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ético e psicoteropio
Mortins Amotuzzi 2" ediçõo

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ÉTICA HUMANISTA E PSICoTERAPIA
2" Edição

ROGERS
Érrce HtnaaNlsrA E psIcorERApIÂ

Mauro Martins Amtatz:zt

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DIRETOR GERAL
Wilon Mazallo Jr.
cooRDENÂÇÂo EDrroRrAL
Wíllian F. Mighton
cooRDENAÇÀo DE REvtsÃo E CoPYDESK
Helena Moysés
REvIsÀo DE TExTos
Adriana Maria Jorge Patrício

I
EDIToRAÇÀo ELETRÔNIcÀ
Fabio Diego da Silva
Tatiane de Limo
CAPA
Paloma lzslie

Dedos Ínlernacionris de Catalog&çâo nr Publicrsão (ClP)


(Cômirr Erasileirâ do Livro, SP, Brasil)

Amatuzzi, Mauro Maíins


Rogers : élica humânistâ e psicoteÍBpiâ /
MauÍo Martins Amaozzi. - - Campiías, SP i Editora
Alineâ,2012. 2' Edição

Bibliografia

l. Ética humanista 2. Psicologia humânista


3. Psicot€Íapia 4. Relaçõ€s humanas 5. Rogers,
Carl R., 1902-19871. Titulo. II. Título: Etica
humanista e psicoterapia.

t 0-0 t 846 cDD-150.198

Írdices par. Crtálogo Ststemíttco


I. Psicologia humanist 150.196

rsBN 97&85-751G530-0

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Rua Timdentes, 1053 - Guanabam - Campinas-SP rPara 1{e[ô, com amoí.
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lnpresso no Brasil
I
sumart0

A Abordagem Centada na Pessoa como


l')tica das Relações Hurnanas.................. ..................9

Âbordagem Centrada na Pessoa c Psicoterapia......................................59

llctcrências 83
A Abordagem Centrada na Pessoa
como Etica das Relações Humanas
f)rimeiramentc, pÍeciso dizrr que estou redesco-
f bÍindo e ge niãlidâde de Carl Rogers, figura do sécu.lo
)\J (1902 1987) que precisa ser resgatada. Ele realmente
rr',uxe algo novo e rcvolucionáÍio para a práticâ do
.rl.ndimento psicológico, qu€ consiste, basicemente, em
,,rn,r posturade con@nçajggstrita no potencial de cada um
l,xÍr encontraÍ os melhoÍes câminhos de sup€râçâo de suas
,liliculdades. Um mergulho nessa fonte inesgotável que é o
tr humano. Â contribuição básica do psicólogo, como de
,lrralquer pessoa disposta a ajudãÍ âlguém inúigado com
.lu.\tões pessoeis e recuÍsos subjetivos, é oferecer umâ câüâ
,1. rcsonincia nr qual a própriâ pessoâ possâ se ouvir e,
,rss;m, enxergar um caminho, Nenhuma das fotmas
rlrtcriormente vigentes de atendimento levou isso táo a

',irio como RogeÍs. O pressuposto dessas outras formas era

rlc que o psicólogo fosse dctentor de um sâbeÍ capaz de


rr,rzcr asolução quc, supostamente! a pessoa não conseguia
vcÍ; ou, ao menos, que o psicólogo fosse capaz de penetÍeÍ
uo misterioso mundo das causas escondidas do
Lrtrnportâmento c dc l^ tÍazfÍ r luz pâÍa â pessoa €m

'oliimento. Uma espécie de vidente cientiÍicamente


rlrrstrado. O pÍessuposto de Rogers foi totalmente

ROGERS: étt. hunantú c pricorcrzpia 11


i r,!rlrrnrjntc transfoÍmadore. ÂcÍedito quc isso continul
diferentc. Scm negar o welor dos sabcrcs psicológicos, clc
deu um outroscntidoà releção de ajuda. O quc clc fazia, na ', rrl,',lc uma etualidade dc üda ou monc.
llogers acrcditou que o quc cle tinha a fÀzer era
prática. cra Íacilitar ao outÍo o recuÍso às suzs píópÍiâs
, , r, , ,1 ( r :rs fessoes u ma relação ecolhedora, comPíc.nsiva e
fontes interiores. Estava conrcncido dG quc rpcnas isso erâ
súcicntc para desencadcar profundes tr:nsformaçócs. No
l,rn 'rr. Elc praticou isso com umâ cocrência ndicel e
,,,,r1,,rr:r vida dc muites P€ssoas. Envolvcu-sc, com cssc
inicio, pênsâ em transfoÍmeçôcs pessoais, mes logo
, rlc scr, em trabalhos de gnlpo, até chcgando a Íeunir
pcrccbcu quc isso nâo ffcavâ no âftbito indiüduâl: adotou I ,
',,,1
mesme postuÍâ com grupos c com comunidadc§ c, essim, t..,rrr,l.rrir,s oPostos €m conÍLto§ intcmacionais ê, âssim,
.,1'r,'xrnrcu pessoe§ hostis ou mcsmo ioimige§. Minha
in.ugurou um novo modo dc ser social c cultural. Elc foi
âsscssoÍ
radicel nessr postura, a ponto de gcrar aíirmaçôes 1,r,rrr r dc psicólogo, de pÍofessor, dc §uPcÍvisor, de
,1, *nrpos, tem cooíirmado essas PclsPactilas. O que
pârÀdoxâis do tipo:
. l{,,13.Ís trouxe Ítão foi ume novâ técnica Para a mê§ma
o seber do psicólogo de neda scrve;
. o psicodiaglôtico é uma form. d. dominâçao c r','.rlrlade. !!9 qryg1e ogtla ffnalidadc, c atitudes
, , úlrlrcnres com e§se outn Ênâlidedc. Elc nio d.scobÍiu
âclb1 scndo contÍaproduccnta nl ajuda ,ro cnrs-
cimcnto;
, r r rr lr,rccdimento mais cfic^z PaÍ. solucionú os PÍoblêmâs

. de se ros problemas
ne rcleçio dc ajuda, devemos .bendooa, todas as
, ., rcl:rçiode{qslÀNcsscscÍrtido,suacontÍibuiçãoniofoi
técnicâs ê proccdimcntos padÍonizedoa, todas 1§

cstratégies pré-fólic.das;
r ,, r Í ,t(;gica, mas éticr: elc neo tÍouxc mcios Ítovos c sim Íiff
. quêm sâbe o momanto de enccrra.r o etcndimcnto é
r,*,». Mudança dc paradigma.

o próprio diente;
Dssas proposras, fáceis dc entendct cm suas

r(,,,rnrlaçóes, nÁo são fáceis dê pÍatic:u consistentemcntc.


' o.istc uma saModa quc emêÍgc quândo as p€sroes
I .l'.rÍÍâm com hábitos muitoerÍaigados na mencirade seÍe
se mcontmÍn nâ comrmicrÉo abcÍta c plana ctc.
,lr 1,cnsar, decorrcntes da formaçeo reccbida c da maneire
O auditório dcu gergzlhades quando clc dissc que .,,rrr,r lômos constnrindo nossâ üsão de mundo. Mcncio-
não prctendir scr um Ícvolucionário (Rogcrs, 1978). Estrya
r, i l, ,is dcsses hábitos que me tocrm mÀis dc pcrto. Qlando
sendo. E o Ícconhcccu dcpois. Apcnas âcÍcsccntou quê
, .rrrrvrs diante de um problcma, nossa tcndência "cspon-
se trxtÀqr dc ume rcvoluçiio eilenciosa. E podcrírmos
r.rrta" (mas, na verdede, construída), é analisarmos a
comentâr: scm êstxrdalhâços, §cm âÍmâsr porém
.'rurç:io objetivâmente, espeÍando dcssa análise uma

t2 IÍuo lrbni"" arrúTUZZI ./3


solução. ExeÍccmos um modelo empíÍico-enâlítico dc .ntão, a inicietivx (incentimdâ) de se frliarem a pâÍtidos
pcns.mcnto, dcixando de lado outras footcs mais
t.líticos tamüm pícülmcntc pensados p€los mesmos
intcgredoras da ação (que não excluem o pcnsamcnro ltlcres. Rogrrs aponta cm outl"r diÍ€ção. Um sinal disso: cle
ânalítico, mas o situam em outro contexto). Rogcrs
i.rrnris gostou da idcir de sc fizcr uma associação rog€rianâ
entcndcu isso quando diss€, por exemplo, quc â ciência só rr tcmecionâl quê úgiâssc pch onodoÍia de id€ias e púticâs
cxistc €m pessoâs e, poderíâmos acresccntar, nt subjetivi- rr.rnsformdorx. Elc podcÍie t€rdito:'é caminhandoque sc
dadc dc pcssoas concretâs. Embore e ciêncie tenha suas lcis liz o caminho'. O que tcmos na cabeça nio são d€trlhcs do
formais (que garântem a correção dos raciocínios), ela só ,lr. iremo§ encontrar, mas umâ direção, um instinto, uma
cxistc no contexto concreto de pessoâs que cnfrentâm ecrrcza na qual podemos conÍiar.
desafios em suas üdas; e é dessê esforço dc en&cntâmento Nos últimos anos dc RogeÍs, com â âtenção voltada a
quc §ircm as cncÍgiâs capâzes de Ínobilizâr e oricnter âs
|cssoas êm situâção êxtrema e às cxperiências com grande§
pcsquisas. Enquânto csse corexío com â vida nâo for feita c qrupos de aprcndizagcm comunitáÍiâ, â conâençâ oos
lcvade a sério, o sebcr científico se tomará cada vcz meis (rursos internos do scr humano mostrou, para ele, scr um
.b,smto c iÍrclevrntc. E, afinal, engaoadoí, como podeÍi. .*pccto de uma cooÍianç. m.is rmplr nos pÍocessos da úd.,
dizrr Paulo Frcire. t.ris como eles €xistcm .té mcsmo pâra ,lém da espécie
Um outÍo hábito, é o d€ nos scndrmos scmpíe lrrrmana (Roçrs, 1980).
ponadores de uma missão sâlv2dore como sc não fosscmos De minha Frtc, ao rcconheceÍ a revirevolta de
panc do problemâ. Entâo, somos impelidos e formar rspcctivâs pÍopostâ poÍ cle, sou também lcwdo a acenrÍ
l!
rapidamcnte uma ideie compl€ta sobÍa â situeção e sua .rs rontâs com vclhos hábitos meus e mâneilâs dc p€nsar.
soluçiio, e dcsejâmos agir com base nessâ idcia. Isso, nâ l'rrgunto-mc scguidâmente se sou mesmo capâz de confiar
vcrdedc, é uma herânçado século )([X, quando o espíÍito do ,'rrr mim como um todo orgânico (pÀne de outros conjun-
tempo em Íecionalista: a soluçáo pare os grândcs pÍoblcmes r,,s maiores) e nâo apcnas como fonte de pensamentos
sociâis cre construíde de ântemão em urn Íeciocinio .rnalíticos (c impcssoais). Sou capaz dc confieÍ no
abstnto (c solitário), e a pãÍiÍ daí montava-s€ uma estrâté- ,n,)vimento intcrno de grupos no inteÍioÍ dos quais,
gie dc imposição da solução salwadon. Essc padáo de
I'.úticipândo ativrmcntc, temb€m m€ defrnol Sou câpezde
cÍiâtiüdadê rÀcionrlista absürte, poÍ nâo scr rcssivcl â
'nllar iÍÍesúitâmênta no moüÍhcnto intcmo d2s p€ssoâs
.,

todos, dcixlve a gÍendc maioria na posição dc scguidorÀ dc .1rr. atendo proÍissionalmcntc ou com quem conüvo em
lidcrcs ponedores d* soluções. A esses scguidorcs câbia, r.l:rçio constnrtiva? Sou capaz de confiar naquele foÍça

ROOERS: étic. huminnh. ps"o.rnpin 15


prcsente no univcrso, que atÍâvessÀ o ser humano, mâs o r,.r vcr<trdc, deteÍminâde§ Poí causâs identiíicáveis e
,,,.rrril'ulár'eis (c essas causâs podem ser internas: cogniçôes'
extrapolal
questionamentospessoâis, possível rrl,Ícsentaçõcs socieis, motivaçôes inconscieotes, íesíduos
Junto com csses é

ser scnsívcl também a peÍguntas mais t€óricâs. A proPosta ,l,r história pessada; ou cxtetnâs: estímulos do meio
dc Rogers náo conduziÍia a um csponteneismo sem criticâ ,rrrl,icnte Íisico ou social, isoladamente ou cm configurâ_

ê, ponento, neo sufici€ntemcntc apeÍelhado dirntc dos 1,r.r complexas). No contrato de tÍabâlho PaÍÀ a Prestâçâo
complexos ptoblemas quc temos em nosso mundo atual? ,1, .cwiços psicológicos, ceÍtem€nte náo sê negâ a libeÍ-

Não conduziria sua âbordâgcm e um sentimcntalismo ,l.r,lc: cla é respeitada dentto de uma PostuÍâ ética. Mâs

romântico e in8ênuo? Entretanto, acredita_sc quc esse quc, no nivel do Pensâmênto cientíÍico, essa
',rlle-se
juizo, quc mútes v€zes somos lcvedos a fauÍ sobíc sue .,ur,nromia do scr humano é ilusóÍiâ. O atendimento

pÍoposta, dccorÍê dc nào tcrmos cfctuâdo À mudmça de t!.!supô€ um olhú anelitico da situaçáo, o qual sc
ponto dc ústa que ele propõê. E, €ntão, usamos vclhos ,,,rrÍigura como Em diaStttisrto. Valendo-se dele, uma

paradigmas para fazermos a avaliação. E preciso cxpcri .,h ?gia de inr.t-u.nçâa é montâdâ Para dirigiÍ a âção e os
mÊntâr uma outra maneta de scr para depois avaliarmos seu
(lri(os sâo cspeÍados como consequências nâtürars As
velor. Qualqucr ayrliaçáo a y'n,rrí seíá bas€âda em vclhas r,,,quias cieotífrcas, quando a seíviço dessr forma dc
meneiÍirs. rr.rhalho, úsam estabel€ceÍ ligrçôes genérices d€ câuseli-
,li,lc (pâÍa esclerccero que se nos câsos PaÍticulare§ c
O que scrá dito aqui pretende orquestÍar esse Passâ

inruição de irários pontos de vista e, âo m.smo tempo, ,'ricntar â int€rvenção) ou visam quandôcaÍ â distribuiçáo

conüdar o lcitor a participrÍ dessâ constÍuçâo, ao menos .lr determinado fcnômeno em um detcÍminado camPo
vcá6câodo €m sua cxp€riência sc isso pode fazcr sentido. i,,í;cntando âs decisócs no Plano dc ume Politice de sâúdc
rrrcnt.rl, remediatira ou preventiva).
O pressuposto humanistaé diferentet ê o ?rettu?otto
À hrz dos pensa*cntos e de prática de Rogers, o ,l,t autonontia. O s.í hnÍnâno t€m algum PodcÍ sobÍe âs

pÍópÍio humaflismo toma-sc mais claro. Podcmos equa- ,lrlcrminações que o afetam, e cs§e Poder é, na verdÀdc'
cionar isso da mancira como scguc. rrrris relcvaorc Para o de§cnvolümenlo do que aquelas
Existem formas de etendimcnto psicoló8ico que ,lerrrminaçoes. O trabalhopsicológico consiste fundameo_
r.rhnente cm ofcÍêcer um contcxto dialógico no quâl a
?ütern dc urn ?r.ttu?otto ilcl.Trninisrd. O ser humrno é

pensrdo como âlgum tipo de mecanismo: sues decisócs seo, lil,cÍaçáo dcsse podcr seja promovida. Aposta-se na

