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ético e psicoteropio
Mortins Amotuzzi 2" ediçõo
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ÉTICA HUMANISTA E PSICoTERAPIA
2" Edição
ROGERS
Érrce HtnaaNlsrA E psIcorERApIÂ
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DIRETOR GERAL
Wilon Mazallo Jr.
cooRDENÂÇÂo EDrroRrAL
Wíllian F. Mighton
cooRDENAÇÀo DE REvtsÃo E CoPYDESK
Helena Moysés
REvIsÀo DE TExTos
Adriana Maria Jorge Patrício
I
EDIToRAÇÀo ELETRÔNIcÀ
Fabio Diego da Silva
Tatiane de Limo
CAPA
Paloma lzslie
Bibliografia
rsBN 97&85-751G530-0
Editora ÂJínea
Rua Timdentes, 1053 - Guanabam - Campinas-SP rPara 1{e[ô, com amoí.
CEP 13023-19l - PABX: Ít9, 3232.9340 e 3232.0047
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lnpresso no Brasil
I
sumart0
llctcrências 83
A Abordagem Centrada na Pessoa
como Etica das Relações Humanas
f)rimeiramentc, pÍeciso dizrr que estou redesco-
f bÍindo e ge niãlidâde de Carl Rogers, figura do sécu.lo
)\J (1902 1987) que precisa ser resgatada. Ele realmente
rr',uxe algo novo e rcvolucionáÍio para a práticâ do
.rl.ndimento psicológico, qu€ consiste, basicemente, em
,,rn,r posturade con@nçajggstrita no potencial de cada um
l,xÍr encontraÍ os melhoÍes câminhos de sup€râçâo de suas
,liliculdades. Um mergulho nessa fonte inesgotável que é o
tr humano. Â contribuição básica do psicólogo, como de
,lrralquer pessoa disposta a ajudãÍ âlguém inúigado com
.lu.\tões pessoeis e recuÍsos subjetivos, é oferecer umâ câüâ
,1. rcsonincia nr qual a própriâ pessoâ possâ se ouvir e,
,rss;m, enxergar um caminho, Nenhuma das fotmas
rlrtcriormente vigentes de atendimento levou isso táo a
. de se ros problemas
ne rcleçio dc ajuda, devemos .bendooa, todas as
, ., rcl:rçiode{qslÀNcsscscÍrtido,suacontÍibuiçãoniofoi
técnicâs ê proccdimcntos padÍonizedoa, todas 1§
cstratégies pré-fólic.das;
r ,, r Í ,t(;gica, mas éticr: elc neo tÍouxc mcios Ítovos c sim Íiff
. quêm sâbe o momanto de enccrra.r o etcndimcnto é
r,*,». Mudança dc paradigma.
o próprio diente;
Dssas proposras, fáceis dc entendct cm suas
todos, dcixlve a gÍendc maioria na posição dc scguidorÀ dc .1rr. atendo proÍissionalmcntc ou com quem conüvo em
lidcrcs ponedores d* soluções. A esses scguidorcs câbia, r.l:rçio constnrtiva? Sou capaz de confiar naquele foÍça
ser scnsívcl também a peÍguntas mais t€óricâs. A proPosta ,l,r história pessada; ou cxtetnâs: estímulos do meio
dc Rogers náo conduziÍia a um csponteneismo sem criticâ ,rrrl,icnte Íisico ou social, isoladamente ou cm configurâ_
ê, ponento, neo sufici€ntemcntc apeÍelhado dirntc dos 1,r.r complexas). No contrato de tÍabâlho PaÍÀ a Prestâçâo
complexos ptoblemas quc temos em nosso mundo atual? ,1, .cwiços psicológicos, ceÍtem€nte náo sê negâ a libeÍ-
Não conduziria sua âbordâgcm e um sentimcntalismo ,l.r,lc: cla é respeitada dentto de uma PostuÍâ ética. Mâs
romântico e in8ênuo? Entretanto, acredita_sc quc esse quc, no nivel do Pensâmênto cientíÍico, essa
',rlle-se
juizo, quc mútes v€zes somos lcvedos a fauÍ sobíc sue .,ur,nromia do scr humano é ilusóÍiâ. O atendimento
pÍoposta, dccorÍê dc nào tcrmos cfctuâdo À mudmça de t!.!supô€ um olhú anelitico da situaçáo, o qual sc
ponto dc ústa que ele propõê. E, €ntão, usamos vclhos ,,,rrÍigura como Em diaStttisrto. Valendo-se dele, uma
paradigmas para fazermos a avaliação. E preciso cxpcri .,h ?gia de inr.t-u.nçâa é montâdâ Para dirigiÍ a âção e os
mÊntâr uma outra maneta de scr para depois avaliarmos seu
(lri(os sâo cspeÍados como consequências nâtürars As
velor. Qualqucr ayrliaçáo a y'n,rrí seíá bas€âda em vclhas r,,,quias cieotífrcas, quando a seíviço dessr forma dc
meneiÍirs. rr.rhalho, úsam estabel€ceÍ ligrçôes genérices d€ câuseli-
,li,lc (pâÍa esclerccero que se nos câsos PaÍticulare§ c
O que scrá dito aqui pretende orquestÍar esse Passâ
inruição de irários pontos de vista e, âo m.smo tempo, ,'ricntar â int€rvenção) ou visam quandôcaÍ â distribuiçáo
conüdar o lcitor a participrÍ dessâ constÍuçâo, ao menos .lr determinado fcnômeno em um detcÍminado camPo
vcá6câodo €m sua cxp€riência sc isso pode fazcr sentido. i,,í;cntando âs decisócs no Plano dc ume Politice de sâúdc
rrrcnt.rl, remediatira ou preventiva).
O pressuposto humanistaé diferentet ê o ?rettu?otto
À hrz dos pensa*cntos e de prática de Rogers, o ,l,t autonontia. O s.í hnÍnâno t€m algum PodcÍ sobÍe âs
pÍópÍio humaflismo toma-sc mais claro. Podcmos equa- ,lrlcrminações que o afetam, e cs§e Poder é, na verdÀdc'
cionar isso da mancira como scguc. rrrris relcvaorc Para o de§cnvolümenlo do que aquelas
Existem formas de etendimcnto psicoló8ico que ,lerrrminaçoes. O trabalhopsicológico consiste fundameo_
r.rhnente cm ofcÍêcer um contcxto dialógico no quâl a
?ütern dc urn ?r.ttu?otto ilcl.Trninisrd. O ser humrno é
pensrdo como âlgum tipo de mecanismo: sues decisócs seo, lil,cÍaçáo dcsse podcr seja promovida. Aposta-se na
signiffcados potenciais em relâção a algum contexto, Diag.Nl@ J estÍáleoia J inlêdenção r mudanqa €sp.Édâ
valoÍ própÍio de animal, diferente do valor de um1 lgir sobre o qual versam aqueles discursos. E nesse agir
a-lmofada. Nâo se pode maltratar um animal, nr,esmo o nivel dos comPortâmentos, o que
lxrdemos considerar
quando for preciso matá-lo. O Íesp€ito devido a umâ plantâ ,:ictivamente fazemos, e as disPosiçôes que lelamos Parâ a
não é idêntico ao rcspeito deúdo ao animal (embora os dois rção, as atitudes, os valorcs. As disposições sâo antcÍioÍes
sejxm merecedores do respeito geral devido à natuteza). ros componamentos e, de certa forma, os deteÍminam. Por
Pode-se tirar um galho dc áwore para fazer um ornanlsnl6 rrrna disposição,uma atitude, um valor é que nos inclinamo§
na salâ, mas não ârrâncar um pedaço de um â'rimal. rrumâ deteÍminada direção.LRogers considerou que âs
Pode-se, mas não se deve: algo se fêÍe em nós e no mundo se ,lisposições (atitudes) são mais decisivas do que os
o Íizeímos. Âssim, no topo dessa giadueção de valoÍcs está comportâmentos nâ carâcterizâção da rbordâgem centÍâdÀ
o s€r humâno. Não se pode tratar o ser humano corho s€ Itr pe§soâ. PaÍa ele o qu€ imPortâ é que os comPonÀmentos
poderia tratâr algumas outras coisas dâ nrturcza. Essâ .lecorram das atitudes, e Podemos enlrnder isso âssim: o
20 NIrUrt,NI IiNANIÁTUZZI ?7
que importa é que o agií decorrâ dâquilo que a pessoa tem A Abordaçm Centrada na Pessoa (ACP) encontra-se
como valor. Vâlor operâtivo, é clâro, e não simplesmente nâs atitudes e r,alores subjacentes ao agir. Ela pode Ievar
valoÍ declaÍado. Uma a(itude não determinâ sempÍe o consistentem€nte â formas de agiÍ diferentes conforme as
mesmo fomato de compoÍtâmento.A mesmâ âtitude ou o situações, âs pessoâs, os mom€ntos. A consistência títimâ da
mesmo valor pode levar a componamentos diferentes: isso ACP não está no úvel de sua utilidade ou mesmo de sua
vai depender da situaçâo, das pessoas €nvolüdas, dos efrcácia, mas no nível do seu lzlor Se não tenho sensibilidade
estilos, do mom€nto no processo da relação. De qualquer para ralores, jâmais entenderci â aboÍdagem cenúadâ na
modo, Rogers c!,nsideÍava que deÍinir a-abordagem pessoa; a não seÍ que â entenda como m€ra técnica. Mâs, em
centrada nâ pessoa em termos de atitudes (predisposições ultima instânciâ, elâ náo se juqtiÊca colno uma técnicâ e sim,
ou valores) era mais certo do que defini-lâ em termos de como uma étiça;mâ ética dâs relaçôes humanas (inteÍpes-
comPoÍtemento €specífico. Porque esses comportamentos soais, comunitiias, sociais, políticas). JustificâÍ a ACP é
podem variar muito. Por trás das vaÍiações de compoÍtâ- cxplicitâr e fundarnentaÍ, no plano teórico, os ralores que ela
mento existe â coNistênciÀ de atitudes e valorcs.
