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FUNÇÕES DAS TEORIAS G E O P O L Í T IC A S :

ALGUMAS REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE O CASO ARGENTINO

Norma B red a dos Santos

DISSERTAÇÃO.APRESENTADA AO
CURSO DE PÔS-GRADUAÇÃO EM D IR E IT O
DA U N IVE R SID A DE FEDERAL DE SANTA CATARINA
COMO R E Q U IS IT O Ã OBTENÇÃO DO TÍTULO
DE MESTRE EM C IÊ N C IA S HUMANAS - ESP EC IA LID A D E D IR E IT O

O rie n ta d o r: P rof. Dr. C h r i s t i a n Guy C au b et

FLORIAN ÓPOLIS
1 9 8 5
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SÕCIO-ECONÔMICO
CURSO DE PÕS-GRADUAÇÃO EM D IR E IT O

A d is s e r t a ç ã o FUNÇÕES DAS TEORIAS G E O P O L Í T IC A S :


ALGUMAS REFLEXÕES C R lT IC A S SOBRE O
CASO ARGENTINO

e l a b o r a d a por NORMA BREDA DOS SANTOS

e apro vada po r todos os membros da B anca E x a m in a d o ra , foi ju lg a d a


adeq u a d a p a r a a obtenção do t i t u l o de MESTRE EM D IR E IT O .

F o ria n õ p o lis 12 de dezem bro de 1985

BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. C h r i s t i a n Guy C aubet
Prof. Dr. O s n i M e d e ir o s R e g is
P ro fa. Vera T e re z in h a A . G rillo

P rofessor O rien ta d o r: ............... ■


...........................
Christian Guy C au bet

C oordenado r do C u rs o :

P aulo H e n riq u e B l a s i
Para R a f a e l
RESUMO

O presente t ra b a lh o p r o c u r a f a z e r uma r e fle x ã o

sobre a G eo poli.ti.ca, uma vez que e s t a tem s e r v id o como um r e ­

le v a n t e refe re n c ial de a n á lis e das r e la ç õ e s i n t e r n a c i o n a i s que

tem iima i n s c r i ç ã o p r á t i c a não menos im p o r t a n t e . Na

de d ar uma m a io r e s p e c i f i c i d a d e t e m á t ic a , optou-se p o r e s t u d a r

a G e o p o lític a a rg e n tin a .

A s s im , no p r im e iro c a p í t u lo f a z uma r e v isã o da

G eo p o lítica c l á s s ic a , com seus t e ó r ic o s e c o n c e it o s m ais impor

tantes, na m ed id a de con fro ntá - la com uma r e f l e x ã o sobre o ser

ou não s e r c i ê n c i a , e sobre a função s o c i a l d e s s e saber.

0 segundo c a p ít u lo b u s c a e v i d e n c i a r e d is c u tir

as im p lic a ç õ e s da invo caçã o da p r e m iss a g e o p o l í t i c a segundo a

q u a l o mundo e s t a r i a d i v i d i d o em d o is setores fa ta lm e n t e anta­

g ô n ic o s , s o b r e m a n e ir a os modelos p o l í t i c o s id e a liza d o s e in s ta

lado s na A m é ric a L a t i n a sob a i n s p ir a ç ã o da r e f e r i d a "fa t a lid a

de b i p o l a r " .

F in a lm e n t e , o terc eiro c a p í t u lo centra- se no

tema b a s e da d i s s e r t a ç ã o : a G e o p o l í t ic a a r g e n t i n a . E l a tem se

c o n s t r u íd o em o p o s iç ã o ao que en ten d e como h eg em o n ia b r a s i l e i ­

ra no c o n t in e n t e la tin o - a m e r ic a n o . A p o l í t i c a e x t e r n a b r a sile i^

ra e a produção teõjriça g e o p o l í t ic a que se. r e a l i z a no B r a s i l '

têm s id o amplamente, d is c u t i d a s p e l a G e o p o l í t ic a arg en tin a. Na

d iv e r s i d a d e dos a ss u n to s o b je t o de crí/ti.ca dos g e o p o l í t i c o s ar


g e n t i n o s , e leg eu - se q uatro p a r a a n á l is e po r serem, os que anais po­

lêm ica p r o v o c a r a m : o problem a do ap ro yeftam ento e n e r g é t ic o da

B a c i a do Prata,, a im p o rtâ n cia e s t r a t é g i c a do A t l â n t i c o Sul, a

v is ã o que os geopolí.ti.cos a r g e n t in o s têm sobre a forma como o

B ra sil tem encam inhado sua p o l í t i c a a n t á r t i c a , e a conduta do

B r a s i l nas r e la ç õ e s com seus- v i z i n h o s la t in o - a m e r ic a n o s .

Es ta s são as coo rdenadas d e st e trabalh o. Ne­

le b u sca m o s, de m a neira mais g e n é r ic a , c o lo c a r as lim it a ç õ e s

da G e o p o l í t ic a tra d ic io n a l, forma de in t e r p r e t a ç ã o da " r e a l i ­

dade p o l í t i c a " ã lu z da "r e a l i d a d e g e o g r á f i c a " . Na e s p e c ific _i

dade da G e o p o l í t i c a a r g e n t in a i d e n t if ic a r e m o s a p r o je ç ã o do

que r e z a a G e o p o l í t ic a como um todo .


FtËgUMË

L 'é t u d e cons.titue une r é f l e x i o n sur la g é o p o l it i


que., car c e l l e - c i a s e r v i de r é fé r e n c e a 1‘â n aly se des r e l a t io n s
i n t e r n a t i o n a l e s , avec des co nséquences p r a t iq u e s q u i ne sont
pas moins im p o r t a n t e s . Avec l 'i n t e n t i o n d 'o b t e n i r une p lu s gran
de s p é c i f i c i t é t h é m a t iq u e , on a r e t e n u le cas de l a g é o p o liti­
que a r g e n t i n e .
Le prem ier c h a p it r e pro cèd e a i n s i à une r é v i s i o n
de l a g é o p o l i t i q u e cla ssiq u e , de ses p lu s im portan ts théoriciens
e t .ooncepts,, en vue de l a c o n fr o n t e r avec une r é f l e x i o n sur sa
définition comme s c i e n c e , ou n o n , e t s u r la fo n c t io n s o c ia l e de
ce s a v o i r .
Le deuxièm e c h a p it r e cherche à m ettre en évidence
e t à d is c u t e r le s i m p l ic a t io n s de 1 1i n v o c a t io n de l a p rém isse
g éo p o litiq u e selon la q u e lle le monde s e r a i t d i v i s é en deux s e c ­
teu rs fa t a le m e n t a n t a g o n i q u e s , s u r t o u t si. l 'o n c o n s id è r e le s mo
d ë le s p o l i t i q u e s id é a lis é s et in sta llé s en Am érique l a t i n e sous
l 'i n s p i r a t i o n de l a n o t io n de " f a t a l i t é b ip o la ir e ".
Le t r o is iè m e c h a p it r e e s t fin a le m e n t centré sur
le thème de b a s e de l a d i s s e r t a t i o n : ’ l a g é o p o l i t i q u e arg en tin e.
C e lle - c i s 'e s t c o n s t r u it e en o p p o s it io n à ce q u 'e l l e en te n d être
une hégém onie b r é s i l i e n n e dans le c o n t in e n t l a t i n o - a m é r ic a i n . La
p o litiq u e ex té rie u r b ré silie n n e e t l a p r o d u c t io n t h é o r iq u e g éo ­
p o litiq u e du B r é s i l ont été amplement d is c u t é e s p a r l a g é o p o l i ­
t iq u e a rg e n tin e . Parmi les q u e s t io n s o b je t s de c r i t i q u e des géo
p o litiste s a rg e n tin s, q u a tr e on t été r e te n u e s en r a is o n du f a i t
q u 'e l l e s on t provoqué le s p o lém iq ues le s p lu s a i g ü e s ; le p r o b lê
me. de l'a m é n a g e m e n t é n e r g é t iq u e du b a s s i n de la p i a t a , l 'i m p o r ­
tance s t r a t é g i q u e de 1 'A t l a n t i q u e sud, l 'a n a l y s e que fo n t les
g é o p o litiste s a r g e n t in s de l a .p o l i t iq u e a n t a r c t iq u e b r é s i l i e n n e
e t l a c o n d u it e du B r é s i l dans ses- r e l a t i o n s avec ses v o i s i n s la
no-américains.
A l 'i n t é r i e u r de ce cadre on s ' e s t e f f o r c é , de mê
ni.ëre g é n é r i q u e , d 'in d iq u e r * le s l im it e s de l a g é o p o l it iq u e t ra
d itio n e lle , comme i n t e r p r é t a t i o n de l a "r é a lit é p o litiq u e " à
la lu m ière de l a "r é a lit é g é o g r a f i q u e " . Dans la s p é c i f i c i t é de
la g éo p o litiq u e a r g e n t in e nous tro uvero ns l a p r o j e c t i o n de ce
que p o s t u l e l a g é o p o l it iq u e comme un t o u t .
Í N D I C E

I N T R O D U Ç Ã O ............................................................ 1

C AP Í T U L O I

A GEOPOL ÍT I CA : D I S C U R S O DO PODER SOBRE O


E SPAÇO POR ELE P R E T E N D I D O ................................... 7

1. SOBRE OS C O NC E IT O S DA G E O P O L Í T I C A ...................... 8

2 . A CIENTIFI CIDADE G E O P O L Í T I C A ............................ 12

3. R E P E N S A N D O O E S P A Ç O ....................................... 15

A G E O P O L Í T I C A REPENSADA ................................. 22

5 . AS ESCOLAS G E O G R Á F I C A S ................................... 25
5.1 - A E SCOLA GEOGRÁ FI C A A L EM Ã ....................... 26
5.2 - A ES C O LA GE O GR ÁF I CA F R A N C E S A ..................... 30

6. RUDOLF K J E L L É N ..... ................................... .... 34

7. H A L F O R D M A C K I N D E R ............. ............................ 36

8. KARL H A U S H O F E R ............................................. 39

9. A N OVA G E O G R A F I A ...................... .................... 42

10 . A GEOPOL Í TI C A: EFICAZ INSTRUMENTO DE P O D E R ....... ...43


CAP ÍT U LO II

UMA NO VA R E A L I D A D E GEOPOLÍTICA:

A BI POLAR IDADE L E S T E - O E S T E . .. ...............................54

1. A C I R C U N S C R I Ç Ã O G E O P O L Í T I C A LATINO
A M E R I C A N A ............ ............. ........................ 55

2. A D O U T R I N A DA SEGURANÇA N A C I O N A L . ...................... 57

3. S E G U R A N Ç A C O N T I N E N T A L VERSUS
S E G U R A N Ç A N A C I O N A L ..... .................................. 66

3.1 - OS LITÍGIOS R E G I O N A I S ............................. 67

3.2 - SOBRE AS POSSIB I LI D AD E S DA S OL I D A R I E D A D E


R E G I O N A L ........... ..................................76

4. OS M I L I T A R E S E A G E O P O L Í T I C A ............................ 78

5. A MI S S Ã O G E O P O L Í T I C A BRASILEIRA,
O PAPEL E S T R A T É G I C O DO B R A S I L ........................... 83

5. 1 - OS PRIMÓR DI O S DO PENSAME N TO G E O P O L Í T I C O
N A C I O N A L ............................................. 84

5.2 - E S C O L A SU P E R I O R DE GUERRA E O P E N S A M E N T O
DE G O L B E R Y DO COUTO E S I L V A . . . ...... ............ 87

5.3 - O P E RÍ O DO P Ó S - 6 4 ................... ......... ......96

6. A V I O L Ê N C I A DA G E O P O L Í T I C A ................. ............. 98
C AP Í TU L O III

A GEOPOLÍTI CA A R G E N T I N A .......... ......................... .111

1. ALGUNS NOMES DA G E O P O L Í T I C A A R G E N T I N A ................ 112

2. ALGUNS TEMAS DA G E O P O L Í T I C A A R G E N T I N A ................113

2.1 - A B A C I A DO P R A T A .................................. 115

2,2-0 A T L Â N T I C O S U L ................................... 122

2.3 - A A N T Á R T I D A ....................... .................128

2.4 - A HEGEMONIA B R A S I L E I R A ........................... 139

3. DO PRINCÍPIO DA CONTENÇÃO AO E N T E N D I M E N T O ........... 144

C ON S I R E R A Ç O E S F I N A I S ............................................... 155

BIBLIOGRAFIA 160
INTRODUÇÃO
INIKQDUÇÃO

A complexidade das relações internacionais impõe ao observa­


dor atento uma postura de contínua inquietude e problematização, que o leva­
ra a ver nos acontecimentos mais do que aquilo que esta assimilado em forma
de concepções predominantes. Neste contexto, a Geopolítica tem tido uma im­
portância considerável, uma vez que tem servido como um relevante referen­
cial analítico que ganha uma inscrição prática não menos importante.

É exatamente sobre a Geopolítica que refletiremos nesta dis­


sertação. Nosso esforço neste sentido nos conduziu ao estabelecimento de uma
delimitação do tema, a fim de dar o aprofundamento necessário às questões a
serem tratadas. Assim, na direção de uma maior especificidade temática, op­
tamos por estudar a Geopolítica argentina. E por que a Geopolítica argenti­
na? Primeiramente pela relativa tradição da produção teõrica geopolítica des
te país. Em segundo lugar porque, deixando-nos levar pela preocupação de a-
nalisar o desempenho do Brasil nas relações latino-americanas, entendemos ser
a Geopolítica argentina uma pista significativa para a compreensão da visão
do "outro", sobre nos mesmos.

Embora nossa intenção tenha sido trazer à reflexão Geopolí­


tica argentina, um longo caminho foi percorrido a partir dela que, no pre­
sente trabalho, apresenta-se, na forma inversa, em primeiro lugar. Ou seja,
ao pensarmos sobre o assunto, não nos foi possível escapar a uma digressão
sobre as questões epistemolõgicas.em torno da Geopolítica como um todo.

Assim, no primeiro capítulo desta dissertação,procuraremos rie


ver a Geopolítica clássica, com seus teõricos e conceitos mais importantes,
na medida de nos permitirmos a confrontá-la a una reflexão sobre o ser ou
não ser ciência, e sobre a função social desse saber. Retomaremos a Escola
Geográfica Alemã (Determinista), a Escola Geográfica Francesa (Possibilista)
e a Escola Geográfica Anglo-Saxônica (Pragmática), analisando suas contri­
buições mais marcantes e contextualizando-as com a realidade histórica da
qual emergiram. Nosso objetivo será o de realizar uma leitura crítica destas
escolas geográficas, relevando aspectos que permitiam' visualizar a codeter-
2

minação entre um saber geográfico - a Geopolítica - e a realidade política


que a possibilita.

Cabe ressaltar como matriz teórica fundamental de todo o ques­


tionamento proposto o pensamento de Yves Lacoste que, num movimento de renova
ção das formulações teóricas geográficas, apresenta uma profunda crítica a
Geografia tradicional, ao investigar a constituição da Geografia, tendo em
vista práticas políticas específicas. Sem dúvida, as preocupações de Lacoste
com a articulação dos conhecimentos relativos ao espaço e ãs práticas de po­
der, foram determinantes ao prosseguimento e à orientação de nossa própria in
vestigação, e à realização de uma leitura alternativa da Geografia .tradicio­
nal.

Mostra-nos Lacoste a função ideológica da Geografia acadêmica,


que tem como finalidade precípua não permitir que se reflita sobre a inserção
espacial do cidadão e sobre a utilidade da análise espacial como instrumento
de poder. Elucida ele a existência da relação entre o desconhecimento por
parte do cidadão comum sobre a diversidade de suas práticas espaciais, e o
conhecimento global dessas práticas por aqueles que estão no poder. Ou seja ,
demonstra Lacoste que o cidadão comum não consegue apreender de maneira glo­
bal os deslocamentos espaciais que realiza e nem tem noção do instrumento de
poder que este conhecimento representa, enquanto que a minoria que está no
poder tem, e sempre teve, uma vasta consciência do que as análises espaciais
significam. Esta minoria sabe fazer uso destas análises para governar, estru­
turando o espaço para o estabelecimento e controle das práticas políticas, mi
litares e financeiras, em contrapartida ao fato de a massa, da população estar
imersa numa pluralidade espacial sem percebê-la como uma organização que ser­
ve a fins específicos.

Enfim, podemos dizer que Lacoste nos mostra a possibilidade de


uma reconstrução da "cidadania espacial": saber organizar o espaço e nele se
organizar, significa poder nele agir. A reapropriação do cidadão de sua fun­
cionalidade no espaço, representa a viabilidade de uma prática social trans­
formadora.

Estando explicitados no primeiro capítulo os pressupostos epis


temolõgicos de nossa pesquisa, guiar-rios-emos, no segundo capítulo, na direção
de trabalhar com fatos e fatores mais recentes e visíveis, que dão com maior
nitidez a indicação de como se materializam as elocubrações geopolíticas. Ou
3

seja, partindo da representação espacial segundo a qual o mundo está dividido


em dois setores fatalmente antagônicos, buscaremos evidenciar e discutir as
implicações da invocação desta premissa geopolítica, sobremaneira os modelos
políticos idealizados e instalados na América Latina sob a inspiração da refj;
rida "fatalidade bipolar". Veremos que a maior ou menor solidariedade entre
os países latino-americanos esta a mercê da invocação de categorias geopolíti
cas.

Assim, passaremos a refletir sobre a Doutrina de Segurança Na­


cional que, com sua visão simplista das relações internacionais, sustenta co­
mo evidencias primordiais a confrontação Leste-Oeste, o avanço do comunismo
internacional e a necessidade, do mundo ocidental unir-se para dele defender-
-se. Veremos, então, que nesta luta, os militares se tornam essenciais ao res
guardo da soberania nacional de seus respectivos países, bem como â soberania
política dos cidadãos. 0 espectro, do conflito externo ou interno chama os mi­
litares à responsabilidade da manutenção da ordem e da busca dos "verdadeiros
interesses nacionais".

Ainda, no segundo capítulo consideraremos o papel desempenhado


pelo Brasil dentro da estratégia de segurança para o continente, valendo-nos
principalmente das próprias teorizações de cunho.geopolítico produzidas no
país.

Finalmente, no terceiro e ultimo capítulo, nos centraremos no


tema base da dissertação: a Geopolítica argentina. A Argentina, assim como o
Brasil, é um dos países latino-americanos onde mais se produziu e publicou
trabalhos de natureza Geopolítica, o que deixa claro a penetração e aceitação
desta forma de "compreender o mundo". A Geopolítica argentina, não obstante
acompanhar a lógica da Geopolítica tradicional no privilegiamento da existên­
cia do conflito nas relações internacionais e na busca da homogeneização da
opinião interna com vistas â criação de uma "vontade nacional", guarda carac­
terísticas próprias que a toma distinta, por exemplo, daquela que se tem
produzido no Brasil. Por diversos fatores, a Geopolítica argentina tem, com
relação ao Brasil,uma postura defensiva. Ela tem se construído em oposição ao
que entende por hegemonia brasileira no continente latino-americano. A polí­
tica externa brasileira e a produção teórica geopolítica que se produz no Bra
sil tem sido amplamente discutidas e criticadas pela Geopolítica argentina.

Na diversidade dos assuntos objeto de crítica dos geopolíticos


4

argentinos, elegemos quatro para analise, por serem os que mais polêmica pro­
vocaram. Em primeiro lugar discutiremos o problema do aproveitamento energé­
tico da Bacia do Prata e, mais especificamente *a questão da construção da hi­
droelétrica de Itaipu, que teve um tratamento demorado pela Geopolítica argen­
tina. Enquanto vários acordos eram feitos entre os países envolvidos (Brasil,
Paraguai e Argentina), externando os esforços diplomáticos para se chegar a
uma solução para os problemas surgidos, os teóricos argentinos não deixaram
de proclamar estes acordos como uma consolidação da hegemonia brasileira no
continente.

Em segundo lugar, trataremos dos problemas relativos a impor­


tância estratégica do Atlântico Sul, tendo em vista a relevância que é atri­
buída a região pelos geopolíticos argentinos. 0 crescente numero de obras geo
políticas dedicadas a esta temática dá conta da importância que o Atlântico
Sul vem adquirindo nos círculos geopolíticos. Neste sentido, cresce também o
número de argumentações que visam criticar as pretensões brasileiras nesta
região. Cabe aqui esclarecer que, embora fazendo parte da região, não foi in­
cluída para discussão a questão da soberania sobre as Ilhas Malvinas, dada a
complexidade da matéria, que exigiria um estudo único e aprofundado.

Em terceiro lugar, discutiremos sobre a Antártida, o tratado


atualmente em vigor para o continente e a visão.que os geopolíticos argenti­
nos têm da forma como o Brasil tem encaminhado sua política antártica. Nosso
quarto tema será a conduta do Brasil nas relações com seus vizinhos latino-
americanos. Veremos que, ao lado da crítica que os geopolíticos fazem a es­
tas relações, que vêem como historicamente hegemônicas, manifestam um senti­
mento de admiração que externa a conivência com os pressupostos criticados.

Estas são as coordenadas deste trabalho. Nele buscaremos, de


maneira mais genérica, colocar as limitações da Geopolítica tradicional, for­
ma de interpretação da "realidade política" â luz da "realidade geográfica".
Na especificidade da Geopolítica argentina, identificaremos a projeção do
que reza a Geopolítica como um todo.

Cumpre por último, registrar que não foi possível consultar d_i
retamente os originais ou mesmo, traduções de algumas das obras citadas no de
correr, desta dissertação, pela inçipiência de material bibliográfico disponí­
vel no país. Para compensar tal deficiência nos valemos das obras considera­
das mais sérias sobre a matéria, que poderiam nos dar subsídios fidedignos pa
5

ra o prosseguimento da pesquisa. No que diz respeito às citações de obras es­


trangeiras , esclarecemos que as traduções foram feitas com a supervisão de
pesssoas competentes no conhecimento dos respectivos idiomas, fica n do - n o s, no
entanto, a responsabilidade sobre seu resultado.

»
C A P Í T U L O I

A GEOPOLÍTICA: DISCURSO DO PODER SOBRE O

ESPAÇO POR ELE PRETENDIDO.


7

A G EOPOLÍTICA: DISCURSO DO PODER SOBRE O

ESPAÇO POR ELE PRETENDIDO.

O que se pretende tematizar no presente capítu

lo exige duas advertências p r el i m in a re s . A primeira diz respei

to a opção epistemolõgica com a qual problematizar-se-ã deter

minadas questões era torno da g e o p o l í t i c a , o que implica no en

gajamento em um dado espaço t eó r ic o . Assim, para nos situarmos

e p is te m ol cgi ca me nte, esclarecemos que o sentido desta inv es t^

gação procura ser d i s t i n t o daque le que , seguindo o modelo pjD

s i t i v i s t a , apresenta-se como superador das condições materiais

do " f a z e r c i ê n c i a " , instalando-se na neutralidade objetiva.

