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ED U A RD O M O U R Ã O VASCONCELOS
s três v o lu m e s in ic ia is d esta c o le tâ n e a s ã o r e s u lta d o s
O d e u m tr a b a lh o s is te m á tic o q u e já f a z d e z a n o s . In
c lu i o e x a m e d a c o le ç ã o d e c in q u e n t a v o lu m e s d e o b r a s
c o m p le ta s d e M a r x -E n g e ls, a p e s q u is a e m s e u s p r in c ip a is
centros d e d o cu m en ta çã o , o In tern a tio n a l In stitu te o f Social
H istory, em A m sterd a m , e a K arl-M arx-H au s, e m T rier, A le
m a n h a , a c id a d e n atal d e M a r x . R eto m a ta m b é m u m a
vasta b ib lio g r a fia h is tó r ic a e te ó r ic a d a s id e ia s p s ic o ló g i
cas na E u rop a e d e c o m e n t a d o r e s d e n t r o e fo r a d o m a r x is
m o . S eu o b j e t o d e e s t u d o , a s u b je tiv id a d e h u m a n a , é r e c o
n h e c id o c o m o te m a p o u c o d e s e n v o lv id o o u i n t e n c i o n a l
m e n te r e je ita d o e n tr e o s m a r x ista s, e su a a b o r d a g e m n a s
v á ria s e x p e r iê n c ia s d e s o c ia lis m o rea l fo i c e r c a d a d e e q u í
v o c o s. L ogo a p ó s o se u d e s m o r o n a m e n t o q u a s e in te g r a l
n o fin a l d a d é c a d a d e 1980, e s b o ç o u - s e u m a p e r p le x id a d e
e u m in íc io d e r e fle x ã o s o b r e a s p o s s ív e is r a z o e s d e s te s
p r o b le m a s . N o e n ta n to , n a q u e le m e s m o m o m e n t o , a lu ta
co n tra o n e o lib e r a lis m o e x i g iu d e t o d o s n ó s d a e s q u e r d a ,
cer ra r file ir a s n a s d e n ú n c ia s d e su a s m a z e la s e na c e n tr a -
lid a d c in c o n to r n á v e l d o m a r x is m o n e s ta l u l a . A s s im , esta
r e v isã o te ó r ic a e h istó r ic a in te r n a a o m a r x is m o , a p e n a s
in ic ia d o p o r s e u s a u to r e s m a is f le x ív e is , a c a b o u s o f r e n d o
u m a d ia m e n to . C o n tu d o , e la é f u n d a m e n t a l p a ra q u e
p o s sa m o s ir m a is a lé m d e n ossa já c o n h e c id a c a p a c id a d e
d e critica r o statu s quo, p a ra p o d e r c o n s t r u ir p o s it iv a m e n
t e , n a t e o r ia e n a p rá tica , a s b a ses c o n t r a - h e g e m ó n ic a s d e
u m a s o c ie d a d e m a is ju sta , s o lid á r ia e t a m b é m p lu r a lis ta e
d e m o c r á tic a , d e s d e já . Esta c o le tâ n e a v e m e x a ta m e n te c o n
tr ib u ir p ara esta r e to m a d a , n o c a m p o p a r tic u la r d a s u b j e
tiv id a d e h u m a n a . Este s e g u n d o v o lu m e faz u m a r e v isã o da
h istó ria d a s id é ia s p s ic o ló g ic a s na E uropa a té 1S^O, p r iv ile
g ia n d o o s a u to r e s e o b r a s q u e fo ra m refe rên cia 11a fo rm a çã o
e in te r lo c u ç ã o d e M a rx .
C a pa ; Mariana N ada.
S A Ú D E L O U C U R A (T E X T O S ) 32
direção de
A n tô n io L an cetti
de E duardo M o u rào Vasconcelos
na E d ito ra H ucitec
Reinventando a vida: narrativas de recuperação
e convivência com o transtorno m ental (org.)
Podem os ser curadores, mas sem pre. . . tam bém feridos! dor, envelh ecim en to e
m orte c suas im plicações pessoais, políticas e sociais. In: E y m ard M . Vasconcelos
(org.). A espiritualidade no trabalho em saúde
Abordagens psicossociais I — história, teoria e trabalho no campo
Abordagens psicossociais I I — reforma psiquiátrica e saúde mental
na ótica da cultura e das lutas populares (org.)
Abordagens psicossociais I I I — perspectivas para o serviço social (org.)
M arx e a subjetividade humana
1. a trajetória das ideias e conceitos nos textos teóricos
M arx e a subjetividade humana
2. uma história das ideias psicológicas na Europa até 1850
M arx e a subjetividade humana
3. balanço de contribuições e questões teóricas para debate
E d u a rd o M o u rã o Vasconcelos
Karl Marx
ea
Subjetividade Humana
volume 2
U M A H IST Ó R IA DAS ID E IA S
PSICOLÓGICAS N A EUROPA
ATÉ 1850
E D IT O R A H U C IT E C
S ã o P a u lo , 2 0 1 0
© 2010, de Eduardo M ourâo Vasconcelos.
Direitos de publicação reservados por
Aderaldo ôc Rothschild Editores Ltda.,
Rua Senador Feijó, 176, conj. 701
01006-000 São Paulo, Brasil
T el: (55 11) 3637-9641
www.huciteceditora.com.br
lerereler@hucitec.com.br
Coordenação editorial
M a ri ana N ada
Assistente editorial
M ariangela G iannella
ISBN : 978-85-7970-048-4
SUMÁRIO
C apítulo 1
I n tr o d u ç ã o ao s e g u n d o v o lu m e d a c o le tâ n e a . . 13
C apítulo 2
A h e ra n ç a d e d ilem as h istó ric o s e filo só fico s n a s c o n ce p çõ es
d e s u b je tiv id a d e h u m a n a n a I d a d e C lá ss ic a e M o d e r n a . 23
2 .1 . R a c io n a lid a d e g re g a e a lo n g a h e ra n ç a d u a lis ta e n tre
n a tu re z a /c o rp o e p e n s a m e n to /ra z ã o , e su a re ite ra ç ã o n a m o
d e r n id a d e . . . . . . . . 2 3
2 .2 . A e m e rg ê n c ia d e u m a n o v a co n ce p ção d e su je ito e d e
s u b je tiv id a d e no R e n a s c im e n to e n a m o d e rn id a d e . . 25
C apítulo 3
A lg u m a s c o n trib u iç õ e s p r é - ilu m in is ta s im p o r ta n te s p a r a
a c o n fo rm a ç ã o d a s id e ia s p sic o ló g ic a s n a Id a d e M o d e r n a 29
3 .1 . A “in v e n ção d o su je ito h u m a n o c o m p le x o ” e d a “d i
m e n sã o p sico ló g ica m o d e rn a ” n a lite ra tu ra , p o r S h ak esp eare 29
3 .2 . O s ru d im e n to s d a id e ia e d o fu n c io n a m e n to d o in
c o n sc ie n te n a filosofia m o ra l e n a m e ta físic a d o sécu lo X V II 34
3 .3 . U m a c o n c e p ç ã o in te g ra d a e m o n ista d e c o rp o e alm a, e
u m esb o ço das ideias d e in c o n scien te e s in to m a, e m E sp in o sa. 39
3 .4 . U m o u tro esb o ç o d a id e ia d e in c o n sc ie n te , e m L e ib n iz 42
Sum ário | 7
Capítulo 4
O m a terialism o ilu m in ista fra n c ê s e su a p s ic o lo g ia s e n s a -
cio n ista dc b ase e m p iris ta . . . . . 4 5
4.1. A psicologia d e C o n d illa c c o m o p rin c ip a l m a tr iz d a
psicologia ilu m in ista e rev o lu c io n ária fran cesa . . 45
4.2. U m d e sd o b ra m e n to c e n tra l d o sen sacio n ism o : P h ilip p e
P inei, a em erg ên cia d a p siq u ia tria m o d e rn a e o tr a ta m e n to
m o r a l. . . . . . . . . 5 4
Capítulo 5
O m o v im e n to ro m â n tic o e su as im p lic a ç õ e s n a s id e ia s p s i
co ló g icas . . . . . . . . 6 3