genuíno, mais ioteiro. você está por cima ou está por baixo". E Âquei comvontade
de lhe perguntar: "E porque nãoPodemos estar ao lado, no
que esses valoÍes devam existir de forma acabada nas lrcrguntas em rermos dc natueza. Perguntar por que o
rnundo é assim e perguntarqual a natureza do mundo era
pessoas, individualmentc, masque eles sejam, paÍa todos os
envolvidos no convíüo social, um objetivo a seÍ alcançado
r mesma coisâ. Mesmo quando Sócrates (séc 5 a C.)
Descartes (séc. 17), â primeiÍa certeza náo era o muÍrdo {btrair às determinações do mundo? Essa câpâcidâde
natuÍâl e nem mesmo Deus. Era o pensamento üüdo na I'irece, entáo, seÍ ilusóriâ. O ser humâno constituido de
subjetividade. Ele vai reconstruir tudo com base no tJrnsamento e liberdade e, Portanto, centlado na suâ
pensâm€nto. O seÍ humano é concebido como indiüduo e t ()nsciência, começâ a se descentrâÍ. Esse descentrâmento
sua especiflcidade está naconsciência. Ele édotado de raáo .,)stumâ ser descrito em váÍios nÍveis. No Plano
pâÍâ pensâr e, porquê pensâ, não fica vinculado aos , (,smológico, ele é representaào pela reulryão coperniana:
deteíminismos mâteÍiâis, mas dominâ sobre eles: é liwe. r
'lera não é mais o centÍo do universo como se Pensâva-e
Para Kant (séc. 18), toda Íilosofia se reduz a uma .r tcrrÀ, no cosmos, é o §ímbolo do ser humano no mundo.
antropologia, já que vise ÍespondeÍ à perguntâ "o que é o No plano biológico, pel^ teolia da a)alqõoi o homem ê
homem)'. Nasce assim um pÍojeto de emancipaçáo .irnplcs resultado de um processo evolutivo, ele náo é muito
humana: a conquista da plena autonomia para o homem ,lifirente do mâcaco. No plano psicológico, a alna é
pequeno, mcsquiúo (Reich: "Escut.r Zé Ninguém"), pclo rrrna verdade. Nem tudo é rclâtivo (ou: até o relâtivismo é
supÍ-homem que, no €ntânto, não passa de um sonho. Pàra rrlativo). Há uma cspcrança prÍa a humânidâde.
Onega y Gxset (scc. 20), o posit!üsmo i uma opcrrção A modernidade âcrcditou, com fé inabalável, no
intclccnral que consiste em es!"àziaÍ o sentido do mundo e 1'rosÍesso ilimitado da humanidade. No entanto, os tempos
dciú-lo rcduzido a um amontoado dc feros. Wirgcnstcin rlrostrãÍâm qu€ ncm todos usufrucm dcsse progresso:
(s.c. 20) âfiÍma que, parÀ o olher da ciôncia no mundo, tudo é
lrcssoes emgÍ.ndc númcÍo ú comcm as migalhas desse
como é, e nde não há Iugãr pua r:rlor algum. livi-Súiuss progresso. Os ncionrlGtãs âcÍeditaÍ{m na educação do
(scc.20) diz, em O peranato Sebagen, que povo (para quc cles panicipassem do pÍogresso). Mes ess.
28 MruÍoMrinsAMÁ'IUzzl 29
I
Não há mais â grande história com um sentido, a , 1r rro plano da vida); convite a uma humildade do ser
grande nârrativa; âpenas â pequenâ históriâ de câdâ um lrrrrno, mâs não à insigniffcânciÀ.
(a história humana nío tem sentido).
Se nào viemo" de lugar neúum e nào vâmos para ''',,' ,, gotto pelo prático c utilitáÍio (cujÀ c.).pres'.io
lugar a1gum, nenhuma direção é melhor que outrâ. til,,srllicanos Estados Unidos é WilliamJames, séc. 19-20),
A ideia de verdade é abandonada e explode a r lricanálise foi praticada como uma técnica (e náo tanto
subjetividade e o sentimento. E co mo consequenc ia. para a ,!',,,o um pensâmento), mas também se desenvolveu
vida cotidiana: o desfrute imediâto, sem adiar satisfações Irr\txnte umâ outÍa técnica bem mÀis objetiva: o
("carpe dien", con o settido de aproveite o aqui e agora); ,
',,rporrâmentalismo ou a engenharia de comportamento.
a felicidade consistindo exclusivâmente na vida pÍivÀdâ; â :\rrrhos tinham em comum o pensar o ser humano como
indiferença com âs questôes que se reíerem ao coletivo, r,'rultrdo de influências ou causas mais ou menos ocultas
abstençáo de militârcia políticâ ou de qualquer outra trlrcrnas ou erternas), mas que podem ser detectadas por
espécie; grupos de enconúo emocional de subjetividades, , lrccialistas. Muitos esta!âm insatisfeitos com isso. Á1go
terapias do sentimento, pedagogia do contato, terapia do , .riva sendo esquecido: em lugaÍ do "homem resultâdo"
abraço. Nao há mais lugâÍ para um sabeÍ profundo; umâ t, rpressão de Merleau-Ponty), deveríamos ser capazes de
visão de mundo mais ampla é consideÍadâ purn ilusão. A ;" rr'rr o homem desaGado. câpaz de iniciar âçôe§ no!ãs e
nostalgiâ dc tempos antigos é umâ neurose ou um sinâl de rr.rnstôrmadoras, voltado para o futuro. Maslow propôe
infantilismo. A religiosidede torÊâ-se sentiment'al ejá não ,1,r., para conhecer o ser humano, deveríamos estudâr os
rbre para as grandcs quellóes da exislência: virn um rrrclhores exemplos de realização de humanidade, as
remédio como qualquer outro.
lr.rwns mais cÍiatiws (e deveríamos, nós, atualmente,
No seio da própria pós-moderflidade, porém, rtrl,liar isso parâ os grupos e comunidades mais bem
sementes de esperança: pcnsamento complexo (Edgar ..rr, cdidos). Ele se propôs a estudaÍ pessoas sadias e não
Morin, séc.20121): nada se consegue sozinho (valorização
1n'*ras doentes ou neuróticas. Rogers escrweu sobre aüda
da equipe, dos grupos) em razão da impossibilidade de um
1,1 rra, a pessoa em funcionamento pleno, tal como ele podia
só abarcar a complexidade (seja no plano do conhecimento, ,,,,,strtar no finâlde umaterapia. Allport escrevera sobre a
rcligiosidede intrínseca, como algo bem difer€nte de \,,,.,, (1980) chama de humanista toda psicologia que
rcligiosidãde exúinsecâ- A psicânáljse e o bchaüorismo nâo ;
, , , tlcu o laboratório de Wundt, inclusive q rice psicologia
Psiologia Existential Hunazrlra, de Greening (1975), e l,r,rrr,rnistr de Maslow, no século 20 emeÍicxno, Eouxe de
Pskologia do §ar, de Abraham Maslow (s/d.), em pleno ,,,lrr pua a psicologia os velhos temâs que haüâm ficado de
século 20. Maslow congÍegâ um movimento que cle chame Ir l, , pclas abordagcns convcncionais. Qrais temas) A saúde
psiquiatras e âssistentes sociais, quetrabalhavam no modelo ,,rrrrto poÍtico, a abertura espirituâl, enÂm, tudo aquilo que
médico (diagnóstico e inteÍvenção mânipuladora dÂs , l, rolvc rc sujeito seu papel âtivo e suâ ebertuÍa paÍa o futuro
causas), eram eÍicazes no tratamento dos traumatizados e , 1',rr.r o inÍinito.
