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1. O adolescente
e o laço social
ara introduzir a questão da delinqüência, direi que esta pato logia bas-
P tante específica da adolescência é tanto patologia da sociedade em seu
conj unto quanto de um ou outro sujeito particular.
O que é um delinqüente? É alguém que delinqüe , que faz falta ao
que "linqüe", mas também àquilo que o "linqüe". A etimologia da palavra
é interessante: de-Linquere. Linquere é deixar algo , ou alguém , no seu lugar
e o de marca a separaçã o, o destacamento.
O delinqüe nte é - contra a natureza própria das coisas, de retornar
ao seu lugar (Aristóteles) - aquele que desaloja : que desaloj a as coisas, que
se desaloja de seu lugar, do lugar que lhe é atribuído pela sociedade.
É o que basta para arruinar as esperanças dos educadores humanistas
de "curar" a delinqüência, encontrando um lugar, um bom lugar, um outro
lugar que não a prisão, para o jovem que delinqüe. É suficiente também se
interrogar sobre a proximidade de um delinqüente, um que não está em
seu lugar, com um imi grante, um que está fora de seu meio. Aliás, o delin-
qüente-modelo é aquele que rouba meios de transporte, carros, velomotores,
para depositá-los, abandoná-los num lugar que não é o seu; na sabedoria
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popular é um «meteco"*, um que está à parte da casa, um desalojado .
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O adolescente e o psicanaÍJSta
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Apesar de sua veia anti-sem ita, o rexto de Marx o pinra com
justiça (K. Marx , La QueSfion
Juive, múltiplas edições).
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modelo normal seria o exé rcito , num a sociedade º nd e O ultimo resto do
ano de iniciação é o se rvi ço militar. .
De sua ausência de posição na organização soe1al , o adolescente,
mesmo que seja somente por um tempo , pode chegar ª denunciar uma
ausê ncia de fundamentos das regras da vida social; donde uma confronta-
ção com a lei que pode vir acompanhada de um desmoronamento da signi-
ficação - fragilidade simbólica, a um passo da loucura - , ou então cair
numa dialética messiânica de renovação - reedição histérica da questão do
mestre e da mestria.
Entende-se assim que a anarquia, em suas duas vertentes , possa sedu-
zir os adolescentes: por um lado, construção imaginária de um lugar "pré-
histórico" ou "pós-histórico'', utopia de uma sociedade sem outra lei que
não a «natural" , naturalmente boa, cuja fórmula contemporânea seria o
discurso dito ecológico; do outro , a violência real contra os representantes
atuais da lei , até o extremo do terrorismo às vezes .
Mas esta via, de sublimação, que em suma só leva a um novo confor-
mismo , não é a única. De certo modo, ao contrário da utopia, o bando
~o.nsri rui , na a;ualidade , um v~rdadeiro grupo social de tipo tribal , como já
f01 observado . O bando delinqüente é movido , animado mesmo , pela
q uest~o.das rc!ações entre sujei to , significante e objeto:
• o. SUJCtto , pois
. . _ ,
a entrada• no band 0 , ao ·tmp 11car
· em processos exp l'1cnos
· de
e ponto de referência, aquém ou além da identidade civil, de
1n1c1açao,
uma outra dimensão do sujeito.
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