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INTRODUÇÃO
Jean -Paul Sartre 1905-1980) é cons ider ado um dos principais intelectuais
12
' (
dos, pois leu e disc utiu
do século XX. Ele foi siste máti co e rigoroso em seus estu
e início do século XX),
os autores fund ame ntais de sua época (final do século XIX
. O gran de desafio de
refe rências nas áreas da filosofia , epistemologia, psicologia
s aos cientistas, filóso-
Sartre foi resp onde r alguns dilemas que estavam proposto
ador es do perí odo : aque les trazi dos pelo idea lism 3
o,t, e racionalismo,+
fos e pens
1
autor a, publi cada na ínteg ra no livro
· Este capít ulo foi inspi rado na tese de dout orad o da
2
Sartre e a psicologia clínica.
ncia na filosofia que se suste nta no es-
Idealismo, segu ndo Chau í (2000, p. 84), é uma tendê
3
t
conh ecim ento racio nal que dela temos".
tabelecimento de "uma difer ença entre a realid ade e o
ade exter na exista em si e p or si mes-
Dizem eles (os filóso fos ideal istas) que, embo ra a realid
form ulam e a organ izam e não tal como
ma, só pode mos conh ecê-l a tal como nossa s ideia s a
se~ r~alid~de exteri_or é racional_e1~ si,
ela seria em si mesm a. Não p odem os saber nem dizer
poi<; só pode mos sabe r e dizer que ela é racio nal
para nos, isto e,_por me10 de no~s a: 1~e1as.
fasa posição filosófica é conh ecida com O nom e de
ideal ismo e afum a apenas_ a ex1stencia ~ia
ecm1ento que s;1li
razão _.ctib·e t · A razao - su b.3e t·1va po ssu·i· pri·ncípios' e moda lidad es de conh
, J 1va.
unive rsa ·, , . . t , va, i·dos para todos os- seres huma nos em todos os temp os. l' lu
·• 1_., e nece ssano s, is o e, 1
mos conh ecer por mc1<' d,1s
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gares · ( ) que e h amam os rea 11.d a d e, po1·t an to , e' apen as O r
ideias <le nos<,a .razão. " .· . ]" •mo (rc ·0 11 lic,·t' qu,·) .1 t,111t, dt, ,·1)
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nhe -· deiro ia 1azao opl'r. tndo pnt st llll!sl '· ·
cimento verda ·
vele contr oland o a pr<'>pria ex per 1i-1H 1.1 •, 1·n•,1v,· ' I"
por um lado e pelo realismo§ e empirismo,! por outro, concretizados em ques-
tões como a problemática do conhecimento, a discussão acerca da objetividade
nas ciências e, m ais especificamente, a questão epistemológic a nas ciências hu-
manas. Por isso mesmo, Sartre sentiu-se instigado pela necessidade de revisão da
filosofia trazida pelo marxismo (que postulava um conhecimento que remetesse
à realidade sócio-histórica, pois "bastava de contemplar o mundo, cabia, agora,
transformá-lo!"), visando superar as polarizações acima mencionadas e superar
a lógica metafís ica predominante.
O contexto do início do século XX estava a exigir, pois, um conhecimento
que partisse e voltasse ao homem concreto. Era o que reclamava a fenomenologia,
escola filosófica que buscou superar as polarizações já descritas e tinha na "volta
ao concreto" ou, ainda, na "volta às coisas mesm as", um de seus princípios fun-
dantes. 4 Essa escola vai ser uma das grandes influên cias na elaboração da obra
de Sartre. Da mesma forma, outros autores do início do século, como Politzer 5
na psicologia francesa e Vigostski6 na psicologia russa, contemporâne os do exis-
tencialista, perseguiam objetivos semelhantes, ainda que por diferentes vias e em
diferentes regiões do mundo.
Quer dizer, fa zer ciência não é somente colecionar dados, elencar fatos, mas sim saber
questionar esses dados, compreendê-los em seu contexto, chegar a sua essência .