mutilados quê ünlam da guerra. Mas essc já não era o
meior problcmâ dos americanos. Eles queriam saber o
porquê de gueÍrà; que sentido tioha a presença dos Estados O próprio Rogen sugerc colocar o começo de suâ
Unidos na Ásia; poÍ que scus 6lhos tinham qu€ morr€r ,l,,r.lagem pessoal no dia cm que, conversando com uma
precocemcnte em um embate sem lógica. E, para isso, os ,,nc â respeito de seu filho problemático, ocoÍeu uma
métodos trâdicionais neo trâziâm Í€spostas, não âbriam as ,.riÍirvoltâ (RogeÍs, 1977, p. 23). Ele havia tentado passar
ponas de uma ação efetiva. Seria pr€ciso olhâÍ paÍâ âquilo l,. a.r mãe sua interpÍetaçâo dâ situeçáo pÍoblemática,
que o ser humano podeÍie seÍ. Ou poderia fazer. Náo rrr,rr cla nâo aceitara. Todâs as suas tentativas forâm em vão:
âpenâs olhâÍ parâ o que já tinhâ feito. Não foi Rogers quem ,r Lonversa não levara a nâde, então, deu por encerrada a
inventou os gmpos de encontro, mâs quando ele se pôs a rrrÍevista. De pé,já na portâ do consultório, â mãe se voltoü
promover isso, ele fâcilitâva o desenvolümento âutônomo , l,crguntou a Rogers sc 1á eles frziam aconselhamcnto de
do grupo e das pessoas, estando focado nos significados que r,lrrltos. EIe respondeu que sim e elâ voltou â sentar_se. Á.li
crâm expÍessos pelas pessoas, ajudando-as a se aproxima- , \rirvâ Rogers, sem nenhum csquema que o pudesse guiar
Íem de sua expeÍiênciâ e aprofundar seus sentidos. rirssa nova convelsa que sc iniciâvÂ. Esse foi um dos
Maslow, Rogen, Greening, Erich Fromm e outros, Mnentos importantes do nascimento dâ âboÍdegem não
apcser de trabalharem de formas diferentes, resgatararn para , I rre tiva que depois veio a sc âlaÍger em âboÍdagem centradâ
equclc momento a lrlhâ tradiçáo humanista. FÍomm (1974) pessoa. O que ele vivenciou aqui? Basicâmente, umr
',.,
nos fala quc essr tradiçáo tem suas Írízas na GÉciâ ântiga. .rrrstncia de paÍâmetros e disposição de
8Íandc como se costuma pensâr. Eles cstavam em um ,,,r\igo somente uma vontadc grânde de ajudaÍ ne
consultóÍio de psicologia (e nâo nas ruas d€ um baiÍro, ou t,r,,rroçio humânâ, nade mais. Ele tai aond€ estão es
em um clubc, ou Íos corredores de uma cmpresa, ou em tr i\,,:rs cm vcz de rec€bê-las em s€u espeço profissional.
uma Í€união de dÍogâditos em re.u[rcràçáo, ou, âindâ, nâ \lrrirrs vezes, nâo há um contÍato de trâbâlho entre uma
sala de conveÍsâs de uma pÍisão, por exemplo); e a mãe e ele
;,1'ul.rção (cliente) e ele (proÍissioml). Outras vezes,
sâbiam que âquilo erâ uma conversa dc âjudâ, tinhâm rL,' tccc um conüato, sim, ma§ cntíc o PÍofissional e a
dcfinido paa si que eÍâ umr situâçâo dc etcndimento 1,,,'riiruÍa locâl ou alguma univcÍsidâde ou agência
psicológico. Nesse sentido, eÍa uma situâçâo já pÍeviamcnte r;r,rnciadora de pesquisa. Todo o rcsto está p2ra s€r
dcffnida: seu contexto era iostitucionâJ, §ur dircção eÍâ o .lrtinido. O psicólogo não é procuredo, mas é ele quem
rtendimento psicológico daquele pessoa quc csrava ú (e
;",nura. EIe sri dE scu consultório c de sua instituiçio.
náo outÍe). Essa pessoa buscava ajuda psicológica €, ('(rrr vez, cscrcü um texto quc foi trâduádo peÍÀ o
Ponrnto, âssumir o papel d€ diente entrcgrndo-§c n.s .'tt:rnhol com um úülo sugcstiaot Salil dtl cont tôio ?ara
mãos do proffssione.l. Buscevâ alguém disposto r ofcrcccr h llatnot d. tú: lo íontt lt«ión ?artiei?atioa dr una ?titologia
pÍofissionalmcnte esse ajudâ e, poÍtanto, alguém que 7o1,ular (ver Amaolzzi,2008, p. 115-122). Nâo era bem
também assumisse seu papel. Ambos s€ conffrmavam ,*'.r a situaçáo de Rogcrs nâs origens da ACP.
mutuemente nessa atribuiçâo de papéis sociâis distintos e O que estou qucrcndo dizcr com isso? Rogers estava
complementârcs. O que acontcceu ali foi um novo modo de ,lirnte de umâ situaçãoque era scu dcsafio concreto naquele
caminhar, sem dúvida, porém nume situeção já ,',,mento. Para fazer frente a ela, clc mobilizou em si um
pÍêviamente deÍinide, com obj€tivos geÍds dcffnidos, cm uolo dt str, flão rma. técnica, que, quando aplicado àquela
ume rclaçào cuja netuÍ€a também já estâvâ prcviamente Íêsultave em a.lgumas atitudcsbcm dcÂnidese quc
'iruação,
dc6nida, ao menos, no scu sentido amplo. Nada disso ti,Íxm efêtivamente formuladas postcriormente como as
âcontecc em outÍas situâçõcs em que o psicólogo sc vê .lissicâs âtitudes terapêuticas (âccilâção incondicionâl ou
envolüdo, ou se envolve, alualmente. Em nossos tcmpos, ,rcolhimcnto, compreensão empática ou comunhao de
frequentementc, nâo hi nenhume situaçio pÍeüam€ntc .igniffcados, c autenticidadc ou ser o que se é, respeitando
dcfrnida no que diz resp€ito ao que s€ vâi fezcÍ ou ao que s€ ,rs diferençes). Âlgum tempo dcpois, ficou meis daro que
esse moda de rdr não estâvâ vinculado ncc€ssariâment€ tiis comoJohn Wood coloce essa questáo:
Pcssoa é algo maioÍ, mâis geÍâI, do que a forma concr€tâ qu€ rctr mesmo uma teoria ou uma linha psicológica. A
ês§c modo toma quendo aplicedo a uma situâção especíÍice ltr.rpia Centrada no Cliente (TCC) deve se distinguir da
dc teÍâpia, por exemplo. Ele sugere que es tÍês eritudes r\CP, pois é uma eplicaçâo dela auma situeçeo especiel,
clíssicas sejam a formulação da ACP, siÍn, mas quando ., situaçáo de psicoteÍapiâ individual de âdultos. Estâ
aplicada à psicoterapia. Dá a entender que nâo de!'emos .rplic:rçio faz conceber a psicoterâpiâ como um pÍoccsso de
ide ntiffcar si mplesmente esslrs duâ. coisas, assim como nio ti.ilitasáo do crescimento pessoal e saúde psicológica dê
devemos identifrcâÍ ACP e terapia individual de adultos. ndivíduos em umâ relação tcrapêutica pessoal (p. II-III).
I
Reiterando: a ÂCP define-se no campo dos valores, e isso I louve outrâs situeções às quais essa mesmâ âboÍdâgem se
quer dizcr no campo das predisposições ou das pÍeferênciâs rplicou:
gJanro ao nodo str não no campo dâ récnica, no campo
de
grupos de encontro, âprendizãdoem salâ dê âula,
do nodo defazer. On, ter um modo de ser Íelativia o modo
terapiãs de pêquênos grupos ou workshôps de
de fazer, torna-o menos importante, dá-lhe o seu grandês grupôs para âprendizagêm sobre
veÍdadeiro sêntido; nào o anula. íormaçáo ê transÍormâção da cukurâ, comunicâ-
No entanto, vamos mâis devagar, para podermos çóes inter(uhurãk e resolu(âodeconÍlitos (p. lll).
