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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

PRISCILA ARAÚJO GONÇALVES DA SILVA

O FORMALISMO RUSSO E SUAS INFLUÊNCIAS NA LITERATURA


DO SÉCULO XX

RIO NOVO
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

PRISCILA ARAÚJO GONÇALVES DA SILVA

O FORMALISMO RUSSO E SUAS INFLUÊNCIAS NA LITERATURA


DO SÉCULO XX

Trabalho de conclusão de curso apresentado como


requisito parcial à obtenção do título especialista em
2ª LICENCIATURA EM LETRAS – PORTUGUÊS/INGLÊS

RIO NOVO
2021
O FORMALISMO RUSSO E SUAS INFLUÊNCIAS NA LITERATURA DO
SÉCULO XX

Priscila Araújo Gonçalves da Silva1,

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que
o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído,
seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas
consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados
resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste
trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou
violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de
Serviços).

RESUMO- O Formalismo Russo teve sua origem na Universidade de Moscou quando um


grupo de estudantes formou, em 1914-15, o Círculo Linguístico de Moscou e se dedicou a
desenvolver estudos de linguística e de poética. Dentre seus fundadores destacamos Roman
Jakobson, que se dedicou à análise estrutural da linguagem de um modo geral, e em particular,
da poesia. O termo função poética foi cunhado nesta época, instituindo importantes
considerações sobre a linguagem literária. Compreender os conceitos propostos e trabalhados
pelos formalistas é de grande importância para os profissionais da área de teoria e crítica
literária, o que os faz desvincular de um estudo puramente historicista. Ainda hoje percebemos
alguns elementos das técnicas formalistas e ensaios e críticas. Porém, torna-se importante
compreender as fortes influências do formalismo através de um panorama literário
principalmente, do início do século XX.

PALAVRAS-CHAVE: Formalismo. Influência. Crítica.

1
versatriz@hotmail.com
Introdução

Analisando o cenário dos primeiros anos do século XX, o que


percebemos é uma forte presença de uma história literária acadêmica, de
raízes positivistas; tal história estava dominada pela erudição e pouco voltada à
estética. A crítica impressionista desenvolvida em jornais e revistas era pouco
rigorosa e nas universidades o ensino de linguística seguia os padrões
positivistas. É visível neste contexto, a priorização da produção de uma crítica
literária.
É importante tratar dos aspectos de maior importância já que o
formalismo russo pretende dar à crítica literária uma maior definição, passando
a atribuir um objeto de estudo com um método próprio, cessando assim, a
confusão entre vários domínios do conhecimento.
Neste artigo, veremos como essa nova definição de crítica literária
influenciou os rumos da literatura do século XX começando pelo o que os
formalistas russos consideravam como a ciência da literatura que, segundo
eles, é o estudo da literariedade, que nada mais é que conceder a sua
qualidade literária.
Esse trabalho tem como objetivo geral analisar o princípio fundamental
que conduziu os formalistas a definirem os caracteres específicos do fato
literário que perpetuaram em suas críticas.
Para estabelecerem os caracteres próprios do objeto literário, os
formalistas decidiram fazer uma comparação de séries literárias com séries de
fatos que tivessem uma função diferente. Em termos metodológicos, é
basicamente descritivo e morfológico, ou seja, visa o conhecimento da obra
como organização artística, mediante uma descrição dos seus elementos
componentes e respectivas funções. Compreender essas características é
necessário para maior entendimento da teoria da literatura.
Para confecção desse trabalho, foi utilizada uma pesquisa bibliográfica
acerca do assunto em livros e sites diversos. Autores como Viktor Chklovski,
Dionísio de Oliveira Toledo, Vladimir Propp são citados durante o trabalho.
Começaremos abordando as principais características do formalismo
russo e as análises que influenciaram a construção literária do século XX.
Falaremos na sequência, sobre os desdobramentos dessa crítica literária e
suas peculiaridades.
O Formalismo Russo e o desenvolvimento de uma abordagem
linguística da literatura

