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®
NOTA DO EDITOR INGL~S

· ZUR DYNAMIK DER üBERTRAG.UNG

(a) EDIÇÕES ALEMÃS:

1912 Zbl. Psychoan., 2 (4), 167-73. .


1918 S. K. S. N., 4, 388-98. (1922, 2~ ed.)
1924 Technik und Metap:;ychol., 53-63.
1925 G. S., 6, 53-63 . .
1931 Neurosenlehre _u nd Technik, 328-40.
1943 G: W., 8, 364-74.

(b) TRADUÇÃO INGLES~

'The Dynamics· of Transference·· .


192.;$, C. P., 2, 312-22. (Trad. de Joan Riviere~)

A presenté: tradu_ção inglesa, da autoria de James Stracftey,


aparece aqui pela. primeka vez.

:· . Enib~ra Fr~µd i'nc1uísse este artigo (publicado em j:meiro


dé·... 1912') ·na série sobre técnica, ele é na verdade mais um
exame 'teórico do 'fenômeno da transferência e da maneira
~ pefa qÚal esta opera no . tràtamento analítico. Freud jâ baviª
ü abordado o assunto em breves. considerações ao final da his;
z
,w
cr: tóri'a clinica de 'Dora' (l 90Se [ 1901] ) • Edição Standard' Bra.-..
w sileira, VoL VII, p. 112-14, IMAGO Editora, 1972. Tratou·
LL
(f)
z<( ·-dele mµ_ito mais a_mplamente na se~nda metade da Conferên.;.
cr:
eia XXVII e·.na primeira metade q.a Conferência XXVIII de
f- .mas Confer:ênciás Inirodutôrias (1916-17).; e, perto .do fim da
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o vida,. fez vários ímportantes comentários sobre o tema no de-
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cu_rso de seu longo artigo ½nálise Terminável e Interminável'
~ (19.37c}.
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111
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A DINÂMICA DA TRANSFERSNCIA

O tópico quase inexaurível da transferência foi recente-


mente tratado por Wilhelm Stekel [1911b] neste periódico,1
em estilo descritivo. Gostaria de, nas páginas seguintes, acres-
centar algumas considerações destinadas a explicar como a
transferência é n.ecessariamente ocasionada durante o tratamen-
_to psicanalítiÇQ.__JLC.Qrno .vem._ela_ a_ ôe~~nhar neste seu co-
nhecjd~~
Deve-se compreender que cada indivíduo, através da açao cZ),
combinada de sua disposição inata e das· influências sofridas- j
durante os primeiros anos, ~nsegniu um método especifico ) ~ .e
Q!Ópria de caoduzir-se na vida erótica - isto é, nas precon- 'S1c
<lições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que sa-
1
C?: da
tisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso 0.:.,,
daquela.2 Isso produz o que se poderia descrever como um d
clichê estereotípico ( ou diversos deles), constantemente repe-
tido - constantemente reimpresso - no decorrer da vida da
pessoa, na medida em que as circunstâncias externas e a nature-
za dos objetos amorosos a ela acessíveis permitam, e que decer-