36 ill n l\,lsriN 37
^NIATUZZI
Clicntc: TCC) simplesmentc, mâs nâo s€ tinha noçio exara Wood o descrwe cm sete poítos que já estão sê
de que a originalidadc dessa forma de teíapie nao vinhâ roorando clássicos. O jeitode scr da rbordagem ccntrada na
como pÍopostâ de umâ técnicâ nova, mas como aplicaçào à
l).ssoe consiste em:
situeçào terâpêutica deum conjunto dc valoÍcs mnis
abrangentes, o que levâvâ â umâ nove conccpçâo de 1) Uma perspe«iva dê vidr dê modo 8eÍ-ál Posiüva
proc€sso terâpêutico. Esse mesmo conjunto dc valores foi (wood. I 994, p. lll).
aplicado a outras sioaçôcs; o próprio Rogers lcz isso. f Isso signiÍica acreditar na vida, lcreditxr que el. vale
depois dele, outros seguidores, com  mesmi inspiíação, ,r pena. Não se trata de umâ constâtâção - com bâse êm
defrontaram-se com outÍâs siNaçóes, tâis como: condução expcriênciÀs positivas ou de uma espécie de conclusão tirada
de cmpreendimentos produtivosi processo de emancipaçâo tle um passado feliz. Trata-se mâis dc diz.eÍ sim à üda. Nadâ
popular; atuação junto a comunidades carentes da Américâ r c obrige e fâzer isso. Posso dizer não. Mas dizer sim é o
Latina;etueção em Centrosde Seúde. Foiem virtudedcssa primciro poíto descÍitivo do modo dc ser que caractcriza a
diversidade de rplicações, eliás, que foi possivel pcnsar ,rbordagcm centrada ne pcs.soa. É uma fé. A fé é antcrior à
a
ÁCP como algo mais amplo. Nas situaçôcs cspcci6cas, .iênciâ e lhe dá apoio. E é ânt.ÍioÍ, trmum, à id€ologie. A
há que se levar em contâ justâmente e €speciÍicidade de
l lê tem a vcr com fins; ciéncir c idcologia, com mcios
cade situação. (Àmatuzzi, 2003).
O próprio coúecimento pÀssa, então, a ser encârado como ,lil-crente, a açáo diferenE ou o pcnsamento diferente.
umâ xÉo evoluti!"r. Á ACP inspira práticas terapcuticas ou (Irrndo vou pãfr uÍnâ reuoião, por eremplo, lcvo idcias e
evoluti!ãs, indusile no câmpo do conhecimento. É um modo
I'ft)postas de âção, mes s€ €u êstiver aPcgado â ela§, a reuniáo
de ser voltado para o mais scr, em qualquer que seja o campo. rr,rnsforma-sc em uma disputâ de podeÍ. Não há mÀis
. nconúo d€ pcssoâsr úo há rehção, somcnte Íelâcionamento.
4) Um Íêspeito pclo indivíduo e por ía autonomiâ ê
I)(ro sêÍ czpâz dê me dcixâÍ lÍülsfoímaÍ pclo conüüo.
dignidâde (Wood, 199,í, p. lll).
Wood cnfatrza aqui a importâíciâ de se ter uma
Disposiçâo de atuâr, mes etueÍ em conjunto com
,lupla úsào da realidadc: uma lincar, constnrid. 'pedâço-
oulÍo ser humâno (ou outros). Se me ponho como agentc,
.r.pcdrço', e outÍa holísticâ, olhando o coniunto,
não posso esquccer que o ouúo se colocr para mim como
l,crcebendo "tudo-de-umr-vez".
tâo autônomoe digno de rcspeito comoeu! e que, poÍtânto,
a ação passa a seÍ, no minimo. conjunte. lsso pÍcssupõ€ um 6) Umr tole.ância quanto às incenê2as ou ambiSuidrde§
sentimento ou uma expcÍiênciâ êspeciel: r experiência dc (wood, 1994, p. 19.
reverência; revcrência paÍe com elgo que me ultÍâpâssa E ele acrescenta, logo em seguida: sendo capàz dê
como valor, algo sobre o qual não posso tcÍ um domínio; e wernumâsiurâção.aóti<âat quêfatossuficiêínêssê.cumulem
isso inteÍditâ quâlquer tipo de manipulação que submeta o para rer possÍvêl âbsrâir-se um sentldo deles. No plano
outro, eviltrndo sua eutonomia. Posso, isso sim, me rncramcnte lógico e úcional, isso scÍie impossível. É
associar ao outro (em dupla, grupo ou comunidade).
;rcciso sair dos limites recionais, coníimdo qu. existe umã
Qrando sc trata de uma situaçáo de ejuda psicológice, isso no mundo e que posso mc conectâr dc forma
'abcdoria
Icva, evidentemente, como objetivos fundâmcotai§, a ticunda com cla. Isso decorrc dos pontos antcriorcs. Scm
favorccer no outÍo sua própria libcrdadc e autonomia ,rma Íé na vida e uma disposição dc aprcnder com elâ, c,
vivides no encontro intcr-humano.
7) Senso de humor. humildâde ê curiosid.dê (Wo,od, 1) o conselhciro parte do pÍincípio que o indivíduo é
t994. P. Í9. basicarneote rcsponsáv€l poÍ si pÍóprio e deseja que ele
Há uma abemrra muito gÍande aqui dâ pâÍtc dc mentenhÀ esse responsebüdedc;
John Wood, ao desconhecido: scr capaz de rir e aÉ ri1 de si
mesmo. O brincar, propondo cxmirhos inespcrados, revcla 2) pÍcssupõe â êxistênciâ dc uma fonc tcndêncir â
com e.legÍia os ümites de nosso pn5prio eu. Em quem elc tornar-se meduÍo, ljustado, indêPcídênte, pÍodutivo e
estaria pensando quândo diz, nesse mesmo ponlo, quc, conÍiâ nêsse tendêncie p.lfe quc as mudanças opoÍtunâs se
Mcditando sobrc csscs sei€ pontos de Wood, 4) estabelece limites somente quanto ao compoía-
forma-se em mim a convicção de que clc cstá felendo dc Ircnto e não quânto à alitudes c cxPÍcssõcs;
valores e nào de técnicâs: está, poÍtânro, propondo uma
ética das relaçacs. Â ACP é uma ética. 5) usa somente procedimentos c técnicas que trâns-
nitam sua profunda compreensão das atitudes exprcssas e
sua aceitação dclas (note que aqui clc fala de "procedimen-
siçôes (indusive as ânteriormente negadas) e as aceiterá drâmatizâçào pârâ , comunicaçáo de sentimentos mais ou
mâis plenamente; menos escondidos. Rogers não exduíâ €ssas possibilidâdes.
É possível trabalhar com base nos princípios orientadores
,í) escolherá novos objctivos mais satisfâtórios e os
da ACP, escolhendo procedimentos especíÍicos de
comunicação. A náo diretiüdâde ocorÍe no interior de uma
relaçáo, mas ela diz mais Íespeito aos conteúdos
5) escolherá meios para âIcânçar esses objetivos e se
comunicados e à oÍientação do processo, e menos à foÍma
comportará nessa direção de modo mâis espontâneo e
18 Miuroll.íinsANÍATi,Zzl 49
fl
Surgiu, depois, a fasc rcfleúr,a. O nome foi passando evidcntemente,o risco dc deixar escapar a intuiçãobásicada
a seÍ Psicotcrâpiâ CentÍedâ no Cliênte (houve criticas à propostâ, que não estâvâ no plano dos comportamcntos do
expressáo 'Terepia Náo Dirctira"; ela parecia dizer que se tcÍâpeutl mes no plano das disposições para a rclaçâo. Áo
tretava dc um processo scm diÍ€çáo €t poÍtento, me§mo tempo quê sê lÍêinâvxm resPost⧠cmPátices (nível
iresponsávcl). Seguros que cstrvam com e cÍicácia dcsse dâ técnice), discrrtix-sc quc o essencial cÍam âs atitudcs
modo de sercm terapia (e tcndo sido âc€itos nacomunidâde (nivel das disposiçócs). Faltav'r algo no plano da teoriâ. A
cieotíÍica), voltarrm-se para a análise do que ocorria cntre o linguígcm positivistâ nÃo permitia umâ compreensão mais
antês e o depois. Comcçaram â êstudâr âs íoÍmâs de aprofundada, que desse contada novidadc. A caricanua do
veÍbeliação dos terapeutas. Um estudo extÍcmamcntc ÍogeÍiânismo prendc-sc, telvea a cssa época; o oovo
êmpiÍico. Como não podiâ dcirâÍ dê §€r no embiente 'método" terapêutico consistiria em aprcnder â fazeÍ
positiüsta e no estío emericano, começaÍam e surgir as reílcxos de sentimcnto. Ncsse caricature nada sc diz dr
categorizâçõês de respostas do terapeuta, âs cscalâs de qualidade pessoal da rclação. Mâs â pÍáticâ de Rogers com
empatia (com os gÍâus), cscâlâs dê consideÍação positivâ, de s€u grupo continuava c sc cxPandia PâÍâ outros câmposr
âutenticidadc. E outras foram acrcscentadas, Escalas de psicoterapia infantil (utilizândo como ÍecuÍso o brinquedo
rutorcvclaçáo, dc conÉonteçÃo, dc imcdiâticidade (vêÍ, por e compreendendo sua qudidede de linguegcm), atendi-
cxemplo, Âugcr, 1981) ctc. Juntâmente com as escalas, mcnto r psicóticos (lequê meioÍ de comportâmcntos peÍa
úêmm os trcinâmentos de hebilidades de verbalizaçio (por cxprcssar as atitudcs básicas), aplicaçõ€s no câmpo de
exemplo, Mucchielli, 1978). Sem querer, caiu-sc do plano educaçâo (conter(o não cllnico, com e necessidade de le r
das atitudes para o das técnices. Em lugeÍ da disposiçâo à cm conra as er(pectatives da instituiçeo e dos ProgÍâmâs) e
comprccnsáo, ao resp€ito e à honcstidade ou rbcrorr na g pos de encontÍo (cmpatia entrc diêntes, âusêncie de
rcleção, falarz-sc em reitcreçio ou reílexo simplcs, reflexo qucirâs psicológicas, tcÍapeut2 corlo pÍomotor). Â mesma
dc sentimcntos, clariâcação. E tÍ.inawm-se esscs tipos de abordagem aplicando-sê â situeçôes difcrentcs, Foi-sc
verbâlização nâ formação dos tcrapeutas. Constatou-sc que percebendo que ÂCP nâo em a mesma coisâ que TCC. A
Íespostas cmpáticâs do terapeuta tendiâm a aumcnlar o teorizâçáo de umr inÍlucnciaB a teorização dâ outÍa.
