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c.G.Jtr.W: Os asç ~c - :>B psicolÓ[icos co -"3_u étip_C?_m<i_:terno, (G.W. 9/I Pp. 91-123. 19:9
(19;.!).
· ( Arlaptação pa ra ea "tu.lOa).

1. Sobre o c onceito de arqu~tipo.


1.1. Ã noção da Grande Mãe origina-se na histÓrid da reli gião e abrange as mais dive~ eat
representaçÕes de Q,a divindade materna. Por e~q uan to, ela nada tem a ver com a psicol ~
eia, ja .- que a . imagem de um n G~an d e hae
11 - " , n~ssa f o~ma, ao
' mu~· t o raramente e ap enas so b 1
c oniiçÕes ~uito p e culiares , manifesta-se na·experi ê ncia prática. O sfmbnlo é, evidente-
men ~ e, um derivado do arqu~tipo materno. Por isso, se nos atrevemos a tentar investigar,
do lado psicol~gico, o fundo r eal da imagem da Grande Mãe, necessariamente t e~emoa que 1
r e correr, como baaa pa ra noes as o~servaçÕee, ao muito mais oomum arquétipo ~t~ rno.
1..-uH Cu..L"\.0 Ui:

wnarquétipo, nesse c a~o, porem~ nao me parece inteiramente disp ensável propor algumas
referência~ principais.
Em tempos remotos já sem muita dificuldade se com~reendia - apesar de algu~s opi~ ­
Ões diferentes e apesar das aristotélica s tend;ncias de p en s ar - a afirma tiva de PLATÃJ7
de q".l~ a idéia pré-existe e está sobreo:·denada a toda a fenom enalidade. _ Asa_im, o 11a:;-qué-
tipo~ não é outra ooisa senão uma expressão empregada já na antiguidade co~o sinÔnimo de
"ideiá" no sentido platÔnico. Se, por exemplo, no "Co::-pus Hermetioum" (3D século) Deus é.
apon~ado co.rno ~to archétipon phos" (a luz arquet{pica), expri:ssava.-se com isso a ideia 1
de que ele aeria a "Imagem Primordialn de qualquer luz, que préexiate e é sobreorden.a.do'
ac fenÔmeno nluz".
1 . 3. Se eu fosse um filÓsofo, continuaria o argumento platÓnico de acordo com a minha~
p r~missa- dizendo que: "Em qualquer lugar, 'numa área celeste', existe urna imaRero pr\
mordial da mãe, préex:istente e aobreordenad"'. a qt:.alquer fenÔmeno do 'mar.~rnal" (no senti-
4o mais amplo da palavra). )Ias eu não sou filÓsofo, antes observador emp{rico, e por is-
. so. 'não posso me conceder pressupor como universalmente válido -o meu particular tempera
menta , i.e., a minha disposição individual em face de problemqs intelectuais . Dessa ma-
neira, sÓ pode procedar, aparentemente, aquele filÓsofo que pressup~e sua disposição e '
colocação como de validade geral e possivelmente não reconhece sua discutibilidade indi-
vidual como condição essencial à sua filosofia.
1.4. Como ooservador empÍrico, tenho que constatar, porem, que existe um temperamento pa
ra o qual as ideias são"entidades" e não meras "nomina" (nomes). Por acaso- poderia qu~
, I' , • , -
ae dizer - nos vivemos ha duzentos anos , e ate hOJe, num per~odo em que se tornou impopu
lar ou até incompreensfvel a suposição de que as ideias, em geral, poderiam ser outras 7
coisas que não meros "nomin.a". Se alguem ainda pensa - õ.e modo anacrÓnico - em termos
platÔnicós- terá que experimentar, frustrado, que a entidaue "celestialn, i.e., metaf!-
sica da ideia está deslocada para a área incontrolável da ré e da superstição ou está
uondo relegada, co~ certa comiseração, ao poeta.
1.5. o · ponto de vista nominalÍs~ico, na rira secular das nuniversalia", mais uma vez 'su-
perou 11 .~-
a pos~çao rea1'18 t•1ca, e ass~m
. .
a ~magem pr i mord ial volatizou-se num "flatus voeis"
Tal reviravolta estava acompanhada e até em boa parte motivada pelo evidenciar ext~nso •
do empirinmo cujas vantagens propuzeram-se com demais reosalto ao intelecto. Desde então
a ~deia" não constitui mais um "apriori" mas a p enas algo secundário e derivado. ~ compre
cns {vel que o novo nominalismo tambem exija, s em mais, ~~a validade univers~l, em~ora e~.
r es ida numa dete rminada premisoa de cunho temp e ra~~ ntal, e por isso, limitada. Assim rg-
za: " ••• t válido o que vem de fora e por isso é v erificável. O ideal é a compreensão c~
.
p e~~raen t a 1 • " A an t~~tese pronun<:aas
. "V'l
a ~· d o e' o que vem de dentro e nao e' ver-ificavel
' ... •
·,'al ponto de vista é nitidamente desalentador. A fi 1 osofia natural dof:' gre_gos - voltada'
-
!'••ra ~ ~ · t•• r l·c....
u i •
~, l· dade t all."~da
u. • ;.- -a~-ao
~ ar1"s t o <U
., l·c~ - - on se guiu uma Vl."to'rl.·a, ern~o~a
_ - - -..J t ~di~
rr.a s significante, s obre PL1s.Tlo.
. ~
1.6. Ho entanto, em cada v1.toria reside o ge ~.o e de u :-..a futura derrota. Hoje em dia multj._
,
plos 3inais indi c am u ma certa a lteração dos pontos de vista. f notável, especialmente, a
cloutrina das categorias de KAN T que, de um l a do, afoga qualquer tentativa ainda e;nbrio:l~
ria, do metaf{sica no oentido antigo, e de outro, prepara o rena scimento do espirita pl~
tonico, i.e., se ja nao pode baver uma metaf1.sica alem da capaci dad. e humana, nao
Jjo. ; .., -
pode e- ,

x i otir e~pirismo que nao esteja confinado e limitado por um "apriori" da estr~tura do co
nh ecimanto.
1.7. Depois de decorrid9 um s~culo e meio des~e o apar~ oimento da "Cr!tica da Razão Pur~
(KMlT), p a ulati namente emergiu a visão de que o pensar o intelecto, a razão, eto., não•
constitue~ proc e iSos livres de qualquer condicionamento subjetivo, sÓ servindo as leis~
ternas da lÓgica , ~ as são funçÕes ps{quicas adjuntadaa e eubor~inadas a ~a personalida-
de. A que stão não é mais: foi visto?, ouvido?, t ocado com as m;os?, medido, contado, pe~
.. .. • - - #
~~·~<- .:.r_ - ~L...~.:.41of' .:,."'_u_:~ ~'-' b,L-..,.•••'--~ .. "2."""-..._. ~o -. Q. w ..: ~i'- w• , -;.u.~~L v::..,~ Vu.~J. lll.&. UlJ 'it4 é:::Ul fJt! OS OUf••••

1.8. Iniciando com a~uação pessoal"~ observação e medição de proc essos mfnimos, ess~
cr!tica ·coL i nua até a criação de uma psicologia emp{rica, antes e~ nenhuma época 'conhe-
ci da . Hoje ~ tamos convictos de que em todas as áreas da ciência existem premissas psic~
lÓgi cas, as ~uais enunciam algo decisivo para a e s c olha da matéria, o método de elabora-
~ ., ,. • ... • , ... #
çao, a especie de d eduçoes e a oonstruçao de h1poteses e teor~as. Achamos ate que a par-
sonalidade·. de KANT era uma premissa bastante essençial para a "Cr{ tica da Ra zão Pura". t
... . _, . , . . . . . '· ,
Hao apenao os i1losofos mas tambem as nossas propr1.as ~ncl1.naçoes f1losof1cas, ate as
nossaa ·assim chamadas "melhores verdades" sentem-se molestadas, senão ameaçadas p ela i-
deia ãas premissas pessoais. : cada liberdade criativa- assim chamamos- está sendo, com
isso, · retirada -de nós. Comot Um ser humano sÓ poderia pensar, dizer e fazer aquilo que e
1 c r-esmo é?
1. 9. Pressupomos nao e::r..agerar de novo - caindo num "psipologismo" sem limites - ao afir-
nGr qu~ se trata de uma or{tica que me parece inevitável . Tal critica constitui a essên-
cia, a origem e o método da psicologia modernas existe um ••apriori " · de toda'l as ativida.-
dcs humanas e esse é a inat~~ assim pré-consciente e incons ciente, · ~strutura individual
<i.~ psique. A psique pré-consciente - por exemplo, a do recém-nascido - de forma ale;uma '
constitui
... um nnada
, vazio" para o qual tudo teria que 9er fornecido
..
- contando com circ~
tancias favoraveis - mas urna , conjetura imensamente oompli~ada e a~damente determinada '
-
em termos individuais, que so aparece como um "nada obscuro" porque nao podemos direta -
mer~te vê-la.

1.10. No entanto, mal ocorrem ae primeiras e visiveis exte~alizaçÕes ps{quicas de vida,


~ . ,
e preciso ser mesmo cego -para nao perceber o carater individual, i.e., a personalidade '
pa rticular dessas externalizaçÕes. ~em é poss!vel al~car que tais particularidades já se
criam no momento e~ que a~arecem . Tratahdo-se, por exemplo, de disposiçÕes mÓrbidas - já
existentes nos pais - pensa-se em uma herança genética. Não precisamos supor que a epil~
sia . da criança seria uma mutação milagrosa de uma mie epiléptica. Da mesma maneira enca
r a mos as aptidÕes, que podem ser verificadas através do geraçÕes . De modo semelhante e~
?licamos o reaparecimento de complicadas atuaçÕes instintivas de animais que nunca conh~
ceram seus pais, i.e. , não podiam ser "educados" por eles.
1.11. Hoje em dia temos que partir da hipÓtese de que o ser humano não constitui uma ex
ceção. entre os seres vivos, ao possuir, sob quaisquer condiçÕes e como cada animal, uma
psique pr:;._formada que corresponde à sua espécie e a q_ual, alem disso, como a observa- -
ção maia exata demonstra, aprese~ta ainda nitidas feiçÕes de indoles familiares. Nao te
rno~ qua1 quer base para supor ' que existam determinadaá funçÕes (atuaçÕes) humanas que s;
r i a rr. exc eçÕes dessa regra. : -
Decididamente, não t emos ideias sobre os ~iepouitivos ou prontidÕes que poseibi-
lita c a conduta instintiva nos animais) constata-se a mesma falha ao tentar •reconhecer•
-3-

,_ ... , ~ d
a conntituiçao dae inconscie ntes disposiçoes ps~quicas, : om virtude das quais o in i·wi
duo está em condição de reagir de modo humano.
·
1 .12. Deve tratar-se, aqui , de formas de f unc~onar que eu d enom~ne~
· . " ~roabens
. " • "I m~g~~
· '"
expressa não apenas a forma da atividade a ser exercida, mas t arebem, ao mesmo t empo , c'
situação tÍpica na qual a atividade está sendo incentivada. Tais irna&ens são "imagens
primordiais", na ~edida em que são particularmente prÓprias à espécie e se, afinal, fo-
ram "originadas" , e ss a origem coincidirá , ao menos, com~ o princ{pio da espécie. J..s-
aim , ela é o cunho human o no ser humano, a forma espe cificamente hum3na das suas ativid~
des. Esse cunho espec!fioo · já reside no seu princ!pio germinal. A alegação de que ele

-
não é herdado mas cria-se de novo em cada ser humano seria da mesma naneira insensata c~
-
mo a conjEtura primi t iva de que o sol que se levanta de manha e, outro que nao aque le que
na noite anterior .· e ~ .ava se pondo.
1.13. Já que todo p E1.qU.::co . é pré-formado, assim o sao ta.mbem sua s funr,';;es uarti.c11l~.,...,. ..
especialrnen~e aquelas que se vriginam diretamente àas prontidÕes inconscientes. A isto '
pertence, antes de tudo, a fantasia criativa. Nos produtos da fantas ia as ima&ens primoE
diaia tornam-se· vis! veis," e aqui tjncontra o conceito de arquétip-o o seu emprego espeol fl
co. De f orma alguma é merito meu ter percebido,~oómo primeiro, tal fato. PLATlo merece 1
essa "palma". '. O primeiro que na área da psicologia dos povoa já salientava a presença de
d eterminadas e amplamente espalhadas "ideias primordiais" foi ADOLFO BASTIAN. Mais tarde
dois pesquisadores da escola de DIDL~EIM, HUBERT e ~AUSS mencionaram as singulares "cat~
goriae" da fa.n±asià-' Alguem, não roenos "do que H~P~~~ USENER já reconhecia a preforma-
ção inconsciente, no molde de .um. "pensar inconsoient&".
1.14. Se eu tenho alguma parte nestes achados, isto prova que os arquétipos, em geral, •
de forma alguma se difundem apenas pgl~ tradição, pela linguagem e pela migração, mas po
dem emergir em qualquer lugar e em qualquer tempo de modo espontâneo, até de uma forma ;
u~ modo que não estão influenciados por qualquer di~~gação externa •
. . .· .
~ .... ' · "" ... ...
~~ Nao se~dev~ subvalorizar o po ~ te dess a constataçao, J! que s ignifica nao menos do
que: prontidoes, ·formas, quer dizer, ideias no sentido platonico, existem em cada psiqu~
embora de modo inconsciente, mas nem po» ·isso menos ativo, i.e., vivente, preformando · e
influenciando como que instintivamente, o pensar, o sentir e · o atuar desta peique.
1.16. Deparo sempre com o malentendido segundo o qual os arquétipos seriam determinados'
quanto ao conteÚdo, uma espéci e de ttrepresentaçÕes" inconsci entes. Por isso tenhc que sa
lientar, · maia uma vez, que os arquétipos são determinados apenas quanto à forma- e mes-
mo aqui sÓ de modo bastante condicional - e não ~uanto ao conteÚdo.
O conteÚdo de uma imagem primordial sÓ é determinado, de modo comprovável, se se '
tornou consci~nt9 e ohegou a ser carregado pelo material e pela experiência conscientiz~
da.
SuA forma, porem, como já expliquei em outro luear, poderia ser conparada com o
sistema axial de wo cristal , o qual, de certa maneira, está prefigurando a formação do
cristal na solução, sem ter uma existência substancial em ai mesmo . Essa Última aparece'
pela agregação de i~nios · e depois, de moléculas.
(j~ Assil!l, . o arquétipo conoti tui um e l emento, em si, vazio e formal, não sendo outra •
coisa do que uma "facultas preformandi", uma possibilidade dada "apriori" para a forma '
de representação. Herdada s são as formas - as quais, nesse sentido, correspondem exata

ma n;ira como a existencia ...