0 p r i n c í p i o norteador desta pesqui sa não e

demonstrar as i n s u f i c i ê n c i a s epistemolõgicas da geo política

enquanto saber. Ao c o n t r a r io , buscar-se-ã i nt ra e extra dis^

cursivamente os pressupostos conceituais e po l ít ic o s da forma

ção desse sab er , n e u t r a l i z a n d o a i d e i a de que a c i ên ci a seja

um conhecimento em que o s u j e i t o vence as limitações de suas

condições p a r t i c u l a r e s da e x i s t ê n c i a . Ou s e j a , tentar-se-ã dijã

cu tir as condições internas da produção do discurso geopolíti

co, como também e x p l i c i t a r a articulação dessa produção com o

contexto h i s t ó r i c o que a p o s s i b i l i t a .

A segunda a d v e r t ê n c i a , consequência da primei_

ra, ê r e l a t i v a a alguns elementos de base a p a r t i r dos quais

tentar-se-ã apreender e s i t u a r os efei tos que a geo p ol í ti c a

cumpre socialmente. Aqui, a inclusão do d i s p o s i t i v o político

é ainda mais imp erativa. Neste s e n t i d o , o mais importante se


r i a re g is tr a r um d e l i b e r a d o deslocamento do binômio ciência/

id eo lo g ia de seu s e n t i d o t r a d i c i o n a l , em que um ponto de vista

c i e n t i f i c i s t a impõe uma ruptura entre os dois componentes e o

questionamento em torno das condições para que se e f e t i v e . Ex

cluído este caminho, optou-se por contrapor c i ê n c i a / i d e o l o g i a a

pr ática s o c i a l em que se i n s e r e . Buscando superar, num primeiro

momento, a discu ss ão em torno do pap el do contexto s o c i a l na

construção do d i sc u rs o g e o p o l í t i c o , a t a r e f a proposta estaria

d i r i g i d a ao sentido inv er so : colocar a geop ol íti ca como compjD

nente organizador da s oc ie d a d e.

A alusão a c r it é r i o s de c i e n t i f i c i d a d e só inte

r e ss a r ia na p er s p e c t iv a de confrontá-los a fins de controle so

ciai. Em outras palav ras , o que parece importante é mostrar co

mo tais c r it é r i o s funcionam como supostamente neutros arregimen

tadores das relações sociais.

As si m , sem pretender esgotar as questões em tor

no da constit ui ção da g e o p o l í t ic a e seus efei tos de poder, ten

taremos i r além de um estudo d e s c r i t i v o , esboçando o problema

de sua formação enquanto saber e apontando a e s p e c i f i c i d a d e his

tórica de sua emergência e desenvolvimento. >

1 . SOBRE OS CONCEITOS DE GEOPOLÍTICA

A g e o p o l í t i c a tornou-se conhecida a p a r t i r do

f i n a l da Primeira Guerra M u n d i a l , e sobretudo na década de

19 30, quando é i n s t i t u c i o n a l i z a d a como doutrina o f i c i a l da Ale

manha n a z i s t a , ou s e j a , quando se vê afirmado seu se nti do prã

tico. No en ta nt o, surg iu no f i n a l do século X IX . A . expressão


9

g e o p o l í t i c a foi cunhada pe lo j u r i s t a Rudolf Kj el len

(1864 - 1922) que a u t i l i z o u pela primeira vez em 1899 na re

v i s t a Ymer. ^

Será po rta nt o, a p a r t i r de K j e l l e n , considerado

fundador da g e o p o l í ti c a enquanto campo de conhecimento di st i n

to da g e o g r a f i a , que arrolaremos algumas defi niç õe s para poste

riormente v e r i f i c a r seus respectivos substratos te ór ic o s. Con

forme K j e l l e n a g eo po lí tic a é " a c i ê n c i a do Estado como orga


2
nismo g e o g r á f i c o e , s i g n i f i c a t i v a m e n t e , como s o b e r a n i a . ”

Os editores da Revista de G e o p o l í t i c a , publi

cação do I n s t i t u t o de Geopolítica de Munique, deram como sua

definição o ficial de geopo lí tic a a

"ciência que trata da dependência dos fatos políticos em


relação ao solo. Apoia-se sobre as mais amplas bases da
geografia, em especial da gecgrafia.política, doutrina
da estrutura espacial dos organismos políticos__ A
geopolítica aspira a prcporcicnar as armas para a ação
política, e os princípios que sirvam de guia na vida po
lítica... A gecpolítica deve converter-se na consciên
cia geográfica do Estado.
i

Para Karl Haushofer, representante mais i l us tr e

do I n s t i t u t o de Munique, a g eo po lí tic a ê " a base c i e n t í f i c a da

arte da atuação p o l í t i c a na luta de v id a ou morte dos organis^


4
mos e s t a t a i s pelo espaço v i t a l . "

Hans W ei g er t, num esforço de d el i m i ta r o : campo

e s p e c í f i c o da g e o p o l í t i c a , definè-a como " g e o g r a f i a política

'aplicada' à p o l í t i c a de poder n a ci on al e a suá e s t r a t é g i a de

fato na paz e na g u e r r a . "


10

Diz ele que

"se compararmos 'geografia política' e 'geopolítica' se vê


no ato que a primeira ê um ramo da geografia, enquanto
a segunda pertence ao domínio da ciência política. 0
geógrafo que se ocupa das relações espaciais entre os e£
tados se converte em geógrafo político; o estudioso da
ciência política e o estadista, poderíamos acrescen
tar que aprende a empregar os fatores geográficos pa
uma melhor compreensão da política, se converte em geo
político."^

Relativamente ao contexto sul-americano, Joseph

Comblin, ao a n a l i s a r a arquitetura da relação entre a geopolí­

tica e a Doutrina da Segurança Naci on al , acaba por d e f i n i r o

o bjetivo da primeira como o estudo da

"relação entre a geografia e os Estados , sua história,


seu destino, suas rivalidades, sua lutas. Difere da geo
grafia política no sentido que procura nos dados geo
gráficos orientações *para' uma política: através dela,
os Estados procuram em sua geografia os sinais de seu
destino. Ela visa o futuro. Ë a ciência do projeto nacio
nal. É o fundamento racional dos projetos políticos."^

Lewis Tambs, autor de várias publicações sobre

g e o p o l í t ic a , h i s t ó r i a e assuntos m i l i t a r e s , e um dos mais con

ceituados estudiosos de geopolítica b r a s i l e i r a , afirma que

"os estudos que investigam o elemento geográfico das rela


ções internacionais são chamados de geopolítica. A geo
política é uma.arte, não uma ciência. Da mesma forma que
11

a ciência, a geopolítica prevê. Mas, posto que tantos fa


tores físicos incomensuráveis [... ] têm de ser integra
dos a componentes humanos em constante transformação
[__ J a geopolítica,, como direção dos assuntos públicos,
7
permanece uma arte,"

Everardo Bac kheuser, considerado o precursor

dos estudos geopolíticos no B r a s i l , já que foi quem primeiro

sistematizou informações da área no p a í s , dando corpo para que

a d i s c i p l i n a aqui se desenvolvesse, d e f i n i u a geopolítica como


-- ~ ~ s
"política f e i t a em decorrência das condiçoes geográficas." Mais

tarde o general b r a s i l e i r o Carlos de Meira Mattos a de f i n i r á


- "9
como "a p li c a ç a o da p o l í t i c a aos espaços geográficos [_•••] •

Afirma Golbery do Couto e S i lv a que

"a geopolítica nada mais ê que a fundamentação geogrãfi


ca de linhas de ação política, quando não, por iniciati
va, a proposição .de diretrizes políticas formuladas ã
luz dos fatores geográficos, em particular de uma análi
se calcada, sobretudo, nos conceitos básicos de 'espaço'
e 'posição'. Um dos ramos, portanto, da política
[ . . . ] . " 10
/

Na de f i ni çã o do general argentino Juan E.

Gug lia lm ell i a ge op o lí ti c a é tida como "a ciên ci a que estuda

as relações entre os fatores geográficos e as comunidades pc)

liticamente o r g a n i z a d a s , " , sendo que, "tendo em conta o atual

desenvolvimento h i s t õ r i c o da humanidade, o Estado (nacional ou

multinacional), co n st itu i a comunidade mèncionada.

Depois de estudar várias def inições sobre ge£

política, outro a rge nt in o, o Coronel Jorge E. At e n c io , concluiu

j
12

por definí-las como

"a ciência que estuda a influência dos fatores geográfi


cos na vida e evolução dos estados, a fim de obter con
clusões de ordem política. Ela orienta o homem de Esta
do na condução da política interna e externa do Estado
e orienta o militar no preparo da defesa nacional e na
conduta estratégica; facilitando a previsão do futuro,
graças ã consideração da relativa permanência da realida
de geográfica, ela lhes permite deduzir, a partir dessa
realidade, a maneira de atingir os objetivos e, conse
quentemente, as medidas políticas e estratégicas con
venientes.

2. A CIENTIFICIDADE GEOPOLÍTICA

Dos conceitos apresentados vê-se que, sob nuan

ces te ór ic as , ex i s te da parte dos autores uma preocupação com

o caráter de c i e n t i f i c i d a d e da geop ol íti ca . Nesta pe rs pe c ti v a ,

J.E. Gu gl ia l m el l i chega a en umerar.alguns obstáculos epistemo

logicos ("malas a r t e s ” ) a serem superados na elaboração da geo

política: "o charlatanismo p s e u d o c i e n t í f i c o ; a -conclusão super

ficial ou não devidamente comprovada; as teses vindas de fora

e fortemente p u b l i c i t a d a s f. . ; por ultimo, os ' astigmatismos


** 13
g e o p o l í t i c o s ' derivados d o s . interesses de grupo ou s e t o r . "

No entanto, há que se questionar sobre o lugar

do " c i e n t í f i c o " nestas c o n c e i t u a l i z a ç õ e s . Golbery do Couto e

Silva, por exemplo, dá clara demonstração sobre o sentido e a

importância dos argumentos c i e n t í f i c o s . Admite explicitamente

o duplo caráter da ge op ol íti ca "quase de todo indissociável,


13

de ci ên ci a - na conceituaçao e nos fundamentos - e de arte - na


- 14
p raxis - que a própria p o l í t i c a a d m i te . "

Assim, o elemento p o lí t ic o ê sempre colocado co

mo componente tel eo ló gi co da geop ol íti ca . 0 prõprio termo 'geopo

lítica' (geo-política) dã conta desta afirmação. A dubiedade de

caráter - ci e n tí f ic o - p o l í ti c o - aparece sempre, em maior ou m£

nor grau, nos termos de uma negação do p o lí t ic o na ci ência geo

gráfica e uma declaração da p o l í t i c a na ge o p o lí ti c a.

Diríamos que o mais importante para a geopolí

tica não ê afirmar-se como ciên ci a propriamente d i t a , mas con

tar com um "r es e r v a t ó r i o c i e n t í f i ç o " que lhe assegure uma fun

damentação o b j e t i v a para suas conclusões p o l í t i c a s . Daí poder

mos observar que, se de um lado o status de ci ên ci a não seria

de todo imp re sc in dí v el , as argumentações fundamentadas em fato

res geográficos cientificamente conhecidos são uma e x i g ê n ci a .

" 0 apelo geopolítico ãs categorias das ciências natu


rais, reveladoras, afinal, do positivismo e do roman
tismo inerentes à geopolítica, se justificaria [;*••[]
como tentativa de se... dar talvez maior ' cientificida
de' à ciência política, ao fenômeno político. Acredi
ta-se que, ao tomar a natureza, considerada sempre co
mo-'sábia' e 'eterna', como referência e paradigma,
isto por si so garantiria credibilidade e veracidade
â geopolítica.""^

Ain d a, na variedade de d efi ni çõ es vemos uma

reafirmação do duplo caráter - ciên ci a e arte - da ge o p o l í ti c a ,

quando se i n s i s t e em distinguí-la da geografia p o l í t i c a tendo

em v i s t a que aquela se apresenta de forma "dinâm ica, enquanto


14

que se esta se ri a " e s t á t i c a " .

Neste aspecto, Hans Weigert afirma que a geogra

f i a p o l í t i c a e a geopolítica se caracterizam pela forma d i st i n

ta com que enfocam os temas.

"A primèira considera os Estados como organizações estátiL


cas firmemente assentados sobre seus cimentos geográfi
cos. Q,..] O domínio da geopolítica abarca o conflito
e o cambio, a evolução e a revolução., o ataque e a defe
sa, a dinâmica dos espaços terrestres e as forças polí^
ticas que lutam neles para sobreviver.

De fa to , implí ci ta ou ex pl icitamente, grande par

te dos autores faz uma di stinção entre geografia p o l í t i c a e


17
g e o p o l í ti c a . A esse r e s p e i t o , Shiguenoli Miyamoto ex plica

que, relativamente â p r i m e ir a, compreende um ramo da geografia

que tem um caráter estático e estuda os aspectos geográficos

de um determinado t e r r i t õ r i o de um ponto de v is ta mais descr_i

tivo que a n a l í t i c o . Assim, t e r i a a seu cargo descrever os fa

tores geogr áf ico s, satisfazendo-se com uma representação mera

mente e s t á t i c a . Por outro lado, â geop ol íti ca caberia a apli

cação desses elementos na formulação de fins e s t r a t é g i c o s , não

se s a t i s f a z e n d o , portanto, com a descrição f í s i c a dos aciden

tes geo gráficos. Daí que a geop ol íti ca assumiria ess en ci al

mente um caráter dinâmico, onde el a mais se d i f e r e n c i a r i a da

geo gra fi a p o l í t i c a .

Nestes termos, onde se lê "car áte r dinâmico",

leia-se "ca rát er p o lí t ic o - e s t r a t é g i c o " , e , onde se lê "estãti^

co", leia-se "atitude científica e natural", ficando estabe


15

le c i d a , assim, a tel eo l o gi a p o l í t i c a da ge o p ol í ti c a.

Há que se observar que, de uma forma ou de ou

tr a, finda-se por re ite rar o objetivo político-estratêgico da

g e o p o lí ti c a , assim como seus fundamentos c i e n t í f ic o s calcados

na ob je ti vi d a d e d e s c ri ti v a da ciên ci a geográ fica. A geografia

ê a constante na formulação da p o l í t i c a e da e s t r a t é g i a , onde

o espaço ê v i s t o como suporte das ações humanas. Consequente

mente, s e r i a interessante ater-se â análise geográ fic a, já que,

como foi d i t o , é graças ao cabedal de tecnicidade cientifica

representado pe la geografia que o geopolítico fundamenta suas

tes es. A h i s t o r i a aparece como fundamentação ã ge o p o lí ti c a, na

medida em que el a é v is ta como um desenrolar de acontecimen

tos que se dão no espaço, ou s e j a , entra como componente de re

fer ênc ia subordinado ao espaço - "palco das ações humanas." De

fa t o , esta refle xã o apresenta-se como imprescindível quando um

d i s c u r s o . (a geopo lí tica ) releva a c i e n t i f i c i d a d e e a verdade

(geográficas) para produzir efei tos de poder.

3 . REPENSANDO 0 ESPAÇO
i

Em um movimento de renovação do pensamento geo

g rá fi co , o geõgrafo francês Yves Lacoste foi quem formulou a

cr ít ic a mais contundente à geografia t r a d i c i o n a l . É basicamen

te a p a r t i r deste autor, preocupado com a constituição da geo

g r a f i a tendo em v i s t a práticas p o lí t ic a s determinadas, que ê

possível d e s m i s t i f i c a r o saber geográfico como um saber ins ta

lado na ne ut ra lid a d e o b je ti v a .

Segundo Lacoste,
16

"o discurso geográfico pode ser considerado, principal


mente em suas foimas escolares... como o instrumento
de uma obra de mistificação de longo alcance cuja fun
ção é impedir o desenvolvimento de uma reflexão políti
ca sobre o espaço e de mascarar as estratégias espaciais
18
dos detentores do poder.”

A investigação de Lacoste está colocada no sen

tido de ver nas preliminares epistemológicas os componentes hi£

toricos engendradores do processo de construção de um conhe

cimento t i d o como cient íf ic o-a geografia- e sua inscrição como

pr áti ca de poder. Daí o porque de não confrontar a geografia

com o ideal p o s i t i v i s t a de c i ê n c i a , mas mostrá-la como um sa

ber estreitamente ligado a um conjunto de práticas p o lí t ic a s

e militares. "Trata-se verdadeiramente de uma ci ên ci a? No fun

do pouco importa; a questão não é e s se nc ia l a p a r t i r do momen

to em que se toma consciência que a articulação dos conhecimen

tos re lat ivo s ao espaço, que é a g eo g ra fi a , é um saber estraté

g x c o , um p o A
d e r . --19

Mostra Lacoste que, sob a imposição de um dis_

curso sistematicamente apolítico e, pri ncipalmente, sob uma a

parência de " i n u t i l i d a d e ” , a geografi a escolar e u n i v e rs it ã

r i a vêm cumprindo sua função ide o ló gi c a essen ci al - escamotear

a u ti l i d a d e da anál ise espa cia l como instrumento de poder.

"Deste o século XIX, primeiramente na Alemanha, depois so


bretudo na França, .a geografia dos professores foi vista
como um discurso pedagógico do tipo enciclopédico, como
discurso científico, enumeração de elementos mais ou me
nos ligados entre eles por diversos tipos de raciocínios
17

que tinham todos um ponto em comum: mascarar sua utili


dade prática na conduta da guerra ou na organização do
c * j ,.20
Estado.

Assim, a ocultação da geo grafia enquanto saber

político e m ilitar, data somente do século X IX . Este processo

está ligado â época em que outro processo, chamado por Lacoste

de " e s p a c i a l i d a d e diferencial", começa a tomar uma forte dimen

são para a maior parte da massa da população.

Conforme Lacoste, antigamente., ã época em que

a maioria dos homens v i v i a dentro de um quadro único de s u b si ^

tência, em um só espaço relativamente limitado (o te r ri tó ri o

da v i l a e os t er ri tó ri o s v i z i n h o s ) , exprimiam suas práticas a

través da representação de um "espaço ún ic o " que eles conhe

ciam muito bem por exp eri ên ci a p e s s o a l .

De outro lado, há muito tempo que os chefes de

guerra, os príncipes,,, têm necessidade de representar espaços

muito mais vastos - t e r r i t ó r i o s já dominados ou a serem domi^

nados assim como os mercadores que deveriam conhecer ter

renos longínquos onde comerciavam com outras pessoas. Foi ne_s

te contexto que o papel da geo grafia tornou-se e s s e n c i a l , já

que necessitava-se representar cartograficamente a experiên

cia es pa ci a l - " a lembrança e o olhar não eram .mais s u f i c ie n


,,21
tes . "

Mais recentemente, comr o desenvolvimento das

tr ocas, da divisão do trabalho, do crescimento das cidade s, o

espaço concreto do qual se pode ter conhecimento passa a cor

responder somente a uma pequena parte de práticas s o c i a i s . Ao


18

contrário de antigamente, quando se v i v i a em um espaço limita

do, bem conhecido e contínuo, as práticas soc iai s acontecem a

traves de distân ci as cada vez mais con sid er áve is, sobre as

quais a grande massa da população tem um conhecimento bastan

te pa r ci al e impreciso. Os homens não conhecem, em sua maio

ria, a relação entre os múltiplos conjuntos espa ci ais dos

quais eles dependem e a importância de sua configuração. Vive-

se em uma " e s p a c i a l i d a d e d i f e r e n c i a l ' 1 composta por uma diver

sidade de representações espa ci ais correspondentes a uma mui

tiplicidade de pr áti ca e idéias d e s a r t i c u l a d a s .

Resultante da pro l i f er a çã o de deslocamentos e^s

p a c i a i s , a di ver sidade de representações es pa ci a is não será a

preendida globalmente pelas pe ssoas. Elas não têm noção de

suas relações como pr ática g l o b a l , e muito menos da importân

cia que esse conhecimento representa.. No entanto, a minoria

que está no poder tem sempre vasta consciência (e sempre a te

ve) do que as análises espa ci ais representam. Ela sabe utili

zar-se delas para governar, estruturando o espaço para o mais

e f i c a z estabelecimento e controle das práticas p o l í t i c a s , mil^L

tares e f i n a n c e i r a s , enquanto que a massa da população está

imersa numa p l ur al i da d e espa cia l sem percebê-la como organiza

ção servindo a fins es p e c í fi c o s .

Assim, a função mais ant iga da geo grafia segue

e x i st i n do hoje mais do que nunca. É o que Lacòste chama de

" g e o g r a f i a dos es tados-maiores", que corresponde as análises

geográficas dos m i l i t a r e s , na luta contra outros aparelhos de

Estado como na luta in t er i o r contra quem eventualmente coloque

em causa o poder e s t a be l ec i do , bem como âs grandes empre


19

sas c a p i t a l i s t a s que se organizam espacialmente no piano regio

n a l , nacional e i n t e r n a c i o n a l .d e modo a poder agir no espaço

obtendo maiores vantagens econômicas.

Atualmente, na era da " e sp a c i a l i d a d e diferen

c i a i " , o planejamento t e r r i t o r i a l adquire uma importância tal

que, aos olhos do cidadão comum, é dissimulada. Saber pensar

geograficamente não é permitido ao cidadão comum, que tem uma

visão fr a ci on a d a do espaço, uma vez que a ele sô ê dado conhecer os

lugares de sua viv ên ci a co ti d ia n a : conhece sua rua, seu bair

r o , o local de tr aba lh o, os locais de l a z e r , e tavez um pouco

mais, porém sempre de forma p a r c i a l . De outro lado, os esta

dos-maiores p o l í t i c o s , militar es e fi nanceiros têm uma visão

integrada do espaço. Enquanto.os indivíduos de maneira geral

não têm noção dos conjuntos e s p a c i a i s , e isso e es se nc ia l para

a p r á t i c a de po d er , os estados-maiores servem-se deles para

es tab el ece r es t r a t é g i a s de ação no domínio do espaço. Daí, ar

gumenta Lacoste que é necessário ao cidadão construir uma nc)

ção int egrada do espaço, socializar-se o saber geográ fic o, já

que ele s i g n i f i c a algo de grande valor es tra tégico nos embates

políticos: é nec es sár io " sab er pensar o e s p a ç o , ' p a r a nele se

o rg a n i z a r , para saber nele combater.

Neste contexto, a geografia escolar cumpre sua

função: d iss im ula o instrumento de poder que a apreensão da or

ganização e s p a c i a l representa.