t [A Zentralblatt fur Psychoanalyse, na qual o presente artigo


apareceu pela primeira vez.}
2 Aproveito esta· oportunidade para me defender da acusação
errônea de haver negado a importância dos fatores inatos (constitu-
cionais), por ter acentuado a das impressões infantis. Uma acusação
como essa origina-se da natureza restrita daquilo que os homens pro-
curam no campo da causação: em contraste com o que ordinariamente
é válido no- mundo real, as pessoas preferem satisfazer-se com um
único fator causativo. A psicanálise já falou muito sobre os fatores
acidentais na etiologia e pouco sobre os constitucionais, mas isto se
deveu apenas ao fato de ter podido contribuir com algo de novo
para os primeiros, enquanto- que, inicialmente, não sabia mais do
que era comumente conhecido sobre os últimos. Recusamo-nos a pos-
tular qualquer contraste, em princípio, entre os dois conjuntos de
fatores etiológicos; pelo contrário, presumimos que os dois atuem
regularmente em conjunto para ocasionar o resultado observado.
il.aiµ,wy 1Co>.. Tux'lT [ alento e Sorte) determinam 0: destino de um ho-
mem - raramente ou nunca p e
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__.._
to não é inteiramente incapaz de mudar, frente a expenencias médico. Mas a transferência não se acha presa a este protótipo
recentes. Ora, nossas observações demonstraram que somente específico: pode surgir també:11 .semelhante à im~go_ materna
\ uma parte daqueles imptdsos que determinam o curso da vida ou à imago fraterna. As pecuhandades da tra~sferenc1a para o .-'""'\
1 erótica passou por todo o processo de desenvolvimento psíqui- médico, graças às quais ela excede, em quantidade e natureza, ~
co. Esta parte está dirigida para a realidade, acha-se à dispo- tudo que se possa _just~fi:ar. em f~ndamentos sensatos ou ra- cO J
sição da personalidade consciente e faz parte dela. Outra parte cionais, tornam-se mtehg1ve1s se tivermos em mente que essa ~ S;
dos impulsos libidinais foi retida no curso do desenvolv.imento; transferênci~ foi precisa1:1ente estabelecid~ não apenas pelas x /Q - ?q
mantiveram-na afastada da personalidade c ~ t e e da rea- idé.ias an1e,C.madas conscientes, mas tambem por aquelas que . ,.,~. ;.. .
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,or:u:R reri as .ou gue sao mconsc1en es.
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lidade, e, ou foi impedida de expansão ulterior, exceto na fan-
tasia, ou permaneceu totalmente no inc~iente, de maneira Nada mais haveria a examinar ou com que se ·preocupar ~ " _/1,r~
que é desconhecida pela consciência da pe-rsonalidade. Se a a respeito deste comportamento da transferên.cia, não ~asse ~ ; ~ ::.,
necessidade que alguém tem de amar não é inteiramente satis- permanecerem inexplicados. nela. dois pontos. qu~ são de m~e- "l'"" • "-
feita pela realidade, ele está fadado a aproximar-se de cada resse específico para os ps1canahstas. Em pnme1ro lugar, nao f:.o .. :"½
nova pessoa que encontre com idéias libidinais antecipadas; compreendemos porque a transferência é tão mais intensa- no~·~ ;' ~ ~
e é bastante provável que ambas as partes de sua libido, tanto indivíduos neuróticos em análise que em-0.9.ti:as._p~§§Qª-~_gesse ~"o _,o/y '