dos arquetipos, -
mente aos instintos, t amb em formalmente determinados - e não as representa9Ões. Da mesma
... t ambem a dos instintos nao pode ser comprovada
a nao oer que el~se . afirma de modo concreto.
1.18. Quanto à forma determinada, a comparaçao com a formação do cristal é bastante elu-
cidativa, já que o sistema axial determina apenas a estrutura es t e reométrita, mas não a
fiL'UI"a do cristal individual. Essa pode sei· era nde ou pequena, ou va riada em virtude da
for~~çâo diferente daN ouas superf{cies ou e~ fun ção da recfproca int~rpenetração duran-
·-4-

te o ~rescim~nto do cristal. Permanece porem, constante, somente o sistema axi~l, e~


principio invariável quanto a suas con~iguraçÕes geométricas.
1.19. O mesmo vale para o arquétipo: em principio pode ser denowinado , já ~uc possui ~~
invariável cerne de sienificado o qual determina, apenas em principio mas nunca de for~ á
-
concreta, o modo de sua manifestaçao. -
Por exemplo: o modo de munifestaçao , .
emp1r1ca d o a~
qu~tipo materno em qualquer momento, não pode ser derivado somente e ap~nas dele, porque
depende de vários outro r fatores.

2. O a rauétipo mat~rno .

2.1. Como qualquer arquétipo, tambem o da MÃE-tem Q~a multitude incalculáv9l de asp~cto~
~lencionarei apenas algumas ~armas t{picas: a wãe pessoal, a avó, a madrasta e a s ogra, '
qualquer outra mulher com que estamos relacionados, tambem a ama e a babá, gover~atte : e
aia, a anciã e ~ . mulher alva, no s~ntido superior e transcendente a deusa, especia l mente
· !H~." ~
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te, tip~ Cibele--Attis, ou filha-amante: tambem ~~a mãe rejuvenescida, a meta do anelo ãa
redenção (paraiso, reino .de Deus, Jerusalem Celeste), no sentido mais amplo n igreja, a
universidade, · a cidade, · a área ' rural, o Ceu, a Terra, a floresta, o mar e as ág~s confi
nadas . (lago), '· a matéria, · o sub-mundo, ·a lua no sentido de lugar de gerar e nascer, o re-
go feito pelo arado, a horta, a rocha, a caverna (gruta, cova), a árvore, a fonte, a mi-
na., o poço profundo, - a pi~· batismal; a·.\~lor como receptáculo (a rosa, o lotus), o cÍrcu-
lo mágico · (mandala como ~padmâ") ou tipos de ,~oornucÓpia; e~ sentido mais estreito o Úte-
ro, 'cada formato. cÔncavo cu vazio - (porca), a YÕni, o ~orno, o pote (panela, - cântaro)} c~
mo animal a vaca;· o coelho e, em geral, · os animais auxiliares (nos contos t).
2. Todos esses sÍctbolos Rodem carregar um sentido P;?,Si'\;ivo, favorável ou n~fasto, negati
vo. Um aspecto embivalente seria a deusa do destino (pârcas , nornas, graias); nefastos •
são a bruxa, o dragão (qualquer animal que enrola e engole, como grandes peixes e serpe~
, c...e- ~~- , .;A..... r....<e•.A/. "'- ,
tes, tipo jiboia; o tumulo, o sa.rcofago, a pro~undeza das aguas, a morte, o pesadelo, c
bi:-ho-papãof ·figuras femininas animosas em relação. com as crianças (empusa., L~l,i th} ,,etc~ 1
" . .1 . (.lj ~"""'c :f..-
~'
' ' Essa enumeraçao
- · nao
- pretende ser completa, querendo apenas. apontar as feiçoes
.. eseen
\ - J --
ciais ' do arquétipo materno. Suas caracter!sticas são as "maternais": a autoridade mági.oa
do ~eminir.o, a sabedoria e a superioridade espiritual, bem alem do intelectoJ · a qualida-
de bondosa, fomentadora, acolhedora, sustentadora, que favoreoe o crescimento e a fecun-
didade J oe lugares da transformação mágica , o renascimento, o impulso ou instinto auxi -
liador; o oculto, o obscuro, o abismo , o mundo dos mortos, o devorador, o sedutor, o en-
venenador, o angustiante e o inexorável. Tais aspectos do arquétipo materno já descrevi'
pormenorizadamente junto com correspondentes documentaçÕes no meu livro "Os S{ffibolos de'
Transformação". A oposicionalidade das caracter{sticas lá ~ormulei corno Mãe amorosa e

----
1
I-lâe terrÍvel.
-
~ O paralelo histÓrico mais prÓximo de nÓs seria MARIA que na aleboria med~eval ~igura'
tambem como a cruz de Criato. O oposto seria, na Í~1ia, a deusa KALI. A filosofi ~ sâ~~ia
: d esenvolveu o arquétipo materno com as noç9es de PRAh'1UTI 7 atribuindo-lhe as trê:J "gunaS'
como c•racteriaticae básicas, i.e., a bondade , a paixão e as trevas- Satvam, Rajns e Tn
mas. Es ses são os tr~s aspectos essenciais da Mãe, i.e.~ oua bondade acolhedora e fomen:
tadora, sua emocionalidade orgiástica e sua obscuridade subtérrea. A marca csoecial na '
l e nda filosÓfica , a dança da Prakriti per2nte o Pur~sha para lembrá-lo do "co~ecioento•
di~cE:lrnente 11 não pertence diretamente à I·lãe, mas ao arquétipo da Anima . Este está, na
ps icolot;ia masculina, constantemente mesclado à imagem da l·~ãe.
~ ~~bora a figura da Mae, na psicologia dos povos, s e ja, po; assim dizer, tu<iversal,Gua
i~a gem altera-se ess encialmente na experiência prática individual. Aqui, antes d~ tudo,•
i Mpressiona-se.p~l o aparente significado sobres~alente da mãe pess oal . Em uma psicologia
, .
~· cr so n.all. stJ.ca
. , ..
essa fJ.gura e tao acentuada que tal psicologia - como ee cabe - ces~o Ç~.;an

.., ,. - .r-,1;-_,~.r-~J ) ~ ' _s. ) - -


t
-5-

to a seus pontos de vista te~ricos, nunca c onseguiu ir alem da mae pessoal~ Pa ra dizer
1

já do antemão , o meu modo de ver difere principalmente da t e oria paicanalitica, pelo fé-
to de que atribuo um significado apenas relativo ~ mãe p essoal.

~lato significa que não ~ a penas da mãe pessoal que se oriGinam todas as ~n~luênci~s '
alUÃntes sobre a psique infantil descritas na literatura, ma s antes do arquet1p0 proJet~
do so~e a mãe e que confere a ela um fundo mitolÓgir.o, atribuindo-lhe a autoridade ou~
té a n~Tá~é:~ (Para isno a psicologia arr.ericana fornece fartos exemplos. Um~scrito
nesse sentido, porem com fins educativos, é de WYLIE o "Generation of Vipers"t"; ut ~..,/...o_..

:}J Os efeitos .trawnáticos da mãe (e:tiol~gica~e~te) devem ser divididos em doi's e-rupos'
Pri meiro$ a queles que correspondem as d~spos1çoes realmente existentes ou a traços de c~
rát er da mãe p essoal e
Se~md oz aqueles que ela sÓ aparentemente pos s ui, porque, na realidade, trata-se de pro-
jeçÕes fantásticas (i.e., arquetfpicas) da parte da criança. Já FREUD reconhecia que a
.. t:l't.. .... ...&.o;:J...L ' c;~. t: ~.oJ..u.Lú6~a. (.;.c.o.::. ut:.J..L'Uo:.o;;;::. ut: .L.u..:'.!lc:~. c:~..Lgll•Od. l ·ezl.u e - cu111U se pencava an'te s - nos e
feitos traumáticos mas . em um desenvolvimento peculiar da fantasia infantil.

~~ Ne~ se dis;ute ~ais a possibilidade- de que um tal desenvolvimento pude sse ser recond~
zido as influencias perturbadoras da mae . Por isso, eutou procurando a causa das ·neuro -
ses infantfs, ' antes de tudo, na mãe, já que sei, pela minha experiência, que~ primPir~
lu~r, uma criança muito mais provavelmente terá um desenvolvimento normal do que neurÓ-
tico e que, ~segundo, na grande maioria dos casos, as causas definitivas das perturba-
ç~es. podem ser encontradas nos pais e especialmente na mãe .

@ No entanto,. os conte~doa das fantasias anormais sÓ em parte podem ser relacionados


... -- , - ..
com a mae pessoal, porque com frequencia contem bem claras e inconfund1veie colocaço~s '
que se estendem alem daquilo que poderia ser atribuiuo à mãe verdadeira, especialmente '
quando se trata de configuraçÕes expressadamente mitolÓgicas - como é o caso, muitas ve-
'
zes, nas fobias infant1s, -
, . a mae com~ animal, bruxa, fantasma, ogre, berma-
aparecendo la
frodi ta ou semelhantes. . I"'I"V~;._- . -~ · J<. : -
~ Jã que as fantasias não são sempre e nitidamente mitolÓgicas, ou quando o ~são nem '
sempre partem de uma premissa inconsciente, mas podem originar ocasionalmente de contos,
mençÕes fortuitas ou semelhantes (t elevisão ~ ), em cada caso deve haver uma cuidadosa in-
vestigação. Em crianças, do ponto de vista prático, muito menos deve ser considerado do'
que no caso de adultos, . os quais, via de reera, durante o tratamento transferem tais fan
tasias para o(a) terapeuta, ou melhora essas :fantasias são projetad.ae.
10. Nestes casos não basta identificá-las e po-las de lado como pouco sérias, ao menos •
não durante muito tempo, porque, os ,ftrquétipos pertencem ao inventário integrante de cada
f"--',ol>·V~vvvJ..
psique, conzti tuindo aquele "erario no campo das representaçÕes obscuras" como disse KANT
e sobre o qual se encontram inQ~eros motivos- como.tesouro escondido- no folclore.
Um arquétipo- na sua essência- não conatitui apenas um irritante preconceito, a '
nao ser que sua colocação esteja desacertada. Em si, pertence aos valorea supre~os da
psique humana e por isso, povoava o Olimpo de todos os povoa. Rechaçá-lo como imprestá
vel sicnifica um patente prejuízo . Dever-se-ia tratar an·tes de dissolver essas projeçÕ es
para devolv e r seus conteÚdos àquilo que se perdeu pela alienação e spontânea .

3. O comnlexo materno .

3.1. O arquétipo da mãe conotitui a base do assi:o chamado complexo materno. t ainda uma'
que stao aberta se essP. pode oriejnar-se sem comprovável participação causal da mãe . Pela
minha experiência parece que a mãe sempre contribui ativamente para a ocorrência da per-
tur bação, especialmente nas neuroses infantís ou n~uelas que etiolo~camente J·á se im
... ' o ' -
ciaram na ~enra infancia. Em todos esses casos, a e~fera instintiva está pÃrturbada na '
criança e, com isto, constelnm-se arquétipos que cmcreem entre a mãe e ' a criança como e-
l~ ~cntos es tranhos e frequent~mente atc~ori za ntes. Se, ~or exemplo, no sonho de uma cri-
-0-

ança, BUa r-.ãe - alt.a.J:iente dedicada - . aparece c-~:-::o animal a.'":leaça.Cor ou como "bruxa, tal vivên
cia cria ~ cisão na psique da criança, inici ando-se a possibilidade de uma neurose .

).2. O co~plexo materno do filho.