Ihuo §híins AlrÁTUZã 77


16
âutonomia crescente dâ pcssoa€ nâ fecundidade da relaçâo i)utro como pessoa, naquilo que ele tem de râdicâlmentc
inter-humana. A autonomia é entendida como a fositivo. CompÍêensivâ: capâcidâde de adotar o Ponto de
capacidade que o ser humÂno tem de ori€nteÍ suâ própÍie vistÀ do oútro PaÍir ver as coisas como €le as vê e sente,
üda de forma positia para si mesmo e para a coletividade. rbrindo-se pârÀ seus significados. Àutêntica: intençáo dê
Assim sendo, o arendimento nao baseia em uit csrâÍ presente como Pes.§oâ int€ita (e não âPenas como uma
""
diagróttico, m s nâ afiímâção de nma têndén.ia inata ao l:.rchada proÍissional), capaz de colocar a serviço da rclação
íftstimcntoi e não é concebido coÍno \!ína intela'eflçáo rssâ totelidede do que se ó, sem son€8rÍ nada (veÍ
direcionada, mas como umâ relaçao abe/ta e dnlrada ntl Itosenberg, 1987).
pesraa. As atitudes do profrssiond nessâ relaçáo adquirem Podemos colocar em um quâdro esses dois tipos dc
importância capital. Âs y'rrízrrrr que estáo â seÍviço desse pressupostos do âtendimento psicológico:
tipo d€ âtendim€nto seo sobretudo qualitativÀs, descritivas

de vivências subjetivâs, buscando explicitar seus No Àlendin.íro P.icológico

signiffcados potenciais em relâção a algum contexto, Diag.Nl@ J estÍáleoia J inlêdenção r mudanqa €sp.Édâ

habilitando oprofissional com umavisâo mais ampla do ser pelo kÉp€!lô)


Àlâ= consêd,Éo dos oôjeliDs {ê &oddâ
Pesqusas: husm lêis psicologkas, n quénci§ ds ocoíanoas,
humano (sobre csscs dois pressupostos, vcÍ, poÍ excmplo,
Amatuzzi, 2008; Frankl, 1989). Íenótnoa - @*jrenb + álc.tro d s§niícádo6 prs§.ni€€ J
€raç30 @n!@Niv4 valod2adoÉ e honesb J áulonoma cns.6nk
Dentro do pressuposto deterministâ, fala-se de 3
l
níveis dc intervençâo: teÍapia suportivâ (ou dc apoio, Àla = sãlsÍâçào ê lémino d.
p@s(d*idlda em contonlo)
Pesquisas: qua iról'vas, desolvas de vivêncás e de sigifcados
visando o *lívio); dc esclarecimento (ou orientação) e de rsádonãoos com àlgú4 prcbêrá. aFo êE a esáo de àroetrc'â
humâna o da rc aÉo ioteaessoal
reestrutuÍação (psicoterâpia propriamente dita, ou análise)
(Fiorini. 1976). No pressuposto humanisrr, náo rem
sentido €ssâ divisâo. Os Iimites do atendimento sào
deffnidos pela própria relâção. O terâpeuta segue a i ntenção
Uma visão de ser humaDo, que se aPoie na Percepção
da pessoa que busca ajuda.
dc um valor original e único da P€ssoâ, é umâ üsio éticâ e
Dentro de uma abordagem humânisra, o clima de
tem ÍepeÍcussôes Púticas na üde de relações pessoeis,
diíogo fecundo, a atmosfeÍa psicológica do encontÍo é
sociâis e até politicas. Isso parece resum;Í bem o pensa-
provida por uma disposição, ao mesmo tempo, aceitadora,
mcnro de Ruiz de la Pena, expresso no verbete "almr" do
comprecnsiva e autêntica. Aceitadora: desejo de va.lorizar o

19 ROGERS: éticr huhr.iÍrc tsiútnPii ,9


Dnionúno da Pensanenlo Conlem?oúneo (R.uiz de la Pen^, êqui!"le â úrmaÍ o %lôr únicÔ dr
IrrcêPção é éticâ, e ela
2000). pcssoa. Trata-se de olhar o ser humano (pessoa'
O qu€ é â percepçâo do valor único da pessoai .,'rnunidade, humanidrde) com um senso de respeito quc
Podcmos ver isso de modo bem simples. É p.r.6pçio ,lrcorrcde n âtuÍ€zâ propria e original desse objeto, E olhar
"
segundo a qual não posso fazer quâlqueí corsa com um ser
|xrà ele não como algo útil, mas como ser Portâdor de um
humano. Com â consciência ecológica, sabemos qu,e náo vrlor próprio e inalienável, como ser que me interPõe â1go
podemos fazer qualquer tipo de coisâ cont a um §€r da ,lc absoluto. É respeitá-lo naquilo que ele é.
naturezâ. PodeÍ fazer, podêmos (c, de fato, â humanidâde Desse olhar decoÍÍ€m cons€quências PÍáticrs
, tem feito), mas não dwemos, nio é lícito, nào é bom, Está ,r;Jentes pâÍa rs Íelâçõcs interPessoais, PaÍa o conüúo
Presente uma questão ética, que suPôe uma referênr:ia de mesmo paÍâ â Políticâ. ExPlicitar
'rcial c até
essxs
valor. Nao se tmtâ apenas de evitar a "vingança" dâ ((»lsequências é constÍuir uma ética das Íelâçóes inteÍPes-
naturezâ. Eústeum respeito que é deüdo ànaturezâ, e não !)ris, Llma ética social e um éticâ Polítice. A abordâgêm
ePenes um medo das consêquêrcies. Mas, além desse rcntrada na pessoa é muito mais uma éticâ do qu€ uma
respeito geÍâI, existem formes especíÍicas, isto é, !ãloÍ.es do
egiÍ que decorÍem do objeto diantc do qual estou na ftinhe
ação. PoÍ exemplo, não se pode trâtar um ânimâl corno s€
fosse um pedaço de úboe ou uma elmofade; ele tc n um Antes de todos os discuÍsos sobre a Práticâ, cxiste o

valoÍ própÍio de animal, diferente do valor de um1 lgir sobre o qual versam aqueles discursos. E nesse agir
a-lmofada. Nâo se pode maltratar um animal, nr,esmo o nivel dos comPortâmentos, o que
lxrdemos considerar
quando for preciso matá-lo. O Íesp€ito devido a umâ plantâ ,:ictivamente fazemos, e as disPosiçôes que lelamos Parâ a
não é idêntico ao rcspeito deúdo ao animal (embora os dois rção, as atitudes, os valorcs. As disposições sâo antcÍioÍes
sejxm merecedores do respeito geral devido à natuteza). ros componamentos e, de certa forma, os deteÍminam. Por
Pode-se tirar um galho dc áwore para fazer um ornanlsnl6 rrrna disposição,uma atitude, um valor é que nos inclinamo§
na salâ, mas não ârrâncar um pedaço de um â'rimal. rrumâ deteÍminada direção.LRogers considerou que âs

Pode-se, mas não se deve: algo se fêÍe em nós e no mundo se ,lisposições (atitudes) são mais decisivas do que os
o Íizeímos. Âssim, no topo dessa giadueção de valoÍcs está comportâmentos nâ carâcterizâção da rbordâgem centÍâdÀ
o s€r humâno. Não se pode tratar o ser humano corho s€ Itr pe§soâ. PaÍa ele o qu€ imPortâ é que os comPonÀmentos
poderia tratâr algumas outras coisas dâ nrturcza. Essâ .lecorram das atitudes, e Podemos enlrnder isso âssim: o

20 NIrUrt,NI IiNANIÁTUZZI ?7
que importa é que o agií decorrâ dâquilo que a pessoa tem A Abordaçm Centrada na Pessoa (ACP) encontra-se
como valor. Vâlor operâtivo, é clâro, e não simplesmente nâs atitudes e r,alores subjacentes ao agir. Ela pode Ievar
valoÍ declaÍado. Uma a(itude não determinâ sempÍe o consistentem€nte â formas de agiÍ diferentes conforme as
mesmo fomato de compoÍtâmento.A mesmâ âtitude ou o situações, âs pessoâs, os mom€ntos. A consistência títimâ da
mesmo valor pode levar a componamentos diferentes: isso ACP não está no úvel de sua utilidade ou mesmo de sua
vai depender da situaçâo, das pessoas €nvolüdas, dos efrcácia, mas no nível do seu lzlor Se não tenho sensibilidade
estilos, do mom€nto no processo da relação. De qualquer para ralores, jâmais entenderci â aboÍdagem cenúadâ na
modo, Rogers c!,nsideÍava que deÍinir a-abordagem pessoa; a não seÍ que â entenda como m€ra técnica. Mâs, em
centrada nâ pessoa em termos de atitudes (predisposições ultima instânciâ, elâ náo se juqtiÊca colno uma técnicâ e sim,
ou valores) era mais certo do que defini-lâ em termos de como uma étiça;mâ ética dâs relaçôes humanas (inteÍpes-
comPoÍtemento €specífico. Porque esses comportamentos soais, comunitiias, sociais, políticas). JustificâÍ a ACP é
podem variar muito. Por trás das vaÍiações de compoÍtâ- cxplicitâr e fundarnentaÍ, no plano teórico, os ralores que ela
mento existe â coNistênciÀ de atitudes e valorcs.

Lembro-me de uma palestra de Álberto Segera,


quando passou por São Paúo em 2007. Ele esboçou uma
possível foÍmulaçeo das clássicas tÍês âtitudes, em termos de Surge entâo â peÍgunta: quais sáo os valores humanos
ralores subjacentes. Recorro à minha memória. Nâo é que definem â estruturâ consistente dessa abordagem?
possível termos uma gen]u'íM aceitação incarutuianal se ela
Já vimos que se geneÍalizássemos â partir da sinração da
não estiver apoiada no valor do amor. Aceito porque amo; terâpiâ ou de Íelaçâo de ajuda, poderiamos &14r de araq-r,
sinto-me um só com o outro. É o valor dâ comunhão. A sabedoria e harmonia. Afastando-nos um pouco desse
corfi?reentão en?ática tem suâs Íaízes na sabedoÍia como contexto e olhando êssa abordagem na convivência social,
vâIor difereflte dâ ciência. Enquanto pela ciência poderiamos descÍever esses raloÍes da seguinte forma:
peneúâmos nos mecanismos fenomênicos, pela sabedoria
\ 1) Qre as pessoas se respeitem como PossuidoÍas d€
compreendemos os signiílcados dos lenómenos num
contexto mais abrangente. A a tentnidade radica-se no vrtor absoluto, que náo se imponham umâs às outras, e
valor da harmonia das partes no todo pessoal. Se tenho a cntendam que, solidariâmente, chegaráo âo melhor
harmonia como valor, tendo a me mostrar de modo mais resultado. Certa vez, alguém me disse: "na sociedade, ou

genuíno, mais ioteiro. você está por cima ou está por baixo". E Âquei comvontade
de lhe perguntar: "E porque nãoPodemos estar ao lado, no

22 ROCERS: étie humanish . ,sicoten1ir 23


mesmo nível?".Isso tem â ver com a valorização dâ pessoâ, na diâléticâ processuxl do conviver. É ciaro que esse
com orespeito oua estimâ a elâ devidos, com âconsiderâção
lrocesso começa nâs pessoas que se propõem a fecundar o
positi que fundamenta um convíüo sociâl saudável e rlcsenvolvimento cultural- EIas trâzem essas disPosições
fecundo, com confiança. prra o coflvivio, tendo-as exPeÍimentâdo na vida e

rcreditado nelas (ralores operativos). Mas esses valores


2) Q,e âs pessoâs procurem se compreender
tcndem a definir a própriâ qualidade do convívio social
mutuâmente, na integralidade de cada uma, isto é, com
Íccundo em termos de humanização ou de desenvolvimento
todos os seus sentimentos e com os signiffcados que se
cultural. No plaoo das direçóes gerais de valor no campo do
prcndem r cle., mc.mo com os que n:o conseguem
convívio humano fecundo, esses üês vâlores são suâcientes.
expressardarae totalmente. Équando aspessoas se ouvem
Sc bem os entendermos, eles bastam.
plenamente (até para além das palavras)que se delineiaum
rumo po"itivo. I*o e+á re[cionado com a emprtia, com a_#s
.ômÚnhâô.le seôtimentôs.
De onde surgiu tudo isso? Convido entáo o Ieitor â

3) Q,e câdâ um sejâverdadeiro no que dizrespeito à


rrm olhar histórico. A Abordagem Centrada na Pessoa
surgiu nos Estados Unidos, como reaçâo a uma tendência
situação que está scndo vivida em conjunto, sem sonegaÍ
que veio a se chamar, tempos depois, de antihumanismo.
nenhuma informação a ela relevante.Isso tem aver com a
l'ara compreendermo" isso, PÍrcisâmos de um recuo mriôr
honestidade na diferença, ou seja, com a autenticidade.
rinda (para refeÍênciâs iniciais, ver Dicionário de
Vejo então três vâIoÍes básicos e interligados como L)ensamento Contemporâneo, 2000; DicionáÍio dos
F itósofos, 2001).
deÍinidores da ACP: o valor da pessoa, o da comunhão
inter-humrna e o da honestidâde em relação às diferençâs.
A antiguidade dássica era cosmocêntrica. Tudo era
pensadocombase na natureza, âté mesmo o homem e deus
O termo honestidade não é usado aqui no sentido moral,
(ou os deuse$. Osprimeiros Íilósofos, nos séculos 6",5" e 4"
mas no sentido de umâ relação aberta, náo câmu{lâdâ, que
antes de Cristo se perguntavam: por que o mundo é assiml
nío omite o queprecisaficaÍclaÍo paraque aprópria relÀçáo
evolua construtivamente. E também não estou propondo QraI sua lógica? E faziam essas
C) que lh€ dá consisténcia?

que esses valoÍes devam existir de forma acabada nas lrcrguntas em rermos dc natueza. Perguntar por que o
rnundo é assim e perguntarqual a natureza do mundo era
pessoas, individualmentc, masque eles sejam, paÍa todos os
envolvidos no convíüo social, um objetivo a seÍ alcançado
r mesma coisâ. Mesmo quando Sócrates (séc 5 a C.)