fluxo da vcóalizaçâo e, ao mesmo tempo, a emplitudc da SuÍgiu, então, umâ terceira fase: a expcricncial. Com
ruto€xploÍiçeo dos sêntimcntos. Tudo funcionâva no v€lho cla, hourc uma pcnclação mâioÍ na stbjetiüdade. Sob a
Muito conhccimento
esqueme dc c.usalidad€ "sc-então". in0uência de Eugene Gendlin, a ideia d. expcÍienciâçâo foi
foi construido nessa direçâo. No entanto, corria-sc, incorporadâ à teoriâ (Gcndlin, 1962). Elâ peÍmitiâ ê\plicnÍ
melhor que as mudanças ocorridas dependiam de algo mais o eu do cliente e em Íelação à situação em que ele se
viüdo do que concebido. Isso orientou a prática no sentido de
fâcilitar a ocorÍência de vivências, mais do que no sentido de
fâcilitãr o entendimento meramente intelectuâI. Parou-se 2) Período da psicoterapia reflexiva: o reflexo de
de falaÍ em ifisigbt, pot exemplo. Compreendeu-se que haüa scntimentos e o cúdado pâÍa evitar quâ]queÍ ameaça ao eu,
um nível de convicção que flcara além da lógica racional. No passamm a constituir as principâis funções do terapeuta; e a
título do lirto, olganizado por Antônio MonteiÍo dos Santos mud.rnça de per.onalidade pa$ou a ser vista como
(1987), q)andôfala o coraç,i,,: a essêntia da psieateía?;tlc€ truda desenvolrimento Je umâ maior congruénciÀ no
na ?estoa,z er?ressão "do coÍação' queria se referir, em âutocorceito e no campo fenomenológico.
português, a esse nível mâis profundo que o da mera
3) Período da psicoterapia experiencial variedade
compÍeensão intelectuâl ou cooceitual. Tâmbém forâm
maior de componamentos foi aceita paÍa expressaÍ as
construídas escalas de e.?€rienciação do terapeuta e do diente,
.rtitudes básicâs, foco nâ experienciâção do cliente e, ao
sempÍe com a finalidâde de araliar o processo. Com isso tudo,
mesmo tempo, expressão da expeíienciação do terapeuta
poÍém, âmpliou-se e compreensão teóÍicâ da rova
passaram a descrever as tunções do terâpeuta; e a mudânçâ
abordagem. Sug€stoesjá hâviâm sido feitas no sentido de umâ
de personalidade Foi vistâ como um desenvolvimento
âproximação com a obÍa de alguns frlósofos. Martin Buber e
pessoal GTaulr) ao longo das graduações de um processo
os fenomenólogos, por exemplo, dalam conta bem mais
vivencial, intrâpessoal e interpessoal, com a aprendizagem
profundamente, no plano frlosófico, da natureza do encontro
do uso da experienciaçáo.
de pessoas. Rogers nuncâ negou isso, mas náo se apÍofundou
nessa diÍeção.
As obras de Rogers, câracteÍisticas desses três
Um texto clássico, de Hârt (1970), falâ de tÍês perío-
peÍíodos, foÍam:
dos de desenvolvimento da psicoterapia centrada no cliente.
centrada no cliente e da ACP nio rerminou por aí. e fenomenolóBicas e um reconhecimento dos limites do
paÍadigma positivista (Rogers praticou belamcnte a
pesquisa fcnomenológicâ, emboÍe não denominâsse âssim
Nos anos scguintes, a históÍia dessa aboÍdâgem o que íezie nesses momentos). A linguâgêm des ciências
prosseguiu. A púticâ cootinuou a se expandir pa.ra outÍos humanas passou aser mâis utilizeda, tembém, embora nâo
campos de atuâçáo. Além dosjá mencionados, âpâÍecerâm: houvesse unanimidade entre os prâticântes dâ ACP quânto
os grandes grupos chamados "workshops" (experimentos â esse ÍecuÍso à frlosofra e à linguagem das ciências
de âpÍendizagem comunitária, como em leboratóÍio, muito humanas.
diferentes da imersâo em um bairro, por exemplo), As características do encontro eu-tu, de que fâü
educação (RogeÍs, 1973, original americano de 1969), Buber, por orcmplo, descreviâm melhor, do ponto de vistâ
g pos d€ encontÍo com Íepresentant€s de frcções opostas fenomenológico, o que acolt€ciâ entre dues p€ssoâs num
em conÍlito, por exemplo. Em raáo dessa ampliação do encontro. A dê§&ição da abordagem não s€ csgotâE nâ
leque de campos de atuação, foi surgindo o nome mais descrição das etrn des do têÍaPeutai erâ preciso felâÍ da
genérico e não câlcado na situação de psicotempiâ. Em vez qualidade da relaçâa. O qt:e o teÍapeuta busca é uma Íelâção
de Terapia Centrada no Cliente, se tornou mais comum fecunda no que diz respeito âo desdobÍemento de sentidos na
falar de Abordagem Centrada naPessoa. A psicoteÍapiâ€ra vivência, Ele poderá facilitâÍ â ocoÍrência de uma Íúção dessâ
apenâs um dos campos de âplicação da abordagem mâis quúdadc, mas não gÊ'entir sua oco[Éncia, pois tal fato
geral; educação eÍa outÍo cempo; conflitos sociais ou dependeú tambem do üente. Começou-s€ â fâlâÍ então de
culturais, ainda outro etc. Wood considera que com base no rclaçao emyádn(: (e r],,o lf,Ircnte de empatia do terapeuta), de
pôÍíodo experienciel, sobreveio o lcríodo da abordagen Íespelto mútw, de rclaçáo têDtic^ e mesmo de
^t
eennada na ?etsoa Vopriamente dita, com aplicações em coex?ati.rlciafio.lsso n ü estâr'à ne liúe do que BubeÍ drzia
úrios campos e situâçôes (Wood, 1994)- do inter-humano (Buber, 1982). As tÍês dássiczs atitudes, na
PaÍalelâmcnte a isso, começou-se â buscâr na wrdade, não eÍam üês entidades diferentes, mas três aspectos
filosoÍia elementos que peÍmitissem equâcionar mclhor â de algo uno: uma relação humana, que se torna cada vez mais
humana. Nesse sentido, foi possivel falar de um quano Esses desenvolvimentos já começâram a acontecer
período nÀ evoluçio das teorias desta abordaçm (dentro do quando Rogers era aind a vivo. Na sua obta, Á Way af Being
período que Wood considera como o da abordagem centrada (1980, que em português foi dividida em dois liwos:
na pesoa propriamente); o relâcionâI. Esse Íecuo teórico pa.ra Rogers, 1977, com câpítulos retomados depois, emzí lílay
o mâis geràI, com o eurolio da âlosofia, aliou-se à ampüaçno do arfBairg, e Rogcrs & Roscnberg, 1983), ele mostra também
leque de situações nas quais a ACP foi sendo aplicada, e dai como s€ âpÍ€sentí\,Írm para ele esses novos aspectos da
resultaràm ume no\,â teorização da abordagem e uma nova abordagem centrada napessoâ, O qu€ se },€Íifica aqui é umâ
compÍ€ensão da psicoterapia. Vera Curyestudou, cm sua tese ampliação dr conÍiança no ser humano (e seus recursos
de doutorado, como as descobeÍâs feitãs nos workshops de autoatualizantes) para uma conffança nos processos da vida,
grande grupo se aplicarem depois à psicotenpiâ (Cury, 1993). teis como eles se mostÍâm no universo e no homem
John Wood, seguindo um câminho pârecido, considera que (tendência formativa). Eu diria que isso equivâle à
todâ teÍÀpia é de grupo, pois mesmo em um âtendimento percepção de dinemismos presentes nos seres humanos que
indiüduâl existem, ao menos, duas pessoas envolvidas ultrapassam âquelâs tendências de desenvolvimento
(terapeuta e diente) formando um grupo dual (Wood, 1983). inseridas no potencial de cada indiüduo. Essâ têndênciâ
Essas reformulaçôes da psicot€rxpia cunharam uma formati!â só se explicâ pela compreensáo de que cada ser
denomioxção no!ã: TeíÀpia Centrada na Pessoa. Aqui Íica humano se integre em um todo maior que ele como
mâis dãro que a p'sicoterapia é um cempo de eplicâção dâ indivíduo, e até maior que eÍe como coletiüdade humana.