5.1. C o n te x to h istó ric o , c ara cterísticas e p rin c ip a is te n d ê n
cias n a E u ro p a . . . . . . . 6 3
5.1.1. A em ergên cia d o c ap italism o e suás rep ercu ssõ es so cio -
cu ltu rais . . . . . . . . 6 3
5.1.2. As p rin cip ais cara cterísticas d a reação e d a c rític a r o
m ân tica na E u ro p a . . . . . . . 6 4
5.1.3. As d ifere n tes tra d iç õ e s ro m â n tic a s, d o p o n to d e v ista
p o lítico . . . . . . . . 6 9
5.2. R ousseau e suas id eias p sico ló g icas: o u so d a im a g in a
ção para fins p o sitiv o s e p a ra o c o n h e c im e n to d e si, seus
p o n to s positivos e suas d ific u ld a d e s . . . . 7 3
5.3. O ro m a n tism o a lem ão . . . . . 7 9
5.3.1. C o n te x tu a liz a ç ã o h istó ric a . . . . 7 9
5.3.2. C arac terísticas p rin c ip a is d o m o v im e n to r o m â n tic o
alem ão, na d ireç ão d e u m a h is tó ria d as id eias p sic o ló g ic a s . 82
5.3.3. G o eth e: o e sp írito ro m â n tic o , a te n sã o p e r m a n e n te
dos opostos, as forças có sm icas d o desejo , e o ro m a n c e d e
form ação (B ildungsrom an) . . . . . 8 6
5.3 .3 .1 . G o e th e e su b jetiv id a d e: alg u n s tra ç o s m a is g erais
de sua obra, in c lu in d o o Fausto . . . . . 8 8
5.3 .3 .2 . Os anos de aprendizagem de W ilkelm A/Ieister e o r o
m an ce de fo rm a ç ã o (B ild u n g sro m a n ) . . . 92
5.3 .4 . G . H . S c h u b e rt, a sim b ó lic a d o s o n h o e o e sb o ç o d e
u m a m etap sico lo g ia . . . . . . 9 9
8 | Sum ário
i
5 .3 .5 . K arl G u s ta v C a ru s e o r e c o n h e c im e n to e x p líc ito da
e x istê n c ia d o in c o n sc ie n te e d e su a d in â m ic a m e ta p s ic o ló -
gica • » • • ■ • • . . 1 0 2
5 .3 .6 . O b se rv a ç õ e s fin a is so b re o ro m a n tis m o a le m ã o e suas
im p lic a ç õ e s n o c a m p o d a su b je tiv id a d e . . . 107
C apítulo 6
A c o n tra p o s iç ã o ra c io n a lis ta e d ia lé tic a : as id e ia s p s ic o ló
g ic a s n a o b ra d e H e g e l . . . . . . 1 1 3
6 .1 . A d v e rtê n c ia s m e to d o ló g ic a s p re lim in a re s . . 113
6 .2 . A lg u m a s n o ta s in tro d u tó ria s so b re a re la ç ã o e n tre a
v id a e a o b ra d e H e g e l e o c a m p o d as id e ias p sico ló g icas . 115
6 .3 . A F enom enologia do esp írito . . . . . 1 2 0
6.4. A Enciclopédia das ciênciasfilosóficas e su a seção so b re a
alm a . . . . . . . . . 1 3 3
C apítulo 7
A c rític a d o id e a lis m o r a c io n a lis ta a le m ã o a n te s d e M a rx :
p r e c u r s o r e s ( S c h o p e n h a u e r e K ie r k e g a a r d ) e F e u e r b a c h ,
c o m s u a a n á lis e d a a lie n a ç ã o re lig io s a . . . 1 4 5
7.1. P re c u rs o re s d a c rític a ao ra c io n a lis m o h e g e lia n o : S c h o
p e n h a u e r e K ie rk e g a a rd . . . . . . 1 4 5
7 .1 .1 . S c h o p e n h a u e r . . . . . . 1 4 5
7 .1 .2 . K ie r k e g a a r d . . . . . . . 147
7 .2 . F e u e rb a c h e o c o n te x to m a is g e ra l d e su a v id a e o b ra . 1 4 9
7.3. O c o n te x to e a sig n ificaçã o m a is g e ra l d e A essência do
cristianism o . . . . . . . . 1 5 0
7 .4 . A s p rin c ip a is p ro p o siç õ e s d e A essência do cristianism o
n o c a m p o p sic o ló g ic o . . . . . . 1 5 3
7 .4 .1 . O s a rg u m e n to s e teses c e n tra is d o livro . . 154
7 .4 .2 . O p r im e ir o m o v im e n t o : o s e r h u m a n o c su a c liv a g e m
e s s e n c ia l . . . . . . . . 1 5 5
7 .4 .3 . O s e g u n d o m o v im e n to : a o b je tiv a ç ã o e p ro je ç ã o da
e ssê n c ia e m u m O u tr o . . . . . . 1 5 7
7 .4 .4 . O te rc e iro m o v im e n to : a in v e rsã o s u je ito -o b je to e n
tre o s e r h u m a n o e o O u tr o p ro je ta d o , c o m o n eg aç ão e e m
p o b re c im e n to d a s ca ra c te rístic a s h u m a n a s . . . 1 5 8
Sum ário | 9
7.4.5. O q u a rto m o v im en to : a d ia lética d o d esejo e d o im a
g inário, co m o p ro d u ç ã o p o sitiv a d e realid ad es s ó c io -h is tó
ricas e psicológicas . . . . . . . 1 6 0
7.4.6. O q u in to m o v im e n to : o p ro cesso d e d e sa lie n a ç ã o ,
com o rec o n h e c im e n to d a p ro jeç ão e d as cara c te rístic a s p s i
cológicas e an tro p o ló g icas d a essên cia h u m a n a . . 161
7.5. A lg u m a s o b serv açõ es c rític a s fin a is so b re a o b ra d e
F euerbach . . . . . . . . 1 6 4
Capítulo 8
C o n sid e ra ç õ e s fin a is d o v o lu m e . . . . 1 6 9
R e fe rê n c ia s . . . . . . . . 1 7 3
S um ário dos vo lu m es d a c o le tâ n e a já la n ç a d o s o u e m p r o
cesso de p u b licação . . . . . 181
I O | Sum ário
A h o ra é d e sa b e r a h is tó ria , é d e d e s a b e r a h is tó ria , é d e
a m á -la e m seus desvios
e e m seu lo n g o e le n to cu rso a a lte rn a r-s e e n tre v erõ es e
in v e rn o s.
A h o ra é d e o lh a r as raízes d o h o m e m e m c a d a h o ra
— a su a v e g e ta l p ro fu n d id a d e d e m ilén io s, a su a a lm a
m in e ra l e n tre as estrelas —
e o seu tra n s fo rm a r-s e , d e g ra u p o r d e g rau , n a escad a ria
d o s te m p o s
e m q u e ele é o q u e n ão era, sem p re se to m a n d o em o u tro
lib e rta d o d ele p ró p rio , m istu ra d e alegrias e triste z a s,
m o rte e vida.
D e s e ja r n ã o serve ao h o m e m se a esp essu ra d o real n ã o é
a su a h is tó ria e n q u a n to lib e rd a d e tra n s fo rm a d a e m
c o rp o . A h o ra
é d e fa z e r o q u e n u n c a d eix o u d e fazer q u e m é p o e ta :
o u v ir d e ca d a co isa o g rito a p risio n ad o
d a q u e le q u e a fez sem te r se q u e r p o r p ag a
a s o m b ra d e u m d o m in g o q u e valesse a p en a.
E s te é o o ficio d a m ã o q u e escreve o te m p o e as av en id as
s a b e n d o -o s c o m o o ro s to d e d eu s a esfacelar-se
e m ex p lo sõ es d e a m o r e em lib e rd a d e in fin d a .
T re c h o s d o p o e m a “O tex to ”, d e M o a c y r F élix , p o e ta e
m ilita n te socialista, falecido em 2 0 0 5 . In : E m nom e da
v id a , R io d e Janeiro: C ivilização B rasileira, 1 981, p. 1 3 6 ).
C ap ítu lo I
In t ro d u ç ã o ao Segund o Volum e
da coletânea
O s o lh o s , p o r e n q u a n to , são a p o r ta d o
e n g a n o ; d u v id e d e le s, do s seu s, n ã o d e
m im . A h , m e u a m ig o , a esp écie h u m a n a
p e le ja p a ra im p o r a o la te ja n te m u n d o u m
p o u c o d e r o tin a e ló g ic a, m a s a lg o o u a l
g u é m d e tu d o fa z trin c h a p a ra r ir- s e d a
g e n te . . . E e n tã o ?
