu descido
sobre os olhos. Diante da minha muda interrogação, ele resolveu explicar-se, com a devida
calma: Pois é! Não vê que eu sou o sereno...
Mário Quintana, As cem melhores crônicas brasileiras.
Glossário
*estremunhado: mal acordado.
**chiru: que ou aquele que tem pele morena, traços acaboclados (regionalismo: sul do Brasil).

No início do texto, o autor declara sua “tendência para personificar as coisas”. Tal
tendência se manifesta na personificação dos seguintes elementos:
a) Tia Tula, Justo e Getúlio.
b) mormaço, clamor público, sereno.
c) magro, arquejante, preto.
d) colegas, jornalistas, presidentes.
e) vulto, chiru, crianças.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântica.
Alternativa A: incorreta. Getúlio é uma pessoa; e não um ser irracional ou inanimado.
Alternativa B: correta – gabarito. A personificação ou prosopopeia é uma figura de
linguagem que quando se atribuem características humanas a seres inanimados ou irracionais.
No caso, todos esses substantivos comuns são seres abstratos aos quais foram se agregando
descrições e atributos humanos.
Alternativa C: incorreta. Esses já são adjetivos.
Alternativa D: incorreta. Essas são pessoas; e não seres irracionais ou inanimados.
Alternativa E: incorreta. Crianças são pessoas; e não seres irracionais ou inanimados.
Gabarito: B.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 107


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

11. (FUVEST/2010/1ª fase) A caracterização ambivalente da “coletividade democrática” (L.


12-13), feita com humor pelo cronista, ocorre também na seguinte frase relativa à
democracia:
a) Meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo, e
nenhum, venerado (A. Einstein).
b) A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais (W. Churchill).
c) A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes (B.
Shaw).
d) É uma coisa santa a democracia praticada honestamente, regularmente, sinceramente
(Machado de Assis).
e) A democracia se estabelece quando os pobres, tendo vencido seus inimigos, massacram
alguns, banem os outros e partilham igualmente com os restantes o governo e as magistraturas
(Platão).
Comentários
É uma questão sobre o gênero textual da crônica. Daqui, decorre um efeito textual: o
humor.
Alternativa A: incorreta. A questão do respeito e da veneração imprimem o registro formal
da linguagem, a honorabilidade. Não decorre efeito de humor dessa sentença.
Alternativa B: correta – gabarito. Há humor também na frase de Churchill: se todas as
demais formas de governo são as piores, a democracia seria a pior entre as piores, sendo cômico
pensar no “pior” como plural, uma vez que ele já é o mais ruim, numa relação de comparação.
Curiosidade: percebam ainda que “chiru” é uma variação regional do sul do Brasil.
Alternativa C: incorreta. Trata-se de uma observação crítica, mordente, e sagaz, mas não
humorística.
Alternativa D: incorreta. Registro formal da linguagem, sem efeito de humor.
Alternativa E: incorreta. Igualmente, registro formal sem humor.
Gabarito: B.

12. (FUVEST/2010/1ª fase) No contexto em que ocorre, a frase “estava devidamente


grandezinho, pois devia contar uns trinta anos” (L. 11 e 12) constitui
a) recurso expressivo que produz incoerência, uma vez que não se usa o adjetivo “grande” no
diminutivo.
b) exemplo de linguagem regional, que se manifesta também em outras partes do texto,
como na palavra “brandindo”.
c) expressão de nonsense (linguagem surreal, ilógica), que, por sinal, ocorre também quando o
autor afirma ouvir o M maiúsculo de “mormaço”.
d) manifestação de humor irônico, o qual, aliás, corresponde ao tom predominante no texto.
e) parte do sonho que está sendo narrado e que é revelado apenas no final do texto,
principalmente no trecho “em meu entre dormir”.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não se trata de incoerência, mas sim de outro tipo de recurso
textual, o emprego do humor o que, pelo contrário, torna o texto coerente, sim.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 108


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa B: incorreta. No caso, “brandindo”. Há uso de regionalismos sim, mas com


outra palavra: “chiru” é uma variação regional do sul do Brasil.
Alternativa C: incorreta. A linguagem não é surreal, porque isso faz sentido para a cabeça
da criança. Trata-se de um medo infantil, associando palavras diferentes, estranhas, talvez
desconhecidas, a personagens fictícias que ela mesma criava na sua própria cabeça. Trata-se
da imaginação infantil. A transformação em personagens (pessoas) permite o uso da letra
maiúscula, isto é, substantivo próprio.
Alternativa D: correta – gabarito. O humor irônico predomina no texto, e também no trecho
em questão, pois a palavra “grandezinho” nos sugere uma criança, porém, no contexto, trata-se
de um homem de uns 30 anos de idade.
Alternativa E: incorreta. O trecho revelado no final é o encontro com mais uma das
chamadas “personagens fictícias”, dessa vez, o sereno.
Gabarito: D.

13. (FUVEST/2008/1ª fase)

A borboleta
Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama: “Olha uma borboleta!”
O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: – Ah!,
sim, um lepidóptero...
Mário Quintana, Caderno H.
nasóculos = óculos sem hastes, ajustáveis ao nariz.

Depreende-se desse fragmento que, para Mário Quintana,


a) a crítica de poesia é meticulosa e exata quando acolhe e valoriza uma imagem poética.
b) uma imagem poética logo se converte, na visão de um crítico, em um referente prosaico.
c) o leitor e o poeta relacionam-se de maneira antagônica com o fenômeno poético.
d) o poeta e o crítico sabem reconhecer a poesia de uma expressão como “pedaço esvoaçante
de vida”.
e) palavras como “borboleta” ou “lepidóptero” mostram que há convergência entre as linguagens
da ciência e da poesia.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. A crítica da poesia é capaz de tirar dela a sua vida mágica inerente
ao, em vez de linguagem metafórica, utilizar linguagem técnica.
Alternativa B: correta – gabarito. Prosaico no sentido de mundano e no caso do trecho até
mesmo científico.
Alternativa C: incorreta. É o poeta e o crítico, e não poeta e leitor.
Alternativa D: incorreta. Só o poeta, o crítico não.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário, há divergência. A linguagem poética parece mais
encantada, ao passo que a científica, mais técnica.
Gabarito: B.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 109


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

14. (FUVEST/2007/1ª fase)

DAS VÃS SUTILEZAS


Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs para atrair nossa atenção.
(...) Aprovo a atitude daquele personagem a quem apresentaram um homem que com
tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia passar pelo buraco de uma
agulha sem jamais errar o golpe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma recompensa
por essa habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de maneira prazenteira e justa a
meu ver, mandando entregar-lhe três medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar
a exercer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza de nosso julgamento
apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou ainda porque
apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si.
Montaigne, Ensaios.

O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte estrutura:


a) formulação de uma tese; ilustração dessa tese por meio de uma narrativa; reiteração e
expansão da tese inicial.
b) formulação de uma tese; refutação dessa tese por meio de uma narrativa; formulação de uma
nova tese, inspirada pela narrativa.
c) desenvolvimento de uma narrativa; formulação de tese inspirada nos fatos dessa narrativa;
demonstração dessa tese.
d) segmento narrativo introdutório; desenvolvimento da narrativa; formulação de uma hipótese
inspirada nos fatos narrados.
e) segmento dissertativo introdutório; desenvolvimento de uma descrição; rejeição da tese
introdutória.
Comentários filosóficos
O filósofo francês renascentista Michel de Montaigne (1533-1592), retoma o tema do
ceticismo. Na filosofia, trata-se da doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir
nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida
permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa
ou absoluta do real.
Na sua obra-prima, Ensaios (1580), analisa no gênero textual de pequenos ensaios, ora
argumentativos, ora filosóficos e mais extensos, mas sempre críticos, a influência de temas
diversos, como fatores pessoais, sociais e culturais na formação das opiniões. Montaigne
inclusive diz que ele fez esse livro tanto quanto o livro o fez.
Algumas vezes, até mesmo irônico, como no prefácio dos próprios Ensaios, em que faz
elogio a si mesmo, construída a partir da modéstia afetada. Essa característica o aproxima da
modernidade.
Atenção: Montaigne já foi cobrado inclusive na segunda fase da FUVEST (2018) e na
primeira fase (2007), com os fragmentos respectivamente “Da idade” e “Da amizade”.

Comentários linguísticos
Todos os “Ensaios” são construídos com uma particularidade estilística: eles são
pensados e poéticos. Nesse em questão, verificamos a presença do narrador, que se coloca em
expressões de primeira pessoa do singular, como em “Aprovo”, “a meu ver” e depois ele emprega
a primeira pessoa do plural, para universalizar, generalizar a questão: “apaixonarmo-nos”.
No fundo, ele faz a defesa, o elogio daquilo que é simples, sem dificuldade.
É uma questão sobre a estratégia de construção textual: primeiro, o narrador formula uma
tese, exatamente como vocês formulam uma num texto do gênero textual argumentativo. A tese

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 110


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

deve ser simples, concisa e objetiva. É ela: “os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e
vãs para atrair nossa atenção”.
Depois, ele dá um exemplo, o que aqui também pode ser entendido no sentido de
ilustração. Então, temos o exemplo do homem que fazia o grão de alpiste passar por um buraco
de agulha e que exigia recompensa por isso, como se fosse uma grande proeza heroica.
Por fim, ele comprova a tese dele, pois o exemplo serve para dialogar, afirmar, a tese
principal. A reiteração e a expansão da tese inicial consiste no trecho: “é prova irrefutável da
fraqueza de nosso julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são raras e inéditas, ou
ainda porque apresentam alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em
si”.
Então, pode-se falar que esse ensaio – mesmo pequeno – é um texto bem construído, em
três partes, com cabeça, tronco e pé.
Gabarito: A.