O Formalismo Russo foi o movimento que desencadeou uma


abordagem linguística da literatura e teve como seus representantes, Jakobson
e Chklovski. Procurou mostrar como o texto poético instaura a consciência
formal do discurso literário em seus níveis semântico, sintático e fonológico.
Para Toledo (1971) nos traz uma análise da abordagem formalista.
Os formalistas russos não se limitaram a traçar as
normas gerais da evolução da linguagem poética. Uma série
de estudos por eles realizados, baseados na metodologia
que elaboraram, permitiu precisar melhor, historicamente,
uma série de fatos literários. Por exemplo, na história da
literatura, estava consagrada a noção de que o grande
acontecimento literário na Rússia, a partir da década de
1820, fora a oposição entre clássicos e românticos.
(TOLEDO, 1971, P.14)

Podemos considerar como um dos marcos da desta moderna teoria, o


ensaio “A arte como procedimento”, escrito em 1917 por Vitor Chklovski. Essa
ideia ficou como consenso após diversos estudos teóricos da época.
A partir daí, passou a ser considerado que a função poética da
linguagem consiste na ambiguidade da mensagem mediante o adensamento
do significante. Sendo assim, temos Chklovski como o desencadeador da
abordagem linguística da literatura, já que seu ensaio foi o primeiro a
sistematizar a ideia de língua poética como um desvio da língua cotidiana. Com
isso, foi introduzida a ideia de que o valor artístico de uma obra decorre não
apenas de sua estrutura verbal, mas também da maneira como é lida.
A poesia é uma maneira particular de pensar, a saber
um pensamento por imagens; esta maneira traz uma certa
economia de energias mentais, “sensação de leveza
relativa”, e o sentimento estético não passa de um reflexo
desta economia. (CHKLOVSKI, 1917, P.39)

Assim, temos a definição de Chklovski para a arte, caracterizando-a


como a singularização de momentos importantes. Esses momentos tornam-se
importantes somente depois de submetidos ao processo de singularização
artística, uma vez que na vida prática, as coisas nos parecem imperceptíveis
em sua totalidade. Em função de sua vida apressada e no empenho em
imediatizar o cotidiano, o homem acabam por perder a consciência individual
das ações, dos objetivos e das situações. Abreviaram palavras, criaram siglas,
desenvolveram sistemas para otimizar o tempo gasto em comunicação. Esse
processo resulta na automatização da vida psíquica, pois em nome da rapidez,
anula-se a intensidade do ato de conhecer. Nele, as coisas possuem
importância apenas quando reconhecidas, esvaindo-se o entusiasmo da
descoberta.
Dessa maneira, a principal função da arte seria restaurar a intensidade
do conhecimento, fazendo com que o artista crie situações inéditas, buscando
a restauração do ato de conhecer. O objetivo da arte é gerar
desautomatização.

O conceito de imagem através da arte e o realismo

Antes do ensaio de Chklovski, dominava na Rússia a ideia de que fazer


arte é pensar por imagens, o que foi defendido por Potebnia, teórico da época,
e incorporado pelos poetas simbolistas. De acordo com esse princípio, a
função da imagem seria procurar semelhança entre coisas diferentes,
facilitando assim, o conhecimento.
Ao contrário do pensamento de que a imagem deveria ser mais simples
do que aquilo que explica, as imagens são essencialmente as mesmas ao
longo da história, cabendo aos períodos e aos respectivos autores a
implantação de novas combinações. Chklovski (1917) lembra do antigo
pensamento sobre imagem.
Portanto, muita gente pensa ainda que o pensamento
por imagens, os caminhos e as sombras, os sulcos e orlas,
representam o traço principal da poesia. É por isso que
estas pessoas deveriam contar que a história desta arte por
imagens, segundo suas palavras, consiste na história da
mudança da imagem. (CHKLOVSKI, 1917, P.40)

Segundo Chklovski (1917), as imagens são um dos dispositivos pelos


quais o poeta singulariza o texto, mediante a produção do estranhamento,
responsável pela dificuldade que atribui densidade à percepção estética. Elas
são uma das possíveis manifestações da ideia de procedimento artístico, que é
o conjunto de atitudes rumo ao desvio da linguagem comum em favor do
insólito e do imprevisto. Pomorska (1972) faz referência a esse pensamento
por parte do autor.
Chklovski discorda, antes de mais nada, da
interpretação da metáfora literária como uma condensação
do pensamento, porque o objetivo da literatura não é o
conhecimento. Somente na “linguagem prática” uma
imagem pode ter esta função, pois está ligada ao
pensamento. (POMORSKA, 1972, P.31)