3.2.1. Os efeitos do complexo materno ~ão diferentes, dependendo se se trata do filho ou da


filha. Consequências tÍpicas no fiTho são a ho:-;ossexualidade e o 11donjuan1.smo;• J eventualme_!!
te, tambem a impotência (mas aqui, t2ll\be:n o cor1plexo paterno tem um papel notavel). ~a ...ho-
r~ssexualidade o co~nente heterossexual permanece, de forma inco~ciente, aderido a ~as e
no "donjuanismou, tambem ela ea~ &en.do procurada "em cada r:ru.Ther 11 •
. ,
3.2.2. Os efeitos do complexo ~terno so~re
o filho apresentam-se atraves da ideologia de 1
tipo Attis-J<tbele s aut.o-castraçao, delusao e morte precoce. No caso do filho o complexo na-
terno não ~ ''puro", porque existe a deBiguaJ.dad3 de sa.xo. ~s~, d1.ferença._cons"-~ tui a bc>..se 1
do fato de que em cada complexo r..aterno ma.sculino alem do a.rquetipo z:.atemo,__o da 1Jpar..r.er 1
.3--;--xÜãl", i.e., da .Ani!sa, tem papel significativo. -

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.., 3 . .e.
~ · f\•
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soou ~u~il,ds forrr~
rude ou suave, consciente ou inconacie~ve~en~e,tanto faz
como, S~?Pre'
~era a rnasculinic.ade do filho; como tarnbem o filho realizara, e::1 \.U!Ul medida cres~ente a
feminilidade da mae, ou ~ rneno:s de rr~neira inccnaciente, instintiv~nte respondera a ela.
lAssim, no fillio as conexÕes simples _.de identidad2 ou de res~stê~ia discrimi- :1dora serão '
co;1stantemente atravessadas por fatores da atraçao e rejeiçao erotice.B. Qjm iss o, a c.:>nfigu
ração complica-se sobremaneira. -

).2.4.-Não quero pore~ afirmar, com o que !oi dito acima, que por causa disto o comolexo ~
terno do filho deveria ser tornado mais a seria que o dâ filha. Estamos apenas no inicio da
Pt;squisa dessas complexos feoomeros ps{quicos, no est~oi.o de trabalho presursor. Co:nparaçêa;
so podem ser tentaàas se se apresenta."':l c ifras que servem para \DM. validaçao sstat:fstica; e=.
-tas, : por enquanto, nem aparecem !'.O horizonte.
).2.5. O complexo ~terno sÓ na filha constitui um caso ~":laia puro e não ccrnrollcs.do. Aqui se
..
trata , ora de um reforço - orig:L"lado dd. mãe - dos instintos femininos,
,.. ora d~ u.-·ua
' àebilitaç.ÊÓ ..
ou ate extinçao dos mesmos :_ No primeiro caso ocorre uma inconsd.. encia quanto a proprla. per-
sonalidade, pela prepondsrancia da categoria instintiva; no outro, desenvolve-se uma proje-
ção dos instintos sobre a figura materna . Por enquanto temos que nos contentar can a cor.sta
tação de que o complexo materno· no caso da filha ou fomenta desmedidamente o instinto femi::
nino ou o inine, corresEondentemetrt.e; m.a!S no caso do filho, fere o instinto masculino, por
UJna inaturaJ. sexuallzaç.ao.
,
3.2 .6. O complexo
~
materno, sendo um conceito, da psicopatologia, esta sempre coligado com a . ~

noçao de trauma e sofrimento. ~~s, ao ret~ra-lo de seus moldes patologicos, demasiadamente'


estrettoa, atribuindo-lhe wu sigrificado mais extenso e mais global, devemos então mencionz
tarnbem seu efeito positi!o t no filho, alem ou em vez da homossexualidade, poáa eiTJ3r~r, por
exemplo, uma diferenciaçao do EROS ( nesse sentido ressoa algo no "9imP<>sio 11 de PLATAO); da
nasma rr.aneira o desenvolvimento [e um
bcr.l-gosto e de crit~rios est~ticos, nos quais 11\lr..ca 1
faz mal um certo toque -fe:arl.ni'QO J alem disso fomenta quá!.i.c..ades educadoras ~ quais uma habi
lldosa empàtia feminina confere primorad.a perfeição ; como esp:Írito hist~rlco, que ~ cansa!
vativo no :roolhor sentido e prese~a facilmente todos os valores do passado, emerge co:no tm1
. sentido de .. amizade, tecendo ligaçoes nàmlravolmente delicadas entre psiques masculinas, re-
i dimindo ate a amizade entre os ~s da desgraça das ine:xequibilidades; rnanifest.a uma rlque
za de sentimento religioso o qual faz tornar-se , verdade \ll'l'l.a "ecclesia
r..ente u:na abertura espiritual., receptaculo docil pera."1te a revelaçao .
..
... spirituallsrt e final:

3.2 .1. Aqui!o que no "do~juanismo·'


. ,
e neg~tivo, pode eignificar, ccrno posi~ivo, UJ'Ila naaculi-
nidade intrepida e categorica, UJna B.J':I.biç.a.o pel.:1s metas suprer;as, uma reaçao violenta contra
toàa estultice, caturrismo, injustiça e lerde za; u.~ prontidão parn oe sacrificar pela ver-
dada reconhesida, b eirando o heroismo; perseverança, vor.tade ter~.e ~nde fletivel 1 uma cur.b
, -
n~dade que n a o se ateMoriza nem perante os enigmas do urrl.verso ; enfhn um espÍrito revoluc'il
nari o qua constroi para seus conter:q>oraneos U..'l'.a nova moradia ou :nostra uma vis ao nova do '
.. -
Ir.U!ld.o. I I ......
I I · ~..-f ~ ....-r·~
\ ,.. .. , ~ -~ ~ ~

).2.0. Toclas essas po~sibillda.d.t.~a reflate;;-s~ noS'-m:tfoÍdge."ll.aS qui:!, anteriormente, emzmerei '
co~o aspectos do ~-quetipo materno. Ji que varias v ezes apresent ei o complexo materno dos I
- / .o..-.... ~r.
/] ;1 .:_--. ' . " t .. ~
-7-

filhos em uma s~rie de outros escritos, junta'l\entP. com os prob1cmas cm relação à Anima, nc'
que vem a. seguir - tratando-se do tipo da mãe - deixarei em SeGUndo plano a psicologia l!'.dS
culina ..

~ O complexo materno da filha.

cap1' tulo descrevo uma serie


Ne:-;~e , -
de tipos de complexo materno, mas com isso n.ao es-
i.ou formulando experiências terapêuticas. Os "tipos" não são casos singulares, como deve '
saber cada conhecedor do assunto. ·O "tipo" ta.r.1bem não constitui ~ualquer esquema inventado
no qual cada caso possa estar forçosamente contido. Os "tipos 11 sao construtos ideais, "con
f iguraçÕes ~dias" da experiEincia com as quais o c2.so individu;U num.<l ~e perrnite i~entif~
c ar. Pessoas
..,
que obtêm
... suas experiências apenas de livros ou de laboratorios
""'
psicologi
, cos 1
r..em estao em condiçoes de formar UI!\a imagem acertada sobre a experiencia psicologi.ca do te
rapeuta.

4.l. A h1pertrofia do aspecto mat~rnal .

u.l.l. J~ foi tnenci c. nado que o complexo materno na filha causa, de certa rnaneira, U--:\4 ~..
trofia ou atrofia do feminino. A super-intensificaçã~ do aspecto feminino significa wn au-
m~nto de todos os instintos femininos e~ em p~imeiro lu~ar, do maternal. O aspecto negativo
deste aparece ~uela mulher cuja meta unica e s parir. O m<rrido c~nstitui, .p atentemente, urn
assunto secundaria, representa essencialment.e um instrumento de reprodução , como um
. e figure}
dos qbjetos a serem ~dados, entre criançasJ parentes pobres, ~atos, galinhas e moveis.Ne~
ta mulher tambem
, a propria personalidade sera um assunto necundario e, numa escala, menor ou
~

maior, ela e, com frequencia, inconscie~te, porque vi~e a,vida nos outros e atraves dos ou-
tros; neste caso, por causa da inconsciencia, quanto apropria parsonalidade identifica-sa'
com esses outros. Primeiro, carrega suas crianças e depois agarra-se a elas, porque sem os
filhos n~o existe para ela razão da ser. Como DEJ1E'l'ER, teima mes:no perante os deuses, exigin
do sua filha como posse justa.
,
4.1.2. Assim, o EROS e nela desenvolvido apenas como relacionamento materno pessoal, mas in
consciente. ym
EROS inconsciente externaliza-se sempre como poder (onde falta o amor, o po:
der ocuoa a area vazia); por isso, este tipo, apesar cio todo e manifesto sacri flcio maternos
- > H r
nao esta em conCiçoes de executar um verdadeiro sacrifl.cio, mas faz . valer seu instinto ma -
, ' ...
terno com uma frequentemente brutal vontade de exercer poder, chegando ate a destrui çao da'
sua pr~pria personalidade
, e da vida pr~pria dos filhos. ~anta mais uma tal mie~ incensei-
ente da. sua propri.a personalidade, tanto maior e mais violenta a sua inconsciente vontade 1
de exercer poder.

L.l.J. Entre esses tipos h~ não poucos casos onde não DEMETER mas DAUBO seria o sfmbolo m~
adequado. O intelecto não est~ ~endo cultivado por si mesmo, mas persist.e, na maioria dos 1
casos, na forma ~ sua ~sposiçao inicial, i.e., pennanece natural-originalt sem tino, ~em
tato, mas verdaderro e, as v~zes, crofundo como a n.:tureza. - ~las ela mesma nao tem conscien-
cia disto e portanto, de·um lado nao sabe apreciar a.perspicacia de seu juizo, e de outro •
nem sab& admirar filosoficamente sua profundidade mas, ao contr~o, at~ se esquece logo da
quilo que falou pouco antes .

L.2. A super-intensificaç;o do EROS.

L.2.1. O complexo que tal ~ãe causar~ ~4 filha não necessita ser tambem uma hipertrofia do
instinto matorno. Ao contrario, eventualmente esse instinto pode chcrrar a estar extinto na
filha. Por isso, como substitutivo, ocorre n super-intensificação do EROS, a qual, via de '
regra, lev~ a um inconsciente relacionamen~o incestuoso com o pai ~nesse caso a iniciativa'
P~e da f1lha. fln outros casos, a psicologia do pai - pela projeçao da Anima. - causa a li-
eaçao incestuosa com a filha).

4.2.2. O EROS intensiricado cria uma ênfane anormal da,personalidade do outro. Os motivos '
conduto resHdo3 empreendimentos posteriores, de natureza não raro desastro~a, serão o ci~e'
contra a mae e o desejo de ,ultrapass~-la . iste tipo, que se deleita com relacionamentos sen
::>acionaís e saudo~istas, so por eles mP.5mos, interessa-se por hoJ'l"lens casa.dos, não tanto em'
virtude do seu proprio bem-estar, mas em função do fato da q~e esses ho~ns são casados e '
com isso propÕe-se uma oportunidade para perturbar U1ll mc."'.tri~nio c este ~ o pro~si to prlnc.!_
-b-

pal de tal empenho .3e o objetivo e' atintrtuo


·~ · ~
e•rapora-se o 1nt.eresse - por causa da ...~ a 1~~ de vQ

in~ Jinto materno- e chega a vez de~ outro {nisto difere este tipo do ~eu parente: o do
cor.:Jlcxo p<1torno feminino, onde ocorrem aco1I.idas maternas e u.-na incubaçao do "pai").

h .2 .). Tal tiro dC'JTl~nstra uma ~ot.~vel incons;iência. Essas mulhere~ sofrem quase
r a quanto a suas açoes e atuaçoes,, a qual, nao · apena~ para os parti clpantes mas péll'a elas
uma ce:1
mesmas , pode ser de certa maneira vantajosa. (Isto nao significa que Gejan inconscientes '
quanto aos fatos em si, apenas quanto ao significado deles). flem seria preciao éipOntar q'!e
para homens com EROS "lerdott esse tipo oferece uma oporturúdada indiscutivel para projaç;:m
da Anima.

S. A identidade com a m<1e . -


S.l. Se no complexo materno feminino n;o ocorre_uma intçnsificação do EROS, estabelece-se'

·T'la r>roieçao
.
-
entã o , uma identidade ,
da oronria
com a mãe e uma paralizacao ~ -
do proprio e~enho feminino. Accntece
ncr~on~lid::~no c:;nhro ~ 1"":><>. ~,..,..-··-"'r~- _. _ ___ __ t ___ , ·• _
;

u-
T
ao 1ns .1ntivo, tanto do in~tinto materno co:no do EROS. Nes sa~ !:nll.here!!, .tudo que l e":'!bra
matem cem, responsabilidade, ligaç~o pessoal e incentivo erotico, suscita sentL~ntos de
inferi ridade e as obriga a refugiarem-se, naturallnente, na Tl'.ãe, a que vive do "modo ·mais··'.
p~tf~ito:;~.:êolri<>:..uri:ta.;p~raop..Ui.dad.S~sitperlor .- iudoinqui:lõ.que, para a filha, parece inaUn,.o_
g~vel .

S.2. , -
Sem querer - admirada pela .filha - ja de antemao ela conso:ne tcdas as possibilidades 1
da mesma. E a filha contenta-se em encostar-se a ela, a~lando-se; ao r:esrno tempo, esfor~
se, de modo inconsciente, Pgr ass~ dizer contr sua propria vontade, para erguer-se paul~
tin3Jnente como tira..•a da propria mae - em todo caso, no irdcic, sob o disfa.-ce de w.1a c~­
pleta ded.i.cação e lealdade. Leva uma existência umbrosa, com frequência patentemente dern
talizada pela mãe e prolonga a vida desta por constantes 11 trzmsfusÕes ce sangue".
~ " ~ ,
5. 3 . T~s donzelas palidas, porem, nao sao imunes ao casr..-.ento .. !..o contrario, é:pesar da v,.a
"umbr osidade •.t e falta de participação interna, ou antes, justé-:o::ente por isso, no mercado 1
conjugal es-tão sempra nem alta". A."ltes de ~ais nada, são tão vazia3 que U."ll homem pode jus-
t.éil1\ente pressupor tudo
,
nelas; alem disso sao
H
de tal ma..,eira
,
inconscientes, que o inconsc1.m -

-
te estende delas irrurneras antenas, para nao dizer tantaculos pollposos, que sorvem to~ 1
.
as projeçoes masculinas, o que encanta sobremaneira os homens, ja --
, que uma tao grande inde-
fini~o , .feminina constitui a contraparte desejada de, uma definição e , univocidade mascul.1na.s
que so podem: ser configuradas de moda. Jreio satisfatorio se tudo que e duvidoso, a."nbi valen-
te, indefinido e obscuro puder ser deslocado sobre uma encantadora inocêP~ia fe~n1na. (Ee
ta espP.cie de mulher atua sobre o marido de modo peculiarr.:ente aliviante, au;
ele descebx±=-
com qu~m se casou, coM quem reparte seu leito conjugal, i~e., com a sogra).