~ ~
a parte que é capaz de tomar-se consciente quanto a incons- tipO que não estão sendo anã1:isãéh:ls. cm segundo, permanece O ,. .:;, -
ciente, tenham sua cota na formação dessa atitude. sendo um enigma a razão por que, .na análise, a transferência --e~~-·~;
'iv Assim, é perfeitamente normal e inteligível que a catexia sur.ge como a resistência mais poderosa ao tratamento, enquan- -::::i ·
~ libidinal de alguém que se acha parcialmente insatisfeito, uma to que, fora dela, deve ser e_q~~~ªê:!-ª.._C..QffiO ve1cu].g_cie_cura-t
f~' \ catexia que se. acha pronta por antecipação, dirija-se também coffitiçao Qe sucesso. ·p-ofCnossa experiência. demonstrou
; · . 0 ,'ç;JJJ para a tigura do ~édico. Decorre de nossa hipótese primitiva e o fato pOde ser confirmado com tanta freqüência quanto o
l ~ · que esta catexia recorrerá a protótipos, ligar-se-á a um dos desejarmos - . qu.e, se as associações de um _Paciente falta~1, /.)~
1 'J. . clichês estereotípicos que se acham presentes no indivíduo; ou, a interrupção pode invariavelmente ser removida pela garantia --::;.-i;'
\ para colocar a situação de outra maneira, a catexia incluirá o de q~e ele está _sendo dominado,, m?men~a~eamente, por uma 9fy_: -_--::/
i médico numa das 'séries' psíquicas que o paciente já formou. associação relac10nada com o propno medico ou com algo a ::. · -~·
j Se a 'imago paterna', para utilizar o termo adequado introdu- este vinculado. Assim que esta explicação é fornecida, a inter- ~ ~-::
i zido por Jung ( 1911, 164), foi o fator decisivo no caso, o re- rupção é removida ou a situação se altera, de_ uma em qu.e as ;i.: ~ _.½::
associações faltam para outra em que elas estao sendo retidas. /2 . G~ _
í sultado concordará com as relações reais do indivíduo com seu À primeira vista, parece ser uma i1:1ensa desvantagem, P.ªr~ a ~~?'Q~
psicanálise como método, que aqmlo que alhures const1tu1 o -:;i0 -.,___
fator mais forte no sentido do sucesso nela se transforme no ¼.-°'5
calcular a quantidade de eficácia etiológica a ser atribuída a cada mais poderoso meio de resistência. Contudo, se .ex~minarm~s
úm··aeres. separadamente, em cadã caso ind1v1dual. Estes casos podem a situação mais de perto, podemos pelo menos d1ss1par o pn-
ser dispostos numa série, segundo a proporção variável em que os
dois fatores se acham presentes, e esta série, fora de dúvida, terá meiro de nossos dois problemas . •Não é fato que a transferên-
seus casos extremos. Avaliaremos a cota fornecida pela constituição { eia surja com maior intensidade e ausência de coibição d ~ e
ou pela experiência de modo diferente nos casos individuais, de acordo
com o estádio alcançado por nosso conhecimento; e conservaremos o
direito de modificar nosso julgamento de acordo com as alterações
em nossa compreensão. Incidentalmente, poder-se-ia ousar encarar a 1 Quero dizer, quando elas realmente cessam, e não quando, por
própria constituição como um precipitado dos efeitos acidentais pro- exemplo, 0 paciente as retém devido a sentimentos comuns de des-
duzidos na cade!a infindave{mente longa de nossos ancestrais. prazer.
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134