— J oào G uimarães R osa1
E s te v o lu m e c o n s titu i o s e g u n d o d e u m a série m a is lo n g a ,
c o m p o n d o u m e s tu d o m a is a m p lo so b re as co n ce p çõ es d e K arl
M a rx s o b re a su b je tiv id a d e h u m a n a . É p o ssível se in ic ia r a le itu ra
d a c o le tâ n e a p o r e s te v o lu m e , p a rtic u la rm e n te p a ra aqueles in te
ressad o s ap en a s n o c a m p o d a h is tó ria d as id eias p sico ló g icas, m a s o
le ito r cu jo in te re s se m a is fu n d a m e n ta l está n o d e b a te m a rx ista s o
b re o te m a , d ev e p r o c u r a r in s e rir a le itu ra d o p re s e n te to m o n a
se q u ê n c ia d o s d e m a is.
A te s e d e f u n d o q u e in s p ir a o c o n ju n to d a c o le tâ n e a é a q u e
já ex p u se m o s c o m m a is d e ta lh e s n a a p re se n ta ç ã o d o p rim e iro v o lu
m e, já d iv u lg ad o : o m a rx is m o c o n s titu i se m d ú v id a a lg u m a a p r i n
cip a l re fe rê n c ia te ó r ic a e é tic o - p o lític a p a r a a lu ta p e la e m a n c i
p açã o h u m a n a e so c ia l, m a s a p ó s c e rc a d e c e n to e c in q u e n ta a n o s
d e f o r m u la ç ã o in i c ia l d e s u a s id e ia s , e d e v á r ia s e x p e r iê n c ia s
d e rro ta d a s d e s o c ia lis m o re a l, é n e c e ss á rio se a b r ir p a r a u m a re
novação da h era n ça m a r x is ta , u m a v e z q u e a p r ó p r ia r e a lid a d e
h is tó ric a é d in â m ic a e v e m n o s d e s c o r tin a n d o in ú m e r o s o u tr o s
no v o s d e sa fio s e q u e s tõ e s . A lé m d isso , p e n so q u e p a r tic u la r m e n te
n o c a m p o d a s u b je tiv id a d e , p e la s su a s c a r a c te r ís tic a s e s p e c íf i
cas, as d ific u ld a d e s s ã o a in d a m a io re s e m a is c o m p le x a s, n ã o se
ju s tific a n d o a p r e t e n s ã o d e m u ito s c o m p a n h e ir o s m a r x is ta s d e
R io de J a n e iro , ju lh o d e 2 0 0 9
E dua rd o M o u rà o V a sc o n c elo s
P ô r e m foco o te m a d a su b jetiv id ad e, n o c o n te x to d a m o d e rn i
d a d e , re q u e r p e lo m e n o s re le m b ra r d e p ro b le m á tic a s c o m u n s q u e
tê m la s tro m ais a m p lo e p ro fu n d o n a h is tó ria d o O c id e n te , e p a r ti
c u la rm e n te d a re p re s e n ta ç ã o q u e os seres h u m a n o s fa z e m d e si e
de seus a trib u to s , c o m o a racio n alid ad e, o p e n sa m e n to , a co n sciên cia,
e as re la ç õ e s c o m as p aix õ es e e m o ç õ e s, e d e seus d ile m a s b ásico s.
A s p rim e ira s fo rm u laçõ es significativas p a ra n ó s d essa q u e s tã o
fo ram fe ita s n o c o n te x to d a p rim e ira ex p eriên cia d e m o c rá tic a q u e
c o n h e c e m o s , a d a p ó lis (n ó X iç ) g re g a , a p a r tir d o sécu lo I V a. C .
P elo d e sa fio le v a n ta d o p elo p rin c íp io d a ig u a ld ad e e n tre os c id a d ã o s
(d os h o m e n s livres, p o is as m u lh e re s , e stra n g e iro s e escrav o s n ã o
p a rtic ip a v a m d ela), a g estão p o lític a e a d m in istra tiv a d a cid a d e exigia
bases d o c o n h e c im e n to m ais seg u ras e racio n ais p a ra a ação p ú b lic a ,
p a ra a lé m d a re tó ric a d o s so fistas e d as o p in iõ e s, d as se n sa ç õ e s in s
táveis e d o s in teresses p a rtic u la re s, d e fo rm a q u e g a ra n tis se a eficácia
e a c o n tin u id a d e d o e sb o ço d e e x p eriên cia d e m o c rá tic a , c o n tr a os
an seio s reg ressiv o s d o s a to re s in te re ssa d o s n a v o lta d a m o n a rq u ia .
N o lo n g o p e rc u rs o d a h is tó ria d a filo so fia o c id e n ta l, a p e s a r
d as d ife re n te s c o n ce p çõ es, as n o çõ es d e logos (X ó yo q ) g re g a e ra tio
la tin a , q u e e s tã o n a o rig e m d a id é ia m o d e rn a d e ra z ã o , v ã o se
e n c a m in h a n d o p a ra d u a s lin h a s d e sig n ificação : a p r im e ir a , a d a
A subjetivid a d e hum ana na Idade Clássica e na M oderna | 2 3
razão subjetiva, de p en sar e falar orden ad am en te, com clareza e de
m o d o co m p reen siv o para os outros, e a segunda, ligada ao objeto
d o c o n h e c im e n to , de que a realidade do m u n d o é ordenada e p as
sível de u m c o n h ec im e n to racional. O cam po filosófico seria então
o e n c o n tro d estas duas linhas de racionalidade. A ssim , o conheci
m e n to racional, na sua concepção clássica e m oderna, se constrói
p re d o m in a n te m e n te em oposição a q u atro atitudes m entais básicas:
— ao c o n h ec im e n to ilusório, do costum e, das aparências e da
m e ra o p in ião ;
— às em oções, sen tim en to s e paixões;
— à cren ça religiosa e à idéia de co n h ecim en to revelado;
— ao êxtase m ístico e seu ro m p im en to com a consciência.
É b o m relem b rar com um pouco m ais de detalhes com o essa
ex ig ên cia d e racionalid ad e se configurou nas duas tradições p rin ci
pais q u e ch eg am à m odernidade. N a perspectiva racionalista, a linha
d e c o n tin u id a d e q u e vai de P latão a D escartes (1596-1 6 5 0 ) privi
legia as idéias e o p en sam e n to ou com o essências eternas, in co rp ó
reas, tra n sc e n d e n te s, com o em P latão, ou com o atrib u to principal
ta m b é m in a to d o h o m em e base do co nhecim ento racional, in sp i
rad o b asica m en te pelo m odelo da m atem ática, com o em D escartes.
E m am b o s, esses atrib u to s estão em oposição ao corpo, à realidade
d o m u n d o social e natu ral, reiteran d o sem pre um a dualidade radi
cal entre o corpo e a materialidade, de um lado, e de outro, a alma,
pensam ento e razão, dualism o que coloca paradoxos insolúveis para
a co n sid eração dos sen tim en to s, paixões e em oções, que se co n sti
tu e m n o cam p o in term ed iário en tre os dois polos d a dualidade.
P o r sua vez, a tradição em pirista, que tem no inglês Francis
B a c o n ( 1 5 6 1 - 1 6 2 6 ) sua p rincipal m atriz con stitu tiva, q uestionava
o m u n d o das idéias ou a capacidade racional com o atributos inatos e
c o m o fu n d a m e n to seguro d o conhecim ento, e colocava com o base
d o sab er h u m a n o a experiência sensível, que disseca cada p arte da
realid ad e, b u scan d o inspiração no m odelo das ciências físicas e b io
lógicas. N o en tan to , em term os m uito gerais, aqui tam bém a dualida
d e c o rp o /a lm a é recolocada, um a vez que a origem do conhecim ento
b aseado na associação das experiências sensíveis p o r m eio da percep -
çâo, em sua o b je tiv id ad e e din âm ica atom izada, frag m en tad a e m e-
24 | A subjetividade hum ana na Idade Clássica e na M oderna
cânica, n ão era cap az d e fo rn ecer um a explicação adequada aos
fe n ô m e n o s cognitivos, em ocionais e linguísticos mais complexos
dos seres h u m a n o s (ou seja, daq u ilo que os racionalistas cham avam
de alm a), ta m b é m p ara su sten ta r u m pensam ento crítico para além
das co n d içõ es existentes naquele m o m en to histórico, nem de fu n
d a m e n ta r u m co n h ecim en to m ais sistem ático dos fenôm enos u n i
versais, m ais d istan tes d a percepção, com o na física e na m atem áti
ca. A ssim , a concepção m o d e rn a de h o m em repõe essa aporia ou
p arad o x o que atravessa de p o n ta a p o n ta to d a a história da filosofia
e das rep resen taçõ es que o ser h u m an o faz do m u n d o , de si e das
características d e seu co n h ecim en to , de sua psique e seu corpo, e os
vários autores racionalistas ou em piristas posteriores buscarão en
g en d rar tentativas de en cam inham ento e aproximação dos polos deste
paradoxo. N ão custa relem b rar que tal aporia está na base dos p rin
cipais d eb ates p resen tes n a h istó ria das idéias psicológicas desde o
m u n d o grego até a m o d ern id ad e.