S.L..For causa da caracterlstica falta de part{éipação int~rior e em função dos sentimen -


tos de inferioridade - que sempre criam alusÕe~ a uma inocência Magoada. - cabe ao homem ,..o
papel vantajoso de poder aguentar de modo quase cavalheiresco, com superioriCade e toleran
cia de)icada, essas I conhecidas imperfeiçÕes
H
femininas.· (Quç estas , são, em boa parte, cons=
tituidas rle suas proprias projeçoee, permanece-lhe feliz~.nte incognito).

5 .S. Exerce uma atração especifica a rn:>cinha notoria.-nente 11 indefe::;a" .. 'Ela tornou-se de tal
maneira um reboque da mãe que j; nem abe o que o.corre se um ho;;;em chega a se apro:::dJra.r de
la. Nesses mofTll'!ntos ~ tão indefesa e .1e modo tão puro não sabe de Tl."'lda que me31Tlo o mais mel
eo pastor dé·rebanhos torna-se um atrevido ladrão de mulheres ~~e dolosamente rouba a menf
na da mãe tão querida.. Tal chance imensa de ~ vez f igurar ta":lbe:n ccmo bandoleiro não se
ofereco a cada dia e desenvolve, por isso, nao pouca fo_rça motivadorn.. As:'Jim :t.arnbem ?L'IlrÃO
roubava Pr:RSEFONE da. inconsolivel mãe DEMETrn, mas em virtudD c!o conselho dos deuseZJ tinha
que dei.r~ voltar sua mulher para a mãe na estação de verão. Que o leitor perceba que tais
lf'ndas nao surgem »por acason .

6. O r e seu ardo contra a mãe .

6.1. Os três tipos extremos acima dqscritos estão ligados r o:>r ruitas &TadaçÕes 'int• ~dia~
d~s quais eostaria de apontar aqui uma das principais .. Tr .... t é -:1~, r-Esse tipo i.ntern di~o,
n:1o t.an4-~ d a i nt-A nsi fi caçao
H
ou paralizaçao
-
dos instintos f ;..7-ttr.3..nos, :.as ant.es de um resgua-
l • .... "' - -
<.o ~ooro ...uao preponderante contra o poder e:-..cessivo da JTL?.~.
6.2. E.sse s~so constitui um par adi~ e)..1.;:-:;;la.:: para o negativo complexo materno. Seu l:_ma I

principal e t Tudo conquanto que nao como a mae! Trata-se, de ~~lado, de_uma fascit~çao, A
q ual J porem, nunc~ se torna.r.i identidade, e de outro, de uma int.ensificaçao do EROS, a qual.
b 1
porem, se exaure n~~a certa resist encia invejosa c9ntra a mae . Tal filha sabe em o qu; e a
... -

n~o quer, mas em eeral não possui 2 clare~a ·necessaria quanto ao signifi cado de seu propri o
deStino . Todos os seus instintos sao - sob o pr~texto do .re;guardo - c~ncerrtrados contra a
~e; por is so não consegue es:truturar por si mesma a sua proprla existencia.

6 . ) . Casando-se, poàe acontec~r ainda que, ou u5ara o m~tr~mÔ~o para deslig~r-se !inalce~­
te da m~e, ou o destino jogara sobre ela um rr~do cujas feiçoes essenciais de carater sao
r ep'licas das da mie. Assim , todos os processos
-
e necesRidados instintivos deparam-se
.,.
com~
i-I
nesperadas dificuldades; ora a sexualidade nao funcior;a, ora seus fil~os nascem e na.o ... sao
desejados,"as obrigaçÕe s mate~.par~cem-lhe ih~uportaveis ou a3 exigencias da convive~cia'
conjugal Bao respondidas com irritaçao e impaciencia.

6.h. Nesta ,mulhe~, tudo isso n.io pertence aos fatos essenCJ.a.l.S da existência j~ que seu su-
premo proposito na vid~ seria, de qualquer f1Jrma 1 apenas e unicamente, o constact.e r esgo.lar -
. . _ --:-A.~:'':'-::-~-:-~:- :-.:_.: .. ,. _:: ___ ,.._.,_:; . . .:. . . : : ··--- .. -...:.. ·... -- •--.-- -•'- :.,'-'~....,_, _...., J-""""~ tJU~,,,o,~ulC-,
,- , .. r
as caracten.sticas do arquetipo materno. Assim, a mae como farrulia ou ela poda causar violen
tas r esi s tências contra tudo ou falta de interess e para cem tudo que se chama famÍlia, sodé
d.a.de, cc;-runidRd~, convençÕes ou se ma lhantes.

6.5. A r esistência contra a mie como ~tero aparece, com frequência, nas menstruaçÕes desre-
guladas, dificuld~des de concepçao, aversao a gravidez, hemo~agia5,durante a gestação, p~
~..os prematurc!i, vol'l.i. tos durante a eravidez e outras perturbaçoes analoeas.
~ , A
~ mae c orr~ ~~ateria cria irnpaciencia c~ objetos, manuseio desajeitado de instrumentos'
e de l ouça s e t.a;nbem falta de harmonia no vestir.

6.6. Do res~·ardo
u- contra
, a mãe pode originar-sP.,
, ~s vezes , um desenvolvimento
.. , espont~~eo do ~

intelecto, com o prc )()Sito de ~stabelecer uma are a na qua a mae nao esta presente. Tal de-
senvolvimenio ocorre flelas pr;prlas ,,ecessidades e não, po- exeJTJPlo, em virtud~ de um hoT'Iem,
para aparecer imponente ou para espelhar uma camaradagem intel ectual. Servira apenas para 1
quebrar o poder da mãe pelo conhecimento superior e pela crl ~ica intelectual, para deac art.ar
~adas as suas estultices, falhas l ogicas e lacunas d e eru~içao . Junto com o desenvolvimento
do intelecto, em geral ocorre tambem certa acentuação de caracterlsticas m:l.Scullnas .

7. Os aspectos positivos do complexo materno .

7 .1. A Mãe.
1.1. 1 . O aspecto positivo do primeiro tipo, L. e. , da super-intensificação do instinto mater
no, constitui aquela imagem de mãe que, em t odoe os t empos e em todas as lÍnguas foi enal=
tecida ~ louvada~ É aquele amor maternal que pertence ~s recordaçÕes mais comove~tes e mais
lnolvidaveis da idade adulta, raiz secreta de todo vir-a-ser, de toda transmutação silencio
s o fundamento , primordial de todos os r etornos e &berturas, de todos os princÍpios ; de tod~
os fins . Ela e internamente conhecida e mesmo ass im permanece estranha como a natureza - de
amoroso éarinho e de todo cruel - urna rrunca esgotada, pr~eirosa doadora da vida, a mãe das
dores e a p orta obscura, sem resposta, que se fecha atras dos mortos.
flV , , -

7 .1.2. A mae e amor materno, e a minha vivencia e o ~eu segredo . O que porteria ser dito d~
..
nru s , mais · injusto, mais , insatisfatorio ou · at~ de ma1.s f a lho e mais... err:=tdo sobre aquela que
se chamava mae e -gostaríamos de dizer - foi portadora daquela vivencia que abrange ela mes
J'Tlll, eu r..e~-no e a inteira humanidade e at~, sim, todas as criaturas viventes que :chegam a ,-
v:ir a ser a perecem, i.ê., a vivência da vida éujçs filhos ISanos nÓs'?

1 .1.3 . Embora sempre tenha s ido assim e aseim será, uma pessoa esclarecida nio p oderá jo-
··ar <lqUele i TTlenso fardo de significado, de responsabilidade, de tarefa de ceu e de tre vas
o-;nb!:e aquela pessoa fragil e falÍvel e mesmo a ssim merecedora de a.:nor 'compr eensão consid~
- , " , - , ' , -
raç~o e rer d a o que para nos era a ma e. Sabera tambem que a mae e a portadora daquela i.Jol.agem
ina.ta ...eTTl c ada mn de ..nos da :mater natt~ra" e "matar spiritualis", da circunferêQCia total da
r.xisten:i a, aquela & qual nos,,cO!'Ilo crianças, somos c-onfiados e ao mes!Tio t etT\po entreguee . 1
tll3n s e deve hesH a:- sequer \lTI\ atj 1'1)0 de segunt\o para l i be ::- ar a T'".ãe humana d~ ssa sobrecarga •
-10-

Pavorosa ' em consideração a ~la


..
e a nÓs mesmos. Acontece que justa~ente ecse significado'
~ ' t
pesadisaimo ~ qu~ nos amarra a mae e a prende a criança, causando o detrimento ps~quico e
fÍsico em umbos.

7.1.4. Não se d~ssolve
o complexo r.~aterno ~eduzindo a ruae, de modo wülateral, as propor-
çoes humanas, de certa forma "r e~ ificando-a". Uese;e caso, corremos o perigo de dissolver'
tambem a vivência "mãe" em átomos, destruindo um valor supremo e jogando fora aquela cha-
ve dourada que uma boa fada colocou no nos~o berço. Por isso o ser humano sempre associou
instintivamente o par pai-mãe ao pre-existente par divino, como padrinho e madrinha do re
cem-nascido para que esse nunca chegue - por causa de sua inconsciência ou por um raciona
liemo mfope - a divini z ar seus pais.
7.1.5. Antes de tudo, o arquétipo constitui, muito mais do que um proble~ cientffico,~~a
questao ure;ez: ~. e e imediata de higiene ps{quica. Mesmo que nos faltem todos os arcumentos'
sobre a existência dos arquétipos e todas as pessoas doutas nos provem, de modo convince~
- .. . _ .... ..,.:,.. __ .; ....... ,... --- --..3' ..... _.:;;.,...._ "'-.:-""-"- ;::,... ... ,_! . . . _,..~~-·,. . . . -.L:!, ,.. . . . ___ ,_ _!:'_ ..l-.:---

aos caie al~os valores e os mais naturais, submergirem no inconsciente.


7.1.6. Se estes caem no inconsci~nte, desaparece então, cem isso, toda a força elementar'
das vivências originais, ocupando seu lugar a fixação à imago materna e se esta chega a '
ner adequcdame~te arguida quanto à sua le&2 timidade, estaremos inteir~ e totalmente liga-
dos à razão humana e da{, condenados a crer apenas no exclusivamente r acional. Embora is-
so seja,_ de u..::: J::~.do, uma vantagem e até virtut!e, de outro constitui empobrecimento e lim.!_
taçãó, porque assi~ aproximamo-nos da aridez do doutrinarismo e do "esclarecimento". Essa
"Dée3Be Raison" eapaiha uma luz ilusÓria que sÓ ilumina aquilo que já se sabe, mas encobre
com obscuridade tudo aquilo que teria mais necessidade de ser conhecido e conscientizado.
7.1.7. ~uanto maia se propÕe a razão como independente, tanto mais se tornará intelecto '
puro, que coloca opiniÕes catedráticas oo lugar da realidade e, antes de tudo, não encara
~ #O
c. ser humano como ele realmente e, mas ve apenas a sua miragem.
-
7.1.8. O mundo dos arquétipos- compreendido ou não- deve permanecer consciente ncs SenB
h~anoa, porque neles éate .mundo·é ainda natureza e ligado às suas raizes. Uma ideologia'
ou ordem social que arranca os indiVÍduos das imagens primordiais da vida, não apenas ja-
mais chegará a ter sua cultura, mas em medida maia e mai.s crescente. transformar-se- á em
m~smo~ra ou estábulo.

7.1.9. 3e as imagens primordiais permanecem, de algwna forma, conocientes, suas energias'


correspondentes podem afluir ao homem. Maa se nao se consegue mais conservar a conexaoc~
elas, a energia que oe expressa nessas imagens - caus~~do a fascinação envolvente do com-
:!>lexo pa terno-m::l. lemo infantil - recài no inconsciente. Este adquire, cor:-s tal energia,u:na
carca q~1e ae empresta como quase irresist!vel "via a tergo" a qualquer ideoloria, ideação
- - C>
ou tendencia que faz emergir para a razao- como meta.aliciadora- a concupiscência.

7.1.10. Dessa forma, o individuo- sem mais recurso~- entrega-se a seu consciente e às noçÕes
r?-c!_onais c.E.st;, sobre o certo e o errado. Na~ esta mais !_onge de nri.m do que ,o desvalorizar a
íra.z
b o.o - essa dadiva divina e mais alta possessao
- humana. Nao tem, no entanto , sentido , coroo so
erana exclusiva, da mesma maneira que nao o teria a luz nWl\ mundo que não precisasse enfr-eti:BT'
as trevas~

1 ; l . l l . Devem 5er : considerados, então, tanto o cor..selho sábio da razão quanto a sua lei iooxo-
rav~l da limitação natural. Nu~a se pode ess_uecer que o nrundo persiste porque seus opostos- o
e:rtao equilibrando. Assim, est;o.sendo contrabalançadm tambem o racional ?elo irracional s o
pretendido pelo lW:>mentaneamente dado.