3
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a sicanálise que fora dela. Nas instituições em que doentes las imagos infantis do indivíduo.!,, O tratamento analítico então
__ dos nervos são trata os de modo não analítico, podemos obser- passa a segui-la; ele procura rastrear a libido, torná-Ia aces-
~ ::--i';J~var que a tra?s~erê.ncia ocorre com a maior intensidade e. s~b sív~l à consciência e, enfim, útil à realidade!\ No ponto em que
0"\#., é~ as formas mais md1gnas, chegando a nada menos que serv1dao as mvestigações da análise deparam com a libido retirada em

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·'cfp mental e, ademais, apresentando o mais claro colorido erótico.
· ~-$) ·, () +Gabriel~ Reuter,, com seus agud~s pod~res. de observaç~o, des-
.:Y ,~ creveu isso em epoca na qual nao havia amda uma cmsa cha-
"1o-, mada psicanálise, num livro notável, que revela, sob todos os
aspectos, a mais clara compreensão interna (insight) da natu-
seu esconderijo, está fadado a irromper um combate; todas as
forças que fizeram a libido regredir ergu.::r-se-ão como 'resis-
tências' ao trabalho da análise, a fim de conservar o novo esta-
do de coisas. Pois, se a introversão ou regressão da libido não
houvesse sido justificada por uma relação específica entre o
. . ::Y"' , ·ri reza e gênese das neuroses. 1 Essas características da transferên- indivíduo e o mundo externo - enunciado, em termos mais
rf.' ~--J ~ " eia, portanto, não devem ser atribuídas à psicanálise, mas sim gerais, pela frustração da satisfação2 - e se não se tivesse,
)- ' ~ à própria neurose. no momento, tornado mesmo conveniente, não teria absoluta-
d(- ~ Nosso segundo problema - o problema de saber por que mente ocorrido. Mas as resistências oriundas desta fonte não
~ a transferência aparece na psicanálise como rêistência - está são as únicas ou, em verdade, as mais poderosas. A libido à
por enquanto intac'to; e temos agora de abordá-lo mais de per- disposição da personalidade do indivíduo esteve sempre sob
to. Figuremos a situação psicológica durante o tratamento. a- influência da atração de seus complexos inconscientes ( ou,
Uma precondição invariável e indispensável de todo desen- mais corretamente, das partes desses complexos pertencentes
cadeamento de uma psiconeurose é o processo a que Jung deu ao inconsciente)3, e entrou num curso regressivo devido ao
o nome apropriado de 'introversão'. 2 Isto equivale a dizer: a fato de a atração da realidade haver diminuído. A fim de li-
parte da libido que é capaz de se tornar consciente e se acha berá-la, esta atração do inconsciente tem de ser superada, isto
dirigida para a realidade é diminuídz.., e a parte que se dirige é, a repressão dos instintos inconscientes e de suas produções,
para longe da realidade e é inconsciente, e que, embora possa que entrementes estabeleceu no indivfduo, 1de~e ~~r re~ovida? ~
ainda alimentar as fantasias do indivíduo, pertence todavia ao ~ d!Jt .,,t2.JSfU/?úO..,. ,,Joí f'f'OL
inconsciente, é proporcionalmente aumentada. A libido ( intei-
ramente ou em parte) ~trou num curso regressivo e revive~
1
.ryy)º~..,, ~ ªme·~ .
Seria conveniente que pudéssemos dizer : "recatexizou seus com- ·
plexos infantis', mas isto seria incorreto. A única maneira justificável
de expressá-lo seria 'as partes inconscientes desses complexos'. - Os
1 Aus guter Familie, Berlim, 1895. tópicos tratados neste artigo acham-se tão extraordinariamente envol-
2 vidos que somos tentados a penetrar em vários problemas contíguos,
Ainda que algumas das observações de Jung dêem a impressão cujo esclarecimento, na verdade, seria necessário antes que fosse pos-
de que considera esta introversão como algo que é característico da sível ·falar em termos não ambíguos sobre os processos psíquicos a
demência precoce e que não entra em conta, da mesma maneira, em serem descritos aqui. Esses problemas incluem o traçado de uma
outras neuroses. - [Esta pl:\rece ser a primeira vez que Freud usou, linha de distinção entre introversão e regressão, o ajuste da teoria dos
em texto publicado, o termo 'introversão'. O termo foi pela prime ira complexos à teoria da libid_o, as relações do fant.asiar com o cons-
vez introduzido por Jung, 1910b, 38, mas Freud está provavelmente ciente e O inconsciente, assim como com a re~h?ade - e outr_?s
criticando Jung, 1911, I 35-6, n. (Tradução inglesa, I 9 I 6, 487). Outro além destes. Não preciso me desculpa~. por ~er res1.st1do a essa tentaçao
comentário ,sobre o emprego do termo por Jung strá encontrado em no presente artigo. · [Sobre o termo 1!11ago ( a~m e na p. I 34 ). cf.
nota de rodapé a um artigo técnico posterior ( 1913c, p. 166, adiante), uma nota de rodapé do Editor Ingles ao artigo sob re masoquismo
assim como no trabalho de Freud sobre narcisismo ( 1914c, Edição (1924c), Standard Ed., 19, 168 n. 2.)
Standard Brasileira, Vol. XIV, p. 90, IMAGO Editora, 1974), e numa 2 Ver O exame completo do assunto no artigo _'Tipos de Desen-
passagem perto do final da Conferência XXlll das ConferênciGs In- cadeamento da Neurose' (1912c), p. 291 e segs., adiante.)
trodutórias (1916- 17). Em seus trabalhos posteriores, Freud utilizou o
3 [Cf. o início da nota de rodapé acima.)
termo muito raramente.]

