Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
C O NTEMPO RÂN E A
Uma introdução
W ill Kymlicka
T ra d uç ã o
L U ÍS C A R L O S B O R G E S
R e visã o d a tra d u ç ã o
M A R Y L E N E P IN T O M IC H A E L
M a rtin s Fontes
S ão P a ulo 2 0 0 6
E sta o bra f o i p u b lic a d a o rig in a lm e n te em in g lé s corn o títu lo
C O N T E M P O R A R Y P O L IT IC A L P H IL O S O P H Y - A N IN T R O D U C T IO N
p o r O x fo rd U n iv e rs ity P re ss.
C o p y rig h t © W ill K y m lic k a .
C o p y rig h t © 2 0 0 6 , L iv ra ria M a rtin s F o nte s E d ito ra L td a .,
São P a u lo , p a ra a pre s e nte e diç ã o.
1* ediçã o 2006
Tradução
L U ÍS C A R L O S B O R G E S
R evisão da tradução
M a ry le n e P in to M ic h a e l
A com pa nh am e nto e d ito ria l
L u z ia A p a re cid a dos S a ntos
R evisões grá fic a s
M a u ro de B a rro s
D a n ie la L im a A lv a re s
D iñ a rte Z o rz a n e lli d a S ilv a
Produção grá fic a
G eraldo A lv e s
P agin a çã o/F otolitos
S tu d io 3 D e s e n vo lvim e n to E d ito ria l
K ym lick a , W ill
F ilo sofia p olític a contemporâne a : um a introd uç ã o / W ill
K y m lic k a ; tradução Luís C arlos B orge s; re vis ão d a tra dução
M aryle n e P into M icha el. - São P a u lo : M a rtin s Fontes, 2006.
- (Justiça e d ire ito )
06-1755____________________________________ C D D-320.50904
ín dic e s p ara catálogo siste m á tico:
1. F ilosofia p olític a contemporâne a : S éculo 20 :
H istória 320.50904
1. In tro d u ç ã o ............................................................... 1
2. U tilit a ris m o ............................................................. 11
3. A igu ald a d e lib e r a l.................................................. 1x3
4. O lib e rta ris m o ......................................................... "119
5. O m a rxis m o ............................................................. *203
6. O c o m u n ita ris m o .................................................... *253
7. O fe m in is m o ............................................................ '30 3
siç ã o d o qu e e u p a ra co n h e c e r o m e u p ró p rio b e m . M e sm o
que n e m s e m pre eu e ste ia c e rto , á m a is p ro v á v e l qu e eu e s
te ia c e rto d o qu e q u a lq u e r o u tra p e ssoa . M ill d e fe n d ia um a
v ers ã o d e ste a rg u m e n to ao a firm a r qu e ca da pe sso a c o n ti
nh a u m a p e rs o n a lid a d e ú n ic a c u jo b e m era d ife re n te d o b e m
de q u a lq u e r o u tra . A e x p e riê n cia dos o u tro s , p o rta n to , n ã o
forn e c e n e n h u m fu n d a m e n to p ara s o bre p u ja r o m e u ju lg a
m e nto., Isso é o .o p o sto d o p e rfe c cio n ism o m a rx ista - o nd e os
m a rxista s d iz e m q u e o b e m d e ca da p e sso a en c o n tra -s e n a
c a p a cid a d e qu e. cla c o m p a rtilh a com to d o s os o u tro s h u m a
nos, M ill d iz qu e se e n c o n tra e m algo. q u e .fila .n ã o c o jn p a rti-
lh a com m a is n in g u é m . ,£ o m c erte z a , p oré m , a m bos os e x
tre m o s e stã o e rra dos . N osso b e m n ã o é n e m u n iv e rs a l n e m
ú n ic o , m as e stá lig a d o de m a n e ira s im p o rta n te s às prá tic a s
c u ltu ra is qu e c o m p a rtilh a m o s c om os o u tro s e m noss a c o -
m u n id a d e . C o m p a rtilh a m o s co m os o u tro s a o no sso re d o r o
s uficie n tg p a ra qu e u m g o v erno p e rfe ccio n ista b e m -in te n c io
n a d o pud e sse , v a le n d o-s e d a s a b e doria e d a .e xp .e riê nd a .dos
o u tro s , ch e g ar a u m c o n ju n to ra z o á v e l d e crença s a resp.ei.tP
d o b e m de seus cid a d ã o s. N a tu ra lm e n te , p o d e ría m o s d u v i
d a r qu e os g o v e rn o s te n h a m as in te n ç õ e s o u as c a p a cid a
des corre ta s p a ra e x e cu ta r ta l pro gra m a . E m p rin c íp io , p o
ré m , n a d a e x clu i a p o s sib ilid a d e de qu e os g o v erno s poss a m
id e n tific a r e rro s n as conc e pçõ e s d e b e m da s pessoas.
P or qu e , e ntã o, os lib e ra is se opõ e m ao p a te rn a lis m o es
ta ta l? P orqu e , a rg u m e nta m eles, n e n h u m a v id a s erá m e lh o r^
p o r s er v iv id a e x te riorm e n te ,, s e g u n d a ^a lore sjq u e ^a jp e s s o a ''
n ã o e n d o s s a :'M in h a vid a só será m e lh o r se e u a e stiv e r c o n
d u z in d o in te rio rm e n te , s e g und o m in h a s cre nça s a re s p e ito
d e v a lo r. R e z ar a D e us p o d e s er u m a a tiv id a d e v a lio s a , m as
te n h o de cre r qu e é u m a cois a qu e v a le a p e n a ser fe ita - qu e
te m a lg u m s e n tid o qu e v a lh a a pe n a . P ode m os co a gir a lgu é m ji
a ir à igre ja e fa z e r os m o v im e n to s físic o s c orre to s , m as n ã o l
to m a re m o s sua v id a m e lh o r d e ste je ito . N ã o v a i fu n cio n a r,^
m e sm o qu e a pe sso a co a gid a e ste ja erra d a e m sua cre nç a de
que re z a r a D e us é p e rd a d e te m p o , p orq u e um a vid a v a lios a ,
260 FIL O S O FIA P O LÍTIC A C O N T E M P O R Â N E A
2 0 c o m u n ita ris m o e o b e m c o m u m H
3. 0 e u d e s o n e ra do
m a is p ro fu n d a d e ste s, c o m o a p o lític a d o b e m c o m u m b u s-
N in g u é m d is c ord a q u a n to a o fa to d e q u e os p ro je to s
tê m de ser noss a pre ocu p a ç ã o p rim á ria - iss o n ã o fa z d is tin
ção e ntre o lib e ra l e o c o m u n itá rio . O d e b ate re a l n ã o é q u a n
to a d e te rm in a r se pre cis a m o s o u n ã o d e ta is ta re fa s , m a s
q u a n to a d e te rm in a r c om o as a d q u irim o s e ju lg a m o s s eu
v a lo r. T a ylor pare ce a cre d ita r qu e po d e m os a d q u irir estas ta -
reta s a pena s tra ta n d o os v a lore s com un a is c o m o 1
Te a u to rid a d e " , q u e " e sta b e le c e m o b je tiv o s p ara
n ó s " (T a ylor, 1 9 7 9 :1 5 7 -9). O s lib e ra is , p o r o u tro la d o , in s is
