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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

OBRA LITERÁRIA

UFRGS
2022
Exasiu
Deixe o quarto como está, de
Amílcar Bettega

Exasi
Análise literária do livro de contos indicado para a prova de
vestibular

u
Prof. Marina Ferreira

DEIXE O QUARTO COMO ESTÁ, DE AMILCAR BETTEGA 1


vestibulares.estrategia.com
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3

1. LITERATURA CONTEMPORÂNEA 4

1.1 A Literatura Fantástica e sua relação com o "nonsense" 5

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBRA 7

2.1. Sobre o autor 8

3. SÍNTESE DOS CONTOS 9

5. QUESTÕES INÉDITAS 15

5.1. GABARITO 20

6. QUESTÕES INÉDITAS RESOLVIDAS E COMENTADAS 21

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 27

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Introdução

Olá, gente bonita! Como vocês estão?

Eu sou a Marina Ferreira, professora de Português, Literaturas e Redação aqui do


Estratégia vestibulares. Antes de começar, vou contar um pouco para vocês sobre mim. Sou
formada em Letras com habilitação em Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), durante minha formação, especializei-me em Análise do Discurso e Semiótica, Sintaxe
e Poesia Portuguesa. Trabalho com educação há mais de uma década e sou apaixonada pelo
mundo dos vestibulares e por todos os desafios que esse universo nos proporciona. Sou mãe de
pet e de planta, amo música e instrumentos musicais, me interesso muito por Arquitetura e
Automobilismo e vejo Poesia em todas as coisas. Adoro escrever e acredito que essa é uma
ferramenta fundamental para organizar nossas ideias. Sou do Rio de Janeiro e sempre que você
me vir em alguma aula será fácil de notar isso, porque costumam dizer que tenho muito sotaque
carioca. Amo ser professora, compartilhar conhecimento e aprender tanto com vocês! Espero
que este livro os ajude a conquistar seus objetivos e seja um importante instrumento em seus
planejamentos de estudo.

Vamos juntos? Será incrível! 😊

Neste livro digital, vamos estudar a obra de Amílcar Bettega, o livro de contos Deixe o
quarto como está. O autor trata-se de um contista superimportante para a Literatura
Contemporânea e que possui um estilo marcado por traduzir em seus textos uma série de
sensações e reflexões no leitor. Essa obra literária será cobrada em seu vestibular, por isso,
preparei algumas questões inéditas para que você esteja treinado. Além disso, realizei uma
síntese dos contos a fim de facilitar a leitura e reforçar os pontos-chave que podem aparecer em
futuras cobranças. Espero que você curta muito este livro, cuja preparação se deu com muito
carinho, eu realmente amei ler e analisar criticamente um livro tão rico. Foco na missão, vamos
juntinhos para evoluir ainda mais nossos conhecimentos literários, gente bonita!

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1. Literatura Contemporânea

No começo deste livro, achei válido mencionar o que é a Literatura contemporânea e como
a obra de Bettega se filia a esse estilo, a fim de trazer algumas reflexões comuns a esse tipo de
escrita. Em primeiro lugar, a Literatura contemporânea, diferentemente de outros estilos de
época, não possui um conjunto de características específicas, até mesmo porque sua ocorrência
está em andamento, por isso, é mais difícil identificar quais são as características que mais se
associam a essa escrita. Apesar disso, podemos perceber alguns pontos que, já desde o início
do século XXI, começam a delinear como essa forma de escrita se estabelece.

O aspecto inicial que pretendo destacara trata-se do contexto histórico, definimos


Literatura contemporânea o que se passa no pós Segunda Guerra Mundial e isso é bastante
significativo. Muitas foram as transformações no mundo após esse tempo, tanto de ordem
objetiva, como a aceleração do tempo, graças as dinâmicas tecnológicas, quanto de ordem
subjetiva, como a sensação de efemeridade das coisas e de aumento do medo, da violência, da
solidão, etc. Nesse sentido, o universo digital, ao implementar uma série de mudanças na vida
das pessoas, para a incorporar um mundo novo, no qual vale a velocidade, o movimento, o
excesso.

Diante disso, a conclusão básica de que o mundo está completamente novo e diferente
provoca a arte e suas manifestações passam a ser inscritas sob nova forma. Assim sendo, novas
tendências de escrita manifestam-se na literatura e ainda observamos como elas se dão, uma
vez que o tempo da Literatura contemporânea ainda está correndo. Cito aqui algumas das
principais características dessa estética, frisando que ainda há outras a serem anexadas com o
passar do tempo:

- Experimentalismo formal: inovações na linguagem e incorporação do estilo de cada autor


e de cada gênero, atenção às tendências de escrita do digital.

- Profunda sensação de urgência com o tempo presente: escrita que fala menos sobre
distopias e mais sobre o tempo de agora e suas demandas.

- Análise reflexiva do mundo e de seus temas: um olhar mais apurado para a


individualidade, percebendo os vieses emocionais que afetam as relações do sujeito consigo e
com o mundo ao seu redor.

- Temas do cotidiano: enredos que não apresentam temas mirabolantes ou heroicos, mas
que abordam o dia a dia das pessoas, de forma simples.

- Tom metalinguístico: a necessidade de tocar no estilo e no gênero em que se escreve e


como se escreve.

- Engajamento social: em um movimento de dar voz ao excluído e colocá-lo em lugar de


protagonismo. Atenção ao fato de a literatura feminina crescer bastante a esse tempo.

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- Textos concisos e curtos: gêneros como o conto, crônica, poesia-pílula destacam-se por
estarem em acordo com a velocidade dos dias de hoje.

Não se limitando a apenas essas características, mas absorvendo outras mais, a


Literatura contemporânea compreende outros fenômenos no Brasil como: Concretismo, Poesia
Marginal, Poema processo entre outros que se estabelecem de modo a realizar rupturas com a
tradição e inaugurar estilos diferenciados.

Em se tratando a obra de Amílcar Bettega, observamos que há essa valorização do


cotidiano simples, mas muito afetado pelos fenômenos da contemporaneidade, isto é, pelo
cansaço, pela depressão, pela aceleração, por todos esses aspetos que tocam o dia a dia do
indivíduo, os quais passam a ser trazidos nos contos referenciados e transmitem uma profunda
sensação de urgência e, ao mesmo tempo, de imobilidade absorvidos pelo cotidiano pós-
moderno.