15. (ENEM IMPRESSO/2021)


Introdução a Alda
Dizem que ninguém mais a ama. Dizem que foi uma boa pessoa. Sua filha de doze
anos não a visita nunca e talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa cidade triste
de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde não pôde mais sair. Lá, todos gritam-lhe
irritados, mal se aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos de areia para treinar os
músculos.
Sei que para todos ele já não é, e ninguém lhe daria uma maçã cheirosa, bem
vermelha. Mas não é verdade que alguém não a possa mais amar. Eu amo-a. Amo-a
quando a vejo por trás das grades de um palácio, onde se refugiou princesa, chegada
pelos caminhos da dor. Quando fora do reino sente o mundo de mil lanças, e selvagem
prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criança brinca na areia sem medo. Uns pés
descalços, uma mulher sem intenções. Cercada de mundo, às vezes sofrendo-o ainda.
CANÇADO, M. L. O sofredor do ver. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

Ao descrever uma mulher internada em um hospital psiquiátrico, o narrador compõe um


quadro que expressa sua percepção
a) irônica quanto aos efeitos do abandono familiar.
b) resignada em face dos métodos terapêuticos em vigor.
c) alimentada pela imersão lírica no espaço da segregação.
d) inspirada pelo universo pouco conhecido da mente humana.
e) demarcada por uma linguagem alinhada à busca de lucidez.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não há ironia por parte do narrador. Para tal, ele deveria se
mostrar numa atitude superior, o que não ocorre, já que ele ama sua personagem e a leva em
consideração.
Alternativa B: incorreta. Tais métodos não são abordados nem há representação da
resignação nessa passagem. Pelo contrário: o narrador estipula um jeito de burlar o tédio e a

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 111


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

aparente sensação de abandono que costumam acompanhar pessoas em situação de


confinamento psiquiátrico.
Alternativa C: correta – gabarito. Lirismo é sinônimo de sentimentalidade, o que é expresso
no amor que o narrador sente pela sua personagem. Mesmo ela estando no hospital, o narrador
não abandona o lado lúdico, imaginando-a em um palácio e criando para ela um porto seguro
fantástico.
Alternativa D: incorreta. Não há informações suficientes no texto para afirmar que a mente
humana é pouco conhecida. Pelo contrário: o narrador faz parecer que todo o universo
maravilhoso descrito especialmente no segundo parágrafo se passa na cabeça da personagem
Alda, internada no hospital psiquiátrico, mecanismo encontrado para contornar um cotidiano
maçante.
Alternativa E: incorreta. Não há necessariamente essa busca pela lucidez. Pelo contrário:
uma forma de fugir da realidade é por meio da imaginação.
Gabarito: C.

16. (ENEM 2020/Reaplicação-PPL)

Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013.

Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta recorre a exemplificações com o


propósito de representar a escrita como uma atividade que
a) requer a criatividade do artista.
b) dispensa explicações racionais.
c) independe da curiosidade do leitor.
d) pressupõe a observação da natureza.
e) decorre da livre associação de imagens.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Cuidado com informações extratextuais. O fazer poético é comparado a
ações naturais, típicas de alguns animais como aranha e peixe. Não são ações necessariamente criativas,
mas cujo resultado se revela criativo. Em todo caso, não é um requisito.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 112


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa B: correta – gabarito. Paulo Leminski é um escritor que participou da Poesia Marginal
da década de 1960. Nesse poema metalinguístico, ele insere o fazer poético numa lógica que prescinde
de explicações racionais, o que se infere do último verso “Tem que ter por quê?”
Alternativa C: incorreta. Quando o eu lírico diz: “Ninguém tem nada com isso”, não se refere à
curiosidade do leitor necessariamente. O eu lírico apenas está justificando suas motivações.
Alternativa D: incorreta. A natureza se insere no poema a título de comparação, mas não
pressuposição.
Alternativa E: incorreta. Livre associação de imagens ou ideias é um método psicanalítico para
fazer com que algumas informações saiam do inconsciente e venham ao plano consciente. É um processo
que deve ser provocado por gatilhos; porém, no poema, o eu lírico compara o fazer poético a ações
naturais, ou seja, que ocorrem sem necessidade de estímulos.
Gabarito: B.

17. (ENEM 2020/Reaplicação-PPL)


Epitáfio
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
[...]
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
BRITTO, S. A melhor banda de todos os tempos da última semana.
Rio de Janeiro: Abril Music, 2001 (fragmento).

O gênero epitáfio, palavra que significa uma inscrição colocada sobre lápides, tem a
função social de homenagear os mortos. Nesse texto, a apropriação desse gênero no título
da letra da canção cria o efeito de
a) destacar a importância de uma pessoa falecida.
b) expressar desejo de reversão de atitudes.
c) registrar as características pessoais.
d) homenagear as pessoas sepultadas.
e) sugerir notações para lápides.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário (letra de música).

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 113


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa A: incorreta. O efeito é o de alertar para o risco de morrer sem ter vivido. É uma
denúncia para as pessoas vivas, tentando motivá-las a viver mais e a ter experiências significativas antes
de morrer.
Alternativa B: correta – gabarito. Reversão no sentido de repensar certas ações que levamos na
vida cotidiana, que de tão mecanizadas tornam-se vazias. Convém viver com consciência e plenitude, e
não apenas estar à mercê de questões que não serão relevantes ao fim da vida.
Alternativa C: incorreta. Não pessoais, mas sim generalizadas. O eu lírico aborda uma série de
ações típicas do modo de vida contemporâneo, com as quais o leitor/ouvinte possivelmente irá se
identificar.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: essa é literalmente a função do gênero epitáfio, mas no sentido
conotativo do texto essa palavra antecipa o medo da morte, para que assim o usufruidor desse poema
tome consciência e passe a mudar sua vida imediatamente.
Alternativa E: incorreta. O poema se orienta para os viventes, como se fosse um conselho. Tanto
é que o tempo verbal mais utilizado é o futuro do pretérito.
Gabarito: B.

18. (UNESP/2022/1ª fase/2º dia) Para responder à próxima questão, leia o trecho inicial da
crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em
1943.

O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século,
tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas
muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem
da mesma forma – e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de
roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência
do veredicto.
Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios
gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta
centímetros, exatos, apesar de barrocas¹ e degraus. A espinha não se curvava, embora
descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as
duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam.
Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na
encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e nenhum ousava
deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso.
Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou
calor, almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava
de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com
a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e
arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.
Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas,
e condenou o crime, infeliz consequência da paixão.
Se atentássemos nas palavras emitidas por via oral, poderíamos afirmar que o Dr.
França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não seguia a marcha dos
pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 114


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

porém aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível


qualquer desvio.
Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios,
dividido em capítulos, títulos, artigos e parágrafos. E o que se distanciava desses
parágrafos, artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos
tormentos da imaginação.
(Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.)
1 barroca: monte de terra ou de barro.

Na crônica, o Dr. França é caracterizado como


a) irônico e arrogante.
b) arrogante e dissimulado.
c) introvertido e sarcástico.
d) pedante e displicente.
e) taciturno e metódico.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântica. Mais informações sobre esse autor
serão encontradas na aula 07.
Alternativa A: incorreta. Dr. Franca não era cético nem se sentia necessariamente
superior.
Alternativa B: incorreta. O personagem em questão não era falso (nesse contexto,
sinônimo de dissimulado).
Alternativa C: incorreta. Pelos mesmos motivos da letra A, Dr. Franca não é irônico nem
sarcástico.
Alternativa D: incorreta. Pedante é sinônimo de esnobe e displicente significa negligente,
descuidado. Pelo contrário: Dr. Franca era meticuloso.
Alternativa E: correta – gabarito. Dr. Franca é descrito como sistemático, sério, grave e
solene.
Gabarito: E.

19. (UNESP/2020/1ª fase)


Tal movimento distingue-se pela atenuação do sentimentalismo e da melancolia, a
ausência quase completa de interesse político no contexto da obra (embora não na
conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a uma
expressão de tipo plástico. O mito da pureza da língua, do casticismo vernacular abonado
pela autoridade dos autores clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e foi
um critério de excelência. É possível mesmo perguntar se a visão luxuosa dos autores
desse movimento não representava para as classes dominantes uma espécie de
correlativo da prosperidade material e, para o comum dos leitores, uma miragem
compensadora que dava conforto.
(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

O texto refere-se ao movimento denominado


a) Romantismo.
b) Barroco.
c) Parnasianismo.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 115


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

d) Arcadismo.
e) Realismo.
Comentários
Questão de teoria literária/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: o Romantismo é reconhecido pelo seu
sentimentalismo exacerbado e melancolia, especialmente na segunda geração, e não atenuação
dos mesmos. A terceira geração (condoreira) foi social e política.
Alternativa B: incorreta. O Barroco brasileiro se inspirou na Espanha (com Gôngora, por
exemplo) e não na França (Rabelais).
Alternativa C: correta – gabarito. As referências à ausência de sentimentalismo,
distanciamento de temáticas sociais e políticas, assim como preocupação com a técnica da
escrita e preciosismo vocabular permitem deduzir que o texto se refere ao movimento
denominado de Parnasianismo.
Alternativa D: incorreta. O Arcadismo não defendia “visão luxuosa”, mas sim o contrário:
aurea mediocritas (medida do meio, meio-termo) e bucolismo, simplicidade.
Alternativa E: incorreta. “A ausência quase completa de interesse político no contexto da
obra” vai de encontro à proposta realista, que propunha denunciar problemas sociais.
Gabarito: C.

20. (UNESP/2016/1o semestre/1ª fase) Considere o poema do português Eugênio de Castro


(1869-1944) para responder às próxima questão.

MÃOS

Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,


o vosso gesto é como um balouçar de palma;
o vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o vosso
[gesto canta!
Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,
rolas à volta da negra torre da minh’alma.

Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes,


Caridosas Irmãs do hospício da minh’alma,
O vosso gesto é como um balouçar de palma,
Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes...

Mãos afiladas, mãos de insigne formosura,


Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim,
Sois dois lenços, ao longe, acenando por mim,
Duas velas à flor duma baía escura.

Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas,


Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos ninhos,
Divinas mãos que me heis coroado de espinhos,
Mas que depois me haveis coroado de rosas!