É in teressan te recordar, só p ara efeito d e ligação com o volu
m e anterior, de que essa p roblem ática aparece no tex to m arxiano
não p ro p riam en te no cam p o específico das idéias psicológicas, m as
p articu la rm en te n a ab o rd ag em das diferentes m odalidades de alie
nação, em sua o n to lo g ia e p articu larm en te em sua teo ria d o c o n h e
cim en to , n o d ista n ciam en to grad u al que M arx assum e no início
dos anos 1840 em relação ao idealism o alem ão, seu recurso ao m a
terialism o francês, via a sua dialetização, pela in flu ên cia de H eg el,
para chegar à noção d e práxis e de objetivação. N este volum e, vere
m os com o essas e outras várias tradições e autores anteriores a M arx
trafegaram sobre este cam p o “m inado" de dificuldades e deb ates,
para m elh o r p rep arar u m a análise mais rigorosa de com o M arx
construiu seu p en sam e n to no cam p o psicológico.
E cu rio so n o ta r a re la ç ã o d e F re u d c o m S c h o p e n h a u e r, u m a
vez q u e o p rim e iro re c o n h e c e a c o in c id ê n c ia d e su as id e ia s c o m as
de seu p re c e d e n te , m as d e se n v o lv e u m a c la ra e s tra té g ia d e d is ta n
c ia m e n to , a firm a n d o u m a le itu ra a p e n a s ta rd ia , p a ra e v ita r a acusa
ção de e s ta r fa z e n d o filo so fia e n ã o c iê n c ia .2 D e o u tr o la d o , Ju n g
P a r a os in te r e s s a d o s c m b re v e i n t r o d u ç ã o p a n o r â m ic a à v id a e a o p e n s a m e n to
d e S c h o p e n h a u e r , s u g ir o o s t r a b a l h o s d e a p r e s e n t a ç ã o d o a u t o r , d e J a n a w a y (2 0 0 3 ) e
d e B i r n b a c h e r ( 2 0 0 0 ) , q u e s e r v ir a m d e r e f e r ê n c i a p r i n c i p a l p a r a a s p o u c a s lin h a s
a c im a s o b re a o b ra d o a u to r.
2 É in te r e s s a n te r e to m a r e s te t r e c h o d e F r e u d , d e 1 9 2 5 ( U m estu d o a u tobiográ
fico ):
“M e s m o q u a n d o m e a f a s te i d a o b s e r v a ç ã o , e v ite i c u i d a d o s a m e n t e q u a l
q u e r c o n t a t o c o m a f ilo s o f ia p r o p r i a m e n t e d i t a . [. . .] O a l t o g r a u e m q u e a
p sic a n á lise c o in c id e c o m a filo s o fia d e S c h o p e n h a u e r — e le n ã o s o m e n t e afirm a
o d o m ín io d a s e m o ç õ e s e a s u p r e m a im p o r t â n c i a d a s e x u a lid a d e , m a s ta m b é m
estav a a té m e s m o c ô n s c io d o m e c a n is m o d a r e p r e s s ã o — n ã o d e v e s e r re m e tid a
7 .1.2. K ierkegaard
S õ re n A sb y e K ie rk e g a a rd (1 8 1 3 -1 8 5 5 ) n asceu em u m a D i
n a m a rc a a in d a m o n á rq u ic a e te o c ra ta , o n d e o c ristia n ism o ain d a
d itav a in c ó lu m e o c o m p o rta m e n to e as leis m o rais p a ra a p o p u
lação, e era ta m b é m fo rte m e n te m a rc a d a p e la in flu ên cia d o p e n
s a m e n to h e g e lia n o . S ua o b ra , n esse s e n tid o , p o d e ser c o n sid e ra d a
com o u m a reação e crítica ao lu te ra n ism o p ie tista e m oralista im p o sto
p o r sua fa m ília e so cied a d e, n a d ire ç ã o de u m a e sp iritu alid ad e c e n
tra d a n a p rio rid a d e d a ex istên cia p ró p ria d e cad a in d iv id u a lid a d e ,
a m i n h a f a m ilia r id a d e c o m s e u s e n s in a m e n to s . L i S c h o p e n h a u e r m u i t o ta r d e
e m m i n h a v id a ” ( F r e u d [ X X ] , 1 9 2 5 , p p . 7 5 - 6 ) .
E n t r e t a n t o , c o m o n o t a m o s c o m e n t a d o r e s d e s u a s o b ra s s ta n d a r d , h á v á r ia s
re fe rê n c ia s à o b r a d o filó s o fo d e s d e 1 9 1 7 , a té m e s m o a “u m a p a s s a g e m i n t e n s a m e n t e
c o m o v e n te ” e “p a la v ra s d e in e sq u e c ív e l im p re s s iv id a d e ” d e u m tre c h o d e O m u n d o como
vo n ta d e e representação, tr e c h o q u e é ta m b é m r e p r o d u z id o em su as o b ra s c o m p le ta s (in :
F re u d [ X I X ] , 1 9 2 3 - 1 9 2 5 , p . 2 7 7 ) . M e s m o q u e a c r e d ite m o s q u e a le itu r a d o f iló s o f o
p o r F r e u d t e n h a s i d o r e a l m e n t e t a r d i a , J a n a w a y s a l i e n t a q u e “a a t e n ç ã o d a d a a
S c h o p e n h a u e r n a v id a a c a d ê m ic a e c u ltu r a l d u r a n t e esse p e r ío d o fo i u m i m p o r t a n t e
fa to r e m te rm o s d e t o m a r p o ssív e l a o b ra d e F r e u d , q u e r ele te n h a o u n ã o d a d o c o n t a
d is s o ” ( J a n a w a y , 2 0 0 3 , p . 1 5 4 ).
7.1.1. Schopenhauer
7.1.2. Kierkegaard
3O | I d e ia s p s ic o ló g ic a s n a I d a d e C lá s s ic a e n a IV Io d e r n a
p io , traz os elem en to s co sm o ló g ico s d o inferno, da terra e dos céu
na estrutura d o cenário e perm ite que diabos, bruxas e fantasm as
p u d essem subir d o p iso para o palco e tom assem parte ativa da
trama, prefigu ran d o na d in âm ica entre o literal e o m etafórico a
aproxim ação ao in co n scien te que só se concretizará bem m ais tar
d e na cultura europeia;
cl) a exploração d o dram a p sico ló g ico , com o em H a m let, que
sem d úvida algum a situa Shakespeare m u ito à frente de seu tem p o
e das características m ais gerais d o teatro elisabetano e das tragédias
clássicas centradas na revanche às traições na vida m onárquica. Isso
é p articularm ente recon h ecid o por autores con tem p orân eos da p si
co lo g ia , p elo fato d e que id en tificam n o autor a capacidade n e g a ti
v a ou to le râ n c ia d ia lé tic a , ou seja, quan d o o ser h u m an o é capaz dc
aceitar in certezas, con trad ições, dúvidas e m istérios, que só se reve
lam g rad u alm en te, qualidade im prescindível à investigação filo só
fica e cien tífica , ao trabalho artístico e particularm ente à in vestiga
ção d os fe n ô m en o s p sicológicos e à gestão das próprias contradições
e co n flito s na d in âm ica p olítica d em ocrática m oderna.