Além disso, por se tratar de uma coletânea de contos, identificamos também o gosto por
esse gênero que é em si o gênero contemporâneo predileto por sua flexibilidade, curta extensão
e clímax único. Outro ponto que vale a análise é pensar sobre a proximidade e a distância com
a realidade. Apesar de serem, a rigor, paradoxos, investigamos que os contos sucedem-se
apelando para o nonsense, com certa ruptura com a realidade algumas vezes, mas, ainda assim,
sem se distanciar das demandas que giram em torno da contemporaneidade. Exemplo disso é
no conto “A cura”, em que não se sabe exatamente qual vírus infecta o grupo e faz que corpos
sejam jogados em saguões, mas se sabe que esse vírus é principalmente provocador de
cansaço. Bem como afirma Byung-Chul Han, filósofo de origem coreana, em seu ensaio sobre a
sociedade do cansaço, “O cansaço da sociedade do desempenho é um cansaço solitário, que
atua individualizando e isolando.”. Nesse contexto, apesar do enredo apelar para aspectos
fantásticos, os desdobramentos disso na sensação de mundo dos sujeitos acabam sendo
atravessados pelos temas contemporâneos.

Seguindo essas ideias, creio que seja importante também mencionar como esse tipo de
literatura nonsense/fantástica se direciona na produção de Bettega. Vamos a isso!

1.1 A Literatura Fantástica e sua relação com o "nonsense"


Quando se fala em Fantástica qual é a primeira coisa que passa por sua cabeça? Eu
imagino que seja uma história mirabolante, com personagens detentores de superpoderes e um
espaço diferente do mundo habitua, certo? Bem, não é somente isso. Começa assim. A Literatura
fantástica começa como uma ruptura aos padrões da idade média que impunham o universo de
forma linear ao indivíduos, em que pese o profundo poder e a influência da igreja sobre os
pensamentos alheios. Porém, depois disso, pensando no mundo contemporâneo, esse tipo de
escrita ganha um novo lugar, já que deixam de ser histórias essencialmente épicas ou
mitológicas e passam a ser histórias que inserem o inusitado, o absurdo.

Há quem afirme que o principal combustível da literatura fantástica é o próprio cotidiano


acelerado, confuso e em desconcerto. O caos e a aceleração da vida cotidiana são os
combustíveis perfeitos para a narrativa fantástica contemporânea visto que introduzem uma linha
tênue entre o que é fantástico e o que é real. Pense, por exemplo, em “Blackmirror”, sim, a série

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da Netflix que acabou virando adjetivo. A gente vê uma invenção tecnológica bizarra e diz: -
Nossa, isso é muito blackmirror!. Algo que parecia impossível como a Inteligência Artificial
conduz nossos dias e a gente é atravessado por um universo que passa a ser impossível de
mensurar e impossível de não ocasionar em nós também uma série de confusões.

Nesse viés, a Literatura fantástica contém o nonsense, o absurdo, não necessariamente


tendo que fazer ponte com o sobrenatural, essa escrita propõe situações que fogem à lógica
comum, que desajustam o olhar que vinha comumente sendo direcionado ao longo da narrativa.
O absurdo interrompe o fluxo das coisas e dá ao inesperado um lugar que nos divide – essa
história é afinal plausível? Real? Lógica? Trata-se de um sonho?

São esses questionamentos que passam pela cabeça do leitor, por exemplo, quando ele
lê o conto “Hereditário” em que você se pergunta constantemente se aquela “geleia” que está na
mão do narrador-personagem de fato existe ou é uma grande metáfora.

Com isso, é fundamental destacar que a literatura nonsense configura-se na obra de


Bettega como aquilo que desarticula nosso olhar linear e nos faz terminar de ler um conto se
perguntando o que aconteceu. Essa inadequação provocada no leitor é um grande efeito desse
gênero contemporâneo.

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2. Características Gerais da Obra

Agora que já conseguimos descrever um pouco mais sobre o estilo de escrita e o gênero
do absurdo, vamos pensar nas características comuns que compõem a obra Deixe o quarto como
está.

O primeiro ponto a destacar é a filiação da obra a isso que chamamos de Fantástico


Contemporâneo. Alguns contos não buscam uma verossimilhança exata com o cotidiano, mas
também não anulam o efeito disso na individualidade das personagens. Saliento também que se
trata de uma escrita que denuncia com contundência a maneira como se sentem aqueles que
são afetados pelas urgência de hoje – sentem-se cansados, imóveis, frustrados, depressivos.
Uma série de sentimentos negativos são trazidos ao tratar do cotidiano dos personagens e isso
se conecta a uma crítica reflexiva sobre nossos tempos. Tempos esses de resignação, como
afirma a epígrafe do livro:

“Deixe o quarto como está. Agora, está tudo pronto. Estamos prontos. Quer ir?” Raymond
Carver, Três Rosas Amarelas

O emblemático título revela que os personagens dos contos não tem muito para onde
fugir, aquela é a sua vida e a liberdade não é necessariamente uma opção. O conto “Exílio”
esclarece para nós essa tese, quando o personagem simplesmente não consegue sair da sua
rotina e volta, mesmo após ter demonstrado o quanto aquela resignação era negativa. O
personagem simplesmente decide voltar para sua rotina extenuante para deixar as coisas como
estão.

Nessa dimensão, os pontos centrais de crítica da obra são também traduzidos fora da
ficção. Como já havia afirmado antes, não só Byung-Chul Han, mas Zygmunt Bauman elabora o
conceito de liquidez pensando nos tempos atuais e em seus efeitos sobre o indivíduo. Na tese
da liquidez da modernidade, o autor defende que a era moderna apresenta-se em um estágio de
liquidez, no qual os indivíduos não se fixam no espaço ou no tempo. Para ele, é como se todos
estivessem lutando contra o tempo todavia sem saber exatamente para onde se está
caminhando, já que não há uma raiz, tudo parece mudar constantemente e essa sensação de
velocidade contínua e de esvaecimento das coisas torna também as relações líquidas.