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 116


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Afilhadas do luar, mãos de rainha,


Mãos que sois um perpétuo amanhecer,
Alegrai, como dois netinhos, o viver
Da minha alma, velha avó entrevadinha.
(Obras poéticas, 1968.)

Verifica-se certa liberdade métrica na construção do poema. Na primeira estrofe, tal


liberdade comprova-se pela
a) construção do hendecassílabo fora dos rígidos modelos clássicos.
b) variedade do verso decassílabo e do verso alexandrino.
c) presença de um verso com número menor de sílabas que os alexandrinos.
d) desobediência aos padrões de pontuação tradicionais do decassílabo.
e) presença de dois versos com número maior de sílabas que os alexandrinos.
Comentários
Questão de teoria literária. Mais informações sobre esse conteúdo especificamente serão
encontradas na aula 05.
Alternativa A: incorreta. Os versos clássicos tradicionais são o decassílabo e o
dodecassílabo, mas o poema é construído por versos bárbaros e dodecassílabos e não
hendecassílabos.
Alternativa B: incorreta. Presença de versos bárbaros (com mais de doze sílabas) e não
decassílabos.
Alternativa C: incorreta. Verso alexandrino é o verso com 12 sílabas e os versos costumam
apresentar mais do que 12 sílabas.
Alternativa D: incorreta. Atenção: a métrica de um verso não está necessariamente
associado à pontuação, mas sim à tonicidade das sílabas e ao ritmo.
Alternativa E: correta – gabarito. Atendendo à escansão dos versos da primeira estrofe,
verifica-se que apenas dois apresentam número maior de sílabas que o verso alexandrino (12):
versos 3 e 5.

Mãos/ de/ ve/ lu/ do, /mãos/ de /már/ tir /e /de /san/ (12) ta,
o/ vo/ sso/ ges/to é /co/ mo um/ ba/ lou/ çar /de /pal/ (12) ma;
o/ vo/ sso /ges/ to /cho/ ra, o / vo/ sso/ ges/ to / ge/ me, o / vo/ sso /ges/ to /can/ (23) ta!
Mãos/ de /ve/ lu/ do, /mãos /de /már/ tir /e /de /san (12) ta,
Ro/ las / à /vol/ ta /da /ne/ gra /to/ rre /da /mi/ nh’al/ (13) ma.

Gabarito: E.

21. (UNESP/2015/1o semestre/1ª fase) Para responder à próxima questão, leia o poema de
Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).

O Azulão e os tico-ticos
Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 117


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

e o pomar que atento ouvia


o seus trilos de harmonia,
cada vez mais se enflorava.

Se um tico-tico e outras aves


vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.

Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de tico-ticos
numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
desses garotos joviais,
tu continuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”

Numas volatas sonoras,


o Azulão lhe respondeu:
“Caro Amigo! Eu prezo muito
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!

Quando, há pouco, eu descantava,


pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
bravos! Bravos... muito bem!
Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
(irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
— que caso pode fazer
das vaias dos tico-ticos?”
*Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado este Sabiá, pois foi a “Águia de
Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro “Poemas bravios”.
(Poemas escolhidos, s/d.)

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 118


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Se, nos versos 32 e 33, as palavras “Sabiá” e “capoeirão” fossem pronunciadas “sa-bi-á”
e “ca-po-ei rão”, tais versos quebrariam o padrão e o ritmo dos demais, pois passariam a
ser
a) heptassílabos.
b) octossílabos.
c) eneassílabos.
d) hexassílabos.
e) decassílabos.
Comentários
Questão de teoria literária. Considerando que a composição tem como base as
redondilhas maiores, caso as palavras “Sabiá” e “capoeirão” fossem pronunciadas seguindo o
enunciado, os versos se tornariam octossílabos, uma vez que aumentaria uma sílaba poética em
cada verso:

Um Sa biá*, que me es cu ta (va,)


1 2 3 4 5 6 7

num ca poei rão, es con di (do,)


1 2 3 4 5 6 7

Gabarito: B.

22. (UNESP/2014/1o semestre/1ª fase) Considere o poema de Raul de Leoni (1895-1926)


para responder à próxima questão.

A alma das cousas somos nós...


Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade,
Nunca mais se repete exatamente...

Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente


Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é imperceptivelmente desigual,
Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...

Estado de alma em fuga pelas horas,


Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
Da sensibilidade furta-cor...

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 119


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas


E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, intimamente,
E eternamente,
Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)

Embora pareça constituído de versos livres modernistas, o poema em questão ainda


segue a versificação medida, combinando versos de diferentes extensões, com
predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a alternativa que indica, na
primeira estrofe, pela ordem em que surgem, os versos de dez sílabas métricas,
denominados decassílabos.
a) 1 e 5.
b) 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 2 e 3.
e) 1, 3 e 5.
Comentários
Questão de teoria literária.
Alternativa A: correta – gabarito. Somente o primeiro e último verso são decassílabos na
primeira estrofe do poema.
Alternativa B: incorreta. O verso três é um dodecassílabo (doze sílabas) e o verso quatro
conta com seis sílabas poéticas.
Alternativa C: incorreta. O verso 1 é decassílabo, porém os versos dois e três contam com
doze sílabas poéticas (dodecassílabo).
Alternativa D: incorreta. Versos dois e três são dodecassílabos.
Alternativa E: incorreta. Versos um e cinco são decassílabos, mas o verso três contém
doze sílabas poéticas.
Gabarito: A.

23. (UNESP/2012/1o semestre/1ª fase) A próxima questão toma por base um poema de
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

18
Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado,
apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 120


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

o tempo arrebatado,
que o mesmo bronze gasta!

Enrugaram-se as faces e perderam


seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza
das belezas que teve.

Assim também serei, minha Marília,


daqui a poucos anos,
que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhice


muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.

As frias tardes, em que negra nuvem


os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno,
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendo


os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira,
apontando direi: — Ali falamos,
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira.

Verterão os meus olhos duas fontes,


nascidas de alegria;
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos
na mão formosa e pia,
que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docemente


meu corpo suportando
do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
quem, sentida, chorando
meus baços olhos cerra.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 121


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora,
1982.)

Assinale a alternativa que indica a ordem em que os versos de dez e de seis sílabas se
sucedem nas oito estrofes do poema.
a) 6, 10, 6, 6, 10, 10.
b) 10, 6, 10, 10, 6, 6.
c) 10, 10, 6, 10, 6, 6.
d) 10, 6, 10, 6, 10, 6.
e) 6, 10, 6, 10, 6, 6.
Comentários
Questão de teoria literária. Mais informações sobre esse conteúdo especificamente serão
encontradas na aula 02.
A alternativa B apresenta a ordem em que os versos de dez e seis sílabas se sucedem
nas estrofes do poema, conforme exemplificado no excerto abaixo.

Não /vês /a/que/le /ve/lho /res/pei/tá/ (vel) -10


que à /mu/le/ta en/cos/ta/ (do) -6
a/pe/nas/ mal /se /mo/ve e /mal /se ar/ras/(ta) -10
Oh!/quan/to es/tra/go /não /lhe /fez/ o /tem/(po) -10
o /tem/po ar/re/ba/ta/(do) - 6
que o /mês/mo /bron/ze /gas/(ta)-6

Como a métrica é regular, o padrão tende a se manter.


Gabarito: B.

24. (UNICAMP/2022/1ª fase)

Na ribeira do Eufrates assentado,


Discorrendo me achei pela memória
Aquele breve bem, aquela glória,
Que em ti, doce Sião, tinha passado.

Da causa de meus males perguntado


Me foi: Como não cantas a história
De teu passado bem e da vitória
Que sempre de teu mal hás alcançado?

Não sabes, que a quem canta se lhe esquece


O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.

Respondi com suspiros: Quando cresce


A muita saudade, o piedoso

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 122


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Remédio é não cantar senão a morte.


(Luís de Camões, 20 sonetos. Org. Sheila Hue. Campinas: Editora da Unicamp, 2018, p.113).

Considerando as características formais e o núcleo temático, é correto afirmar que o


poema retoma o dito popular
a) “longe dos olhos, perto do coração”.
b) “mais vale cantar mal que chorar bem”.
c) “a cada canto seu Espírito Santo”.
d) “quem canta seus males espanta”.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Esse provérbio valoriza a memória: o mais importante é se
lembrar, o que metaforicamente representa "estar perto do coração", mesmo estando longe dos
olhos (longe fisicamente, de tal forma que não se pode ver).
Alternativa B: incorreta. Não importa se o cantar é feito sem maestria ou habilidade, pois
é melhor cantar do que sofrer (chorar) de qualquer maneira, bem ou mal.
Alternativa C: incorreta. Esse ditado surge no contexto dos folguedos populares no Brasil,
pois cada lugar faz a festa do seu jeito. Mesmo se referindo à festa do Divino Espírito Santo, o
mesmo culto pode ser celebrado de formas diferentes, a depender do lugar. Em se tratando da
poesia lírica filosófica camoniana, o eu lírico é pessimista, o que é indicado na chave de
ouro (último verso do soneto). O poema é moderno em sua técnica prosaica, pois apresenta
um diálogo entre o eu lírico e alguém externo, que lhe dá um conselho: levar a vida de modo
mais leve, ao que o eu lírico retruca com seu pessimismo e apego à morte. Com isso, esse
provérbio se aplica ao sentido geral do soneto, no sentido de que cada pessoa tem o seu modo
de encarar a vida. O núcleo temático (o centro do poema) não é tão otimista quanto pretende a
letra D como um todo, no geral. Portanto, defende-se que, como está escrito, a questão está
vaga e abre margem para mais de uma interpretação.
Alternativa D: correta – gabarito. Esse ditado popular transmite uma mensagem
esperançosa, positiva, ao passo que o eu lírico se revela o contrário: taciturno. O conselho é
dado por alguém que não é o eu lírico, mas está aludido explicitamente no primeiro terceto.
Gabarito: D.