O relativismo da percepção do objeto artístico encontra apoio não


apenas em Chklovski, mas também em Jakobson, responsável por uma
interessante teoria relativista apresentada no artigo “Do realismo artístico”,
escrito quando ainda integrava o grupo dos formalistas russos na década de
10. Ele questionou a arbitrariedade da crítica precedente e ainda exemplificou a
crise mediante o exame do vocábulo realismo, que até então, era usado com
imprecisão.
O ensaio de Jakobson estuda inúmeras outras acepções do termo
realismo, afirmando que todas as escolas literárias fundamentam suas posturas
com a ideia de incorporação do real. Os românticos alemães, por exemplo,
afirmavam que o reino da fantasia é a própria realidade. Este estudo trouxe a
ideia de crítica literária colocando embates entre a Poética e a Linguística.
Jakobson (1976) faz alegações sobre esta realidade
Infelizmente, a confusão terminológica de “estudos
literários” com “crítica” induz o estudioso de literatura a
substituir a descrição dos valores intrínsecos de uma obra
literária por um veredito subjetivo, censório. A designação
de crítico literário” aplicada a um investigador de literatura é
tão errônea quanto o seria a de “crítico gramatical (ou
léxico) aplicada a um linguista. (JAKOBSON, 1976, P.120)

Jakobson propõe que se tome o termo realismo como um código


convencional segundo o qual diversas gerações procuram validar experimentos
poéticos. Não deixa, portanto, de explicitar que a realidade não se confunde
com a arte, cuja estrutura deve ser apreendida com toda a consciência das
convenções intrínsecas a seu modo de ser.

O formalismo russo e seus elementos ideológicos


É necessário destacar os aspectos de maior importância no que se fala
de formalismo russo. O primeiro ponto é que pretende conferir à crítica literária
um caráter bem definido, com a especificação do objeto de estudo e a
utilização de um método próprio. Dessa forma, cessa a confusão entre os
diversos domínios do conhecimento. Os formalistas reagem contra a crítica
impressionista e tendenciosa, também contra a crítica acadêmica de cunho
erudito a qual dispunha de certa ignorância a respeito dos problemas teóricos
implicados pelo fenômeno literário da época. Sobre isso, TOLEDO (1971)
relatou:
Os formalistas se recusavam a seguir servilmente os
pressupostos da historiografia literária tradicional. Em sua
Novíssima poesia russa – esboço primeiro, Roman
Jakobson propõe uma visão nova da periodologia das
escolas poéticas. Segundo ele, a linguagem poética se
desgasta de tempos e tempos, e então se torna preciso
absorver do linguajar cotidiano outras formas e construções.
(TOLEDO,1971, P.14)

A chamada ciência da literatura, segundo eles, deve estudar a


literariedade, isto é, o que confere a uma obra, que nada mais é que a sua
qualidade literária. É aquilo que constitui o conjunto de características que
fazem a distinção dos traços do objeto literário. Esse princípio fundamental fez
com que os formalistas definissem os caracteres específicos do fato literário,
porém eles não procuravam esta especificação na pessoa do poeta e sim, no
próprio poema. É o texto literário que deveria ser tomado como objeto de
estudo e não puramente o estado de alma do autor.
Para alcançarem os caracteres próprios do objeto literário, os formalistas
realizaram uma série de comparações entre textos e fatos que tivessem
funções diferentes mesmo que houvessem ligação entre eles. O maior
instrumento nesse processo foi a comparação entre a língua poética e a
linguagem cotidiana, método considerado descritivo e morfológico, justamente
em função do trabalho de criação de caracteres estabelecidos através de uma
rica e detalhada análise de texto e linguagem.
A análise formalista interessou-se, inicialmente pelos problemas fono-
estilísticos do verso, ocupando-se com o estudo do ritmo, a relação do ritmo
com a sintaxe, a análise de esquemas métricos, eufonia, etc. Após essa fase
inicial, superaram o nível de análise, voltando-se aos estudos semânticos da
linguagem literária, estudando aspectos sobre metáforas e imagens,
fraseologia, e sobretudo as técnicas usadas pelos escritores.
A pesquisa morfológica e sintática não pode ser suplantada por uma
gramática normativa, e de igual maneira, nenhum manifesto, impingindo os
gostos e opiniões próprios do crítico à literatura criativa, pode substituir uma
análise científica e objetiva da arte verbal. (JAKOBSON, 1976, P120)
O romance, a novela e o conto atraíram principalmente os formalistas,
pioneiros no estudo sistemático dos aspectos técnicos dessas formas literárias.
Dessa maneira, grande parte da produção literária do início do século XX foi
afetada por essa análise, onde foram estudados problemas do gênero
narrativo, dentre eles podemos citar a diferenciação entre romance e novela
onde viram as diferentes formas de construção do romance e a importância do
fator tempo na estrutura romanesca. PROPP (2006) faz referência ao estudo
do conto.
Não cabe dúvida que os fenômenos e os objetos que
nos rodeiam podem ser estudados, quer no ponto de vista
de sua composição e construção, que no ponto de vista de
sua origem ou dos processos e alterações a que são
submetidos. Há outra evidência que não necessita de
demonstração: não se pode falar da origem de um
fenômeno, seja ele qual for, antes de descrevê-lo.
(PROPP,2006, P.09)