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l
Isto é responsável, de longe, pela maior parte da resistência, Depois que ela for vencida, a superação das outr~s partes
que tão amiúde faz a doença persistir mesmo após o afasta- do complexo quase não apresenta novas dificuldades. Quanto
mento da realidade haver perdido sua justificação temporária. mais um tratamento analítico demora e mais claramente o pa-
A análise tem de lutar contra as ·resistências oriundas de ambas ciente se dá conta de que as deformações do material patogêni-
essas fontes. A resistência acompanha o tratamento passo a co não podem, por si próprias, oferecer qualquer proteção c?n-
passo. Cada associação isolada, cada ato da pessoa eru ·trata- tra .sua revelação, mais sistematicamente fa~ ele uso de um tipo
mento tem de levar em conta a resistência e. representa uma de deformação que obviamente lhe concedAe ~s maiores _vanta-
conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do gens - a deformação mediante a. transferenc1a. Essas crrcuns-
tâncias tendem para uma situação na qual, finalm:nt~,~
restabelecimento e as que se lhe opõem, já descritas por mim.
conflito tem de ser combatido na da transferenc1a.
Se acompanharmos agora um complexo patogênico desde Assim a ·transferência, no tratamento ana t1co, invariavel-
sua representação no consciente (seja ele óbvio, sob a forma mente nos 'aparece, desde o início, cama a arma mais f?t:,e ~a
de um sintoma, ou algo inteiramente indiscernível) até sua r~istência, e podemos concluir que a intensidade e pers1stenc1a
raiz no inconsciente, logo ingressaremos numa região em que da transferência constituem efeito e expressão da res1stencl:r.
a resistência se faz sentir tão claramente que a associação se- dcupamo-nos do mecanismo . da transferência, é verdade, quan-
guinte tem de levá-la em conta e aparecer como uma conci- do o remontamos ao estado· de prontidão da libido, que con-
liação entre suas exigências ·e as do trabalho de investigação. servou imagos infantis, mas o papel que. a- transferência de-
E neste ponto, segundo prova nossa experiência, que a trans- sÇ sempenha no tratamento só p_ode ser expli~a~o ~e entrarmos
ferência entra em cena. Quando algo no material complexivo na consideração de su~s re]açoes com a res1stenc1a.
(no tema geral do complexo) serve ara ser transferido para---:2 ~ Como é possível que a transferência sirva tão admiravel-
a figura do médico, essa transferencia é realiza.Jl; e a pro uz a E :.; mente de meia de resistência? Poder-se-ia pensar que a res-
âssõcia'Ção seguinre e-- se anl'll'fttirE9f ~ smais de reSistênç1ª, - ~ ~ posta possa ser fornecida sem dificuldade, pois . ~ claro que .se
por uma interrupçãO,.J2.9l.~!~!!12~9· Inferimos desta experiência t--' :J --r torna particularmente difícil admitir qualquer impulso proscrito
qucf"a ·Mêia=transferencial penetrou na consciência à frente de O:..)- ' ~; de desejo, se ele tem de ser revelado diante da própria pessoa
quaisquer outras. associações possíveis, porque ela satisfaz a y , .; C com quem se relaciona. Uma necessidade desse tip? ~á orige~
resistência. Um evento deste tipo se repete inúmeras vezes ·e·,-; 2 a situações que, no mundo . real, mal parecem poss1ve1s. M~s e
no decurso de uma análise. .Reiteradamente, quando nos apro- \ precisamente a isso que o paciente visa, quando faz o obJeto
,. ximamos de um complexo patogênico, a parte desse complexo de seus im ulsos emocionais coincidir cohÍ o médico . Um'a
1
capaz ·de transferência é empurrad_;i. em primeiro lugar para a I
nova consideração, no en anto, m ia apa-
consciência e defendida com a maior obsti.nação.1 1 -
Y-· rente não pode fornecer a soluçãq do problema. Na verdade,
( uma relação de dependência afetuosa e dedicada pode, pelo
\ contrário, ajudar uma pessoa a superar todas as dificuldades
1 Isto, contudo, não nos deve levar à conclusão geral de que o
de fazer uma confissão. Em situações reais análogas, ·as pes-
elemento selecionado para a· resistência transferencial seja de especial -;;as geralmente dirão: 'Na sua ·frente, não sinto vergonha:
importância patogênica. Se; no decurso de uma batalha, trava-se
luta particularmente acirrada pela posse de uma igrejinha ou de uma
posso dizer-lhe qualquer c?isa.' Assim,. a transferê_ncia para
médico poderia, de modo igualmente simples, servir para fac~-
?1
fàzenda particular, não se precisa supor que a igreja constitua santuá- litar as confissões, e não fica claro por que deva tomar as co1
rio nacional ou que a casa abrigue o cçfre de pagamento do exército.
O valor do objeto pode ser puramente tático e surgir talvez apenas sas mais difíceis.
nesta determinada batalha. - [Sobre a resistência transferencial, ver A resposta à questão que foi tão amiúde repetida . nestas
também p. 81.] páginas não pode ser alcançada por nova reflexão, mas pelo