25. (UNICAMP/2020/1ª fase) O poema abaixo vem impresso na orelha do livro Psia, de
Arnaldo Antunes.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 123


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Na orelha do livro, Antunes apresenta ao leitor seu processo de criação poética. É correto
dizer que o autor se propõe a
a) revelar a primazia da comunicação oral sobre a escrita das palavras.
b) discutir a flexão de gênero, que torna a palavra “psia” um substantivo.
c) defender a conversão das palavras em coisas, mudando seu estatuto.
d) explorar o poder de representação da interjeição exclamativa “psiu!”.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O poeta afirma que “Eu berro as palavras/ no microfone/ da
mesma maneira com que as desenho...”, ou seja, não há primazia da comunicação oral.
Alternativa B: incorreta. Ele não discute, não argumenta a favor do gênero feminino de
Psiu, ele simplesmente afirma que “Psia” é feminino de “psiu!”
Alternativa C: correta – gabarito. No poema, ele afirma isso, ele diz que berra para
transformar as palavras “em coisas,/ em vez de substituírem/ as coisas”, e ele mostra como fazer
isso, ao desmembrar “Psia” em “piscina” e “pia”.
Alternativa D: incorreta. Ele discute a palavra “Psia” e não “psiu!”; ao falar na interjeição,
ele a contrapõe para definir melhor “Psia”.
Gabarito: C.

26. (UNEMAT/2018)

Texto 01
O tempo é
O tempo é qualquer coisa
que ninguém toma nas mãos

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 124


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

e beija no mesmo instante


(ou um instante depois).

PERSONA, Lucinda Nogueira. Entre uma noite e outra. Cuiabá, MT: Entrelinhas, 2014. p. 33.

A persistência da memória. Salvador Dali. Disponível em:


noticias.universia.com/destaques/noticias/2012/01/07/903289/conhecaa-persistencia-da-memoria-
salvador-dali.html Acesso em: fev. 2018.

Comparando o que aborda o poema O tempo é, da poetisa Lucinda Nogueira Persona, e


os sentidos presentes na tela A persistência da memória, do artista plástico Salvador Dali,
assinale a alternativa correta.
a) O poema traz uma definição clara e fixa sobre o tempo, contrariando o que aborda a tela, pois
esta ao trazer relógios em estado de deformação, sugere que o tempo é algo que se modifica
permanentemente.
b) O poema traz elementos que nos permitem fazer reflexões sobre o tempo, enquanto a
presença dos relógios na tela aborda o seu valor estético.
c) A tela de Salvador Dali traz, sobretudo nos relógios, elementos que nos permitem fazer
reflexões sobre a guerra, enquanto o poema diz da fixidez do tempo.
d) Os dois textos trazem linguagens diferentes em suas composições, por este motivo não é
possível correlacioná-los estilisticamente e fazer qualquer leitura comparativa entre eles.
e) Ambos os textos fazem uma discussão sobre a efemeridade e a fugacidade do tempo.
Comentários
Questão de literatura comparada/linguagens e códigos.
Alternativa A: incorreta. Nas duas obras, há uma reflexão sobre a transitoriedade do tempo
e da memória.
Alternativa B: incorreta. Na pintura de Dali, a deformação dos relógios questiona
visualmente a rigidez do tempo, estabelecendo uma reflexão semelhante ao do poema.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 125


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa C: incorreta. Não há referências na pintura que possa suscitar a ideia de um


ambiente de guerra. Já no poema, a afirmação do eu lírico de que ninguém toma na mão o tempo
indica a sua fluidez.
Alternativa D: incorreta. A comparação e a intertextualidade entre diferentes linguagens
artísticas é um aspecto recorrente na história das artes desde a antiguidade.
Alternativa E: correta – gabarito. Nas duas obras, a ideia de tempo é transfigurada em
imagens artísticas para discutir o seu caráter efêmero.
Gabarito: E.

27. (UEG/2020-Medicina) Leia o poema a seguir para responder às próximas duas


questões.
Ergue-se Marco Antônio de repente...
Ouve-se um grito estrídulo, que soa
O silêncio cortando, e longamente
Pelo deserto acampamento ecoa.

O olhar em fogo, os carregados traços


Do rosto em contração, alto e direito
O vulto enorme, – no ar levanta os braços,
E nos braços aperta o próprio peito.

Olha em torno e desvaira. Ergue a cortina,


A vista alonga pela noite afora...
Nada vê. Longe, à porta purpurina
Do Oriente em chamas, vem raiando a aurora.

E a noite foge. Em todo o firmamento


Vão se fechando os olhos das estrelas:
Só perturba a mudez do acampamento
O passo regular das sentinelas.
BILAC, Olavo. O sonho de Marco Antônio – parte III. In: Melhores poemas de Olavo Bilac. 4. ed. Global,
2003. p. 37.

Quanto à forma, o fragmento citado apresenta versos


a) irregulares e dodecassílabos
b) assimétricos e alexandrinos
c) regulares e decassílabos
d) polimétricos e eneassílabos
e) brancos e hendecassílabos
Comentários
Questão de teoria literária.
Alternativa A: incorreta. Os versos irregulares, também conhecidos como versos livres,
não seguem um padrão métrico; dodecassílabos ou alexandrinos são os versos com doze
sílabas poéticas.
Alternativa B: incorreta. Versos assimétricos são aqueles que rompem com as regras
tradicionais no número de sílabas poéticas; alexandrinos são os versos compostos por doze
sílabas poéticas.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 126


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa C: correta. O poema apresenta uma estrutura regular em que a versificação é


composta por um número constante de sílabas poéticas, dez sílabas (decassílabos): O/ pas/so/
re/gu/lar/ das/ sen/ti/ne/las
Alternativa D: incorreta. Versos polimétricos são regulares, com sílabas fortes localizadas
de acordo com as regras métricas; eneassílabos são versos compostos por nove sílabas
poéticas.
Alternativa E: incorreta. Versos brancos ou livres não seguem um sistema de metrificação;
hendecassílabos são versos com onze sílabas poéticas.
Gabarito: C.

28. (UEG/2020-Medicina) Embora pertença ao gênero lírico, o excerto poético apresentado


comporta características do gênero
a) dramático, tendo em vista que o eu-lírico lança mão de uma estrutura dialógica para construir
uma interação com os leitores.
b) trágico, já que a personagem retratada realiza ações grandiosas e heroicas.
c) cômico, pois o eu-lírico lança mão de um humor sutil para sensibilizar os leitores.
d) narrativo, uma vez que o sujeito poético faz um relato de parte do que acontece em um
acampamento militar durante a noite.
e) descritivo, porque se notam descrições das personagens e da paisagem que as circunda.
Comentários
Questão de teoria literária.
Alternativa A: incorreta. Na estrutura do poema, não é possível identificar uma perspectiva
dialógica. A voz poética relata um fato aos leitores.
Alternativa B: incorreta. Nos textos trágicos, a catástrofe é um elemento central já que é por meio
dela que as emoções do público são despertadas.
Alternativa C: incorreta. Não é possível afirmar a existência do humor nos versos; O eu lírico parece
manter certo distanciamento do fato observado.
Alternativa D: correta – gabarito. Uma das características do gênero narrativo é a presença da
figura do narrador que relata uma história ocorrida em um determinado tempo e espaço. Tal movimento
é explorado pelo sujeito poético que enuncia uma sequência de fatos que ocorrem com um homem em
um acampamento durante a noite.
Alternativa E: incorreta. Não há foco na apresentação de detalhes da personagem ou do espaço.
Gabarito: D.

29. (UEG/2020-Medicina) Em termos de conteúdo, o excerto poético apresentado é


configurado por uma referência a elementos
a) metapoéticos.
b) nostálgicos.
c) históricos.
d) filosóficos.
e) metafísicos.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 127


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântico.
Alternativa A: incorreta. Metapoesia seria a poesia falando dela mesma. Cuidado: por
mais que a metalinguagem seja uma temática importante para o Parnasianismo, ela não se
verifica no poema.
Alternativa B: incorreta. Nostalgia é a saudade melancólica do passado e a personagem
no poema está desesperada.
Alternativa C: correta – gabarito. Marco Antônio (83-30 a. C. ) foi um político romano, tendo
sido nomeado três vezes cônsul. Lembrando que os principais temas parnasianos são o cotidiano
(tanto objetos quanto paisagens) e a cultura clássica (mitologia greco-latina), mas também fatos
históricos.
Alternativa D: incorreta. O principal sentimento de Marco Antônio no excerto é a cólera e
não a reflexão racional.
Alternativa E: incorreta. No seu devaneio, Marco Antônio não reza nem pensa em seres
transcendentes, divinos ou superiores. Sente que é do Oriente que vai vir a ameaça iminente.
Gabarito: C.

30. (UEG/2018) Observe a imagem e leia o poema a seguir para responder à(s)
questão(ões).

A leitura, tanto da imagem quanto do poema apresentados, metaforiza o caráter


a) recorrente da existência humana.
b) efêmero das paixões humanas.
c) linear de tudo que compõe a vida.
d) duradouro das coisas e da vida.
e) moroso dos entusiasmos existenciais.
Comentários
Questão de literatura comparada/linguagens e códigos.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 128


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa A: correta – gabarito. A recorrência da existência humana está metaforizada na


imagem pela repetição das formas circulares e, no poema, pelo aspecto visual espiralado, dando voltas
no mesmo centro, tal qual a vida do eu lírico, que afirma fazer “parte dessa circunferência”.
Alternativa B: incorreta. A imagem é marcada pela repetição de uma forma geométrica; não há,
portanto, referência às paixões humanas, tampouco a seu caráter transitório.
Alternativa C: incorreta. O poema remete, metaforicamente, à forma espiralada da vida, ou seja,
circular e recorrente, e não linear.
Alternativa D: incorreta. O eu lírico afirma que “o mundo roda, roda”; metaforicamente, não há o
aspecto duradouro das coisas e da vida.
Gabarito: A.