24 Muo Nhfrins ÀvÂTuzz 25


qu€stionou o homem (e não mais o mundo físico), ele estava Na modernidade, a razáo humânâ se desenvolveu na
tÍabalhando a nâtureza: qual seria a natureza humana. (liÍcção dâs ciências físico-matemáticas (Galileu, §éc.
Mas com a únda dafé cristâ, que acâbou se impondo lr,. l7). l.so quer dizer que o conhecimenro visrvà
no império Íomano (que sucedeu à cultura grega), uma ,lolntiÍicar as coisâs, medi_lâs e assim decifrar sua lei
outra mentalidâde se impôs: â da idade teocêntrica. Tudo rreÍnâ. Dei\ou de considerâr essênciâs e valores. Com o
passou a seÍ üsto com base em Deus criador, inclusive o ,rcionalismo (que teve seu apogeu noiluminismo, séc.18),
homem e a natureza. t (nneçâram as âmbiguidades- A razáo humana capta leis
Com a modernidade, uma outra reviravolta: começa rtcrais necessári$ e deteÍminantes dos fenômênos. Mas o
a tendência antÍopocêntrica. Tudo passa â seÍ pensâdo a {r humâno também é um fenômeno. Entâo, como exPlicâr
partiÍ do homem, inclusive a natureza e Deus. Para .r liberdade humana? Seria a razão liwe a capacidade de se

Descartes (séc. 17), â primeiÍa certeza náo era o muÍrdo {btrair às determinações do mundo? Essa câpâcidâde
natuÍâl e nem mesmo Deus. Era o pensamento üüdo na I'irece, entáo, seÍ ilusóriâ. O ser humâno constituido de
subjetividade. Ele vai reconstruir tudo com base no tJrnsamento e liberdade e, Portanto, centlado na suâ
pensâm€nto. O seÍ humano é concebido como indiüduo e t ()nsciência, começâ a se descentrâÍ. Esse descentrâmento
sua especiflcidade está naconsciência. Ele édotado de raáo .,)stumâ ser descrito em váÍios nÍveis. No Plano
pâÍâ pensâr e, porquê pensâ, não fica vinculado aos , (,smológico, ele é representaào pela reulryão coperniana:
deteíminismos mâteÍiâis, mas dominâ sobre eles: é liwe. r
'lera não é mais o centÍo do universo como se Pensâva-e
Para Kant (séc. 18), toda Íilosofia se reduz a uma .r tcrrÀ, no cosmos, é o §ímbolo do ser humano no mundo.
antropologia, já que vise ÍespondeÍ à perguntâ "o que é o No plano biológico, pel^ teolia da a)alqõoi o homem ê
homem)'. Nasce assim um pÍojeto de emancipaçáo .irnplcs resultado de um processo evolutivo, ele náo é muito
humana: a conquista da plena autonomia para o homem ,lifirente do mâcaco. No plano psicológico, a alna é

como indiúduo. É o desabrochar do humanismo. E esse rtduzida a um e?irtnôneno (reverberação secundáriâ de


indivíduo passa a ser visto como independente da naturezâ Irrimeno, frsicos). No plano socioldgico,'urge a
(ele domina a natureza) e até mesmo ind€pendente de Deus ,,rnsciência de que somos ?raduto de le;s sadai! e b;tthbas
(ele deve resolver consigo mesmo seus problema$. O tJlcnâmente estudáveis; e o golPe final qu€ veio do
princípio tundamental da modernidade, para Hegel (séc. r5truturalismo (no plano filosófico): a qxe êxnte
'õo
18/19), é a subjetiüdade. t'ltuturas irr?e$oais às quais estâmos sujeitos (e essâs
.\trutuÍâs náo têm nenhum centro âutônomo) Acâbou-se

26 ROGERS: ót.! hummist! e psx"e-pi^ 27


alibcrdadc, acabou-seo serhumano ccntrado em si mcsmo. l.cvinas (séc. 20) procureve o vcrdadeiÍo msto do homcm
um, complcxa máquina, mrs cujo
Sonros apenas prças de
tr,r ú:ís das mást.ras. lrvi-StÍâuss e Foucault (€stÍutu-
funcionamcnto é, em principio, previsivcl dcsdc quc ,rlistas) foÍâm contemporâncos de Levinâs, e tâmbém de
cncontremos os instmmenros adequados de pcsquisr. l{,rqcrs e Maslow (humânistÀs do séc. 20). O motivo pclo
O modclo dc peÍrsarnento quc manifcsta bcm essa , p.rl se formou, em tomo dc Husscrl (no começo do sec. 20),
mentâIidade e o positivismo d€ Comre (séc. l9): r ciência ó um ,rn movimcnto ÍilosóÍico (com expansões pa:a fora da
cntcndimento dos fatos objctivos. O conf)ito mriximo se lilosoffa), foi que essas pcssoas (dcntre elas, Edith Stein)
cxprcssâ por Nietzsche Géc. 19): oposiçâo ao homem virrm na fenomcnologia uma possibilidade de se chegar a

pequeno, mcsquiúo (Reich: "Escut.r Zé Ninguém"), pclo rrrna verdade. Nem tudo é rclâtivo (ou: até o relâtivismo é

supÍ-homem que, no €ntânto, não passa de um sonho. Pàra rrlativo). Há uma cspcrança prÍa a humânidâde.
Onega y Gxset (scc. 20), o posit!üsmo i uma opcrrção A modernidade âcrcditou, com fé inabalável, no
intclccnral que consiste em es!"àziaÍ o sentido do mundo e 1'rosÍesso ilimitado da humanidade. No entanto, os tempos
dciú-lo rcduzido a um amontoado dc feros. Wirgcnstcin rlrostrãÍâm qu€ ncm todos usufrucm dcsse progresso:
(s.c. 20) âfiÍma que, parÀ o olher da ciôncia no mundo, tudo é
lrcssoes emgÍ.ndc númcÍo ú comcm as migalhas desse
como é, e nde não há Iugãr pua r:rlor algum. livi-Súiuss progresso. Os ncionrlGtãs âcÍeditaÍ{m na educação do
(scc.20) diz, em O peranato Sebagen, que povo (para quc cles panicipassem do pÍogresso). Mes ess.

o lim primordiãl ds (,ências humànar náo


p,l,o foi dizimrdo nes dues mâiores guerÍâs que a
é
constituiro homêm ê sim dissolvê-|o... reinr€grâr humânidade já fez (consequôncias de jogos de interessc
ã cultura na naturêzã e finalmênre a vida no cconômico). Os marxistrs acreditaram que alutâ de dasses
conjunto das (ondi(ões íísico-quimicâ1.
lcvâria à Íeconciliação! mas o qLre vimos folâm os
(omunismos ditetoriais. Os capitalistrs acreditârâm nâ
Dcpois da morte de Deus (Nietzschc), vcm a morte
rcvoluçáo técnico-industrial, mas, em meio à opulênciâ
do homcm (Foucault, séc. 20 esrruturalismo).
Jaqueles quc usufrucm dos beneÍicios dessa revolução,
A modcrnidade comۍou com. hum:rnirno c
(omeçârâm a faltrÍ Íazõcs par.l üvcr e, para os pobres,
terminou com o anti-humanismo. Â saída para o homcm
rnaioria da socicdadc, sobraÍam pcquenos restos.
scÍia o ccticismo (náo podemos saber nada quc ultrapassc r
Àguns autorcs dcnominaram essa modemidadc
mcÍe dcscriçâo de fatos empiricos; nrda quc sc refira a
tardia de prís-modernidâde e âpontíÍem elgümâs câÍactc-
valorcs ou sentido dc rerlidade), c, pnra a vida prática, o
risticas paÍâ ela. Vcjâmos âlgumas.
cmocionalhmo (gozar a rida o máximo possivcl). Ntrs

28 MruÍoMrinsAMÁ'IUzzl 29
I

Não há mais â grande história com um sentido, a , 1r rro plano da vida); convite a uma humildade do ser
grande nârrativa; âpenas â pequenâ históriâ de câdâ um lrrrrno, mâs não à insigniffcânciÀ.
(a história humana nío tem sentido).

A ética, com o senso dos valores, é substituída pela


estéticâ; o que vúe é z belezz, mesmo que sejâ trágica Nâ psicologiâ ameÍicânâ, além da repercussáo de
(porque do bom não sabemos o que é, se é que etiste). r,,lx cssà maneira de pensâr e sentir que vem da EuÍopà,

Se nào viemo" de lugar neúum e nào vâmos para ''',,' ,, gotto pelo prático c utilitáÍio (cujÀ c.).pres'.io
lugar a1gum, nenhuma direção é melhor que outrâ. til,,srllicanos Estados Unidos é WilliamJames, séc. 19-20),
A ideia de verdade é abandonada e explode a r lricanálise foi praticada como uma técnica (e náo tanto
subjetividade e o sentimento. E co mo consequenc ia. para a ,!',,,o um pensâmento), mas também se desenvolveu
vida cotidiana: o desfrute imediâto, sem adiar satisfações Irr\txnte umâ outÍa técnica bem mÀis objetiva: o
("carpe dien", con o settido de aproveite o aqui e agora); ,
',,rporrâmentalismo ou a engenharia de comportamento.
a felicidade consistindo exclusivâmente na vida pÍivÀdâ; â :\rrrhos tinham em comum o pensar o ser humano como
indiferença com âs questôes que se reíerem ao coletivo, r,'rultrdo de influências ou causas mais ou menos ocultas
abstençáo de militârcia políticâ ou de qualquer outra trlrcrnas ou erternas), mas que podem ser detectadas por
espécie; grupos de enconúo emocional de subjetividades, , lrccialistas. Muitos esta!âm insatisfeitos com isso. Á1go
terapias do sentimento, pedagogia do contato, terapia do , .riva sendo esquecido: em lugaÍ do "homem resultâdo"
abraço. Nao há mais lugâÍ para um sabeÍ profundo; umâ t, rpressão de Merleau-Ponty), deveríamos ser capazes de
visão de mundo mais ampla é consideÍadâ purn ilusão. A ;" rr'rr o homem desaGado. câpaz de iniciar âçôe§ no!ãs e
nostalgiâ dc tempos antigos é umâ neurose ou um sinâl de rr.rnstôrmadoras, voltado para o futuro. Maslow propôe
infantilismo. A religiosidede torÊâ-se sentiment'al ejá não ,1,r., para conhecer o ser humano, deveríamos estudâr os
rbre para as grandcs quellóes da exislência: virn um rrrclhores exemplos de realização de humanidade, as
remédio como qualquer outro.
lr.rwns mais cÍiatiws (e deveríamos, nós, atualmente,
No seio da própria pós-moderflidade, porém, rtrl,liar isso parâ os grupos e comunidades mais bem
sementes de esperança: pcnsamento complexo (Edgar ..rr, cdidos). Ele se propôs a estudaÍ pessoas sadias e não
Morin, séc.20121): nada se consegue sozinho (valorização
1n'*ras doentes ou neuróticas. Rogers escrweu sobre aüda
da equipe, dos grupos) em razão da impossibilidade de um
1,1 rra, a pessoa em funcionamento pleno, tal como ele podia
só abarcar a complexidade (seja no plano do conhecimento, ,,,,,strtar no finâlde umaterapia. Allport escrevera sobre a

30 ROCERS, éri.r hu'na.cs e psicoterapia 37


I

rcligiosidede intrínseca, como algo bem difer€nte de \,,,.,, (1980) chama de humanista toda psicologia que
rcligiosidãde exúinsecâ- A psicânáljse e o bchaüorismo nâo ;
, , , tlcu o laboratório de Wundt, inclusive q rice psicologia

treziam esses Íespostes. Dois li!Íos sc tornerâm clássi(os: ,


'
i Icvrl (btâlrnente erquecida atuâlmente). O movimento
,

Psiologia Existential Hunazrlra, de Greening (1975), e l,r,rrr,rnistr de Maslow, no século 20 emeÍicxno, Eouxe de
Pskologia do §ar, de Abraham Maslow (s/d.), em pleno ,,,lrr pua a psicologia os velhos temâs que haüâm ficado de

século 20. Maslow congÍegâ um movimento que cle chame Ir l, , pclas abordagcns convcncionais. Qrais temas) A saúde

de Psicologia Humanista. t,.r,,,Iógicâ, a capacidade de escolhe, â cÍiâtividad€, a


Eram tempos de guerra no Vietnã. Psicólogos, .rrrr,rrrcdizaçáo, ô compÍomisso comunitáÍio, o €nvolü-

psiquiatras e âssistentes sociais, quetrabalhavam no modelo ,,rrrrto poÍtico, a abertura espirituâl, enÂm, tudo aquilo que

médico (diagnóstico e inteÍvenção mânipuladora dÂs , l, rolvc rc sujeito seu papel âtivo e suâ ebertuÍa paÍa o futuro
causas), eram eÍicazes no tratamento dos traumatizados e , 1',rr.r o inÍinito.
mutilados quê ünlam da guerra. Mas essc já não era o
meior problcmâ dos americanos. Eles queriam saber o
porquê de gueÍrà; que sentido tioha a presença dos Estados O próprio Rogen sugerc colocar o começo de suâ
Unidos na Ásia; poÍ que scus 6lhos tinham qu€ morr€r ,l,,r.lagem pessoal no dia cm que, conversando com uma
precocemcnte em um embate sem lógica. E, para isso, os ,,nc â respeito de seu filho problemático, ocoÍeu uma
métodos trâdicionais neo trâziâm Í€spostas, não âbriam as ,.riÍirvoltâ (RogeÍs, 1977, p. 23). Ele havia tentado passar
ponas de uma ação efetiva. Seria pr€ciso olhâÍ paÍâ âquilo l,. a.r mãe sua interpÍetaçâo dâ situeçáo pÍoblemática,
que o ser humano podeÍie seÍ. Ou poderia fazer. Náo rrr,rr cla nâo aceitara. Todâs as suas tentativas forâm em vão:

âpenâs olhâÍ parâ o que já tinhâ feito. Não foi Rogers quem ,r Lonversa não levara a nâde, então, deu por encerrada a
inventou os gmpos de encontro, mâs quando ele se pôs a rrrÍevista. De pé,já na portâ do consultório, â mãe se voltoü
promover isso, ele fâcilitâva o desenvolümento âutônomo , l,crguntou a Rogers sc 1á eles frziam aconselhamcnto de
do grupo e das pessoas, estando focado nos significados que r,lrrltos. EIe respondeu que sim e elâ voltou â sentar_se. Á.li

crâm expÍessos pelas pessoas, ajudando-as a se aproxima- , \rirvâ Rogers, sem nenhum csquema que o pudesse guiar

Íem de sua expeÍiênciâ e aprofundar seus sentidos. rirssa nova convelsa que sc iniciâvÂ. Esse foi um dos

Maslow, Rogen, Greening, Erich Fromm e outros, Mnentos importantes do nascimento dâ âboÍdegem não

apcser de trabalharem de formas diferentes, resgatararn para , I rre tiva que depois veio a sc âlaÍger em âboÍdagem centradâ

equclc momento a lrlhâ tradiçáo humanista. FÍomm (1974) pessoa. O que ele vivenciou aqui? Basicâmente, umr
',.,
nos fala quc essr tradiçáo tem suas Írízas na GÉciâ ântiga. .rrrstncia de paÍâmetros e disposição de

.72 Mruo \'lrtias ÀVATUZZI Jj


compÍêend.Íc ajudai a pessoeque estâvrlá. A ÁCP nasccu ' I
r'r r, c ncm tâmpouco ume dcíioição dc pâpéis conhecida
da prática dc um am€Íicano que, de rcp€ntc, pcrdcu todos , ., .nr ridâ poÍ todos os envolüdos. Muitâs vezes, não há
os seus manuais dc instruçâo. um cliente especiÍicrdo. O psiólogo, por
Essaausência dc parimerros, noentanto, não era tão , ., rrrplo, vai para um bairro scm scr convidado e levando

8Íandc como se costuma pensâr. Eles cstavam em um ,,,r\igo somente uma vontadc grânde de ajudaÍ ne
consultóÍio de psicologia (e nâo nas ruas d€ um baiÍro, ou t,r,,rroçio humânâ, nade mais. Ele tai aond€ estão es
em um clubc, ou Íos corredores de uma cmpresa, ou em tr i\,,:rs cm vcz de rec€bê-las em s€u espeço profissional.
uma Í€união de dÍogâditos em re.u[rcràçáo, ou, âindâ, nâ \lrrirrs vezes, nâo há um contÍato de trâbâlho entre uma
sala de conveÍsâs de uma pÍisão, por exemplo); e a mãe e ele
;,1'ul.rção (cliente) e ele (proÍissioml). Outras vezes,
sâbiam que âquilo erâ uma conversa dc âjudâ, tinhâm rL,' tccc um conüato, sim, ma§ cntíc o PÍofissional e a
dcfinido paa si que eÍâ umr situâçâo dc etcndimento 1,,,'riiruÍa locâl ou alguma univcÍsidâde ou agência
psicológico. Nesse sentido, eÍa uma situâçâo já pÍeviamcnte r;r,rnciadora de pesquisa. Todo o rcsto está p2ra s€r
dcffnida: seu contexto era iostitucionâJ, §ur dircção eÍâ o .lrtinido. O psicólogo não é procuredo, mas é ele quem
rtendimento psicológico daquele pessoa quc csrava ú (e
;",nura. EIe sri dE scu consultório c de sua instituiçio.
náo outÍe). Essa pessoa buscava ajuda psicológica €, ('(rrr vez, cscrcü um texto quc foi trâduádo peÍÀ o
Ponrnto, âssumir o papel d€ diente entrcgrndo-§c n.s .'tt:rnhol com um úülo sugcstiaot Salil dtl cont tôio ?ara
mãos do proffssione.l. Buscevâ alguém disposto r ofcrcccr h llatnot d. tú: lo íontt lt«ión ?artiei?atioa dr una ?titologia
pÍofissionalmcnte esse ajudâ e, poÍtanto, alguém que 7o1,ular (ver Amaolzzi,2008, p. 115-122). Nâo era bem
também assumisse seu papel. Ambos s€ conffrmavam ,*'.r a situaçáo de Rogcrs nâs origens da ACP.
mutuemente nessa atribuiçâo de papéis sociâis distintos e O que estou qucrcndo dizcr com isso? Rogers estava
complementârcs. O que acontcceu ali foi um novo modo de ,lirnte de umâ situaçãoque era scu dcsafio concreto naquele
caminhar, sem dúvida, porém nume situeção já ,',,mento. Para fazer frente a ela, clc mobilizou em si um
pÍêviamente deÍinide, com obj€tivos geÍds dcffnidos, cm uolo dt str, flão rma. técnica, que, quando aplicado àquela
ume rclaçào cuja netuÍ€a também já estâvâ prcviamente Íêsultave em a.lgumas atitudcsbcm dcÂnidese quc
'iruação,
dc6nida, ao menos, no scu sentido amplo. Nada disso ti,Íxm efêtivamente formuladas postcriormente como as
âcontecc em outÍas situâçõcs em que o psicólogo sc vê .lissicâs âtitudes terapêuticas (âccilâção incondicionâl ou
envolüdo, ou se envolve, alualmente. Em nossos tcmpos, ,rcolhimcnto, compreensão empática ou comunhao de
frequentementc, nâo hi nenhume situaçio pÍeüam€ntc .igniffcados, c autenticidadc ou ser o que se é, respeitando
dcfrnida no que diz resp€ito ao que s€ vâi fezcÍ ou ao que s€ ,rs diferençes). Âlgum tempo dcpois, ficou meis daro que

3.1 ROCIIRS: éiio hm2nisr. . psicorcapir J5


I

esse moda de rdr não estâvâ vinculado ncc€ssariâment€ tiis comoJohn Wood coloce essa questáo:

àquele situeção dcteÍminada de atendimento psicológico.