A emoção, assim, não pode ser compreendida como uma simples intersecção
de fato res de diferentes ordens (por exemplo, biológica, psicológica, social) , m as
sim como uma totalidade significativa. Ela é a própria vivência humana realizan-
do-se como emoção. Logicamente que tem suas estruturas próprias, sua lógica de
surgimento, sua significação, que devem ser pesquisadas, mas é nesse conjunto que
deve ser compreendida, tomando o sujeito em situação com o ponto de p artida.
Em O ser e o nada,9 Sartre retoma as críticas à psicologia empírica, mais es -
pecificamente em seu capítulo «Psicanálise existencial': Concorda com a afirm a-
ção da psicologia e da psicanálise de que «um homem em particular se define
por seus desejos".9 Porém, assinala que é preciso tomar cuidado com dois equí-
vocos que podem estar pressupostos nessa afirmação: o primeiro quando essa
ciência se pauta no que denominou "ilusão substancialista': ou seja, quando a psi-
cologia "encara o desejo como existente no homem a título de 'conteúdo' de sua
consciência, e supõe que o sentido do desejo é inerente ao próprio desejo. Evita,
assim, tudo o que poderia evocar a ideia de uma transcendência''. 9 Sob esse en -
foque, os desejos tornam-se "entidades em-si", "traços psicológicos" localizáveis
na consciência. Os fenômenos psicológicos são tom ados, assim, com conteúdo
da con sciência, levando à «coisificação do psíquico", na medida em que a cons-
ciência adquire substância, opacidade, pois é preenchida por "dados internos". O
existencialismo nega-se, portanto, a cair nessa ilusão, instaurada na modernida -
de por Descartes, com sua concepção do ego como res cogita ou "coisa pensante':
Husserl reinstalou o horror e o encanto nas coisas. Restituiu-nos o mundo dos ar-
tistas e profetas: espantos o, hostil, perigoso, com ancorado uros de amor e de gra-
ça. Preparou o terreno para um novo tratado das paixões que se inspirari a nes~a
verdade tão simples e tão profund amente desconh ecida pelos nossos requinta
dos: se amamos uma mulher, é porque ela é amável. Ei-nos libertos[ ... ] da vida
interior. [...] Por que, no fim das contas, tudo está fora, tudo, até nós próprios.11
O segundo erro, já por ele demarca do no Esboço de uma teoria das emoções,
10
é definir o homem como "um feixe de tendênc ias" e dar por concluíd a a investi-
gação psicológ ica "uma vez alcançad o o conjunt o concreto dos desejos empíri-
cos'~ 10 A psicolog ia se empenh aria em conhece r a pessoa por "suas inclinações";
pretende ria explicar os diversos dados levantad os a partir de "leis universais': as
quais desvelar iam o "compo rtament o humano ". Sartre argumen ta que, dessa for-
ma, "o abstrato é, pois, por hipótese , anterior ao concreto, e o concreto é apenas
uma organiza ção de qualidad es abstratas ; o individu al é somente a intersecç ão
de esquem as universa is".9 Ou seja, dissolve -se o homem real em estruturas ge-
rais, em esquema s universa lizantes, e o sujeito concreto , com suas vivências, in-
serido em situações reais, desaparece. Esta é particul armente uma tendência for-
te dentro da psicopat ologia descritiv a e criteriológica, que acaba por enquadrar
12
a pessoa com sofrimen to psíquico em algum quadro nosológi co, com diagnósti-
cos rígidos, deixand o de lado as vivências profund as desse sofrimen to e suas ca-
racterísticas singulares, ainda que vividas no contexto material e social específi-
co em que essa pessoa está inserida. Por isso, o existen cialista argumen ta que a
psiquiat ria se torna reducion ista quando "se satisfaz em esclarecer as estruturas
genérica s dos delírios e não busca compree nder o conteúd o individu al e concre-
to d as psicoses".10
Sartre passa, então, a explicita r como devem ser entendid os os aspectos psi-
cológico s a partir de um a psicologia existencialista. Eles não são conteúd os ou
propried ade de uma consciên cia. Outrossim, nem a heredita riedade, nem a con-
dição social, nem a educação, nem a fisiologia podem explicá-los por si mesmos.