Nesses enquadramentos sociológicos, a ficção ressalta outros pontos por meio do cenário
narrativo. Como no conto “Correria” em que o personagem permanece correndo sem que isso
sequer tenha realmente sido um desejo, ele responde ao mundo que lhe foi dado naquele
instante, corre porque tudo à sua volta lhe dizia para correr. Diante desse cenário, a ficção
extrapola os limites da realidade e nos outorga uma dinâmica de imposição, resignação e
cansaço, como sentem todos os personagens dos contos.

A intenção neste momento é demonstrar para você, coruja, que a obra contemporânea de
Amílcar Bettega está inteiramente conectada aos fatos cotidianos que nós sentimos e os
personagens vivenciam experiências que tocam o absurdo para demonstrar que o mundo em
que se está inserido também é absurdo, desconcertante e caótico. Na próxima seção, vou

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sintetizar os tópicos centrais dos contos e elaborar com você, de forma resumida, aquilo que
provavelmente será cobrado em seu vestibular. Porém, antes, vamos conhecer um pouco mais
sobre nosso autor.

2.1. Sobre o autor


Amilcar Bettega é um escrito gaúcho, nascido em 1964. O autor é engenheiro civil por
formação e depois enveredou para a Literatura, tornando-se mestre. Seus livros são premiados
nacional e internacionalmente e ele já participou de programas de escrita nos EUA. De escrita
intuitiva, forte e concisa, o autor, em entrevista, define:

“(...) eu acho que a literatura não é “sobre” alguma coisa. Não acho que os livros
são sobre alguma coisa. (...) Acho que no momento em que a literatura vai ser “sobre”
alguma coisa ela deixa um pouco de ser literatura e parte para uma ideia mais de tese. E
não de tese acadêmica, mas se eu vou escrever “sobre alguma coisa” é porque eu sei, é
porque eu tenho alguma coisa a dizer sobre aquilo. Eu sei, eu domino o assunto, eu
conheço o tema e aí eu vou escrever sobre para tentar levar essa informação às outras
pessoas. E eu acho que a literatura não funciona assim. Pelo menos aquela que me agrada
e que eu faço, que me provoca escrever.”

(Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/tag/deixe-o-quarto-como-esta/?print=print-search Acesso


em 10 de janeiro de 2023)

Essa visão é compartilhada pela obra que lemos, pois ela se dá como provocativa,
inesperada e interessantíssima.

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3. Síntese dos Contos

Agora é o momento de trazer uma visão mais particular sobre os contos, comentando
seus pontos altos e lhe dando uma espécie de conhecimento geral sobre cada um deles. A leitura
dessa síntese te ajudará a pensar mais profundamente no que não se pode negligenciar, mas é
fundamental que você também faça suas observações individuais e retire do texto uma
interpretação pessoal. Vamos lá!

1) Autorretrato
Trata-se do primeiro conto do livro, julgo que esse é um belo conto inaugural porque já
provoca as sensações que vamos experimentar ao longo da obra. O início se dá com uma
descrição acentuada, em uma espécie de tom cinematográfico, o autor chega a comentar esse
efeito de imagem, veja:

“Nesse conto, o narrador é como se fosse uma câmera mesmo. Até ele está em uma
posição de cima [como um plongée]. Mas, como te disse antes, essa relação com a imagem é
fundamental, primordial. É a origem dos meus textos. Eu não sou um grande conhecedor nem
de cinema nem de fotografia, sou mais um admirador.”
(Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/tag/deixe-o-quarto-como-esta/?print=print-search Acesso em
10 de janeiro de 2023)

O conto traz um narrador em terceira pessoa, o que se diferencia da maioria dos outros
contos. Os personagens são a gorda, o homem cachorro e os meninos que tentam invadir a
casa. A gorda é colocada como uma figura impassível, e o homem cachorro como um serviçal,
pronto a cumprir ordens. Os meninos decidem invadir a casa pulando o muro. A gorda dá ordem
para que o homem-cachorro os capture. O homem está sedento pela violência. A gorda não
permite que ele exagere na dose. O homem-cachorro bate nos meninos e depois os deixa ir. Ao
final, ele extrapola a violência que sente batendo em um saco de areia. A gorda parece
permanecer apática a tudo, exceto por uma semilágrima ao olhar para os meninos. A narração
dá o tom de secura, imobilidade e deixa entrever a violência sutil e em suspenso, no final do
conto repete-se "e bate, e bate, bate, bate”. Acho interessante que o título seja Autorretrato,
porque parece que as violências do mundo contemporâneo estão tão suprimidas quanto a do
personagem homem-cão e parece que nós mesmos estamos tão inertes quanto a gorda, que
sequer consegue demonstrar de fato o que sente.

2) Exílio
Esse conto é, sem dúvidas, a maior quebra de expectativa do livro. Temos um narrador-
personagem e poucos personagens, na verdade, nenhum personagem essencialmente
relevante, o que fortalece a solidão do narrador. Começa-se com uma decisão. Ele possui uma
loja que vende não se sabe o quê. A cidade é como um marasmo e a loja não possui o fluxo de
pessoas esperado. Em uma parte, a questão sinestésica me chama a atenção, ele afirma que
há “Um silêncio sólido e branco da cor do nada”. O homem decide fechar a loja, após demonstrar
que o ponto alto do seu dia era enxotar cachorros/crianças. Tem uma das frases bonitas e
simbólicas quando ele tenta fugir, na qual se diz:

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“Deixei a cidade de noite, porque é de noite que se deve deixar uma cidade. E a deixei de
trem, porque também é essa a melhor forma de fazê-lo.”. Bonito isso, né?

Mas é pura mentira! Ele sai e vê a cidade se esvaindo de seus olhos, de repente decide:
vou voltar para abrir a loja. Nós, leitores, estamos superanimados pensando no novo destino que
esse personagem vai traçar, mas não... Ele simplesmente volta. E diz que não foi desistência
tampouco resignação. Ele simplesmente responder ao seu chamado e volta para abrir a loja.

A sensação que tenho lendo esse conto é parecida com a de tantos trabalhadores
cansados, que às vezes insinuam medidas drásticas – vou mudar de cidade! De emprego! Não
aguento mais o patrão! O cansaço!, de repente, no dia seguinte, voltam as suas rotinas, será que
realmente não é por resignação? Parece que não somos essencialmente livres, e nossa rotina
passa a ser nossa vilã e nossa heroína.