te m e m qu e te m o s u m a c a p a cid a d e de n os d e s vin c u la r de
q u a lq u e r p rá tic a so cia l e sp e cífic a . N e n h u m a ta re fa e s p e c ífi
ca é e sta b e le cid a p a ra nó s p e la socie d a d e , n e n h u m a p rá tic a
esp e cífica te m a u torid a d e qu e e steja a lé m d o ju lg a m e n to in
d iv id u a l e d a possív e l re je iç ã o. P od e m os e d e v e m os a d q u irir
nossa s ta re fa s p o r m e io d e ju lg a m e n to s p e sso ais liv re m e n
te fe ito s a re s p e ito d a e s tru tu ra c u ltu ra l, d a m a triz de c o m -
pre ensõe s e p o ssibilid a d e s tra n s m itid a s a nós p e la s gerações
a n te riore s, que nos oferec e p o s sibilid a d e s qu e po d e m os a fir
m a r o u re je ita r. N a d a é " e sta b e le cid o p a ra n ó s "; n a d a é p rc M
v id o d e a u to rid a d e a nte s d e nosso ju lg a m e n to de se u v a lo f®
N a tu ra lm e n te , a o fa z e r este ju lg a m e n to , d e v e m os c o n
s id e ra r a lg o c om o u m " d a d o " - p e rg u n ta m o s o qu e é b o m
p a ra nós agora, d a do o nosso lu g a r n a escola, n o tra b a lh o ou
n a fa m ília . A lffu é m .q u e n ã o seja n a d a a lé m de u m ser ra c io
n a l liv re n ã o t e ria n e n h u m a ra z ã o p a ra e sc olh e r u m m o d o
d e v id a a o u tro (S a nd e l, 1 9 8 2 :1 6 1-5 ; T a ylor, 1 9 7 9:1 5 7; C ro
w le y , 1987: 2 0 4-5). O s lib e ra is , p oré m , a cre dita m qu e o qu e
coloc a m os n o " d a d o " p ara fa z e r ju lg a m e n to s s ig n ific a tiv o s
p o d e n ã o a p e n a s ser d ife re n te e n tre in d iv íd u o s , m a s p o d e
m u d a r n a v id a d e u m in d iv íd u o . Se, e m u m a oc a siã o, fa z e
m os e scolh a s a re s p e ito d o qu e é v a lio s o d a do o nosso c o m
pro m is s o co m c e rta v id a re lig io s a , po d e m o s p o s te riorm e n te
ch e g ar a q u e s tio n a r esse c o m pro m is s o e p e rg u n ta r o qu e é
v a lio s o , d a d o o no sso c o m pro m is s o co m noss a fa m ília . A
q u e stã o , e n tã o , n ã o é se d e v e m os ou n ã o c o n s id e ra r a lg o
com o d a d o a o fa z e r ju lg a m e n to s a re s p e ito d o v a lo r d e n o s
sa a tiv id a d e . A n te s , a q u e stã o é s a b er se u m in d iv íd u o p o d e
o C OMÜNITAR1SM O 271
4. A te se s o cia l
M uito s com unitários critic a m o lib era lism o, não pela sua
descrição do eu e de seus interesses, m as p or n e glig e n ciar as
condiçõe s sociais e xigidas para a concre tiz a çã o efica z destes
interesses: Por e xe m plo, T a ylor a firm a que m uita s f e o ria s li-
berais baseiam-se n p " a to m is m o "/ em um a "p sico lo g ia m o
ral com ple tarn e pte .sim plista "7s e gundo,a q u a l o sinrfiv íd u o s
"~sã oãTrfõTsufíci en te s fora d a sociedade. O s indivíduos, se gun
do as te oria s a tom ista s, nã o tê m n ece ssida de de n e n h um
conte xto co m u n a l para d e s e nvolv er e e x ercitar sua ca pa ci
dade de a utod e term in a ç ã o. T a ylor argum e nta , inv e rs a m e n
te , a fa v or da "te s e s o c ia l", que d iz que e sta c a p a cid a d e só,
pode ser exercida em certo tip o de sociedade, com certo tip o
H e am biente social (Taylor, 1985:190-1; cf. Jaggar, 1983: 42-3;
W olga st, 1987; cap. 1).
Se este fosse re a lm e nte o debate, tería m os de concord ar
com os co m unitá rio s, p ois a "te s e s o cia l" é clara m e nte v e r-
&
!
278 FIL O S O FIA P O LÍTIC A C O N T E MP O RÂ N E A
gin a d ora s de d ire ito s v á lid o s " (R a w ls, 1980: 543). Isso, poré m , é um non sequi-
tur. A a firm ação de R a w ls de que som os fo n te s a iitn -n rig in a d o ra s d e -d ire ito s
y á lid o s -n ã e -é ^w w ^fiu ^ ç ã e ^ü Ó Q lé S c a ^b re çom p jo s jie s e im J iK in a s ^ É
„u m . a firm a ç ã o m o ra l a .ie sp .e itp. d ^lo c ã lÍz a ç ã o .,d o .-v a k » ''m o ra l. ’ G om o d iz
G a lsto n , " e m b o ra o p o d e r fo rm a tiv o d a socie d a d e c e rta m e n te s eja d e cisivo ,
são, n ã o o b sta nte , os indivíduos que e stã o se ndo form a dos. Posso c o m p a rtilh a r
tu d o com os o u tro s . M a s sou eu qu e c o m p a rtilh o com eles - um a consciê ncia
in d e p e n d e n te , u m locus se p ara do de p ra z e r e d or, u m s er d e m a rc a do, com in
teresses a sere m p ro m o vid o s o u s u p rim id o s " ( G a lsto n , 1986: 91). E m bora 1
m e u b e m seja so cia lm e n te d e te rm in a d o , a in d a é o m e u b e m qu e é a fe ta d o p e la
v id a so cia l, e q u a lq u e r te o ria p o lític a p la u s ív e l d e v e a te n ta r ig u a lm e n te p a ra |
os intere ss e s de ca d a pessoa.
280 FILO S O FIA P O LÍTIC A C O N T E M P O R Â N E A
i
282 FILO S O FIA P O LÍTIC A C O N T E MP O R ÂN E A
que os bons m odos de vid a e stab eleçam seu v a lor qua ndo
são avaliados no m ercado cultura l da sociedade c iv il ou qu a n
do a preferê ncia p or m odos de vid a difere nte s tom a-s e um a
questão de defesa p olític a e ação estatal? A disputa í p orta n-
to, Çalvez deva ser v is ta com o um a escolha, n ã o entre o p e r
fe ccio n ism o e a n e u tra lid a d e , m as e ntre o p erfe ccio nism o
social e o p erfe ccionism o e sta ta l - pois o o posto da n e u tra -
lld a de estatsTe o a poio ao pa n el dos ide ais p erfe ccionista s na
sociedade civil.
Í
ia l" com unitarista . S egundo os com unitários, os lib erais d e i-
am de re conh e cer que as pessoas são seres n atura lm e nte
ociáis. O s lib e ra is, supostam ente , p ens am que a sociedade
baseia-se em u m c o ntra to socia l a rtific ia l e que o p od e r
e sta ta l é necessário para m a n te r ju n ta s na sociedade pe s
soas n a tura lm e nte associais. H á , poré m , u m se ntid o em que
o oposto é v e rd a d e iro -.o s lib e ra is a cre dita m q u e a s p e s .-
soas form a m e p a rticip a m n a tura lm e nte de relações e fó r
runs sociais, n osxp a is.y ê m a com pre e nd er e a buscar o b em .