31. (UECE/2021/1o semestre/1ª fase)


Retrato
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Os versos acima são de autoria da escritora carioca Cecília Meireles (1901-1964). O poema
traça uma espécie de autorretrato, enfocando principalmente a questão da
a) transitoriedade da vida.
b) alegria de viver.
c) partilha de pequenos momentos.
d) felicidade de envelhecer.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O que no texto é marcado pela insistência ao marcar o
contraste temporal, especialmente no uso do verbo “tinha”, conjugado no pretérito imperfeito.
Alternativa B: incorreta. O eu lírico parece entristecido ao constatar a passagem do tempo.
Assombra-se com as mudanças.
Alternativa C: incorreta. Não há tal partilha. O texto parece um desabafo.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: o eu lírico constata que o fenômeno é inexorável.
Gabarito: A.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 129


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

32. (UECE/2021/1o semestre/1ª fase) O poema Retrato utiliza uma imagem poética
recorrente nas poesias de Cecília Meireles: o espelho. Essa imagem está atrelada a
questões existencialistas que, neste poema, são
a) o bem e o mal.
b) a fraqueza e a força.
c) a vida e a morte.
d) a juventude e a velhice.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Esses são julgamentos morais que não são questionados no
poema.
Alternativa B: incorreta. O texto é predominantemente descritivo. As mãos sem força são
uma metáfora para uma pessoa que, com o envelhecimento, tornou-se passiva.
Alternativa C: incorreta. Esses são questionamentos barrocos.
Alternativa D: correta – gabarito. O espelho é o reflexo da vida tal qual ela é, mesmo com
as agruras do processo natural do envelhecimento.
Gabarito: D.

33. (UECE/2018/1º semestre/1ª fase)

Retrato do artista quando coisa


A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 130


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

BARROS, Manoel. O retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998.

Levando em conta as relações de sentido presentes no texto de Manoel de Barros acima,


é correto afirmar que o conteúdo temático geral do poema se estabelece na seguinte
oposição semântica:
a) humanização versus coisificação.
b) riqueza versus pobreza.
c) ação versus inércia.
d) grandeza versus pequenez.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.. Se o comando está cobrando “oposição semântica”,
trata-se da relação de antonímia. Percebam que todas as alternativas inclusive se estruturam justamente
assim: por meio da expressão latina versus, que significa literalmente contra; em comparação com; em
relação a; alternativamente a. Além disso, o título do poema dialoga diretamente com o romance O
retrato do artista quando jovem, do irlandês James Joyce.
Alternativa A: correta – gabarito. A partir dos versos “Não aguento ser apenas/um sujeito que
abre/portas, que puxa/válvulas, que olha o/relógio, que compra pão/às 6 da tarde, que vai/lá fora, que
aponta lápis,/que vê a uva etc. etc./Perdoai. Mas eu/preciso ser Outros” (grifo meu), há uma crítica em
relação à mecanização da vida dos e humano e à sua rotina enfadonha e repetitiva. Em reação a isso, o
eu lírico determina a sua recusa em ser mais um.
Alternativa B: incorreta. As relações financeiras, o dinheiro ou o poder aquisitivo não são
mencionados aqui. Inclusive, os versos que abrem o poema indicam uma espécie de riqueza abstrata, isto
é, não material.
Alternativa C: incorreta. Embora “borboletas” no último verso indique movimento, mesmo uma
rotina repetitiva pode ter lá seu movimento, porém, um movimento repetido e mecânico. Não é isso o
que está em oposição aqui.
Alternativa D: incorreta. O eu lírico utiliza elementos pequenos, tais como borboletas, ao par de
grandes, como o homem. A relação está mais para equivalência (sinonímia) que antonímia.
Gabarito: A.

34. (UERJ/2021)

Morro velho
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu.
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu.
5Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,
lindo a crescer.
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.

Filho do branco e do preto,


correndo pela estrada atrás de passarinho.
10 Pela plantação adentro,

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 131


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.


Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,
dá pro fundo ver.
Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.
15 Filho do sinhô vai embora,
tempo de estudos na cidade grande.
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante.
“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”
20 Some longe o trenzinho ao deus-dará.

Quando volta já é outro,


trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá.
25Já tem nome de doutor
e agora na fazenda é quem vai mandar.
E seu velho camarada
já não brinca, mas trabalha.
MILTON NASCIMENTO
Adaptado de miltonnascimento.com.br.

fazenda é o camarada que ao chão se deu. (l. 2)


No verso da canção de Milton Nascimento, o poeta apresenta uma definição da palavra
“fazenda”. Com base na primeira estrofe, essa definição destaca o seguinte elemento do
contexto descrito:
a) riqueza da propriedade
b) expectativa de liberdade
c) dedicação do trabalhador
d) necessidade de autonomia
Comentários
Questão interdisciplinar de interpretação de letra de música.
Alternativa A: incorreta. Não se trata de trabalhar por dinheiro.
Alternativa B: incorreta. O valor da liberdade não é almejado.
Alternativa C: correta – gabarito. Ao usar um termo metafórico, o eu lírico exprime que do
suor da labuta advém o orgulho.
Alternativa D: incorreta. Trabalha-se por necessidade.
Gabarito: C.

35. (UERJ/2020)

PARA COMEÇAR

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 132


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Desejou ter a beleza de uma árvore frondosa tatuada nas costas, copa espraiada sobre os
ombros. Temendo, porém, o longo sofrimento imposto pelas agulhas, mandou tatuar na base
da coluna, bem na base, a mínima semente.

Observe a imagem abaixo, que reproduz o quadro de René Magritte chamado “A


Clarividência”.

arteeblog.com

O par “semente-árvore” do conto pode ser comparado ao par “ovo-ave” do quadro, devido
a uma mesma relação existente entre os elementos de cada par. Essa relação expressa,
no contexto das duas obras, a ideia de:
a) simultaneidade
b) possibilidade
c) instabilidade
d) uniformidade
Comentários
Atenção: questão de Linguagens e Códigos. Mais informações sobre esse conteúdo em
particular serão encontradas nas aulas 06 e 07.
Alternativa A: incorreta. Não se trata de ideias simultâneas, mas de diálogo entre elas.
Alternativa B: correta – gabarito. Nas duas obras, temos a potência do vir a ser da semente
e do “ovo-ave”. Assim o processo artístico se coloca como possibilidade de vida e existência.
Alternativa C: incorreta. Os textos artísticos se distanciam da ideia de inconstância ao
ressaltar o desejo de potência criadora.
Alternativa D: incorreta. No conto e na pintura, a constância é apenas aparente, pois
ambos projetam a iminência da transformação.
Gabarito: B.

36. (FAMECA/2013) Leia o poema “Ela canta, pobre ceifeira” do poeta português Fernando
Pessoa (1888-1935) para responder à próxima questão.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 133


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Ela canta, pobre ceifeira*,


Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,

Ondula como um canto de


ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,


Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p’ra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ’stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!


Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!


Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
(Fernando Pessoa. Obra poética, 1995.)
*Ceifeira: mulher que trabalha no corte de cereais, utilizando foice ou outro
instrumento apropriado.

Todas as seis quadras do poema de Fernando Pessoa são compostas por versos
_____ e obedecem ao esquema de rimas _____.

As lacunas do texto são, correta e respectivamente, preenchidas por


a) decassílabos – ABBA.
b) octossílabos – ABBA.
c) dodecassílabos – ABAB.
d) decassílabos – ABAB.
e) octossílabos – ABAB.
Comentários
Questão de teoria literária. Como os versos são regulares (o que se infere do comando teórico,
que diz “todas as seis quadras”), a análise pode ser feita tomando uma única estrofe como exemplo:

ESCANSÃO
Pe-sa-tan-toea-vi-daé-tão-bre-ve! (8 sílabas poéticas)
En-trai-por-mim-den-tro!-Tor-nai (8 sílabas poéticas)
Mi-nhaal-maa-vos-sa-som-bra-le-ve! (8 sílabas poéticas)

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 134


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

De-pois,-le-van-do-me,-pas-sai! (8 sílabas poéticas)

ESQUEMA DE RIMAS
Pesa tanto e a vida é tão breve! (A)
Entrai por mim dentro! Tornai (B)
Minha alma a vossa sombra leve! (A)
Depois, levando-me, passai! (B)

Alternativa A: incorreta. Os versos não são decassílabos nem é este o esquema de rimas.
Alternativa B: incorreta. Os versos são octassílabos, mas não é este de rimas.
Alternativa C: incorreta. Os versos não são dodecassílabos, apesar de ser este o esquema de
rimas.
Alternativa D: incorreta. Os versos não são decassílabos, apesar de ser este o esquema de rimas.
Alternativa E: correta – gabarito. É esta a sequência correta.
Gabarito: E.

37. (FAMECA/2017) Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade para responder às


próximas duas questões.

Papel
E tudo que eu pensei
e tudo que eu falei
e tudo que me contaram
era papel.
E tudo que descobri
amei
detestei:
papel.
Papel quanto havia em mim
e nos outros, papel
de jornal
de parede
de embrulho
papel de papel
papelão.
(As impurezas do branco, 2012.)

Quanto aos aspectos formais, o poema caracteriza-se pelo emprego de


a) rimas raras.
b) métrica irregular.
c) versos decassílabos.
d) rimas alternadas.
e) linguagem rebuscada.
Comentários

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 135


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Questão de teoria literária.


Alternativa A: incorreta. Essa sequer é uma classificação.
Alternativa B: correta – gabarito. Por ser um poema moderno, os versos têm tamanhos diferentes.
Alternativa C: incorreta. A métrica é irregular.
Alternativa D: incorreta. Não há rimas claramente marcadas.
Alternativa E: incorreta. A linguagem é prosaica.
Gabarito: B.

38. (UEA/2019) Leia o poema de Paulo Henriques Britto para responder às próximas duas
questões.
Nada nas mãos nem na cabeça, nada
no estômago além da sensação vazia
de haver ultrapassado toda sensação.

É em estado assim que se descobre a verdade,


que se cometem os grandes crimes, os gestos
mais sublimes, ou então não se faz nada.