7 .1.12. T~ e:xcursio em geral, era realmente inevit~vel porque a mae e o prineiro mundo da cri
a.?lça e o ul.t.iln.o rrrundo do ad.u1 to. No manto dessa Isis rn.i.xima estamos todos envol t.os como seus I
fi~os. ~ds vo}temos agora ao~ nossos tipos de complexo materno feminino. No h~ o complexo'
n~ ... emo nunc~ e ttpuro", ist.o e, encontra-se sempre misturado com o arqu~tipo da Anima. o que te
ra a consequencia do que os prommciamentos 17 ~sculinos sobre a mãe são na sua maioria er.v:>eiÕ
n.:i
~ s • quer di t.er, " a ni rnosamente " prejudicado~. Apenas para a roulher existe
' ,
a possibilidade -
de
- l •.

1nv~stigar us efeitos do arqu~tipo materno~ livre de ~escl~ animosas , o que, no ~nt~nto, s~


ter~ probabilidade de sucesoo on.ie ainda nao s& desenvolveu um Ani.!J'IUS conpensador •

U. O l::HOS :>uper-intcns i fi c ado.

8~1. Chegamos agui ao segundo tipo do complexo materno feminino, i.e., ~ ~uper-inte~sifica -
c; ao do EROS. Sobre esse caso - na medida em que nos deparamos COD'I ele na area. pa lologic"} - ~
presentei am quadro bastante desfavorivel. ~ tambem ne5se tipo, tão pouco atrativo, h a um
aspecto pooitivo do qual a sociedads não pode prescindir •. Examinemos então justanente o efa~
to mais deletério dessa disposição, que é a inescrupulosa destruição do matrimÔnio, e pode~
rr.oo ent.io perceber nela uma orde:n proposital e judiciosa da natureza.
, A I
8 .2. Esto tipo - come ja foi descrito - origina-se com frequencia de um contra-efeito soore
~~mãe puramente inst i ntiva, e por isso, todo-devoradora e, por asoim dizer, representando'
r•o ramrmte a natureza. Tal tlpo materno constitui um nnacronismo , uma recalda rrum matriarc "~O
... ..,=.. ~uco no qua.L o nomel'll - encaraao apenas como re~:.un.1aaor e lavraaor coa.gJ.OD - .teva U.T.a c-d
tência insÍpida.

8.). A intensific aç;o reat~va do EROS na ~ilha visa o homem, que deve ser ret~rddo da s obre-
carga do maternal-f~rninino. Esse tipo de mul.he~, instint!varnentc, colocar-se-a entre um ca _-
sal, onda se sentira "provocada" pela inconsci'=!ncia do conjuga. Ela perturba o cO(llodismo t.ao
perigoso para a personalidade masculina, o qual é1a gosta de perceber como fidelidade . Tal 1
co~odismo leva à inconsciência quanto_~ ~rÓpria personalidade e estabel~ce,aqueles matr.L~~
nios _tidos como ,deais" em que ele nao e mais do que o "papai 11 ~ ela nao· e mais do que a
"marnae", ccmo e.te eles mesmos se intitulam reciprocamente. Esse e um caminho em decliva que
facilmente rebaixa o matrimÔnio a wna identidade inconsciente do "partoer".

8.4. A mulhe r do nosso tipo diriee o raio ardente do seu EHOS sobre o homem obmnbraào pelo '
:poder maternal e suscita com isso um conflito moral. Sem esse, porem, não há consciêrx:ia 6
personalidade. Pode-se certamente perguntar' "Mas porque deve o hornern 'l'or bem ou por mal" 1
,
chegar a uma consciência superior? Tal pergunta,.. atinge o miolo do, problema e responde-la ~ , 1
\lJil tanto dif~cil. fu rnesmo, no luear de uma autentica respos~ so posso apresentar urna e..;pe-
cie de credo 1 parece-me que, no decorrer de milhares de anos,· alguem, fin~l.Jnente, deveria s~
ber que esse znund.o n-~ravilhoso de montanhas, mares, sois e luas, da Via. Latea, das nebulosas
ostrelas ~lxas, das plantas e animais, existe.

t3.5. QuaP.do, no planalto Athino!este da África, de uma pequena_colina olhei as rranadas d.d ~
nitnais selvagens pastarvjo em silencio sem ~ som, tive a sensaçao de ser o pri.meiro ser hu;na
no, o pr.1.~iro en~e, o unico que · s~bi.a que tudo isso É. Todo aqu9lB mundo em redor de Xi'Úll\ e!
tava ainda no silencio inicial e nao sabia que ~. E e.xatamente nesse rnom.ento, quando eu s~
bia, chegou,o mundo a vir-a-ser e sem esse momento nunca teria existido. A natureza busca e~
sa seu proposito e encontra-o conswnado no ser humano, mas serrpre e apenas nos mai::i conscie_I!
teR deles. Cada pequeno passo para a frente, na senda do tornar-se c~nsciente, cria o mundo.
86 - , ... , ,
• • llao !la conscienci~ sem o d:!scernimento dos oposto·s. Esse e o princ1pio paterno do LOaJS
qua se liberta por ~ interminavel luta com o calor primordial e a obscuridade primordial ,
i.e., com a inconsciencin.do ventre materno . Sem temer o conflito o sofrimento ou o pecado,
aspi ra a curiosidade ·di.Yina o nascirrent.o. A inconsciencia
... , para
e, ' o LOGOS, o...;pecado priror-
dial, i.e., o MAL. Sua façanha, criadora do mundo, assassina, no entanto, a ~~~e o espÍrito
que se atrevia a todas as alturas e a todas as pro.f.'undidades deve trunbem - como sruf:.sro a -
' , , -
p ont ava - so f rer o castigo divino, sendo acorrentado as rochas do Caucaeo {alusao a PROMETE~

0.7 • ~lenhum delt;.,s pode exiotir sem o outro porque no principio eram UM o no fim serão de no-
vo u""H. A con sciencia não pode existir sem o constante reconhecimento e consideração do incc::Y; -
d.cn te, da ~ 8Ma maneira cxno toda vida te!~~ que pas!l&r por mui. tas mortes.

8.8. O atiçar conflito é \lJn.a virtude luc1fer1ana no sentido mais prbprio da palavra. . O confl..
to gera 0 fogo ~os afetos e emoçÕe3 e como todos os foeos tem tambcm aqueles do~s nspeetoe
i • e • , a combust
.. ao e a ero du çao
- de luz.' De um lado a emoçao
_, e' o foeo alqUJ.m.ico.
r cujo calor . t
t~az tudo n ma.nifestaçao e Cl!jo ardor "omne-s supe;flü.itatia c c. ..,burit" (que:tma. tudo que ~ rru-
p•;ri1.uo), e de outro, a e.t\Oçao constitui aquelt> momento em que o aço bate na pedra svlt.:rnCo'
-12-

uma faiscat assim, ~ a ~oção ~


fonte principal de todo vir:a-ser consciente. As trevas r~o'
se transf~"Tl em luz ne::n a inercia em movir.entc · sem a ernoçao.

8.9. Amulher cujo destino é seE perturbadora, apenas nos casos patol~gicos ~arece ser excl~
oivamente destrutiva. Em situaçao normal ela mesma, cerno perturbadora, estara tomada t ambcm
pela perturbàçio; como transfonnadora ~la trurib~m se transforma e, pelo brilho ào fogo que e-
la gera todas as rltirnas da comclicaça.o ficar ao esclarecida:!! e :!1\liiti.na.das. O qut parecia rer
um enleio 1ns~ato tornar-as-á ~ processo de purificação - "ate o f~til volatiliza tudo" ••
(FAUST II).

8.10. Se essa mulher per7.~cer inconsciente da·sua funçio, i.e., não sabendo q~e co~stitui '
uma parte lldaquela força que sempre quei' o mal e serr.pre fomenta o# b em", perecera enta.o pela 1
~~sr.a espada que carrega. Tornando-se consc~ente, transformar-se -a e ~ libaradora e libertado
ra (rede!ltora) .

9. A "acenas-filha".

9.1. A mulher do tercenro tipo, que se identifica com a mãe, pela projeção dos instinto5 1 e
d eixa paralizarem-se os seus pr~prlos, de f orma algu.:a tem que :flgurar sempre como um zer9 1
~em esperança. Na :faixa do normal existe, pelo contrario 1 a possibilidade de 'lue o recEfpta~
lo vazio se preencha por completo. Dn todo caso a #nrulher depende disto 1 ela nao pode chegar 1
a si mesma - nem aproximada11l6nte - sem o homem, ja que t em que ser terminantemente roubada 1
da mãe.

9.2 . Depois dissoJ durante certo tempo, tem que re~resentar - com. muito esforç~ - o papel, a
ela atribuido, ate se enfastiar com ele. Mas atraves disto pode chegar a descobrirt quem e e
la rea lmente. Tais muJher~s podem tornar-se abnegadas espo~s de hOJrens que existem unica e
e:xclusiv~nte em :funçio da identidade c~ uma
profissão ou çom uma habili~de rrn. s que, alem
disso, sao e permanecer.t inconscientes. Ja que e]es represent.SJn apenas uma mascara, a mulher'
d~Ja e star em condições de assumir - com certa naturalidade - o papel da acompanhante.

9.3. As mulhe res, não obstante, ,podem estar tambem na posse de valiosos dons que rnmca cons!:
guem se desenvolver porque a propria personalidade permaneceu inteiramente inconsciente. Nas
ses casos ocorre a projeção desse dom sobre o marioo que não o tem; pode-se perceber entiD T
como, repentinamente, um fulano bastante insig nificante, até quase inverossimil, ascende - 1
como que l e vado por um tapete mágico - aos sumos mais elevados. 11 Cherchez la ferrune 1 11 e encon
t~amos a chave do segredo desse sucesso. Essas mulheres me lembram - desculpem a analoffia me
nos gentil - grandes o, poderosasr cadelas que fogem quando ouvem o latir de H um cãozinho, sim:
p1 esmente porque ele e \.UT1 1'tern.vel" home~ embora nem estivesse em condiÇoes de morde-las.

9G4. ~as, afinal, o vazio constitui um erande segredo feminino~ sendo Primordialmente estra-
nho a home m, o cavo, o abismalmente diferente, o Yil~. A condiça o deploravel dessa nulidade (
esto': falando aqui como homem) que suscita compaixão é,. por azar . - poderia quase dizer - o 1
rnisterio todo-poderoso do inapreenslvel no feminino. Esse tipo de nrulher é tipicame nte um 1
destino. Un homem pode falar sobre, prÓ e contra tudo o~ nad~ ou ambos, e no i"im cai, impru-
dente e ditoso nessa toca, ou teria perdido e rnalbarataao a unica chance de assumir sua per-
: sonalidade . Para este nEo se pode desmentir a s orte tola e p1ra aquele não. se pode apresert.3r
plaus:fvel o seu azar.
"As rr,ies, as mie s , isto soa tio maravilhoso! 11 (FAUST II). Com este suspiro!. que lacra a
capitulação do homem perante o todo do maternal, d ev emos dirigir a nossa atençao ao quarto 1
tipo .

10. O ccr.1plexo materno neP;ativo.

10.1 . O '!'..&~O t ipo ::~e caracteriza pelo negativo cOr:!plexo rnate rn.o. Como fenÔmeno patol~gico
Os lh -\... i , ,. , 1
· sa r.ru ~r e uma comp&Iu•e ra d esagradavel, exigente e menos sati s f atoria para 'n homem ja
f!U'9 too.o o seu e~enho consiste em inteiriçar-se contra t.udo que jorra das f ont es n."lturais.
}~'\.S crn nenhum ~ugar est~ esc ri tt' que a cres:ente experi~ncia ia vida não ensina alco melhoi:
e o r esultado a o cessar da luta contra a mae, no sentido pessoal e rr~s est reito. ~~8 mes-
-13-

mo r~ nalhor hip~tese ser~ avarsiva a tudo que é o~scuro, nebuloso e a~b{guo, fo~~ntando e '
colocando em primeiro plano o seguro, claro e ra.zoavel .

10.2. Assim, superar~ sua inni quanto ~ objetividade e prudência ~ensata, torna.nao-se amiCJ
11

do marido e conselheira ajuizada da irmã. Capacitam-na para ·isso t.n."'bem, antes de tudo, suas
aspiraçÕes maoculinas, que lhe possibilita.TJl U.'na compreensão da individualidada do esposo bem
alem do campo do erotismo. De todas as formas do complexo materno, ela tem na se~ metad~
da vida, a ~lhor chanco de fazer do seu casa"Tlento um au.cesso, mas em todo caso, so depois
de c o'"lseeuir 1 vi.t oriosamente, su~erar o inferno do "apenas-feminino", o caos do ventre rnatc!:.
no que a ameaça com mais extensao em i'unçao do complexo negativo. Como se sabe, um co:!'lplexo
,, , ... , 'ltirn
50 podera ser superado se n~ decorrer ~a existe;ncia chegar a ser exaurido ate sua u a pr~
funclidada. Aquilo que afastavaroos de nos por causa do "complexo 111 teremos que re-sorver jüJl-
to com o fermento, se queremos realmente sair dele .