A Abordãgêm Centradâ nã Pêssoâ nãô é uma
Poderíamos enfrenteÍ outtâs situaçoes totalmcnte dife- Iêo.id, umâ .êropio, umâ psicologio, \rmz trodçóo.
renrcs, outros desârÍios, com o mesmo zrola /z sar, E isso se Não é umâ ,inho, como. por exemplo, à linha
Bۉov,oristo. Embora muitos tenham notado um
revelou frutuoso. O próprio Rogers começou â sÀir do
po§icionamento €r,st€nciol em suas atitudes, e
campo estrito do atendimento psicológico de adultos e e
outros tenham se rèrido a uma perspediva
enfÍentar outÍâs situações: âtendimento de crirnças e de fenomenológicd êm suas intenções, náô é uma
psicóticos; Íealizaçáo de gnrpos de encontÍo; processos ,l/osofo. Acimâ dê tudo não é um movimenlo,
educâtivos; frciütâçào de grupos insrirucionâis; cnconrÍos como por êxêmPlo, o rrlovtmento trobolhrsto. É
meramêntê uma obordoSêmi nada mai§. nâdâ
intercultur'ais etc. (wood, p.lll).
menos 1994,
John Wood (1994) percebeu isso muilo beÍn: o
modo de ser que caÍacteÍiza a abordagem centradÀ nâ Para ele, a ACP não é umâ psicologiâ, uma terapia,

Pcssoa é algo maioÍ, mâis geÍâI, do que a forma concr€tâ qu€ rctr mesmo uma teoria ou uma linha psicológica. A
ês§c modo toma quendo aplicedo a uma situâção especíÍice ltr.rpia Centrada no Cliente (TCC) deve se distinguir da
dc teÍâpia, por exemplo. Ele sugere que es tÍês eritudes r\CP, pois é uma eplicaçâo dela auma situeçeo especiel,
clíssicas sejam a formulação da ACP, siÍn, mas quando ., situaçáo de psicoteÍapiâ individual de âdultos. Estâ
aplicada à psicoterapia. Dá a entender que nâo de!'emos .rplic:rçio faz conceber a psicoterâpiâ como um pÍoccsso de
ide ntiffcar si mplesmente esslrs duâ. coisas, assim como nio ti.ilitasáo do crescimento pessoal e saúde psicológica dê
devemos identifrcâÍ ACP e terapia individual de adultos. ndivíduos em umâ relação tcrapêutica pessoal (p. II-III).
I
Reiterando: a ÂCP define-se no campo dos valores, e isso I louve outrâs situeções às quais essa mesmâ âboÍdâgem se
quer dizcr no campo das predisposições ou das pÍeferênciâs rplicou:
gJanro ao nodo str não no campo dâ récnica, no campo
de
grupos de encontro, âprendizãdoem salâ dê âula,
do nodo defazer. On, ter um modo de ser Íelativia o modo
terapiãs de pêquênos grupos ou workshôps de
de fazer, torna-o menos importante, dá-lhe o seu grandês grupôs para âprendizagêm sobre
veÍdadeiro sêntido; nào o anula. íormaçáo ê transÍormâção da cukurâ, comunicâ-
No entanto, vamos mâis devagar, para podermos çóes inter(uhurãk e resolu(âodeconÍlitos (p. lll).

entender melhor suas possiveis implicaçõ€s.


Ou seja, quando tudo começou, tínhamos a teÍapiâ
nio diretiva (que depois se châmou TcÍapia CcntÍada no

36 ill n l\,lsriN 37
^NIATUZZI
Clicntc: TCC) simplesmentc, mâs nâo s€ tinha noçio exara Wood o descrwe cm sete poítos que já estão sê
de que a originalidadc dessa forma de teíapie nao vinhâ roorando clássicos. O jeitode scr da rbordagem ccntrada na
como pÍopostâ de umâ técnicâ nova, mas como aplicaçào à
l).ssoe consiste em:
situeçào terâpêutica deum conjunto dc valoÍcs mnis
abrangentes, o que levâvâ â umâ nove conccpçâo de 1) Uma perspe«iva dê vidr dê modo 8eÍ-ál Posiüva
proc€sso terâpêutico. Esse mesmo conjunto dc valores foi (wood. I 994, p. lll).

aplicado a outras sioaçôcs; o próprio Rogers lcz isso. f Isso signiÍica acreditar na vida, lcreditxr que el. vale

depois dele, outros seguidores, com  mesmi inspiíação, ,r pena. Não se trata de umâ constâtâção - com bâse êm

defrontaram-se com outÍâs siNaçóes, tâis como: condução expcriênciÀs positivas ou de uma espécie de conclusão tirada

de cmpreendimentos produtivosi processo de emancipaçâo tle um passado feliz. Trata-se mâis dc diz.eÍ sim à üda. Nadâ

popular; atuação junto a comunidades carentes da Américâ r c obrige e fâzer isso. Posso dizer não. Mas dizer sim é o

Latina;etueção em Centrosde Seúde. Foiem virtudedcssa primciro poíto descÍitivo do modo dc ser que caractcriza a

diversidade de rplicações, eliás, que foi possivel pcnsar ,rbordagcm centrada ne pcs.soa. É uma fé. A fé é antcrior à
a

ÁCP como algo mais amplo. Nas situaçôcs cspcci6cas, .iênciâ e lhe dá apoio. E é ânt.ÍioÍ, trmum, à id€ologie. A
há que se levar em contâ justâmente e €speciÍicidade de
l lê tem a vcr com fins; ciéncir c idcologia, com mcios
cade situação. (Àmatuzzi, 2003).

2) Uma creng numâ tendêncir íormativr dir€<bn.l


(wood. 1994, p. lll).
Pois bem, se ÂCP não é tcrapia, linha psicológica e
Âqucla fé se expressa também por essa crença êm
nem ftlosofra, o que scriâ entãol Em que gênero dc coisas
uma tcndênciâ que direcioDa as coisas pâÍe o crescimento,
devemos colocá-la? Wood âssume como resposta o ritulo
pura a complcxidade, para o ser mais, para a harmonia. Essa
do liwo de Rogers: um jeito de ser. ACP é um jcito dc ser,
I cndência é uma foÍçâ quc pcrpassa o univeÍso. E s€ assim é,
isto é, um modo de ser, nâo de fazrr. Um nodo de yr leva,
.lx existe tambéÍn no ser humano, pois ele é parte do
cerrzmente, z um nodo tu fazer. Mzs esse modo dc tãzer
uoiverso. No ser humano ala se expÍessa, dentrc outros
depcnderá da situaçâo.Já o modo de ser frode scr dcflnido
rnodos, como cepecidadc de autocompreensão, d.
no gcral, independentemente dâ situaçío Elc é rntcrior à
mudança no autoconccito, c na atitude básica, diantc da
situação. Então, em que elc consiste?
!ida, c no compoÍtamcnto autodiÍigido, sempÍ€ em Íâzão
Jo scr mais. Essa capacidadc oio é epcnas a.lgo vago, mas sc

38 ROGERS: atia hum.iiE. p4iorcnpl 39


I
trÀduz em recursos de autocompÍeensão e mudançâ nâ xssume a liberdade na complexidâde das tendências que
direçáo de maior complexidâde e cÍescimento. Essâ l)crPassam o universo.
tendênciâ formâtiva não existe só no ser humano individuâ1,
O imponant€ é que qua.do umã pssa es.t.í
mas também nogrupo, na cohunidade, nomeio âmbienre, funcionândo plenamente, náo há bãrÍêirÀs, inibiçóês
no universo enÍim. Rogers (1983, p. 45) diz: Esú em que impeçam a vi!ência integrái do que quêr q're
andamento um processo cria(ivo ê náo dêsintêgrâtivo. Ele esteia presente no or8 ismô. EsÍâ pêssoâ êsú se
movmenrando em dire§ao a inteireza- à rnteSrãçào. à
constate a tendência desintegrârivâ, entrópicâ, certâmente.
úda unificadã. A.onsciência esli parti.ipando dessa
Mas afirma que, no seu todo, o que está em ândâmento é tendênciâ íormâti\râ, mais ampla e criatir.a (Roger§,
um proces.o criativo, formativo, em diÍeçào ao mâis ser e 1983, p. 46-n.
náo em dircção ao menos ser.
OcoÍre qu€, por câusa da própria complexidade dos John Wood, neste ponto 2, situa a crença na tendência

sistemas que se váo sucedendo no processo evolutivo, essa


li)rmati e, ao mesmo tempo, como consequência dela
t€ndência pode estâÍ mâis o\l menos bloqueada, mais ou t)rópÍiâ, os recursos que no ser humano podem desbloquea ou

menos impedida de atuar. No ser humano, essa tendência


r,",rientr e."a tenden.ia qumdo bloqueadâ. E esses recuÍsos

se concretizam em atitudes hoje conhecidâs ejá compro!âdâs


pode licar confundida, c pode âtuâr em direçôes paradoxâis.
,ientificÀmente ína Íormulaçao ÍogeÍiânâ: compÍeensào
Mas a propriâ con\ciên.ia, truro da evotuçào. prové o ser
.nrpática, âceitação incondicional e autenticidade).
hr:mano de recursos que o toúlâm Âpto a atuâr no sentidode
uma reoÍientação. O desbl6qugi6, a mobüzação ou a
3) Uma intençáo de ser êficâz (Wood, 1994, p. lll).
reoÍientaçáo da tendência formativa no ser humano
Wood julga oportuno destacâr isso como um dos
dependeÍâo de um clima cleterminado de disposições
pntos descritivos dessa âbordagem. Por quê? Ta.lvez para que
facilitadoras. E a experiência tem ensinado a definir essas
,iio se penc€ que esse modo de <er não teúa compromis"o
disposiçóes. A própriâ rendência formativa atua como
,om a mudança. E, na verdade, tem. lsso decorre da fé
remédio nadescobertaepÍod\rçáo desse climÀ. Não que isso
íirndâmental tarnbém. Diztr sim à üda é entrar no seu Íluro
nâo exija esforço humano de llucidez e coragem, mas quc o
l, vrndo plra ele no<.a llberdade, nosso distemimenro. no.sa
proprio surgimento desse esforço estejâ na liflha daquelx
.ônsciência, nossa ação. Nao se trnta de conformismo ou /arrer
tendência. Rogers fala de uma sinronizâção consciente com
/iire, e nem tampouco de umâ postura meramente
a tcndência formariva. Nao rrara de uma
"e "oncepçio .ontemplâtivâ, üsando somente o entendrmento. Nesse
fatalista, mas de uma concep,çáo que, no caso do homem,
\rntido, é !álido dizer que a ACP nâo é uma abordrgem
tilosófica (e nem diâgnósticâ). Trâta se dc um modo de seÍ

40 ÀIíúô Mdti.s ÁMÂTUZZI 7-1


roltaô parr a ação, ou quc sc tràduz em 1çóes difcrenciadas, 5) UmaÍênbilidadêde p€írsamento e açáo (Wood, 1994,
coofonnc a situâçâo ou as circunstâncies. Não é um modo dê
agir (isto seria um método ou uma témica), mas um modo dc Sem isso, o ponto antcrior fica impossÍrel. $ não mc
scÍ voltxdo parà a ação eÂcaz E s€ tal modo vale pare situaçoes .,1{,, pãri o outÍot o quc njio vrm de mim, para o
par:r
em quc o desâfio é a mudança em direçiio ao crcscimento .lrrircnte, não posso üver em comunidade ou agir cm
(tenpia, grupo, dinemismo evolutiro), por que nio !€leÍiâ ,,,munhão. Sa âquele senso de rcveÉncia é mais do que
quândo tratâ dc mudânç. no coúccimcnto ou na p.§quisa?
l'.rl$r'i§, pÍEciso ser capaz dc acolher o diferentc, a pessor
se

O próprio coúecimento pÀssa, então, a ser encârado como ,lil-crente, a açáo diferenE ou o pcnsamento diferente.
umâ xÉo evoluti!"r. Á ACP inspira práticas terapcuticas ou (Irrndo vou pãfr uÍnâ reuoião, por eremplo, lcvo idcias e
evoluti!ãs, indusile no câmpo do conhecimento. É um modo
I'ft)postas de âção, mes s€ €u êstiver aPcgado â ela§, a reuniáo
de ser voltado para o mais scr, em qualquer que seja o campo. rr,rnsforma-sc em uma disputâ de podeÍ. Não há mÀis
. nconúo d€ pcssoâsr úo há rehção, somcnte Íelâcionamento.
4) Um Íêspeito pclo indivíduo e por ía autonomiâ ê
I)(ro sêÍ czpâz dê me dcixâÍ lÍülsfoímaÍ pclo conüüo.
dignidâde (Wood, 199,í, p. lll).
Wood cnfatrza aqui a importâíciâ de se ter uma
Disposiçâo de atuâr, mes etueÍ em conjunto com
,lupla úsào da realidadc: uma lincar, constnrid. 'pedâço-
oulÍo ser humâno (ou outros). Se me ponho como agentc,
.r.pcdrço', e outÍa holísticâ, olhando o coniunto,
não posso esquccer que o ouúo se colocr para mim como
l,crcebendo "tudo-de-umr-vez".
tâo autônomoe digno de rcspeito comoeu! e que, poÍtânto,
a ação passa a seÍ, no minimo. conjunte. lsso pÍcssupõ€ um 6) Umr tole.ância quanto às incenê2as ou ambiSuidrde§
sentimento ou uma expcÍiênciâ êspeciel: r experiência dc (wood, 1994, p. 19.
reverência; revcrência paÍe com elgo que me ultÍâpâssa E ele acrescenta, logo em seguida: sendo capàz dê
como valor, algo sobre o qual não posso tcÍ um domínio; e wernumâsiurâção.aóti<âat quêfatossuficiêínêssê.cumulem
isso inteÍditâ quâlquer tipo de manipulação que submeta o para rer possÍvêl âbsrâir-se um sentldo deles. No plano
outro, eviltrndo sua eutonomia. Posso, isso sim, me rncramcnte lógico e úcional, isso scÍie impossível. É
associar ao outro (em dupla, grupo ou comunidade).
;rcciso sair dos limites recionais, coníimdo qu. existe umã
Qrando sc trata de uma situaçáo de ejuda psicológice, isso no mundo e que posso mc conectâr dc forma
'abcdoria
Icva, evidentemente, como objetivos fundâmcotai§, a ticunda com cla. Isso decorrc dos pontos antcriorcs. Scm
favorccer no outÍo sua própria libcrdadc e autonomia ,rma Íé na vida e uma disposição dc aprcnder com elâ, c,
vivides no encontro intcr-humano.

