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1aquilo que foi,
ªi~n:~~1 i;~e~:ª~=~l~~~r~::?J~ª~,~~~ª;od~~°;'~
poderia ou deveria ser.
Poder permitir,se oscilar num contínuo ir e vir entre a per,
cepção da pessoa que lá está e, ao mesmo tempo, perceber em si
me smo como essa pessoa o mobiliza e impacta. Em o utras pala.-
vras, estar em contato com o outro mas, ainda assim, ce ntrado
n o seu próprio eixo.
Formamos um novo todo, que é maior do q ue a soma de
suas partes. Forma,se uma nova rede, um novo co n junto inter-
relacionado em que o movimento de um interfere no movimen-
to do outro.
A partir desses pressupostos, começamos o nosso u aba!h.o:
o foco do trabalho reside na estrutura da experiência, no ...:titfu,,
Ida interação em processo.
A atenção do terapeuta fica centrada não apt't~ ~ )f:-1.c ,_.
conteúdo do que é relatado, mas, principa1mr:r~tc, ~Jb:c,c - i.A .-!1;... :
o cliente se narra". Inicialmente, é bastante comçlc..t.;.à Jt ' .:H ··+-.:
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'\ ..\1 t e de teAti\ ur;u hi Mória.s
!
e no relatl), menor a integração ...
:\ eKuw interessada do terapeuta é curativa por si só, uma vez
que conse gue, por espelhamento, fazer emergir ~-_interesse da
_ a_,___ abr~ 9_q_~~spª ç_q___ par~
pe_s_so_a____p_o_r _s1_· _m_e_sm
=- _q~~.
s_uEi~~ _c~_rac~~'-
risticas que estavam escondidas ou negadas.
- ---~--·-- __ , ..... ·-=-··---'
- -- - - - - --
Mas, na prática, como isso funciona?
,-. . __ / Vamos começar do início: o cliente telefona, solicitando
J . um horário, dizendo por quem foi feito o encaminhamento.
1 Negociamos o dia e a hora convenientes para ambos. Nessa
fase, a partir do contato telefônico, posso fazer conjecturas e
1
( \ ,,n n decndificn~ lns e o que vou fazer delas ainda não sei.
fKarn ~11ard adas parn uso poste rior.
& pero a fala e noto seu tom, a expre ssão do rosto e o
c,"'nte{ido trazid o. Esper o que a nebu losid ade inicia l se dissipe e
un1 terna co1nece a etnergir. É muit o freqü ente que esse tema se
apresente nwis naquilo que não foi dito do que no que foi dito. Fico
1~
:itent a a discr epânc ias entre conte údo e form a, contr adiçõ es
,.-,en tre o que se diz e o tom de voz, entre a verba lizaç
ão e a
gestic ulaçã o, postu ra ou expre ssão facial ou entre o assun to e a
lingu agem usada .
1
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\ ,H i <" dr r !' '-t.\U r .-'H hi.c;róri ,1s
Parecia que todo o seu ser estava dizendo , por meio daquela
contraç ão e da dor em seu corpo, que' ele não estava feliz. Mas
parecia claro que ele não estava prepara do para essa visão de
sua vida. Reunir toda aquela informação e dar algum feedback
era demais para aquele momen to.
Comecei a trabalha r com ele, pãsso a passo, median te expe,
rimentos bem pequenos de consciência corporal. Primeiro, pedi
que me descrevesse, com a maior exatidã o possível, a dor que
sentia nos piores momentos de crise. Negociei com ele peque,
nas mudanças em sua postura, /prestan do atenção às sensações
que acompanhavam tais mudanças, e, talvez, apenas talvez, que
sentimentos surgiam!
,·
E quais eram suas sensações quando não estava sentindo
dor. Foi uma tarefa difícil. Ele só tinha consciência de si mesmo
quando seu corpo doía.
Seu modo de entrar em contato me levava a ter a fantasia
de que eu estava diante de um visitante de um outro planeta,
com uma cultura diferente e um idioma estranho. Ele, que ha,
via,se desenvolvido tanto na área racional, condizente com sua
formação em ciências exatas, tinha um repertório muito reduzido
de possibilidades para lidar e se relacionar com seres humanos.
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1
\ .nt c d e ti:','<t ,,uri\r his t ó ri.1.c;
Ele respondeu que nunca havia conseguido fazer com que ficas-
sem ao seu lado por algum tempo. Mas aquilo não tinha impor-
tância, já que ele estava sempre ocupado pensando em alguma
estratégia do xadrez; e a verdade era que ele não conseguia
entender mesmo sobre o que as garotas estavam falando ...
Quando ficou um pouquinho mais velho, começou a arquitetar
estratégias para levar as garotas para a cama ... Mas também não
teve sucesso nessas tentativas ...
Até que surgiu uma namorada! Nesse momento, passou a ter
problemas com seus pais, que argumentavam que ele passaria
por maus bocados porque ela sofria de uma doença degenerati-
va do sistema nervoso. Para ele, aquilo não tinha grande impor-
tância; sua única dificuldade era a vergonha de sair com ela
porque era obesa, e os outros cochichavam ...
Terminou esse relacionamento e começou a sair com outra garo-
ta. Admitiu que era muito crítico, e também tinha vergonha dela,
por sua falta de cultura, por ela não ler, não falar corretamente e
ser muito religiosa.
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\ ..... ,,t.;, t h•·~ ..., , , J~),rf•< 1dn (' ~t'ntindo muita dor nas costas .
. . :i!"\t, , ' ~-- t,,-., ,rn~--ntt' (' foi fa lcl r cltrás da cadeira .
. ~;:...""' ill: ,;p \'11 p '-,1b1., que essa postura significava que está,
, .·•-.: ,· , ....1:-+':'•:-\,J , 1,um tc-mh.1rip 1nuito desconfortável. Fiquei muito
-:r-11~ ~. r--, lt'tt, l:t~-iç, todo o espaço para que ele se colocasse.
! 1, t1•1t,.1 Algf> dizer sobre como era sua vida na . ~asa de seus
J
:}.;i:-. di como se sentia só, de como eram as refeições ..~ A única
, ,)• ~ 1 qw. • Chri~ t ian conseguia descrever era um silêncio doloro-
:-,. . in~1::•rcalado pela fala grandiosa de seu pai, que ocupava todo
. ~spd ÇO dispo nível. Foi dessa forma que ele foi treinado a
~Jàrdar seus pensamentos e sentimentos para si mesmo.
Lem brou-se de que na única ocasião em que seu pai, tentando
~sta.belecer algum contato, foi falar sobre sua mãe. Ela havia
rentado o suicídio. Ambos estavam muito tristes. Como não ha-
viam notado algo diferente acontecendo com ela? Eles estavam
sempre tão ocupados com suas próprias vidas, que não notaram
as possíveis pistas ... Dessa vez ele se permitiu mostrar sua tristeza
e chorou ao lembrar o episódio.
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\ .ut e de re-st.:\ur-,r his t6ri;t,c;
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