abordag€m cenúâdâ nâ p€ssoa- "Pessoa", na nol'a denomi- Foibaseado nisso que Elias Boainaim (1999)falou de uma
naçáo, parece se referir a todos do grupo (ou da dupla) e nao fr,e iansPrtsoali na verdade, uma compreensão mâis
somente ao diente terapia centrada no que há de pessoal nessa profunda das energias que atmvcssam o humeno (nâs quâis
rúçáo; nào no que há de factual e empírico- Diztr "pessoa", se incluem âquelâs que transcendem o sentido do eu),
aqú, signilica ultrapassar o pleno empíÍico e objetivo dos É com basc nisso que, tâmbém, Cavalcante, Ílo CeâÍá,
indivíduos (com seus problemas e seus Íelecionementos estuda âs possibilidâd€s pútices € teórices de ideia de
o<temarnente consideradm), e órir-se pan os sentidm e os tend,n.;d fonútioa (Cev^lcante Jr., 2008).
vâloÍes üvÉnciados na subjetiüdade (e bem poderíamos Qral o sentido dessas tendências tcóricas que
dizer, na subjetiúdade transcendental, pois se trata da começaram nos úütimos ânos de Roçrs c píosseguirâm
subjetividade como abena ao unilcrsal). âpós suâ morte, em 1987? Para todas elas háapoio nâs obÍâs
&i que esta maneira de fazcr não está nela predeÊnida, a nio
ser quânto às o entâçóês geÍeis. Cada maneira de fazer
precisa ser gerada, sob a influénciaü aboÍdagêm, sim, mas
considerândo os âspêctos concretos dâs diveÍsâs situâções.
Tudo ffcamais claro seentendermos que aACP nos
fala de Íins, ralores e posturas, € oáo de meios, instrum€ntos
ou técnicas. É pÍeciso que tenhamos cldeza sobÍe os ffns
Gobre os sentidos). Isso Íos deixa üvres paÍe pensirÍ mais
adequadarnente sobrc a naturcza das situações nasquais nos Abordagem Centrada na
envolvemos e os meios necessários pâÍa se pÍosscguir em
Pessoa e Psicoterapia
boa direção.
5u
r t I
humana: trabalhos em educâção, desenvolúmento organiza- pessoa. E isso não é pouco porque diante de uma
cional, projetos comunitários etc., quâ-lquer atividade, enfim, testemunha qualiÊcada, ela se compromete mais e melhor
que envolva o ser humano relacionando-se. com âquilo a que se propôe.
A psicoterapia cenüâda na pessoa é, €ntão, ume Contudo, nossa ajuda pode ir mais longe (se bem
aplicação da abordagem centrada na pessoa ao campo da que isso poderia, a rigor, caber ainda na função de
psicoteÍapia. Mas o que é psicoterâpia? testemunha). Estando com a âtenção voltada sobretudo
Poderíamos responder a essa perguntâ dizendo que, em PaÍa os sentimentos e intenções dâquele que nos procura(e
umâ perspectirã humanâ, â psicoteÍapia é um proce§so que se manifestâm de diferentes modos e em diferentes
intensivo de coniato consigo prdprio. com v;srâs ro graus de profundidade), âutomâticamerte, facilitaremos
desenvolvimento pessoal. Esse processo pode se dar mediante seu Processo d€ encontro consigo píiprio. Pârâ uma pessoa
o enconEo com uma outÍa Pessoa que, nesse momento, fica se pentear, um espelho ajuda; parauma pessoa se conhecer
centradâ na primeira, isto é, tem sua atenção voltada para a melhor, um espelho humano éa melhor ajuda.
primeira, especialmente pffa seu. sentimento" e inten(óe".
processo dcla de se coohecer melhor e desencadear seus liteÍâis dâqullo que â pessoe diz; transporta-Ilos para o
recuÍsos intemos de desenvolümento. sentrdo novo apontâdo por esses signiÂcados no contcxto
Costumo explicar isso a mcus alunos, falando do daquela fala; por isso é muilo mais um aproxrmer-se dô que
tri4é ld ?ricotera?ia, e nisso me insPiro em Schmidt (1987), pessol gueT dizcí, do guc aprcximar-se dâquilo que elâ
^
transfoÍmando, a meu modo, o quc cla diz. O tÍiPé' do mâterialmênte /rz. Umâ segunda caracterÍstica é que isso se
pontode üsta do profrssionrl que ejuda, tâl como o vejo, é o faz de modo diteta, dryz6o5 assim, e náo por deduções og
. Eventual-Ínente, dizer uma Pele!Ía qu€ feçe Pensâr. nâquele momento. Em terceiÍo lugar, ela impüca numa
saída da atitude cotidiana, pois ncstâ, o que fazemos é
1) Acolher - cm português, essa Pâlair-a quase que já
encaixar o quc o outro diz nos esquemâs da pênsâmeoto qu€
indui simpâtia. Sem dúüda, é possivel acolher rle má vontade- já t€moÊ. Nâ v€ldedeire compreensão, âo contrário, é
Mas acolher bem é fazer isso de boe lontade, isto é' com pÍeciso estar aberto ao novo, ao difeÍente, âo que não s€
simpatia, inteÍesse, afeto; interessando_se pela pessoa, pelo encaixâ cm nossos esquemas. Então, cm quarto luga.r, a
bem da pessoa. No contexto da psicoterapia, com a ajr.rda de compreensâo será uma tÍansformaçáo de nqsss 561,
um proÍissionâI, esse acolhimento é o solo sobre o qual poderá juntamente com a úÀnsfoÍmação que está econtecendo no
se desenvohtÍ o pÍocesso da pessoa. O primeiro esforço do outro. Por isso m€smo, Íinalmente, ela implica em uma
psiólogo será, ceÍtamente, o de criar es condiço€s PaÍr que a reciprocidadc entÍe os interlocutores: quando comprcendo
pessoa se sinta à lontade para fiJa.r livremente com cle, c ele profundamcnte alguém, âlém d€ eu mesmo me âbrir pârâ
tamMm se sinta vontâde com aquela pessoa. Por se tratar de
à
possibilidades novas de signiíicado vivido (e para as
uma situaçao especíÍica, ao mesmo t€mPo em que ele disPôe o üansfoÍmeções que isso possx acarrctaÍ em minÀa própÍia
local da melhor forma possível e conveÍsâ com â P€ssoa, elejá
úda), algo novo está prcstes â aconteceÍ no outÍo, pois ele se
proorm compÍeender â eIa, os motirrcs que a trouxeram ali, sente ouvido epode darandâmento aseu Processo inrerior.
àquilo que ela veio dizer.
matâÍ sue pópÍi. curiosidadc (o quc já distenciâ dâ comPrc- rclação pcssoal quc sc frcilita o processo da pcssoa, E sc o
3)Dizrr uma pelavre quc feçe pcnsar - ncm scmprc outrr sc escondc). Uma rclaçâo técúca podc scr útil, scm
é prechodiuruma palawa quc fâçâ P€nsrÍ. PoressÀ rizlo,
dúvidâ, mas é limitâda cm scu alcancc. Ume psicotcmpiâ é
dircção aoscu crcscimanto, Mas, como dissc, às vazrs, uma Tcmos, cntio, gcstos c palavras quc ecolhcm, gcstos
c palawas quc eqrrcssam a compÍecnsão; gcstos e pr.lar,Ías
pahvra instigadoíâ da âutocomPrccnsão em um nívcl mds
profundo podc scr bem-üod.. Essr Palâvrr, PoÍém, ou cstá quc suscihm um qucstionâmcnto ou um pcnsamcnto
fundade no ecollrimcnto c n. comPÍccnsão, ou só .tnp.lh. difcrentc no clicntc, O quc Rogers tcm a vcr com isso?