e) outra faceta da im p ortân cia da d im en são subjetiva e d o
drama p s ic o ló g ic o em Shakespeare está na valorização d o so liló q u io ,
ou seja, d o d iá lo g o c o n sig o m esm o co m o representação da au toex-
ploração p sico ló g ica , q ue ganhava um a posição ccnográfica parti
cular. Q u a n d o o p erson agem expressava seus sen tim en tos e dilem as
m ais ín tim o s, Shakespeare o pun h a n o centro d o p alco central,
perto d o p ú b lico , c o m o se q u isesse que o expectador co n h ecesse
mais d e p erto a p rofu n d id ad e da alm a d esse personagem , ao m e s
m o te m p o q ue criava id en tificações profundas e um a cu m p licid a
de en tre exp ectad or e p erson agem , certam ente c o m o d isp ositivo
para acentuar o efe ito dram ático da peça;
J ) na p ersp ectiva op osta, a ausência de au to co n h ecim en to ou
sabedoria, o u ser p o ssu íd o cega e passivam ente p elos im p u lsos da
paixão (o u p e lo q ue hoje id en tifica m o s c o m o projeções in c o n sc ien
tes', sem u m m ín im o d e p en sa m en to autocrítico e au ton om ia d o
sujeito, o u sem reflexão e escuta d e suas dúvidas, prefigura na trama
o d esfech o d esfavorável, a au tod estru ição e a m orte trágica. E m b o
ra use a estru tura d ram ática das p eças m oralizantes m e d iev a is,
I d e ia s p s ic o ló g ic a s n a I d a d e C lá s s ic a e n a M o d e r n a | 3I
da vida urbana e rural, como produção teatral representada n o r
m alm ente nas feiras e festas populares, e que tam bém incorporava
personagens e elementos do folclore popular. A presença desses
elementos da cultura popular nas obras de Shakespeare é am pla
m ente reconhecida, como tam bém sua relativa au to n o m ia ideoló
gica em relação à nobreza, um a vez que seus textos são recheados
de críticas aos conflitos e tragédias na vida m onárquica.
A representação do sujeito e da subjetividade que em erge da
obra de Shakespeare é bastante complexa e m ultifacetada.1 E n tre
tanto, do ponto de vista de nosso estudo, podem os in d icar os se-
guintes pontos mais relevantes:
2 T d have thee beaten for being old before thy time [. . .] T hou shoudst not
have been old till thou hadst been wise” (Shakespeare, 1987, p. 839). A tradução
deste trecho no texto acima é do autor deste trabalho.
3 Essa observação é im portante, dado que este autor, um dos reconhecidos
críticos literários e estudiosos há décadas da obra shakespeariana, algumas vezes ex
pressa pontos de vista identificados entre seus colegas como polêmicos.
5 Para os interessados em uma visão introdutória sobre este autor, ver o trabalho
de Nascimento (2007), o próprio Shafsterbury (1711/1999) e Jaffro (1998), que
serviram de base para montar essa esquemática apresentação do autor.
14 Estou certo de que aqui Espinosa está esboçando uma formulação da teoria
do inconsciente e da pulsão, bem como de suas implicações éticas, que será inspiradora,
quase duzentos e cinquenta anos depois, da obra de Nietzsche, Deleuze e Guattari.
edição francesa, de 1809, já trouxe muitos acréscimos, que foram trazidos aqui através
da sistematização feita por Pessoti (1996), em O século dos manicômiosy que recomendo
vivamente ao leitor,
— na apresentação feita por Ana Maria G. R. Oda e Paulo Dalgalarrondo para
esta edição;
— na discussão do percurso histórico das ideias e propostas de Pinei no conjun
to do processo revolucionário francês, realizada por Castel (1978).
Para uma referência literária ilustrativa do espírito alienista do século XIX, no
contexto brasileiro, mas bastante representativa das suas representações em todo o
Ocidente, sugiro ao leitor saborear toda a fina crítica irónica de Machado de Assis em
seu conto “O Alienista”.
10 “[O médico] conseguiria traçar todas as alterações ou perversões das funções
do entendimento humano, se não tiver profundamente meditado os escritos de Locke
e de Condillac e se a ele não se tomarem familiares seus princípios?” (Pinei, 1800/2007,
seção I, 99).
por Michael Lõwy ô t Robert Sayre (1993, 1995, bem como Lõwy sozinho, 1990), e
portanto em uma perspectiva bem mais próxima do pensamento marxista. Portanto,
recomendo fortemente estas obras ao leitor interessado cm se aprofundar no assunto.
Para uma avaliação do marxismo de Lõwy, realizada por vários comentadores, principal-
mente marxistas, ver Jinkings ôc Peschanski (2007). Em francês, uma das referências
mais reconhecidas sobre o romantismo alemão é a obra de Ayrault (1961). E para uma
visão histórica mais geral e das várias vertentes filosóficas c estéticas do movimento no
conjunto dos países europeus, em português, sugiro enfaticamente o sério e sistemático
trabalho organizado por J. Guinsburg (2002). Para os leitores interessados em se aprofundar
no tema do romantismo alemão e de suas ligações com as teorias do inconsciente, sugiro
os trabalhos de Andrade (2000) e de Loureiro (2002), que são a meu ver leituras
imprescindíveis em português para o assunto, e que constituíram as fontes centrais na
elaboração das seções abaixo sobre o romantismo alemão e suas ideias psicológicas.
2 Lõwy &. Sayre (1995, pp. 57-8), com citações entre aspas de expressões
trechos do próprio Schlegel.
7 Para quem queira aprofundar-se no tema, além dos próprios textos de Rousse
cujas indicações são feitas ao longo da seção, sugiro uma primeira leitura introdutória
de C hauí (1978), mas particularm ente o exame de um trabalho mais recente cm
português, publicado por Reis (2005), como resultado de sua tese de doutoram ento
realizada em São Paulo e Paris, e que serviu de suporte principal para a construção
desta seção. Para quem queira ainda lidar com outras sistematizações consideradas
clássicas de seu pensamento, em francês, as indicações podem ser dos trabalhos de
Burgelin (1 9 5 2 ), que, em bora relativam en tc d atad o e m arcad o p o r sua visão
existencialista, ainda é referência no campo; e dos estudos am plam ente reconhecidos
de Starobinsld (1971) e de Raymond (1966).
5 .3 . O romantismo alemão
10 Não temos ainda todos os elementos para indicar o que, cm minha opiniã
particular, dentro do romantismo alemão, penso ser um efeito paradoxal que se des
dobra no plano cultural, artístico c subjetivo, efeito este que cria as condições de forte
investimento na investigação dos fenômenos psíquicos mais profundos. Assim, ao mes
mo tempo que implicou tal tendência ao idealismo, ao misticismo e à metafísica que
marcou o romantismo alemão, esse efeito possibilitou a emergência, no campo da
literatura, da filosofia e da história das idéias psicológicas, de autores e obras que
realizaram enorme avanço na exploração e sistematização da psique hum ana, nota-
damente dos processos inconscientes. A revisão dos principais autores que realizaram
esse caminho na primeira metade do século XIX na Alemanha, a seguir neste capítulo,
possibilitará ao leitor compreender um pouco melhor esse fenômeno, mas no entanto,
maior inteligibilidade das implicações teóricas e epistemológicas desse efeito só poderá
emergir no desdobramento dos demais capítulos e volumes desta obra.
19 Textos citados por Moura (2006, p. 32), sem especificação das fontes em
Goethc, mas dado o poder de síntese do pensamento do autor, foi incorporado aqui.
20 Na biografia autorizada de Freud, realizada por Jones (1989), há inúmeras
passagens (por exemplo, às págs 41-2; 56, 323, entre outras), indicando essa enorme
influência de Goethe em seu pensamento. Da mesma forma, em várias passagens de A
iníerprttaçào dos sonhos, Freud relata sonhos seus em que Goethe aparece “como símbolo
do pai" (Freud, 1980, vol. V, p. 377). As vicissitudes dessa relação de Freud com o
romantismo alemão será discutida mais à frente.
2: Jung indica claramente, em sua autobiografia intitulada Memórias, sonhos e
reflexões, a importância de Goethe para a sua formação. Diz literalmente que a leitura
do Fausto “foi um bálsamo para a minha alma”, e que “Goethe foi para mim um profeta”
(Jung, 1961/1975, pp. 63-4).
5.3.3.2. Os a n o s d e a p r e n d iz a g e m d e W ilh e lm M e is t e r
e o romance de formação ( B ild u n g sro m a n )
23 Maas (2000, p. 53) assinala que havia na literatura alemã poucas obras que
poderiam ser identificados claramente como pertencentes ao cânone de romance de
formação antes de Wilhelm Meister. Parzival (1200-1210) de Wolfram von Eschenbach
(c. 1170-C.1220); Simplicissimus (1668), de Hans Jakob Christoffel von Grimmelshausen
(c. 1620-1676); Geschite des Agathons (1776-1777) de Christoph M artin W ieland
(1733-1813); Hesperus (1795), de Jean Paul (1763-1825); e Herman und Ulrike (1780),
de Johann Karl Wezel (1747-1819).