São defronta dos com sua contingê ncia, isto é, n áo -.; ão m·ccss,ÍI 1p,: cm ,:
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mo!->, mas são aconkci mentos no mundo que indicam .d ~u 111 ,1 coi~.i p.11 ,1 :d 11
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'.'>l , por <,erem .,ignifka tivos O desejo, o co mpo rt.i menln, :is ,, 111 ,H,<H.
lodo., cS<,('<, modos d t .ig11 <;e l,11crn no r111111d<1 'JllL' d1 cr q11L, 1 , .1'u l t. ,, ,
A psi cologia existenciali sta com base em Jean-Pa ul Sartre 45
ambição , poderíam os captar algo mais, algo c01no uma decisão radical, a qual,
sem deixar de ser continge nte, consistir ia num verdadei ro irredutível psíquico".
10
Dessa forma, é esse "irredutí vel psíquico " que o existenc ialista persegue e
pretende desvelar com sua psicanáli se, já que o compree nde como o fundo so-
bre o qual se estabelece todo ato de significação, ou seja, o projeto fundamental
de ser do sujeito. O "irredutível" a ser elucidado, que permitir ia compree nder o
seu ser, é, portanto, uma totalização ou uma unidade, experime ntada enquanto
livre unificação. "Ser, para Flaubert, como para todo sujeito de 'biografia: é uni-
ficar -se no mundo".10 Deve-se compree nder a pessoa como uma totalização: em
cada ato, em cada gesto, em cada emoção, em cada escolha, em cada palavra, o
sujeito se mostra integralmente, ainda que em perspectivas diferentes. Devemos
buscar neles (atos, gestos, emoções) uma significação que os transcenda, que os
totalize, e que demonst re, assim, a relação global da pessoa com o mundo, por
meio da qual ela se reconheça. Cada escolha singular exprime a "escolha original
em circunstâncias particulares; não é mais do que a escolha de si mesmo como
totalidade em cada circunstâncià'. 1º Sartre considera, portanto, que essa totali-
zação, essa unificação, que nada mais é do que o projeto original, "deve revelar-
10
-se a nós como um absoluto não substancial':
Sendo assim, o autor francês aponta a necessidade de outro método para
compreender a realidade humana, que não o da pura descrição analítica ou em -
pírica. Defende que o método de investigação de uma psicologia existencialis-
ta deve pesquisar, a partir de aspectos específicos, singulares do sujeito, "a ver-
dadeira concretu de, a qual só pode consistir na totalidad e de seu impulso rumo
ao ser e de sua relação original consigo mesmo, com o mundo e com o outro, na
unidade das relações internas e de um projeto fundamental'~ Esse método será
10
a psicanálise existencial.
l. As d uas ps icaná li ses cons id eram que o s a<;pcc to!-, da vida p<;íquka ,~,,
suste nt ados por "relações d e sim bolização", qu e exp li citam a<; Clitrutura t,
"fu ndamentais e globais que co nstituem propriamente a pc~1,oa"; ou ,(;ja,
os atos humanos, as e moções, o imaginário etc. são a'ip ecto.<; cujo ,c:nti
do não se esgo ta em si m esmo, mas remete a uma estru tu ra fundante:, a
um irredutível psíquico: no caso da psican áli se, à estrutura in trap,íqui
ca, e, no existenciali smo, ao proj eto de ser.
2. Ambas partem do pressuposto da inexistên cia d e "dado, prim ordiai ,
inclinações hereditárias, caráter etc."; quer dizer, n ão aceitam a no ção de.:
que o "homem vem pronto': seja pela hereditad edade, seja p or um détc:r-
minismo constitucional, mas consideram fundamental o processo hi c,tó
rico do sujeito, suas relações concretas.
3. Tanto uma quanto a outra consideram o homem "uma hi storialização per-
pétua", procurando ressaltar o sentido e as metamorfoses dessa hi stó ria.
4. As duas psicanálises partem da consideração do hom em n o mun do, quec., -
tionando-o a partir de "sua situação':
5. Ambas consideram que o sujeito "não está em posição privilegiada para
proceder à investigação sobre si mesmo", ou seja, o paciente necessita de
um mediador para compreender seus impasses psicol ógicos, poi s sozi-
nho acaba "cúmplice" de suas dinâmicas psíquicas.