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que descobrimos quando examinamos resistências transferen- Pode-se levantar ainda a questão de saber por que os fenô-
ciais particulares que ocorrem durante o tratamento. Percebe- menos d~ resistência dl:l. tran~!i!X.~gcia só aparecem na psicanáli-
mos afinal que não podemos compreender o emprego da trans- se e não em formas indiferentes -de tratamento (em instituições,
ferência como resistência enquanto pensarmos simplesmente em
por ·e xemplo). A resposta é que eles também se apresentam
'transferência'. Temos de nos resolver a distinguir uma trans-
ferência 'positiva' de uma ·~~gativª-.', a transferência de senil=" nestas outras situações, mas têm de ser identificados como tal.
menfos afetuosos da âOs hostis, e tratar separadamente os dois A manifestação de uma tr@ª~~l'~J1Ci?-11~g_a.t!Y-ª. A na realidade,
tipos de transferência para o médico. A transferência positiva acontecimento muito comum nas instÍtÜÍções. Assim que um
é ainda divisível em transferência de sentimentos amistosos ou paciente cai sob o domínio da transferência negativa, ele deixa
afetuosos, que são admissíveis à consciência, e transferência a instituição em estado inalterado ou agravado. A transferência
de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente. Com erótica não possui efeito tão inibidor nas instituições, visto que
referência aos últimos, a análise demonstra que invariavelmen- nestas, tal como acontece na vida comum, ela é encoberta ao
te remontam a fontes eróticas. E somos assim levados à des- invés de revelada. Mas se manifesta muito claramente como
coberta de que todas as relações emocionais de simpatia, ami- resistência ao restabelecimento, não, é verdade, por levar o pa-
zade, confiança e similares, das quais podemos tirar bom pro-
ciente a sair da instituição - pelo contrário, retém-no aí -
·,eito em nossas vidas, acham-se geneticamente vinculadas à
sexualidade e se desenvolveram a partir de desejos puramente mas por mantê-lo a certa distância da vida. Pois, do ponto de
sexuais, através da suavização de seu objetivo sexual, por mais vista do restabelecimento, é completamente indiferente que o
puros e não sensuais que possam parecer à nossa autopercep- paciente supere essa ou aquela ansiedade ou inibição na insti-
ção consciente. Originalmente, conhecemos apenas objetos se- tuição; o que importa é que ele fique livre dela também na
xuais, e a psicanálise demonstra-nos ue essoas que em nossa vida real.
vida real sao sim es ente admir d o A transferência negativa merece exame pormenorizado,
am a ser sexuais para nosso inconsciente. que não pode ser feito dentro dos limites do presente trabalho.
Assim, a solução o enigma é que a transferência para o Nas formas curáveis de psiconeurose, ela é encontrada lado a
médico é apropriada para a resistência ao tratamento apenas lado com a transferência afetuosa, amiúde dirigidas simulta-
na medida em que se r de transferência negativa ou de neamente para a mesma pessoa. Bleuler adotou o excelente
tr~.ngerência positiva de impulsos eroticos I]_pnmi_dos.. e re- termo 'ambivalência' para descrever este fenômeno. 1 Até certo
movermos' a transfêrfocia por tornã-=ra-Consciente, estamos ponto, uma ambivalência de sentimento deste tipo parece ser
desligando apenas, da pessoa do médico, aqueles dois compo- normal; mas um alto grau dela é, certamente, peculiaridade
nentes do ato emocional; o outro componente, admissível à 1 especial de pessoas neuróticas, Nos neuróticos obsessivos, uma
consciência e irrepreensível, p,en;iste, constituindo o veículo ge.
s~o na psicanálise, exatamente como o é em outros méto-
dos de tratamento. Até este ponto, admitimos prontamente que
1 Bleuler, 191 1, 443-4 e 305-6. - Cf. uma conferência sobre
os resultados da psicanálise baseiam-se na sugestão; por esta, ambivalência por ele pronunciada em Berna, em 1910, comunicada na
contudo, devemos entender, como o faz Ferenczi ( 1909), a Zentralblatt f ür Psychoanalyse, 1, 266. - Stekel propôs o termo 'bipo-
influenciação de uma pessoa por meio dos fenômenos trans- laridade' para designar o mesmo fenômeno. - [Esta parece ter sido
ferenciais possíveis em seu caso. Cuidamos da independência 1 primeira menção, por parte de Freud, do termo 'ambivalência'. Ele
final do paciente pelo emprego da sugestão, a fim de fazê-lo ) casionalmente utilizou-o, em sentido diferente do de Bleuler, para
!escrever a presença simultânea de impulsos ativos e passivos. Ver
realizar um trabalho psíquico que resulta necessariamente numa iota de rndapé do Editor Inglês, Edição Standard Brasileira, Vol. XlV,
melhora constante de sua situação psíquica. J. 152, IMAGO Editora, 1974.]