Portanto,

"deste Q fim do século XIX, pode-se considerar que existe


duas geografias: - uma de origem mais antiga, a geogra
fia dos es tados-maiores [militares e econômicos^ , é um
20

conjunto de representações cartográficas e de corihecimen


tos variados que se referem ao espaço; esse saber é cia
ramente percebido como eminentemente estratégico pelas
minorias dirigentes que o utilizam como instrumento de
poder.
A outra geografia, aquela dos professores, que apareceu
há menos de um século, tomou-se um discurso ideológico
que tem como uma das funções inconscientes a de mascarar
a importância estratégica dos raciocínios que se referem
ao espaço. Não somente esta geografia dos professores é
cortada das práticas políticas e militares como pelas de
cisões econômicas (porque aí os professores não partici_
pam de jeito algum), mas ela dissimula também, aos olhos
de um número cada vez maior de pessoas, a eficácia do
instrumento de poder que são as análises espaciais. Desse
fato, a minoria que está no poder está muito consciente
de sua importância, e ela é a única que se utiliza de£
ses conhecimentos geográficos, em função de seus intere^
ses, e esse monopólio de saber é cada vez mais eficaz en
quanto a maioria não dê atenção a uma disciplina que lhe
~ 23
parece tao perfeitamente 'inútil'. "

Em uma pala vra: a geografia acadêmica concorre

para que não se dê atenção âs relações entre as estruturas do

poder e as formas de organização do espaço. Ociáadão é parte

de uma engrenagem espa cia l maior que sua percepção do espaço

par ce la r. Escapa-lhe por completo o domínio do conjunto espa

ciai. Na re alidade assume uma função no espaço sem percebê-

lo - transforma-se em "cidadão soldado” . ^ Assim a l i e n a d a , a

ex i s tê n c i a humana produz, reproduz e assegura as formas de d£

minação. I n d i v i d u a l i z a d a a atividade humana e fragmentado cada

vez mais seu espaço, aprofunda-se a efetivação da dominação.


21

A di fer en ça primordial entre a geo grafia dos

professores e a dos estados-maiores militares e econômicos não

tem a ver com os elementos de conhecimento que ambas utilizam . A

dif ere nç a reside no fato de que os estados-maiores sabem ser

vir-se destes elementos como fornecedores de es tr a té g i a de con

trole soc ial e lucros econômicos, enquanto que os professores

e alunos não têm a menor i d é ia di sso: vêem os seus trabalhos co

mo um "s ab er para o s a b e r " , não se questionando para que e para

quem servem os conhecimentos que acumulam.

Configura-se, desta forma, a relação saber-po

der, amparada largamente em Michel Foucault, e que tem seu lu

ga.r na dêmarche epistemolôgica de Yves Lacoste. Trabalhando

sobre um campo es pe c íf i co do conhecimento humano, a pesqui sa de

Lacoste vem confirmar a teor ia f o u c a u l t i a n a , mostrando que

não hã saber neutro. Todo saber é p o l ít ic o porque tem sua gêne

se nas relações de poder, que lhe confere uma p o s i t i v i d a d e en

quanto saber em determinada época. Os cr it é ri os de verdade são

totalmente re lat ivo s ao momento e ã localização do dado so

ciai:

" se existe uma geografia da verdade, esta é a dos espa


ços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde
nos colocamos para melhor observã-la. Sua cronologia
é a das conjunções que lhe permitem se produzir como
um acontecimento, e não a dos momentos que devem ser
0r
aproveitados para percebê-la [__

E sp a c i a li z a d o s os saberes, articulados com o mo

mento socio — p o l í t i c o - econômico em que aconteceram, postas


22

estão suas condições de p o s s i b i l i d a d e .

Todo saber é po lítico porque sua origem está li

gada às relações p o lí t ic a s e vice-versa. Todo saber assegura o

poder, emite uma verdade, e a verdade não e x i s t i r a fora do po

der ou sèm e l e . 0 saber não serã compreendido se não for consi

derado seu valor p o l í t ic o determinante. Seu poder social emerge

dos elementos que manipula com o fim do controle da ação huma

na, que compreende a distribu ição do homem no espaço e a mani^

pulação de seus gestos: gera uma técnica de u t i l i z a ç ã o exaust_i

va de sua capacidade, nos moldes de uma otimização de produtivi

dade econômica e docil ida de p o l í t i c a .

4.. A GEOPOLÍTICA REPENSADA

Saber organizar 6 espaço e nele organizar-se si g

n i f i c a apreender o processo pelo qual o poder possa produzir e

reproduzir seus e fe i to s o mais eficazmente. A i d é i a de "saber

para o sa be r " na forma da geografia acadêmica.funciona para e£

v a z i a r a reflexão p o l í t i c a sobre o espaço,


escamotear o que de
i
fato representa o saber geográfico e mascarar as escolhas de po

lítica territorial dos grupos dominantes.

A p a r t i r do que foi exposto, a relação entre ge£

g r a f i a e g eo po lí tic a assume uma nova dimensão. Poder-se-á acei^

tã-la apenas quando se tem em mente que socialmente cumprem pa

pêis d i s t i n t o s (a geog raf ia funciona ideologicamente no sentido

de e l u d i r a função político-militar-econômico da g eo g ra fi a , que

é consubstanciai a seu préprio a pa r e c i m e n to ) , com uma so final:!

dade: assegurar o mecanismo de controle das relações sociais.


23

Neste s e n t i d o , diz Lacoste que, "a geo política h i t l e r i s t a é a

expressão mais exacerbada da função p o l í t i c a e ide ol ógi ca que


j . j-- „26
pode .ter a ge og raf ia .

Assim, não parecem de todo. procedentes as críti^

cas que se tem fei to â geo po lítica, uma vez que não conseguem

enxergar o alcance da dinâmica que lhe é ine ren te, assim como a

função p o l í t i c a do caráter descritivo da ciên ci a geográfica.

Jú l i o J. Chiavenato, entre outros, questionando-

se sobre a importância do estudo da geo política responde: "De

um ponto de v i s t a estritamente c i e n t í f i c o , nenhuma. A geopol_í


27
ca não é c i ê n c i a : ê uma deformação da geografia [•••]•" Na

realidade, neste aspecto, sua cr ít ic a não consegue fu gir aos pa

drões de c i e n t i f i c í d a d e p o s i t i v i s t a s , deixando de captar, por

exemplo, a profundidade da pesquisa de Lacoste a qual ele pró

pr io c i t a . Ainda com respeito âs limitações da c r í t i c a de Chia

venato, pode-se aduzir uma provocativa afirmação de Golbery do

Couto e S i l v a : "como se â geopolítica envergonhasse o não ser


~ 28
propriamente uma c i ê n c i a . "

0 geógrafo Nelson Werneck Sodré., embora também

não escape da matriz p o s i t i v i s t a de " f a z e r c i ê n c i a " , faz algu

mas colocações a respeito de ge op o lí ti c a, chamando-a de "a geo

g r a f i a do fascismo Vê Sodré a geopo lí tic a como a passagem da

"concepção desvairada de um geógrafo medíocre a instrumento te<5

rico de destacado p a p e l " . Diz que a ge o p o lí ti c a ,

"oriunda da geografia da etapa imperialista, e pretenden


do-se geográfica, não passa de construção ideológica de£
provida de sentido científico, marginal, com papel no
plano político unicamente. Seu estudo não deve deixar de
24

ser feito, entretanto, pois encerra preciosos ensinamen


tos e particularmente quanto ao grau de descomedimento e
de falsidade que pode atingir o conhecimento, quando a
serviço das forças.reacionárias, necessariamente obscuran
tistas. A rigor, uma reconstituição histórica da Geogra
fia só poderia e deveria ocupar do material geográfico a
cumulado; não sendo a Geopolítica fonte desse material,por
que estranho e marginal (SIC!)> poderia legitimanente ser
omitida.”

Em uma obra também c r í t i c a sobre g e o g r a f i a , outro

geógrafo, Milton Santos, faz algumas observações bastante per

tinentes , discorrendo sobre as pretensões da geogr af ia a cienti^

ficidade. Afirma ele que,

"nascida tardiamente como ciência oficial, a geografia te


ve dificuldades para se desligar, desde o berço, dos gran
des interesses. Estes acabaram carregando-a consigo. Uma
das grandes metas conceituais da geografia foi justamen
te, de um lado esconder o papel do Estado bem como das
30
classes na organizaçao da.sociedade no espaço."

Finalmente, a esse respeito diz Rui Moreira:

"A geopolítica £.. ,]r não ê uma 'ideologia alemã', mas a


geografia oficial sem seu costumeiro'disfarce. A geopoH
tica sob a forma axacerbada em que aparece no . entre-guer
ras serve inclusive para esconder o fato de que a geogra
fia ê sempre uma geopolítica, ou seja, um discurso que es^
tá pondo sobre a.mesa a questão do poder: dos homens so
bre a natureza e dos homens sobre outros homens. Eis o que
31
escondem as academias e seus professores."
25

5 . AS ESCOLAS GEOGRÁFICAS

Retomando ex pe riências teóricas e confrontan

do-as com exper iê nc ias históricas é-possível trazer â discussão a relação

entre as análises geográficas e a luta p e l a gestão s o c ia l do

território.. Ou s e j a , a re fe rê n ci a â localização de alguns fe

nômenos h is t ó r i c o s si tu a o discurso geo p o lí ti c o a p a r t i r de

condições p o l í t i c a s e econômicas de e x i s t ê n c i a , colocando os

problemas de sua co n st it u i çã o tendo em v i s t a o espaço que ocu

pa - te r re n o e objeto de pr át ic a p o l í t i c a .

0 pensamento geográfico p o st er io r ao s é c u lo

XVIII está marcado p e l o surgimento da g eo g ra fi a acadêmica (uni

versitãria, "científica") e p e la emergência de escolas naci o

nais de g e o g r a f i a , qúe se desenvolveram incorporando-se ãs

n ec es sid ade s político-econômicas de caráter n a c i o n a l . De f at o ,

a i d é i a da e x i s t ê n c i a de escolas geográficas nacionais es

tá l i g a d a , s o b r e t u d o , as condiçoes internas dos ' respectivos

países em que nascem, bem como às suas relações ccm o resto do


„32
mundo - é o que dará a cada escola um " v e r n i z p a r t i c u l a r .

A esse xespèito o surgimento da Esc ola Geogrã

f i c a Alemã é bastante i l u s t r a t i v o , principalmente quando aten

tamos para suas c a r a c t e r í s t i c a s , conformadoras, a f i n a l , de um

novo sabe r: a geopolítica. Com e f e i t o , a f a l t a da constitu_i

ção de um.Est ad o n a c i o n a l , a i n e x i s t ê n c i a de um centro organi

zador do espaço, entre outros a sp ect os , conferem a discussão

geo gr á fic a uma re levância es pec ial para a Alemanha do início


26

do sé culo X IX .

5.1 . A ESCOLA GEOGRÁFICA ALEMÃ

Mencionamos o sueco Rudolf Kj e i l e n como o funda

dor da G eop olítica enquanto campo de conhecimento d i s t i n t o da

Geogr afia. No entanto, ê na Alemanha que se esboçarão as grandes

linhas do pensamento geop ol íti co . 0 alemão Frederic Ratzel (1844

- 1904) é considerado um de seus grandes precursores , uma vez

que é com ele que o conteúdo p o l í t i c o da ge o gr a f i a se vê 1 de

forma mais e x p l i c i t a d a . Hã que se lembrar ainda q u e , não por

acaso, é também na Alemanha que surge p e l a primeira vez no mun

do a g e o g r a f i a u n i v e r s i t á r i a , método de transmissão de conheci

mento de grande importância para a formação das escolas geográ

fi c a s n a c i o n a i s .

Kant representa o i n i c i a d o r dessa tr adi ção cien

tífica, assim como de uma rigorosa re f le x ã o f i l o s o f i c a sobre os

conceitos de espaço, posição e região. Ele pr op rio lembra, no

p r e f á c i o â Antropologia pragmática ter lecionado na Univ ersida


*
de de Königsberg , além do ensino de F i l o s o f i a B ur a, "durante

cerca de t r i n t a anos, dois tipos de cursos a re speito do conhe

cimento do mundo, i s to é , antropologia no semestre de inver


- 33
no e ge o g ra f i a f í s i c a no semestre de verao ^...]."

De f a t o , a contribuição da f i l o s o f i a kantiana

ao conhecimento geográ fico foi fundamental. Alguns autores o

consideram o pai da g eo gr af ia moderna. E a p a r t i r de Kant que

o caráter d e s c r i t i v o da geogr af ia pode ser compreendido. Para

e le
27

" o conhecimento é dado pelos sentidos , é portanto um co


nhecimento empírico. Este conhecimento empirico advêm
da percepção peles sentidos, havendo um 'sentido in­
terno1 que revela o hemem (antropologia pragmática),
e um 'sentido externo' , que revela a natureza (geqgra
fia física) . A percepção orienta a experiência que
para isto precisa ser sistematizada. Ä geografia cabe
esta sistematização, no plano do espaço, cabendo-a ã
história no plano do tempo. Isto porque a sistematiza
ção passa por dois processos: a normativa (história)
e a descritiva (geografia). Juntas, a geografia e a his
toria abarcam o ccnjunto de nessas percepções (ccnheci
mento empírico)."3^

A ge o g ra f i a tem nas fi guras de Alexander von

Humboldt (1769 - 1859) e Ka rl Ri tt e r (1779 - 1859) os primei^

ros si n a is de sua si st em ati za ção . "Humboldt e R i t t e r embora

pondo pesos di fe r e n te s na natureza e no homem, vêem a geogra

f i a ccmo a to ta li d ad e das coisas naturais e humanas; na qual

os homens vivem e sobrevivem [...1. Mas Humboldt ê , antes, um


35
naturalista, e R i t t e r e s t u d i o s o da a n t r o p o l o g i a . "

Humboldt e R i tt e r vivenciaram o aparecimento do

i d e a l de u n i f i c a ç ã o alemã. Como ex pl ica A n t o n i o 'C a r l o s Robert

Mo.raes, a Alemanha de então ê um aglomerado de feudos (duca

d o s, p r i n c i p a d o s , reinos), cuja única ligação diz r e sp ei t o a

alguns traços cu ltu ra is comuns, i n e x i s t i n d o qualquer unidade

econômica ou p o l í t i c a . A unidade econômica começa a se esbo

çar no decorrer do sé culo X I X ; a unidade p o l í t i c a só se efeti^

va em 1870 com a u n i f i c a ç ã o n a c i o n a l , que tem um importante

pas so com a Confederação Germânica ( 1 8 1 5 ) , a qual congregou to

dos os principados alemães e os reinos da Âústria e P r ú s s i a .


28

P ort an to, a Alemanha não conhece a monarquia ab

soluta ou outro t i po de governo ce n tr al i z a d o. 0 capitalismo a

lemão não nasceu de uma ruptura rad ic al em forças feudais tra

d i c i o n a i s , como acontece na França. 0 desenvolvimento econô

mico da Alemanha dessa época é fruto de um compromisso entre

os inte res ses dos la t i f u n d iá r i o s prussianos - os Junkers - e

os empresários i n d u s t r i a i s do Oeste Alemão.

0 capitalismo se desenvolve no quadro agrário a

lemão sem a l t e r a r a estrutura fu n d i á r i a . A propriedade da ter

ra permanece nas mãos de elementos pr é- capitalistas - proprií;

tários de terras - que tornam-se c a p i t a l i s t a s p ela destinação

dada à produção. 0 l a t i f ú n d i o que possuía uma economia fecha

da de autoconsumo ( " e s p a c i á l i d a d e ún ic a" , d i r i a Lacoste) pa£

sa a prod uzi r p ara um mercado (dando i n í c i o ao fenômeno da

"espacialidade diferencial") .

Esta.é, em linhas bastante g e r a i s , a situação

que a Alemanha vive ã época em que surgem os trabalhos de

Humboldt e R i t t e r . Dessa forma, a i n e x i s t ê n c i a de um centro or

ganizador do espaço engendrará a relevância das questões espa

ciais.

"Termos cano domínio e organização do espaço, apropria


ção do Território, variação regiaial, entre outros, es.
tarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã de
' então. E, sem dúvida, deles que se alimentará a sist£
matização geográfica. Do mesmo modo ccmo a Sociologia
aparece na França, cnde a questão central era a organiza
ção social ■[...] , a Geografia surge na Alemanha, onde
a questão do espaço era a primordial."^
29

Resolvida a questão interna do espaço, F rie d ric h

Ratzel é quem r e f l e t i r á as novas preocupações que se colocam

na Alemanha no último quartel do século X I X : a efetivação do

estado-nacional alemão e seus desígnios expansionistas , uma vez

que sua u ni fi ca çã o t a rd i a deixou-a fora da p a r t i l h a dos ter rit õ

rios c o lo n i a i s .

Nas escolas geogrãficas , Ratzel surge „ccmo.o que

Nelsan Wemeck Sodré denanina de " a ponta i n i c i a l do longo fio


37
do determinismo." Em 1882 p u b l i c a o primeiro volume da Antro
38
pog.eograf ia que tem como subtít ulo Fundamentos da aplicáção

da ge ografia à h i s t o r i a , em que procurava mostrar que a distri

b ü i ção do homem na sup erf íci e terrestre havia sido mais ou me

nos determinada por forças n a t u r a i s . Assentou seu sistema de an

tropogeografia sobre os p ri nc íp i o s da evolução e da c i ên ci a na

tu ral : considera o homem como produto f i n a l de uma evolução

r e a l i z a d a através da séléção na tu r al dos tipos de acordo com

sua capacidade de se ajusta r ao meio. n a t u r a l . 0 homem seriá , ,por

tan to,produto de seu meio, moldando-o na medida de sua adapta

ção a esse m e i o .

E x p l i c a Hans Weigert que em sua antropogeografià

"Ratzel estava longe de considerar como inorgânicos os fa


tores espaciais. Os vê sempre em sua relação geradora
de vida com as forças de crescimento e expansão da huma
nidade, ccnvertendo-se assim em parte de seu organismo
vital. Semelhante ccncepção biolõgica não era notável
em seu tempo, quando nada podia livrar-se por conçleto
da influência de Darwin [ . . . A influência de Darwin
é claramente discemível nas idéias de Ratzel. Em 1901
escreveu um ensaio que intitulou: 'Espaço Vital, estudo
30

biogeogrãfico'.. Nele traduz o darvànismo à linguagem de


sua geografia humana: a luta pela existência é de fato a
luta pelo espaço, porque a superfície da terra é limita
39
da.”

Em 1896 Ratz el escreveu um en saio com o tí tu lo

Sobre as leis do crescimento e s p a c i a l dos E s t a d o s .. Nele expre_s

sou sistematicamente sua concepção acerca das " l e i s do cresci

mento e s p a c i a l do E st ad o ” , ou ' " t e o r i a de espaço vital”

( Lebensraum) . ^

Em 1897 surge sua Geo g r af ia p o l í t i c a , reeditada

em 1902 (?) com o t í t u l o Geografia dos Estados , do comércio e


41
da g u e r r a . Nesta obra Ratzel se propunha a estudar os funda

mentos que governam a relação entre os Estados e a ter ra.

"Prcfessores de ciência política, sociólogos e histeria


dores, acreditava, não haviam logrado ver o Estado ccmo
um organismo, um negócio de humanidade e um negócio de
terra organizada. Era missão da geografia destruir
uma cancep ção segundo a qual o estado não era mais que
uma extensa parcela de propriedade imutável, segundo
Ratzel o expressou em certa ocasião. Os. ccntinuadores de
Ratzel, em especial Kjellén, destacaram cada vez mais
a parte política da ciência da terra e estado, submeten
do a política as leis biológicas, que estão além do bem
e do mal." ^

5.2 .A ESCOLA GEOGRÁFICA FRANCESA

Em contraposição ã ge o g ra f i a alemã, com fortes

conotações de te r m in i st a s, surge uma outra grande escola geogrã


31

f i c a que será eminentemente francesa e que terá na figura de Vidal

de La _ Blache seu maior expoente. Do mesmo modo que as colo

cações de Ra tz el estavam estreitamente ligadas a situação con

creta de sua época e de sua socieda de , a g eo g raf ia de La Blache

é compreensível a p a r t i r principalmente da conjuntura do desen

volvimento c a p i t a l i s t a francês e do antagonismo franco- prussia

no.

Ao contrário da Alemanha, a França conheceu uma

u ni fi ca çã o precoce: a ce n tr ali za ção do poder estava assegurada

há séculos p e l a p rá ti ca da monarquia absoluta. A formação de u

ma burguesia s ó l i d a , com aspirações bem sedimentadas, formulou

e comandou uma transformação ra d i c a l da ordem e x i s t e n t e , implan

tando largamente o domínio das relações capitalistas, bem como

i n t e n s i f i c a n d o e estruturando as e s p a c i a i s .

Por outro lado, na segunda metade do século /XIX,

a França e a Alemanha, ainda P r ú s s i a , disputam o controle con

t i n en t al da Europa. Tal situação culminou com a guerra franco-

p ru ss i a n a em 1 8 7 0 , da qual a Prús sia saiu vencedora. A França

perde os t e r r i t ó r i o s de A ls á c i a e Lorena, v i t a i s para sua in

d u s t r i a l i z a ç ã o , uma vez que neles se localizam suas principais

reservas de carvão.

A g eo g raf ia de Ratzel pode ser v i s t a como uma

t e n ta ti va de legitimação da ação i m p e r i a l i s t a do Estado alemão

( p r u s s i a n o ) . 0 pensamento geográfico francês tem como ta r e f a ccm

batê-lo. La Blache foi a p r i n c i p a l f i g u r a a p a r t i r da qual fo

ram tecidas as crít ica s da Escola Francesa ãs formulações de

Ratzel.

As si m , resumidamente, La Blache c r i t i c a o cará


32

ter n a t u r a l i s t a da obra r a t z e l i a n a , onde o elemento humano apa

recia como passi vo frente às imposições do.meio. Ao "determini£

mo geogr áf ico " é contraposto o "p o s si b il i sm o g e o g r á f i c o " , teo

ri a que demonstrará a reciprocidade de inf l u ên ci a s entre o ho

mem e o meio, no in t e r i o r do qual a vontade humana dota o homem

de ampla " p o s s i b i l i d a d e " de dominar o meio. Combatendo a tese

d e t er m in i st a , La Blache dá um papel maior à h i s t o r i a para le

var em conta as maneiras pelas quais o homem se relac ion a com

os fatores f í s i c o s . No entanto,, em suas descrições , La Blache des

taca o que é permanente, tudo que exi ste na paisagem há . muito

tempo. Ou s e j a , dá destaque à herança durável de fenômenos na

turais ou de evoluções h is tó ri ca s an tigas.