É como as cobras. As mais silenciosas,


de corpo mais esguio, de cor esmaecida,
destilam o veneno mais perfeito.

Assim também os poemas. Os mais contidos


e lisos, os que menos coisa dizem,
destilam o veneno mais perfeito.
(Mínima lírica, 2013.)

No trecho “que se descobre a verdade, / que se cometem os grandes crimes, os gestos /


mais sublimes”, o eu lírico enumera
a) eventos extremos que ocorrem durante o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
b) acontecimentos catastróficos que sucedem o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
c) fatos impensáveis que causam o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
d) ações inconscientes que resultam do estado de vazio descrito na primeira estrofe.
e) processos raros que precedem o estado de vazio descrito na primeira estrofe.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Na primeira estrofe, o eu lírico tenta materializar no corpo poético o
elemento desencadeador do fazer artístico.
Alternativa B: incorreta. No poema, não há a presença de um acontecimento grave, mas de um
estado que o eu lírico transforma em matéria de poesia.
Alternativa C: incorreta. Não se trata de fatos impensáveis. Antes é uma tentativa de concretizar
o desencadeamento da experiência poética.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 136


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa D: incorreta. Assim como em “Psicologia da composição”, de João Cabral de Melo Neto,
aqui a poesia não é fruto de ações inconscientes, mas de um trabalho consciente dos mecanismos
poéticos.
Alternativa E: correta – gabarito. O eu lírico procura elaborar, por meio dos versos em questão,
uma pungente reflexão sobre o estado poético.
Gabarito: E.

39. (UEA/2019) Segundo as duas últimas estrofes,


a) os melhores poemas são mais produto de inspiração do que de trabalho.
b) o valor de um poema é medido pelos efeitos negativos que produz.
c) os poemas mais inofensivos são os que parecem mais perigosos.
d) a poesia é a arte de transformar algo discreto em algo significativo.
e) os poemas mais discretos produzem os efeitos mais contundentes.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Ao contrário do que é afirmado na questão, os melhores poemas são
frutos de um trabalho meticuloso e intenso por parte do poeta.
Alternativa B: incorreta. A imagem poética criada pelo processo de comparação em “como cobras”
reforça o impacto que os melhores poemas podem revelar.
Alternativa C: incorreta. Considerando a visão do eu lírico, não se pode restringir o trabalho poético
à dualidade “inofensivo” e “perigoso”.
Alternativa D: correta – gabarito. Usando o recurso da metalinguagem, o eu lírico coloca em
questão a potencialidade da poesia de transcender os elementos referenciais do mundo e a sua
capacidade de atribuir um caráter artístico a esses elementos.
Alternativa E: incorreta. A reflexão poética não está centrada na forma poema, mas no trabalho
com a poesia, ou seja, o uso artístico da palavra e outros recursos de linguagem.
Gabarito: D.

40. (UEA/2018)
Nos anos em que atuaram estes escritores, a poesia brasileira percorreu os meandros
do extremo subjetivismo, à Byron e à Musset. Alguns poetas adolescentes, mortos antes
de tocarem a plena juventude, darão exemplo de toda uma temática emotiva de amor e
morte, dúvida e ironia, entusiasmo e tédio.
(Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 2006. Adaptado.)

O texto refere-se
a) à segunda geração do Romantismo.
b) ao Barroco.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 137


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

c) ao Arcadismo.
d) à primeira geração do Modernismo.
e) ao Condoreirismo.
Comentários
Questão de crítica literária/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: correta – gabarito. O trecho faz referência à segunda geração romântica ou “geração
ultrarromântica”. Como principais características desse período, pode-se destacar a fuga da realidade e o
profundo subjetivismo. A produção romântica no Brasil foi influenciada pela obra do poeta britânico
George Gordon Byron, mais conhecido como Lord Byron, e do poeta francês Alfred de Musset.
Alternativa B: incorreta. A estética barroca traz em sua forma o raciocínio complexo e o conflito
entre fé e razão, a partir de uma visão teocêntrica do mundo (Deus como centro de tudo).
Alternativa C: incorreta. No arcadismo, há a retomada de temáticas greco-latinas, uso de temas
pastoris e valorização da natureza.
Alternativa D: incorreta. A primeira geração modernista, influenciada pelas vanguardas artísticas,
propôs uma estética inovadora com a revisão crítica das heranças artísticas do passado.
Alternativa E: incorreta. O condoreirismo é o nome dado à terceira geração romântica no Brasil. O
termo é uma metáfora para a busca de liberdade por parte de seus representantes. As temáticas do
abolicionismo e da justiça social são fortemente exploradas nos poemas dessa geração.
Gabarito: A.

41. (UEA/2014)
Tapuia

As florestas ergueram braços peludos para esconder-te


com ciúmes do sol.

E a tua carne triste se desabotoa nos seios,


recém-chegados do fundo das selvas.

Pararam no teu olhar as noites da Amazônia, mornas e imensas.

No teu corpo longo


ficou dormindo a sombra das cinco estrelas do Cruzeiro.

O mato acorda no teu sangue


sonhos de tribos desaparecidas
– filha de raças anônimas
que se misturaram em grandes adultérios!

E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,


que teus antepassados te deixaram de herança.

O vento desarruma os teus cabelos soltos


e modela um vestido na intimidade do teu corpo exato.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 138


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

À noite o rio te chama


e então te entregas à água preguiçosamente,
como uma flor selvagem
ante a curiosidade das estrelas.
(Raul Bopp apud Mário da Silva Brito. “Tapuia”. In: Poesia do Modernismo, 1968.)

No verso "E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio", a ideia expressa pelo verbo
destacado está de acordo com a seguinte afirmação:
a) Os indígenas erram ainda hoje, quando confiam nas promessas do homem branco.
b) Explorados e expulsos de suas terras, os indígenas vagueiam pelas florestas que sobraram.
c) Em função dos sucessivos ataques do homem branco, os indígenas lamentam os erros
cometidos.
d) Ao caminhar pelas margens do rio, os indígenas já não têm o senso de direção de seus
antepassados.
e) Remanescentes de tribos dizimadas, os indígenas continuam sofrendo pelos erros dos
brancos.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. O verbo errar ao qual pertence o termo “erras”
(presente do indicativo, segunda pessoa do singular) adquire, no contexto, o significado de perambular,
vaguear, o que elimina as alternativas “a”, “c” e “e”. Também “d” é incorreta, pois o fato de vaguearem
sem rumo pelas beiras dos rios não pode ser atribuído à falta de senso de direção, mas sim às agressões
a que as tribos indígenas têm sido sujeitas. Assim, é correta apenas a alternativa “b”.
Gabarito: A.

42. (UEA/2014) A metáfora é uma figura de linguagem em que um termo substitui outro,
em vista de uma relação de semelhança entre os elementos designados por tais termos.
Essa figura ocorre no verso:
a) que se misturaram em grandes adultérios!
b) O vento desarruma os teus cabelos soltos
c) As florestas ergueram braços peludos para esconder-te
d) e então te entregas à água preguiçosamente,
e) E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,
e) E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Não é metáfora, mas sim adultérios.
Alternativa B: incorreta. Não é metáfora, mas sim personificação.
Alternativa C: correta – gabarito. Pois há comparação implícita dos ramos frondosos das árvores
com “braços peludos” constitui uma metáfora.
Alternativa D: incorreta. Não há figura de linguagem, mas sim descrição.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 139


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa E: incorreta. Não há figura de linguagem, mas sim narração.


Gabarito: C.

43. (UEA/2013) Leia o texto a seguir para responder às próximas duas questões.
Não sei que jornal, há algum tempo, noticiou que a polícia ia tomar sob a sua proteção
as crianças que aí vivem, às dezenas, exploradas por meia dúzia de bandidos. Quando li
a notícia, rejubilei. Porque, há longo tempo, desde que comecei a escrever, venho
repisando este assunto, pedindo piedade para essas crianças e cadeia para esses patifes.
Mas os dias correram. As providências anunciadas não vieram. Parece que a piedade
policial não se estende às crianças, e que a cadeia não foi feita para dar agasalho aos que
prostituem corpos de sete a oito anos… E a cidade, à noite, continua a encher-se de
bandos de meninas, que vagam de teatro em teatro e de hotel em hotel, vendendo flores
e aprendendo a vender beijos.
Anteontem, por horas mortas, quando saía de um teatro na rua central da cidade, vi
sentada uma menina, a uma soleira de porta. Ao lado, a sua cesta de flores murchas estava
atirada sobre a calçada. Pediu-me dez tostões, chorando... Só conseguira obter, ao cabo
de toda uma tarde de caminhadas e de pena, esses dez tostões — perdidos ou furtados.
E pelos seus olhos molhados passava o terror das bordoadas que a esperavam em casa…
Fiquei parado, longo tempo, a olhá-la. O seu vulto fugia já, pequenino, quase invisível
na escuridão. Ainda de longe o vi, fracamente alumiado por um lampião, sumir-se,
dobrando uma esquina. Segui o meu caminho, com a morte na alma.
Ora — nestes tempos singulares em que a gente já se habituou a ouvir sem espanto
coisas capazes de horrorizar a alma de Deiber —, é possível que alguém, encolhendo os
ombros diante disto, me pergunte o que é que eu tenho com a vida das crianças que
vendem flores e são amassadas a sopapos, quando não levam para casa uma certa e
determinada quantia.
Tenho tudo, amigos meus! Não penseis que me iluda sobre a eficácia das providências
que possa a polícia tomar, a fim de salvar das pancadas o corpo e da devassidão a alma
de qualquer dessas meninas. Bem sei que, enquanto o mundo for mundo e enquanto
houver meninas — proteja-as ou não as proteja a polícia —, haverá pais que as
esbordoem, mães que as vendam, cadelas que as industriem, cães que as deflorem!
(Olavo Bilac [Gazeta de Notícias, 14.08.1894]. www.consciencia.org. Adaptado.)