140 14 1
r
i

separação antecipada dos 'pares de contrários' 1 parece ser ca- aquele que ten~a <:_bservado .tudo isso achará necessário pro~
racterística de sua vida instintual e uma de suas precondições curar uma exphcaçao de sua impressão em outros fatores além
constitucionais. A amõivalência nas tendências emocionais dos dos que já foram aduzidos. E esses fatores não se acham lon-
neuróticos é a melh.:ir explicação para sua habilidade em co- ge; originam-se, mais uma vez, da situação psicológica · em que
locar as transferências a serviço da resistência. Onde a capaci- o tratamento coloca o paciente.
dade de transferência tornou-se essencialmente limitada a uma No P.rocesso de procurar a libido que fugira do conscien-
transferência negativa, como é o caso cios paranóicos, deixa t~ do paciente, penetramos no reino do inconsciente. As rea-
de haver qualquer possibilidade de influência ou cura. çoes qu~ ~rovocam~s revelam, ao mesmo tempo, algumas das
Em todas estas reflexões, porém, lidamos até agora com carac~enst1cas que viemos a conhecer a partir do es do dos so-
apenas um dos lados do fenômenos da transferência; temos de nhos .. Os impulsos inconscientes não desejam' ser recorda os a
voltar nossa atenção · para outro aspecto do mesmo_ assun.!g. maneira pela qual o tratamento quer que o sejam, mas esfor-
To-cto·-aquele que faça uma apreciaçãõ. correta da maneira pela çam-se .por reproduzir-se de acordo com a --ª.temporalidade do
qual uma pessoa em análise, assim que entra sob .o domínio ·ncons alucinação. 1 Tal como acon-
de qualquer resistência transferencial considerável, é arremes- tece nos. sonhos, ? pacie?te encara os .pro utos do de~pertar
sada para fora de sua relação real com o médico, como se de seus unpulsos mconsc1entes como contemporâneos e reais·
sente então em liberdade para desprezar a regra fundamental procura colocar suas paixões em ação sem levar em conta ~
da psicanálise,2 que estabelece que tudo que -lhe venha à ca- situação rea!, o. médico tenta compeli-lo a ajustar esses im-
beça deve ser comunicado sem crítica, como esquece as inten- p~lsos emoc1ona1s ao nexo do tratamento e da história de sua
ções com que iniciou o tratamento; · e como encara com indi- ' .. vida, a submetê-los à consideração intelectual e a compreendê-
ferença argumentos e conclusões lógicas que, apenas pouco los _à luz de seu valor psíquico) Esta luta entre o médico e o ~
tempo antes, lhe haviam causado grande impressão - todo p~c1ente"entre o intelecto e a vida instintual, fentre a compreen- C.:(, ·
i) Lsao,. e a procura da ação_; é travada, quase exclusivamente, nos ..J, e<:'.:
. a,.; fenomenos da transferência. É nesse campo que a vitória tem -;D
1 [Os pares de instintos contrários foram pela primeira vez des- ~ - ç ,;:: , de ser conquistada - vitória cuja expressão é a cura perma- /7 <:::
;- t'f n~ote da ceurose. Não se discute que controfar-·Os1enô~enÚs '-l"Yr