Outra c r í t i c a de La Blache relativamente a Ratze 1

d i z i a r e sp ei t o à p o l i t i z a ç ã o e x p l í c i t a de seu d i s c u r s o . Ou se

ja, condenava o fato de as teses r a t z e l i a n a s tratarem aberta

mente de questões p o l í t i c a s .

Com relação a essa c r í t i c a , a seguinte citação dá

bem o se nt i d o apolít.ico (?) do p o s s i b i lismo lablachiano:

"Devemos nos congratular porque a tarefa da colonização


que ccnstitui a gloria de nossa epoca, seria apenas uma
vergcnha se a natureza pudesse ter estabelecido limites
rígidos , em vez de deixar margem para o trabalho de trans
formação ou de reconstrução cuja.realização está dentro
do poder do hanem."^

Ate que ponto, p o rt a n to , o principal represen

tante da es cola fran ces a realmente recusava as teses de Ratzel?

S e r i a uma recusa às teses ou ao " es p a ço " onde elas seriam uti


xizaaasí i^oino e x p u c a r , por exempio, que um mesmo autor, em um

espaço de menos de 12 anos,tenha esc rit o duas obras totalmente

opostas? Uma Tableau géographique de la France (1905), q u e , além

de ser um notório ataque a Escola Alemã, é também considerada

um modelo de " d e s c r iç ã o " e de " r a c i o n a l i d a d e " geográ fica, e a

outra, La France de L ' E s t (1916) que além de, não por acaso,ser

ignorada p ela quase totalidade dos geógrafos franceses (até

hoje.') , contém a análise de todas as questões que La Blache si£

tematicamente escamoteou em suas descrições no Tableau géogra

phique de La France? As diferenças de concepções, de raciocí

nio, bem como o modo como são colocadas as questões são tão

grandes que poder-se-ia d i ze r que estas duas obras pertencem a

dois geógrafos com ra d ic ais posicionamentos ideo lóg ic os.

0 autor de Géographie de la France é aquele que

nega a e x i s t ê n c i a de questões po lítico-militares como consti^

tutivas do discurso e da pr áti ca da g e o g r a f i a . Daí porque não

i n t er es sa r as questões re la t iv a s as cidades e o consequente pa

pel das burguesias u r b a n a s , .as diversas es tra tég ia s de indu£

tr i a l i z a ç ã o e a origem e o desenvolvimento do capitalismo. Su

prime de suas descrições tudo o que advém da evolução econônü

ca e s o c i a l , aquilo que tem menos de um século e qye t r a d u z ir ia

os e f e i t o s da revolução i n d u s t r i a l .

0 outro La Blache, autor de La France de L ' E s t , é

aquele que assume a diversidade dos fenômenos econômicos, so

ci a is e po lí t ic os como constitutivos da re alidade es p a c i a l . Es^

te La Blache não está preocupado, como bem d iz Lacoste, em de£

crever e ex p l ic a r os fenômenos julgados dignos das tradições

da corporação geográ fica, as suas relações com as outras dis

c i pl i n a s ou com os cânones de c i e n t i f i c i d a d e , mas sim em demons


34

trar que a Al s ãc i a e a Lorena - objeto dessa obra - anexadas píí

lo império alemão em 18 71 , deveriam ser reanexadas â França.

Sua argumentação para tal afirm ativa parte do fato de que a

língua (a Al s ãc i a e parte da Lorena são de cultura germânica)

não é o único aspecto que deve ser considerado na incorporação

territorial. As ca ra ct erí st ica s econômicas,. sociais e p o lít ica s

dos homens do te rr íto rio cobiçado, assim como suas relações

com um centro p o l ít ic o devem também ser levadas em considera

ção. Obviamente as ca ra ct er í st ic a s das citadas regiões são

mostradas por La Blache como estreitamente ligadas â França.

Apesar de ter re ali za do uma das mais completas a

nãlis.es geográficas (ge o po lí ti ca s) , por que os geógrafos france

se s , mesmo cultuando La B lache, ignoram ou fingem desconhecer

La France de 1 ’ Est? Talvez porque com isso r u i r i a a neutra

lidade da Escola Francesa. 0 expurgo .de Elisée, Reclus te r ia si^

do motivado pelo mesmo f a t o ? ^

Enfim, a i n s t i t u i ç ã o da geografia escolar nasce

quando o processo da " e s p a c i a l i d a d e d i f e r e n c i a i " começa a tomar

uma forte dimensão. No fundo, não cumpre à Escola Francesa pa

pel d i s t i n t o da Escola Alemã., não obstante as diversidades do

desenvolvimento do Estado-nacional francês e do alemão. A fun

ção da g eo gr af ia segue sendo a mesma: con fer ir unidade ao dife

re nc ia l (do) . Ou s e j a , escamotear a diversidade de relações so

ciais complexas para dar lugar a uma id e n t if i c a ç ã o n a c io n a l.

6.. RUDOLF KJELLÉN

0 p r i n c i p a l desdobramento da obra de Ratzel ma


35

nisfesta-se em Rudolf Kj e ll én (1864 - 1922) com a constituição

da g eo po lí tic a enquanto campo de conhecimento d i s t i n t o da geo

grafia tradicional, acadêmica.

K j e l l é n adotou as idéias ra tz e l i a n a s e radicali.


- 45
zou a i d e n t i f i c a ç a o do Estado com um organismo vivo . Autor

da " t e o r i a o rg a n i c is ta do E s t a d o " , afirma em seu livro o espa

ço como forma de vida (1916) que

"a essência do estado como organismo se compõe de elemen


tos jurídicos e elementos de força: como toda vida indivi
dual existente sobre a terra,ccnsiste.não sõ em morali_
dade, senão tanibêm em desejos orgânicos__ os esta
dos tal como {podemos], seguir seu curso na historia e
tal como nos movemos entre eles no mundo das realidades
são seres materiais-racionais, exatamente como os seres
humanos— o estado se nos apresenta agora, não como uma
forma casual de simbiose humana, artificialmente envol
ta em noções jurídicas, senão como um fenômeno orgânico
profundamente arraigado em realidades históricas e de fa
to, como o ser humano individual. Em uma palavra: o esta
do emerge como manisfestação biológica ou forma de vi
d a ." 46

Com e f e i t o , o E s t á d o :para K je l lé n é v is to como

um organismo s u j e i t o às leis do crescimento (tomadas de Ratzel).

S ubo rdina, assim, todos os aspectos p o l ít ic o s âs l e i s b io lõ

gicas. Os Estados nascem, crescem, envelhecem e morrem como os

demais organismos. Estados vitalmente fortes tendem a dilatar

seu t e r r i t ó r i o , s e j a . p e l a colonização, união com outros Esta

dos ou conquista: é uma tendência natural e ne ce s sá r ia como

meio de autoconservação, já que Estados-organismos, como seres


36

vivos s u p r a - i n d i v i d u a i s , lutam entre si perpetuamente pela so

b r e vi vê nc i a e angr.andecimento.

Erá As grandes potências de nossos dias (edição a

lemã de 1914) , dis se rt a sobre a necessidade de expansão do Ey

tado, afirmando que: "Nessa sit ua ção , a Alemanha surge como o

líder mais n a t u r a l , quer do ponto de v i s t a geográ fic o, quer do

cultural. Isto s i g n i f i c a r i a para a Alemanha, como administrado

ra do d i r e i t o de p r i m o g e ni tu ra , aceitar a posição de di rigen

te do mundo e, com esse fim, usar essa imensa fonte de poder


- - 4 7 -
que lhe parece f a lt a r no momento,- a fe em tal m i s s ã o . " Nao

ê de surpreender que as id éias de K je ll ê n tenham sido tão bem

recebidas entre os geógrafos germânicos. Humilhado com a der

rota na I Guerra M u n d i a l , com Kj e l lê n o pangermanismo ganha

r i a novo fôlego.

7 . HALFORD MACKINDER

Outro teórico importante para . a defi nição dos

traços fundamentais da geo política ó o geógrafo (?) inglês


AO t
Half or d Mackinder (1861 - 1 9 4 7 ) . ' Em 1904 apresentou

em Londres perante a Royal Geographical Society,

sua t e o r i a do Coração do Mundo, (He a r t la n d ) em uma conferência

i n t i t u l a d a O eixo geográfico de h i s t ó r i a (T;he gieographical pi

vot of h i s t o r y ) . Em 1919 p u b l i c a o livro Democratic ideais

and r e a l i t y , onde não modificará essencialmente os traços de

sua visão geográfica do sistema p o l í t i c q mundial já delineia

dos em 1 9 0 4 . ^

Segundo Mackinder, a h i s t ó r i a da c i v i l i z a ç ã o eu
37

ropêia s e r i a fruto da contínua luta contra a invasão asiática,

ou s e j a , produto da reação da Europa ãs pressões exercidas des

de as estepes asiáticas: como as chuvas são mais abundantes nas

regiões próximas ã costa marítima, e s t a r i a explicado o fato de

2 / 3 da população mundial se enccntrar em áreas relativamente pe

quenas ao largo das regiões litorâneas dos continentes. Ao con

tr ãr io , o centro do continente a s i á t i c o , cujo clima, é re l at iv a

mente seco devido â escassez de chuvas, se ri a .pouco povoado. No

entanto, essa região, onde a estrutura climática e geográfica

criou uma terra es t é p ic a , terá todas as condições para a exi£

tência de uma população nômade e s c a s s a , porem, considerável em

S£u conjunto.

à terra ocupadà por esses nômades,, Mackinder cha

ma de Coração do Mundo (H ea rtland) . Estrategicamente sit u a da ,

dela teriam desencadeado os ataques â Europa:

"0 Coração do Mundo para os propósitos do pensamento estra


tegico. inclui. o Mar Báltico., o Médio e o Baixo Danúbio na
vegãvel, o Mar Negro, Ásia Menor, Armênia, Tibete e Mon
gõlia. Em seu interior, portanto, estava, a Prússia Bran
denburgo e Ãustria-Bungria, assim como a Rússia - uma
vasta base tripla e poder humano (Figura 1).

0 Coração do Mundo (Heartland) f a r i a parte da

Il h a M undial (World - I s l a n d ) , composta pelos continentes eu

ropeu, africa no e asiá tico e d i v i d i d a em dois h em ici clo s: um he

miciclo i n t e r i o r (onde e s t a r i a o inexpugnável H e a r t l a n d ) , e um he

miciclo ex te r io r (corresponde à s .r e g i õ e s m a rg i na i s, com papel

secundário no controle do poder m u n d i a l ) . Os demais continen


38

F i c . 16.— T i i c W o r l d I s l a n d , d i v i d e d i n t o s ix n a t u r a l r e g io n s . ( E t ju a l a r e a s p r o j e c t i o n . )

Figura 1. H eartland (MACKINDER, H a l f o r d . , op,

c i t . , p . 78 - 9) .
39

tes (americano e oceânico) são considerados "meros satélites"

da Ilha Mundial (World - Island) (f igura 2 ) . ^

Mackinder s i n t e t i z a a importância es tr a té gi ca do

Coração do Mundo através do seguinte p r i n c í p i o : "Quem domina a

Europa O r ie n ta l controla o coração do mundo. Quem domina o cora

ção do mundo controla a Ilha Mundial. Quem domina a Ilh a Mun


" 52
d ia l controla o mundo.

8 . KARL HAUSHOFER

Herdeiro int el ec tu a l de K j e l l é n , admirador de

Ratzel e Mac kinder, Karl Haushofer (1869 - 1946) serã outra fi

gura importante na g e op o lí ti c a. Diretor do I n st it u to de Geopolí

tica de Munique e fu ndador.da Revista de G e o p o l í t i c a , u ni ra basi

camente os elementos das teorias dos três autores mencionados ,

transformado-os numa p o l í t i c a germânica, de poder n a c i o n a l .

Com K je l lé n chega a trocar i d é i a s , tomando mui

to de seus conceitos e terminologia. De Ratzel adota a l e i dos

espaços c r e s c e n t e s , dando-lhes um sentido p r a t i c o . Falando da

situação da Alemanha n a z i s t a , afirma Haushofer: <

"Uma grande nação tem de romper de um espaço singularmente


estreito,amentoado de gente,sem ar fresco, um espaço vi
tal acanhado e mutilado hã um m ilê n io __ a menos que to
da a terra se abra ã. livre imigração dos povos melhores e
mais capazes ou que os espaços a/í tais ainda não ocupados
sejam redistribuídos segundo as realizações anteriores e
a capacidade de criar.
^LO ] S\-
F i c . 12.— 'T h e s e cir cles r e p r e s e n t t h e i c l a t f v e a r c a i o f t h e W o r l d I s l a n d a n d its s a t elli t e s.

Figura 2. Âreas re lat iva s da Il h a M un d ial e seus

sa té li te s (MACKINDER, Halford., op.


41

A Mackinder referir-se-ã com freq uên ci a, como em

1937, por exemplo, quando escreveu que devia sua própria con

cepção sobre o domínio dos espaços "â maior de todas as concej)

ções g e o g rá f ic a s , a 0 Eixo Geográfico da H i s t ó r i a . " Dizia Hau.s

hofe r que nunca havia vis to "nada maior que estas poucas pãgi

nas de uma obra mestra g e o p o l í t i c à . E x p l i c a Hans Weigert que

a Haushofer não interessava tanto descrever sistematicamente as

manifestações em suas formas t í p i c a s , mas sim t i ra r conclusões

práticas que serviriam de guia para a e s tr a té g i a do e s ta di s ta .

Mackinder h avi a analisado a situação mundial, enquanto que

Haushofer se preocupava em ádaptã-la .à e s t ra té g i a alemã.

Ainda, segundo Weig er t, muito Haushofer fez para

levar H i t l e r a agir dentro de suas d i r e t r i z e s g eo p o lí ti c as . 0

pacto de não agressão germano - russo, de 23 de agosto de 1939

(Acordo Ribbentrop - Molotov) ter ia sido uma v i t ó r i a pessoal de

Haush ofe r, que sacara das lições de Mackinder que "nunca mais

jdeveriamj Alemanha e Rússia colocar em perigo suas relações

geop ol íti ca s por confl ito s ideológicos."^ Fracassou Haushofer

quando H i t l e r ordenou o ataque â Rússia.

Muito se tem disc ut ido sobre a relação entre as

i d é ia s de Haushofer e Adolf H i t l e r . Mein Kampf, de H i t l e r , é

considerado em grande parte diretamente inf lu en ci a do por Haus

hofer. De toda forma, é sintomático que a importância maior da

geopolíticà aconteça na Alemanha n a z i s t a , como diz Jú l i o

Chiavenato.

"Foram as idéiàs de Haushofer que forneceram o material ideo


lógico, para a geopolíticà nazista. Alguns geopolíticos, na
tentativa de absolver a geopolíticà dos desvios que ela
42

própria escolheu quando se auto-declarou 'ciência', afirmam


que Haushofer foi 'absorvido' e 'traído' pelos nazistas. Há
uma tendência destes geopolíticos [...] em desvincular os
crimes políticos do III Reich da geopolítica que os justi
ficou. Interessa porem £__ ]; o que a geopolítica ê ou foi -
não o que deveria tér s i d o . " ^

9 . A NOVA GEOGRAFIA

Ê interesante notar que, confundindo-se com o f^

nal da Segunda Guerra M und ial , surge uma nova escola geográfi

ca que terá como berço os Estados Unidos: a Escola Anglo-Saxôni

ca.

Essa nova escola pode ser v i s t a como uma reafirma

ção da neutralidade das an alises geográficas e uma demonstração

de que a g e o g r a f i a ."nada tem a ver com a geopo lí tic a haushof<e

riana". Sua. rápida e ampla mundialização (já nos anos 60) reve

la seu caráter mais prec iso - o imperalismo norte-americano. De

fato, a extensão mundial dos int ere ss es americanos, fez com que

a pesquisa geográfica fosse considerada um instrumento de con

trole ind isp en sá v el . A nova orientação da pesquisa geográfica

gera um conhecimento.diretamente op er a ci o n al iz ãv el que permite

a intervenção deliberada sobre a organização do espaço.

A "nova g e o g r a f i a ” , " g e o g r a f i a q u a n t i t a t i v a " , "geo

g r a f i a -p r a g m á t i c a " , caracterizar-se-á principalmente pela reno

vação de sua linguagem. Da antiga matriz p o s i t i v i s t a , a geogra

f i a sa lt a para o neopositivismo que representará uma sofist_i

cação téc nica com a u t i l i z a ç ã o da linguagem matemática.

Pode-se di zer que à nova corrente geográfica cum


43

pre dois papéis assenciais. Se, de um lado, seu aspecto utili_

tário deixa transparecer mais explicitamente seus objetivos eco

nômicos e m il i t a r e s (de d e s c r i t i v a , a geo grafia passa a ser

prospectiva), de outro, seu acervo téc nico, visando ev ita r a in

ter fer ên ci a de qualquer s u b j e t i v i d a d e , dissimula seu componen

te ideológico e sua e f i c á c i a p o l í t i c a . Ou s e j a , em contrapar

tida à sua nova re tór ic a c i e n t i f i c i s t a , que a faz afirmar-se

como racional e puramente o b j e t i v a , a geografia aparece mais

claramente como apoio dos centros decisórios na programação ter;

ritorial.. A ge o gr a fi a atinge o clímax da c i e n t i f i c í d a d e e da

utilidade, tornando-se uma arma mais s o f i s t i c a d a de controle do

espaço. Neste s e n t i d o , diz. Yves Lacoste que "P.ara os geógrafos

até então fechados, em sua. função, id eol óg ic a professoral, a pesquisa

aplicada [seriaj a possibilidade de se sentirem üt ei s de algum


"57
modo, sentimento profundo em muitos dentre e le s .

10 . A GEOPOLÍTICA: EFICAZ INSTRUMENTO DE PODER

A p a r t i r do que f oi exposto é possível visuali

zar a importância do controle p o l í t i c o sobre o espaço e o papel

que tem a g eo p ol í ti c a como instrumento d e . c o n t r o l e . Viu-se que,

como discurso e como p r á t i c a , a geop ol íti ca emerge e funciona como

um elemento es tr até gi co de organização e s p a c i a l , estruturador

e integrante de relações de dominação.

0 que se tentou r e a l i z a r no presente ca

teve tão somente o ob jetivo de esboçar linhas re f e r e n c i a i s para

a compreensão da geo p o lí ti c a enquanto um saber que tem süa in£

crição como p r á t i c a p o l í t i c a . Os recortes h is t ó r i c o s e teõri^


44

cos foram fei tos com o ob jetivo de p r i v i l e g i a r questões consid£

radas es sen ci ais ao ob jetivo da inv estigação. Não se pretendeu,

portanto, a t r i b u i r ã h i s t ó r i a um tratamento puramente linear,

mas sim a r t i c u l a r fatos e fatores que tornassem compreensíveis

a codeterminação ou correspondência entre um saber sobre o e£

paço, a g e o p o l í ti c a , e as realidades p o l í t i c a s . Ou s e j a , em u^

tima in s t â n c i a , mostrar a geopo lí tic a como um discurso do poder

sobre o espaço por ele p re te ndi do, espaço este que e , na realidade,

produto e produtor de relações sociais, e não o "espaço congela


58 ~ -
do" pela tradiçao geográ fic a.

Nascida e p o si ti v a d a como um saber ligado a me_

canismos de dominação, resta questionar-se sobre a m a t e r i a l i z a ­

ção mais recente da geopo lí tic a como pr áti ca de poder. E o que

se fará no próximo capít ulo .


45

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Relativamente ã data do primeiro uso da expressão "geopolí


t i c a " por K je ll ê n não hã unanimidade entre os autores.
CHI AVENATO, J úZZo J. GeopoZZtZca, atima do ^aòcZòmo. São
PauZo, GZobaZ, 1981. p. 9. afirma que " a palavra GEOPOLl-
T IC A surge pela primeira vez [...] em 1916. SOVRE, NeZòon
Weh.neh.ck. Inthodução ã geogh-afiZa; geo gstafiZa e ZdeoZogZa.
3 .e d . PetfiÕpoZZò, Uozeé, 1982.. p. 59-60 apresenta a mesma
d ata , assim como GUGLJALMELLJ, Juan Enh.Zque. GeopoZZtZca
deZ cono òufL. Buenoò AZxeò, EZ CZd EdZtofi, 1 9 79 . p. 17 e
COMBLJN, Joáeph. A ZdeoZogZa da -ieguAança nacZonaZ. 3 . ed.
RZo de. JaneZh-o, CZvZZZzação BhaòZZeZfia, 19 SO. p. 25. Segun
do MiyAMOTÕ, ShZguenoZZ. 0 p 2.nAame.nto geopoZZtZco bhaóZ
ZeZh.o ( 1 9 20 -1 9 SO ) . São PauZo, FacuZdade de FZZoAofiZa, Le
tfiaò 2. CZ 2.nc.Za6 Humana-ò da U . S . P . , 19 81, £. 17 IVZbi>z.h.ta -
ção de. Meòtfiado da ãh.ea de CZêncZa PoZZtZca/ - o termo foi
u t i l i z a d o pela primeira vez por K j e l l ê n em 1899. Optou-se
p e l a data mais ant iga .

2. KJ EL L Ê N , R u d o Z . , apud. , MÍVAM OTO, Sh Zgu enoZZ. 0 peniamen-


to geopoZZtZco bh.a&ZZeZtio (19 2 0 - 1 9 8 0 ) . , op. cZt., 18.

3. REVISTA VE GEOPOLÍTJCA. (EdZtotieò) . , apud., WEIGERT, HanA.


G e o p o Z Z t Z c a ; geneh.aZe-6 y geÕgtia&oí. MexZc o, Fondo de CuZ-
tuh.a EconomZca, 194 3. p . 24.

4. HAUSHOFER, Ka/iZ. , apud., WEIGERT, Hanò. GeopoZZtZca; gene


fiaZeò y geÕgha^oò. , op. cZt. , p. 24-5.

5. WEIGERT, Hanò . G eo p o ZZ tZ ca ; geneh.aZe-6 y g eÕgh.a^oi . MexZco,


Fondo de CúZtuha EconomZca, 1 943 . p . 23-5.

6. COMBLIN, Joòepk. A ZdeoZogZa da AequAança n a c Z o n a Z . 3.ed.


RZo de JaneZn. 0 , CZvZZZzação BtiaòZZeZfia, 1 9 80 . p. 24-5.
46

7. TAMBS, Lzu),L& A. A Zn^ZuzncZa da gzopoZZtZca na ^ofimação da


poZZtZca ZntzfinacZo naZ z da zòtfiatzgZa dab gfiandzò potzn
cZaò . PoZZtZca z EétfiatzgZa, São Paulo, 1_[1):7 3, out./
dzz. 79 83.