29 Mazzari (1999) nos chama a atenção de que este tema constitui na verdade
uma tensão inerente entre Os anos de aprendizagem de Wilhem Meister e seu volume
seguinte, Os anos de peregrinação de Wilhelm Meister, publicado trinta anos depois do
primeiro, e que acentua a idéia de Ausbildung. Nesse período, se desenrolou integral
mente a Revolução Francesa e se acelerou a Revolução Industrial, e daí, segundo ele,
o redirecionamento de Goethe.
i2 Andrade (2001) nos lembra que esta é uma metáfora presente no próprio
mito do Édipo, que coloca a cegueira do olho físico cm Tirésias e, no final do mito, no
próprio Édipo, como forma de acesso ao mundo das forças divinas, ou seja, do incons
ciente.
33 Neste ponto, Carus, embora a criticasse como uma teoria puramente intuiti
va e limitada, esteve bastante próximo da concepção de frenologia desenvolvida parti
cularmente por Franz Joseph Gall (1758-1828), médico alemão, por volta de 1800,
que buscava ver nas formas anatômicas humanas as características de personalidade,
até mesmo dos traços supostamente criminosos. Apesar do dedínio em sua credibilidade
no Final do século XIX, a frenologia criou as bases para as teorias eugènicas que
prosperaram e geraram tantos genocídios e práticas racistas e autoritárias no século
XX, tanto pelas formas mais extremas do nazismo, como timbém em formas menos
radicais nos Estados Unidos e países europeus ocidentais, particularmente na Es
c a n d in á v ia .
J' Neste ponto do nosso estudo, não temos ainda todos os elementos históricos c
teóricos que permitam avaliar melhor as características desse efeito paradoxal c suas
implicações no campo das ideias psicológicas, tema que será mais bem sistematizado
no próximo volume.
5 Kaufmann (1965, p. 306) cita uma carta dc Schelling a Hcgcl, datada de 20-
-6-1876, em que o primeiro faz comentários à indecisão e depressão de Hegel. A carta
original deste último, a que Schelling responde, foi perdida.
6 “A necessidade dos primeiros de conquistar a consciência do que os mantêm
aprisionados, e seu desejo de receberem o desconhecido, corresponde à necessidade dos
segjndos de partir de suas ideias para dentro dc suas vidas” (manuscrito de Hcgcl pu
blicado pela primeira vez em Hegel Leben por Karl Rosenkranz, apud: Seigel, 1993, p. 25).
6.3. A F e n o m e n o lo g ia d o espírito
Esta obra de H egel foi publicada pela prim eira vez em 1807,
quando tinha trinta e sete anos, após seis anos de sua chegada a
Jena, em cuja universidade passa a lecionar ao lado de im portantes
filósofos românticos, e um ano depois da tom ada napoleônica da
cidade, que acom panhara com entusiasm o. O livro constitui sua
principal e mais sistem ática entrada no cam po filosófico, tendo
com o objetivo claro de se posicionar e se confrontar com os g ran
des autores alemães de referência em filosofia na época, com o Kant,
Fichte e Schelling. A té então, tinha publicado pequenos artigos e
trabalhos, de m aior relevância no cam po social e político, que, em
bora sejam im portantes de um ponto de vista mais próxim o da
perspectiva sócio-histórica,7 tinham m enor estatuto no cam po es-
pecificamente filosófico.
Em uma prim eira aproximação, podem os dizer que a obra
tem profunda significação histórica e política, na defesa do racio-
nalismo e da tradição ilum inista não só para todo o O cidente, mas
tam bém e particularm ente para um a sociedade alemã tão atrasada
e dom inada pelo obscurantism o e particularism o m onárquico, e
que convivia com a servidão. Nessa direção, busca em prim eiro
lugar um a reposição do prim ado da razão ante os ataques dos em -
piristas, que lim itaram o ser hum ano ao que é dado, p o r privilegi
arem como fonte do conhecim ento apenas a fragm entação da ex
periência sensível, im possibilitando fundam entos mais seguros para
um a ordem social em bases racionais e universais.8 E n tretan to , o
problem a se p u n h a tam bém na tradição alem ã, em relação aos ro
m ânticos (como Schelling, com o qual o ro m p im en to é assinalado
no prefácio do livro), mas principalm ente em relação a K ant.
7 Para uma visão introdutória das primeiras obras dc Hegel, sugiro a leitura d
já indicado livro de Marcuse (1969), bem como o de Honneth (2003), outro autor da
Escola dc Frankfurt, mas dc uma geração mais tardia que a de Marcuse.
H Na Fenomenologia, a crítica ao em pirismo está concentrada no capítulo V
(“Certeza e verdade da razão”).
Esta obra com posta de três volumes teve sua prim eira publi
cação em 1817, apesar de algumas de suas partes constitutivas já
tivessem sido publicadas anteriorm ente. N este ano, H egel foi no
m eado professor titu lar na Universidade de Heidelberg, e um ano
depois, na U niversidade de Berlim, atingindo portanto o mais alto
posto de docência na carreira universitária alemã, sendo sobrepujado
apenas por sua eleição com o reitor dessa universidade em 1829.
E ntretanto, dois anos depois, veio a falecer, acom etido de cólera.
O segm ento da obra que nos interessa mais de perto, em m i
nha opinião, é o volum e III, em sua sua prim eira seção, intitulada
de “O espírito subjetivo”, e nesta, particularm ente a prim eira seção,
“A ntropologia”, que tem p o r objeto a alma, pois a segunda, “A
fenom enologia do espírito”, já teve sua tem ática contem plada no
livro de 1807, e a terceira, “Psicologia”, trata mais de funções cogni
tivas e práticas, que não correspondem ao nosso interesse im ediato
aqui. A sistem atização abaixo não tem nenhum a pretensão de exaus-
tividade e de cobrir todos os passos da obra, o que exigiria estudo
próprio e certam ente m uito mais longo e complexo.
A abordagem realizada aqui sobre esta obra parte tam bém de
nossa perspectiva de estudo de M arx, não só p o r sua apropriação
m eram ente teórica, mas particularm ente pelo seu significado pes
soal e subjetivo concreto. M arx leu a Enciclopédia em um m om en
to-chave de sua trajetória de vida, em 1837, em plena crise exis
tencial, em que teve com o prescrição médica fazer um a pausa em
seus estudos em Berlim e passar um tem po no cam po para descan
sar.17 O sofrim ento de M arx não era só físico, mas tam bém psí
quico, pois seus projetos pessoais até então, o estudo de direito, de
filosofia, e particularm ente a carreira como poeta, estavam em cri
se, e eram exatam ente o objeto central de seus conflitos com o pai,
17 O relato desse episódio encontra-se cm carta escrita por Marx a seu pai, a
única dedicada a ele preservada para a posteridade, escrita na noite entre 10 e 11 de
novembro de 1837.
18 A representação que Hegel faz das diversas raças tem claramente um viés
etnocêntrico e altamente discriminatório, e um exemplo particular está nos traços que
atribui aos negros africanos. As diferenças raciais implicam espíritos locais, ou seja
maneiras próprias de viver, ocupações, disposições corporais, e nas tendências a apti
dões interiores resultantes do caráter intelectual e ético dos povos (Ibidem, p. 61).
Para uma análise crítica mais abrangente sobre Hegel e o etnocentrismo europeu, ver
o recentíssimo trabalho de Buck-Morss (2009).
24 “O homem porém não fica nesse modo animal de seu extcriorizar-sc: cria a
linguagem articulada pela qual as sensações interiores se tornam palavra., exteriorizam-
-se em todas a sua determinidade, tornam -se objetivas para o sujeito, e ao mesmo
tempo exteriores c estranhas para ele. Por isso, a linguagem articulada é a suprema
maneira como o homem se extrusa de suas sensações interiores. [. . .] Mas a poesia, em
especial, tem o poder de libertar dos sentimentos que acabrunham; assim, Goethe, por
exemplo, mais de uma vez restabeleceu sua liberdade espiritual ao derramar sua dor
em um poema" (Ibidem, par. 401, p. 108; ênfase do texto original).