l
critos por Freud em seus Três Ensaios (1905d), Edição Standard Bra-
sileira, Vol. VII, p. 162 e 168-70 e, depois em 'Instintos e suas Vicissitu-
des' (1915c), Edição Standard Brasileira, Vol. XIV, p. 147-8 e segs.,
~ :.~ \<' da transferência representa para o psicanalista as maiores difi- <9z
o · g- ~ culdades; mas não se deve esquecer que são precisamente eles \
~~ LD
IMAGO Editora, 1974. Sua importância na neurose obsessiva foi deba-
tida na história clínica do 'Rat Man' (1909d), Standard Ed., 10, 237 que nos prestam o inestimável serviço de tomar imediatos e
e segs.J ~ ~ manif~stos ~ impulsos eró~ico.s oculra_s e e~q;,,ecido~ pacien- _ªº
2 (·Este parece ser o primeiro emprego do que doravante tomou- -: te. ~ois,. quando tudo esta dito e _feito, e 1mposs1vel destruir
se a descrição regular da regra técnica essencial. Uma expressão muito
seemlhante ('à regra principal da psicanálise'), contudo, já fora utili· ~ J2--
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zada na terceira das conferências pronunciadas por Freud na Univer-
sidade de Clark (19100a), Edição Standard Brasileira, Vol. XI, p. 32, {ê .. 6 ~ '
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IMAGO Editora, 1970. A idéia em si, naturalmente, remonta a muito
a trás; acha-se expressa, por exemplo, no Capítulo II de A Interpreta-
ção de Sonhos (1900a), Edição Standard Brasileira, Vol. IV, p. 108, ;?
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IMAGO Editora, 1972, essencialmente nos mesmos termos que no artigo


'Sobre o Início do Tratamento' (1913c), p. 177, adiante, onde, inci-
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dentalmente, encontrar-se-á o assunto debatido em longa nota de ro- [Este assunto é desenvolvido em artigo técnico posterior 'Re-
dapé. (Cf. também 'O Procedimento Psicanalítico de Freud' ( 1904a), ~ )>~
cordar, Repetir e Elaborar' (1914g), p. 96 e segs., adiante. ] '
2
Edição Standard Brasileira, Vol. VII, p. 259,, IMAGO Editora 1972. [Cf. a observação semelhante perto do fim da p. 99; adian te. ]

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