8. BACKHEUSER, Evzfiafido . , a p u d ., SILVA, GoZbzfiy do C outo z.


Conjuntufia poZZtZca nacZonaZ: o podzfi zxzcutZvo & Gzopo-
ZZtZca do BfiabZZ. í . z d . RZo dz JanzZfio, J. OZympZo, 1981.
p. 64.

9. MATTOS, CafiZob dz MzZfia. A gzopoZZtZca z ah pfiojzçõzò do


podzfi. RZo dz JanzZfio, J . OZympZo, 1 9 77 . p. 15.

10. SILVA, GoZbzfiy do Couto z. Conjuntufia poZZtZca nacZonaZ: o


podzfi zxzcutZvo i GzopoZZtZca do BfiaòZZ. 2.zd. RZo dz Ja
nzZfio, J . OZympZo, 19 81. p. 64.

11. GUGLIAU4ELLJ, Juan EnfiZquz. GzopoZZtZca dzZ cono bufi. Buz-


no-i AZfizb , EZ CZd. EdZtofi, 1 9 79 . p. 24.

12. ATENCIÜ, Jofigz E. Quz zb Za gzopoZZtZca. . Bueno-ó AZftzb . ,


PZzamafi, 1 965 , p . 4 1 . , a p u d ., COMBLIN, Jobzph. Pz. A Zdzo -
ZogZa da Azgufiança nacZonaZ. , op. c Z t., p . 25.

13. GUGLl ALME L L J , Juan EnfiZquz. GzopoZZtZca dzZ cono &ufi. op.
cZt., p.23~4.

14. SILVA, GoZbzfiy do Couto z. Conj untufia poZZtZca nacZonaZ: o


podzfi zxzcutZvo I GzopoZZtZca do Bfia&ZZ. , op. c Z t ., p. 64.

15. MEVE1R0S, Jafibaò. AvaZZação do podzfi mundZaZ. PoZZtZca z


Ei,tfiatigZa, São PauZo, 1_[1): 20, out./dzz. 1 983 .

16. WEIGERT, Han6. GzopoZZtZca; gznzfiaZzb y gzogfia^oi. , op.cZt.


p . 24.
47

17. M1YAM0T0, S h lg u en o ll. Os estudos geopolZtlcos no Bnasll:


uma co ntn.lbulção pan.a sua a v a l i a ç ã o . Re.v4.Sta Pen.spectlvas,
São Paulo , 4_: 76. 198 1 .

18. LACOSTE, Yves. La geognaphle. ln: CHATELET, F. La p h ilo s o ­


phie des sciences s o c i a l e s . Panels, s . e d . , 1 9 73 , p. 251-
94., apud. , QUAIbll, Masslmo. MaA.xi.smo e geo gn. a ^ l a . Rio de
Janelfio, Paz 'e Ten.n.a, 1 9 79 . p . 1 2 .

19. LACOSTE, Yves. La geogfiaphle, ça sen.t, d ’ abofid, à_____ {>ain.e


l a gu.en.fie. Pan.ls, Maspen.o, 1 9 82 . p. 7. '***

20. Ib i d . p. 20.

21. Ibid. p.

22 . I bi.d. p . 16 3 .

23. ïbld. p. 19.

24. FOUCAULT, Michel. MlcAo ^Zslca do poden.. 2. ed. Rio de Janel


n.o, Gn.aal, 19 81. p.161. Entn.evlsta da n.evlsta Henodote a
M ichel Foucault.

2 5. I bld. p . 296.
i

26. LACOSTE, Yves. La geogn.aphle, ça sen.t, d 'a b o A d , a &aln.e la


guen.n.e. , op. c it ., p.9.

27. CH1AI/ENAT0, Júlio J . GeopolZtlca, an.ma do fascism o . São


Paulo, Global, 1981. p.9.

28. SILVA, Golben.y do Couto e. Conjuntun.a p o lZ tlca na cio n a l:


o poden. executivo lg GeopolZtlca do Bn.asll. , op. c i t . , 65.

29. SOVRË, Nelson Wen.neck. J ntn.oduçâo à g eognafala; geogna^la e


Ideologia. 3 . ed. PetnJõpolls, Vozes, 1 982 . p . 5 4 .
48

30. SAblTOS, M-ltton. Pon uma geogAa^Za n o v a . 2.ed. São Pauto,


HUC1TEC, 1980. p . 14.

31. MOREIRA, RuZ. 0 que e geogna^-ia. São Pauto, Bfiaò-it-ienò e ,


1981. p . 41.

32. SANTOS, MZtton. Pofi uma geogna^-ia n ova . , op. o-it., p. 99.

33. KA MT, I. A ntfiopotogZa pn.agmati.ea. Bani, 1 9 69. p. 6, apud. ,


GUAINI, Mat>t>Lmo . Manx-í-òmo e geogfia ^ i a . RÃ,o de, Janetfio ,
Paz e T enfia, 1 979 . p. 2 7 .

34. MOREIRA, Rui.. 0 qúe e geognafita. , op. e i t . , p. 23-4.

35 . Tb-íd. p .41 .

36. MORAES, Antonto Cantoò Robent. GeognafiZa; pequena hZòtÕnZa


cnZtZca. 2.ed. São Pauto, HUCJTEC, 1 983. p . 46-7.

37. No enta nt o, como ex p li ca o re fe ri d o autor, "há quem faça


recuar essa ponta i n i c i a l a Karl R i t t e r , acusado também
de fundador da g e o p o l í t i c a " . SOVRi, Netéon W enneck., op.
eZt. , p. 48. De fa t o , no tocante ao determinismo geográ­
fico, não se pode deixar de lembrar de R i t t e r , uma vez
que sua obra é anterior à de Ratzel e , sem dúvida, irá
in flu en ci á - lo . "Renovando o estudo da g e o g r a f i a , que até
então tinha tido um caráter substancialmente de s cr it iv o ,
K. Ritter, inspirando-se na f i l o s o f i a de S c h e l l i n g , consi
derava as diversas partes do mundo como organismos v i v o s ,
que determinavam a vida e a h i s t o r i a de seus habitantes e
julgava que os grandes acontecimentos h is to ri c o s fossem
condicionados essencialmente por seus fatores geográficos
[...]. c'á • CORNU, A. Mdnx é Erigétó , dàt tZbénatZ&mo at
cómunZòmo. MZta n o , Fettn Z n e t tZ , 1 962 , p. 150., apud. ,
QUAJNI, Ma&A-ímo. Geó gna^Za è màntZòmo. , op. cZt. , p . 30.
49

38. RATZEL, VfiZo.dfiZc.h. Anthfiopoge.ogfiaphZz. Gfiundz&ge.________ do.fi


Anwzndung de.fi Efidkund au£ dZe. Ge.òc.hZc.hte.. Sttu.tga.fit, BZ-
bZZote,c.a do, manuaZò go.ogfiã{lZaoâ do. Engo.-ih.ofin.. 1 8 82 / 1 89 1 .
2 v ., a p u d . , SOPRE, NzZion Wo.fine.ak. I ntfiodução a gzogfia-
£ Za; go.ogfiafiZa e -ideologia., op. cZt.,p.48.

39. WEIGERT, Hani> . Go.opoZZtZca; g e.ne.fiaZe.6 y ge.ogfta^oò . , op.


c Z t . , p . 1 1 4-5 .

40 . " H e i n r i c h von T r eit sch ke , expondo suas malévolas doutrinas


sobre expansão pela guerra, jul gav a que a aquisição de
t e r r i t ó r i o pela guerra era o e l i x i r para nações desvitali^
z a da s , e ele foi o primeiro a u t i l i z a r o termo Lebensraum,
e s p a ç o - v it a l . '0 estado é p o d e r ' , ele disse e ele extraiu
de Maqu.Zave.-i a id éia de que o estado não é limitado por
re st r iç õ es de moralidade como são os i n d i v í d u o s . " CARLSON,
LucZZe.. Gzogfiaphy and lOpfiZd p o Z Z t Z c i. N .J., Pfie.ntZce.-
H all, 1958. p . 14.

41. RATZEL, FfiZzdfiZch. PoZZtZi ahe. ge.ogfiaphZe.. Ge.o gfiaphZe. de.fi


Staatzn, do,& Vo.fike.hfi0 und KfiZe.g e.i>. 1 ecL MunZch., apud.,S0V Ri,
Ne-Zion We.fine.c.h. Intfioduç.ão ã . go.ogfia^Za; . ge.o gfia^Za e. Zde.o_
Z o g Z a . , o.p. cZt. , p. 48.

42 . WEIGERT, Hanò. Go.opoZZtZc.a; go.ne.fiaZe.& y ge.Õgfia&oò. , op.


aZt., p .103.

43. LA BLACHE, VZdaZ. PfiZnc.Zpo.4 do. gzogfiaphZe. humaZne.. , a p u d .,


SANTOS, MZZton. Pofi uma go.o gfia^Za nova , p. 15.

44. E l i s ê e Reclus (1 8 3 0 - 1 9 0 5 ), m il i t a n t e anarquista da I Inter


nac ion al e um dos organizadores da Comuna de P a r i s . Um
dos mais conhecidos geógrafos franceses à época de Vidal
de La Blache, não serã aceito pelas academias sob a argu­
mentação de que p er s o n i fi ca v a a geo grafia u t i l i t á r i a que
a g e o g r a f i a lablachiana estava superando. Atualmente tem-
50

se proposto uma reavaliação de sua obra em forma de crí­


t i c a ã tradição geográfica acadêmica f r a n c e s a , como o faz
Yves Lacoste. Para Lacoste o s i l ê n c i o da corporação geo­
g r á fi c a francesa..em torno da obra de Reclus é f r u t o , p r i n ­
cipalmente, da recusa de i n c lu i r na discussão geográfica
o fato p o l í t i c o , como o papel dos aparelhos do E s t a d o . " P a
ra o grande pensador a n arq ui sta , a geografia não somente
não pode ignorar os problemas p o l í t i c o s , mas ela permite
melhor situá-los, quando não, revelar sua im p o rt ân c ia ."
LACOSTE, Yves. La géogfiaphZe, ça &eh.t, d'abo/id, ci faattie
ta guetifie. , op. cZt. , p. 85.

45 . Embora ressaltemos os aspectos da obra r a t z e l i a n a que mais


diretamente influenciaram K je ll é n e a Ge o p o l í ti c a de modo
geral, este não foi seu único desdobramento. Como ex pl ica
Robert Moraes, além de in fl u en c i a r a Geografia como um t()
do, Rat zel é considerado o p r i n c i p a l precursor da escola
geográfica am bi e n ta li st a , onde " a natureza não é v is ta
mais como determinação, mas como suporte da v id a humana.
Mantém-se a concepção n a t u r a l i s t a , porém, sem a ca usa lid a
de m e c a n i c i s t a . " c£. MORAES, AntonZo CafiZoò Robert. Geo-
gn.a^Za; pequena hZàtÕAZa csiZtZca. , op. cZt. , p. 60. Ain d a,
analisando organicismo r a t z e l i a n o , bem como sua relação
com K j e l l é n , SILVA, GoZbetiy do Couto e. Conl untufia poZZ-
tZca nácZonaZ: o pódeh. executZvo E GeopoZZtZca do Bn.ai>ZL,
, — 4 —
op. CsLt. , p. 2 8 . * es c larece que o proprio Ra tz el nao de_i
xou de fa z er reservas aquela concepção. Neste s e n t i d o , vi
de também WEIGERT, Hanò. GeopoZZtZca; genen.ale& y geogna
{os. , op. cZ t . p . 9 9 .

46. KJELLÉN, RudoZ&. EZ Estado como. fioAma' de v Z d a . BeAZZm ,


19.2 4. p. 2 03 . , apu d. , WEIGERT , H an-ò . GeopoZZ tZca ; geneAa
Zeb y geogfiati os . , op . cZt. , p . 119 .
51

47. KJELLEM, RudoZfa. Aò gn.ande.6 potê.ncta-6 dn noò&oi, d t a ò . 1914.,


a pud. , SOVRE, NcZòon IVeAmck. TntAodução a ge.ogtiafaÁ.a; ge.o
gfia^Za e. íde.oZog<La. , op. c-ít., p. 60-1.

48. Segundo SOV RÉ, Ne.Zt>on We/ine.ck. Intfiodução ã ge.o gn.a£ta; ge.o
gtia.^Á.a. e Á,de.oZogZa. , op. c-i£ . , p . 58. " a passagem da Geo­
g r a f i a à Geopolítica se deve ao caracterizado teorico da
expansão im p er ia l is ta inglesa Halford Mackinder

49. A visão geográfica de Mackinder é considerada " g l o b a l " . Ele


mesmo ex p li ca que "cada século tem tido sua própria p e r s ­
p ectiva A p er sp ec tiv a geográfica do século XX
dif er e [...] de todas as dos séculos anteriores em mais
do que mera extensão. Nos contornos nosso conhecimento
geográfico está agora com pl eto ." MACKTWPER, HaZ£ofid. V<L-
mocn.atÁ.c ZdzdZ.ò and KeidZtty. Me.iv Yon.k, H. HoZt, c 1 942 .
p . 29.

50. MACKINVER, HaZ^ofid. Ve.mócfiatÁ.c Á.de.aZ& and fi&aZ-Lty. op.oJX.,


p . 110.

51. em 1943. Mackinder achou necessário revi sar em parte


sua organização o r i g i n a l de estados e a interpretação da
mesma. Naquele ano, como tanto a União Sov iét ica como os
Estados Unidos continuavam a provar seu crescente poder
de forç a, ele [...] reconheceu que o sustentáculo do po­
der mundial apoiava-se não somente na Ilha Mundo, mas tam
bém na potência i n d u s t r i a l dos Estados Unidos [ . . . ] . "CARL
SON, LucZZe.. Geogsiápk-Í and wósiZd póZZt-ícò . , op. c^it. p.
20.

52. MACKINDER, HaZ&ofid. VeimócKdtÀ.c íde.dZi> and tiddZ-lty. , op.cJX.,


p . 150.

53. HAüSHOFER, KatiZ. le.ttòchn.Z{lt filbi ge.opoZ-it-ik. Man-cc.fi, 1 934 .


v. 2, a p u d ., SOVRE, hleZ-òon We.n.ne.ck. Introdução e ge.ogn.a-
j-la; ge.ogn.a£Á.a e. t d z o Z o g í a ., op. c á . t . , p. 63.
HAUSHOFER, Kafit. Pote.nc4.aA conquZòtadofiaò de 6 p a c to . 1937 .
p. 7 6 . , apud., WEIGERT, HanA . GeopotZtZca; ge.ne.fiate.t> y
geõgn.d{oó., op. cZt. , p. 129.

HAUSHOFER, Kafit. cZtado pofi WEIGERT, Hanò. GeopotZttca: ge-


ne.fiate.6 y geógn.a{so& . , op. cZ t. , p. 197.

CHIAVENATO, JãtZo J . GeopotZtZca, afima do {ascZim o. , op.


cZt. , p . 1 9 . Vide WEIGERT, Han& . GeopotZtZca; ge.nen.atti> y
geogfia^oi. , op. cZt. que a n al i sa demoradamente a relação
entre haushoferismo e h it le ri sm o . A esse respeito ver
também CASTRO, Ten.ezZnha de. A Zn{tuencZa da geopotZtZca
na úofimação da potZtZca ZntefinacZo nat e da eòtnategZa daò
gnandeò potêncZaò. PotZtZca e Eí>tn.atégZa, São P a u t o , 1 ( 1 ) :
106-7; CARLSON, LucZte. Geogfiapky and wofitd potZtZci>. ,
op. c Z t . , p. 17-8; SOVRÊ, Uet&on Wen.nen.ck. Intfiodução ã
geogfia^Za; geogn.a{Za e Z d e o t o g Z a ., op. cZt. , p. 61-71.

LACOSTE, YveA. La géogfiaphZe, ç.a òefit , d'abofid, ã jaZfie t a


gu.en.fie. , op. cZt. , p. 111

Expressão u t i l i z a d a por FOUCAULT, MZcket. MZcfio {ZòZca do


Podefi. , op. cZt. p. , numa alusão â f a l á c i a do binô­
mio antinômico: homem/meio, sa cr a li za d o tanto pelo d e t e r ­
minismo quanto pelo po ssibilismo g e o g r á f i c o . " D es co n gel ar"
o espaço s i g n i f i c a r i a dar-lhe um conteúdo' soc ial e tempo­
ral, compreender seu conteúdo h i s t ó r i c o . Enfim, encará-lo
em sua relação d i a l é t i c a com o homem, através da qual
desempenha um papel fundamental no processo de produção
so ci al e do mecanismo de controle da sociedade.
C A P Í T U L O II

UMA NOVA REALIDADE GEOPOLÏTICA:

A BIPOLARIDADE LESTE-OESTE
54

UMA NOVA REALIDADE GEOPOLlTICA:

A BIPOLARIDADE LESTE-OESTE

0 período pos Segunda Guerra Mundial está

mente marcado pela vigênc ia de uma nova representação espacial

do mundo, que tem como dado ind isc utível e ex p lic a tiv o sua di_

visão geográ fica em Leste-Oeste: uma nova configuração geopolí^

tica do mundo. A aceitação desta re f erê n ci a como base de anãli.

se da re a li d a d e p o l í t i c a , interna e i n t e r n a c i o n a l , terá, como

pretende-se mostrar neste capítulo, conseqüências considera

veis. 0 lugar que este re fer en ci al vem merecendo no desenvolvi^

mento da p o l í t i c a internacional e nacional lhe assegura um con

tínuo processo de invocação com o fim de m a t e r i a l i z a r e/ou ju_s

tificar determinadas condutas p ol íti ca s que têm sido alvo de

intenso questionamento. De modo ger al, as cr ít ic a s que se colc)

cam são f r u t o , de uma p ar t e , da própria f a l ê n c i a dos modelos

p o l ít ic o s instalados a p a r t i r da recorrência â <referida fatal_i

dade b i p o l a r , e, de outra, da crescente complexidade das rela

ções i n t e rn a ci on a i s que, certamente, não comportam esquemas

a n al í ti co s s i m pl i s ta s .

Estes são alguns indicadores do tema objeto do

presente ca pít ulo . Faz-se mister aduzir-se a eles outros escla.

recimentos como o fato de colocar-se em primeiro plano a forma

como se pr o je ta a bipol ari da de nos países do continente ameri

cano, e, mais especificamente-,- com relação ã America L a t i n a .


55

Os países latino-americanos sofreram de modo

drástico a aplicação dos mecanismos de ccntenção ao "avanço corn'll

n i s t a " , consubstanciados na Doutrina da Se gu ra n ça ■N a c i o n a l . A

forma como se e f e t i v a , a Doutrina da Segurança Nacional co- deve

ser, portanto, observada, sobremaneira no que diz respeito ãs

noções ge op ol íti ca s a que ela apela. Em con ti nui dad e, estarão

inseridas algumas reflexões sobre a ins ti tu i çã o m i l i t a r , haja

v is ta sua oste nsi va presença na concretização das metas da se

gurança n a c i o n a l , para, finalmente, considerar-se os papéis de_

sempenhados pelo Brasi l no i nt er i or das mesmas metas, já que,

segundo os ra ci o cí n io s geopolíticos de e q u i lí b r i o de poder, es_

t-e país tem uma condição p r i v i l e g i a d a .

1 . A CIRCUNSCRIÇÃO GEOPOLÍTXCA LATINO-AMERICANA

Embora Mackinder pensasse principalmente na r^L

validade entre Ingla terra e Alemanha quando elaborava suas t£

ses, aí a b i po la ri d a de Leste-Oeste já recebia um significado

especial, que será aprofundado apõs a Segunda Grande G u err a.E y

se é o momento em que os Estados Unidos tiveram acesso à época

imperial, enunciando as bases da nova t i t u l a r i d a d e imp er ial ly

ta. Ou s e j a , é a ocasião em que se delineará os pressupostos.da

ra ci on al iza ção da n o v a . p o l í t i c a imperialista. Neste contexto,

a União So v ié t ic a aparece como uma'.rival i n c o n c i l i á v e l , sendo

sua p o l í t i c a externa ca rac te riz ada como uma p o l í t i c a que visa

a revolução u n i v e r s a l , isto é, a sujeição do mundo l i v r e ao

sovietismo.
56

No que toca ã América La ti n a, não hã o que di£

cutir. Em conseqüência da grande tese geopolítica da divisão

do mundo em dois poderes irremediavelmente antagônicos, os pa_í

ses latino-americanos integrarão o bloco comandado pelos Esta

dos Unidos. A proximidade geográfica ê colocada como determi.

nante da proximidade p o l í t i c o - i d e o l õ g i c a .

Algumas das id éias fundamentais da integração

latino-americana sob a li derança dos Estados Unidos foram ex

postas pelo teórico geopolítico norte-americano Nicholas John

Spykman (1893-1943). Falecido anteriormente ao f i n a l da Segun

da Guerra Mund ial, Spykman foi um dos geopolíticos mais in

fluentes de seu p a í s , podendo ser considerado um precursor na

formulação de programas de seguridade tendo por base estudos

geográficos. Seus primeiros trabalhos apareceram em 1 9 3 8 ' e

1939.

Segundo Spykman,

"tudo que não seja forjar uma Grossraumwirtschaft — um


grande espaço vital - que incorpore todo o continente
americano com base em uma economia planificada, com
produção controlada e direção centralizada do comércio
internacional, não poderá sobreviver ..] . Nenhum dos
estados aceitaria de bom grado as modificações impre^
cindíveis para criar esta economia regional [•••]• So
mente a conquista do hemisfério pelos Estados Unidos e
a implacável destruição das economias nacionais ora exis
tentes, poderia realizar a integração necessária."^

Ainda, discu tind o sobre o papel dos Estados Unidos no mundo,

afirmava que os esforços no sentido da conquista e preservação


57

do poder não tinham por fi n a l i d a d e a realização de valores mo

rais; mas, ao c o n t r a r i o , os valores morais é que eram fe i to s

para a conquista e preservação do poder.

Relevando a importância do domínio marítimo,

Spykman criou a teor ia das fímbrias marítimas, através da qual

preconizava que os Estados Unidos substituiriam a In gl at err a

no lugar em que esta ocupara até então na estra tégia mundial.

Assim, a nova lid era nç a mundial caberia aos Estados Unidos, me

nos vulneráveis a ataques econômicos e m i l i t a r e s , e mais versã

teis em manobras rápidas para o eq u i lí b ri o de poder. Para o

melhor exerc íc io desta missão, recomendava a instalação de ba


2
ses de proteção ao redor de todo o continente americano.