Olavo Bilac, autor da crônica, é bastante conhecido no contexto da literatura brasileira


como poeta do
a) Romantismo, período do império da razão.
b) Parnasianismo, escola literária que buscava a perfeição formal.
c) Arcadismo, que aprofundou as características do Barroco.
d) Modernismo, responsável pela volta dos valores clássicos.
e) Simbolismo, estilo marcado pela experimentação.
Comentários
Questão de conhecimento de movimentos literários.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 140


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

Alternativa A: incorreta. Ao contrário do que é afirmado, no Romantismo, há o predomínio da


subjetividade, do sentimentalismo exacerbado e individualismo.
Alternativa B: correta – gabarito. Olavo Bilac é considerado o principal representante do
Parnasianismo no Brasil. Em suas obras, as regras de composição são valorizadas, além de reconhecer o
trabalho poético como uma tarefa árdua e complexa.
Alternativa C: incorreta. O Arcadismo distancia-se dos excessos formais e estilísticos presentes na
estética barroca em busca de uma linguagem clara e objetiva, em que há o equilíbrio da forma.
Alternativa D: incorreta. Os poetas modernistas romperam com as regras clássicas de composição
artística e realizaram experimentações com o intuito de descobrir novas formas expressivas.
Alternativa E: incorreta. O estilo simbolista é marcado pela valorização da subjetividade humana e
do mundo dos sonhos, assim como a negação dos valores realistas tão marcantes na literatura do século
XIX.
Gabarito: B.

44. (UEA/2013) De acordo com o texto, é correto afirmar que


a) o narrador leu a notícia sobre as providências da polícia no jornal em que trabalha.
b) a menina contou ao cronista que não conseguira vender nenhuma flor naquele dia.
c) a cadeia do Rio de Janeiro, segundo depoimentos de testemunhas, não recebe aproveitadores
de meninas.
d) vários leitores perguntaram ao cronista por que ele se envolvia com um assunto desses.
e) o narrador ficou muito tempo a olhar o vulto da menina que se perdia na escuridão da noite.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Já no início do texto, o narrador afirma não se lembrar em que jornal leu
a notícia.
Alternativa B: incorreta. O cronista afirma que a menina “perdera toda a féria”, ou seja, ela perdeu
o valor arrecadado com a venda das flores, “dez tostões”. Trata-se do valor que a garota solicita ao
cronista para evitar punições.
Alternativa C: incorreta. De maneira crítica, o narrador faz referência ao desinteresse da polícia
em realizar ações efetivas para que autores de crimes contra as crianças, sobretudo as meninas, sejam
punidos adequadamente.
Alternativa D: incorreta. O cronista usa o recurso da pergunta retórica para justificar o seu
interesse pelo tema: “[...] é possível que alguém, encolhendo os ombros diante disto, me pergunte o que
é que eu tenho com a vida das crianças que vendem flores e são amassadas a sopapos, quando não levam
para casa uma certa e determinada quantia”.
Alternativa E: correta – gabarito. O narrador acompanhou o trajeto da menina na escuridão da
noite conforme se verifica no seguinte trecho: “Fiquei parado, longo tempo, a olhá-la. O seu vulto fugia
já, pequenino, quase invisível na escuridão. Ainda de longe o vi, fracamente alumiado por um lampião,
sumir-se, dobrando uma esquina. Segui o meu caminho, com a morte na alma”.
Gabarito: E.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 141


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

45. (UEMA/2020) O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira.

O Último Poema
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013

O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez
que o eu lírico
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade.
b) explicita seu dilema existencial.
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos.
d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano.
e) expressa em versos seu desejo poético.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. “Metapoético” se refere a um poema que
tematiza a escrita da própria poesia.
Alternativa A: incorreta. É verdade que, nesse poema, o eu lírico “transporta para a poesia
a beleza e simplicidade”, mas isso não se relaciona com o título, nem expressa um valor
metapoético.
Alternativa B: incorreta. No poema, ele exprime o que ele deseja para sua poesia, não
explora seus dilemas existenciais.
Alternativa C: incorreta. Não há referência a medos no poema.
Alternativa D: incorreta. Se fosse parnasiano, o poeta deveria metrificar seu poema.
Manuel Bandeira se vale do verso livre (sem métrica).
Alternativa E: correta – gabarito. O seu desejo poético aparece no primeiro verso “Assim
eu quereria o meu último poema” e esse tema é metapoético.
Gabarito: E.

46. (UFPR/2020) Leia o trecho abaixo, extraído de Sagarana, de João Guimarães Rosa:

Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-


de-sapo. A erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam,
sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de
folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul! A
pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas,
entrando em convulsões.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 142


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

– Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se
acabar!... É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.
(GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”. Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.)

O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa,


exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale
a alternativa que reconhece esse aspecto de forma adequada.
a) A religiosidade cristã católica rege as decisões humanas e transforma os homens e a natureza
a partir da ação direta de Deus.
b) A ausência de aliterações e a economia de adjetivos são recursos utilizados para representar
a aridez da natureza.
c) A descrição pormenorizada do espaço físico visa a excluir a dimensão psicológica e mística
da narrativa, para fortalecer a feição pitoresca da região.
d) A descrição do meio físico é mediada pela visão do narrador, que apresenta a natureza como
elemento tão reversível quanto a condição humana.
e) São narrados duelos que se travam entre o meio e o homem e que são vencidos apenas pelo
uso da força física e da valentia.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Embora o interior de Minas Gerais seja fortemente marcado pelas
tradições católicas, o trecho selecionado ressalta aspectos da natureza.
Alternativa B: incorreta. O trecho é marcado por um forte apelo imagético fruto da presença
de adjetivos, assim como da aliteração dos fonemas fricativos e nasais.
Alternativa C: incorreta. O deslumbramento diante da natureza gera uma relação mística
com a natureza.
Alternativa D: correta – gabarito. A relação entre personagem e natureza é recorrente nos
contos. Os destinos traçados no livro, como se destaca em “Sarapalha”, parecem se fundir nas
inconstâncias e durezas da paisagem sertaneja.
Alternativa E: incorreta. Nos contos, é explorada uma visão mítica da relação entre o
homem e a natureza, em que a astúcia e a sabedoria ganham destaque no desenrolar dos
conflitos.
Gabarito: D.

47. (UFU/2016)

Texto I
Logo descobriu que não podia absolutamente mais se mexer. Não se admirou com
esse fato, pareceu-lhe antes um pouco natural que até agora tivesse conseguido se
movimentar com aquelas perninhas finas. No restante sentia-se relativamente confortável.
Na realidade tinha dores no corpo, mas para ele era como se elas fossem ficar cada vez
mais fracas e finalmente desaparecer por completo. A maçã apodrecida nas suas costas
e a região inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira mole, quase não o
incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 143


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse
estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da
manhã. Ele vivenciou o início do clarear geral do dia lá do lado de fora da janela. Depois,
sem intervenção da sua vontade, a cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu
fraco o último fôlego.
KAFKA, Franz. A metamorfose. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 78.

Texto II
Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em atenção às voltas
violentas que a água pesada dava no estômago, acordando pequenos reflexos pelo resto
do corpo como luzes. A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de
Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore,
para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito
passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol estendia sobre
um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da
árvore e morreu.
LISPECTOR, Clarice. O grande passeio. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
p. 37-38.

Embora de épocas e nacionalidades distintas, os protagonistas de A metamorfose e do


conto “O grande passeio” têm em comum a
a) a incapacidade de decisão ante as instabilidades sociais.
b) o isolamento social devido ao descaso dos familiares.
c) o devaneio filosófico a respeito dos fenômenos da natureza.
d) a passividade diante das vicissitudes do curso da vida.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/literatura comparada.
Alternativa: A: incorreta. Em “O grande passeio”, não há abordagem de instabilidades
sociais, como há em A metamorfose. No conto, aborda-se uma questão humanista sobre a
relação com idosos.
Alternativa: B: incorreta. Em “O grande passeio”, a protagonista, Mocinha, é uma idosa já
sem familiares. Em A metamorfose, mostra-se principalmente a ambiguidade dos familiares, uma
vez que dependem da atividade de Gregor Samsa para que a aparência de família burguesa seja
mantida.
Alternativa: C: incorreta. Em ambos os textos, as personagens, na iminência da morte,
atentam aos fenômenos na natureza nos trechos selecionados. No entanto, apenas Gregor
demonstra abordagem filosófica ao ato contemplativo (“Ele vivenciou o início do clarear geral do
dia lá do lado de fora da janela”).
Alternativa: D: correta – gabarito. Gregor mostra-se passivo diante dos problemas de sua
existência; no trecho selecionado, já metamorfoseado, o narrador onisciente cita que “A maçã
apodrecida nas suas costas e a região inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira
mole, quase não o incomodavam”. Mocinha, a idosa de “O grande passeio”, igualmente não se
revolta frente aos problemas enfrentados: mesmo sendo friamente enviada de uma cidade para
outra por pessoas que, a princípio, tomariam conta dela, o narrador onisciente cita que “Então,
como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu”.
Gabarito: D.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 144


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

48. (UNCISAL/2017)

A poesia de Augusto de Campos, conforme se pode ver no exemplo acima, propõe uma
revisão nas estruturas tradicionais das artes poéticas. Isso quer dizer que esse formato
proposto
a) valoriza a métrica e a rima.
b) abdica das interações com as diversas formas de artes visuais.
c) valoriza o sentido hermético da poesia sem pluralidade semântica.
d) expande-se para além da retórica pela valorização das múltiplas formas e sentidos.
e) considera como material poético a ditadura retórica da palavra em seus vários
desdobramentos.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Augusto de Campos é um dos fundadores da poesia concreta no
Brasil. Seu projeto estético contemplava a ruptura com as formas clássicas da poesia e a
necessidade de se criar uma revolução na linguagem poética.
Alternativa B: incorreta. Ao contrário do que é afirmado, o projeto de Augusto de Campos,
integrado às ideias concretistas, conecta-se a outras linguagens artísticas, especialmente as
formas de artes visuais, como um recurso para repensar a escrita poética.
Alternativa C: incorreta. A relação entre significante e significado é expandida na poesia
de Augusto de Campos. Cada palavra é explorada em sua multiplicidade semântica, gerando
uma síntese de ideias, tal como ocorre na formação do ideograma.
Alternativa D: correta – gabarito. Augusto de Campos, ao lado de Haroldo de Campos e
Décio Pignatari, criaram uma produção poética que dialoga diretamente com as outras
linguagens artísticas e outros sistemas de comunicação a fim de transgredir a forma discursiva
e permitir o surgimento de novas formas e sentidos no âmbito literário.
Alternativa E: incorreta. A poesia de Augusto de Campos é marcada pelo
experimentalismo formal, em que palavra e imagem estão em constante interação.
Gabarito: D.