Àt.uolldiní,\IIATUZa ó7
I
A contribuição mâis importante de Rogers foi ter pessoa quc tem uma atitude desfavorável à dança. A atitude
formulado essas teoÍias não €m teÍmos de tétnica\ está em um plâno mak recuado que o ato. Em um plano
tcÍâpêuticâs, mâs em teÍmos de dkPatEão. Ele rctira a ainda mais recuado, dando suporte às aritudes, cstio os
r€flexão sobÍc o que é melhor, para faciliw o processo valores. Por isso, dissemos no capítulo anteriorquc â ACP
teÍâpêuticode umâpessoâ, do plano dos atos pâdronizâdos propõe valores e não atos determinados. Mas valores
ou dâs técnicâs, e â leva pârâ o plÂno dâs atitudes ou possuidos, náo somente declarados. Valores que Icvam a
disposiçôes pessôâisdô teÍâpeuta. Pâía cle, o importante na rto. cspecíÍicos variando de acordo com âs si(uÀçõe".
relâção terâpêutica nâo é o que o teÍapeutâ fa4 ele procurÀ Transpondo r discussáo para as âtitudes, RogcÍs cstava
as raízes desse fazer e nos conüdâ a pensaÍ nelâs. Isso tem dizendo quc a qualidade humarado terapeuta (no caso, do
Corrcndoorisco de sermalentendido, diíamos que, especíÂcos. Isso livra o terapeuta de atos padronizados, mas
segundo o pensamento de Roçrs, náo importa o que o lhe traz uma responsabilidade muito grande.
terapeuta faça, o que importa são suas Íeâis disposiçôcs. E A trânsposição da discussao do plano dâs ações
certamente podeÍíâmos estender isso aos dois sentidos de específicas (ou condutâs terapêuticÀs recomendâdas) pâra o
terapeuta: o profissional que âcompanhee o cliente que €stá plano das predisposiçóes pessoais do terapeuta, também
cúdando dc si próprio. Rogcrs chamavâ essas disPosiçôcs desloca a ênfase de uma relâção técnica paÍe umâ rclação
de 'atitudes". Essâ palavrâ não tem âqui o significado que humâna. EmboÍâissosó tenhasido teorizadomais tarde na
tcm em português corr€nte. Dm nossa linguagcm comum, evoluçáo do pensamento acerca da ACP (como visto no
"tomar uma atitude" signi fica tomaÍ uma decisão, agt. Não capítulo ânterior), é possível veÍ nes pÍimeiÍas formulações
é nesse sentido que RogeÍs fala de âtitudes, mâs no sentido de Rogers, essa semente. Na verdade, não sâo determinados
técnico que essa pala\Ta tem em psicologia. 'Atitude" atos especíÍicos do psicólogo que sâo terapêuticos, mâs â
refeÍe-se a uma pÍedisposição. PoÍ excmplo, qurndo digo qualidade humana da relaçeo oferecida por ele. E essa
"tcnho uma atitude favoÍável ao esportc", isso significa que qualidade depende das predisposiçôes das pcssoas no
penso freque ntemente em csporte,gostodo esportee tcnho cncontro, E Buber (I972. 1989) quem deixa isso muiro
umâ tendênciâ a praticer elgum esporte. Coisa semelhante claro. O serhumanoé um serde relaçâo, e é n€sse contcxto
âcontcce com uma âtitude dcsfavorável. Por excmplo: que ele sc dcsenvolve. A terapia ÍecÍie esse contexto.
quem não gosta de dançar, não entende de dança e, Estando isso daro, podemos pergunteÍ: dc quâis
cÍerivamente, nlo faz isso nun( r ou quasc nunca, é uma .rtitudes (predisposiçôes) falar,,a Rogcrs? Pois bem, ,.rs três
foc.sc clc mcsmo, penrrcrc scnú o mundo como clc o O pl.ntio psicolótico é um1 mod.lidâdc dc
sanac, Ê nrdâr nc§§a mullô com de. O tcraPctru rto atendimcnto difercntc da.pcicotÊrrpia. O quc o .ânc1ÊÍiza é o
a disposiçâo dc mcrgulhar ncssc mundo porque fato de elc ser um enconEo único (excepcionalmêntc com um
ecrdita no uebr de comunhão humena e qucr corrcr ou dois retomos) c que acontccc no mesmo momcnto cú quc
cssc riso. Éo qrr Rogcts dremarr dc crnpatie. Com e pesscr prccun zjudz.
Qanô cle ócge proctrzndo ajuda já
o tcmpo, o póprio dicntc dcscNDlvc umr cmPlti. é atendida. Nào há ug.ndamcnto. A diêÍcoça cstá, pois, no
consigo pópÍio c trmbcm com o terÀP€ut c com enquadre onemo que pÍooir tira! proveito do nromento
ortrzs pcssors dc scu rclacionarncnto- motil-rcion.l de pcssoa- Contuô, no quc diz rcspeiro às
. do dizcr ume pdevre quc feçe pcnsar, àndo-lhc di?o6içôcs do tcrapÉurÀ náo há mud:nçe dguma- Tzlvrz cssc
suportc, dci]ando que cssa pelevre teúa scu solo cnquadrc diíerencirdo cric situâçõ€s pópri.s. Mas â rcrçào do
72 ROCER§:éiicrhuolni{icpsic.t"r"pl, 73
I
c Essas considerâções que Íizemos, valcndo-nos da
facilitação do t€râpeute em rclrção âo briocar liwe à
cxprcssividede assim promovida. Ele cria condiçôcs, ludoterapia, podem, scm dúúda, sc estcnder a outras
formas de terapia, até mcsmo com adultos. Há espaço para
p€rmite c acolhc o bÍincer. Em um scgundo nível, PoÍém,
clc rcspondc no intcrior do bÍinceÍ, isto é, brincandoiunto. sc pcnsâÍ, inspiràrdo-sc nr ÂCP, .rn uma tcrapia pclâ ânc,
Essas rcspostas pod€m ser d. comPÍeensáo, csPclhândo, pele expressâo corporal, com â utilizaçâo de cenas
(dramatização), de movimentos, de música, de brinquedos,
vcrbâlmente e por atos lúdicos, os gestos da criânça, e
âté mesmo com adultos. Mas, é cleío, é necessário que o
pod.m corrcspoodeÍ trmbém ao teÍceiro pé do tripé (o
proffssional tenha um dominio dessas formas cxpressivas.
'dizer uma palawa que faça pcnsar") quando ele participa
mâis ativimcnte da constÍução do brincâÍ nâ linhe do que â PoÍ outro lxdo, mesmo cm uma tarâpiâ exclusivamcntc
cÍirnçe qucr fazer, possibilitando uma ãmPliâçio dâ veÍbel com adultos, há ümites (como, por cremplo, o
cxprcssiüdadc solicitrndo Posicionâmêntos PeÍânte âs respcito aos hoÍáios estabclccidos ctc.) c clcs podem ter
uma importâncir t€Íapéuticâ.
situaçôcs novzs que vâo suÍgindo no desenrol.Í da
brincedcira. Partimos da psicoterapia de adultos quc ocorre no
siüdrdc. Esscs timitÊs devcm scÍ Poucos, mas fiÍmcs ludotcrapie. Vejemos rgora o quc sc ecÍcsc.nta na
(bâsicâÍncnte aqueles quc ptotÊgÊm e intcgridadc ffsica da comprccnsão da psicotcrâpi. com . prática dos gnrpos. Na
pópria cÍiânçâ, do terÀp€ute c do âmbiente, coÍno, Por situição gnrpal os diveÍsos prÍticipentes sc relacionam
cxcmplo, náo peÍmitir fcrimentos nem a dcstruiçâo cnlrc si c isso é importantc tânto para as pessoâs
â (xpressão dc s€ntimento§, quai§qucr quc s€jem ele§. Assim, vezes, um pirticipânte diz coisas múto signiÍicativas para
quando o tcrap€utâ lida com os limites com basc ncsses outro. Rogrrs âcÍediteva no potêncial de cÍescimcnto
plincípios e em hÀÍmonia com os \ralotes básicos c com âs contido ei. Isso 'alaÍga' as funçõcs do têrâpeuta, Elc será
também um facilitador da comunicação interna no grupo.
atitudes da ACP, o que ocorÍe em rclaçeo âos PóPrios limites
podc sê tomaÍ teraÉutico, ou sêjâ, Promotor do encontro da
lsso quer dizer que o tcnpeutâ, nessâ situaçâo, náo
nív.l mais profundo respondc apcnas à pessoas do grupo, indiúdualmcnte, mas
cÍiâflça com ela pópda em um c,
Íesponde tãmMm ao grupo como um todo ou cm partes
ponanto, faciütador do descnvolvimcnto.
dcle.