Há que se d i z e r , no entanto, que Spykman não

foi o único geo po lítico norte-americano cuja obra adquiriu im

portância nesta época. Coincidindo com o f i n a l da Segunda Guer

ra Mundial, aparecem nos Estados Unidos eminentes geografos

que abririam caminho para uma escola geopolítica genuinamente

americana. Entre eles estão: I s a i a h Bowman, Derwent Whittlesey,

Edward Mead Earle e Harold Sprout.

2 . A DOUTRINA DA SEGURANÇA NACIONAL

Conforme Joseph Comblin a nova

"visão do mundo baseada na geopolítica é a de uma rivali .


dade entre Nações que são vontades de poder e de pode
58

rio. Essas Nações estão reagrupadas em duas alianças


opostas. Uma representa o bem outra o mal. A primeira
se chama Ocidente e a outra Comunismo. As Nações do mun
do não tem salvação se não se aliarem a uma das duas
potências mundiais". '{Êstá-se no auge da guerra fria;.']
"Quanto ao que se relaciona â América Latina, ela faz
parte do Ocidente. Não ha que hesitar: é preciso seguir
a grande potência que dirige o Ocidente quanto ao antico
munismo, os Estados Unidos. Dependendo do maior ou menor
culto â geopolítica, serão encontrados maior ou menor nu
mero de argumentos 'científicos' para reforçar este de_s
+ • ~n’3
tino •

Ai n d a, como explica Comblin, a resposta ã guer


4 -
ra f r i a e a segurança na cional. A onipresença da ameaça comu
nis ta oengendra a ex is tê n ci a de uma guerra permanente que, por
sua vez, c r i a o perigo permanente para a segurança norte- ameri^
cana. Mesmo que a União Soviética não ameace diretamente o ter

ritõrio norte-americano, coloca-se como i r r e f u t á v e l a existên

cia de uma ameaça longínguar que a f e t a r i a sua segurança a longo

prazo. A con trapartida a esta situação ser.á a segurança naci<D

nal.

A p a r t i r daí ver-se-ão traçadas as característi_

cas e o sentido da Doutrina da Segurança Nacional que, xomo

bem diz Comblin, pode ser teoricamente imprecisa, porém bastan

te concreta na p r á t i c a . £ a doutrina que j u s t i f i c a r á (?) os

golpes de Estado e a instalação de regimes m i l i t a r e s que acon

tecerão em cadeia na América Latina a p a r t i r da década de

1960^, estando fortemente assentada em ca tegorias geopolíticas

de e q u i l í b r i o de poder.

Para Comblin, a h i s t o r i a do segundo põs-guerra


59

no continente americano pode ser d i v i d i d a esquematicamente em

duas fases d i s t i n t a s , que compõem, na r e a l i d a d e , a prõpria hi_s

tõria da Doutrina da Segurança Naci on al . A primeira fase abran

ge o período 1945 - 19 6 1 , na qual a es tr at égi a americana con

si st e num programa de defesa continental contra uma possível

invasão s o v i é t i c a vinda do At l â n ti c o . Neste período os exérci^

tos latino-americanos são equipados com armamentos de tipo con

vencional e treinados tendo em v i s t a a provável guerra contra

a iminente mvasao • «. 6
comunista.

A est rat égi a anticomunista a p a r t i r de 1961 mu

da de orienta ção . A p ri nc ipa l ameaça passa a ser o "ini migo in

terno". 0 governo do Presidente John F. Kennedy inaugura a

adoção em peso de programas de segurança, segundo os quais pay

sam a ser enviados aos exércitos latino-americanos materiais

l ev es, destinados â guerra de g ue r r il h a : a guerra, portanto ,

permanece, deslocando-se tão somente o alvo, que passa a estar

lo ca l i za d o no in t e r i o r do continente. Segundo Comblin, o gover

no Kennedy estava convencido de que o comunismo encontrava-se

mais ameaçador do que nunca, aproveitando do movimento de dey

colonização que acontece por volta deste período é do aprofun

damento dos problemas econômicos-sociais do Terceiro Mundo.

Este segundo período (a p a r t i r de 1961) terá,

por sua v ez , duas fases d i s t i n t a s : uma de 1961 a 19 68 , outra ,

de 1969 em d i a n t e . Durante a primeira fase (1961-1968) a estra

tégia da guerra anti-revolucionária ter ia domínio completo. No

entanto, aos poucos, o simplismo da doutrina da segurança da

ri a lugar a um sistema mais s o f i s t i c a d o , no qual introduzir-


7
-se-ia o tema do desenvolvimento. 0 desenvolvimento aparece
como um elemento que deve harmonizar-se com a segurança, sendo

que o maior ou menor peso que se dê a este novo elemento indi^

cará a maior ou menor f l e x i b i l i d a d e dos regimes que implementa

rão a Doutrina da Segurança Naci on al . No caso do prevalecimen

to do item segurança, a guerra comandada pelo Estado em forma

de repressão será a resposta a tudo. Por outro lado, dando-se

maior atenção ao item desenvolvimento, estar-se-á diante de

regimes também a u t o r i t á r i o s , porém de tendência n a c i o n a l i s t a ,

onde maior importância terão as es tra tég ia s que visem o equa

cionamento dos problemas de ordem s o c i a l .

£ neste contexto que surge o Relatório Rockfeller

(1.9§9) , produto das observações colhidas por Nélson Rockfeller

em viagem pela América L a t i n a . Conforme Frederico G.

G i l , a neces sid ade de mudanças na relação entre os Estados Uni^

dos e a América La ti n a havia se tornado obvia no f i n a l da déca


8
da de 1 9 6 0 . Em a b r i l de 1969 uma série de estudos fe i to s por

es p e c ia l i s t a s das Nações Unidas sobre o desenvolvimento lat.i

no-americano mostravam que a América La tina enfrentava ainda

os mesmos problemas c r uc i a is à época do lançamento da Aliança

para o Progresso, em 1961 (Governo K e n n e d y ) . Ao tomar posse, o

Presidente Nixon designou uma missão para v e r i f i c a r os desejos

e necessidades da re gião, ch efi ada por Nelson R o c k f e l l e r , . Go

vernador de Nova York. Rockfeller, com uma equipe de especia

listas, fez quatro viagens â América La tina nos meses de maio,

junho e julho de 19 6 9 . Houve demonstração de h o s t i l i d a d e â mi_s

são em toda América L a t i n a , sendo que suas v i s i t a s ao Perü^


61

Venezuela e Ch ile tiveram que ser indefinidamente proteladas

a pedido dos respe cti vos governos. No f i n a l de agosto de 1969

Rockfeller entregou seu re lat ório ao Presidente Nixon. Conten

do 83 recomendações, o re lat óri o previa que a região latino-

americana co n ti n u a r i a a ser confrontada com o caos iminente ca

so não fossem tomadas medidas urgentes por parte dos Estados

Unidos. Assim, concluiu que as "c rescentes fr u st aç õe s" leva

riam um " c r e s c e n t e número de pessoas a tomar os Estados Unidos

como bode ex p ia tó r io e procurar soluções marxistas para seus

problemas socio-economicos."

Ao i n s i s t i r sobre a segurança, o Relatório pre

tendeu combater os m i l i t a r e s latino-americanos nacionalistas.

Sua o r i g i n a l i d a d e , portanto, não estã no fato de promover go

vernos m i l i t a r e s ditatoriais - isso jã f a z i a parte de uma dou

trina c l á s s i c a e uma pr áti ca habitual -,,mas sim na distinção

que estabe lece entre m i l i t a r e s " ga r a n t i d o s " e m il i t a r e s "nacio

n a l i s t a s " 1^ São, fundamentalmente, três as sugestões por ele

formuladas. À primeira delas ê o aumento de ajuda m i l i t a r para

o combate ã subversão através da resposta p o s i t i v a dos Estados

Unidos aos pedidos de equipamento m i l i t a r de outros governos

para prover o fortalecimento da luta contra " f o r ç a s subversi^

vas". Além d i s s o , o Re latório sugere maiores f a c i l i d a d e s para

as inversões de ca p it a l privado dos Estados Unidos no estran

g ei ro , assim como a abertura do mercado norte-americano ãs

exportações de produtos manufaturados ou semi-industrializados

de procedência latino-americana.'*'^

Na r e f e r i d a seqüência de golpes de Estado m il^


62

tar que aconteceu na America Latina a p a r t i r da década de 60,

sob inspiração da Doutrina da Segurança N ac i on a l , o Brasil

ocupa cronologicamente o primeiro lugar com o golpe de 19 64,

radicalizado em 1968 pelo Ato In s t i t u c i o n a l n 9 5. Embora não

e x i s t a nenhum caso concreto que possa ser considerado como o

modelo ideal da aplicação da Doutrina, o Brasi l ê tido como re

presentante eminente da id eologia da segurança nacional, já que

a preparação para o novo regime foi f e i t a de modo sistemático

durante quinze anos na Escola Superior de Guerra, fundada em


12
1949.

Após o Brasi l vem a Ar g e n ti n a , com o golpe de

Estado m i l i t a r de 19 66 , seguido pelo golpe de 19 7 6 , que radica

l i z a r ã o regime da segurança n a c io n a l . Ao contrário do B r a s i l ,

onde aconteceu um razoável grau de harmonia entre a teoria e a

p rát ic a d o ut ri ná ri a, na Argentina não foi tão bem sucedida a

concretização da segurança na ci on a l, p e r s i s t i n d o . m a i s como um

projeto que não logrou alcançar uma es tr a té g ia única de imple^

mentação. Certamente este fa to , ligado ao alto grau de ativa

ção p o l í t i c a do setor popular, co n tr ibu iu pará que a implanta

ção da ordem segundo os ditames da segurança acontecesse de

forma bem mais d r ás ti ca .

Outro golpe de Estado m i l i t a r acontecerá no Pe

ru em 19 68 . De tendência n a c i o n a l i s t a , o governo m i l i t a r insta

lado sofrerá uma virada de 19 76 , quando um novo governo segu^L

rã em direção ao Estado de segurança nacional c lá s si co .

No mesmo mês e ano que ocorre o golpe militar

de caráter n a c i o n a l i s t a no Peru - outubro de 1968 -, no Panamá


63

ê dado também um golpe m i l i t a r , igualmente n a c i o n a l i s t a . Um

ano mais tarde, na Bolívia - 1969 - acontece outro golpe, t£

mando o poder um m ilitar n a c i o n a l i s t a , seguido, em 19 7 0 , pela

tomada do poder por outro m i l i t a r n a c i o n a l i s t a . Em 1971 , insta

la-se neste país o Estado de segurança n a c io n a l , que será radã.

c a l i z ad o em 1974 por decretos editados pelo governo.

Em 1972 é a vez do Equador ser contemplado por

um golpe de Estado, re alizado por m ili ta re s de tendência na

cionalista. Em 1976 ocorre novo golpe m il i ta r que ins ta la um

governo com o-rientação mais cònfiãvel as metas da segurança na

cional.

O Uruguai e o C h i l e , em 19 73 , completarão a r£

de de Estados de segurança nacional na América L a ti n a. No Uru

guai um presidente c i v i l di sso lv e o Congresso, exercendo todos

os poderes. Encobre, de fa t o , u m E s t a d o m il i ta r de segurança

nacional. No C h i l e , a transformação rad ic al do p a í s , onde vi­

gia uma democracia de tendência s o c i a l i s t a , em um reduto da

Doutrina da Segurança N ac i o n a l , ocorrerá através de um violen

to golpe de Estado.

Já foi mencionado o grau de es p e c if i c i d a d e que

haveria na implementação da Doutrina da Segurança Nacional de

país para p a í s , visível, por exemplo, a pa r ti r das posturas

governamentais com respeito ao binômio segurança/desenvolvimen

t o . A r e l a t i v a par ti cu la r id a de no caráter prático da Doutrina

se ri a resultado das respectivas h i s t o r i a s nacionais e, em gran

de medida, da h i s t ó r i a da i n s t i t u i ç ã o m i l i t a r de cada país .

Isto não implica, obviamente, na descaracterização da identi_


64

dade fundamental da Doutrina que, com sua r i g i d e z sistemática,

acaba por prevalecer sobre qualquer te n ta ti va de processo pol.í

tico d i f e r e n c i a d o .

Como exemplo do que foi exposto está o caso do

Perü. Neste p a í s , embora os m ili ta re s tenham assimilado a mes

ma Doutrina di f un d id a em todo o co nt in ent e, realizaram sensí^

veis alterações que afetariam seu al ca n ce . A guerra f r i a e a

guerra contra a subversão perderam sua c a r a c t e r í s t i c a , já >que

a bi p o la ri d a d e Leste-Oeste havia sido considerada como algo

u l t r a p as sa d o . Desta forma, o confronto dominante foi colocado

em termos de Norte-Sul, ou s e j a , a questão ideológica cedeu lu

gar ;à questão sõcio-econômica. 0 Pe ru , inclusive, participou

como importante liderança dos Países Não Alinhados em várias

co nferências inte rna ci ona is desde 19 69.

Vê-se, assim que as conseqüências da b ip o la rid a

de Leste-Oeste e do anti-comunismo exacerbado minguaram no ca

so peruano, possibilitando a e x i s t ê n c i a de uma es tr a té gi a de

cunho mais s o c i a l . Segundo Edgardo Mercàdo J a r r í n , Ministro das

Relações Ex ter iores do Peru no período 1969 - 1 9 7 5 , fundador

e di re to r do I n st it u to Peruano de Estudos G e o p o l í t i c o s , e con

siderado uma das mais fortes expressões do pensamento e da dou

t rin a m i l i t a r peruana responsável pe la revolução de 19 6 8 , a

Doutrina da Segurança Nacional de seu país estabelece que o

Estado deve atender a duas f i n a l i d a d e s , quais sejam, o I-bem=e_s

tar geral e a segurança n a ci o n a l:


65

"Nos estabelecemos que o bem-estar é a finalidade primor


dial e que a segurança é uma finalidade apenas conse
qüente, de tal maneira que deve estar a serviço do bem-
estar. Essa é a primeira diferença que a distingue das
demais doutrinas, e é de caráter filosófico. E essa dif£
rença que faz com que a doutrina peruana tenha um senti
do profundamente humanista. E no seu desenvolvimento,ela
vai se diferenciar também por partir de urna nova visão
geopolítica. ..] Do nosso ponto de vista, o mundo está
dividido em dois hemisférios. £. . [] ;E o tropico de Cân
cer que divide o planeta em mundos desenvolvido ao norte
e subdesenvolvido ao sul. Assim nos concluímos que o mun
do não somente vive uma confrontação Leste-Oeste, mas
também uma confrontação Norte-Sul, de ordem estrutural.
[...]. Para nos não era o comunismo o inimigo principal
e sim (a) situação de injustiça a nível mundial contra
13
a qual deveríamos lutar."

No entanto, o golpe m i l i t a r n a c i o n a l i s t a não

vingou no Perü. Deu lugar, em 19 76 , a um governo m il i ta r mais

confiável relativamente ã p o l í t i c a norte-americana de seguran

ça c o n t i n e n t a l , o que vem a demonstrar, como faz notar Comblin,

que a g eo p o lí ti c a norte-americana, tendo como p r i n c ip a l ref£

rência a b i p o la ri da d e Leste-Oeste, exerce uma i n f l u ê n c i a tão

grande que comanda mesmo aqueles que tentam desprezá-la. A co

nivên ci a entre grandes bancos e grupos americanos,e a oli ga r

quia peruana poriam fim ãs tentativas da revolução de promover

um novo sistema s o c i a l , revelando a i n f e r i o r i d a d e da invocação

ã relação Norte-Sul frente ã Leste-Oeste, uma vez que não exi£

te, por exemplo, Norte nem Sul formando unidades p o l í t i c a s

sociais e econômicas semelhantes ãs do Leste ou O es te. Realmen


66

te , o caso peruano evidencia o fato de que " a geopo lí tic a ame

ricana manipula até mesmo os que pensam estarem se emancipando

ao se desligarem dela"-. ^

3 . SEGURANÇA CONTINENTAL VERSUS SEGURANÇA NACIONAL

S er ia interessante observar, a in d a , o funciona

mento da Doutrina de Segurança Nacional como um todo. Sua con

cepção demasiadamente s i m pl i s ta .d o desenvolvimento das rela

çõ;es in t e r n a c i o n a i s que, como já foi v i s t o , não a torna menos

implacável, sustenta como evidência primeira a confrontação

Leste-Oeste. Os co n f li to s entre os países comungadores de uma

única i d e o l o g ia adquirem pouca ou r e l a t i v a represen ta tiv id ad e

no i n t e r i o r de uma visão em que o objetivo último é a preserva

ção e contin uid ade da cruzada democrática contra a eterna ofen

siva comunista. A perspectiva geopolítica inspirad or a da Dou

tr ina da Segurança Nacional exige o alinhamento de todos os

países do bloco em torno da potência co n t i n e n t a l , subestimando

o quadro de i n s t a b i l i d a d e do continente, fruto de conf li tos

territoriais e da crescente tensão s o c i a l , política e econônú

ca vigen te em vários p a í s e s . Contraditoriamente, no que toca

ã questão das disputas f r o n t e i r i ç a s , das quais muitas remontam

ao século passado, a multiplicação de regimes m il i t a r e s nas

décadas de 60 e 70, acrescida da progre ssiv a corrida armamen

tista, tem contribuido para que estas sejam retomadas de forma

significativa.
3.1 . OS LITÍGIOS REGIONAIS

Entre os l i t í g i o s t e r r i t o r i a i s mais agudos no

continente americano havia a disputa entre Chile e Argentina

com relação a soberania sobre três il has l o ca li z ad a s no canal

de Beagle (Pi cton, Lennox e N u e v a ) . A preocupação dos milita

res argentinos .não tem sido tão grande quanto ãs ilhas em si,

ocupadas pelo C h i l e, mas sim quanto as ãguas t e r r i t o r i a i s e

plataformas co n ti n en t ai s, opondo-se decididamente a qualquer

extensão da soberania chilena no At l ân ti co Su l . Em 19 7 7 , um

Tr ibunal a r b i t r a i , nomeado pela Coroa Br it ân ic a com o fim de

resolver a di sp uta , concedeu as ilhas ao C h i l e , não se pronun

ciando sobre a extensão da soberania marítima dos ..reivindican

tes (Laudo A r b i t r a i , de 2 de maio de 1 9 7 7 ) . 0 então governo ar

gentino negou-se a aceitar o Laudo da Corte, e no ano seguinte

declara-o nulo (25 de ja ne iro de 1 9 7 8 ) . Neste ano, 1978, Argen

tina e Chi le chegam ã beira da guerra. Â época ' informava-se


i
que a Ar gen tina tinha unidades aéreas preparadas para atacar

ao longo da fro nte ira com.o Chile e que os "planos de contin

gên cia" previam, inclusive, o bombardeio de Santiago a pa r ti r

de bases em Mendoza. A data das operações de invasão ao Chile

e s t a r i a marcada para 22 de dezembro de 1 9 7 8 , às 10 horas. da

noite. ^ Tendo em v is ta a gravidade da sit ua ção , um mediador

papal é nomeado (Tratado de Montevideo, de 8 de ja n ei r o de

19 79 , abre a instância med iad or a), e entrega süa proposta em


68

12 de ja n e ir o de 19 80 . Os dois países tiveram até ja ne iro de

1982 para responder. 0 s i l ê n c i o argentino equivaleu ã recusa.

Os m ili ta re s no poder não so deixaram de dar uma resposta à

proposta p a p a l , como estimularam reações que a rotulavam de

prõ-Chile.

é importante lembrar que 1978 corresponde ao

ano da primeira etapa do atual endividamento contraído pelas

Forças Armadas argentinas com equipamento m i l i t a r . Neste ano,

a h ip o té ti ca guerra contra o Chile levou a Ju nt a, p r e s id i d a

pelo general Jorge Rafael V i d e l a , a reforçar sua capacidade nü

litar. 0 período imediatamente posterior ã derrota argentina

na -guerra das Malvinas marca a segunda etapa do rearmamento.

Entre agosto de 1982 e fevereiro de 19 83 , a Ar gen tina gastou

mais de 4 bi l hõ es de dólares em equipamento m i l i t a r , especiaJL


. -- - + . 16
mente avioes e mísseis ar-ar e terra-ar.

Outra questão que causou tensão nas relações

entre países do Cone Sul diz respeito ao aproveitameftto ener

gêtico da Bacia do Pra ta , da qual fazem parte, Uru gua i, ArgentjL

na, Brasil, Bo l ív i a e Paraguai, principalmente^com relação à

construção da barragem de I t a i p u , empreendimento bi na ci on a l en

tre Brasi l e Pa raguai. Discussões em torno do aproveitamento

h id r o e l é t r ic o do Paranã Médio tem constado das relações diplo


17
mãticas entre os países r i b ei ri n ho s por mais de vin te anos.

No entanto, quando o governo b r a s i l e i r o deci diu construir Itai^

pú e obteve a adesão paraguaia (Tratado de I t a i p ú , 26 de a b r i l

de 1973) as relações entre Argentina e Brasi l tornaram-se ten

sas, dando-se contin uid ade , toda via , ãs negociações diplomãti_


69

cas em torno da questão. A Argentina pleit ea va o reconhecimen

to do d i r e i t o de consulta p r e v i a , segundo o qual nenhuma obra

poderia ser construída sem consultar-se o país r i b e i r i n h o que

eventualmente pudesse ser prejudicado no uso p r i n c i p a l que fa

zia das águas (no caso a navegação). Em con tr apartida, o Bra

sil afirmava que

"é um direito da soberania do Estado o livre aproveita


mento dos recursos naturais em seu território. Tal dire^L
to não pode aceitar restrições. No caso de recursos de
natureza não estática e que fluam pelo territorio de
mais de um país, tal direito continua inalterável, deven
do ser aceitas apenas aquelas restrições que resultam
da obrigação de não causar a outros países danos sensí^
18 ^ ^
veis ou permanentes.'' (tese do prejuízo sensível)

Resolvida a questão, através de um acordo tri^

p ar ti íe entre Ar g e n ti n a , B ras il e Paraguai (19 de outubro de

1979), visando a compatibilização das obras de It a i p u com a

hidroelétrica de Corpus (Ar ge n ti n a -P a ra gu ai ), continua ainda

objeto de vários estudos geopolíticos fei tos por m il i t a r e s ar


*
g entinos, nos quais manifestam sua não aceitação sobre a solu

ção acordada entre os três paí se s.

.0 Chil e encontra-se em oposição a seus vizi nhos

ao norte, Perù e B o l í v i a , a propósito de t e r r i t ó r i o s por ele

adquiridos na Guerra do Pa cí fic o ( 1 8 7 9- 18 84 ). Esta guerra teve

origem nos c o n f l i t o s pela u t i l i z a ç ã o do deserto de Atacama.uma

f a i x a da costa do Pa cíf ico ri ca em sais .-.minerais, que se ey

tende desde o norte do vale central do Chile até A r ic a no Peru.