3) Aprendizado
Esse conto aqui apresenta um homem que passa por uma sucessão de coisas negativas,
mas que parece não estar absorvendo tudo que se passa com ele. Ao ler, parecia que o narrador-
personagem estava em tamanha negação que mais dá para definir como uma defesa para que
não lhe sobreviesse a temeridade dos fatos. Ele seria demitido, quase não tinha o que comer,
devia dinheiro no bar, sua mãe estava prestes a morrer, todas as coisas ruins acontecendo com
ele. E ele extrapola como se sente quando diz:

“Uma vida contínua, permanentemente acordado, embora as coisas passem por mim
como num sonho, como se um filme infinito estivesse sempre acontecendo à minha volta, um
filme do qual sou ao mesmo tempo personagem e espectador.”

Doideira, né? Mas é o que o conto evidencia, ele absorto do mundo. Sem saber como
reagir. Esse é um conto sobre a imobilidade da vida contemporânea. A mãe do personagem
morre e ele se dá conta de que a vida está passando por ele, metaforicamente atravessando-o
e ele simplesmente não consegue aprender, ou podemos dizer “apreender”. O sentido é que ele
não absorve, está em um estágio de apatia, compartilhado por tantos nos dias pós-modernos.

4) Insistência
A gente definitivamente não consegue entender o lugar onde se passa esse conto e isso
é agonizante. Pelo menos para mim, fica a sensação horrível na qual me repetia: - Meu Deus,
mas que inferno de lugar é esse? Risos!

Fato é que o narrador-personagem começa dizendo que não entende o que motiva os
caras a irem para esse lugar sabendo que eles serão agredidos. E ele decide não ir junto dos
caras? Não, ele se resigna e vai, pela força do coletivo, ele simplesmente vai a esse lugar mesmo
com todas as críticas conscientes que elabora sobre o porquê de não ir, ele vai. Há tentativas de
convencer os caras a irem sozinhos, porque assim conseguiriam permanecer lá, mas esse não
é um conto sobre a força do indivíduo, mas sobre como a gente se coloca em situações adversas
simplesmente porque todos estão nelas. E vamos a esse lugar. Sem saber exatamente qual é.

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Até que pensamos estar confortáveis nesse lugar e não estamos. Temos, assim como o
personagem, que dar um jeito de permanecer lá e voltamos para o absurdo. Voltamos a fazer
força para estar onde nem sabemos exatamente onde é.

É uma metonímia, para mim, do sucesso. O que é o sucesso nos tempos atuais? Um
coletivo te empurrando e te dizendo: - Vá por esse caminho! Vamos!. E você indo, sem nem
entender por quê.

5) Hereditário
O conto começa com uma verdade: “Meu pai morreu triste.” Que coisa difícil de dizer! Mas
o narrador-personagem diz que há uma herança, seu pai lhe deixou uma espécie de geleia. De
repente, ele se vê agarrado à geleia. O narrador-personagem afirma: “Agora que a recebi, não
consigo me separar dela. Não, não é “força de expressão”, como dizem. A geleia, de fato, não
larga mais minhas mãos.”. Doideira, né? O personagem, aos poucos, tenta naturalizar isso, mas
ao final não consegue. Tranca-se no quarto e vive o momento de solidão. Depois ele resolve
banalizar a geleia e lidar com isso, mostrando às pessoas, até que se dá conta de que elas não
viam a geleia em suas mãos. Apenas ele a via e a sentia. E aquilo o conectava ao seu pai, fazia
que ele passasse a pensar mais no pai. Ele absorveu a geleia do pai e isso lhe ocasiona dor.
Como ele afirma, “uma dor morna por dentro”. Até que ele se resigna e direciona isso à geleia.
Não há o que fazer.

Um ponto que esse conto ressalta é que essa tristeza e inadequação de pai e filho
parecem ser principalmente motivadas sobre aquilo que não se fala. Aquilo que se sente e que
ninguém vê ou entende. É um profundo mergulho psicológico!

6) O crocodilo I
Quando eu comecei a ler esse conto, pensei muito em Kafka. No livro Metamorfose
especialmente, um homem que se transforma em barata. Aqui é diferente. O narrador-
personagem relata que um crocodilo entrou em seu quarto. E sorriu para ele. Ele, que já imagina
que enlouqueceria, lidou com isso sem questionar. A cara do nonsense, não é mesmo?

Fato é que o crocodilo passou a ser a companhia deste homem até que um dia se
incorporou fisicamente a ele, grudou nas costas do personagem e não saiu mais. O crocodilo
estava colado a ele. E lhe dizia uma frase “Tem razão!”. Eu acho uma baita ironia dizer para um
louco – tem razão. O homem é despejado e sai pela rua com seu crocodilo nas costas. Em um
encontro, outro personagem lhe diz que o pai dele tinha um macaco nas costas. A partir daí, tudo
muda. O homem começa a ver que muitos homens e muitas mulheres andavam por aí com
animais nas costas.

Essa pode ser uma metáfora para uma série de coisas, é um conto profundo e denso.
Principalmente se a gente pensar nos animais em si. A única atenção que chamo é para o
crocodilo que diz “tem razão”, como uma espécie de necessidade de afirmação que tantas vezes
temos.

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7) A cura
O livro que estamos lendo foi escrito em 2002. Este conto, ao falar de vírus, naturalmente
nos traz a lembrança da pandemia de Coronavírus. Mas diferentemente do que passamos há
pouco, esse é um tipo de vírus em que não se sabe exatamente o sintoma, exceto pelo cansaço.
Um cansaço extremo, que faz as pessoas padecerem. A narrativa apresenta alguns aspectos
simbólicos bem bonitos, como a imagem do rio e do barco. O narrador-personagem que foi
infectado exalta a abnegação dos médicos que tentam achar a cura para o vírus, mesmo que
sem sucesso.

Esse conto mexe com a noção de esperança, o narrador parece realmente acreditar que
a cura virá, embora ela sequer apareça. Ao dizer sobre cura, ele passa a trazer aspectos
transcendentais e a narrar como um fluxo de consciência aquilo que está ao seu redor. É uma
parte muito bonita do conto e que traz um quê de poesia para o texto.