M.úro Àl.n'n' 75
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Transpoodo css. situÀção pârÀ o atcndimcnto comunitÍio (o6cina), é bcm difcrcntc dc tnbalhar es rtlaçõcs
indiúduú deveríamos cotcndcr (como faz Wood, 1983, e as iniciatiyas no interior de umâ comunidÂdê já constituídâ,
por cxcmplo), quc mcsmo ncssc caso estamos dientc dc um no local ondc cla se cncontra (trabrlho comunitario). Â
grupo, pois estão âli duas Pessoâs coÂveÍsando e nâo oflcine podc ser um inst mento de tnbalho comunitário,
soment€ umâ (um gnrpo dual). O que se aprcndeu no ccrtamcnta, mas nem sempÍe cla é Pcnsâda dessr forma. No
atcndim.nto teÍapêutico êm grupos GÍupos dc cncontro c entânto, é possíiêl desenvolver um tràbâlho comunitáÍio
psicoterepia dc gmpo) aplica-sc aqui. O terapeuta, e.lém dc promowndo o6cinas.
cs!a! ccntlldo no ücntê quc tcm draflte de si, PÍccisa N.ssâs situações, há algümas noúdades cm Íelaçro à
taIn*m pÍestâr lt€nção no próprio desenÍolaÍ da rclÂçio, psicotcÍapia trâdicional. Uma dclas é o trabalho dc
isto é, no grupo qu. está ocorÍêndo entÍe ele € a P€ssoa quc o
PÍomo,o.r ofrcina e ?rorrr o âmbicnte des condiçôcs fsicâs
^
procúrou, e tem como tâÍcfa facilitar essa comunicaçâo. adequadas ao seu bom funcionemcnto. Álém disso, há o
Contudo, isso tembém dccoÍÍc dos rzlores centrais da Íeb ho d. onddar os peÍricip ntcs, Prcrnour, convidar.
ACP: respeito ao quc c6tá acontecendo PrIâ além dc um sâo atividadcs que pod.m scr feitrs com bâse em ume
/rro.r
êr(ccssivo dcsejo dc contÍolc. Iso dará e cssas atiúdadcs
abordagcm ccntreda na pessoa.
Gostrrie dc tcrminar csse câPítulo reÍl€tindo sobíc rs
um cunho pÍóprio, difercntc, por .acmplo, dc form.s
oÍicinâs e os trrbdhos comunhários. Podemos entendcr Por intêÍcssêiÍâs dc fazcÍ isso. ExempliÍicando: a promoçao dc
"offcina" um grupo dc eebdho clrjo obj€tivo imcdiato não é uma oficine como mêio, mais ou mênos camuflado, dc
naccssâÍiemeote o dêscnvolvimento Psicoló8ico ou e
propaganda polttica, autopÍomoção ou gânho finânceiro.
psicotêrÀpiâ, cmborâ possa ter cfeitos tsâPêuticos. Seriâm Promovcruma oÍicina de modo ccntrado na pessoa é fazcr
o<emplos: oÂciaa de oiatiüdrde em âÍte ou cm aÍcsanâto isso baseando-sc oâs nêcessidâdes da comunidadc. É
(ofcina de dança, dc bordado, de o(Pressão atística plistica, possívcl, cüdcntcmcnte, genhar dinhciro, mes nâo é isso
dc ct ioáÍiâ etc), o6cina dc comunidade (cnpcrimcnto quc comanda a atiüdade se ela for guieda pelos rzlorcs de
comuoitíÍio intensivo), o6cim de produçao de rcnda etc. ACP. Ou scja, há um modo pÍóprio dc pÍomover uml
Essas o6cirus se constitucm como oqÉrimeotos rtlíti\âmcn- o6cina, conüdar es pessoes c provcr o ambientc das
te à parte da úda corrcntc de pessoa. Já os trabalho§ condiçôcs faciütÀdoÍas quândo o promotor está oíentâdo
comunitáÍios aconteccm nr vidâ comum corr€nte dâ pessoa, pela ACP. O trabalho pressupóe umâ equipe coesâ em
onde elrs morrm ou pissâm a morar. Reunt pessoas por torno dc det.rminados objctivos, quc tcnha um contato
elgúns dias ou periodicâm.nt€ Pâra um exPcÍimcnto vivo com ume população, quc, uma vcz dc6nida a o6cina,
explique com clâÍeza â qu€ €stá conüdando âs pessoâs, que instituição, ou esii fâze ndo uma pesquisa, por exemplo. Além
respeite a liberdade e o movimento próprio da comunidade, disso, ele carrega estereótipos, preconceitos e interesses ligados
que o ambiente e âs condições ffsicas náo imponhâm ritmos às suas origens. Esses pressupostos precisam ser pensados para
e modos coercitivos etc. que o trabalho possâ se desenvoh,Er em purezâ (como dtia
Promover, convidar e pÍover sáo coisÀs que Husserl), em uma especie de reduçáo fenomenoligica. No
acontecem também no âmbito de umâ psicoterâpia e o atual mundo pós-modemo, essâ situação passa â seÍ típica.
terâpeuta pÍecisa teÍ pensado isso. Caso contrário, tais fatos Neo há muitâs estruturâs sobre as quais se apoiar quando
acontecem valendo-se dos modelos tradicionais dos quais queremos que o tsabalho sejâ baseâdo nâ autenticidâde dâs
nem semPÍe nos damos conte, e que Podem ser contrários Íelâções. O psicólogo precisa entrar na úda da comunidade
aos valôres humanos. mm aqullo que ele é como pessoa. E consmrir tudo a partt
O que o trabalho comunjtáÍio úâz de novo i que, daí. Mesmo que haja erpectatiws, o trabalho comuritrário não
muitas \,ezes, o proÍissional náo é procuÍado em seu espâço se apoia sobre elas. Nlo há nada mais contrário à ACP do que
pelâ comunidade, mâs ele sâi de seu espaço e é elê quem se aPresentaÍ de modo muito humano e afável e logo começar
situação previâmente deffnida em relação a ele na sua Podemos agora voltr para a siruaçâo de psicoterapia e
especificidade. Nesses casos, o psicólogo e uma pessoa dizer: também aqu;. algo paÍecido âconrece. se nos oÍienrar-
comum, que, sem neflhumâ cârtâ de âpresentÀçáo, busca uma mos pelos vâloÍes dâ ACP. Também na psicoterapia har,eÍli
âpíoximação com umâ comunidade, por sua prdpria conra e uma di".oluçào do poder baserdo em papeist e uma
risco. Cabe a ele criar relaçoes náo baseando-se em uma concentÍaçáo no podeÍ dâ pessoa. Poder das pessoas, úás, que
defiflição pÍéviâ de pâpéis, mas em sua p€ssoa, inicialmente começa a se descobrir no Íespeito mútuo e na abertura.
deÍiniçôes. Por contraste, elâ mosta onde deve estaÍ o apoio: A ACP é basicamente uma postura ética, umâ éticâ
ne pessoa e não nos pâpéis investidos. Ao menos caso se humana. Ela se aplica a vários campos de atividade.
queira deixar orientar pelos valores da ACP. Na maioria das Potencialmente, todos aqueles que envolvem relações dos
vezes, o âgente comunitíÍio mo llai tâo despÍoüdo; frequên- seÍes humânos. O trabalho do psicólogo é um desses
campos, mas não é o único. DentÍo desse câmpo €specÍllco comportamentor oem a situação, nem o modo de
d€stâcâmos â PsicoteraPiâ. comunicaçáo. Somente as predisposições. Isso também
A ACP se aplicâ à psicoteÍapiâ acreditando no sigdfica que, com base nessas predlsposições, que incluem
apreço pela pe"soa, por acreditar em uma comunicaçào p'icologo orie ntado pe)a abordage m cenrradana pe*oa sejr
profunda, compreensivâ, e também em uma relação que apÍopriaÍ-se de autênticos wloÍes humanos, o que pres-
supôe intenso trabalho pessoal de autoconstruçâo ética.
seja aberta, real e não bâseada em papéis predefinidos.
o psicólogo âproveitâ o mo- Rogers eo moümento iniciado por ele apontam para
Com essas atitudes,
mento presente da pessoa que o procura, concentrardo-se
em sua motivâçáo. Normalmente, ele úâbâlhr em uma
interaçào verbâl, mas sabe que existem ouúos meios ou
instrumentos de comunicação possíveis. Também câbe â