Õ E stado não é necessário para forn e c e r esse conte xto co
m u n a l e é prov á v el que distorç a o processo n orm a l de d e li
berações e d e s e n volvim e nto c u ltu ra l cole tiv os. S ão os co
m u n itá rio s qu e p are ce m p e ns a r que os in d iv íd u o s d e riv a -
O C O M U NIT A R1SM O 289
iicip a re ra .livx e m e nte d ela. E xem plos com uns de tais socie
dades do passado são as d em ocra cia s re public a n a s da G ré
cia a ntig a ou os governos m u n icip a is da N ov a In g la te rra no
século X V m .
Estes exem plos histórico s, poré m , ign ora m u m fa to im
porta nte . O s governos m unicip a is da N ova Ingla terra de a n -j
tig a m e n te pod e m te r tid o m u ita le g itim id a d e e ntre seusI
m e m bros em v irtu d e da busca e fica z de seus fin s comp ar-J
filh a do s. Isso, poré m , porqu e , p e lo m e nos em p arte , as mu-J
lheres, os ateus, os ín dio s e as pessoas sem proprie d a d e es-
tava m e xcluídos com o m e m bros. Se lh e s fosse p e rm itid o
serem m e m bros, não te ria m se im pre ssion a do com a busca
do que m uita s ve zes era um "b e m com um'" ra cista e sexista.
A m a n e ira com o a le g itim id a d e fo i assegurada e ntre todos
os m e m bros fo i e x clu ir alguns da condiç ã o de m e m bros.
O s co m u nitá rios conte m porâne ps..não estã o a dvoga n-
^ 9 H S Í li^ ^ ^ ^ Õ s s a ^ ^ s s e g u ^ d â i Q Ê g 6»d Q a co n
dição de m e m bros a estes grupos da com unid a d e que não
p articip ara m historic a m e nte da form aç ão do "rn pd o.d e vid a
co m u m ". O s co m u nitá rio s a cre dita m que há certas prática s
com unais que todos pod e m endossar como a base p ara um a
p o lític a do b e m com um . M as qu ais são estas prá tica s? O s
com unitários m uita s ve zes escrevem como se a exclusão h is
tóric a de certos grupos das v ária s prá tic a s sociais fosse ape
nas a rb itrá ria , de m odo que agora pud éssem os in c lu í-lo s e
s e guir a dia nte . M a s a exclusão das m ulh ere s, p or e xem plo,
não fo i a rb itrá ria . F oi fe ita p or um a ra z ão - a saber, que o s j
fin s que estavam s endo buscados era m sexistas, d e fin id o s!
p or hom ens p ara s ervir aos seus interesses. E xigir que as m u 4
lh ere s a c eite m um a id e n tid a d e que os hom e ns d e fin ira m
para elas n ã o é um a m a n eira prom issora de a um e ntar seu
senso de fid e lid a d e . N ã o pod e m os e vita r este pro ble m a d i
z e ndo, com S andel, que as id e n tid a d e s das m ulh ere s são
c o n stitu íd a s p elos p a p é is e xiste nte s. Isso é sim ple sm e nte
falso: as m u lh ere s pod e m re je ita r e re je ita ra m estes papéis,
que, de m uita s m an eiras, op era m p ara n e g ar sua id e ntid a d e
separada. Isso ta m b é m era verd a d e na N o v a In g la te rra do
o C O M U N TT A RISM O 293
1984b: 17). Para consid erar quã o e xclusivo este argum e nto
pode ser, contra ste -o com as rece nte s discussões fe m inista s
da porno gra fia . M u ito s grupos de m u lh ere s e xig ira m a re ^t
gulam e ntaçã o da p orno gra fia sobre o fun d a m e nto de que aál
m ulh ere s fora m e xcluídas do proce sso de d e finiç ã o das vi-J
sões tra dicio n a is de se xu alid a d e . A porn o gra fia , a rg u m e n lf
ta m algum a s fe m in ista s , d e se m p e nh a u m p a p e l crític o nã
prom oç ã o da violê ncia co ntra as m ulh ere s e na p erp e tu a^
ção da subordin a ç ã o das m u lh e re s a id é ia s de s e xu a lid a de
e p ap éis de g ê n ero d e fin id o s p e los hom e ns (p o r e xe m plo,
M a ckinn on , 1987: cap. 13-4). Este argum e nto é c o n tro v e rti
do, mas, se a porn o gra fia re a lm e nte d esem penha este p a p e l
na subordin a çã o das m ulh ere s, d e s e m p e nh a -o nã o porqu e
ela "ofe nd e nosso m odo de v id a ", mas justa m e nte porqu e ela
se a justa aos nossos e stere ótipos c u ltura is a re sp e ito da se-
jx u a lid a d e e do p a p e l das m ulh ere s. N a verdad e , com o ob-
iserva M a ckinn on , de um p o n to de vista fe m inista , o pro b le -
fm a com a p orn o gra fia não é o fa to de que ela v io la padrões
id a com unid a de , m as de que ela os reforça .
O argum e nto de S andel está em c o n flito fun d a m e nta l
com este a rgum e nto fe m in ista . O pro ble m a com a vis ã o de
S andel pode ser visto considera ndo a regulam entaçã o da h o
m osse xualida de . A ho m oss e xu a lid ade é " o fe n siv a a o m odo
de v id a " de m u ito s am eric a n os, Na. v e rd a d e , m e d id a p or
qu a lqu er p adrã o pla usív e l, m ais pessoas s e nte m-s e ofendi»*
das p ela hom osse xu alid a d e do que p e la pornografia»: S an
de l, p orta n to , p e rm itiria que com unid a de s loc a is c rim in a li
zassem as rela ções hom osse xuais ou a a firm a çã o p úb lic a da
hom ossexualidade? C aso não p erm ita , o que as distingu e da
pornogra fia ? Para os lib e ra is, a difere nç a é que a hom oss e A
xu a lid a d e n ã o pre judic a os outro s e o fa to de que os o u tro s j
se sinta m o fe ndidos p or ela n ão te m n e n hu m peso m ora l.f
A m a ioria em um a com unid a d e lo c a l (ou n a cion a l) n ã o te m
o d ire ito de im p o r suas pre ferê ncia s e xteriore s no que diz
re sp eito às prá tic a s das pessoas que estão fora do m od o de
vid a d om in a n te (D w ork in , 1985: 353-72; cf. cap. 2, seção 5
a cim a). M a s isso é ju sta m e nte o que S andel n ã o pod e diz er.
O C O M U NIT A RIS M O 295
Í
>ortância. O s lib e ra is e os c o m u n itá rio s discord a m , nã o
[u a nto à tese social, mas qu a n to ao p a p e l a de qu a do do E s-
ado. O p a p e l do E stado é prote g er " a livre vid a in te rn a das
vária s com unid a de s d e in te re ss e s nas qu ais pessoas e g ru -’
p o s buscam alc a nç ar p ara os qu a is
são a tra íd o s " (R awls, 1971:543) ou ta m b é m deve ser a pro-
pria r-s e p a rcia lm e nte d esta vid a social, im p o n d o um a h ie
rarquiz a ç ã o p úb lic a dos fin s e excelências para os quais eles
são atraídos? Para s im p lific a r (em excesso), os lib e ra is e co
m u n itá rio s discord a m , n ã o q u a nto à d e p e nd ê ncia do in
d ivídu o p era nte a sociedade, mas qu a nto à d epe nd ê ncia da
socieda de p era n te o E stado. É u m de bate im p o rta n te , mas
não é um deb ate e ntre os que a c eita m e os que n ã o a ceita m
a tese social. N a verda d e , são v ários debates, e cada u m deT*
les deve ndo ser considera do p or si só e re qu ere ndo m ais ar-fj
gum e nta ç ã o e m píric a do que q u a lq u e r dos la dos se s e n tiúj
disp osto a forn e c e r14. !
