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Disciplina – Abordagens críticas do texto literário.

Professora: Dra. Claudia Nigro


Discente: Jaqueline Gomes de Souza

1. Podemos estudar temas no formalismo?

R: Sim. Embora em “Teoria da Literatura: Formalistas Russos” (Globo, 1976), fica claro
logo no prefácio que a corrente em torno do formalismo russo negava categoricamente as
interpretações extraliterárias do texto, como por exemplo, a filosofia, a sociologia e a
psicologia, os costumes, etc, como ponto de partida para abordagens de obras literárias
(SCHNAIDERMAN, 1976), os formalistas enquanto movimento, consideravam apenas
que “o objeto de estudo literário não é a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo que
torna determinada obra uma obra literária” (SCHNAIDERMAN, 1976, p. X). Apesar
disso, é possível notar uma certa mudança de tom referente a essa rejeição explicita de
interpretações extraliterárias por exemplo, no texto de de Tynianov, “Da evolução
literária”, pois nele o autor (também formalista), não despreza os fatores sociais nas obras
literárias. No entanto, no que tange o movimento formalista, esta recusa categórica de
algumas especificidades que podem ser traduzidas como temas (da psicologia, da
sociologia, política, etc,), é um fato, porém dentro dos estudos da crítica literária não
podemos desconsiderar a importância deste movimento para o estudo de vários outros
temas e conceitos.
Estes temas, entre eles, a arte (muito bem desenvolvida e apresentada como método a
partir das análises de Chklovski), o realismo artístico de Roman Jakobson, o ritmo, a
construção de fábulas e da trama, a teoria da prosa de Eikbenbaum, a estrutura do conto
fantástico de Propp, enfim, todos estes temas serviram e ainda servem para que novas
teorias e abordagens sejam possíveis.
Deste modo, podemos estudar estes temas (entre outros) levantados no formalismo, a fim
de estuda-los como abordagens/teorias em que se manifesta recortes, adesões,
transformações e até rupturas ao passo que vão se lançando outras novas abordagens, no
entanto, nunca perdendo sua funcionalidade e originalidade.
2. O que é arte?

R: Assim como postula Viktor Chklovski em seu ensaio “A arte como procedimento”
(1917), para o filosofo Potebnia, a arte é “pensar por imagens”. Toda via, não demoramos
muito para perceber que essa concepção da arte como “pensar em imagens” defendida
por Potebnia, é amplamente rejeitada pelo formalista Chklovski em seu ensaio.
Essa rejeição levantada pelo formalista, baseia-se resumidamente porque “o pensamento
por imagens não é o vínculo que une todas as disciplinas da arte, mesmo da arte literária.”
(CHKLOVSKI, 1917, p. 40), em outras palavras, Potebnia reduz a relação da imagem e
da poesia, e ainda, segundo Chklovski, não distingue a língua poética da língua prosaica,
o que seria essencial para Chklovski, pois para este, a “imagem poética é um dos meios
da língua poética. A imagem prosaica é um meio de abstração.” (CHKLOVSKI, 1917, p.
42), deste modo, a imagem prosaica enquanto discurso do cotidiano, se ampara em um
meio abstrato, ou seja, no automático, desprendido da nossa atenção, já a imagem poética,
por sua vez, enquanto um discurso mais elaborado, mais perceptível, singularizado, se
sustenta reforçando nossas impressões sobre o mundo e sobre as coisas, gerando novas
percepções, inclusive, sobre a arte.
A arte, para Chklovski, seria então, um procedimento que busca nos tirar da nossa zona
habitual (que aqui podemos entender como processo de automatização), por meio da
singularização (ou estranhamento) dos objetos, a fim de tornar as coisas perceptíveis em
sua totalidade. A arte, nesta perspectiva, representa um novo olhar, a saída da
automatização por meio do processo de singularização dos objetos, dando-nos novamente
a sensação de vida, de sentir, de experenciar os objetos.
A singularização dos objetos consiste em notar as coisas não como ela são conhecidas,
mas como elas são percebidas, Chklovski percorre extensos exemplos de singularização
dos objetos, um dos exemplos claros dessa singularização que consiste na estranheza e de
gerar novas percepções, é o trecho de Kholstomér (Tolstoi) onde a narração e a percepção
de direito e propriedade é conduzida pela perspectiva de um cavalo. Outros exemplos de
singularização são compreendidos quando Chklovski cita arte erótica, por exemplo
contudo, ao contrário da singularização, a automatização gera uma economia de forças
perceptíveis onde nos limita e nada se transforma, “a automatização engole os objetos, os
hábitos, os móveis, a mulher e o medo à guerra”. (CHKLOVSKI, 1917, p. 44). Assim, a
arte enquanto procedimento (método) busca resgatar a nossa capacidade de ver o mundo
pelo qual o habito (a automatização) nos cegou. A função então da arte, neste sentido é
“[...] para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é
pedra, existe o que se chama de arte “. (CHKLOVSKI, 1917, p. 45).