8) O crocodilo II
A relação familiar é mais uma vez exposta nesse conto, o pai, que possui um crocodilo
nas costas, vê crescer também no filho esse animal. O conto O crocodilo II me dá a impressão
de que esse animal pode ser uma metáfora para a experiência. Alguém que carrega uma
bagagem e que isso lhe impõe um modo diferente de enxergar o mundo.

Acho interessante que, nesse conto, diferentemente de “Hereditário”, a relação pai e filho
é mais próxima, mais afim. Talvez por uma dimensão de aproximação com a morte? Talvez. Na
verdade, analiso o conto como uma tentativa de superar a ideia do anterior de que essa
inadequação poderia representar uma espécie de solidão. Não é assim. Na verdade, o pai se
aproxima do filho para ensiná-lo e, com isso, demonstrar que todos carregam algo que nem
sempre estão vendo, mas que precisa ser compreendido pelos demais.

9) O rosto
Tipicamente inserido na narrativa fantástica, aqui o rosto ganha uma dimensão que
realmente aponta para o sobrenatural. O narrador-personagem descobre um rosto na casa que
o persegue. Torna-se até engraçado ver as tentativas dele e alcançar o rosto. Até que, de
repente, o personagem consegue prendê-lo em uma gaiola. Ele começa a observar o rosto com
familiaridade, com até mesmo uma admiração ao vê-lo bebendo leite. O rosto consegue enganar
o personagem e foge da gaiola. Em uma espécie de simbiose, ao final do conto, a gente já não
sabe se o rosto refletido e preso é o do narrador ou o rosto que se perdeu.

Esse é um conto difícil, com nuances de nonsense muito fortes e que precisaria de uma
análise mais contida para chegarmos a algumas conclusões mais sólidas. O que penso nesse
início é que se trata de cansaço, tristeza e frustração. O personagem não vê saída e acaba preso,
como em um ciclo. Tanto ele quanto o rosto. Em uma busca por si, a individualidade humana
também pode estar presa, sem entender aquilo que persegue.

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10) A visita
O narrador-personagem chega à casa da Duquesa e é tudo muito estranho. Não dá para
entender com que objetivo ele vai até a casa, a única coisa que sabemos é que o irmão do
narrador já esteve nesse local antes. Alguns personagens o recebem: a filha da Duquesa, o
pianista e o capitão. A Duquesa começa a apresentar a casa para o rapaz e a gente começa a
perceber os elementos fantásticos. Um quarto se abre e lá está ocorrendo uma festa. As pessoas
da festa desaparecem. Outros lugares começam a aparecem. A sensação é que a casa é infinita
e que ela se divide em vários espaços difusos entre si. Uma sala de ginástica é aberta e há
homens malhando nus. Na cozinha, abre-se um lugar sórdido. Nesse momento, há uma
aproximação do narrador com uma das personagens, que parece estar lhe pedindo socorro.
Essa cena se corta e o homem é levado a uma espécie de arena, onde ele começa a agredir
violentamente ao rapaz que estava sendo feito de bode expiatório.

Esse conto é uma sucessão de elementos fantásticos, a casa é absurda, se abre e se


movimenta em espaços diferentes. O conto chama atenção pela violência exacerbada que se
dá, quase como um efeito de todos os elementos “nonsense” que se instalaram e não foram
completamente absorvidos.

11) O encontro
Um casal chega à noite em uma pensão para um encontro. Não há especificações. Não
se sabe com quem é o encontro ou sobre o que ele vai tratar. A cidade parece um certo labirinto,
em que nada está mudando em si. A mulher disse não ter gostado da cidade. Certa vez, o casal
entra num café para escapar da chuva e encontram uma mulher que lhes diz ser capaz de
adiantar o encontro. A cidade é fria e chuvosa. Eles se deparam, em algum momento, com
muralhas que parecem abrir outro espaço, onde se fazia calor, onde era verão. Com o passar
dos dias, a cidade parece estar esvaziando. A casa onde o casal se hospedara sumiu. O casal
se afasta e acabam, de forma solitária, com os rostos unidos à muralha e sem executar o tal
encontro.

Esse conto aborda frustração e esvaziamento. Duas sensações comuns ao mundo


contemporâneo. Acho interessante pensar que o encontro não é definido para nós. E ao final do
conto essa própria ideia se perde.

12) Correria
Este é o conto com linguagem coloquial, repleto de palavrões e penso que isso se
estabelece pela intenção de simular como seria esse ambiente de prática esportiva. Um rapaz
está correndo e é incentivado pelas pessoas à sua volta a continuar correndo, sem parar, sem
questionar, simplesmente continuar correndo. O narrador-personagem corre efusivamente.

Ele sente raiva, vontade de desistir, dor. Porém continua correndo. Ele é agredido e
continua correndo. Correndo sem direção. Só não parando de correr.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

Tenho a impressão de uma roda onde hamster corre. E a metáfora é clara: nós corremos
a correria do dia a dia, xingando, doendo, mas sempre correndo. Para mim, esse é um conto
sobre velocidade e dinamismo do tempo moderno. Também sobre a força que o coletivo faz
nessa corrida insólita.

13) Espera
Os elementos oníricos deste conto são surpreendentes. Até o final, não sabemos dizer se
a mulher de fato existe ou se ela é um sonho. O narrador-personagem ouve a canção de uma
mulher e desenha eroticamente essa cena. Em um momento, ele diz: “Tem vezes que acho que
sou só um pensamento”, as coisas são fluidas e móveis nesse conto. Ele aguarda a presença
da mulher antes de dormir. Sonha com ela. Nada parece real.

Esse é um conto muito poético e que demonstra a visão da mulher amada em distância,
como alguém que foge e escapa constantemente.

14) Para salvar Beth


O narrador em terceira pessoa apresenta um homem com uma função relativamente
simples: levar a cadela Beth ao petshop para seguir com um tratamento. O que a gente não
espera é a sensibilidade que vai ser despertada no homem após o convívio com a cadela.

O protagonista Gilberto é casado com Soninha e eles estão em uma situação difícil
financeiramente. Até que ele recebe a proposta de um trabalho. Enquanto uma família viaja, ele
levará a cachorrinha para seguir um tratamento. Ele, que não era apegado a bichos, começa a
se identificar com o animalzinho e a se familiarizar com o ambiente do petshop.