49. (UNCISAL/2016)

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 145


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

ANTUNES, Arnaldo. Rio: o ir. Disponível


em:<http://www.arnaldoantunes.com.br/new/index.php?page=32>. Acesso em: 6 nov. 2015.

O texto acima, um poema de Arnaldo Antunes, inscreve-se numa tradição de


procedimentos poéticos também recuperáveis no
a) Naturalismo, uma vez que o poema faz uso de recurso visual que se assemelha a uma rosa,
o que remete à natureza.
b) Arcadismo, uma vez que é perceptível que o poema se estrutura em torno da palavra “rio”, o
que remete a uma supervalorização deste elemento natural.
c) Concretismo, uma vez que o poema investe na materialidade visual da palavra, explorando
um arranjo geométrico que, com poucos recursos, provoca diversas leituras e compreensões.
d) Modernismo, uma vez que se percebe a estruturação do poema em torno da flexão de primeira
pessoa do verbo “rir”, o que recupera o humor característico dos poetas modernistas.
e) Parnasianismo, uma vez que a forma do poema se assemelha à de uma pedra preciosa, o
que metaforiza a aproximação que os parnasianos estabelecem entre o fazer poético e o trabalho
do ourives.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. O Naturalismo é uma tendência estética do final do século XIX
que se caracteriza pela linguagem objetiva e a investigação científica no tratamento de seus
temas.
Alternativa B: incorreta. O Arcadismo é um movimento literário do século XVIII que retoma
aspectos da cultura greco-latina e renascentista. A linguagem explorada em seus poemas
privilegia a simplicidade do vocabulário e a clareza das ideias.
Alternativa C: correta – gabarito. O Concretismo é um relevante movimento artístico e
cultural surgido no Brasil em meados dos anos 1950. Os poetas concretos decretavam o fim do
verso “histórico” e pregavam a necessidade de evoluir as formas literárias explorando o espaço
gráfico.
Alternativa D: incorreta. Embora o Modernismo seja o primeiro movimento artístico e
literário no século XX a clamar por novas formas de expressão artística, suas experimentações
estavam focadas no uso de versos livres, no humor expresso na linguagem e no abandono das
formas fixas.
Alternativa E: incorreta. O Parnasianismo é um movimento literário que ganhou força no
final do século XIX. Seus principais representantes apreciavam aspectos da versificação,
metrificação e o uso das formas fixas.
Gabarito: C.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 146


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

50. (UNITINS/2016.2) Leia o texto para responder à questão a seguir.

“Movimento artístico e filosófico que surge com o conflito entre a Reforma Protestante e
a Contra Reforma. Seu objetivo era propagar a religião por meio de uma arte de impacto,
sinuosa, enfeitada ao extremo. Arte altamente contraditória.”
(Disponível em: <http://questoesdevestibularnanet.blogspot.com.br/2013/09/caracteristicas-e
representantes-do.html>. Acesso em: 4 nov. 2015)

O texto se refere a uma escola literária brasileira, denominada ________, que tem as
seguintes características _____________.
a) Arcadismo – regido pelas filosofias do cultismo e do conceptismo. Cultismo é o jogo de
palavras, o uso culto da língua, predominando inversões sintáticas. Conceptismo são os jogos
de raciocínio e de retórica que visam a melhor explicar o conflito dos opostos.
b) Realismo – tem por temática assuntos que tratam da exaltação da beleza natural e consideram
a existência humana como constante e paulatino morrer.
c) Modernismo – expressa conflito existencial gerado pelo dilema do homem dividido entre o
prazer pagão e a fé religiosa; há detalhismo e rebuscamento, ou seja, extravagância e exagero
nos detalhes.
d) Barroco – linguagem rebuscada e trabalhada ao extremo; uso de muitos recursos estilísticos,
como figuras de linguagem, hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos, para melhor expressar
a comparação entre o prazer passageiro da vida e a vida eterna.
e) Naturalismo – homem dividido entre o desejo de aproveitar a vida e o de garantir um lugar no
céu; há contradição de sentimentos, em que é comum a ideia de opostos: bem X mal, pecado X
perdão, homem X Deus.
Comentários
Questão de preencher lacunas/conhecimento sobre movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. O Arcadismo não buscava propagar a religião através de uma arte
de impacto. Além disso, o cultismo e o conceptismo são correntes pertencentes ao Barroco, e
não ao Arcadismo.
Alternativa B: incorreta. O Realismo não tem por temática a exaltação das belezas
naturais. O movimento ocorreu no século XIX, tempos após a Contrarreforma.
Alternativa C: incorreta. O Modernismo não tem por tema central o prazer pagão e a fé
religiosa. Além disso, o movimento é do século XX, enquanto a Contrarreforma ocorreu somente
entre os séculos XVI e XVII.
Alternativa D: correta – gabarito. O Barroco surge a partir da empreitada da Igreja Católica
de barrar o avanço do Protestantismo. Tem por características as antíteses e a temática do
homem cindido entre polos opostos: prazer e disciplina, céu e inferno, vida e morte.
Alternativa E: incorreta. O Naturalismo não apresenta as características descritas na
alternativa. O movimento defende que as condições sociais, aliada ao fator de raça, determina o
comportamento humano. O movimento ocorreu no século XIX, tempos após a Contrarreforma.
Gabarito: D.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 147


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira. Gramática – texto: análise e construção
de sentido. São Paulo: Moderna, 2006.
ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Trad. Jaime Bruna. São Paulo:
Cultrix, 2014.
AUERBACH, Erich. Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental. 6. ed. São
Paulo: Perspectiva, 2015.
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Dantas, Vinicius (Orgs.). Textos de
intervenção. São Paulo: Duas cidades; Editora 34, 2002.
CEREJA; William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. 4. ed. São
Paulo: Atual, 2004 (v. 1).
______. Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos.
São Paulo: Atual, 2005.
CHIAPPINI, Ligia. O foco narrativo. 10. ed. São Paulo: Ática, Digital source. Disponível em:
https://tinyurl.com/y5vcupmk. Acesso em: 06 set. 2020.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro
Enigma, 2012 (Coleção Agenda Brasileira).
GOMES, Dias. O bem-amado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
DIAS, Gonçalves. Canção do Tamoio. Disponível em: https://tinyurl.com/yxuzvedn. Acesso em:
06 set. 2020.
DICIONÁRIO Aulete Digital. Disponível em: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 05 set. 2020.
DICIONÁRIO eletrônico Houaiss. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
ESCRITAS.ORG. Disponível em: https://www.escritas.org/pt. Acesso em: 06 set. 2020.
FIORIN, Luiz José; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 13. ed.
São Paulo: Ática, 1996.
LUKÁCS, György. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da
grande épica. 2. ed. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Duas Cidades; Editora
24, 2009.
MOISÉS, Massaud. Guia prático de análise literária. São Paulo: Cultrix, 1974.
______. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.
NORMA CULTA. Classificação de rimas. Disponível em: https://tinyurl.com/yxjl56xt. Acesso
em: 06 set. 2020.
ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? Trad. Carlos Felipe Moisés. Petrópolis: Vozes, 2019.
TAVARES, Hênio. Teoria literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.
TODA MATÉRIA. Estrofe. Disponível em: https://tinyurl.com/y3gg5kkw. Acesso em: 06 set.
2020.
TOLSTÓI, Liév. Anna Kariênina. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
UNICAMP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Comvest amplia em uma hora o
tempo de prova na primeira fase do Vestibular Unicamp. Disponível em:
https://tinyurl.com/46nn6a8r. Acesso em: 08 nov. 2021.
UNICAMP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Logotipo. Disponível em:
https://www.unicamp.br/unicamp/logotipo. Acesso em: 08 nov. 2021.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 148


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA

10.1. REFERÊNCIAS DAS IMAGENS DO QUADRO DOS


MOVIMENTOS LITERÁRIOS
ARTE BIZANTINA. Imagem bizantina de Cristo. Disponível em: https://tinyurl.com/v6zex2f.
Acesso em: 3 jun. 2019.
ARTE DO RENASCIMENTO. David de Michelangelo. Disponível em: https://tinyurl.com/rhnoejq.
Acesso em: 3 jun. 2019.
ARTE DO BARROCO. Aleijadinho. Disponível em: https://tinyurl.com/s8exrds. Acesso em: 3 jun.
2019.
ARTE DO ARCADISMO. Pastoral de Outono de Francois Boucher. Disponível em:
https://tinyurl.com/uqpeno8. Acessado em: 3 jun. 2019.
ARTE DO ROMANTISMO. Viajante sobre o mar de névoa de Caspar David Friedrich. Disponível
em: https://tinyurl.com/qbnh9a9. Acesso em: 3 jun. 2019.
ARTE DO REALISMO. O trem de terceira classe de Daumier. disponível em
https://tinyurl.com/s8j78b5. Acesso em: 3 jun. 2019.
ARTE DO MODERNISMO. Tempos modernos de Charles Chaplin. Disponível em:
https://tinyurl.com/vfjv9b2. Acesso em: 3 jun. 2019.

AULA 0 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 149


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11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas.


Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade
exigidas, assim como podem me encontrar em redes sociais. E agora também temos Sala VIP.

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora @profa.luana.signorel


Luana Signorelli li

Luana Signorelli @luanasignorelli1

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