Essas são as semelhanças que fazem Sartre designar seu método de "psica-
nálise': Porém, elas não vão além destas. As diferenças entre as duas são grande.,
o suficiente para situá-las em perspectivas opostas no campo da psicologia e das
humanidades. Tais diferenças devem -se, principalmente, ao embasamento onto-
lógico e antropológico diferenciado, fazendo com que a psicanálise freudiana sc,i:-i
duramente criticada por Sartre, por considerá-la vítima da "ilusão substanciali "-
ta" (ao tornar a consciência e o inconsciente uma substância, uma coisa, concL -
bendo os fenômenos psíquicos como seus conteúdos) e, portanto, mantl'nL dd·
1
ra da posição "mentalista" (ao fixar o psíquico em termoc., de e~trutura J11L't1t 1
( )utrossim, co nden a-a por ficar presa a uma inteligibilidade ' mecanici,t.1 I'''
ex tmplo, com ~ua~ teoria~ da energia p~íquila) .
AP',tfõnáll'..e e.<1~tenr1al, dO rnntr ,ir 10, ( om1 ,t< nd e01H 1'fH ,lO dP qt11' 1' 1 ,
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Apsicologia existen cialista com base em Jean-Pau l Sartre 47
Sartre afirma ainda que, se aceita rmos o método da psican álise, devemos aplicá-lo no
sentido inverso: em lugar de compreender a si tuação considerada a partir do passado,
devemos conceber o ato compreensivo como um retorno do futuro rumo ao presente.
Esta psicanálise ainda não encontrou o seu Freud; quand o muito, pode-se encon -
trar seus prenúncios em certas biografias particularmente bem -sucedi das. Espe-
ramos poder tentar alhures dois exemplos, acerca de Flaubert e de Dostoiévski.
Mas aqui pouco importa que tal psicanálise exista ou não: para nós, o impor-
tante é que seja possível. 10
Essa reflexão demonstra a clara intenção d e Sartre de levar sua psican álise
às vias da clínica, argumentando que sua viabilização já se encontra em seus em-
preendimentos biográficos, mas que deve e pode ir além, no caminho de um a prá-
tica psicoterapêutica.
Em seu livro Questão de método,7 Sartre continuará aprofundando sua propo'>-
ta metodológica para a psicologia. Reafirma concepções elaboradas anteriormen-
te, tais como a da distinção entre consciência e conhecimento, en t re consciência
e psíquico, bem como a perspectiva do sujeito como se r-no -mund o e, portanto,
a do ego como transcendente e objeto mundano, e, ainda, a questão do homcn1
nada mais ser do que seu projeto-de-ser. Aprofunda rá, alé m disso, ..lspectos fun
<lamentai~ _<la const~tuição histórico-dial ética do ser d o sujeito.
, Aprox '.mar- se-a cada vez mais do marxismo, sobre O qual fa 1 unu J"t tl·\, ,
1..nt1ca, a,<.maland o se u~ postulados irrcvog·ívcis L' l() ,. . 1 ,,.