Certo dia, sua mulher decide acompanha-lo no trabalho e acha absurdamente estranho
que o marido espere em uma sala que era própria para cachorros. Eles brincam naquele espaço.
Gilberto realmente se afeiçoa à Beth e, de repente, é surpreendido pelo fato de que a cadela
deverá ficar internada. A família agradece pelos serviços de Gilberto e diz que ele não deve se
preocupar mais com a cachorrinha, pois ela estaria em boas mãos.

O homem não consegue se desvencilhar e decide, de madrugada, ir até Beth. A cena final
é muito tocante e sensível. O homem não consegue contato com ninguém no petshop e fica,
como faria um cachorro, aguardando sua amiga Beth e roçando a mão na porta para pedir
socorro.

Essa mudança na relação dos dois me tocou muito. Principalmente me tocou que o
homem começasse a se comportar como cachorro, um tanto desajustado e estranho, mas leal e
amoroso. Acho que esse é um conto de encerramento muito bonito e que demonstra que nossa
humanidade, por vezes perdida, pode ser recuperada em relações inimagináveis.

Bem, agora é hora de testarmos nossos conhecimentos! Vamos às questões!

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

5. Questões Inéditas
1. Considere as seguintes afirmações sobre os contos da obra Deixe o quarto como
está, de Amílcar Bettega.

I – O conto “Autorretrato” traz uma descrição minuciosa sobre a casa, em uma espécie
de fotografia mental, em que o narrador consegue reproduzir os planos de imagem
para o leitor.

II – Os sentimentos das personagens ao longo do livro simulam uma contradição com


o mundo contemporâneo, já que são mais racionais.

III – O conto “Hereditário” demonstra a ausência de relação entre pai e filho, marcada
pela profunda rejeição do filho ao presente do pai.

Quais estão corretas?

a) Apenas a I

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a II e a III.

e) I, II e III.

2. Assinale a alternativa correta a respeito do livro Deixe o quarto como está, de


Amílcar Bettega.

a) Os personagens não apresentam conflitos emocionais e apenas respondem ao mundo


moderno como máquinas, sem sentir a realidade ao seu redor.

b) Os narradores são majoritariamente em terceira pessoa, pois isso facilita a visão mais
impessoal dos fatos que ocorrem.

c) Os contos possuem um fio que os conecta tematicamente, uma vez que todos eles versam
sobre a relação de consumo no mundo contemporâneo.

d) Os narradores são majoritariamente em primeira pessoa, o que evidencia uma perspectiva


que acentua a individualidade e o tom confessional.
e) A ausência de tempo cronológico nos contos favorece a dimensão do sem sentido.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

3. Um tema comum na obra de Amílcar Bettega pode ser identificado a partir da fala
do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Leia:

“A ideia de progresso foi transferida da ideia de melhoria partilhada para a de


sobrevivência do indivíduo. O progresso é pensado não mais a partir do contexto de
um desejo de corrida para a frente, mas em conexão com o esforço desesperado para
se manter na corrida.”

(Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevis-zygmunt-bauman/ Acesso em 10 de janeiro de 2023)

Assinale a alternativa que identifica o tema recorrente nos contos que se associa à
perspectiva do sociólogo.

a) A resignação frente aos obstáculos do mundo moderno.

b) A sociedade do cansaço que imerge em depressão.

c) O consumo exacerbado e as tendências aos padrões estéticos.

d) A competitividade extrema e a valorização do dinheiro.

e) O descompasso entre materialismo e existencialismo.

4. Considere o trecho do conto “Hereditário” do livro Deixe o quarto como está, de


Amílcar Bettega:

“Foi aí que comecei a pensar com mais força no meu pai. Naquelas vezes em que ele
tentou chamar a minha atenção para o assunto da geleia. Com pouca habilidade, lá
isso é um fato, mas agora eu via com clareza que aquela situação o incomodava
bastante. Não sei se ele tentou falar com outras pessoas, até pode ser que sim e é bem
provável que também não tenham dado bola para ele. Mas comigo ele podia ter
insistido mais. Hoje penso que ele tinha de ter insistido mais.”

Assinale a alternativa que justifica o fato de o filho ter desejado que o pai insistisse
sobre o assunto da geleia.

a) O rapaz acredita que conseguiria entender aquilo que o pai sentia.

b) O rapaz julga que o caso da geleia tinha explicações óbvias para suceder.
c) O rapaz afirma que ele seria capaz de retirar o sofrimento do pai.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

d) O rapaz avalia que o pai precisa de ajuda médica para aliviar o sofrimento.

e) O rapaz teria apatia à dor do pai.

5. Considere as informações abaixo sobre o livro de contos Deixe o quarto como está,
de Amílcar Bettega.

I – O título da obra não está relacionado ao tema de resignação desenvolvido ao longo


dos contos.

II – Os contos “Crocodilo I” e “Crocodilo II” apresentam uma relação de significação


próxima, já que a metáfora do animal sobre as costas permanece em ambos.

III – O conto “A cura” apresenta um desfecho surpreendente, pois justifica a esperança


sentida pelo narrador-personagem.
Quais estão corretas?

a) Apenas a I.

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a I e a II.

e) I, II e III.

6. Sobre o conto “A cura” do livro Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega,
considere as informações abaixo:

I – O título aparece como uma ironia ao texto, já que o anseio pela cura da doença não
é de fato realizado.

II – O vírus apresenta como sintoma o cansaço excessivo, que funciona como um tipo
de alegoria para o mundo contemporâneo.

III – Os médicos são vistos com descrença pelos personagens, que negam o valor da
ciência.

Quais estão corretas?

a) Apenas a I.
b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

d) Apenas a I e a II.

e) I, II e III.

7. Sobre o conto “Insistência” do livro Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega,
considere as informações abaixo:

I – O lugar mencionado ao longo do conto é descrito com precisão, de modo que é


possível identificar que se trata de um campo de futebol.

II – A força do coletivo apresenta-se ao propor uma relação direta com a ação de


insistência do personagem em fazer parte do grupo.

III – O conto critica a violência de maneira explícita e clara.

Quais são corretas?

a) Apenas a I.

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a I e a II.

e) I, II e III.

8. Considere o livro de contos Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega.


Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre a coletânea.