25 “Assim também a alma mesma é uma totalidade dc determ in idades distintas
infmitamente múltiplas, que nela se reúnem cm algo único", de modo que nelas a alma
permanece em si infinito ser-para-si. Nessa totalidade ou idealidade, porém, nesse interior
indiferente [e] intemporal da alma, as sensações, que se deslocam umas às outras, não
desaparecem sem deixar absolutam ente vestígios; mas permanecem ali enquanto
suprassumidas, recebem ali suas subsistência como um conteúdo inicialmcnte apenas
possível, o qual de sua possibilidade só alcança a efetividade enquanto esta vem-a-ser para a
alma, ou que esta vem a ser, no conteúdo, para si mesma. A alma retém assim o conteúdo
da sensação, se não para si, pelo menos em si [mesma]. Esse conservar, que se refere somente
a um conteúdo para si interior, a uma impressão de mim, situa-se longe ainda da rememoração
propriamente dita, pois esta procede, da intuição de um objeto posto exteriormente, para
algo que deve ser interiorizado: objeto que ainda não existe para a alma, como já foi
notado. [. . .] Assim o homem jamais pode saber quantos conhecimentos tem de fato
dentro de si, embora deva tê-los esquecido: não pertencem à sua efetividade, nem a sua
subjetividade, mas só a seu ser essente em si. Esta interioridade simples é, e permanece,
a individualidade em toda a determinidade e mediação da consciência, que mais tarde
é posta nele” (Ibidem, par. 402, pp. 111-4; ênfase do texto original).
7.1.1. Schopenhauer
7.1.2. Kierkegaard
ideias presentes nas obras do período entre 1838 e 1843, Philonenko (1993) e o
próprio Engels (1886/1975). Para uma análise mais sistemática de sua biografia e
obra, em inglês, ver também W artofsky (1982) e Kamenka (1969). Estas foram as
referências de interlocuçào para a escrita da presente seçào, além da própria leitura de
A essência do cristianismo.
s É interessante o leitor notar pela paginação das citações que esses movimentos
não são encadeados de forma tão linear por Feuerbach, que reitera ou aperfeiçoa por
inúmeras vezes os seus argumentos dentro do livro. Assim, essa ordem dc apresentação
por movimentos encadeados, sugerida por Bertrand e aqui expandida, segue o processo
de génese e desenvolvimento ontológico e psicológico do fenômeno descrito, bem como
revela preocupação didática de contribuir para melhor compreensão do autor pelos
leitores.
i
dura realidade vivida pelo sujeito. Essas particularidades m ostram
claramente os avanços efetuados por Feuerbach na análise de um fe
nôm eno que mais tarde a psicanálise cham ará de projeção, como um
i
forma, o processo de divisão ou splitting põe na esfera do sagrado
todas as características positivas*12 (como o pensar, o conhecimento,
a onipotência, a pessoalidade, o bem moral, a atividade com o sujei
to, a eternidade, etc.) e do outro lado, na esfera hum ana, todas as
características negativas (a ignorância, o mal moral, a limitação, a
passividade, a transitoriedade, etc): “D eus e o hom em são extre
mos: D eus é o unicam ente positivo, o cerne de todas as realidades,
o hom em é o unicam ente negativo, o cerne de todas as nulidades”
(Ibidem , p. 77). A lém disso, essa polarização tem não só um claro
sentido negativo, de extração/negação, como também de um jogo de
inversão das intensidades, pelo qual o crescimento em um polo gera
necessariam ente perda equivalente no outro.13
Assim , tam bém aqui devemos atentar para as especificidades
introduzidas por clc na análise do fenôm eno. A projeção im aginá
ria para Feuerbach não é apenas m ovim ento de imagens, mas en
volve um a espécie de econom ia de energia psíquica m uito sem e
lhante ao prim eiro m odelo metapsicológico elaborado por Freud,
que conserva ou potência a energia reprim ida ou recalcada, que se
m anifesta em outro lugar ou de outra form a, por m eio de processos
diretam ente sensoriais ou de gozo efetivo: “Q uanto mais o sensorial
seguida o bem como uma qualidade da essência humana: o homem é perverso, cor
rompido, incapaz do bem, mas em compensação somente Deus é bom, o bom ser”
(Ibidem, p. 69).
12 E importante notar, a meu ver, que aqui os termos polares positivo/negativo
usados podem ter dois sentidos que neste terceiro movimento se complementam. O
primeiro sentido diz respeito ao campo da moral, ou seja, da relação entre o bem e o
mal, ou do enriquecimento e empobrecimento das qualidades humanas. O segundo
sentido está mais associado ao campo ontológico/histórico, em que significam afirma-
ção/objetivação/positivaçào ou extração/recalcamento de uma realidade no campo
histórico, antes de qualquer consideração ou avaliação moral. No quarto e quinto mo
vimentos, o uso desses termos refere-se apenas ao segundo sentido, o que me parece
apontar para um dos objetivos da desalienação religiosa em Feuerbach: o de recuperar,
afirmar e objetivar no ser humano, agora de forma integrada, tanto as suas qualidades
morais positivas quanto negativas.
,J “Deus é a essência do homem mais subjetiva, mas própria, separada e abstraí
da, e assim não pode ele agir de si, assim todo bem vem de Deus. Q uanto mais
subjetivo, quanto mais humano for o Deus, tanto mais despoja-se o homem de sua
subjetividade, da sua humanidade, porque Deus é em e por si o seu ser exteriorizado,
mas do qual ele se apropria novamente. [ .. .] Na sístole religiosa expulsa o homem a
sua própria essência para fora de si, ele expulsa, repreende a si mesmo; na diástole
religiosa acolhe ele novamente em seu coração a essência expulsa. Somente Deus é o
ser que age de si” (Ibidem, p. 72).
19 “A afetividade é de natureza onírica, por isso nào conhece ela nada mais
agradável, mas profundo que o sonho. Mas o que é o sonho? É a inversão da consciência
em estado de vigília. No sonho o ativo é o passivo e o passivo é o ativo; no sonho eu
apreendo as minhas autodeterminações como se fossem determinações vindas de fora,
as emoções como acontecimentos, as minhas ideias e sentimentos como entidades fora
de mim, eu sou o passivo do meu próprio ativo. [.. .] A afetividade é o sonho de olhos
abertos; a religião é o sonho da consciência desperta; o sonho é a chave para os mistérios
da religião” (Ibidem, pp. 181-2).