12 ROCERS, iri.l humrÍÁtr. Fx",*p;, 43


ponâíto, scm flGÍibiüdâdc de pcnsamcnto c tçio, nossas tÍâteÍ o clicntc diz Ícsp€ito às etitudcs quc caractcriz:ram a
construçôcs ffcrm presas Ào cu, scm possibilidadc dc no\a abordâgtm quc astx!â nâ§cendo, c quc, equi, cle Íe§ume
cxpansão. em 6 pontos:

7) Senso de humor. humildâde ê curiosid.dê (Wo,od, 1) o conselhciro parte do pÍincípio que o indivíduo é
t994. P. Í9. basicarneote rcsponsáv€l poÍ si pÍóprio e deseja que ele
Há uma abemrra muito gÍande aqui dâ pâÍtc dc mentenhÀ esse responsebüdedc;
John Wood, ao desconhecido: scr capaz de rir e aÉ ri1 de si
mesmo. O brincar, propondo cxmirhos inespcrados, revcla 2) pÍcssupõe â êxistênciâ dc uma fonc tcndêncir â
com e.legÍia os ümites de nosso pn5prio eu. Em quem elc tornar-se meduÍo, ljustado, indêPcídênte, pÍodutivo e

estaria pensando quândo diz, nesse mesmo ponlo, quc, conÍiâ nêsse tendêncie p.lfe quc as mudanças opoÍtunâs se

cmborâ isso caÍacterize a ACP, nâo é algo exclusivo delal íerlizem;

Isso me faz pcnser em tudo que Winnicott âprcndcu com as


3) cria uma atmosfera caloíose e pcrmissiq nâ quâl o
cÍierrya§.
cli€nte posse se expressar com libcrdade;

Mcditando sobrc csscs sei€ pontos de Wood, 4) estabelece limites somente quanto ao compoía-
forma-se em mim a convicção de que clc cstá felendo dc Ircnto e não quânto à alitudes c cxPÍcssõcs;
valores e nào de técnicâs: está, poÍtânro, propondo uma
ética das relaçacs. Â ACP é uma ética. 5) usa somente procedimentos c técnicas que trâns-
nitam sua profunda compreensão das atitudes exprcssas e
sua aceitação dclas (note que aqui clc fala de "procedimen-

Ánüscmos agora um pequeno tÍecho dc RogcÍs, já tos e récnicas");

antigo (oÍiginal dc 1946), mas qu€ esai cm um aÍigo quc


6) abstém-sc de qudquer expÍessão ou eção contúÍia
Wood considera um dos textos seminais da ACP. Rogcn,
,ros princípios prcccdcntes, isto é, cvite pcÍguntar, sondâÍ,
nesse anigo, ünha fehndo que uma das descobettas quc fcz,
culpar, intcrptetar, aconselhâÍ, sugêÍir, pcÍsuediÍ, Íeâs-
junteÍrcntc com sue êquip, foi que, quando um dientc é
scgurar (Rogcn, 1994, p.20-1).
rccebido d€ um dct€Íminado modo, ocoÍrc "uma ced.ie dc
el,entos complcxa € pÍeúsív€I" e que é voltedâ pârâ o
crescimcnto da pessoa, isto é, é tcràpêutica. Esse modo dc

41 MND M.íin, ÂMÂTUza 15


Uma vez que esses elementos estiveÍem pr€sentes Por que esse texto chamÀ a atençáo? Além de não
por parte do terapeuta, outÍos eventos ocorreúo no cliente. temer falaÍ de "procedimentos e técnicas' (como foi
E ele resume em 5 pontos, que possolerdaseguinte forma: chamada a atenção anteriormente), ele falâ de diversos usos
possíveis dâ linguagem: a linguagem comum de uma
1) o cliente se expressará de forma mais autêntica e
conversa pessoal de adultos; a linguagem simbólica do
motivadal
bÍincaÍ; e e linguagêm encobertâ dâs cenas drâmatizâdas.
'I.rara-.e,
naverdade, de diversos íccurso. de comunicaç:o.
2) ele explorará suas disposições inteÍiores e reaçõcs
de forma mais etensa e proflnda;
O primeiro deles seria o mâis espontâneo, mas os dois
outros correspondem a escolhes especiÀis: usâr o brinquedo
3) ele terá uma apreensão mais dara de suas dispo- parÀ eferivamenle se comunicâr com rs cíidnças: usâr a

siçôes (indusive as ânteriormente negadas) e as aceiterá drâmatizâçào pârâ , comunicaçáo de sentimentos mais ou
mâis plenamente; menos escondidos. Rogers não exduíâ €ssas possibilidâdes.
É possível trabalhar com base nos princípios orientadores
,í) escolherá novos objctivos mais satisfâtórios e os
da ACP, escolhendo procedimentos especíÍicos de
comunicação. A náo diretiüdâde ocorÍe no interior de uma
relaçáo, mas ela diz mais Íespeito aos conteúdos
5) escolherá meios para âIcânçar esses objetivos e se
comunicados e à oÍientação do processo, e menos à foÍma
comportará nessa direção de modo mâis espontâneo e

menos tenso, e mâis hrrmonioso com as necessidades dos


da comunicâçáo. Esta pode vaÍiaÍ, está sujeitâ à

considerâção do que melhor se adapta à situâção. Uma


criança provavelmente não conseguiria se exprcssar em umâ
linguagem adulta, e, com o âdulto, â linguagem comum ea
Nesse conterto, aparece otrecho aserconsidemdo
drâmatização são possibilidades diferentes. A escolha de
Essa cadeia previsível de êventos podê su.gir uma forma de comunicação ou eyploração é uma questão de
através do uso dâ linSuãgem, cômô no
conveniência, e isso pode depender, em parte, do terapeuta,
aconselhamentoi através da linguagem simbólicâ,
cômo nã ludoterãpia; através da linguâgem c em paÍte, dâ situâçâo, poÍ exemplo. Rogers, pessoal-
encobênacomo no psicodrâmaou naterapiacom mente, usâva como instrumento preferencial a linguagem
íantoches (Ro8ers, 1994, p. 20).
,
"mum do adulto.
Vez por outra, ele
'e comu nicâvâ por
gestos signiâcativos. Mas esse trecho prrece indicar que ele

nio arduíâ, em pÍincipio, o uso de procedimentos outÍos,

46 ROGERS: érici hu,naniÍr c p";corclpa 47


mesmo com âdultos. O caso da ludoteÍâpiâ é particulâÍ- de uma relaçío compreensiva que se descnvolvia apartirdc
mente imponânte. O Íecurso de comunicrção Por meio do um encontro e caminhavâem direçáo âo desconhecido, deu
bÍincar decoÍÍe da análise da nâturczâ da situaçio e dâs certo. As pessoas foram melhorando e sozinhas resolviam
pessoas envolüdas. scus pÍoblemas. Isso precisava ser dito à comunidade
Aonde quero chegar com i«o) Umâ . nic, siô ô' cienrílca. Surgiram então â, primeiras pe.quis.rr com es,d
valores da abordagem centrâda na pessoâ eoutrâ é apossível Í'inrlidade r mostrar que a abordagem eraeficaz. O grupo de
e necessáÍia andise dâ situação para deÊnir, porexemplo, os Rogers sabia, por experiencir. de*a eficácia. ma. era
instrumenro' de .omunnrçào que seno urilizaJo'. E preciso mostrâr e articular, teoricamente, o quc elcs já
evidente que uma interlere na outra. A ercolha dos meios sabiam. As primeiras pesquisas foÍâm, então, no sentido de
define a formada relação e se fâz nâ medida do Possivel sob cârâcterizâr como estavâ a pessoâ antes de ser âtendidâ (o
a in'pirâçio do' valore" orientadore.. Este' rao o. mais que cÍx fcito por medidas psicológicâs, com o uso de testes
decisivos, como definidores do paradigma-Mas a aníise da ou outÍos instrumentos reconhecidos pela comunidade
situâção, visando a escolha dos meios, também pode ser científica da época); fazer o atendimento de acordo com os
neccssáÍiâ e, muitas ve'zes, de fato, é. princípios da abordagem;e, posteriormente, tornaÍ â mediÍ
(novas aplicaçôes de testes), constatando as mudanças. A
%Íiáv€l independente erao novo modo de atendimento. O
Consideremos agora as fases pelas quais passou a que se tinhâ a fazer, além disso, eÍa descrever esse novo
teorizr\ào da inruiçÀo fundamental da ACP. modo, e fazê{o com consistênciâ teórica. Começaram a
O acontecimento Íelatâdo por RogeÍs, situado nâ surgir as primeiras formulaçóes que pouco a pouco foram
origem da rerâpii .entÍndâ no ,:li(n(e, rinhtr uma in'e(ão desembocando em conceitos como: não diretividâde;
institucionâl bem deÍinida. Ele estâvâ num consultório rcndôncia ao crescimento; compÍeensão empáticâ;
psicológico com uma pessoa que também ;abir onile estava. .onsiderâçâo positivâ incondicionâl; congruência. A
Foi nesse contexto que nasceu a Psicoterâpia Não Diretiva lcoÍizâçáo eÍâ fraca; a preocupação maior estavâ em
como umâ primeira mânifestaçeo da ACP Foram sendo t r:nrprovar a eficácia do novo método. Trlvez'método" não
expücitadas, aos poucos, atgumas caracteristicas desse novo amelhorpalawa: melhor seria dizer uma novapostura,
'cj.r
modo de fazer teÍâpiâ. O foco estâva nâs âtitudes ou oiio técnica nem impessoal, mas interpessoal e confirma
dtpo.içóes do terapeurâ e n:o ni' lêt nica. e tcoriJs pÍeüds. ,l,xr do sujeito (como se diÍá mais taÍde).
Esse novo modo, qucbasicamente confiara na fccundidade

18 Miuroll.íinsANÍATi,Zzl 49
fl

Surgiu, depois, a fasc rcfleúr,a. O nome foi passando evidcntemente,o risco dc deixar escapar a intuiçãobásicada
a seÍ Psicotcrâpiâ CentÍedâ no Cliênte (houve criticas à propostâ, que não estâvâ no plano dos comportamcntos do

expressáo 'Terepia Náo Dirctira"; ela parecia dizer que se tcÍâpeutl mes no plano das disposições para a rclaçâo. Áo
tretava dc um processo scm diÍ€çáo €t poÍtento, me§mo tempo quê sê lÍêinâvxm resPost⧠cmPátices (nível

iresponsávcl). Seguros que cstrvam com e cÍicácia dcsse dâ técnice), discrrtix-sc quc o essencial cÍam âs atitudcs
modo de sercm terapia (e tcndo sido âc€itos nacomunidâde (nivel das disposiçócs). Faltav'r algo no plano da teoriâ. A
cieotíÍica), voltarrm-se para a análise do que ocorria cntre o linguígcm positivistâ nÃo permitia umâ compreensão mais
antês e o depois. Comcçaram â êstudâr âs íoÍmâs de aprofundada, que desse contada novidadc. A caricanua do
veÍbeliação dos terapeutas. Um estudo extÍcmamcntc ÍogeÍiânismo prendc-sc, telvea a cssa época; o oovo
êmpiÍico. Como não podiâ dcirâÍ dê §€r no embiente 'método" terapêutico consistiria em aprcnder â fazeÍ
positiüsta e no estío emericano, começaÍam e surgir as reílcxos de sentimcnto. Ncsse caricature nada sc diz dr
categorizâçõês de respostas do terapeuta, âs cscalâs de qualidade pessoal da rclação. Mâs â pÍáticâ de Rogers com
empatia (com os gÍâus), cscâlâs dê consideÍação positivâ, de s€u grupo continuava c sc cxPandia PâÍâ outros câmposr

âutenticidadc. E outras foram acrcscentadas, Escalas de psicoterapia infantil (utilizândo como ÍecuÍso o brinquedo
rutorcvclaçáo, dc conÉonteçÃo, dc imcdiâticidade (vêÍ, por e compreendendo sua qudidede de linguegcm), atendi-
cxemplo, Âugcr, 1981) ctc. Juntâmente com as escalas, mcnto r psicóticos (lequê meioÍ de comportâmcntos peÍa
úêmm os trcinâmentos de hebilidades de verbalizaçio (por cxprcssar as atitudcs básicas), aplicaçõ€s no câmpo de
exemplo, Mucchielli, 1978). Sem querer, caiu-sc do plano educaçâo (conter(o não cllnico, com e necessidade de le r
das atitudes para o das técnices. Em lugeÍ da disposiçâo à cm conra as er(pectatives da instituiçeo e dos ProgÍâmâs) e
comprccnsáo, ao resp€ito e à honcstidade ou rbcrorr na g pos de encontÍo (cmpatia entrc diêntes, âusêncie de
rcleção, falarz-sc em reitcreçio ou reílexo simplcs, reflexo qucirâs psicológicas, tcÍapeut2 corlo pÍomotor). Â mesma
dc sentimcntos, clariâcação. E tÍ.inawm-se esscs tipos de abordagem aplicando-sê â situeçôes difcrentcs, Foi-sc
verbâlização nâ formação dos tcrapeutas. Constatou-sc que percebendo que ÂCP nâo em a mesma coisâ que TCC. A

Íespostas cmpáticâs do terapeuta tendiâm a aumcnlar o teorizâçáo de umr inÍlucnciaB a teorização dâ outÍa.
fluxo da vcóalizaçâo e, ao mesmo tempo, a emplitudc da SuÍgiu, então, umâ terceira fase: a expcricncial. Com
ruto€xploÍiçeo dos sêntimcntos. Tudo funcionâva no v€lho cla, hourc uma pcnclação mâioÍ na stbjetiüdade. Sob a
Muito conhccimento
esqueme dc c.usalidad€ "sc-então". in0uência de Eugene Gendlin, a ideia d. expcÍienciâçâo foi
foi construido nessa direçâo. No entanto, corria-sc, incorporadâ à teoriâ (Gcndlin, 1962). Elâ peÍmitiâ ê\plicnÍ

50 ROGERS: é.i.. hummilt. psicocnpir 5í


I

melhor que as mudanças ocorridas dependiam de algo mais o eu do cliente e em Íelação à situação em que ele se
viüdo do que concebido. Isso orientou a prática no sentido de
fâcilitar a ocorÍência de vivências, mais do que no sentido de
fâcilitãr o entendimento meramente intelectuâI. Parou-se 2) Período da psicoterapia reflexiva: o reflexo de

de falaÍ em ifisigbt, pot exemplo. Compreendeu-se que haüa scntimentos e o cúdado pâÍa evitar quâ]queÍ ameaça ao eu,

um nível de convicção que flcara além da lógica racional. No passamm a constituir as principâis funções do terapeuta; e a

título do lirto, olganizado por Antônio MonteiÍo dos Santos mud.rnça de per.onalidade pa$ou a ser vista como
(1987), q)andôfala o coraç,i,,: a essêntia da psieateía?;tlc€ truda desenvolrimento Je umâ maior congruénciÀ no
na ?estoa,z er?ressão "do coÍação' queria se referir, em âutocorceito e no campo fenomenológico.
português, a esse nível mâis profundo que o da mera
3) Período da psicoterapia experiencial variedade
compÍeensão intelectuâl ou cooceitual. Tâmbém forâm
maior de componamentos foi aceita paÍa expressaÍ as
construídas escalas de e.?€rienciação do terapeuta e do diente,
.rtitudes básicâs, foco nâ experienciâção do cliente e, ao
sempÍe com a finalidâde de araliar o processo. Com isso tudo,
mesmo tempo, expressão da expeíienciação do terapeuta
poÍém, âmpliou-se e compreensão teóÍicâ da rova
passaram a descrever as tunções do terâpeuta; e a mudânçâ
abordagem. Sug€stoesjá hâviâm sido feitas no sentido de umâ
de personalidade Foi vistâ como um desenvolvimento
âproximação com a obÍa de alguns frlósofos. Martin Buber e
pessoal GTaulr) ao longo das graduações de um processo
os fenomenólogos, por exemplo, dalam conta bem mais
vivencial, intrâpessoal e interpessoal, com a aprendizagem
profundamente, no plano frlosófico, da natureza do encontro
do uso da experienciaçáo.
de pessoas. Rogers nuncâ negou isso, mas náo se apÍofundou
nessa diÍeção.
As obras de Rogers, câracteÍisticas desses três
Um texto clássico, de Hârt (1970), falâ de tÍês perío-
peÍíodos, foÍam:
dos de desenvolvimento da psicoterapia centrada no cliente.