( ) Uma das características mais marcantes da obra é a constante espera a que os


personagens estão submetidos, trata-se de uma passividade, uma imobilidade na qual
se está inserido no mundo contemporâneo.

( ) A obra é marcada por acontecimentos sem sentido e que beiram o inusitado,


favorecendo sua filiação como literatura fantástica e nonsense.

( ) Os personagens dos contos costumam apresentar uma sensação de frustração


quanto ao espaço que os circunda.

( ) A coletânea se configura por textos que não possuem fios temáticos entre si.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – F

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

b) V – V – V – F

c) F – V – V – V

d) F – F – F – V

e) V – V – F – F

9. No conto “Aprendizado”, ironicamente, a última frase do texto diz “Tem coisas que
a gente não aprende nunca”. Essa ocorrência aponta um estilo literário que é
marcado por:

a) verossimilhança.

b) enredo fantasioso.

c) metáfora.
d) hipérbole.

e) ironia.

10. Considere o livro de contos Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega.

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre a coletânea.

( ) O livro é uma amostra que pode ser considerada realista, uma vez que aponta
os principais problemas enfrentados na contemporaneidade.

( ) Os personagens do livro apresentam um descompasso com a forma tal qual o


mundo se organiza, o que provoca o tom de denúncia e reflexão da obra.

( ) A linguagem também provoca a ruptura com a noção da realidade, já que apela


para o nonsense por meio do experimentalismo.

( ) Os aspectos levantados pela obra são de ordem subjetiva, pois apresentam um


mergulho psicológico na individualidade e nos sentimentos provados pela rotina
contemporânea.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – F

b) V – V – V – F

c) F – V – V – V

d) F – V – F – V
e) V – V – F – F

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

5.1. GABARITO
1) A

2) D

3) A

4) A

5) B

6) D

7) B

8) B

9) E

10) D

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

6. Questões Inéditas Resolvidas e Comentadas


1. Considere as seguintes afirmações sobre os contos da obra Deixe o quarto como
está de Amílcar Bettega.

I – O conto “Autorretrato” traz uma descrição minuciosa sobre a casa, em uma espécie
de fotografia mental, em que o narrador consegue reproduzir os planos de imagem
para o leitor.

II – Os sentimentos das personagens ao longo do livro simulam uma contradição com


o mundo contemporâneo, já que são mais racionais.

III – O conto “Hereditário” demonstra a ausência de relação entre pai e filho, marcada
pela profunda rejeição do filho ao presente do pai.

Quais estão corretas?

a) Apenas a I

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a II e a III.

e) I, II e III.

Comentários: A primeira afirmação está correta e direciona o aspecto criativo da obra, por
meio do qual se vê que o autor divide sua descrição em “planos” – primeiro, segundo,
trazendo um olhar cinematográfico e explorando novas nuances da literatura
contemporânea. A segunda afirmação é equivocada porque os sentimentos dos
personagens são uma resposta às demandas da vida pós-moderna. A terceira afirmação
está incorreta porque o conto marca uma relação de proximidade entre pai e filho que se
estabelece graças à herança deixada pelo pai.

Gabarito: A

2. Assinale a alternativa correta a respeito do livro Deixe o quarto como está, de


Amílcar Bettega.

a) Os personagens não apresentam conflitos emocionais e apenas respondem ao mundo


moderno como máquinas, sem sentir a realidade ao seu redor.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

b) Os narradores são majoritariamente em terceira pessoa, pois isso facilita a visão mais
impessoal dos fatos que ocorrem.

c) Os contos possuem um fio que os conecta tematicamente, uma vez que todos eles versam
sobre a relação de consumo no mundo contemporâneo.

d) Os narradores são majoritariamente em primeira pessoa, o que evidencia uma perspectiva


que acentua a individualidade e o tom confessional.

e) A ausência de tempo cronológico nos contos favorece a dimensão do sem sentido.

Comentários: A maioria dos narradores é em primeira pessoa e isso reforça o aspecto


subjetivo da obra, marcando que a impressão, os sentimentos e a visão de mundo dos
personagens são essenciais para as reflexões produzidas. É importante mencionar que
os contos apresentam sim um fio temático comum, mas que não é o consumo. Além disso,
os contos mesclam em utilizar o tempo cronológico, seguido, por vezes, por alguma
linearidade.

Gabarito: D

3. Um tema comum na obra de Amílcar Bettega pode ser identificado a partir da fala
do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Leia:

“A ideia de progresso foi transferida da ideia de melhoria partilhada para a de


sobrevivência do indivíduo. O progresso é pensado não mais a partir do contexto de
um desejo de corrida para a frente, mas em conexão com o esforço desesperado para
se manter na corrida.”

(Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevis-zygmunt-bauman/ Acesso em 10 de janeiro de 2023)

Assinale a alternativa que identifica o tema recorrente nos contos que se associa à
perspectiva do sociólogo.

a) A resignação frente aos obstáculos do mundo moderno.

b) A sociedade do cansaço que imerge em depressão.

c) O consumo exacerbado e as tendências aos padrões estéticos.

d) A competitividade extrema e a valorização do dinheiro.


e) O descompasso entre materialismo e existencialismo.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

Comentários: Os personagens sentem-se impelidos a seguir e aceitar o mundo tal qual


ele é, isso fica bastante evidente no conto “Correria”, mas não se privando apenas a ele,
pois, nos demais, a dimensão é de que é preciso continuar aceitando as imposições como
o cansaço e a espera constantes.

Gabarito: A

4. Considere o trecho do conto “Hereditário”, de Deixe o quarto como está, de Amílcar


Bettega:

“Foi aí que comecei a pensar com mais força no meu pai. Naquelas vezes em que ele
tentou chamar a minha atenção para o assunto da geleia. Com pouca habilidade, lá
isso é um fato, mas agora eu via com clareza que aquela situação o incomodava
bastante. Não sei se ele tentou falar com outras pessoas, até pode ser que sim e é bem
provável que também não tenham dado bola para ele. Mas comigo ele podia ter
insistido mais. Hoje penso que ele tinha de ter insistido mais.”