10.3. Essa mulher ~roxima-se do mundo com o rosto virado, como a esposa de LOT que voltou 1

s:Ju oThar na direçao de Sodoma e Gom0rra . Por isso, perante ela_, o mu..,do e a vida oass2..M ~n­
•.•v ~ .......... ,~.~ ....v, '-'-'·'''-' '-"c:l. .Lvuvc J..IU..:~muua ue ~.LutioesJ o t:~;epçoes e ~rnt.açoes as quais residem, to
das, no fato de que ela não se deixa Jevar uma so vez a olhar para a frente . Assim, a vida T
se ton1a, para ela, aquil2 que ela mais combate, i.e., o "apenas-maternal-feminino 11 , em con-
sequência da sua disposiçao meramente reativa-inconsciente para com a realidade.

lO.u . O voltar o rosto para a frente revelar~ para ela, por a5Sim dizer pela primeira vez, o
r.r.mdo $Ob a luz da clareza madura, ornado com as cores e t odos os gratos proolgios da juven-
tude e até, de vez em quando, com os da infância. Tal conseeufroento de ver significa cogniç.X
e o descobrlmento da verdade, essa condição indispens~vel do estar consciente . Una parte da.'
~~da perdeu-se, ·mas o sentido da vi da foi salvo.

JO.S. A mulher que combate o pai ter á sempre a p0ssibilidade da vida pulsi onal- feminina, por
que rechaça apenas aquilo que lhe parece estranho . Mas se combate sua mãe, poderá então, éJ:
riscando um tra'..!lllatismo dos instinto s , consego.ir UJTia consciência su~rior porque, na mãe, ne
gará tudo que é obscuro,' pulsional, arnbiguo a inconsciente no seu pr~prio ser. FJn virtude de
s~ clareza, objetividade e mascu1i1ridade, justamente esse tipo, entre as mulheres, pode ser
encontrado em 'losiçÕes i.Mportantes, onde sua feminilidade maternal tardiamente descoberta, con
duzida por um intelecto reservado~ desenvolverá uma ·atividade p~spera . -

10. 6 . r-<.as não apenas nn externo se afirma essa combinação rara de feminilidade e intelecto 1

rr.n.sculino t t<Dn.bem na área da sua intimidade psÍquica. Ela pode - sem ser percebida pelo mun-
do exterior - ter um papel de mui ta influência, como um invisf vel 11 spiri tus rector", euia es
piri tual e conselheira de um homem . Ein. virtude de suas qualidades, para o homem essa parece
ser mais transparente do que as outras formas do complexo :materno e por isso, estar.;, pelo mun
do masculino~ frequenteTI'JElnte encoberta por c ompl e xos maternos fav~ravelmente c onfigurados . -

10.7 . O "demais- feminino" espanta tUn determinado tipo do complexo rr.aterno masculino, caracte
rizado por urna profunda t e rnura nos senttmentos. Com a mulher acima descrita, porem, ele nãõ
se e s1Jant3. porque ela constroi pontes para a Mente masculina, sobre as quais esta pode condu
z!.;- o sent;.irnento para o outro lado . Seu intelecto artiéulante inspira confiança ao hoJrern. - ~
lcmento que de forma alguma deve ser subestimado - e que, nruito mais do que se imagina, cos-
tt::na faltar no relacionamento entre homem e .mulher.

19.8. O EROS do homem conduz nio apena~ para cima mas tambem para baixo, pa:a aquele mundo '
lugubre de uma HEKn.TE ou de uma KALI, perante as quais qualquer hOI'I'lern racional se horripila .
~ :_.•• •• .J ~~·...._..
" ,, <:.:~J
~l ,._ ~ t
. I f . ,--f- ../ '
~ . J LJ ·) 't -.vl...f,.,,_.., ....C.· ~ (..(. i.. c>- ;/~-~ ,

~- 11 . Resumo

11.1. no acima dito poude ficar claro que t~to os enunciamentos da mitologia co~o oe '
ef?itv 3 do complexo materno , devestidos da s ua multiplicidade casufstica, cm Última a-
n5!.i~e u.i)ontam o inconsciente . De outro rnodo, como teria o !ler hum:J.no chegado à ideia •
de t o~ar como paralelo o di~ e a noite, o verão e o inverno chuvoso, de dividir o cosmo
n~" mQ~do claro e num mundo obscuro, repleto de r.ntidades lendárias, se nãb tivesse en-
contrado em si mestno o rnodelt' ,-,ara is s o no consciente e no atuante, mas invisÍvel, i.e~
desconhecÍvel ineonsciente?
11.2. A compreensao original dv objeto 3Ó em c~rta parte se inicia da con1uta objetiva '
das coisasJ em outra, e fre~uentemente maior parte, inicia-se de fatos intrapsf~uico2,o s
quais, sÓ em virtude da projeção chc~m a ter, em 0eral, com as coisas. I sso acontece, '
oimpleomente, pela c ond ição do primitivo, que ainda não experim~ntava a ascese mental,i~
to é, a critica do conhecimento, mas vivencia o mundo como fenÔmeno universal, apenas de
modo cTepu3cular, dentro do fluxo da fantasia que o preenche e no qual objetivo e subje-
tivo estÜo se interpenetrando, ainda indiferenciado;,mutuamente.

11.3. Tuào que ~ fora está tambem dentro, poder-se-ia dizer com GOETHE ( "Deus e o ~h:nd.o''
nada está dentro, r . .1da e !.' tá fora/ O que está dentro está tambem fora''). Este ~d entro" , r
11

então, tão prontamer.te de ~ zido do "fora'' pelo racionalismo, tem sua estrutura prÓpria ,
que, c c..mo um " apriori 11 , pr ,~ cede toda e:x:peri~ncia consciente. Nem seria p ossfvel ima&l-na.!:
mos co~o a experiência, no sentido mais amp lo, ou como o psÍquico, em geral, poderia ori
ginar-se exclusivamente do ext erno. ~ psique pertence ao mais fnti mo do seGTedo da exi~
tência, e como tudo que vive organicamente possui uma estrutura e forma particular, a~~
tambem as possui a psique. A questão da estrutura ps{quica e seus elementos - ex2~~mr~te
üs uJ-que"t~pos - terem tiào, a.e qualquer ICIO~olO, a sua origem, constitui assunto ci._a .. ,étail-
sica e por isso não pode ser respondida . A estrutura é a já anteriormente encontrada,i.e.
aquilo que, em todo caso, já estava lá como condição prévia. Esta é a Hâe, a f orma em q~
se compreende todo o experimentado; ao contrário d e la, o Pai repres enta a dinâmica do ar
quétipo , já C].ue osta constitui ambos , forma e energia.

11.4 . A portadora do arquétipo é,


em primeil·o lur;ar, a mae pessoal po"rque a crianÇ3.1 no'
iniclo; vive com . ela numa participaçao exclusiva, i.e. , em identidade inconsciente. A '
r.1~e não constitui ap enas a condição prévia f{sica, mas tambem a ps{quica, da cria n'(a.Com
o despert2Q' da consciencia do Eu, essa participação gradativamente se dissolve e o cons-
ciente carnaça a entra~ em oposição à sua condição prévia, i.e., ao inconsciente . Da{ se'
oríeina ~~a distinção entre o ~~ e a Mãe , cuja diversidade pessoal se torna paulatin~me~
te Qais e mais saliente;Com isso , desprendem-se da s ua im~gem todas as particularidades'
fabulo3as e miateriosae que se deslocam para a possibilidade maia prÕ::::irna., por exemplo ,
, - . ... ..., # •
pi...ra a avo, que sendo a "l4ae da t<fae "· figura como .. maior'' que ela. Ela e, na reall dade , a
"Grande 11âe". Não raramente apresenta feiçÕes izualmente sábip.s e tambem as de lL'na. bi"'l.lXa.-
, -.. . . _ ... , ,
\11.~. Quanto mais distante da consciencia se encontre um arquetipo, tanto mais clara sera a-
-
-- , .., , • ~ rf# ,

quela e ele aparecera ainda mais com feiçoes mitologicas . A tra~siçao da mae para a avo signi
, .
fica uma elevaçao da ordem do arquetipo . Isto se 0bserva mais nitidamente, por exemplo, r~ or
-
- I , -
ganizaçao dos BA!AK-os : Se o,pai morre , o sasrif~cio ser~ modesto~ em geral uma comida comum~
mas se o filho ja tem seu proprio filho , entao o pai t.ornou-se avo e assim conse~u \lJ1'la e:=>fB
cie de dignidade mais alta ho alem; ne5se caso, o sacrirfcio oferecid~ a ele ser a mais vulto::
so.

1:!..6. Na medida em que a distância entr e conscientEt e inconscie nte se torna maior a avÓ se c
transforma., pela elevação de 11status ", em Grande l'lãe e,. com frequência, nesse pro~esso, os o
posto; int.ernos na imagem se separam. &nergem assim, uma fada boa ·e uma rnalévola ou uma beni-:
V1<l- lucida e uma obscura-perigosa deusa. Entre os antigos ocidentais e ~spP.cialmente n.:v cul tu
rõ.S orien-+:.ais, os opostos mui tas vez e:> ·permanecem unidos na. re SITia fig m·a sern que a consciê nclã
:::e perturbe por essa situação paradoxal. As lendas sobre divindades cont~m bastante contradi-
ç.Õec; e tarr.bem o car~ter moral de suas f:!.guras . Nos antiGOS orient ais a condut a pararloxal e a
aJ'!'I.biguidade moral dos deuses suscitou ,ja bem cedo c~rto embaraç.o, d?ndo origem t ambem a cr{ti
cas correspondentes~ isso le~ou, ora a desvalorizaçao dos deuses olimpicos, ora f0rneceu ense
jo para interpretaçoes filosoficas .

11.7. Expressa-se isto mais c)ar~ente na r eformação cristã do conceito judeu de Deus: JA~;E,
de a;r,\,;ieuidade moral, tornou- se w;, Deus exclusi varne nte bondoso e, em oposição a ele, o dii!.bo'
c~lobava dentro dP- si todo o mal . Parece que um maia intenso d esenvolvimento dos sentimentos
Loria,f~rçado o hom~m ocidental iquela decisão, que partia mor a)mente em doi~ a divindade.Ao
contr a~ o, no oriente a diGpostçao predom1n~~emente int~le ctual -intuitiva nno concedia aos •
v~orP.3 emotivos qualquer direito de decisão; por isso, os deuse s podiam cons erTar intocacia •
s~a oriV.nal paradox.a1i~ade moral . As ~ im, para o oriente, KALI, e para o ocident.e a HADotHIA ,
sao r epresentativa~ . A, ultima p•~rdeu .... nteira;nent.e sua sombra, que caiu no inferno folclÓrir:o 1
e existe como "t.a.ta.ravo do diabo" .
.2 ~·~ ompreens iio o.r ig.;n<"!. ib (, :-,J~to ::-Ó C'r.. c,~rt.c:-. parte .::;e inicia da. con:iut<l ob~
• r
cias coiS.i.!J} em outra, e frequ.?ntemente m;üor p.J.rte, inici<l-se de fatoo intr.:!.p!i l t:: ~l.lC'I:.· ,
q ... ais, cÓ cr:'l virtude da projeçâo chc[;ô.m a te.r, e:n Geral, com a::; coi!:J<ls. I ::.so i:cont ~c c,
Gi~pleomente, pela condiçio do primitivo , que ainda nio cxperim~ntava a a~ccGe nental,
to ~, a crftica do conheci:nento, mas vivc:ncia o mundo como !"cnÔm-;:no wliversal, a;:>er.a.::> c:
r;:ado C!'epu.5cular, dentro do fluxo da fanta:3ia que o preenche c no qual obje ti vo c su~j ·:­
tivo estão s~ interpenetrando, ainda indiferenciado; 1 mutua.mente.

11. 3. Tudo que · é fora está tambem dentro, poder-se-la dizer com C.O~E ( "Deu:; e o Kl:nJ('
"nada e::; t a,. dentro, nada esta
,. fora / O que esta, dentro e::>ta., tambe::~ fora tt) • E s t e .nd cn t ro " , '
cnt~ , tão prontamente deduzido do "fora" pelo racionalismo, te:n sua estrutt!ra prÓp:-ia ,
qt;.c, como um "apriori", precede toda experiência consciente. llem seria possivel imagin::.!_
nos como a experiência, no sentido mais amplo; ou como o p~iquico, em eeral, poderia orl
ginar-se exclusivamente do externo. Ã psique pertence ao mais {ntimo do sebTedo da. exi"~
tê~cia, e como tudo que vive orcanicamente po~~ui uma estrutura e forma particular, as~~
ta~bem as possui a psique. A questão da estrutura psrquica e s~us elementos - exata~e~te
-.;.., i!rqueLl.pos- ~eram tiao, ae qualquer wouo , a. su.:i oric-em, co~3titui assunto da metafi-
sica e por isso não pode ser respondida. A estrutura ~ a já anteriormente enco:ltr-ada,i.e.
a~uilo que, em todo caso, já estava lá como condição prévia. E~ta é a t~ã~ , a forma em Ç\e
se compreende todo o experi~entado; ao contrário dela, o Pai representa a dinâmica do ar
quétipo, já que este constitui ambos, forma e encreia.