J
I
I
?
I
'
f-
I
1
7. O fe m in is m o
1. A ig u a ld a d e s e x u a l e a d is crim in a ç ã o
A s u b ordin a ç ã o das m u lh e re s n ã o é fu n d a m e n ta lm e n
te u m a qu e stã o de dife re ncia ç ã o irra c io n a l com base n o sexo,
m as d e s u pre m a c ia m a s c u lin a , sob a q u a l as d ife re n ç a s de
gê n ero são to m a d a s re le v a nte s p ara a d is trib u iç ã o d e b e n e fí
cios, p ara d e sva nta g e m siste m á tic a das m ulh e re s (M a c kinn on ,
1987: 42; F ry e , 1983: 38).
C o m o o p ro b le m a é a d o m in a ç ã o , a s o luç ã o n ã o é a p e
nas ã a usê ncia de d is crim in a ç ã o , m as a pre s e nç a de po d er.
'A T g u a ld a d e re q u e r n ã o a p e na s ig u a l o p o rtu n id a d e de b u s
c ar p a p é is d e fin id o s p o r h o m e n s, m as ta m b é m ig u a l p o d e r
de c ria r p a p é is d e fin id o s p o r m u lh e re s ou de c ria r p a p é is
a n dró g in o s , qu e h o m e n s e m u lh e re s te n h a m ig u a l in te re s
se e m pre e nc h e r. O re s u lta d o d e t a l c a p a cita ç ã o p o d e ria s er
m u ito d ife re n te d e noss a socie d a d e ou d a socie d a d e d e in s
titu iç õ e s m a s c ulin a s co m ig u a l o p o rtu n id a d e de in gre s s o ,
p re fe rid a p e la te o ria da d is crim in a ç ã o s e xu a l c o n te m p o râ
n e a . A p a rtir de u m a p o siç ã o de ig u a l p o d e r, n ã o te ría m o s
cria d o u m s iste m a d e p a p é is so cia is qu e d e fin e os tra b a lh os
" m a s c u lin o s " co m o s u p e riore s a os tra b a lh o s " fe m in in o s " .
P or e x e m plo , os p a p é is dos pro fis s io n a is de s a úde , h o m e n s
e m u lh e re s , fora m re d e fin id o s p e lo s h om e n s c on tra a v o n ta
de das m ulh e re s d a áre a. C om a pro fis s io n a liz a ç ã o d a m e d i
cin a , as m ulh e re s fo ra m e xpuls a s de seus p a p é is tra d ic io n a is
n a s aúde com o p a rte ira s e cura n d e ira s, e re le g a d a s ao p a p e l
de e nfe rm e ira s - um a posiç ã o que é subs ervie nte ao p a p e l do
m é dico e fin a n c e ira m e n te m e nos re co m p e n s a dora . A re d e -1
fin iç ã o n ã o te ria a c o n te cid o se as m u lh e re s e stiv e ss e m e m j
posiç ã o de igu a ld a d e e te rá d e ser re p e ns a d a a gora se as m u -|
lh e re s q u is e re m a lc a n ç ar a ig u a ld a d e . f
A a c e ita ç ã o d a a b ord a g e m d a d o m in a ç ã o e x ig iria m u i
ta s m ud a nç a s n a s re la çõ e s d e g ê n e ro . M a s qu e m ud a nç a s
314 FILO S O FIA P O LÍTIC A C O NT EMP O R Â N E A
G ross su p õ e qu e a ig u a ld a d e s e xu a l de ve s er in te rp re -
ta d a e m te rm o s de e lim in a ç ã o da d is crim in a ç ã o a rb itrá ria . A
a bord a g e m d a dom in a ç ã o , p oré m , ta m b é m é u m a in te rp re
ta ç ã o da ig u a ld a d e e, se n ós a a c e ita rm o s, a a u to n o m ia to r-
n a r-s e -á p a rte d a m e lh o r te o ria d a ig u a ld a d e se xual, n ã o u m
v a lo r riv a l. O a rg u m e n to a fa v o r da a u to n o m ia das m ulh e re s
o F E M IN IS M O 315
re c orre à id é ia m a is p ro fu n d a d a ig u a ld a d e m o ra l e m v e z
He e n tra r e m c o n flito co m ela , pois ela a firm a qu e os in te re s
ses e e xp e riê n cia s das m u lh e re s d e v e m s er ig u a lm e n te im
p o rta n te s n a m q ld a g c m d a v id a so cia l. C om o d iz Z ü Ii K lif-
s e n ste in , " a ig u a ld a d e n e ste s e n tid o s ig n ific a os in d iv íd u o s
te re m ig u a l v a lo r co m o seres hu m a no s. N e sta vis ã o, a ig u a l
d a d e n ã o s ig n ific a ser co m o os ho m e n s, t a l co m o ele s são
hoje , n e m te r ig u a ld a d e com nossos opre ssore s " (E is e nste in,
1984: 253).
P orta nto , ,tj a b ord a g e m da do m in a ç ã o com p a rtil h a com
os te óric o s d a c o rre n i l ^ ^ .a
igu a lcfa dq. M a s e la é c o m p a tív e l com a m a n e ira com o os
te órico s da c orre n te d o m in a n te in te rp re ta m este c o m p ro
m isso - p o r e x e m plo, a a bord a g e m da d o m in a ç ã o a ju sta -s e
à vis ã o lib e ra l da igu a ld a d e d e recursos? M a c k in n o n a rg u -jj
m e nta qu e a a bord a g e m da d o m in a ç ã o le v a -n o s a lé m d o s i
p rin c íp io s b ásicos do lib e ra lis m o . É a ssim ? É v e rd a d e qu e os 1
te óric o s lib e ra is , co m o o u tro s te óric o s da c orre n te m a s c u li
na, a c e ita ra m a a b ord a g e m d ife re n c ia d a d a ig u a ld a d e s e
x u a l e, co m o re s u lta d o , n ã o a ta c ara m s e ria m e n te a s u b ord i
nação das m ulh e re s . P od e mos a rgu m e nta r, poré m , que os li-1
b era is (e o u tro s te óric os co n te m porâ n e o s) e stã o tra in d o s e us!