3. O que são séries literárias?

R: Ao lermos os trabalhos de Tynianov, é possível notar que o autor estabelece a ideia da


literatura ou de obras literárias como um sistema. Diferentemente dos outros autores
formalistas, Tynianov considerava que a literatura não devia ser estudada isoladamente,
dado que ela não existe de maneira linear e homogênea, mas sim na relação com outros
sistemas. Esses sistemas dos quais o autor lança, seriam sistemas compostos por séries
que se correlacionam entre si e com outros sistemas vizinhos, isto é; “O sistema da série
literária é antes de tudo um sistema das funções da série literária, a qual está em constante
correlação com as outras” (TYNIANOV, 1977, p.113). Nesta linha de pensamento,
compreendemos que as séries literárias são, portanto, um sistema de série funcional que
se relaciona com outras demais séries e entre elas, a série vizinha, do qual o autor aponta
como “vida social”. Esse ponto é fundamental porque o autor estabelece que “o estudo da
evolução literária não é possível a não ser que a consideremos como uma série, um
sistema tomado em correlação com outras séries ou sistemas e condicionada por eles”
(TYNIANOV, 1977, p.118). Nesse sentido, é importante pensarmos nas séries literárias,
como a relação da evolução da literatura a partir das relações humanas sociais, levando
em conta seus aspectos culturais e também seus aspectos verbais, pois conforme nos
adiantamos no texto, entende-se que para a série literária se correlacionar com a série
vizinha (vida social), é necessário estabelecer uma comunicação, e essa comunicação se
dá por meio da atividade linguística, ou seja, pela linguagem verbal. Deste modo,
portanto, as séries literárias cumpre seu papel na dimensão da evolução literária,
combinando suas séries funcionais com as demais séries como ponto de partida para uma
literatura que não deve ser estudada isoladamente.

4. O que do formalismo é estudado ainda hoje?

R: São grandes as contribuições que os formalistas russos proporcionaram para os estudos


de teoria literárias. Os conceitos de “estranhamento” e “literariedade”, por exemplo, são
amplamente usados e estudados na atualidade tanto na academia quanto na educação
básica.
Ainda há poucos dias, eu, na condição de aluna ingressa na pós-graduação, estudava junto
aos meus colegas, o conceito de estranhamento no poema de Drummond, “Cerâmica”,
usando como aporte bibliográfico e teórico o ensaio de Chklovski, “A arte como
procedimento”. Entre esse exemplo e outro, o formalismo russo tem grande destaque
como abordagem que dialoga com outros movimentos (como a narrativa enquanto
diegese, embora seja um termo lançado pelos estruturalistas, os formalistas já haviam
chamado antes de fábula), e outras teorias contemporâneas.
Graças aos conceitos cunhados antes pelos formalistas e seus estudos dentro da poesia,
da narrativa enquanto fábula e trama, por exemplo, que foram possíveis outros estudos da
teoria crítica. Desse modo, não podemos negar que suas abordagens e conceitos ainda são
objetos de investigação frequentemente estudados até os dias atuais.

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