1) Psioterapia e Cotrulta Psiológia, p$lrczdo em


1) Periodo da psicoterapia náo diÍetivai criaçâo de
1942 (em português: Rogers, 1986);
uma rtmo.fera permissivâ e de náo intervenção, dceir{.io e
clârificação, como funções do terapeuta; e, como conceito 2) nra?ía Centa.la no Cliente, publicaào em 1951
de mudança de personalidade, gradual busca do lzrg.àt para (em português: Rogers, 1992);

52 Maúo Múins ÁM]\TUZZ 5J


I
3\ Tomaru Pasoa,ptblicado em 1961 (em ponuguês: üsão de homem e de realidade que cra subjacente a essa

Rogen, 1977). abordagem. A fenomenologia mostÍou-se um campo


fecundo para isso, e mmbém uma ÍilosoÍia dc cunho mais
Mas o desenvolvimento da compreensão da terapia existencial. Houve uma abertura paJâ pesquisas qualitativâs

centrada no cliente e da ACP nio rerminou por aí. e fenomenolóBicas e um reconhecimento dos limites do
paÍadigma positivista (Rogers praticou belamcnte a
pesquisa fcnomenológicâ, emboÍe não denominâsse âssim
Nos anos scguintes, a históÍia dessa aboÍdâgem o que íezie nesses momentos). A linguâgêm des ciências
prosseguiu. A púticâ cootinuou a se expandir pa.ra outÍos humanas passou aser mâis utilizeda, tembém, embora nâo
campos de atuâçáo. Além dosjá mencionados, âpâÍecerâm: houvesse unanimidade entre os prâticântes dâ ACP quânto
os grandes grupos chamados "workshops" (experimentos â esse ÍecuÍso à frlosofra e à linguagem das ciências
de âpÍendizagem comunitária, como em leboratóÍio, muito humanas.
diferentes da imersâo em um bairro, por exemplo), As características do encontro eu-tu, de que fâü
educação (RogeÍs, 1973, original americano de 1969), Buber, por orcmplo, descreviâm melhor, do ponto de vistâ
g pos d€ encontÍo com Íepresentant€s de frcções opostas fenomenológico, o que acolt€ciâ entre dues p€ssoâs num
em conÍlito, por exemplo. Em raáo dessa ampliação do encontro. A dê§&ição da abordagem não s€ csgotâE nâ
leque de campos de atuação, foi surgindo o nome mais descrição das etrn des do têÍaPeutai erâ preciso felâÍ da
genérico e não câlcado na situação de psicotempiâ. Em vez qualidade da relaçâa. O qt:e o teÍapeuta busca é uma Íelâção
de Terapia Centrada no Cliente, se tornou mais comum fecunda no que diz respeito âo desdobÍemento de sentidos na
falar de Abordagem Centrada naPessoa. A psicoteÍapiâ€ra vivência, Ele poderá facilitâÍ â ocoÍrência de uma Íúção dessâ

apenâs um dos campos de âplicação da abordagem mâis quúdadc, mas não gÊ'entir sua oco[Éncia, pois tal fato
geral; educação eÍa outÍo cempo; conflitos sociais ou dependeú tambem do üente. Começou-s€ â fâlâÍ então de
culturais, ainda outro etc. Wood considera que com base no rclaçao emyádn(: (e r],,o lf,Ircnte de empatia do terapeuta), de
pôÍíodo experienciel, sobreveio o lcríodo da abordagen Íespelto mútw, de rclaçáo têDtic^ e mesmo de
^t
eennada na ?etsoa Vopriamente dita, com aplicações em coex?ati.rlciafio.lsso n ü estâr'à ne liúe do que BubeÍ drzia
úrios campos e situâçôes (Wood, 1994)- do inter-humano (Buber, 1982). As tÍês dássiczs atitudes, na
PaÍalelâmcnte a isso, começou-se â buscâr na wrdade, não eÍam üês entidades diferentes, mas três aspectos
filosoÍia elementos que peÍmitissem equâcionar mclhor â de algo uno: uma relação humana, que se torna cada vez mais

51 ROGERS: ài.1 húm.nistr.F6;otopi: 55


I I

humana. Nesse sentido, foi possivel falar de um quano Esses desenvolvimentos já começâram a acontecer
período nÀ evoluçio das teorias desta abordaçm (dentro do quando Rogers era aind a vivo. Na sua obta, Á Way af Being
período que Wood considera como o da abordagem centrada (1980, que em português foi dividida em dois liwos:
na pesoa propriamente); o relâcionâI. Esse Íecuo teórico pa.ra Rogers, 1977, com câpítulos retomados depois, emzí lílay
o mâis geràI, com o eurolio da âlosofia, aliou-se à ampüaçno do arfBairg, e Rogcrs & Roscnberg, 1983), ele mostra também
leque de situações nas quais a ACP foi sendo aplicada, e dai como s€ âpÍ€sentí\,Írm para ele esses novos aspectos da
resultaràm ume no\,â teorização da abordagem e uma nova abordagem centrada napessoâ, O qu€ se },€Íifica aqui é umâ
compÍ€ensão da psicoterapia. Vera Curyestudou, cm sua tese ampliação dr conÍiança no ser humano (e seus recursos
de doutorado, como as descobeÍâs feitãs nos workshops de autoatualizantes) para uma conffança nos processos da vida,
grande grupo se aplicarem depois à psicotenpiâ (Cury, 1993). teis como eles se mostÍâm no universo e no homem
John Wood, seguindo um câminho pârecido, considera que (tendência formativa). Eu diria que isso equivâle à
todâ teÍÀpia é de grupo, pois mesmo em um âtendimento percepção de dinemismos presentes nos seres humanos que
indiüduâl existem, ao menos, duas pessoas envolvidas ultrapassam âquelâs tendências de desenvolvimento
(terapeuta e diente) formando um grupo dual (Wood, 1983). inseridas no potencial de cada indiüduo. Essâ têndênciâ
Essas reformulaçôes da psicot€rxpia cunharam uma formati!â só se explicâ pela compreensáo de que cada ser
denomioxção no!ã: TeíÀpia Centrada na Pessoa. Aqui Íica humano se integre em um todo maior que ele como
mâis dãro que a p'sicoterapia é um cempo de eplicâção dâ indivíduo, e até maior que eÍe como coletiüdade humana.
abordag€m cenúâdâ nâ p€ssoa- "Pessoa", na nol'a denomi- Foibaseado nisso que Elias Boainaim (1999)falou de uma
naçáo, parece se referir a todos do grupo (ou da dupla) e nao fr,e iansPrtsoali na verdade, uma compreensão mâis
somente ao diente terapia centrada no que há de pessoal nessa profunda das energias que atmvcssam o humeno (nâs quâis
rúçáo; nào no que há de factual e empírico- Diztr "pessoa", se incluem âquelâs que transcendem o sentido do eu),
aqú, signilica ultrapassar o pleno empíÍico e objetivo dos É com basc nisso que, tâmbém, Cavalcante, Ílo CeâÍá,
indivíduos (com seus problemas e seus Íelecionementos estuda âs possibilidâd€s pútices € teórices de ideia de
o<temarnente consideradm), e órir-se pan os sentidm e os tend,n.;d fonútioa (Cev^lcante Jr., 2008).
vâloÍes üvÉnciados na subjetiüdade (e bem poderíamos Qral o sentido dessas tendências tcóricas que
dizer, na subjetiúdade transcendental, pois se trata da começaram nos úütimos ânos de Roçrs c píosseguirâm
subjetividade como abena ao unilcrsal). âpós suâ morte, em 1987? Para todas elas háapoio nâs obÍâs

do mestre, como vimos. E os estudiosos de sua obrâ

5ó NIrun, Àhn'ns AM^TUzzl 57


t I
I

tratâÍâm de apÍofundeÍ esses aspectos buscando ore uma


fundâmentação teóÍicÀ mais ampla, ora uma abemua que
permitisse enfÍentâÍ novas tarefas na prática. Elas todas têm
em comumr no entânto, uma compreensão que s€ situÀ
tanto no campo da antropologie (úsão de homem) como no
câmpo dÀ epistêmologiâ c da ontologia (üseo de rcúdade).
As perguntas "o que somos?" e "o que é o mundo?" tendem x
ser Íespondidas baseadas cm pesquisas e tâmbém cm
exp€riêÍrciâs pessoÀis Íeflctidas, impulsionadâs por etitudes
e ralores. Valores c atitudes permitem enxergar mclhor a
reúdade que nos rodeia, e este olhar, sendo recompensado

por uma abertrua ao mundo, acaba conÍirmando os velores.


Há um int€rcâmbio entÍe âs pesquisas em todos os níveis,
por um ledo, e irs posnúâs que giua[tem a aberture, pot
outro. ConfiÍme-se que a ACP é uma maneira de ser que

permite urn dctcrminado olhar e gera uma maneira dc fazcr.

&i que esta maneira de fazcr não está nela predeÊnida, a nio
ser quânto às o entâçóês geÍeis. Cada maneira de fazer
precisa ser gerada, sob a influénciaü aboÍdagêm, sim, mas
considerândo os âspêctos concretos dâs diveÍsâs situâções.
Tudo ffcamais claro seentendermos que aACP nos
fala de Íins, ralores e posturas, € oáo de meios, instrum€ntos
ou técnicas. É pÍeciso que tenhamos cldeza sobÍe os ffns
Gobre os sentidos). Isso Íos deixa üvres paÍe pensirÍ mais
adequadarnente sobrc a naturcza das situações nasquais nos Abordagem Centrada na
envolvemos e os meios necessários pâÍa se pÍosscguir em
Pessoa e Psicoterapia
boa direção.

5u
r t I

f) ogers tc,e,m papeldccisivo nos Estados Unid,x


I \ no scntido d. trrzcr a psrcôreÍàfie parã o c:rmpo de
trabrlho do psicólogo. Ele lutoupor isso c a causa foi g.rnhr:
a psicotcrapia deixou de seÍ exclusividade dos módicos.
Antes, ao psicólogo só €ra permitido aplicar testes e fazer
aconselhamento. Fazia-sc rrma diferença muito nitida cntrc
psicoterapiâ (quc cra mxis profunda c radicrrl)e aconselha-
mento (que eraumaprática mais superficial). Aindahojc, é

assim em alguns paíscs dâ Europa. Nós, aqui no Brasil,


scmpÍe inspirâdos nos Estados Unidos, trouxemos para cá
essâ mesma definição profissional quc facultâ tâmbém aos
p"icólogos a práricr da psicorerâpia, e não llcnrs o
aconselhamento; prática pouco aprovada pela medicina.
Rogers começou sua carreira praticando aconsclha-
mento (rouavling). Com o tcmpo, porém, clc foi
dcscobrindo que sua técnica não era substancialmcnte
diferente de uma psicoterâpiâ- A profundidade de um
processo psicológico, na verd:rd€, dcpeode muito mâ;s da
disposição interioÍ do sujeito na sua relaçáo com o
proÍissional, do que de uma definição pÍéüa cxtcrnr. Dà
pâne do psicólogo,a mâneiradeentrar na relação e de cstar
a s.rviço de quem procurr à atençào psicológi. r nio v.r,'i.r

ROGLRS: afi.rlumunrr. t,§,.o.-pitr óí


t
entÍe o âconselhamento € a psicoterâpiâ. À atitudesbásicas Pode dar-se mediante esse encontÍo, mas também de outÍos
ou os lores são os mesmos. Foi a prátice decorr€nte d€sse modos. O própÍio sujeito pode, por outros meios, desencadear
conjunto de vâloÍ€s e âtitudes que RogeÍs denominou de em si êsse processo por meditâções sistemáticas acompânhâ-
Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Mas ele também das, de vez em quando, por convenâs signiÍicati\,?s, por
percebeu que essa Abordâgem não se limita\,? ao campo eyemplo. No entanto, é comum que, por mais que se esaorce,
clínico da psicologia. por esses meios, ele não consiga aquilo que busca. Então,
ÂCP. então, não e sinónimo de psicolerapia. É algo recorÍe âo PÍofrssionâl psicólogo.
mais geral, um modo de ser, uma atitude diante da üda ou Repare o leitor que psicoterapia foi deÂnida como
diante das relaçoes que constmimos. PsicoteÍapia é um dos um processo pe:soal inrensivo de en contÍo con pÍdpÍio.
"igo
tipos de Ídaçáo de ajuda psicolígica, na prática do qual e náo como algo que um proflssional faz com um úente
podêmos ser orientâdos pelos princípios da ACP. Existem (que, nesse caso, nâ posiçâo de objeto dâ ação de um
outlos tipos: plaÍtão psicológico, orientação de casais, ajudâ proÍissional, bem poderia serchamado de paciente). Como
no carnPo da comunicação pessoal, orientação de pais etc. E, psicólogo, nâo se faz terapia em alguém. Qrem faz isso é a
extnpolândo o campo ünico da psicologia, a ÂCP pode ser própria pessoa, e ela o faz, às vezes, com nossa ajuda. Nâo
aplicâdâ também em muitos outros campos de atiüdade raro, nossa função se limita a ser testemunha do esforço da

humana: trabalhos em educâção, desenvolúmento organiza- pessoa. E isso não é pouco porque diante de uma
cional, projetos comunitários etc., quâ-lquer atividade, enfim, testemunha qualiÊcada, ela se compromete mais e melhor
que envolva o ser humano relacionando-se. com âquilo a que se propôe.
A psicoterapia cenüâda na pessoa é, €ntão, ume Contudo, nossa ajuda pode ir mais longe (se bem
aplicação da abordagem centrada na pessoa ao campo da que isso poderia, a rigor, caber ainda na função de
psicoteÍapia. Mas o que é psicoterâpia? testemunha). Estando com a âtenção voltada sobretudo
Poderíamos responder a essa perguntâ dizendo que, em PaÍa os sentimentos e intenções dâquele que nos procura(e
umâ perspectirã humanâ, â psicoteÍapia é um proce§so que se manifestâm de diferentes modos e em diferentes
intensivo de coniato consigo prdprio. com v;srâs ro graus de profundidade), âutomâticamerte, facilitaremos
desenvolvimento pessoal. Esse processo pode se dar mediante seu Processo d€ encontro consigo píiprio. Pârâ uma pessoa
o enconEo com uma outÍa Pessoa que, nesse momento, fica se pentear, um espelho ajuda; parauma pessoa se conhecer
centradâ na primeira, isto é, tem sua atenção voltada para a melhor, um espelho humano éa melhor ajuda.
primeira, especialmente pffa seu. sentimento" e inten(óe".