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A ps ico log ia ex iste ncialista com base em Jean-Paul Sa rtre 49
Ogrupo é, assim, uma multiplicidade de relações concretas; não é nunca uma totalidade
fechada, ou um hiperorganismo, como querem alguns sociólogos positivistas, mas sim
uma totalidade nunca terminada, uma "totalidade destotalizada".7
l'roduto de seu produto, modelado pelo seu trabalho e pelas cond i,;c-.,cs S<)(1.11s
da produção, 0 homem existe ao mesmo tempo no meio de SL' ll S produt,i:-. ,' t,ll
lll'l:e a substância <lo'> "coletivos" q ue o corroem; a c,ufa 111\ d l l,1, 1d.1. u111 l ur
lo lirluito '>l' l''>tjbdetc, ullla rxpc1i<'.·11ci .1 hrni10111.d qtll' u111tribu1 p.1r.1111nd1
l1c:'i lo '>obre a h:t'>l' de""ª" lOIHII\IH''> 111.11l'11,11s ,k p.11 t 1d.1 .1, 11.1111, .1 11,1() , i, l
soml·nk 11a '>t1,1 t, 1111 íli,1. l'l,1 vtvt· 1.11t1l)l't1l c111 p.uk .111.1\c., dcl.1. 1•1111 1,11k ',()/1
50 Psicologia fenomenológ ica e existen ci al
nha - a pa isagem coletiva que a ci rcunda; e é ainda a genera lidade de sua dasst
que lhe é revelada nesta experiência singular.-
Se ndo ass im, o homem faz a história , ao mesmo tempo que é fei to por ela
Porém, o faz em condiç ões dadas. Eis o proces so dialétic o que engend ra a rea-
lidade sociocu ltural. No entanto , é preciso assinal ar que a históri a não está em
meu p oder, ela m e escapa, e "isto não decorre do fato de que não a faço: decorre
do fato de que o outro também a faz'~ O homem se objetiv a na históri a e nela se
7
alien a. Ela lhe aparec e como uma força estranh a, na medid a em que não conse-
gue reconh ecer, muitas vezes, o sentido de sua ação em seu resulta do final. Isso
se deve ao fato de que o resulta do é uma objetiv ação no mundo que, portan to.
extrapo la-o, posto que se torna coletivo . A história é, assim, "uma realida de pro-
vid a de signific ação e alguma coisa que ningué m possa reconh ecer- se inteira-
7
mente, en fim , uma obra human a sem autor'~
A ação human a, sustent ada nas condiç ões dadas, por mais alienad a que seia.
semp re transfo rma o mundo . Isso porque o que caracte riza o sujeito é sua trans -
4
cendên cia, pois ele "sempr e faz algum a coisa d aqu ilo que fizeram dele': : mes-
mo que ele não se reconh eça em sua ação. Ain da que alienad os, somos su_i eitos
de nossa h istória.
Essa transce ndên cia, que faz o sujeito ir além daquilo que lhe é determ inado
pela materialidade, pela sociedade, é o que Sartre denom ina projeto , como _iá \imos
O projeto é circunsc rito pelo "campo dos possíveis", quer dizer, pelas co ndições mate-
riais, soci ais, históricas que definem a existênc ia concreta de um sujeito, bemcomo pela
di reção que o indivíduo transcende em sua situação objet iva (d evir), perfaze ndo as pos-
sibi lidades concretas de vida.
Os possíveis sociais são, assim, apropr iados pelos sujeito s, definin do L)~ ("l) l~
tornos ~as escolhas individ uais. Por isso, é que a pessoa tem de ser semf"I"c ú,r,; -
preend1 da cor:1~ um sujeito social. "O subjeti vo aparec e, então, corno un' '1ll -
do proces so obJ·etivo"·7 As cond·1çoes - maten,1· 1s · so ,h.i '-1 t';r,
.• l , ·••
mento.d dnecess ano . .
rea ]I a e quando v1v1das na partic u Ian·d a de de uma s1t11açú · o O prt'IL'tl1 l t
·· ·
apropr iação ~ubjeti va da obJ.etiv 1·d a de, cu_10- · sentido · e,, por su,1· n'7. l)l 1 1"'t:, •1 ,,·
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em ato<-., <-.cn t1mento ~ , paixôe s tnb,ilhc> , 1 . i, 1 . . .
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A psicologia existencialista com base em Jean-Paul Sartre 51
Nosso método é heurístico, ele nos ensina coisas novas porque é regressivo e
progressivo ao mesmo tempo. Seu primeiro cuidado é, como o do marxista, re-
colocar o homem no seu quadro. Pedimos à história geral que nos restitua as
estruturas da sociedade contemporânea. [... ] De outro lado, temos certo conhe-
cimento fragmentário de nosso objeto, por exemplo, conhecemos já a biografia
de Robespierre na medida em que [... ] é uma sucessão de fatos bem estabeleci-
dos. [... ] O método existencialista não terá outro meio senão o "vaivém": deter-
minará progressivamente a biografia (por exemplo), aprofundando a época, e a
época, aprofundando a biografia. 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS
QJ REFERÊNCIAS