p ró p rio s p rin c íp io s ao a d o ta r a a b ord a g e m d ife re n c ia d a 3. 1
2. O p ú b lic o e o priv a d o
Q u a n d o a plic a m os a a bord a g e m d a d o m in a ç ã o à ig u a l
d a d e s e xu a l, u m a da s qu e stõ e s c e n tra is é a qu e d iz re s p e i
to à d is trib u iç ã o d e s ig u a l d o tra b a lh o d o m é stico e à re la ç ã o
e n tre re s p o n s a b ilid a d e s de fa m ília e re s p o n s a b ilid a d e s d o
lo c a l d e tra b a lh o . O s te ó ric o s d a c o rre n te d o m i n a n te , p o -
ré m , re lu ta ra m e m ’ c o n fro n ta r .as re la çõ e s fa m ilia re s e ju l
g á -la s à luz. de p a drõ e s de ju s tiç a . O s lib e ra is clá ssicos, p o r
e x e m plo , supus e ra m qu e a fa m ília (e nca be ça da p o r u m h o
m e m ) é u m a u n id a d e b io lo g ic a m e n te d e te rm in a d a e qu e a
ju s tiç a re fe re -s e às re la çõ e s c o n v e n c io n a lm e n te d e te rm i
nadas e ntre fa m ília s (F hte m a n, 1980: 2 2-4). P orta n to , a ig u a l -
d a d e n a tura l qu e disc ute m é de p a is co m o re pre s e nta nte s de
'fa m ilia s , e o c o ntra to socia l qu e d isc ute m go v e rn a as re la çõ e s
e n tre fa m ília s . A ju stiç a refere -se ao d o m ín io " p ú b lic o " , no
qu a l ho m e ns a d u lto s lid a m com h o m e n s a d u lto s e m c o n fo r
m id a d e com convençõ e s m utu a m e n te acorda da s. A s rela çõe s
fa m ilia re s , p o r o u tro la d o , são " p riv a d a s " , g ov ern a d a s p e lo
in s tin to o u solid a rie d a d e n a tura l.
O s te óric o s c o nte m p orâ n e os n e g a m qu e a pen a s os h o
m e ns s eja m capa z es de a tu a r d e n tro d o d o m ín io p ú b lic o .
M a s, e m b ora a ig u a ld a d e sexu a l seja a gora a firm a d a , a in d a
se pre ssupõ e qu e e sta ig u a ld a d e , com o n a te o ria lib e ra l clá s
sica, a p lic a se a rela çõ e s fora d a fa m ília ., O s te óric o s d a ju s
tiç a c o n tin u a m a ig n o ra r re la çõ e s d e n tro d a fa m ília , q u e se
su p õ e s e r u m d o m ín io e s s e n c ia lm e n te n a tu ra l. E a in d a
se su põ e , im p líc ita o u e x p lic ita m e n te , q u e a u n id a d e fa
m ilia r n a tu ra l é a fa m ília tra d ic io n a l e nc a b e ç a d a p o r u m
h o m e m , com as m ulh e re s e x e cuta n do o s erviço do m é stico e
re p ro d u to r n ã o re m u n e ra do . P or e x e m plo , e m bora J. S. M ill
enfatiz a ss e que as m ulh ere s era m ig u a lm e nte capaz es de re a
liz a ç ã o e m tod a s as esfera s de e m pre e n d im e n to , ele supôs
qu e as m u lh e re s c o n tin u a ria m a fa z e r o tra b a lh o d om é stic o .
E le d iz qu e a d ivis ã o s e x u a id o tra b a lh o .d e n tro d a í a m ília " já
é fe ita p o r co n s e n tim e n to ou, de q u a lq u e r m o d o r n ã o ,p e la
318 FILO S O FIA P O LÍTIC A C O N T EMP O RÂ N E A
í/
a risto t é lic a " de tra t a r os in d iv id u o s c om o " ch ef e s de f a m ili a " c o ntin u a a
m u m n a ciê ncia p o lític a (S tie hm , 1983).
o F E MIN IS M O 319
esta fro n te ira e ntre esferas n ã o im p lic a que a vid a priv a d a seja
ra dic a lm e nte a p o lític a ou a n ti-s o c ia l. V id a priv a d a sig n ific a
vid a na sociedade c iv il, n ão a lg um e stado pré -so cia l da n a tu
rez a ou a condição a nti-socia l do isola m e nto e do desapego [...]
a lib e rd a d e priv a d a ofere ce um a esca pa tória à sup ervis ã o e à
in te rfe rê n cia dos fu nc io n á rio s pú blico s, m u ltip lic a n d o possi
T ãilidades de a ssociações e com bin a çõe s priv a d a s [...] L o ng e
de co nvid a r a a p atia , supõ e-s e que a lib erd a d e priv a d a e nco
raje a discussão p ú b lic a e a form a ç ão de grupos que ofereça m
aos in d iv íd u o s acesso a conte xtos sociais m a is a m plos e ao
gov erno (R os e m blum , 1987: 61).
p ro b le m a , n o ca so, é ju s ta m e n te qu e e la n ã o é v is ta c om o
piarte d o d o m ín io p riv a d o , qu e é o d o m ín io d a lib e rd a d e }i-
“b e rã l E sta e xclusã o d a fa m ília é s urpre e n d e nte , e m u m s e n
tid o , p o is a fa m ília p are c e u m a in s titu iç ã o p a ra d ig m á tic a
m e n te social, p o te n cia lm e n te ba se a da ju sta m e n te n o tip o de
coop era ç ã o qu e os lib e ra is a d m ira v a m n o re s to d a s ocie d a
de , a in d a qu e h o je e ste ja a tola d a ju s ta m e n te n o tip o de re s
triç õ e s a trib u tiv a s qu e os lib e ra is a b o m in a v a m n o fe u d a
lis m o . N ã o o b sta n te , os lib e ra is pre o cu p a d o s e m p ro te g e r
a v id a so cia l, e o acesso dos h o m e n s a ela , n ã o se pre o cu p a
ra m e m a sse gurar qu e a v id a d o m é stic a fosse org a n iz a d a de
a cord o com os p rin c íp io s de ig u a ld a d e e c o n s e n tim e n to ou
qu e os a rra n jo s d o m é stic o s n ã o im p e ç a m o acesso das m u
lh e re s a outra s form a s de v id a socia l. P or qu e os lib e ra is , qu e ,
se o p u s e ra m à h ie ra rq u ia atrib u tiv a n o d o tiffp ip çte c iê n r
'cT â Tcli re lig iã o , d a c u ltu ra e d a e conom ia , n ã o m o stra ra m n e
n h u m in te fé s s e é m fa z e r o m e sin o p e la e sfera dom é stic a ? 5
s a c rific a r o in te re ss e p ú b lic o m a is a m p lo a a lg u m v ín c u lo
p e sso al o u pre fe rê n cia p riv a d a " (K e n n e d y e M e n d u s , 1987:
3 -4 ,1 0 ). E m o utra s p ala vra s, os lib e ra is e ndossara m a d is tin
ção de p ú b lic o e d o m é stico p e la s m e sm a s ra zõ e s q u ç o s a n ti-
11'berais a e ndo ss a ra m , n ã o p o r a cre d ita re m e m u m a d is tin -
; qu e re je ita ra m a d istin ç ã o de
p ú b lic o e p riv a d o te n d e ra m a a gu ç a r a d iv is ã o tra d ic io n a l de
d o m é stico e p ú b lic o . P or e x e m plo , e m bora os gre gos a n tig o s
n ã o tiv e ss e m n e n h u m a conce pçã o d o tip o de e sfera priv a d a
qu e os lib e ra is pre fe re m , fa z ia m u m a n ítid a d is tin ç ã o e n tre
de re tira r-s e da socie d a de possa ser e nc ontra d a e m lib e ra is clá ssicos (por
e x e m plo , a C arta da tolerância d e Lock e), ela é p rim a ria m e n t e u m a posiç ã o l i
b eral adota d a . V e r a priv a cid a d e e m funç ã o do a b a ndo no de to d os os pa p éis
da socie d a de civil, lo n g e de ser a posiç ã o lib e ra l orig in a l, sign ific a qu e jlu p e s s
so ai e o._ pri^ a i o r a r ru iiaa QdadQ S:de virtu a lm e n U - torio a m b ie nt e In s til a d o -
n a l. O re su lt a do é u m cola pso dra m á tico d a d istin ç ã o lib e ra l tra d icio n a l e ntre
p ú b lic o e priv a d o c o m o e n tre g ov e rno e s od e d a d é 'T(R os e nblum , 1987: 66).