62 Mrutu MríiN AMÂTUZZI 63


I
E pode ir ainda mais longe. Ao se abrirpessoalmente 2) Compreendcr - é impressionante o que diz
dela tudo que se Merleau-Ponty a respeito de o que vem â seÍ veÍdâdcira-
prÍâ aquêle Pessoâ, colocando a serviço
passa conosco e que resPeito à ela, Potenciúzâmoq âo
ôz mente ume compÍeensâo (Amatuzzi,2008, p. a3).
máúmo, â Íeleção quê âli acontêcc no que se refere âo Compreender vai âlém de apropdar-se dos significados

processo dcla de se coohecer melhor e desencadear seus liteÍâis dâqullo que â pessoe diz; transporta-Ilos para o

recuÍsos intemos de desenvolümento. sentrdo novo apontâdo por esses signiÂcados no contcxto

Costumo explicar isso a mcus alunos, falando do daquela fala; por isso é muilo mais um aproxrmer-se dô que

tri4é ld ?ricotera?ia, e nisso me insPiro em Schmidt (1987), pessol gueT dizcí, do guc aprcximar-se dâquilo que elâ
^
transfoÍmando, a meu modo, o quc cla diz. O tÍiPé' do mâterialmênte /rz. Umâ segunda caracterÍstica é que isso se

pontode üsta do profrssionrl que ejuda, tâl como o vejo, é o faz de modo diteta, dryz6o5 assim, e náo por deduções og

s€guintc: raciocínios; nessc sentido, e compÍecnsão nào é um


. Âcolher com simpetia; p€nsemento, masum contâto intuitivo diretocom o centÍo
. Compreender com empatia; da pessoa, com a origem dc suâ comudcâção precisamente

. Eventual-Ínente, dizer uma Pele!Ía qu€ feçe Pensâr. nâquele momento. Em terceiÍo lugar, ela impüca numa
saída da atitude cotidiana, pois ncstâ, o que fazemos é
1) Acolher - cm português, essa Pâlair-a quase que já
encaixar o quc o outro diz nos esquemâs da pênsâmeoto qu€
indui simpâtia. Sem dúüda, é possivel acolher rle má vontade- já t€moÊ. Nâ v€ldedeire compreensão, âo contrário, é
Mas acolher bem é fazer isso de boe lontade, isto é' com pÍeciso estar aberto ao novo, ao difeÍente, âo que não s€
simpatia, inteÍesse, afeto; interessando_se pela pessoa, pelo encaixâ cm nossos esquemas. Então, cm quarto luga.r, a
bem da pessoa. No contexto da psicoterapia, com a ajr.rda de compreensâo será uma tÍansformaçáo de nqsss 561,
um proÍissionâI, esse acolhimento é o solo sobre o qual poderá juntamente com a úÀnsfoÍmação que está econtecendo no
se desenvohtÍ o pÍocesso da pessoa. O primeiro esforço do outro. Por isso m€smo, Íinalmente, ela implica em uma
psiólogo será, ceÍtamente, o de criar es condiço€s PaÍr que a reciprocidadc entÍe os interlocutores: quando comprcendo
pessoa se sinta à lontade para fiJa.r livremente com cle, c ele profundamcnte alguém, âlém d€ eu mesmo me âbrir pârâ
tamMm se sinta vontâde com aquela pessoa. Por se tratar de
à
possibilidades novas de signiíicado vivido (e para as
uma situaçao especíÍica, ao mesmo t€mPo em que ele disPôe o üansfoÍmeções que isso possx acarrctaÍ em minÀa própÍia
local da melhor forma possível e conveÍsâ com â P€ssoa, elejá
úda), algo novo está prcstes â aconteceÍ no outÍo, pois ele se
proorm compÍeender â eIa, os motirrcs que a trouxeram ali, sente ouvido epode darandâmento aseu Processo inrerior.
àquilo que ela veio dizer.

ROGERS: éric. huD.nBn. pÉicu.-pi. ó5


I

scndo proíissional, é qu.fldo â pcsso. atcndida podc scntiÍ


Em rcsumo, â comprcênsâo é um contato muito
profundo dc rlma para alma. Catt ao tenpeuta comprccndcr
quc o psicólogo quc a âcompaúa se dcixa tocar por surs
qucstõcs dê üde, quc cle, poÍ sua ve4 podc lcvar cssas
profuodrmcntc c dizcÍ sua comPÍeeísão à Fs§or quc o
pÍocuÍà pl§so e pa§§o, cm todo dccoÍrcí do cnconÚo. qcm qucstôcs mds a scrio,lançar sobrc elas um olhar difercnrc,
meis mobilizedor. Isso qucr dizcr quc é no contcxto dc uma
faz muites pcÍguntas não qucÍ comPÍcêndcrFasso a prsso, mas

matâÍ sue pópÍi. curiosidadc (o quc já distenciâ dâ comPrc- rclação pcssoal quc sc frcilita o processo da pcssoa, E sc o

ensâo), ou cnceirGr I pcs5oa cm um cqtrema prÉrio (c, assim,


tcrzlrcute não diz ao clicntc o que sc passa com clc,
tcrapcuta, no quc diz rcspcito àquelc cncontÍo, cntâo náo
ccntrrlizar o poder, o quc trmbém sc rfute dâ intanção dc
havcrá ume rcleçâo pcssorl, mas, no máximo, umr Íclaçâo
hciliter um poccsso autodirigido).
técnic.-instn mêntel (na qud uma pcssoa sc faz prcscntc e r

3)Dizrr uma pelavre quc feçe pcnsar - ncm scmprc outrr sc escondc). Uma rclaçâo técúca podc scr útil, scm
é prechodiuruma palawa quc fâçâ P€nsrÍ. PoressÀ rizlo,
dúvidâ, mas é limitâda cm scu alcancc. Ume psicotcmpiâ é

cstá dilo no tripé: ,?.ralrl,,?t /.. Sc cxiste ecolhimcnlo c


um pÍoccsso intcnsivo dc encontro consigo mcsmo,
compÍccnsio, pÍlticzmcntc aodo mbdho csú fcito. Isso potcncidizzdo no conaqto dc uma rcleçeo pcssoal (mcsmo

bastar pare dcscncrdceÍ o movimcnto tcnÍÉutico dê quc scjr com um pro6ssiond).


@c
encontÍo consigo pópÍio. Contudo, às vezcs, podc scr Sc tcmos cm mcntc o proccsso eutodirigido da
pcssoa, o vcrdadciro tcrepêuta é cla mesma, Aqui,
a palavÍf,
oportuno dizcÍ uma pelavra quc faça pensar. Normalmcntc,
"tcrapcuta" signiíica cuidadoq cuidador do que há dc mais
o terap€utâ principiente, de início, tcm essâ vofltadc, scntc
profundo cm si mcsmo. Chamarnos tarnbém o proÍissional
quc pÍecisa flzcr algüma coisÀ tocÀnt€ ê se esquccc que é
basicamcntc com o acolhiÍncnto c e comprecnsão quc clc
psicólogo dc'tcrepcutr" somcntc poíqu€ clc é um

ejude e dcscncadcrr o moümcnto autônomo dâ pcssoa cm


facilitedor do proccsso de a pcssoa ir em busca dc si mcsma.

dircção aoscu crcscimanto, Mas, como dissc, às vazrs, uma Tcmos, cntio, gcstos c palavras quc ecolhcm, gcstos
c palawas quc eqrrcssam a compÍecnsão; gcstos e pr.lar,Ías
pahvra instigadoíâ da âutocomPrccnsão em um nívcl mds
profundo podc scr bem-üod.. Essr Palâvrr, PoÍém, ou cstá quc suscihm um qucstionâmcnto ou um pcnsamcnto
fundade no ecollrimcnto c n. comPÍccnsão, ou só .tnp.lh. difcrentc no clicntc, O quc Rogers tcm a vcr com isso?

o ândamcnto d. psicotci'rpia. O quc fundamcnt., cntão,.


possibilidrdc c econveoiênciadc umr palavre assim) É por
ela quc a Íêlaçào dcixa dc sct imPcssoel. Porquc mcsmo

Àt.uolldiní,\IIATUZa ó7
I
A contribuição mâis importante de Rogers foi ter pessoa quc tem uma atitude desfavorável à dança. A atitude
formulado essas teoÍias não €m teÍmos de tétnica\ está em um plâno mak recuado que o ato. Em um plano

tcÍâpêuticâs, mâs em teÍmos de dkPatEão. Ele rctira a ainda mais recuado, dando suporte às aritudes, cstio os

r€flexão sobÍc o que é melhor, para faciliw o processo valores. Por isso, dissemos no capítulo anteriorquc â ACP
teÍâpêuticode umâpessoâ, do plano dos atos pâdronizâdos propõe valores e não atos determinados. Mas valores
ou dâs técnicâs, e â leva pârâ o plÂno dâs atitudes ou possuidos, náo somente declarados. Valores que Icvam a

disposiçôes pessôâisdô teÍâpeuta. Pâía cle, o importante na rto. cspecíÍicos variando de acordo com âs si(uÀçõe".

relâção terâpêutica nâo é o que o teÍapeutâ fa4 ele procurÀ Transpondo r discussáo para as âtitudes, RogcÍs cstava

as raízes desse fazer e nos conüdâ a pensaÍ nelâs. Isso tem dizendo quc a qualidade humarado terapeuta (no caso, do

todo um sentido. profissiona-l psicólogo) é mâis importante que seus atos

Corrcndoorisco de sermalentendido, diíamos que, especíÂcos. Isso livra o terapeuta de atos padronizados, mas

segundo o pensamento de Roçrs, náo importa o que o lhe traz uma responsabilidade muito grande.

terapeuta faça, o que importa são suas Íeâis disposiçôcs. E A trânsposição da discussao do plano dâs ações

certamente podeÍíâmos estender isso aos dois sentidos de específicas (ou condutâs terapêuticÀs recomendâdas) pâra o

terapeuta: o profissional que âcompanhee o cliente que €stá plano das predisposiçóes pessoais do terapeuta, também
cúdando dc si próprio. Rogcrs chamavâ essas disPosiçôcs desloca a ênfase de uma relâção técnica paÍe umâ rclação

de 'atitudes". Essâ palavrâ não tem âqui o significado que humâna. EmboÍâissosó tenhasido teorizadomais tarde na

tcm em português corr€nte. Dm nossa linguagcm comum, evoluçáo do pensamento acerca da ACP (como visto no
"tomar uma atitude" signi fica tomaÍ uma decisão, agt. Não capítulo ânterior), é possível veÍ nes pÍimeiÍas formulações

é nesse sentido que RogeÍs fala de âtitudes, mâs no sentido de Rogers, essa semente. Na verdade, não sâo determinados

técnico que essa pala\Ta tem em psicologia. 'Atitude" atos especíÍicos do psicólogo que sâo terapêuticos, mâs â

refeÍe-se a uma pÍedisposição. PoÍ excmplo, qurndo digo qualidade humana da relaçeo oferecida por ele. E essa

"tcnho uma atitude favoÍável ao esportc", isso significa que qualidade depende das predisposiçôes das pcssoas no
penso freque ntemente em csporte,gostodo esportee tcnho cncontro, E Buber (I972. 1989) quem deixa isso muiro

umâ tendênciâ a praticer elgum esporte. Coisa semelhante claro. O serhumanoé um serde relaçâo, e é n€sse contcxto

âcontcce com uma âtitude dcsfavorável. Por excmplo: que ele sc dcsenvolve. A terapia ÍecÍie esse contexto.

quem não gosta de dançar, não entende de dança e, Estando isso daro, podemos pergunteÍ: dc quâis
cÍerivamente, nlo faz isso nun( r ou quasc nunca, é uma .rtitudes (predisposiçôes) falar,,a Rogcrs? Pois bem, ,.rs três

(t11 ROCI:lls: óricr hu ,,'nnrr. fit,"r,,upi, 69


r
dássicas "etitudcs rogcÍianas" scgucm dc pcno o tripé gcÍminalcm umâ Íclâção humana pcssoal e rbcna,
mcncionado entcriormcntc. é a prcdisposição do teÉpcute dÉ scÍ .utêntico,
O quc cstá por trás: IFnuino, scm máscaras. É sua vontad€ dc scÍ
. dor gÊ3tos c pdewas dc acolhimcíto, como ebcrto. Rogcrs falalz de congnrêncir € autcn-
rtitudc quc dá suponc, sinccridade, vcrdadc, ticidzdc (to h rcal1.

.utcntrcidldc, é . predisposiçáo cnraizrda no


tcr.pcut dc .ccilrÍ r pcssoa do clicnte de forme Um tcrepcuta quc cmita gcstos c pdewes dc acolhi-
como clc sc menifcste. E aceiú-le porquc csú mento, dc comprcrnsio c dc qucstionamcnto com I prctcn-
cn cÍgrndo ncl. o rã1oÍ dc pcssoa. É o quc Rogcrs são de lcvar adiantc o proc€ssor mas sem quc csscs g€stos c

chamarz dc considcração positiva incondicionrl. palarras csrcjrm fundados em pÍedisposiçõcs (etirudes) .


Postcriormcntc, isso zebe sc rylicendo eo pÍópÍio cm dctcrminados vrlorcs pcssodmcotc assumidos, nâo
clicntc clc comcçe a sc accir., td como é 2 P.niÍ do cntendcu rinda o quê é scÍ um tcrepcutz frcütador do
meis fundo dc ti mcsmo c é isso que desancâdciâ píocesso tcÍapêutico eutodirigido da outra pessoa.

6uas ênelgi* dc tramfoÍnação.


a=*e
. do. tc*o6 c Flwfls dc comptEcí§o, €oÍID .rindc
quc lhcü suportccprofundidadc,éar,Í€di§Pociçao lsso quc dissemos rllc pan . psicotÉnpir. Vrlcriâ,
cnraizâdl no tarâpcuta de m.Í8ulhrÍ no mundo do§ também, para o plânÉo psicológico, â ludoteÍâpia, os
6cntimcntos c intcn@ do clicnte, qrur como sc tÍabâlhos em grupo e nl comunidad.? Vamos po. partes.

foc.sc clc mcsmo, penrrcrc scnú o mundo como clc o O pl.ntio psicolótico é um1 mod.lidâdc dc
sanac, Ê nrdâr nc§§a mullô com de. O tcraPctru rto atendimcnto difercntc da.pcicotÊrrpia. O quc o .ânc1ÊÍiza é o
a disposiçâo dc mcrgulhar ncssc mundo porque fato de elc ser um enconEo único (excepcionalmêntc com um

ecrdita no uebr de comunhão humena e qucr corrcr ou dois retomos) c que acontccc no mesmo momcnto cú quc
cssc riso. Éo qrr Rogcts dremarr dc crnpatie. Com e pesscr prccun zjudz.
Qanô cle ócge proctrzndo ajuda já
o tcmpo, o póprio dicntc dcscNDlvc umr cmPlti. é atendida. Nào há ug.ndamcnto. A diêÍcoça cstá, pois, no

consigo pópÍio c trmbcm com o terÀP€ut c com enquadre onemo que pÍooir tira! proveito do nromento

ortrzs pcssors dc scu rclacionarncnto- motil-rcion.l de pcssoa- Contuô, no quc diz rcspeiro às

. do dizcr ume pdevre quc feçe pcnsar, àndo-lhc di?o6içôcs do tcrapÉurÀ náo há mud:nçe dguma- Tzlvrz cssc

suportc, dci]ando que cssa pelevre teúa scu solo cnquadrc diíerencirdo cric situâçõ€s pópri.s. Mas â rcrçào do