11 . 4. A portadora ào arquétipo é, em n rimeiro luear, a mae pessoal porque a criança, no'


in{c.i.o ; ·vive com· ela numa participação exclusiva, i. e. 7 em identidade inconsciente. A
n:~e não constitui apenas a condição prévia ffsica, mas tambe~ a psiquica, da criança.Corn
o despertar da conscie~cia do Eu, essa participação bTadativam~~te se dissolve e o êons-
#- ' ... , ,
ciente começa a entra~ ern oposiçao a sua condiçao previa, i.e., ao inconsciente. Dal. se'
.oJ.~it:,ri na urna distin9ão entre o Eu e a I•Tãe, cuja diversidade pessoal se torna paula tina:nC'!!_
te mais e mais sal~.ente~Com isso, desprendem-se da sua imagem ~odas as particularidades'
f~bulo3as e misteriosas que se deslocam para a possibilidade mais prÓxima, por exemplo ,

-
p::2ra a avó, que sendo a "Liâe da Mie"· figura como " maiorh que e~a. Ela é, na realidade, a
,...,. ,..., . ,
"Grande }lae". Nao raramente apresenta feiçoes igualmente sabifl.3 e ta.mbem as de uma b~
-
A , #
11 oS• Quanto mais distante da consciencia se encontre um arquetipo, tanto mais clara sera a-
q~ela e ele aparecer~ ainda mais com feiçÕes mitol~gicas . A transição da mãe para a avÓ signi
. - , -
f1ca uma el3vaçao da ordem do arquetipo. Isto se observa mais nitida~ente 1 por exemplo, r~ or
-
_... """' ' ,
~~:uzaçao dos BA!AK-os: Se o,pai morre, o sasrif~cio ser~ modesto~ em ~eral uma comida co~um~
-
r;-,a_õ !Je o f'ilho ja tem seu proprio filho, errtao o pai t.ornou-se avo e assim conse~u uma e5p;!
cie de dig:::lidade mais alta ho eJ.am; nesse caso, o sacriffcío oferecid<;> a ele sera IT'.aiS vulto::
so.

ll .6. Na medida em que a distincia entre consciente- e inconsciente se torr.a maior, a av~ se r
tr-a..Tlsfon:'la, pela elevaçâ'o de "status", ~m Grande Hãe e,. com frequê:lCia, nesse processo, os o
posto~ in~rnos na imagem se .separam. flnergem assim, u:n·a fada boa -e urna JT'.al~vola ou uma ~n1::
ry..a- lucida o urr.a obscura-perl~osa deusa . Entre os antigos ocidet,tais e ~sp!?cialmente l'\(1j cultu
ras orientais, os opostos zm:itas veze~ -perrn.anecel"l unidos na rm sma fiem·a sem que a consciêncil.
~::perturba por ess~ situaçao paraàoxal. As lendas sobre divindades contêm bastante ccntradi-
ç:,_Bs e tarr.bem o carater moral de suas f1guras. Kos antit;os orientás a conduta paradoxal e a
~--;--0iguidade r.~oral dos deuses suscitou._ja bem cedo c~rto embaraç.o, d?ndo origem tambem a crlti
c~ correspondentes : isso levou, ora s desvalorlzaçao dos deuses oJ1mpicos, ora for.re-.eu ense
.. i .. ,
~o para nterpretaçoes filosoficas.

ll.7 . Expres~a -se 15to mais cJara-r.ente na reformaçao cristã do conceito judeu de Deus: JAH\..fE,
•2 ! air.lJifrldda.de moral, tornou-se um J:l.eu!'l exclusi va;·nent.e bondoso e, ~r.J oposição a ele, o diab_Ç>~ .
~·n~lobrt.va dsntro de si todo o mal. Parece que um maio int en~ o dese:rvolvimerrto dos sentimentos
t':ria,f?rÇ3do o ho~~m ocidental ~quela decisão, que partia mora}r.e~ta em doi~ a divindade.Ao
c-:r.trnno, no oriento a di~ostçao..,.ilTedorrd nante;-:ente intelectua1-i ntuitiva. rU>O concedia ao:; '
·.-.".2,or~:'l emotivos qualquer direi to ~ dcci::;ão; por isso, os deus2!> ;oodiam conservar intocnàa ,
:.;_:-'1 ori t:P-nal p;u-ador.ali~üde moral. A3~1m, para o eMente, KALI, e para o ocidRnt.e a HADmlriA ,
~:!O rep;-esentati v.:1:: . A, ul lima p:~rdau inteiramentE> sua ~O!Tibra, q:1e caiu no inferno folclÓrlt:o'
e 1.:x:U:;te cc~ "tntaravo do diabo" . ·
-15-

11 o 8 • Graças ao desenvohrirnento dos valores


.; de ~entimentos, o esplendor da divindad.e 1 uzent,t
e bondosa exaltou-se de modo incomensuravel mas o obscuro, que deveria ser representado pele
diabo, localizou-se no ser humano. Tal peculiar desenvolvimento foi causado principaL~ente 1
pelo fato que a cristandade, ate~orizadaJPelo duali~o maniqueísta, com toda a sua for~a pr~
tendeu conservar_o nonoteismo. Ja que, na~ obstante, a realidade do obscuro e do mal nao ~o­
de ser negada, nao restou outra coisa senao responsabilizar por isso os seres humanos. Ate o
diabo foi quase ou inteiramente 11 liquidado 11 e assim, esta figura: metafisica .que con ~tituia 1
anteriormente partE integrante da divindade, cheeou a ser introjeta.da nos hwr.anos e !S~es se
tornar<liT'., dessa maneira, os 11 autênticos" portadores do ~sterium.J-~_guitati.s 11 ~o m. Jterio '
da injustiça, i.e., culpa): 11 omne bonum a IJeo, .omne malliJ•t=ab hom.i.ne 11 (tudo que e bom vem de
~us, tudo que é mau vem do homem).

11.9. Tal desenvolvímer-:..o corrru.ta-se, hoje em dia, àe modo infernal, porque 11o lobo n<1 pele 1
do cordeiro 11 anda por todos os lados e sussurra nos ouvidos que o mal não passa de um mal-er.
tendido. constituindo U1TI i..T1!'\t'!"UfT18Tlt.o h~hi.l no nrnrtrP.s~o. H~ Oll.:>r.l nt>n~P nn.::o """"' ; C:Cf"\ " ~·~ 'l ,.,T
c.a obscuriàade estará termina.Tltemente liquidado, mas não percebe: que espécie de intoxicação
ps{quica esti sendo introduzida assim no caminho humano. Just~~ente com isso as pessoas fa-
zem de si mesmas o diabo porque ele é a metade de um arquétipo cujo poder irresistivel evoca
da boca dos descrentes a cada momento, oportuno ou não, a exclamação: 11Heu Deus do Ceu! 11 ou
"Ai, meu Deusl". Se for possfvel evitar algo, então que seja a identificação com liJ-n arquéti-
~o, porque as consequências são - como demcnstram a psicopatologia P. determinados eventos da
epoca · - ~ternorizadoras.
~.~-0 ocidente· ~cabou con~igo m~smo psiquicame~t~, . ~e tal rr~neira que_tem que n~g~ a
sencia do poder ps~quico - ~ao domanada e nem do~navel pelos humano~ - ~.e., a propr~a di -
:s-
vindade, para que alem do ja ingerido Mal) ainda possá tomar conta do Bem. Aconselh•-se ler
atentamente e com adequada cr{tic~ psicologica o Zaratustra de NIE7ZSCHE que, com rara cons~
quência e com a paixão ~e um individuo realmente religioso apresenta a psicologia daquele s~
per-homem cujo Deus esta morto, daquele que chega a se arrebentar tentando apossar-se da pa-
radoxalid.?.de divina na moradia limitada do horr:em mortal . GOETHE sabia-nente percebia bem "que
- -
temor cai sobre o super-homem 11 e com isso provocou uzn sorriso irÔni.co no auto-suficiente "fi
listeu 11 • Sua glorificaçao da Nae, cuja grandeza abrange desde a Rainha do Ceu ate, a "JI.aria 1 -
Aegiptia 11 , indica uma suprema sabedoria e 1.4-na pregaÇão jejual para os ocidentais já maduros 1 •
para ponderar.
'l-- ,
\ ll.llo.)·ias o qu; se pretende, enfim, numa epoca em que mesmo os representan~es oficiais das
religioes cristas declaram sua incapacidad~ de c ompreender os ftplàarnentos da vivencia rel:i.gio
sa? ~resento _a s~ntença de um artigo teologico protestante: 11Nos nos entendemos como entesT
unitarios e nao tao peculiarmente divididos que poderes estranhos possam interferir na nossa
vida interior, como,. o Novo, .Testamento pressupÕe~•.
, , Parece, de modo patente, ser desconhecido 1
ao autor que a ciencia, ha mais de meio seculo, ja ~onstatava e experimentalmente comprovava
a labilidade e dissociabilidade da consciência.

11.12. Sabe-se, ~ntão, que as nossas intençÕes conscie~tes são, po~ assi~ dizer, constante~
te ~erturbad~s e impedidas, numa medida matar ou menor, ,por intrusoes inconscientes cuja ca~
sa e,;para 9os, desconhecida por enquanto . A psique , esta lónge de_constituir uma unidade; ao
contrario, e u~a mistura fervente, de impulsos contrarias, , repressoes , e afetos, cujo estado '
conflitante para nruitas pessoas e ~e tal maneira insuportavel que ate d~sejaT a re~ençao tao
.. ~

eJr.altada pela teologia . l".as reden~ao de que? 11atura1mente de uma concliçao psilquica altaro.:mte
~roble~tica. A unidade da consciencia, no que se refere à assim chamada personalidade, não
e urna realidade J!l.as um "desider atum".
,
11.13. Lembro-me bem de um certo filosofo que - tambem deslunbrado com ~ssa unidade - me con
, -
sultava por causa de sua neurose: era obsec~do pela ideia de que devia ter cancer. Ja nem~
q unntos especialistas consultara e quantas chapas de lmios X foram feitas. Sompre e de novo'
lhe asse~avam que não !-in'ta can9er. Elo ma smo disse t ~lli s~i c;ue · nüo tenho cancer, no ont~
to poder~a te-lo". Quem e re~ponsavel por es!;a im.:1'!inaçao? Nao e elu que a produz, m.lS um po
.v - y rotl -
der a ele estranho a impoe a ele. Na verdade nao ha muita diferen\a entre essa condiçao e a'
do possesso do Novo Testa:nento. Acreditar n'}-~ de~Ôrü,.o do ar ou em um fator do inconsciente '
que me apr9ota algo alabolicamente ~es.::.graàavel e ·inteiramente ._irrelevante . O fato de que l.IDTI
p E;: sso;; esta sendo arr.eaÇacia, quanto a sua inteerid.ld.e imaginada, por poderes estranhos, perma
l!2 c e rn sempre o mesmo . A teoloeia faria muito t:J~lhor se finalment.e, tlilld vez considerasse t.ai.s
fatos psicolbgicos, do que, com 100 anos de atrazo no estilo, ainda tentar, ~ moda de ...,..,..a i 1
minaçã.o , "desmito1Dgizar 11 • .. ..... •

ll. lh. No acima exposto tentei apresentar U!!la sinopse sobre aqueles fenÔmenos pd.quico::. que
podem ser atribuidos à preponder~cia da imagem materna. Sem q'!:e tenha siào sempre a~ontarlo,
o leitor certa~nte conseguiu, sem mais, perceber aquelas funçoes que -mesmo no~involucro
da psicoloeia personallstica - caracterizam mitologi~amente a imagem da Grande .Hae .Sollci ta.!!
do aos no s sos pacientes que se encontram sob a influencia espec{fica da imagem materna, para
expressar por pala~a ou im~gem aquilo com qu~ se deparam como Mãe - seja positivo ou negat.~
vo, - obt emos produçoe:; sim. c licas oue
.. podem ser identificadas como analogias
, dlretas da mi to
logica imagem materna . Com ~ssas analogias entramos, no ~ntanto, numa area cuj,a investigaÇélo
-
exige ainda muito trabalho ~ Eu pessoalmente, ao menos, na.o me sinto em condiç~s de pronunc!
ar algo de finitivo sobre ela. Se, mesmo assim, me atrevo a fazer algumas mençoes, elas devem
ser encar adas como preliminares e 11 sem COTJPromisso".