334 FILO S O FIA P O LÍTIC A C O N T E MP O R Á N E A
n a l, p o is e la d e fin e a p riv a c id a d e in d iv id u a l e m fu n ç ã o d a
p riv a c id a d e c o le tiv a d a f a m f l i a . ^ j f i r e f i ^ r i Y ^ a d ^
c o n s id e ra d o v in c u la d o às f a m ilia s c o m o u n id a d e s, n ã o a
c a d a ü ifT d e se us m e m b ro ^ C o m o re s u lta d o , os in d iv íd u o s
n ã o tê m n e n h u m d ir e ito à p riv a c id a d e d e n tro d a fa n a íjia . Se
dü ৠp'éssóãs se "casam, o d ire ito à p riv a c id a d e g a ra n te q u e o
E sta do n ã o in te rfe rirá n as d ecisõ e s d om é stic a s do casal, M a s,
se a m u lh e p n ã p fiv e r p riv a c id a d e d e n tro d o casam en to , p ara
com e ç ar, e n e n h u m p o d e r n a e la b ora ç ã o d e sta s d e c isõ es,
este d ire ito de priv a cid a d e fa m ilia r n ã o lh e forn e c e rá n e n h u -
m á p riv a cid a d e in d iv id u a l e, n a v e rd a d e , e le im p e d e o E s
ta d o d e a g ir p a ra p ro te g e r a su a p riv a c id a d e .
H á a lg u n s casos e m qu e o T rib u n a l re c o rre u e x p líc ita
m e nte à priv a c id a d e in d ivid u a l d a m u lh e r, m e sm o d e n tro d a
fa m ília . M a s e le s p a re c e m s er a e xce ção à re gra (E ich b a u m ,
1979). P or qu e as re la çõ e s fa m ilia re s n ã o fo ra m suje ita d a s ao
te ste d a priv a cid a d e in d iv id u a l? A re sposta n ã o p o d e ser a de
que a fa m ília é v is ta c o m o o â m a go d a v id a priv a d a , p orq u e
? p ro b le m a , n o caso, é ju s ta m e n te o fa to d e q u e a n o ç ã o d e
iriv a cid a d e a p lic a d a e m o u tro s casos n ã o é a p lic a d a às re la
t e s fa m ilia re s . C o m o d iz June E ic h b a u m , a id é i a d e p riv a c i
d a d e b as e a d a n a fa m ília c o n tra d iz to d o o s e n tid o d e u m d i-
j e it o à priv a cid a d e : " u m d ire ito d e priv a cid a d e qu e prote g e o
intere ss e d e u m a u nid a d e cole tiv a , a fa m ília , à cu sta d a a u to
n o m ia in d iv id u a l ig n o ra in te ira m e n te a n e c essid a de h um a n a
d e p riv a c id a d e e o b scure c e n e c e s s a ria m e n te o s ig n ific a d o
m a is p ro fu n d õ H ã p n v ã a d â n é ^d E c h b a u m , 1979: 368). P ro
t e g e r^ 'fa m ília d à in te rv e n ç ã o " e sta ta l n ã o g a ra n te n e ce ssa
ria m e n te às m u lh e re s (o u aos filh o s ) u m a e sfera p ara o is o
la m e n to p e sso a l d a pre s e n ç a de o u tro s o u d a pre ss ã o p e la
c o n fo rm id a d e às e xp e cta tiv a s do s o u tro s .
P or qu e o S u pre m o T rib u n a l in te rp re to u a p riv a c id a d e
co m o base ad a n a fa m ília ? A re sposta p arece e n co n tra r-s e n a
in flu ê n c ia p e rsiste n te d e id é ia s p ré -lib e ra is a re s p e ito d a n a
tu ra lid a d e da fa m ília tra d ic io n a l. Isso é e vid e nte n a lo n g a tr a i
diç ã o d e d efe sas ju d ic ia is d a s a n tid a d e da fa m ília , d a q u a l I
" d ir e ito à priv a cid a d e " é apen a s o ú ltim o e pisó dio . A p rim e if
ü F E M IN IS M O 335
È
is os p a p é is dos g ê n eros a ssocia dos à f a m ília tra d ic io n a l
tão e m c o n flito , n ã o ap e n as com os id e a is p ú blic o s de d i
to s e re cursos ig u a is , m a s t a m b é m com a c o m pre e n s ã o
era l das c on diçõ e s e v a lore s da v id a priv a d a .
3. U m a é tic a d o c u id a d o
1 d a ^m u U je .re § " A N ich olso n, 1986: 22-3; cf. W e n d e ll, 1987). P ar a dox a l
m e nte , q u a n d o os lib era is e ndoss a m a re form a d a fa m ília , são m u ita s ve z es
a cusa dos de " d e s v a loriz a r a esfera priv a d a " (E lshtain, 1981: 243; cf. N ic ho ls on ,
1986: 24). Jean E ls hta in a firm a que o " im p e r a tiv o lib e ra l " é " to rn a r to t a lm e n
te p o lític a ou p ú blic a a esfera p riv a d a " ( E lshtain , 1981: 248). A o to m a r a cria -
. ção dos. filh o s u m a Ç é sp on s a bilid a d e pú blic a , o lib er a lism o , " d e sp iria a esfera^
priv a d a d a ra z ã o c e h tra l de. su a e xistê ncia e de sua prin cip a l f o rt e d e e moç ã o
e v a lor hu m a nos . S im ila rm e n t e , e x te rioriz a r tod a s as ativid a d e s de a d m in is
tra ç ã o da casa, to m á -l a s a tivid a d e s públic a s, seria v icia r o d o m ín io priv a d o
a in d a m ais. 'T od a s as pessoas, n a m e did a do possív el, s eria m tra nsform a d a s
e m pe ssoas pú blic a s, e o ro m p im e n to das form a s d e v id a socia l inicia d a s p ela
in d u s tria li z a ç ã o s eria c o n cluíd o p e la a bsorç ão d o priv a d o , tã o c o m p le t a m e n
te q u a n to possív el, p e lo p ú b lic o .' E sta é a con clus ã o d o im p e ra tiv o lib e ra l "
( E lshta in , 1981: 248, c ita n d o R. P. W o lff). P ara u m a discussã o das pr e o cu p a
ções fe m inista s rec e ntes a re sp e ito da i j i h p p ií S a çap (p or e x e m plo ,
a_extensão do p e ns a m e n to-co n tra tu a i-a a ca sa me nío.e .à fa m ília ), v er, de m in h a
a utoria , " R e th in k in g th e F a m ily " , Philosophy and Public A ffa irs, v o l. 20 (1991).