Sites da In tern et
www.wikipedia.org
180 | Referências
Sumário dos volumes
da coletânea já lançados e dos
temas em processo de pesquisa
K A R L M A R X E A S U B JE T IV ID A D E H U M A N A
Volume I: a trajetó ria das idéias e conceitos nos textos teóricos
Apresentação
1. O contexto pessoal e institucional deste estudo
2. A presentação da tem ática, justificativa e desafios do estudo
3. A s fontes do estudo nesta coletânea
4. O form ato e os desdobram entos de um a pesquisa e de um a
coletânea em andam ento
5. A gradecim entos
Capítulo 1
In tro d u çã o ao P rim eiro V olum e e a suas questões m etodológicas
1.1. A presentação do co n teúdo do Prim eiro Volume
1.2. T ratam en to das fontes e questões m etodológicas
Capítulo 2
A s p rin cip ais co n trib u içõ es prévias: a trajetó ria do conceito de
alienação an tes de M arx
2.1. A alienação da ordem divina no pensam ento judaico-cristão
2.2. A alienação com o vendabilidade universal operada pelas rela
ções capitalistas
2.3. A alienação política no co n trato social que funda o E stado, e
sua base na contradição en tre vontade particular e vontade geral,
em Rousseau
Capítulo 3
A alienação em M a rx em suas diversas acepções e d e sd o b ra
m entos, e im plicações no cam po da subjetividade
3.1. A alienação religiosa e seus mecanismos psicológicos
3.2. A alienação filosófica, sua superação pelo m aterialism o e pela
práxis, e suas implicações psicológicas
3.2.1. A apropriação da filosofia m aterialista e ilum inista francesa
3.2.2. A s noções de atividade e de práxis
3.3. A alienação política
3.4. A lienação social, ideologia e implicações subjetivas
3.4.1. C oncepção geral e enquadre histórico do fenôm eno da alie
nação social
3.4.2. Ideologia em suas diferentes acepções c implicações subjetivas
3.4.3. A lienação social e percepção alienada da personalidade e da
individualidade
3.4.4. A superação da alienação social
3.5. A alienação/estranham ento do trabalho
3.5.1. A dimensão histórica da alienação/estranhamento do trabalho
3.5.2. A dim ensão ontológica da alienação/estranham ento do tra
balho
3.6. A lgum as conclusões provisórias sobre o uso do conceito de
alienação nos escritos m arxiam os dos anos 1840
Capítulo 4
T rabalho, co rp o reid ad e e fin itu d e h u m a n a
4.1. C oerência e dispersão na abordagem m arxiana da tem ática
4.2. O s principais eixos da concepção de corporeidade e finitude
(m orte) h u m an a na o b ra m arxiana
Capítulo 5
As fo rm as h istó ricas d e in d iv id u a lid a d e e so c iab ilid ad e e suas
te n sõ es
5.1. Características gerais da individualidade e sociabilidade
Capítulo 6
A dispersão na apropriação das contribuições de M arx no cam po
da subjetividade pelas tendências m arxistas posteriores
C onsiderações finais
Referências
K A R L M A R X E A S U B JE T IV ID A D E H U M A N A
V olum e II: u m a h is tó ria de idéias psicológicas n a E u ro p a até
1850
C apítulo 1
In tro d u ç ã o ao seg u n d o v o lu m e da coletânea
C apítulo 2
A h eran ç a de dilem as h istó rico s e filosóficos nas concepções de
su b jetiv id ad e h u m a n a n a Id a d e C lássica e M o d e rn a
2.1. R acionalidade grega e a longa herança dualista en tre n atu reza/
corpo e p ensam en to /razão , e sua reiteração na m odernidade
2.2. A em ergência de u m a nova concepção de sujeito e de su b jeti
vidade no R enascim ento e na m odernidade
Capítulo 4
O m aterialism o ilu m in ista francês e sua psicologia sensacionista
de base em p irista
4.1. A psicologia de C ondillac com o principal m atriz da psicologia
ilum inista e revolucionária francesa
4.2. U m desdobram ento central do sensacionism o: Philippe Pinei,
a em ergência da psiquiatria m oderna e o tratam ento m oral
Capítulo 5
O m ovim en to ro m ân tico e suas im plicações nas ideias psicoló
gicas
5.1. C ontexto histórico, características e principais tendências na
E uropa
5.1.1. A em ergência d o capitalism o e suas repercussões socio-
culturais
5.1.2. A s principais características da reação e da crítica rom ântica
na Europa
5.1.3. A s diferentes tradições rom ânticas, do p o n to de vista político
5.2. Rousseau e suas ideias psicológicas: o uso da im aginação para
fins positivos e para o co n h ecim en to de si, seus pontos positivos e
suas dificuldades
5.3. O rom antism o alem ão
5.3.1. C ontextualização histórica
5.3.2. C aracterísticas principais do m ovim ento rom ântico alemão,
na direção de um a histó ria das ideias psicológicas
5.3.3. G oethe: o espírito rom ântico, a tensão perm an en te dos opos
Capítulo 6
A contraposição racionalista e dialética: as ideias psicológicas na
obra de H egel
6.1. A dvertências m etodológicas prelim inares
6.2. A lgum as notas in trodutórias sobre a relação entre a vida e a
obra de H egel e o cam po das ideias psicológicas
6.3. A Fenomenologia do espírito
6.4. A Enciclopédia das ciênciasfilosóficas e sua seção sobre a alma
Capítulo 7
A crítica do idealism o racio n alista alem ão antes de M arx : p re
cursores (S c h o p e n h a u e r e K ierk eg aard ) e F eu erb ach , com sua
análise d a alienação relig io sa
7.1. Precursores da crítica ao racionalism o hegeliano: Schopenhauer
e K ierkegaard
7.1.1. Schopenhauer
7.1.2. K ierkegaard
7.2. Feuerbach e o contexto m ais geral de sua vida e obra
7.3. O contexto e a significação mais geral de A essência do cristianismo
7.4. A s principais proposições de A essência do cristianismo no cam
po psicológico
7.4.1. O s argum entos e teses centrais do livro
7.4.2. O prim eiro m ovim ento: o ser hum ano e sua clivagem es
sencial
Capítulo 8
C onsiderações finais do volum e
Referências
K A R L M A R X E A S U B JE T IV ID A D E H U M A N A
Volum e III: balanço de co n trib u içõ es e q u estõ es teó ricas p ara
d e b a te
Capítulo 1
In tro d u ção ao terceiro volum e d a coletânea
Capítulo 2
O bservações filológicas e m e to d o ló g icas p relim in ares
Capítulo 3
A s contribuições teóricas fu n d am e n tais de M a rx e do m arx ism o
para a abordagem da subjetividade h u m a n a e d a saúde m e n tal
3.1. A concepção dialética da h istó ria h u m an a e a centralidade da
determ inação m aterial em sua dinâm ica
3.2. As categorias de exteriorização e objetivação através da ativi-
C apítulo 4
Q u e s tõ e s críticas de n a tu re z a filosófica e ep iste m o ló g ic a m ais
geral em M a rx e su as im plicações n o cam po d a su b jetiv id ad e
4.1. O estatu to d a teoria m arxiana em função das características
Capítulo 5
Q u e s tõ e s p o lític a s e so cio ló g icas n o p e n s a m e n to m a rx ia n o e
suas im plicações p ro b le m á tic a s n o cam p o d a su b jetiv id ad e
5.1. E stratég ia política, ru p tu ra revolucionária, em ancipação h u
m ana e suas im plicações subjetivas
5.1.1. A presentação do pro b lem a
5.1.2. A subestim ação d a im p o rtân cia ontológica e epistêm ica da
dem ocracia e d o pluralism o, com o exigência inexorável d a gestão
política dos coletivos h u m an o s
5.1.3. A introm issão direta d a esfera política no debate científico,
ignorando a necessária au to n o m ia relativa da vida acadêm ica
C apítulo 6
D ificuldades e lim itações da abordagem m arxiana da objetávação
n o cam p o da subjetividade
6.1. A ênfase m arxiana na percepção, cognição e com portam ento,
e o silêncio em relação às dem ais funções psicológicas
6.2. A individualização capitalista, seus efeitos psicológicos e a con
tradição expressa pela perspectiva da Bildung goethiana
6.3. A dificuldade das categorias marxianas originais em desven
d ar as form as positivas e sutis de captura do indivíduo na socieda
de capitalista avançada
6.4. Singularidade, a questão geracional, desenvolvimento psicoló
gico, personalidade e a experiência da loucura
6.5. Especificidades do aparelho psíquico, do inconsciente e da
pulsão, e relação com o paradigm a sócio-histórico
C apítulo 7
C o n sid e ra ç õ e s finais
Referências
T E M A S S O B P E S Q U IS A E O B JE T O D O S P R Ó X IM O S
VOLUM ES
Para subsidiar esta análise e sua com provação docum ental, os pró
xim os volumes tam bém conterão um levantam ento sistemático e
exaustivo de trechos de cartas e docum entos de Karl M arx e sua
família, mais significativos para a abordagem dos temas indicados
acima.
K A R L M A R X A N D H U M A N S U B J E C T IV IT Y
Vol I: A ro u te o f ideas a n d co n cep ts in sid e th eo retical w orks
S eries P r e s e n ta tio n
References
K A R L M A R X A N D H U M A N S U B JE C T IV IT Y
Vol II: A h is to ry o f p sy ch o lo g ical id e as in E u ro p e u n til 1850
References
K A R L M A R X A N D H U M A N S U B J E C T IV IT Y
Vol III: A n ap p raisa l o f c o n trib u tio n s a n d th e o re tic a l issues for
d e b ate
R eferences
IS S U E S Y E T U N D E R IN Q U IR Y , S U B JE C T O F T H E
C O M IN G V O L U M E S
References
K A R L M A R X A N D H U M A N S U B J E C T IV IT Y
Vol III: A n ap p raisa l o f c o n trib u tio n s a n d th e o re tic a l issues for
d e b ate
References
There are several subjects, issues and themes yet under inquiry, but
all related more directly to biographical aspects of Karl Marx and
his family. It is impossible to predict the next volumes’ structure
and format, but they will certainly address the following issues;
Series
K .trl M a r x a n d lh o H u m a n S u b je c tiv ity
b y rd u .ir d o Mowr.m V asconcelos
TAlil.h Oh CONTENTS IN l-NGI ISII Oh T III- rilKhh AI.KIADY I'UBI ISHHD VOLUMES PROVIDED.