11.15. Antes de tudo, gostaria de dirigir a atenção para aquela co~dição particular em que a
imaga'l\ materna se encontra em nivel diferente, se quem a expressa e um homem e nao u.-na. mulh~
Para a mulher a mie constitui o tipo da sua consciente vida dentro de seu sexo. Para o hame~
p01·em, a mãe ser~ o tip o de um estranho
,
oposto a ser experimentado, repleto com oI mundo de

i
T
magens do inconsciente l atente. Ja por causa disso, oNcomplexc materno do homem e, ero pr~nc~
pio, diférente do da rrulher. Corre spondentemente, a mae p ara o homero - para dizer isso ja de
antemão - constitui l.ml assunto de car~ter expressad.a.mente simbÓlico e dai. se origina, certa-
mente~ a t endência a idealizar a mie. A idealização é um apotropaismo secreto. Idealiza-se 1
onde uma ang{istia devia ser 11 amarrada 11 : o inconscienle e sua influência ~gJ.c:_a, que é temi -
vel .. (Naturalmente a filha tarnbem pode idealizar a mae, mas para isso condiçoes espec!ficas•
são neces s~as, enquanto ' no homem a idealização decorre, por assim dizer, dentro de molde s•
nonr.ai~.)
N , , , (

ll.l6. Enouanto no homem a mae e - ipso facto - simbolica, na mulher ela tornar-se-a um sJ..m-
bolo sÓ aParentemente, no decorrer do desenvolvimento psiquico. É impressionante ver- pela'
..
expe riência - que no homem Õ tipo ,."t.lrania11 emerge, em geral; com mais intensidade,
, . ao passo 1
que na ·mulher preponder.a o tipo ctonico, a l'Iae-Terra. Numa fas.e em que o arquetJ..po aparece ,
via de regra estabelece-se uma identidade mais ou menos coJtf>leta com a imagem primordial. ·A
mulher pode identificar-se de modo imediato com a Mãe-Terra, mas o homem, ao contrário, nio.
(Exceto nos casos psic~ticos). Como ~ 'mitologia demonstrar pertence às particularidades da 1
Magna ~ater figurar, com frequência, coplada ao seu correspondente m~sculino. Por isso, o h~
r..em identifica-se, agraciado
, pela 11SOPHIA", cotri)o filho-amante, que e "Puer aeternus" ou 11 fi
lium sapientj_ae , um sabio.
11

ll.l7. O companheiro da Hãe ctÔnica, porem, é justamente o contrcio, um HERMES itif~lico( ou


9omo no Egito, um BES) ou, expressando em .forma hindu - um . 11 lingaJ11 11 • Esse s.irnbolo~ na Índia,
1
c àe alto significado espiritual e HERNES figura como um dos entes mais contraditorios no
sincretismo helenfstico, do qual se oriefnaram alguns dos desen~olvimentos espirituais mai s'
decisivos no Ocid.!jnte. HERl"IES é tambem uma divindade de revelaçao e, na filosofia natural d9
inicio da Idade 1-'.edia, ele representava não menos do que o 1'NOU3 Cri.ador 11 • Esse segredo esta
sendo proferido da maneira mais acertada na mensagem obscura da 11Tabola ~aragdina 11 : 11 Qnne 1
superius sient inferius 11 (Tudo que est~ ern cima é igual ~quilo que está em bai~o).

11.18. Com essa identificação entramos no catnpo das 11 Sizigia 11 , i.e., dos pares-opostos, no 1
qual o,um nunc~ está separado do outro-contrário. É aquela esfera vivencial que leva direta-
r.J.ente a experiencia. da individué}ção, do 11tornar-s e-Si-Hesrno" • . Bem seria possivel trazer da 1
literatura ocidental da Idade Hedia e especialmente dos t e souros da sabedoria oriental, mui-
tos sÍmbolos de~se processo, mas nesse a~sunto, palavras e noçÕes, ·e at~ mesmo ideias pouco 1
s ignificam e ate poderiam conduzir a peri ~o sos meandros. Nessa ainda bem obscura esfera da 1
experiência ps{quica, onde o arqu~tipo, p~r assim dizer, confronta-se conosco de modo imedia

te representa algo~, e ntao


,., , """' -
to, ta.wem seu poder ps{quico ma.:1.lfestar-se -á de maneira mais n:! tida. Se essa esfera realmen
, essa e a vivencia pura e por isso nao pode ser compreendida
~ , ou ( an-
tecipada por nenhuma formula. Para o conhecedor do assunto, em t odo caso, sera co~preenSJ..vel
~arr.bem sem fartas e.xplicaçÕes, que esp~cie de t ensão expres sa APULEIO na sua m2gistral prece
a REGINA COELI, quando associa a Venus Celeste a "nocturnis ululatibu s h orrenda Proserpina 11
(Prosorp~na que, pelo seu uivar ~noturno, suscita horror) : é a paraàoxalidade horrenda da ima
c·~m dí.i !-'.ao Original. -
11.19. Q"Jando, em 1938, escrevi a primeira rcdaç ~o dessa publicação_, nao sabia a inda que do-
ze ;·nos mais tarde a con-'"icuração cristã do arquétipo :'laterno seria clP,vado ~ categoria de
ma v e rdade dOGfo'l~tica . A "Regi na Coe li" cristã, natura1r.!ente tornou;se isenta -de todas a~ -
cteri s ticas olfmpicas, exceto as de lQ~r~sa, benigna e eterna; ate seu corpo h~~ano, q~s ~ '
mo tal estava
~
mais e, ntregue ~ decomposiç~o ouanto ~ sua n1at~ria
, . ,.. grossa, transforn.ou-se ~ n •.
corrupt1bilidade eterea .~P.esmo assim, a rica ale~oria_da Mae Divina demonstra algumas ~onc>
com sua prefiguraçao paea em ISIS (ou IO) e SE·íELE. Nao apenas ISIS e o meni~ HOROS sao re
presentaçÕes i~onologicamente mo~delares, mas tamhem a ascensão de SEHELE, a m~e original.r:ent ·
mortal de DIONISIO antect;de a PAssú.mptio Beata.e Virginis~. O filho ãe S.El-f".LLE e tarnbem um d C'·:
que mor re e ressuscita (e o màis jovem entre os deuses do,Olimpo). SEHELEmesmo parece ter '
do una antiga deus~ àa Terrn, oom~ tamhP-~ a Vjrcem Maria e a Terra, da qual Cristo nasceu.
r ---.. ,. , - -
' 11.20~ Nessas circunst.ancias emerge, nat.uralmeqt.e, ?ara o psicologo ~ questao: entao para OJ.~
de foram as relacion2JllentCE com a terra (tão caracter~stico para a imagem da Hãe ), com a obsc L
ridade, corn o enigma , ,,
abissal do corpo humano..,. (por sua natureza animal
, de pulsÕes e }JaixÕes), .
enfim, corn a ~ropria .11o.a.terla"? A d e!?laraçao do dogma ocorreu numa _epoca em que os cons egm.. -
rr.-entos das ciencias nat~ais e da tecnica, ,..juntq com ~ cosmopsao racionalista e materia~
ta a"'11eaçara"l\ com e::xtinçaq violenta o patrimonio ~spiri tual e us~ouico da h· ..,anidade. E e s ta 1
~olc.:>ul.éi prepara - s e com angust.~a e re.lut.anc~a para um crir.le munst.ruoso. ,tlod.en a:n emer~r conoi. .-
ç(jes nas quais a boUlha de hidr9gênio seria lançada como justificada proteção da propria exi ~­
tencia, _levand.o de modo inevitave~ a esse ato inimaginavelmente horroroso.

~~ ~rente ~ esse,riesenrolar fatal das coi~s, ergue-s~


em oposição vigorosa a 1 ~ãe E~vina
que sub iu ao ceu; ate se interpreta sua a ssunc;.ao como uma intencionada contra-orientaçao, em
vista da doutrina materialista que representa o insurgir dos poderes ctÔnicos. Coroo se, spmen.
te cqm .o aparecimento de Cristo emergisse um autêntico diab9 e contestador do Divino, de ~ T
filho de Deus original que se encontrava anteriormente no ceu; assim, agora de moào contrario,
U.T,lél entidade celeste desligou-se de suas esferas originalinente ctÔnicas e assumiu uma contra-
posição em relaçio aos des~tados poderes tit.ânicos da Terra e do Sub-Nundo .

---
-llo22. E como a ~~e Divina , foi livrada de todas as pal~icularidades essenciais da substancia-
,
lidada, assim chegou a mate ria a ser perei!!Ptorlamente ~des-an:L-nada", exatamente ~ epoca en
que a pr~pria fisica teve cesso a cogniçoes que, se nao 11 desmaterializ~" a mat.eri a, encar~
na como dotada. de caracter ~ st.icas pr~prias e. apontam um problema il~adiavel q~t.o ao seu ~
lacibnamento com a -psique.~ Da mesma forma como o desenvolvimento imenso das ciencias natura:. s
levou a um precipitado destronamento do espfrito e a uma, da mesma forma irref}etida diviniza
ção da rnat~ria, assim o mesmo impulso cientifico de conhecer ~ropÕe-se hoje em àia a construh
a ponte sobre o enorme abismo que ~e fendeu entre as duas visoes do mundo.

llo2). A psicologia inclina-se a encarar o dogma da assunção como um simbo1o que, em certo sen
tido, antecede
,
o desenvolvimento
t
acima apontado,
~
considerando
,
os relacionamentos
-
com a TerraT
e com a materia como, caracter1stica inalienavel do , arquetipo materno. Entao~T se essa rigura 1
assim condicion~a e apresentada como ~levada ao ceu, i.e~,,ao reino do,Esp~rito, indica- se 1
com isso uma uroao entre ~ Terra e o Ceu, i.e., entre a materia e o esp~rito.
,.,. ........
~24} O co~ecimento das ciências naturais, em todo caso, tomar~ o caminho inv~rso ao consi-
derar a rr.ateria .
, como equivalente do espÍritoo Sob esse ponto de vista, a i.rnagern
(
desse, 11esn:Írj-
to" apareceré\ privada de toda~ ou ao menos da maior parte de suas caracte11sticas ate entao 1
-~;,

conhecidas, como tambem a rnateria terrena ao fazer sua entrada solene no Ceu chegou a ser de-
vestida ...de suas peculiaridades
r especfficas. Nem por isso patentemente estará se predispondo 1
wna uniao dos princ1pios separad.:>s.

b.2~ Em ten~os concretos~


a assunçio sicd fica uma oposiçi'o absolut~
frente ao materialismr:..
Una contra-açao <}essa mane~ra
entendida, de f o rma alguma reduz a tens~o entre os opostos, mas
os impulsiona ate os ~xtrernos . Não obstante, d mbollcamente, a assll!1çao do co~o significé} um
reconhecimento da materia, a qual, apenas em virtude de uma I;?reponderan~e ten~encia 'j)neum.ati-
ca11 chegou a ser, no fim, identificada con, o l'..al. Eln si, espirita e materia sao ne utros, ou 1
melhor, "utriusque capax", i.e., capazes para ~quilo que o ser hur..ano denomina bom ou mau. Em
bora tais d e nominaçÕes
'
sejam de
,
natureza altamente relativa,
r
reais opostos
,
sio as suas bases:
p~rte ncendo a estrutura enereet~ca tan~o ~ r~tureza f1sisa como da psiquic~ sem as q~ais 1

nao e xiste qualquer ser con: tat.avel . Nao r.a nenhwna posiçao sem a !rua negaçao . Ein funçao, ou 1
exntamente por causa de s~a oposição, o ~~ não pode existir sem o outro. ,

l l .?~. ~ corr.o a ~~l;_ssica fi1o s~fia chi~sa formula: YANG {o claro, C}U~nte , ~ -:-o, o prind.pio '
m?~culino) contem dentro de s i o germe de Ynr (o oo scuro, o frio, o um:ido, o principio f emi-
n1nn) e V1 ~e -vc r~~ .
-!G-

rú.no) c vice -VE;r:::;a. t!o. rr;at~ria e :.;Uu·ia a ssi.."!'l, o e~rme do espÍrito ~ no espÍrito o e;ell.lc 1.
Os fen~meno ; 11sincroJ sttcos" há termo s rerr.-otos conhe cido s '"e 'hoje em dia confir:- •-
rr...:J.1,6ria.
àos estatistic~ent< pelas exoeriências de RHINE, em toda a sua aparência apontam tambem t •
sn direç~o . Una cert a 11 animaç~o" da ~téria oue stiona a a bsoluta imaterialidade do esp!nt -:
j~ que , ne3sa~ circunstâncias, deveria ser atribuída a ele ~~a es~cie de ~b st ~ncialidad~ .

11 o 27 • O dogma cristão, di wlgndo nu."':''a época ó.a maio r ci !:ão poli ti c a ~onhecida pela h i st ~ -
ria, const~tui ~ s intoma compensador e corresponde ao esforço das ciencias ~tu;ais por u-
ma integrada vj >ao do mundo . Em determinado sentido, ambos os desenvolvimentos ja for~ ~rP
cedidos p e ta a j JUir.-.ia, sob a forma d~ lt~er~Bg~65"' dos opostos, por certo ainda apenas e:=
forma simbolic~. O simbolo, no entanto, possui uma gra.."lde vantagem; pode conter e:n si, em •
uma imagem, fato~s heterogê~os e até incomcn-sur~veis. C,:)m ....o de cll.n:io da alqu"lmia dividiu-
se a ui:rl.d.ad> si.mbolica de mataria e esp!rito e, como consequencia, o hom~m noàerno encontr.::.-
se alieno e desarraigado em uma Jllltureza 11des-anim&da 11 •
.. dos oposto!' sob o sJ..moo
11. 2 8 o A alquimia contemplou a uniao t. 1 . arvore
o o~ , e por isso
---- ,._,_"'--- -4·-- ---- . .
_ _ __ • .
~ - \.
-·~--· ··· ----·· " -
'1 ...
__
' •
.......... - •. • .......... - .. -· - ~ · ~- __ ~ ••"' ...... , .-...... .... "-·••• ~u~u ·· J,,..;;_~~ i;1l.J.lll.l,J _
nao podendo basear seu e xistir nem no passado ja nao mais e xistente, nem no futuro ainda Da)
existente - e recorre
, , sfmbolo da 11 ~rvore do unive r so 11 que tem suas , raizes nesse•
de (\ovo ao
mundo e cresce 1te o sumo do ceu, e que simboliza tar.1bem o ser humano • .t... hi_storia do simbo-
lismo aponta a arvore - em geral - como o caminho e o crescim~nto n~ direçao ào imut~ve1 e
sempre-existente, o que emerge pela união doe opostos, possibilitando-a ta~bem pel o seu eter
1 N A -
no 11 Ja-Anterionnente-Existir". Par~ce que o ser humano, procurando em vao a sua existe ncia,
(e faz disso uma filosofia). s~ pela viv~ncia rla realidade simbÓlica ~~encontrar~ o caminho
' , N ,

de volta aquele mundo no qual ele mesmo nao e est ranho.

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