70 !h,u, nh",n. ÀnhTUZr{ 7r


a
terâpeutâ, lerãndo em contâ â especiÍicidâde dessâ situâçâo, Para que esse processo seja facilitado, é preciso que
seú boa justamente quando ele estiveÍ enraizado naquelas o teÍÀpeuta enúe no mundo da brincadeira e, lá dentro,
mesmas predisposiçôes. O que mudr. poÍtüto. i a
';tuâÉ,, csteja disposto a aceitâr as mânifestaçõ€s da criança,
externe e não âs disposições e os valores do teÍapeutâ. O fato dc quâisquer que sejam, a compreender o que vem do lundo
âmbos (pÍofissionâl que âtende e pessoa que pÍoc1]rà) sabeÍem delâ mesma, e a interagiÍ espontâneâ e abertâmenre com
que se trata de um encontro rjnico, de'uma' conversa, muda ela. E tudo isso com base nos valores de respeito pcla
muito até no uso de aquele tempo. Mas os ralores e atitudes pessoa e apreço pela comunicação profunda e aberta. Ou
que dão suporte ao enconúo não mudam, seja, uma vez que ele consiga entrar no mundo da
Com a Iudoterapia infantil, há um fator novo em brincadeira, asatitudes serão as mesmas. O que mudou foi
jogo. A comunicaçâo enüe criança e terapeutâ náo pode apenas a forma de comunicaçáo.
seguir pelos caminhos que segue uma conversa de adultos, É inte.essante notar que algo parecido aconteceu
simpl€sm€nte poÍ não ser essim o modo de comunicação de com Rogers quando ele se dispôs a âtender psicóticos. Há
uma cÍiançâ. Ela não sabe ter uma conve$a de adultos em seus relrtos esboços de ourras [ormaq de comunicaç]o
poÍque não domina o instrumental linguistico dâ mesmâ que não a merament€ verbal. Ele era muito discreto e
forma. A interação puramente verbal e âbstrata não lai parcimonioso em relâção aessas outras formas, ao contráÍio
longe. O meio de comunicação mals üável, no câso, é o de sua filha, Natalie Rogers, por exemplo, com sua terapia
lúdico, isto é, o brincar. Isso também cria situações expÍessivâ pelas aÍes (Rogers, N., s/d). Contudo, o pai de
exteÍnâmentê muito específrcas. Podem daÍ ao teÍapeutâ a Nâtâlie admitia essâ possibüdade, e não âpenâs para o
impressão de que nada de terâpêutico €stá acontecendo ali. âtendimento de cÍianças, como üsto no capítulo anterior.
Só brincar? Mas é dessa foÍma que âcriança se expressa, e se Costumo falar aos meus alunos de algumas
essâ expÍessão foÍ aceitâ e compreendida, instaurâ-se um especiÍicidades da situação de ludoterâpia infântil. Uma
diálogo lúdico terapêutico, que é propiciador de uma delas é que a transformaçâo do brincarem dirílogo lúdico de
aproximação dos sentimentos, do mundo viüdo. E é nesse sentimentos oão se dá âutomaticamente. A criançabrinca,
mundo üüdo que estão âs fontes de desenvohrmento. mas se o teÍaPeutâ não rcsponder no inteÉor do próprio
Tudo isso pode aconteceÍ independentemente de brincar, permanecendo no mundo simbólico e falando na
foÍmulâçóes intelectualmente claras. O movimento se dá mesma Ünguagem. a conversa n.io chega a \e constiruiÍ em
no plano do üvido. diálogo. Permanece como um monólogo na presença do
zdulto. Um primeiro nrvel de*e dialogo ê, Fíúpria

72 ROCER§:éiicrhuolni{icpsic.t"r"pl, 73
I
c Essas considerâções que Íizemos, valcndo-nos da
facilitação do t€râpeute em rclrção âo briocar liwe à

cxprcssividede assim promovida. Ele cria condiçôcs, ludoterapia, podem, scm dúúda, sc estcnder a outras
formas de terapia, até mcsmo com adultos. Há espaço para
p€rmite c acolhc o bÍincer. Em um scgundo nível, PoÍém,
clc rcspondc no intcrior do bÍinceÍ, isto é, brincandoiunto. sc pcnsâÍ, inspiràrdo-sc nr ÂCP, .rn uma tcrapia pclâ ânc,

Essas rcspostas pod€m ser d. comPÍeensáo, csPclhândo, pele expressâo corporal, com â utilizaçâo de cenas
(dramatização), de movimentos, de música, de brinquedos,
vcrbâlmente e por atos lúdicos, os gestos da criânça, e
âté mesmo com adultos. Mas, é cleío, é necessário que o
pod.m corrcspoodeÍ trmbém ao teÍceiro pé do tripé (o
proffssional tenha um dominio dessas formas cxpressivas.
'dizer uma palawa que faça pcnsar") quando ele participa
mâis ativimcnte da constÍução do brincâÍ nâ linhe do que â PoÍ outro lxdo, mesmo cm uma tarâpiâ exclusivamcntc
cÍirnçe qucr fazer, possibilitando uma ãmPliâçio dâ veÍbel com adultos, há ümites (como, por cremplo, o

cxprcssiüdadc solicitrndo Posicionâmêntos PeÍânte âs respcito aos hoÍáios estabclccidos ctc.) c clcs podem ter
uma importâncir t€Íapéuticâ.
situaçôcs novzs que vâo suÍgindo no desenrol.Í da
brincedcira. Partimos da psicoterapia de adultos quc ocorre no

Ume outra espccifrcidede de ludotcrapia é a intcrior de ume relação prcdominantcmcntc vcrbal.


imponâncie do estabelccimcnto dc limitcs nl pcrmis- Passamos pelo plantão psicológico e dcpois pela

siüdrdc. Esscs timitÊs devcm scÍ Poucos, mas fiÍmcs ludotcrapie. Vejemos rgora o quc sc ecÍcsc.nta na
(bâsicâÍncnte aqueles quc ptotÊgÊm e intcgridadc ffsica da comprccnsão da psicotcrâpi. com . prática dos gnrpos. Na

pópria cÍiânçâ, do terÀp€ute c do âmbiente, coÍno, Por situição gnrpal os diveÍsos prÍticipentes sc relacionam

cxcmplo, náo peÍmitir fcrimentos nem a dcstruiçâo cnlrc si c isso é importantc tânto para as pessoâs

intencional dc objetoc). EntÍÉtento, clcs não siSniÍicâm inibiÍ


indiúduâ.lment€ como paÍâ o pÍocesso do grupo. Muitas

â (xpressão dc s€ntimento§, quai§qucr quc s€jem ele§. Assim, vezes, um pirticipânte diz coisas múto signiÍicativas para

quando o tcrap€utâ lida com os limites com basc ncsses outro. Rogrrs âcÍediteva no potêncial de cÍescimcnto
plincípios e em hÀÍmonia com os \ralotes básicos c com âs contido ei. Isso 'alaÍga' as funçõcs do têrâpeuta, Elc será
também um facilitador da comunicação interna no grupo.
atitudes da ACP, o que ocorÍe em rclaçeo âos PóPrios limites
podc sê tomaÍ teraÉutico, ou sêjâ, Promotor do encontro da
lsso quer dizer que o tcnpeutâ, nessâ situaçâo, náo
nív.l mais profundo respondc apcnas à pessoas do grupo, indiúdualmcnte, mas
cÍiâflça com ela pópda em um c,
Íesponde tãmMm ao grupo como um todo ou cm partes
ponanto, faciütador do descnvolvimcnto.
dcle.

M.úro Àl.n'n' 75
71
^À|^TUZZ1
r
Transpoodo css. situÀção pârÀ o atcndimcnto comunitÍio (o6cina), é bcm difcrcntc dc tnbalhar es rtlaçõcs
indiúduú deveríamos cotcndcr (como faz Wood, 1983, e as iniciatiyas no interior de umâ comunidÂdê já constituídâ,
por cxcmplo), quc mcsmo ncssc caso estamos dientc dc um no local ondc cla se cncontra (trabrlho comunitario). Â
grupo, pois estão âli duas Pessoâs coÂveÍsando e nâo oflcine podc ser um inst mento de tnbalho comunitário,
soment€ umâ (um gnrpo dual). O que se aprcndeu no ccrtamcnta, mas nem sempÍe cla é Pcnsâda dessr forma. No
atcndim.nto teÍapêutico êm grupos GÍupos dc cncontro c entânto, é possíiêl desenvolver um tràbâlho comunitáÍio
psicoterepia dc gmpo) aplica-sc aqui. O terapeuta, e.lém dc promowndo o6cinas.
cs!a! ccntlldo no ücntê quc tcm draflte de si, PÍccisa N.ssâs situações, há algümas noúdades cm Íelaçro à
taIn*m pÍestâr lt€nção no próprio desenÍolaÍ da rclÂçio, psicotcÍapia trâdicional. Uma dclas é o trabalho dc
isto é, no grupo qu. está ocorÍêndo entÍe ele € a P€ssoa quc o
PÍomo,o.r ofrcina e ?rorrr o âmbicnte des condiçôcs fsicâs
^
procúrou, e tem como tâÍcfa facilitar essa comunicaçâo. adequadas ao seu bom funcionemcnto. Álém disso, há o
Contudo, isso tembém dccoÍÍc dos rzlores centrais da Íeb ho d. onddar os peÍricip ntcs, Prcrnour, convidar.
ACP: respeito ao quc c6tá acontecendo PrIâ além dc um sâo atividadcs que pod.m scr feitrs com bâse em ume
/rro.r
êr(ccssivo dcsejo dc contÍolc. Iso dará e cssas atiúdadcs
abordagcm ccntreda na pessoa.
Gostrrie dc tcrminar csse câPítulo reÍl€tindo sobíc rs
um cunho pÍóprio, difercntc, por .acmplo, dc form.s
oÍicinâs e os trrbdhos comunhários. Podemos entendcr Por intêÍcssêiÍâs dc fazcÍ isso. ExempliÍicando: a promoçao dc
"offcina" um grupo dc eebdho clrjo obj€tivo imcdiato não é uma oficine como mêio, mais ou mênos camuflado, dc
naccssâÍiemeote o dêscnvolvimento Psicoló8ico ou e
propaganda polttica, autopÍomoção ou gânho finânceiro.
psicotêrÀpiâ, cmborâ possa ter cfeitos tsâPêuticos. Seriâm Promovcruma oÍicina de modo ccntrado na pessoa é fazcr
o<emplos: oÂciaa de oiatiüdrde em âÍte ou cm aÍcsanâto isso baseando-sc oâs nêcessidâdes da comunidadc. É
(ofcina de dança, dc bordado, de o(Pressão atística plistica, possívcl, cüdcntcmcnte, genhar dinhciro, mes nâo é isso
dc ct ioáÍiâ etc), o6cina dc comunidade (cnpcrimcnto quc comanda a atiüdade se ela for guieda pelos rzlorcs de
comuoitíÍio intensivo), o6cim de produçao de rcnda etc. ACP. Ou scja, há um modo pÍóprio dc pÍomover uml
Essas o6cirus se constitucm como oqÉrimeotos rtlíti\âmcn- o6cina, conüdar es pessoes c provcr o ambientc das
te à parte da úda corrcntc de pessoa. Já os trabalho§ condiçôcs faciütÀdoÍas quândo o promotor está oíentâdo
comunitáÍios aconteccm nr vidâ comum corr€nte dâ pessoa, pela ACP. O trabalho pressupóe umâ equipe coesâ em
onde elrs morrm ou pissâm a morar. Reunt pessoas por torno dc det.rminados objctivos, quc tcnha um contato
elgúns dias ou periodicâm.nt€ Pâra um exPcÍimcnto vivo com ume população, quc, uma vcz dc6nida a o6cina,

7(' ROCER§: étjB hun-ia. p.iacaúz 77


I

explique com clâÍeza â qu€ €stá conüdando âs pessoâs, que instituição, ou esii fâze ndo uma pesquisa, por exemplo. Além
respeite a liberdade e o movimento próprio da comunidade, disso, ele carrega estereótipos, preconceitos e interesses ligados

que o ambiente e âs condições ffsicas náo imponhâm ritmos às suas origens. Esses pressupostos precisam ser pensados para
e modos coercitivos etc. que o trabalho possâ se desenvoh,Er em purezâ (como dtia
Promover, convidar e pÍover sáo coisÀs que Husserl), em uma especie de reduçáo fenomenoligica. No
acontecem também no âmbito de umâ psicoterâpia e o atual mundo pós-modemo, essâ situação passa â seÍ típica.
terâpeuta pÍecisa teÍ pensado isso. Caso contrário, tais fatos Neo há muitâs estruturâs sobre as quais se apoiar quando
acontecem valendo-se dos modelos tradicionais dos quais queremos que o tsabalho sejâ baseâdo nâ autenticidâde dâs

nem semPÍe nos damos conte, e que Podem ser contrários Íelâções. O psicólogo precisa entrar na úda da comunidade
aos valôres humanos. mm aqullo que ele é como pessoa. E consmrir tudo a partt
O que o trabalho comunjtáÍio úâz de novo i que, daí. Mesmo que haja erpectatiws, o trabalho comuritrário não

muitas \,ezes, o proÍissional náo é procuÍado em seu espâço se apoia sobre elas. Nlo há nada mais contrário à ACP do que
pelâ comunidade, mâs ele sâi de seu espaço e é elê quem se aPresentaÍ de modo muito humano e afável e logo começar

procura. Nlo ou umâ


erdste um pr€ssuposto de aceitâção â desen\,olveÍ um autoritarismo.

situação previâmente deffnida em relação a ele na sua Podemos agora voltr para a siruaçâo de psicoterapia e

especificidade. Nesses casos, o psicólogo e uma pessoa dizer: também aqu;. algo paÍecido âconrece. se nos oÍienrar-

comum, que, sem neflhumâ cârtâ de âpresentÀçáo, busca uma mos pelos vâloÍes dâ ACP. Também na psicoterapia har,eÍli

âpíoximação com umâ comunidade, por sua prdpria conra e uma di".oluçào do poder baserdo em papeist e uma
risco. Cabe a ele criar relaçoes náo baseando-se em uma concentÍaçáo no podeÍ dâ pessoa. Poder das pessoas, úás, que

defiflição pÍéviâ de pâpéis, mas em sua p€ssoa, inicialmente começa a se descobrir no Íespeito mútuo e na abertura.

desproüda de rósios. No\,'Às relaçôes precisâm ser cons-


tnridâs. Tudo €stá poÍ fâzer.
Essa situâção é interessÀnte justamente pele falta dê Por onde passamosl

deÍiniçôes. Por contraste, elâ mosta onde deve estaÍ o apoio: A ACP é basicamente uma postura ética, umâ éticâ

ne pessoa e não nos pâpéis investidos. Ao menos caso se humana. Ela se aplica a vários campos de atividade.
queira deixar orientar pelos valores da ACP. Na maioria das Potencialmente, todos aqueles que envolvem relações dos

vezes, o âgente comunitíÍio mo llai tâo despÍoüdo; frequên- seÍes humânos. O trabalho do psicólogo é um desses

temente, ele é contratâdo Pelâ Fefeitura ou por alguma

78 M.uio Mútins AiIIÀTUZZI 79


I I

campos, mas não é o único. DentÍo desse câmpo €specÍllco comportamentor oem a situação, nem o modo de
d€stâcâmos â PsicoteraPiâ. comunicaçáo. Somente as predisposições. Isso também

A ACP se aplicâ à psicoteÍapiâ acreditando no sigdfica que, com base nessas predlsposições, que incluem

potencial das relaçóes humanas, quando compreensivas e


vâloÍes enraizâdos napessoa, tudo terá que seÍinventado: o
enquadre, o modo de comunicâção, â condutâ. RogeÍs não
aberras, para se desenvolveÍem diíeçôes constÍutivas para a
humanidade. Traduz-se, na pratica. por um Íespeito e
c.pecilicou nada disso. Talvez a melhorprepaação para.er

apreço pela pe"soa, por acreditar em uma comunicaçào p'icologo orie ntado pe)a abordage m cenrradana pe*oa sejr

profunda, compreensivâ, e também em uma relação que apÍopriaÍ-se de autênticos wloÍes humanos, o que pres-
supôe intenso trabalho pessoal de autoconstruçâo ética.
seja aberta, real e não bâseada em papéis predefinidos.
o psicólogo âproveitâ o mo- Rogers eo moümento iniciado por ele apontam para
Com essas atitudes,
mento presente da pessoa que o procura, concentrardo-se
em sua motivâçáo. Normalmente, ele úâbâlhr em uma
interaçào verbâl, mas sabe que existem ouúos meios ou
instrumentos de comunicação possíveis. Também câbe â

ele olhar com um certo recuo o que está ocorrendo no


desenrolarda relaçào com r pessoaque o procuÍâ. não para
ânâlisâÍ essa Íelação, mâs para se incluir nela com senso
crítico. E, ainda, é dever de um psicólogo pensaÍ os

sigíificedos que ôssa relação pode ter no momento atual de


nossa üdâ social e cultural, para propor um modo de
trabalhar que não seja exclusivamente bâs€âdo em uma
espécie de inércia cultural. Assim, Ânalmente, é preciso
correr o risco de se apoiar no poder das pes.oas e nào no
poder vindo de papeis e expectârivâr sociais, por mais que
possa haver papéis envolvidos.
O que é, então, Àtender alguém como psicólogo? Se
formos olhar a radicalidade da proposta de Rogers,
deveremos reconhecer que nada está deÍinido. Nem o

80 ROCERS, éti.a hummiía c psi.oe,rp; 87


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