Assinale a alternativa que justifica o fato de o filho ter desejado que o pai insistisse
sobre o assunto da geleia.

a) O rapaz acredita que conseguiria entender aquilo que o pai sentia.

b) O rapaz julga que o caso da geleia tinha explicações óbvias para suceder.

c) O rapaz afirma que ele seria capaz de retirar o sofrimento do pai.

d) O rapaz avalia que o pai precisa de ajuda médica para aliviar o sofrimento.

e) O rapaz teria apatia à dor do pai.

Comentários: Essa é uma questão de verificação de leitura, em que seria preciso lembrar
que o rapaz se iguala à condição do pai de estar sempre com a geleia em suas mãos. Por
isso, ele deseja que o pai já tivesse lhe comentado esse fato, porque ele conseguiria
entender o que o pai sentiu em vida.

Gabarito: A

5. Considere as informações abaixo sobre o livro de contos Deixe o quarto como está,
de Amílcar Bettega.

I – O título da obra não está relacionado ao tema de resignação desenvolvido ao longo


dos contos.

II – Os contos “Crocodilo I” e “Crocodilo II” apresentam uma relação de significação


próxima, já que a metáfora do animal sobre as costas permanece em ambos.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – ANÁLISE DE OBRA LITERÁRIA

III – O conto “A cura” apresenta um desfecho surpreendente, pois justifica a esperança


sentida pelo narrador-personagem.

Quais estão corretas?

a) Apenas a I.

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a I e a II.

e) I, II e III.

Comentários: O título da obra aponta para a resignação e pode ser compreendido, ao final,
como uma peça fundamenta para a interpretação da obra, já que se refere à imobilidade
dos personagens frente aos aspectos contemporâneos. Já o conto “A cura” não possui
um desfecho surpreendente uma vez que a cura em si não ocorre. Por isso, a afirmação
correta é a II pois a metáfora do peso nas costas se estende nos dois contos, mesmo que
com personagens aparentemente diferentes.

Gabarito: B

6. Sobre o conto “A cura” do livro Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega,
considere as informações abaixo:

I – O título aparece como uma ironia ao texto, já que o anseio pela cura da doença não
é de fato realizado.

II – O vírus apresenta como sintoma o cansaço excessivo, que funciona como um tipo
de alegoria para o mundo contemporâneo.

III – Os médicos são vistos com descrença pelos personagens, que negam o valor da
ciência.

Quais estão corretas?

a) Apenas a I.

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a I e a II.
e) I, II e III.

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Comentários: As personagens do conto acreditam no médico e até mesmo valorizam sua


abnegação em ir a um local onde podem ser contaminados.

Gabarito: D

7. Sobre o conto “Insistência” do livro Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega,
considere as informações abaixo:

I – O lugar mencionado ao longo do conto é descrito com precisão, de modo que é


possível identificar que se trata de um campo de futebol.

II – A força do coletivo apresenta-se ao propor uma relação direta com a ação de


insistência do personagem em fazer parte do grupo.

III – O conto critica a violência de maneira explícita e clara.

Quais são corretas?

a) Apenas a I.

b) Apenas a II.

c) Apenas a III.

d) Apenas a I e a II.

e) I, II e III.

Comentários: Nesse conto, não se pode compreender com exatidão qual é o local
referido e, de alguma forma, o protagonista parece impelido a agir com a força do
coletivo, porque, mesmo vendo os problemas de sua ação, insiste nisso.

Gabarito: B

8. Considere o livro de contos Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega.

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre a coletânea.

( ) Uma das características mais marcantes da obra é a constante espera a que os


personagens estão submetidos, trata-se de uma passividade, uma imobilidade na qual
se está inserido no mundo contemporâneo.

( ) A obra é marcada por acontecimentos sem sentido e que beiram o inusitado,


favorecendo sua filiação como literatura fantástica e nonsense.
( ) Os personagens dos contos costumam apresentar uma sensação de frustração
quanto ao espaço que os circunda.

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( ) A coletânea se configura por textos que não possuem fios temáticos entre si.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – F

b) V – V – V – F

c) F – V – V – V

d) F – F – F – V

e) V – V – F – F

Comentários: A última afirmação é falsa já que podem ser mencionados vários fios
temáticos comuns como: a frustração, o cansaço, a espera, a resignação e a
passividade.

Gabarito: B

9. No conto “Aprendizado”, ironicamente, a última frase do texto diz “Tem coisas que
a gente não aprende nunca”. Essa ocorrência aponta um estilo literário que é
marcado por:

a) verossimilhança.

b) enredo fantasioso.

c) metáfora.

d) hipérbole.

e) ironia.

Comentários: Trata-se de uma ironia pois, ao final, o personagem afirma que aquelas
ocasiões adversas não necessariamente lhe ensinaram sobre algo que julgue ser
importante.

Gabarito: E

10. Considere o livro de contos Deixe o quarto como está, de Amílcar Bettega.

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre a coletânea.


( ) O livro é uma amostra que pode ser considerada realista, uma vez que aponta
os principais problemas enfrentados na contemporaneidade.

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( ) Os personagens do livro apresentam um descompasso com a forma tal qual o


mundo se organiza, o que provoca o tom de denúncia e reflexão da obra.

( ) A linguagem também provoca a ruptura com a noção da realidade, já que apela


para o nonsense por meio do experimentalismo.

( ) Os aspectos levantados pela obra são de ordem subjetiva, pois apresentam um


mergulho psicológico na individualidade e nos sentimentos provados pela rotina
contemporânea.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – F

b) V – V – V – F

c) F – V – V – V

d) F – V – F – V
e) V – V – F – F

Comentários: A linguagem do texto não busca um experimentalismo estético exacerbado


e não enfrenta necessariamente os padrões de linguagem, ainda que o autor utilize
linguagem coloquial e até mesmo palavrões. Além disso, não se trata de uma obra realista,
mas sim fantástica.

Gabarito: D

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espero que este livro tenha te ajudado bastante a perceber novos vieses sobre a Literatura
Contemporânea. Eu adorei passar este tempo conversando sobre um dos meus assuntos
preferidos.

Muita sorte em seu vestibular! Estou aqui na torcida!

Caso precise entrar em contato comigo, pode me enviar um e-mail em:


marina.ferreira@estrategiavestibulares.com.br

Vai ser um prazer compartilhar ainda mais conhecimento contigo! 😊

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Beijos especiais!

Até a próxima!

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