Outro importante conceito trabalhado pelos formalistas foi o conceito de


forma. Estudos colocavam a forma como algo exterior, um tipo de recipiente
para determinado conteúdo. Essa maneira de definir a forma, foi
unanimemente refutado pelo formalismo que tratou de propor algo mais
dinâmico, apoiados em estudos um pouco mais antigos, onde a unidade da
obra estaria ligada através de correlação e integração. A partir daí, a noção de
forma passou a se identificar com a própria obra artística conceituada na sua
unidade e na sua integralidade, deixando de depender de qualquer outro termo
complementar. Sobre a formulação desse conceito, POMORSKA (1972), nos
traz um panorama histórico.
O conceito de estrutura dinâmica aparece pela primeira
vez nos estudos humanísticos com a psicologia gestáltica.
Daí penetrou em outras disciplinas, principalmente na
sociologia e nos estudos literários, graças aos escritos de
Dilthey. Na linguística, pelo menos no domínio russo, a
noção de estrutura apareceu muito depois. (POMORSKA,
1972, P.53)
O formalismo criou diante dessa mudança de conceitos, os chamados
elementos ideológicos (elementos cognitivos, emocionais, ou de outra ordem)
que estão presentes em uma forma e não podem ser analisados e valorizados
senão por meio de sua incorporação artística, não existindo em literatura como
valores independentes de um contexto literário, e dessa maneira, passaram a
ser estudados nas suas específicas forma e função literárias, algo que ainda
não havia sido feito até o início do século XX.

CONCLUSÃO

O Formalismo russo afetou positivamente o que se conhecia de literatura


até o início do século XX. Os minuciosos estudos de seus participantes, trouxe
um enriquecimento das análises e da crítica literária. Uma verdadeira revolução
para os padrões estabelecidos por outros estudiosos.
Ao longo deste trabalho foi possível conhecer melhor as características
dos escritores russos do Círculo de Moscou que fundaram o formalismo russo,
como a sua noção de realismo e a ideologia passada através de suas
observações. A constituição de uma nova crítica pautada de certa forma, na
modernidade, e mais ainda na objetividade do discurso literário, foram
fundamentais para o entendimento dos textos dos mais variados gêneros
literários.
O estudo da literatura nos faz compreender o passado através de um
contexto histórico, plano de fundo dos textos, e também, graças aos esforços
dos formalistas russos, a construção de ideologias no presente para a
conquista de um futuro que nos possibilite pensar e compreender quem somos
e porque escrevemos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 CHKLOVSKI, Viktor. A Arte como Procedimento,1917.


 JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo. Ed.
Cultrix, 1976
 PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. 2. ed. Ed.
Forense Universitária, 2006.
 TOLEDO, Dionísio de Oliveira. Teoria da Literatura: formalistas
russos. Porto Alegre, Editora Globo, 1971.
 POMORSKA, Krystyna. Formalismo e Futurismo. Ed. Perspectiva,
série Debates, 1972.

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