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J.L. fu r~ . obi<~ Cbl7jM.fo. . vol. .11 .

&:/' €I/o!» , l'iQa .

SOBRE OS CLÁSSICOS

Escassas d isciplinas devem ter mais Interesse que a eti-


m ologia; is to se deve à s imprevisíveis transfo nnaçôes do sen-
ti d o primitivo. das palavras, ao long o do tempo. D adas t a is
transfonnaç6es, que podem beirar o paradoxal. de nada ou
d e m u ito pouco serv e a o rigem das palavflllS para a elccíde-
1030 de wn conceito. Saber q ue, em la tim, cálculo significa pedrt-
nha e que 05 pita g6ricos usav" m d esses pedrinhas anteli dA
Invençlio dos n ú m e ros não nos percute d om.iJulr os an;anoe
da álgebra; saber q ue hipócrita e ra ator, e persona, mAscara ,
0 :1.0 é um instrumen to válido para o estudo da ética. De m odo
se melhan te , para fixar o q ue hoje entendemos por clAssico. é
Inú til sa ber que esse adjetivo e dvém d o latim dllSSÍ5. frota , que
d e pois tomaria o sentid o de ordem. (Lembremos, de p assa-
gem, a formação análoga de ship-sfUl(H.)
O que é. agora, UII\ livro clássico? Tenho ao alcance da
m ão ali d efinições d e Eliot, de Arnold e de Sainte-Beuve. sem
dúvida razoáveis e luminosas, e muito me agradaria- ccncor-
dar com esses ilustres autores, mas NO os consultarei.. Acabo
d e com p le tar sessenta e tantos anos; em minha icb.de. as ccíe-
cidêndas o u no vidades importam menos que aquilo qur }ui--
gamos verdadeiro . Límitar-me-ei, entlo, a expor o qur pen8ri
sob re esse pon to.
Meu primeiro estim u lo foi uma H af6ri4J d4I Lifnatwrll CIO-
. ntsa (190l), d e Herbert Allen Giles. Em seu segundo ca pitulo,.
li que um d o s cinco textos canônicos editadps por C onfücio.J :
o Livro dtu Mldaçõts , ou I Ching, feito de 64 hexagr~q\ij
~g~tam as possíveis combinações de seis l.in!uY ~~
Inteiras. Um dos esquemas. por exemplo, consta ··de
linhas inteiras. uma truncada e três in~iU•.~
mente. Um imperador pré-histórico 05- d iScObriu.- -

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OU TR A S r s o crsrc c s s S 08J~ OS C I,.À S S '(.QS

de um a das tartaru ga s sa gra d a.s . Lerb ruz a creditou v er n o s A~ emoções que a lite ra tura su5cila silo, ta lve z, eternas,
!'te xagTamas um sis tema blnário d e numeraçlo; o u tros, u m a m as es meios devem variar constantemente. mes mo qu e de
filo sofia enigmática; OU IT~, com o Wi lhelm, u m instru m ento' modo levfssimo, para não perder sua vi ercde. Ga st am -M: 11
p a ra a a d ivinhaç ão d o fu turo, já que as 64 figuras cor re spo n- medida que o le ito r os reconhece. Dal O p erigo de afirmar que
dern à s 64 l ases de qualquer empreendimento ou pro ces so ; ex ístem ob r as clássicas, e que para sempre o serão.
ou tros. u m vocebul ãrí o de certa tribo ; o u t ros, um calendá rio. Ca d a qual descrê de sua ar te e de seu~ arujtcjce. Eu, que
Lembro -me d e q uC' Xul SoI.H c~t um ava rec o n st rui r es se texto me resignei a pOr em dúvida a indeftruda per duraçâo d e
co m p a litos ou llJ!,fo ro ,.. Pa ra os es tr an g e iros, o Livro das Voltaire ou de She ke epe are, acredi to (nesta. tardf" de um dO&
Mutaç~$ corr e o nsec de pa re c;er UIT\.II. simp les ch i l"l oiurí t; m as últimos d ias de 1965)' na de Schopenha uer e na de ~r~ley
el e fo i dt vo ta metlle lid o e re lid o por geraçOes milenares de C lá!losko nAo If!, um livro (r"p,lO) que lIec"ll~llamente p~
h omens cultb..ím os, q u e co n tin u a ri a a l ê-lo . C o n fúcio dec la - sul es tes ou aqueles méritos; ~ u m liv ro que h g..,aç~ d ...
ro u a Il('U5 d iadp u los que, se O destino lhe cc n ced eeee malll homens, u rgidas ror ra zões d i " ~s. 1~ com p rtvio fe rvo r
ce m ...n o s d e v ida, ele co nsa g ra r ia a metade "l O e studo do livro e co m uma ml"t~rl051 lealda de.
f' .~Ull co m entÁrios, o u QJas. '
·Drlibrr a d Am pn ll!' " !lColhJ um If',wmplo ..x rre mo, uma 11"1-
lu r '" que d l"m .'"ll dJll um ato de fé . C h e go, agora, iI ml nh a to_ ,
C loilllJco é sq uele h vro que um", nação, ou um grupo de nil çOes ,
o u o lallgo trmpo d ectdtrem I...r como se ern IlU /15 p'Rlnolo'J lud o
1011" · ddi be,ado, filia i, profundo com o o cor.mOft e pil 5~fv(' 1 d e
In le r p n -t açl'll:. lI" m fi m . I' rc: v llllv('l m r nte , If'tlllllS d ecíeõee
VAriam. r l rll al,·mll"lI l· lIu!ll rlacolt, o Falido (, u m ll oh r" gl' nl a l;
r..,a o uu oe, uma d ll l!l m " l. (a m u. ". fontlftl d o t" d io. co rno o
..-p;undo Parn(so d r. Ml h on o u 11 olu" d l~ l(n b l'l " I• . Llvroll corno
() llco J6, I [Ju-,,"Itl ComhJi", M aebr lh (r. v.ua m im , " I ~umll l dlt l
I " K'" cio Nur"') p ru",," lr," IIn u , IOIIK" 1",,,r l ,,II.IIIII.., m ,,' nno--l ...
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