70

Após tomarem-se independentes da Coroa espanho

la, as províncias de Tacna, Arica e Tarapacã, no deserto de

Atacama, passaram a f az er parte do Peru. A região central , .An

tofa ga sta, foi reclamada pela B o l í v i a , ficando a fr on te ir a en

tre a Bolív ia e o Chile indeterminada. Nos fi ns dos anos de

1860, a descoberta do grande valor comercial dos n it rat os na

fabricação de f e r t i l i z a n t e s e explosivos fez com que Atacama

se tornasse uma região muito cobiçada. Em 1866, a Bolív ia assi

nou um acordo com o Chile no qual a ss en tia que disputava com

este país um t e r r i t ó r i o na região do n i t r a t o , concordando em

dividir igualitariamente* os produtos de uma parte desta região.

Em '1874 outro acordo permitiu que as companhias de mineração

chilenas continuassem suas operações em t e r r i t ó r i o b o l i v i a n o

por uma taxa que não poderia ser aumentada por 25 anos sem o

consentimento c h il e n o .

Em 1875 o Peru n a c i o n a l i z o u os campos do nitra

to chilenos e, em 18 7 8 , a B o lív ia violou o acordo de 1874 ao

aumentar, as taxas de exportação sobre os produtos das compa

nhias c h i l e n a s . Em ja neiro de 1 8 7 9 , tropas chilenas se apossa

Tam de A n t o f agas ta . A Bolív ia declara guerra ao Ch ile e, logo

após, o Peru decide entrar na guerra, cumprindo uma al ia n ça

secreta f e i t a anos antes com a Bolív ia tendo em v i s t a a possi^

b i l i d a d e do Chile querer estender seu controle sobre depósitos

de n i t r a t o .

Em 1883 , pelo tratado de A n c õ n , entre Peru e

C h i le , o último garantiu sua posse sobre Tacna e A r ic a por

10 anos, com o entendimento de que após este período, os hab_i


71

tantes destas províncias determinariam seu futuro por um pl£

biscito. Mais tarde, em 1 9 2 9 , foi acordado, fi nalmente, que o

Chile devolveria Tacna ao Peru por 6 milhões de dólares e que

Ar ic a se manteria sob ju r i s d i ç ã o c h il e na . Tarapacã foi cedida

pelo Peru ao Chile incondicionalmente. Por outro lado, através

de um acordo firmado em 1 8 8 4 , a Bolív ia deu o título legal so

bre a província de Anto fa ga sta aos ch ile no s, perdendo qualquer


19
acesso para o p a c i f i c o .

Em 1975 ,. o Chile e a Bolívia concordaram em res

tabelecer relações diplomáticas e, em 1976, o Chile propõe à

Bolívi a a cessão de um corredor ao norte de Á r i c a , v i a frontei_

ra peruana. Em troca, a. B ol ív i a lhe daria um te r r i t o r i o com a

mesma supe rfí ci ec 0 governo bo li vi an o ac eitou, mas o Peru, ao

ser consultado, r e j e i t o u a proposta, sugerindo a criação de um

te r r i t o r i o com soberania compartida pelos três p a í s e s . Esta

proposta, por sua v e z , não foi acatada pela Bolív ia e pelo Chi

le, levando-os a uma nova ruptura de relações diplomáticas em


20
1978 .

Entre Peru e Equador subsiste igualmente um d£

sacordo com relação â delimitação de uma parte da fron te ira

amazonense. Este co n f li to s u b s i s t i u ao f i n a l de uma guerra en

tre os dois países ocorrida em 19 4 1 , quando o Equador concedeu

aos peruanos o t e r r i t o r i o em d i s p u t a , correspondente a quase

40% de seu t e r r i t o r i o . Em 29 de ja neiro de 1 9 4 2 , fo i assinado

no Rio de Ja neiro o"Protocolo de P a z, Amizade e L i m it e s " entre

o Equador e o Peru, e, logo apõs, os congressos n a ci on a i s dos

respectivos países o ra t i f i c a r a m em todos os seus termos. Sua


72

execução fi co u sob a garantia dos quatros países que o subscre

veram juntamente com o Peru e o Equador: Brasil, Estados Uni_

dos, Arg en tin a e Ch il e. Em 19 6 0 , o presidente equatoriano, Jo

sé Maria Velasco Ibarra denunciou unilateralmente o protocolo,

alegando que este havia sido assinado sob pressão, com o terr^

torio equatoriano ocupado por forças peruanas. 0 Peru, no en

tanto, não aceitou as alterações e x i g id a s pelo Equador, argu

mentando que o Protocolo do Rio de Ja neiro d i z i a claramente

que as condições aceitas em 1942 não poderiam ser modificadas.

No f i n a l de ja neiro de 19 8 1 , as tropas do Peru

e do Equador entraram em choque na C o r d il h ei ra do Condor, em

.razão dos desentendimentos f r o n t e i r i ç o s pendentes. Foi a chama

da"Guerra dos Cinco D i a s " . No dia 4 de fevereiro do mesmo ano,

depois do acordo de cessar-fogo, o Peru e o Equador comprome

teram-se, na Reunião de Consulta dos Estados americanos (OEA),

a manter a p a z . Em janeiro de 19 8 4 , as patrulhas peruanas e

equatorianas responsáveis pelo policiamento na fro n te ira entre

os dois países entraram em estado de al erta por causa de um

incidente: uma. troca de t i r o s , cujas razões não foram total

mente e s c l a r e c i d a s , terminou com a morte de um soldado equato


21
riano e o ferimento de outro..

Há cinquenta anos, Paraguai e B ol ívi a se enfran

taram na Guerra do Chaco (.1932-1935). 0 Grande Chaco, região

ao norte do Paraguai e da B o l í v i a , f oi disputado por várias

gerações. No entanto, considera-se que esta guerra foi também

consequência de dois conf li tos anteriores: a guerra do Para

guai (envolvendo o Uruguai , a Ar ge n tin a e o Br a si l contra o


73

Paraguai - 1864 - 1870) e a Guerra do Pa cíf ico (1 87 9- 18 84 ). De

um la do , o Paraguai tentava apagar sua derrota de 1870 , e, de

outro, a B o lív ia queria assegurar um ponto no rio Paraguai que

pro ve ria sua saída para o A t l â n t i c o . Além d i s s o , pensava-se que

o Chaco fosse rico em petróleo.

Em 1927, a política expansicnista boliviana provocou uma

série de problemas e choques, e, em 19 28, um ataque paraguaio

a um forte b o li vi a no levou â guerra, que so foi formalmente

declarada em 19 33 . De 1932 até 1935 as tropas paraguaias avan

çaram para o p lat eau bo li viano após alcançarem a maior parte

do t e r r i t ó r i o em disp uta.

Finalmente, em 19 38 , fo i assinado um tratado de

paz na cidade de Buenos A i r e s , onde fico u acordado que o Para

guai f i c a r i a com a maior parte do Chaco, enquanto que a Bol_í


22
via ganharia um porto f l u v i a l .

Entre a Venezuela e a Guiana existem desentendi^

mentos em torno do t e r r i t ó r i o de Essequibo. A Venezuela recla

ma a região a oeste do rio Essequibo, equivalente a 2 / 3 do

território da Guiana. Em 19 82 , por ocasião da Guerra das Malv.i

nas, o Governo guianense denunciou a ex i s tê n c i a de planos vene

zuelanos para a ocupação m il i ta r da ãrea, e, em 21 de feverei^

ro de 1 9 8 4 , o embaixador da Venezuela na Guiana f o i baleado,

o que levou o governo da Venezuela a manifestar p ro te s to s, bem

como a reacender os temores de um co n fl it o armado na região.

Por outro lado, a " Guiana tem também problemas com Suriname so

bre os limite s t e r r i t o r i a i s entre os dois paí s es .

Em sua f ro n te ir a o c i d e n ta l , a Venezuela conti^


nua em c o n f l i t o com a Colômbia a propósito da delimitação das

aguas t e r r i t o r i a i s do Golfo da Ve nez ue la . A zona objeto da di_s

puta é r i c a em petróleo. Em 19 8 0 , os dois países firmaram um

compromisso segundo o qual o Golfo seri a considerado um mar in

te rio r e explorado conjuntamente. 0 recuo por parte do governo

v ene zue la no , pressionado por fortes c r í t i c a s internas contra

a solução encontrada provocou nova tensão entre Venezuela e

Colômbia, sendo que; em março de 1 9 8 2 , uma guerra entre estes

países chegou a ser considerada como in e v i tá v e l .

Por sua v e z , a Colômbia disputa com a Nicarágua

o arquipélago de San André e P ro v id ê nc ia , nas Caraíbas. Com a

decisão do governo sandini st a de estender as águas ter rito

r i a i s nicaraguenses a 200 milh as, as il has passaram a fazer

parte do t e r ri tó ri o da Nicarágua. A Colômbia continua a admi.

n is t r ã - l a s , alegando seu d i r e i t o h is tó ri c o sobre as i l h a s , re

conhecido em 1803 pelo rei da Espanha. A disputa p e r s i s t e , de;

sejando a Nicarágua, que esta sej a re so lv id a pela Corte Inter

n a ci on al de J u st i ça ou outra ins tân ci a i nt ern ac io nal competen

te.

Belize tornou-se independente em 21 de setembro

de 19 8 1 , depois de 200 anos de colonização b r i t â n i c a . Acresci^

do âs d i f i c u l d a d e s econômicas por que pa s sa , o país ainda en

frenta um co n fl it o fr o n te ir iç o com a Guatemala, que r e i v i n d i c a

23 mil quilômetros quadrados do t e r r i t ó r i o b e l i z e n h o . Esta an

tiga reiv ind ic açã o da Guatemala fo i um dos p r i n c i p a i s obstãcu

los â independência da ex-Honduras B r i t â n i c a s , baseada na ale

gação de que B e l i z e , que f i z e r a parte da Ca pit ani a Geral da


75

Guatemala, fora anexada ilegalmente â Coroa B r i t â n i c a . A auto

nomia b e l i z e n h a fo i concedida após inúmeras negociações entre

Grã-Bretanha e Guatemala. Em janeiro de 19 83 , por ocasião de

novas te n ta ti va s de conversações entre Grã-Bretanha e Guatema

la, em Nova Iorque, a Guatemala voltou a reclamar soberania so


23
bre todo o t e r r i t o r i o de B e l i z e .

Na América Central existem outras reclamações

territoriais, como a do México com relação a t e r r i t ó r i o s perdi^

dos para os Estados Unidos no século passado. Como resultado

da Guerra do México (1846 - 1 8 4 8 ) , provocada em grande parte

pelo ressentimento mexicano com relação â perda do Texas para

os Estados Unidos e pela determinação norte-americana de adqui.

rir a Califórn ia, o México perdeu aproximadamente metade de

seu t e r r i t ó r i o . Esta guerra endureceu a relação entre os Esta


24
dos Unidos e o Mexico por muitos anos. Por outro lado, Cuba

considera i l e g a l a ocupação norte-americana do t e r r i t ó r i o de

Guantãnamo.

Envolvendo os Estados Unidos hã ainda a questão

da soberania sobre o canal do Panamã. Em 10 de agosto de 11977

o governo Ca rt er , com sua nova est rat égi a para a reg ião, assó^

nou com Omar T o r ri jo s Herrera dois acordos, ratificados pelo

Congresso norte-americano e pelo povo panamenho através de

plebiscito. Entre outras c o i sa s , foi acordada a reintegração

da Zona do Canal ao t er ri tó ri o do Panamá para o f i n a l de 1999

e a r e t i r a d a gradual das forças m ili ta re s norte-americanas. Em

cumprimento aos re feridos acordos, em 19 84 , a Escola das Améri^

cas (United States Army's School of the Americas, US AR CA ), um


76

importante centro de treinamento m il i ta r e um dos símbolos da

i n fl u ên ci a norte-americana na America L a ti n a, deixou de funcio

nar no l o c a l . A ’’escola dos g o l p i s t a s " , como era c o n h e c i da , foi

criada em 1 9 4 6 , e em seus 38 anos de ex i st ên ci a foi responsa

vel pela formação de 4 4 . 0 0 0 o f i c i a i s latino-americanos. Seus


-25
e d i f í c io s voltaram a Guarda Nacional do Panama.

3.2 . SOBRE AS POSSIBILIDADES DA SOLIDARIEDADE

REGIONAL

Estes são apenas alguns exemplos dos desacordos

sobre questões t e r r i t o r i a i s do continente. Não interessa aqui

fazer uma enumeração exaustiva dos mesmos, mas dar-lhes a sufi_

ciente re lev ân ci a a fim.de compreendê-los, entre outras coisas,

como fragmentos de uma dinâmica relação entre os países que

compõem o continente americano que adquire corpo com a Doutri_

na da Segurança N ac i o n a l , e que tem dois momentos fundamentais.

Num primeiro momento, segundo cr it é ri os de segurança continen

tal es ta bel eci do s pela potência maior, o continente deve ser

visto como um todo homogêneo, que luta por uma causa ún ic a: o

aniquilamento do comunismo int er n a ci o na l. Aqui as obvias diver

sidades p o l í t i c a s , econômicas,' cu lt ur a is e s o c ia i s dos países

do continente são subestimadas ou simplesmente negadas para

que se estabe leç a a desejada integração âs metas da segurança

co nt in ent al. Ou s e j a , a visãó da América Lati na como um todo

compacto atende diretamente à visão geo política do mundo sub

merso no confronto Leste-Oeste. Neste se nt id o, a política


77

norte-americana segue o pri ncípio de integrar para explorar


26
melhor, mais racionalmente, como lembra Paulo S c h i l l i n g .

Por outro lado, numa lógica aparentemente inver

sa, uma vez que atinge o mesmo fim, qual s e j a , a continuidade

da v i g ê n c i a de um sistema político-econômico sustentado como

única p o s s i b i l i d a d e de organização s o c i a l , as d if ere nc ia çõe s e

os co n f li to s ex ist en tes no inte rio r do continente são alimenta

dos, funcionando como elemento de limitação da so li da rie da de

latino-americana para levar adiante interesses que lhe são pró

prios, muitas vezes contrários aos desígnios estabe leci dos pe;

los Estados Unidos.

Assim, ã maior densidade p o l í t i c a que se atri^

bua aos c o n f l i t o s fronteiriços, contrapõe-se o distanciamento

da união latino-americana a fim de modificar as condições que

fazem com que cada país seja cada vez mais dependente. 0 apelo

às questões territoriais têm uma íntima ligação com a exacerba

ção do n a cio na li sm o, jã que o t e r r i t ó r i o funciona como um ele

mento importante na constituição da identidade n a c i o n a l . Por

sua v e z , a in t e n s i fi c a ç ã o do espírito nacional funciona como

mecanismo de desvio da atenção das d i f ic u l d a d e s econômico-so

ciais e políticas enfrentadas, no caso, por regimes autorita

ri o s .

Seria de se esperar que estas questões fossem

encaminhadas pelos países envolvidos, de modo a encontrar-se

soluções diplomáticas e a evitar a ca p it a li z aç ã o p o l í t i c a dos

co n fl it o s por parte das superpotências. Isto é, a recorrência

aos p ri n c íp i o s ju ríd ic os para dirimir co n fli tos no i n t e r i o r do


78

continente possivelmente se r v ir ia de fre io â " r e a l p o l i t i k " das

sup erpotências. 0 que ocorre, no entanto, ê que os países latjl

no-americanos seguem sendo, dentro da p o l í t i c a externa dos

Estados U ni do s, concebida como um jogó de xadrez geopolítico ,

microestados peões no eq ui l í b ri o estratégico mundial. Além di.s

s o , re so lv id as ou não diplomaticamente, as questões ter rito

riais têm sido motivo para a presença marcante dos n im i l it a r e s

na gestão p o l í t i c a de seus pa í s es . Os m i l i t a r e s , arrogando a

si a missão de resguardar a soberania t e r r i t o r i a l do p a í s , a£

sim como a soberania p o l í t i c a dos cidadãos, tornam-se essen

c i a i s à execução da p o l í t i c a da segurança n a ci on a l .

4 . OS MILITARES E A GEOPOLÍTICA

No primeiro capítulo da presente dissertação

houve a preocupação de demonstrar-se a importância da reflexão

sobre o espaço como uma instância do fazer p o l í t i c o , assim co

mo a vinculação entre o saber geográfico (com ó nome de Geopo

l í t i c a ou não) com a ins ti tu i çã o m i l i t a r . V e ri f ic o u - se , .. com

apoio no pensamento de Yves Lacoste, que a geogr af ia é um sa

ber que esteve e estã intimamente ligado às práticas m i l i t a r e s .

Por outro lado, neste ca pítulo, ao analisar-se como vem se ma

terializando determinadas concepções geop olíticas no continen

te americano, tem-se deparado constantemente com a atuação

militar, sem esquecer o fato de que grande parte dos teõricos


27
geopolíticos pertencem aos quadros ca st ren se s. E ,p o rt a n to ,
79

esta relação, m i l i t a r e s e Geopolítica , o tema deste item.

Sem dúvida, a compreensão do papel dos m il i ta

res deve ser p er se gui da , considerando-se o contexto social on

de se c r i s t a l i z a , . o que implica em co n siderar, entre outros fa

tores, aspectos cu l tu r a is do p a í s , a natureza do regime p o l i t y

co, as relações entre os vãrios segmentos da sociedade, otetc.

Portanto, convém esclarecer que explorar o tema militares/Geo

p o l í t ic a não s i g n i f i c a desconhecer a re la t iv a especificidade

que tem a atuação das Forças Armadas em países di f er en te s em

conseqUência da pe cu l ia ri da d e da formação da corporação mil_i

tar e dos laços que estabelece com outros setores da sociedade.

0 que se pretende é apenas indi ca r algumas aproximações entre

o pensamento m i l i t a r e a g e o p ol í ti c a.

Segundo Guillermo O ' D o n n e l l , se ex ist e uma con

cepção da sociedade incorporada pelas Forças Armadas, esta é a

organicista:

"a sociedade como um corpo, onde cada parte tem funções


bem delimitadas e hierarquicamente ordenadas. A cabeça,
dotada da racionalidade que falta às outras partes, deve
orientar o conjunto para o bem comum. Quando o corpo
adoece, pode ser necessário aplicar um duro remédio na
parte afetada.. Esta, por sua racionalidade inferior e pe;
lo prõprio fato de estar doente, não sabe, mas a cabeça
não tem sõ o direito de proceder assim: tem o dever de
fazê-lo porque lhe corresponde cuidar da saúde de todo
o corpo.
Esta imagem autoritária, hierãrquica-estamental e ultra
elitista não casualmente ê tão difundida nas Forças Arma
das. Em primeiro lugar, é um espelho da imagem que os
80

membros das Forças Armadas fazem de sua própria organi


zação. f...] Nos tempos de relativa normalidade, esta
visão da sociedade pode funcionar como uma autoridade
paternal bondosamente exercida. Mas, em tempos de crise,
a imagem do corpo conduz a da doença e esta, por sua
vez, implica na da cirurgia efetuada em boa consciên
• ,«28
cia.!

Com e f e i t o , sem desconhecer a complexidade da

estrutura or g a n i za ci o n a l das Forças Armadas, o módo como atua

politicamente junto â sociedade c i v i l pode ser, em p a r t e , com

preendido a p a r t i r da visão o r g a n i c is t a , segundo a qual aos mi

litares seri a outorgada preferencialmente a re sp ons ab ili da de

de z e l a r pelo destino n a c io n a l . As Forças Armadas seriam as

verdadeiras guardiãs dos interesses n a c i o n a i s .

Esta concepção não esta di stante da que a Geopo

l í t i c a t r a d i c i o n a l confere ao Estado. Frederic R a t z e l , jã men

cionado como uma importante fig ur a da G e o p o l í t i c a , sendo consi_

derado o divulgador da concepção bi o lo g ic a do Estad o, marcada

mente presente entre seus sucessores, j u s t i f i c a v a a avidez de

espaço como conseqüência inevitável do fato b i o ló g ic o de que

o Estado é um organismo v iv o . A f a l t a de espaço, de território,

s i g n i f i c a r i a uma f a l t a de orgãos do corpo p o l í t i c o , implicando

na neces sid ade de adquirí-lo.

A i n d a, Rudolf K je ll é n considerava o Estado como

um organismo vivo que em sua e x i s t ê n c i a apresenta dive rsas fa

ses, como: crescimento, desenvolvimento e s e n i l i d a d e . Isto é, o

Estado, para K j e l l é n , se ri a um organismo s u p r a - i n d i v i d u a l , su


81

jeito as l e i s do crescimento, devendo, portanto, ampliar seu

território, seja pela colonização, amalgamação ou conquista de

ãreas f r o n t e i r i ç a s . Daí, o Estado deveria assumir, conforme as

leis orgâni ca s, uma p o l í t i c a de crescimento, de expansão terrd^

torial.

Enfim, o que hã de mais s i g n i f i c a t i v o : os geopo

l í t i c o s não fazem uma distinção real entre Estado e Nação. A

Nação se exprime, necessariamente, através do Estado, donde

concluí-se, deva haver uma total id entidade entre ambos. A

Nação ê v i s t a como um todo homogêneo, com uma unica vontade ,

que se confunde com a vontade do Estado. Desta forma, os desíg

nios o rg a n i c is ta s do Estado projetam os interesses da Nação, e

esta acompanha os movimentos v i t a i s do t e r r i t ó r i o .

Em ultima a n a l i s e , importa re s s a lt a r a forma

a u t o r i t á r i a com que m il i t a r e s e geopolíticos vêem a sociedade,

atribuind o a si a competência e o dever de inte rp ret ar e promo

ver os anseios da Nação/Estado. A c a r a c t e r í s t i c a comum a mild^

tares e geopolíticos pode ser v i s t a em termos de uma perspecti^

va que intenta dar unidade orgânica à socieda de, negando a

e x i s t ê n c i a de interesses em c o n f l i t o a serem co nc il iad os no âm

bito do Estado.. Neste sentido, o exercício e o controle da

identidade nacional não derivam fundamentalmente do passado ,,

da h i s t ó r i a , mas da coesão da sociedade aloj ad a no Estado. 0

território compartilhado por um conjunto de indivíduos unidos

por laços natur ais é a consagração da e x i s t ê n c i a de um "ser

nacional".

A pa r ti r do que f o i exposto ê impottante assina


82

lar algumas derivações s i g n i f i c a t i v a s , como a presença marcan

te da i d é i a da guerra, tanto no pensamento m il i ta r como no pen

sarnento g eo po lx tico , e, pri nc ipalmente, como funciona o proje:

to b e l i c i s t a .