O F E M INIS M O 339
m in is t a s c o n t e m p or â n e a s a rg u m e n t a m q u e to d a a tr a d i
ção de d is tin g u ir m ora lid a d e " m a s c u lin a " e m ora lid a d e " f e
m in in a " é u m m it o c u ltu r a l q u e n ã o t e m n e n h u m a base
e m p m c a J g á , p oré m , u n ia . x o ii e n t e -s ig m fk a tÍ¥ a ., d o f e m i
n is m o c o n t e m p or â n e o qu e a rg u m e n t a q u e d e v e m o s c o n -
's id e r a r s eria m e n te a m o r a lid a d e d if e r e n t e d a s m u lh e r e s -
d e v í a m o s v ê -l a c o m o u m m o d o d e ra c io c ín io m or a l, n ã o
_s im p le s m e n t e c o m o u m .s e n tim e n to in t u it iv o , e .e opm iiiy i a
^m ie a ie n ii^ e rn im e m o m Q x a l,-n ã o tsimple§m.ente.,comq.o
re s u lt a d o a rtific i a l d a d e sig u a ld a d e s e x u a j./ O n d e os t e ó -
'ric o s h o m e n s a firm a v a m q u e as disp os içõ e s das m u lh e re s
e ra m d e n a tur e z a in t u it iv a e d e â m b ito priv a d o , a lg u m a s
f e m in is t a s a rg u m e n t a m qu e ela s são ra c io n a is e d e â m b i
to p o t e n c ia lm e n t e p ú blic o . O p e n s a m e nto p a rtic u la rist a qu e
as m u lh e re s e m pre g a m é u m a m or a lid a d e m e lh o r do qu e o
p e n s a m e n to im p a rc i a l qu e os h o m e n s e m pre g a m n a e sfe
ra p ú b lic a ou, p e lo m e nos, u m c o m ple m e n to nec e ssário p ara
ele, e s p e c ia lm e n t e a ss im qu e re c o n h e c e m o s qu e a ig u a l
d a d e s e xu a l e xig e u m ro m p im e n to d a d ic o to m í a p ú b lic o -i
d om é stic o .
O re no v a do intere ss e f e m in is t a p e los m o d o s d e ra ciocí
n io m ora l das m ulh e re s orig in a -s e e m bo a p a rt e dos e studos
d e C arol G illig a n sobre o d e s e n vo lvim e nto m or a l das m u lh e
res. S e gundo G illig a n , as s e n sibilid a d e s m ora is dos h o m e n s
e das m u lh e re s r e a lm e nte t e n d e m a se d e s e nvolv e r de m a
n e ira d if e re n t e . A s m ulh e re s t e n d e m a ra c io c in a r e m u m a
" v o z d if e re n t e " , qu e ela re sum e d e sta m a n e ira :
de in ic i a lm e n t e ji e s £ O V o M d a . n o contexto.,d a s^e la cõ e s p r i
v a das, t e m sig nific a ç ã o p ú b lic a e de ve. ser e s te n did a a os .ne
gócios p ú blic o s .
O q u e é a é tic a d o cuid a do ? C o m o fic a e v id e n te n o r e
s u m o d e G illig a n , h á m a is d e u m a d if e re n ç a e ntre as du a s
vo z e s m ora is. A s d ife re nç a s p o d e m ser e x a m in a d a s sob trê s
c a te goria s (cf. T ro n to , 1987: 648):
a a te nç ã o p ara c o m d e t a lh e s e sp ecíficos, e m v e z d e e n tr a r
e m c o n flito co m ela ( F rie d m a n , 1987b: 203).
A lg u n s te órico s d o cu id a d o a firm a m qu e a te nd ê n cia de
re corre r a p rin c ip io s p a ra a d ju d ic a r c o n flito s pre c e d e a t e n
d ê n cia m a is v a lio s a d e e la bora r soluçõ es n as q u a is os c o n fli
tos s e ja m sup era d o s. P or e x e m plo , G illig a n a firm a q u e , ao
c o n s tru ir pro b le m a s m ora is e m t e rm o s de ju s tiç a o u c u id a
dos, seus su je ito s " d is t a n cia v a m -s e d a situ a ç ã o e re corria m
a u m a re gra o u p rin c íp io p ara a d ju d ic a r a s re ivin d ic a ç õ e s
c o n flit a n t e s o u e ntra v a m n a situ a ç ã o e m u m e sforço de d e s
c o b rir o u cria r u m a m a n e ira d e re s p o n d e r a tod a s as ne c e ssi
d a d e s " ( G illig a n , 1987: 27). E, n a v e rd a d e , e j^ d t a m u it o s .
casos e m qu e as m e n in a s e ra m ca pa z es d e e n c o n tra r u m a
" soluç ã o qu e r e s p o n dia a to d a s as n e c e ssid a d e s d a situ a ç ã o
' espe cífica, u m a solu ç ã o q u e os m e n in o s d e ix a v a m p assar na .
j pressa d e e n c o n tra r u m a a dju dic a ç ã o pro v id a d e prin c íp io s
p ara o co n flito . N e m s empre , p oré m , h a verá u m a m a n e ira de
a co m o d a r e xig ência s c o n flit a n t e s e n ã o está cla ro q u e d e v e
m o s s e m pre t e n t a r a co m o d ar to d a s as e xig ência s. C o nsid ere
as e xig ê ncia s d e c ó dig o s d e h o n ra ra cista s o u sexistas. São
" e xig ê n c ia s " claras, m a s m u it a s d ela s são il e g ítim a s . O fate
d e qu e os h o m e n s bra n c os e sp era m ser tra t a d o s d e m a n e i
ra d if e re n c ia d a n ã o é ra z ã o p ara a c o m o d a r estas e xp e cta ti
vas. M e s m o qu e pu d é ss e m o s a com o d á-la s , p od e ría m o s pro
v o c a r u m c o n flito p ara t o rn a r clara noss a d e s a prov a ç ã o. Se
d e v e m os q u e s tio n a r estas e xig ência s, e ntã o, " a ate nç ã o n ã o
po d e estar s e mpre foc a liz a d a justamente nos d eta lh e s e n u a n -
ças d a situ a ç ã o e sp e cífic a " , m as, a nte s, de v e s itu a r estes d e
ta lh e s d e n tro d e u m a e s tru tura m a io r d e p rin c í p io s n o rm a
tiv o s ( G rim s h a w , 1986: 238; W ils o n , 1988: 18-9).
E x a m in a re i ca da u m a d ela s in d iv id u a lm e n t e .
a c e ite m o s u m p r i n d p k i u n iv e rs a lis t a d e ig u a l v a lo r m o ra l.
À re sposta s urpr e e n d e nt e m e n t e p ro v is ó ria de T ro n to é qu e
" p o d e ser p ossív e l e vit a r a n e cessid ad e d e u m a a leg a çã o es
p e cia l e, ao m e s m o t e m p o , d e ter-s e a nte p rin c íp io s m ora is
u niv e rs a is: se fo r a ssim, u m a é tic a d o c u id a d o p o d e s er v i á
v e l " (T ronto , 1987: 661, 660).
O u tro s te óricos do cuid a do , p oré m , in t e rp r e t a m a "re d e
existe nte d e re laçõ e s " de u m a m a n e ira m a is exp ansiva . C o m o
Tro nto, G illig a n d iz q u e " c a d a pe sso a está in s e rid a d e n tro de
u m a re d e d e rela çõ e s co ntín u a s, e a m ora lid a d e , d e m a n e ira
im p o rt a n t e , se n ã o e xclusiv a , c on siste n a a te nç ã o, n a c o m
pre e ns ã o e n a re c e p tiv id a d e e m o c io n a l p a ra c o m os in d iv í-,
d u o s c o m os q u a is m a n t e m o s estas re la ç õ e s " (B lu m , 1988:
473). M a s, co m o obs erv a B lu m , " G illig a n p re t e n d e qu e esta
re d e a bra nja to d o s os seres h u m a n o s , n ã o a p e n a s o no sso
círculo d e co n h e cid o s " (B lu m , 1988:4 73). C o m o d iz u m a das
m u lh e re s n o e s tu d o d e G illig a n , so m o s re s p o n s á v e is p o r
" e st a coleç ão gig a nte sc a de to d o o m u n d o " , d e m o d o qu e " o
e s tra n h o a in d a é o u tra p e sso a q u e p e rte n c e a este gru p o ,
p e sso a à q u a l voc ê e stá lig a d o em virtu d e ser outra pessoa"
( G illig a n , 1982:5 7, ênfase m in h a ; cf. 1982:1 6 0). Para G illig a n ,
O F E M IN IS M O 351
B e n h a b ib q u e s tio n a se " a s s u m ir o p o n t o de v is t a do s
o u tro s " é v e rd a d e ira m e n t e c o m p a tív e l com o ra cio c ín io p o r
trá s d e u m v é u d e ig n orâ n cia , p orq u e a ju s tiç a é, " c o m isso,
id e n tific a d a com a p ersp e ctiv a d o o u tro g e n e ra liz a do d e s in
s erido e d e sincorpora do. [...] O pro ble m a po d e ser form u la d o
da s e guint e m a n e ira : s e g und o K o h lb e rg e R a w ls^a r e c ip ro
cid a d e m ora l e n v o lv e a c a p a cid a d e d e a s s u m ir o p o n to ã e “
-v is t a d o ou tro . He n o s . c o lo c a rm o s im a g in a tiv a m e n t e n o
d e ig n o r â n c i a ^
TcTcómo diferente do eu desaparece® (BenfiabTb, 1987:
88-9; cí. B lum , 1988: 475; G illig a n , 1986: 240; 1987: 31). Isso,
poré m , re pre s e nta e rron e a m e nte c o m o a posiç ã o orig in a l
op era . O f a to d e se p e d ir qu e as p e ssoa s r a c io c in e m a bs
tr a in d o sua p ró pri a posiç ã o socia l, t a le n to s n a tur a is e p r e
ferê ncia s p e ssoais ao p e ns a r sobre os o u tro s n ã o signific a
qu e elas d e v a m ig n o r a r as pre ferê ncia s , t a le n to s e po siç ã o
socia l espe cífic as dos outros. E, co m o vim o s, R a wls insiste
e m qu e as parte s p o r trá s d a po siç ã o o rig in a l d e v e m le v a r
esta s cois as e m c o n t a (cap. 3, seç ão 3 a cim a). B e n h a bib s u
põ e qu e a posiç ã o o rig in a l fu n c io n a p e la e xig ê n cia d e qu e
os c o ntra ta n t e s c o ns id e re m os intere ss e s dos o u tro s c o n
tra t a nt e s (qu e se to m a m to dos " o u tro s g e n e ra liz a do s " p or
trá s d o v é u de ig norâ n cia ). N a v erd a d e , p oré m , o e fe ito do
v é u é que " n ã o im p ort a m a is p ara o [c ontra ta n t e ] qu e m , n a
posiç ã o orig in a l, oc up a a p osiç ã o c o m ele, se é qu e a lg u é m o
fa z, o u qu a is são os intere ss e s d e seus ocup a nte s. O que im
p ort a p ara ele são os de sejos e o b je tiv o s d e to d o m e m bro
efetivo de sua socie d a d e , p o rq u e o v é u o forç a a ra cio c in a r
como se fôssemos qualqu er um deles" ( H a m p to n , 1980: 335).
C o m o vim o s , ç> s o lid á rio id e a l d e H a re im p õ e a m e s m a e x i
g ê ncia (cap. 2, seçã o 5b a cim a). A m b o s os d is p o s itiv o s , os
c o n tra t a n t e s im p a rcia is e os s o lid á rio s id e a is , fu n c io n a m
p o r m e io d a e xig ê n cia de qu e as pessoas consid e re m os o u
tros concretos (cf. B rou ghto n , 1983: 610; Sh er, 1 9 8 7 :184)13.
Isso a in d a d e ix a a p o s s ib ilid a d e d e qu e a lg u m a s p e s
soas t e n h a m fort e s d e s ejos fru s tra d o s p e la a plic a ç ã o de re
gras abstrata s. M a s, co m o vim o s , a étic a da justiç a supõ e que
a dultos com p e te nte s s eja m capa z es d e a justa r seus fin s à lu z
d e p a drõ e s públic os. S u p o n d o qu e as re gra s s eja m c o n h e ci
das p u b lic a m e n t e , e c o n c e n tra n d o noss a a te n ç ã o, p o r ora ,
n o s a d u lto s co m p e t e n t e s , e n t ã o , as p e sso a s q u e s ofre rã o
c o m a a plic a ç ã o d e re gra s a bstrata s s erã o as que, p e la e xtra
v a gâ ncia e fa lta d e cuid a do , conc e b era m de sejos qu e n ã o p o
d e m ser s a tisfe itos d e n tro d e seus m e ios le g itim a m e n t e d is
trib u íd o s . Pode h a v e r ta is pe ssoas e m q u a lq u e r s itu a ç ã o es-l
p e c ífic a e seu s o frim e n to p o d e s er m e n o s n o t a d o e m umq|
socie d a d e qu e re corre a nte s a regra s a bstra ta s qu e a a v alia-f
çõe s s e nsív e is ao c o n t e x to d e n e ce ssid a de s específic as. Mas!
isso é d e sua p ró p ri a re s p o n s a b ilid a d e e n ã o é ju s to p e d ir
qu e o utro s fa ç a m s a crifício p a ra p o u p á -la s de sua irr e s p o n
s a bilid a d e .
^ A d ific u ld a d e d e d e lim itar„ oJ:e .rre no p a ra . a . a u to n o m ia
p e s^o ã rri ã e t í ca d o c u id a d o le m bra u m p ro b le m a s im il a r n o
u tilit a ris m o (cap. 2, seção 3 a cim a). E m a m bos os casos, o
a g e n f é 'm o f á l e n fr e n t a u m a " r e s p o n s a b ilid a d e " a p a re n t e
m e n t e " ilim it a d a " p o r " a g ir p e lo m e lh o r re s ult a d o e m u m a
e strutura c ausai form a d a , e m gra u consid erá ve l, p e los p ro j e
to s [dos o u tro s ]" . A s d e cisõ e s d o a g e n te to rn a m -s e " u m a
fu n ç ã o de tod a s as satisfa çõ es qu e ele p o d e a fe ta r de o nd e
está: e isso sig n ific a qu e os pro je to s dos outros, e m u m gra u
im e n s u ra v e lm e n t e gra nd e , d e t e rm in a m sua d e c is ã o " , d e i
x a n d o po u c o espaço p ara a busc a in d e p e n d e n te d e seus p r ó
prio s de sejos e convicçõ e s (W illia m s, 1 9 7 3 :115)17. E ste p a ra -