Se, como reza a g e o p o l í t ic a , o desenvolvimento

da vida dos Estados está subordinado a l ei s inevitáveis, segun

do as quais a dinâmica dos espaços terrestres e as forças pol_í

ticas lutam para sobreviver, como não ter uma visão fatalista

do c o n f l i t o ? Como bem ex plica Sh iguenoli Miyamoto

"o estudo da geopolítica não se restringe unicamente â


análise do territõrio como parte de poder. 0 poder de
um Estado, pensando em termos de uma guerra - é este o
objetivo da geopolítica - [grifo nosso3 - está apoiado
na terra, no ar e no mar. [ __ ] Por isso as teorias que
surgiram foram sempre desenvolvidas no sentido de propi
29
ciar o maximo de segurança ao Estado

0 co nf li to é, portanto, um ingrediente importan

tíssimo na forma como a geo política concebe as relações entre

os E st ad os . No jogo das relações internacionais, a Geop ol íti ca

tende a aprofundar a oposição de i n t ere ss es ex ist en tes entre

Estados soberanos. Assim o faz apelando principalmente para o

fator espaço, encarado como fonte de poderes antagônicos.

Os m i l i t a r e s , por sua v e z , responsáveis prefei

r e nc ia i s pela segurança n a c i o n a l , têm na hipótese do confl it o

t e r r i t o r i a l uma boa j u s t i f i c a t i v a para assumirem uma posição

de destaque no plano p o l í t i c o . A imagem do inimigo dá sentido

às i dé ia s e âs práticas m i l i t a r e s . 0 combate conclama as For


83

ças Armadas a atuarem decisivamente.

Hã que se d i z e r , ain da , que o espectro da guer

ra é bastante funcional em termos de controle soc ial e de rea

firmação dos mecanismos d i sc i pl i n a d or es e ordenadores sustenta

dos como es s e n c i a is a efetivação do destino n a ci o n a l. Ou s e j a ,

a iminência do confronto armado ê um eixo em torno do qual gi^

ra a homogeneização da sociedade e, conseqüentemente, a elimjL

nação da p o s s i b i l i d a d e de se r e iv in d i c a r formas alterná tiv as

de organização s o c i a l . Além d i ss o , a hipótese de guerra é fa

tor reafirmador da trans fer ên ci a das normas e valores da hi£

rarquia castrense ã toda sociedade, que deve obedecer ao coman

do sem esboçar d i v e r g ê n c i a s , sob pena de comprometer a efica

cia da e s t ra té gi a a ser perseguida.

5 . A MISSÃO GEOPOLlTICA BRASILEIRA,

0 PAPEL ESTRATÉGICO DO BRASIL

Muito se tem teorizado sobre a posição de país


v
chave que o B r a s i l desempenharia no continente americano. 0

estabelecimento desta condição te r ia o sentido de manter a or

dem e assegurar os interesses dos Estados Unidos na América La

tina, em troca de um tratamento di f er en ci ad o que g a r a n t i r i a ao

Br a si l vínculos mais vantajosos com a potência maior e a prer

rogativa de i n f l u e n t e centro de poder re g io n a l . 0 Brasil, gra.

ças ãs suas p e c u l i a r i d a d e s , como seu imenso t e r r i t o r i o , sua

grande população, sua capacidade de projeção intern ac io nal e


84

sua situaçao social e econômica, ter ia uma missão especial a

cumprir, missão esta consolidada pela própria h i s t ó r i a das re


30
laçoes entre o Brasi] e os Estados Unidos.

5.1 v OS PRIMÓRDIOS'DO P E N S A M E N T O G E O P O L r T I C O

. NACIONAL

Quando se f a l a dos termos especiais das rela

ções entre o Br a si l e os Estados Unidos hã que se remeter ãs

ati vid ade s da diplomacia b r a s i l e i r a re al i z a da s sob a égide do

Barão do Rio Branco. Segundo o famoso chanceler b r a s i l e i r o , a

hegemonia norte-americana era uma fa t a li d a d e h i s t ó r i c a , ou

seja, o B ra si l deveria estar consciente de que não poderia ej5

capar â i n f l u e n c i a que aquele país exerce sobre os destinos


31
da America do S u l . Nestas c o n d i ç o e s , portanto, o B r a s i l deve

ri a deslocar esforços para sedimentar melhores relações com

os Estados Unid os. Assim, em 1906 o Brasi l dã alguns passos

importantes nesta direção: consegue que o Rio de Janeiro seja

escolhido como sede da I I I Conferência Panamericana e que a

representação norte-americana no Br a si l passe ã categoria de

em ba ix a da .32

A imagem do Barão do Rio Branco e seus atos se

constituem em fatores que permitem, de alguma forma, compreen

der-se a maneira como se concebe a p o l í t i c a externa b r a s i l e i r a

ao longo dos anos. Considerado bem sucedido em sua gestão dji

plomãtica, seu nome ê invocado com o fim de ins pi r ar a conti_


85

nuidade h i s t ó r i c a da projeção b r a s i l e i r a . Além dos fei tos jã

mencionados, o Barão é tido como o responsável pela consoliàa

ção das f ro n te ir as b r a s i l e i r a s , ou s e j a , pela posição do Bra


33
sil como um país "geopoliticamente satisfeito" , e é também

considerado um dos pion eiros do pensamento geopolítico no pia


, . - 34
no das incursões p r a t i c a s .

Embora as' décadas de 20 e 30 correspondam ao

surgimento dos primeiros estudos nacionais sobre Geopolítica,

nos quais destacam-se as fi gur as de Elyseo de Carvalho, Everar


35
do Backheuser, Delgado de Carvalho e Francisco de Paula Cidade ,

é com Mário Travassos que apareceu uma solida análise geopol_í

ti ca sobre o papèl a ser exercido pelo Brasil em termos inter

nacionais. Como ex p li ca Sh iguenoli Miyamoto, os trabalhos de

Mário Travassos constituem um d i vi so r de águas nos estudos S£

bre a geo p o lí ti c a b r a s i l e i r a . Tendo sua análise por base as

p ot en ci al i d a de s que o t e r r i t ó r i o b r a s i l e i r o apresenta, suas

preocupações estavam voltadas para o desempenho do país na Amê

rica L a t i n a .

Para Travassos, o complexo geopolítico sul-am£

ricano só poderia ser compreendido admitindo-se dois an tagoni^

mos ex ist en te s em seu extenso e variado t e r r i t ó r i o :

"-um, abrangendo o continente, em suas causas como em


seus efeitos - traduz-se pela oposição das duas verten
tes continentais, a do Atlântico e a do Pacífico; - ou
tro, interessando diretamente a vertente Atlântica - é
a oposição das duas grandes bacias que se encravam nela,
a do Amazonas e a do Prata, e podem ser facilmente cons^
tatados ao mais breve relance sobre uma carta geografica
da América do Sul.,11^
86

Quanto ao primeiro dos antagonismos, os Andes

co n s t it u i r i a m seu ponto cen tr al, pois dividem águas para dois

oceanos com ca rac t er í st ic a s bem d i v e r s a s . Com relação ao segun

do, o curso das águas dos dois rios opõe-se sistematicamente :

o maior volume de ãguas de um corre na direção norte, e a do

outro na direção sul. Este segundo antagonismo te r ia predoini

nância sobre o primeiro pelo fato de Buenos Aires encontrar-se

em posição p r i v i l e g i a d a na rede de comunicações da Bacia do

Prata. Li ga da diretamente por estrada de ferro com as ca p ita is

de três países limítrofes (Santiago, Assunção, La p a z ) , a capi^

tal a rg en tin a e s t a r i a favorecida no eq u i l í b r i o re g io n a l .

Daí Travassos viu no triângulo formado pelas

cidades b o l i v i a n a s de Cochabamba-Santa Cruz de La Sierra-Sucre,

considerando seu potencial econômico e e s t r a t é g i c o , e, princi_

palmente, por localizar-se ao lado do estado do Mato Grosso(re

gião ce n tr al do c o n t i n e n t e ) , uma forma de n e u t r a l i z a r as van

tagens v i á r i a s da Bacia do Prata. 0 controle deste triângulo

pela região amazônica asseguraria a ne ut ra liz a çã o da influên

cia da b a c i a p l a t i n a , favorecendo o B r a s i l . Assim, a política


i
externa b r a s i l e i r a deveria dar uma a t e n ç ã o .es pec ial à B o lí v i a .

Em um nível mais amplo, Travassos estudou a pro

jeção cont'inental do B r a s i l , n o s seguintes termos: por um lado,

a região p l a t i n a b r a s i l e i r a deveria exercer uma ação neutraljL

zadora sobre a Bacia do Prata sob i n f l u ê n c i a a r g en ti n a, atra

vês da exploração d e . vias f l u v i a i s e rodo-ferroviãrias; de

outro, sua região amazônica se p r o j e t a r i a como um centro de

influências sobre a Bolívia e a Colômbia.


87

5.2 . A ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA E O PENSAMENTO

DE GOLBERY DO COUTO E SILVA

Segundo Shiguenoli Miyamoto, o término da Segun

da Guerra Mundial e a criação da Escola Superior de Guerra, em

19 49 , darão uma nova direção aos estudos geopolíticos no : -Bra

sil. Por sua vez , o clima de guerra f r i a marcara indelevelmen

te os trabalhos daquela i n s t i t u i ç ã o .

A Escola Superior de Guerra ê responsável pela

elaboração da Doutrina da Segurança Nacional b r a s i l e i r a , na

qual a G eop olítica será incluída como uma componente. 0 conteu

do da segurança nacional com respeito as relações do B ras il

com o exterior; considerar-se-á vinculado- â segurança norte-ameri_

cana:

"Esta foi sempre uma das características dos estudos rea


lizados pela ESG, e que permearam a doutrina [esguiana] ,
em qualquer momento, em qualquer conjuntura", diz Miyamo
to. E continua: "Dentro desta perspectiva, de interliga
ção com os Estados Unidos, vai ser encontrada toda a pro
dução de trabalhos sobre a segurança nacional e também
aqueles que se referem especificamente âs condições geo
políticas brasileiras."^7

As obras de Golbery do Couto e S i l v a são, em

larga medida re pr esentativas do pensamento g eo po lí tic o nacio

nal. Nelas estão também os traços fundamentais da doutrina e_s


38 -
guiana. Criadas na década de 1950 e 1 9 6 0 , re fletem o clima
88

vivido pelo auge da guerra f r i a e a preocupação com a seguran

ça do B r a s i l , i d e n t i f i c a d a com a segurança do mundo o ci d en ta l ,

mais precisamente, a norte-americana.

Com e f e i t o , para Gol.bery do Couto e S i l v a , o

antagonismo entre o "Ocid en te cristão e. democrata e o Oriente

comunizado e m a t e r i a l i s t a " domina a po lí t ic a mundial, criando

uma situação de' guerra .contínua, e. onipresente... A. guerra fria

mostrou que não hã di fer en ça entre a paz e a guerra. A guerra,

portanto, passa a ser uma real id ad e que impregna todos os as

pectos da v id a : " a guerra invade a paz, afigurando-se-nos hoje


39
condiçaq humana de carater permanente e n o r m a l . "

Dessa situação, Couto e Silva infe re que o de_s

tino geopolítico do B ra si l está alinhado direta e p r i v i l e g i a d a

mente aos Estados Unidos, e deve ser exercido fundamentalmente

através da segurança e proteção do Nordeste, do estuário amazô


40
nico e do At lân ti co S u l.

Couto e S il va descreve o ter ri tõ ri o brasileiro

como

"um triângulo fisicamente compacto de terras com o vérti


ce apontado para o sul, assentado sobre um vasto planal_
to que descamba insensivelmente a noroeste para uma não
menos imensa planície recente onde os rios contam mais
que a terra, que se debruça a oeste, em grande hemiciclo,
sobre uma região anfíbia que ora é água, ora ê terra, e
mais a sudoeste se prolonga, por sobre caudais irrequi£
tos que menos separam que unem, a regiões indistintas da
circunvizinhança política
89

Com relação â compartimentação do t e r ri tó ri o

brasileiro, Couto e S i lv a di stingue cinco áreas geopolíticas:

1. área g eo p o lí ti c a geral ou de manobra c e n t r a l , . estruturada

sobre o triângulo formado por Belo Hor izo nt e, São Paulo e Rio

de J a n e i r o , abarcando quase todo o estado de São Pa ulo , grande

parte de Minas Gerais e do Esp írito Santo, todo o estado do

Rio de Ja n ei r o e o D i s t r i t o Federal. Este seria o coração do

Brasil, graças ao fato de concentrar a maior massa de popula

ção e de riq uez as do p a í s , e de ter um sistema de comunicações

bastante dinâmico. Área de importância fundamental p ela sua

v u ln e r a b i l i d a d e f re nte a operações provenientes do mar e a per

turbações internas i ns ti g ad as a p a r t i r do e x t e r i o r . 2. Ãrea

geop ol íti ca da ala n o r t e , formada por todos os estados do nor

deste, configurando a zona de v u ln er a bi l id a d e máxima no caso

de ações e x t r a c o n t i n e n t a i s . Segundo Couto e S i l v a , esta ãrea

não pode ter sua importância es tratégica desmerecida, sobrema

neira quando se pensa na segurança de "nossos irmãos do norte','

j ã que estes

"se engajaram a fundo na defesa da Europa, como platafor


ma de ataque ou simplesmente de salto por sobre o oceano
ao continente africano onde desde já se situa, ao norte,
o cinturão de importantes bases aéreas das quais se es
pera deter qualquer avanço comunista para oeste e marte
lar o coração industrial da Rússia. Além do mais, nosso
Nordeste é um amplo e inigualável porta-aviões que per
mitirã aos comboios-norte-americanos que demandem a
África e a Europa, a segurança da travessia oceânica, na
parte mais estreita e, portanto, menos vulnerável do
Atlântico ."^

[linha ligando Natal a Dakar - 3 . 5 0 0 km]. 3. Área ge op ol íti ca


90

da ala s u l , composta pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande

do Su l. Em se tratando de America do S u l, para Couto e Silva

esta é a área na qual se l o c a l i z a a " l i n h a de tensão máxima" ,

que advêm de Las M i s s i o n e s , avançando para o " gar gal o de Santa

Catarina",

"reforçada como é pela proximidade maior dos centros de


força potencialmente antagônicos, seu dinamismo e poten
ciai superiores, a tradição de choques e conflitos que
vêm desde o passado colonial e, por fim, se bem não me
nos importante, uma aspiração hegemônica alimentada além
do Prata por uma propaganda tenaz e incansável desde os
dias já longíquos de Rosas,

4. Área geo política da ala o e s t e , formada por Mato Grosso e

Rondônia. Região bem i n d i v i d u a l i z a d a , sua p ec u li a ri d a d e esta

ri a marcada pelo fato de p a r t i c i p a r das duas grandes bacias

h id r o gr áf i ca s do Amazonas e do Prata. 5. Ãrea geo p o lí ti c a da

Amaz ôn ia, da qual fazem parte o.Amazonas, Pará, Ac re, Amapá e

Roraima. Esta ãrea tem como base Manaus.

"0 tamponamento efetivo dos caminhos naturais de penetra


ção, que de além fronteiras, conduzem ã Amazônia, é medi
da que se impõe, e se impõe com urgência, para que
[...] possamos levar a cabo, quando oportuno, tranqüila
e metodicamente, um plano de integração e valorização
44
daquele imenso mundo ainda perdido ." (Figura 3)

No que diz re speito à conformação geopo lí tic a

da América do S u l , Couto e Si lv a d i v i d e - a .também em cinco

áreas, tendo o B ra si l partic ipa ção em todas e l a s , com porções


91

FIGURA 3. -(.SILVA, Golbery do Couto e. Conjuntura

p o l í t i c a n a c io n a l : o poder executivo §

Geopolítica do B r a s i l . , op. c i t . , p.

125)
92

t e r r i t o r i a i s con sider áveis: 1- zona de reserva geral ou planta

forma central de manobra, composta por São Paulo, Rio de Janei^

r o , Esp íri to Santo, Minas Gerais e sul de Goiás; 2. área geopo

l í t i c a continental da Amazônia am ericana, formada por Peru ,

Equador, Colômbia, Venez ue la , Guiana, Suriname e Guiana Fran

ces a, mais o Amazonas, o Pará, Ac re, Amapá, Roraima e o norte

de Goiás; 3. área geopolítica continental platino-patagônica ,

formada por Argentina, Chile, Uruguai e o Brasi l p l a t i n o , inttí

grado por Paraná, Rio Grande do Sul e Santa C a tar ina ; 4. área

geopolítica continental de s o l d a d u r a , da qual fazem parte o

Pa rag uai , a Bolív ia e, no' te r r i t o r i o b r a s i l e i r o , o Mato Grosso

e Rondônia; 5. área geopolítica do Nordeste b r a s i l e i r o , que

i n c l u i todos os estados do nordeste b r a s i l e i r o , de São Luis a

Salvador, e que serve de"Soldadura entre as duas grandes áreas

geopo lí tica s ou estraté gic as do At lâ nt ic o Sul e do Atl ânt ic o

N o r t e '.(F ig u r a 4)

Tendo como re f e rê n c i a b ás ic a a b i po l a ri d a de Les^

te-Oeste e por fi n a l i d a d e a preservação da segurança ocidental,

Golbery do Couto e S il va criou a teoria dos h e m i c i c l o s . Esta

teoria concebe o mundo d i vi d id o em dois h em ic il o s, um in t e r i o r

e um e x t e r i o r , centrados na América do Sul e que se projetam

para o At lân ti co e para hemisfério L e s t e , tendo em v i s t a o fa

to da América do Sul estar "bem protegida a oeste pelo inigua

lãvel fosso do Pa cí fic o imenso, e, ademais, pela muralha ci clo


46 -
pica dos A n d e s . " 0 hemiciclo i n t e r i o r , num raio medio de

1 0 . 0 0 0 km, abrange a América do N o r t e , a à f r i c a e a .An tá r ti da .

Deste hemiciclo não haveria qualquer ameaça d i re ta num prazo


FIGURA 4 - ( I b i d . p. 88)
94

previsível, â segurança da América do Su l. Em contrapartida,

desde o hemiciclo ex te r io r , formado para além do hemiciclo in

terior, â uma distân cia média de 1 5 . 0 0 0 km, ameaças contra a

América do Sul poderão surgir a qualquer tempo. Este portan

to, o hemiciclo p e r i g o s o , contra o qual o te r ri tó ri o sul-ameri

cano estará seguro enquanto o hemiciclo i nt eri or não estiver


47
em maos de um agressor p o t e n c i a l. (Figura 5)

Sinteticamente, esta é a forma como Couto e

Silva compreende a geopolítica b r a s i l e i r a tendo em conta os

campos i nt er n o , continental e mundial, caracterizando-a como:

" - geopolítica de integração e valorização espaciais; -


geopolítica de expansionismo para o interior e, também,
de projeção pacífica no exterior; - geopolítica de con
tenção, ao longo das linhas fronteiriças; - geopolítica
de participação na defesa da Civilização Ocidental que
também é a nossa; - geopolítica de colaboração continen
tal, - geopolítica de colaboração com o mundo subdesen
volvido de aquém e além-mar; geopolítica de segurança ou
geoestratégia nacional, em face da dinâmica própria dos
48
grandes centros externos de poder,"
4

A década de 1960 esta marcada pelo surgimento

de novos estudos g e o p o l í t i c o s , como os de Carlos de Meira Mattos í

que "de passagem pedia licença a Mário Travassos, que so

nhou com um Brasi l Potência c o n t i n e n t a l , para sonhar £ ...J com


4 9 - -
um B r a s i l Potência Mundial" , i d é ia que amadurecerá na decada

segui nt e. E também na década de 1960 que a doutrina esguiana

é colocada em pr át ic a , com o golpe de Estado m i l i t a r em 1964.


95

A A M É R I C A DO S U L E O S H EM IC ICL OS
INTERIOR E EXTERIOR

FIGURA 5 - ( I b i d . p. -81)
96

5.3 . 0 PERlODO PÕS-64

Observa Miyamoto que o período que se inicia

com ò golpe m i l i t a r de 1964 caracteriza-se por uma sensível re

dução na quantidade geral de estudos sobre ge opolítica e por

um r e la t iv o aumento do número de trabalhos que falam da proje^

ção i nt ern ac io nal b r a s i l e i r a com referên ci as ao " B r a s i l Potên

cia". Enquanto no Br a si l acontece este fenômeno, por volta des

ta êpoca hã uma extensa produção de estudos geopolíticos na Ar

gentina, nos quais trata-se, principalmente, do papel imperialista que o

Brasil e s t a r i a exercendo com relação à América L a ti n a.

A i n f l u ê n c i a da Escola Superior de Guerra fez-

-se se nt ir profundamente no Governo de Humberto de Alencar Castello

BranCo, ele préprio egresso da i n s t i t u i ç ã o . Neste período,

portanto, a confrontação bi po l a r esteve em primeiro plano . e,

conseqüentemente, o alinhamento automático b r a s i l e i r o à políti

ca norte-americana. £ no governo de Castello B ra n co , por exem

p io, que o Br a si l envia tropas â Força Interamericana de Paz

em favor dos int ere ss es norte-americanos na República Dominica

na.

Já nos períodos de Arthur da Costa e Silva(1967-

1969) e Emílio Garrastazu Mediei (1969-1974) a influência e_s

guiana dec li n o u, sendo que várias obras r e al i z a d as por estes

governos foram contrárias aos p ri nc íp i o s est abe lec id os na Esco

l a . Aponta-se como uma das causas do declínio de sua inf lu ên

cia o fato de ambos os presid en tes não a terem freqüentado.

Sob o governo de Ernesto G e i s e l , a Escola Sup£


97

rior de Guerra recuperou em parte seu p r e s t í g i o . No entanto,

mesmo com o pre sid en te proveniente de seus quadros, a Escola

não reassumiu o papel que havia tido no período de Castello

Branco. De f a t o , o período da administração Geisel inaugura a

consolidação de mudanças na p o l í t i c a externa b r a s i l e i r a , ada£

tando-a, â. nova re ali d a de int er n a ci o na l. Ou s e j a , a crise do

pe tr o le o , somada ã f a l ê n c i a do modelo econômico implantado pe^

lo governo m i l i t a r , promovera as mudanças nas linhas de condu

ta da p o l í t i c a externa do país .

Assim, a nova p o l í t i c a externa b r a s i l e i r a , de

signada of ic ial m en te "pragmatismo re sp on s áv e l ", deu lugar nes

te período a uma maior audácia no comércio e x t e r i o r . As expor

tações b r a s i l e i r a s a países da Á f r i c a Negra são incrementadas

via antigas colônias portuguesas, e a grave dependência do pe

troleo faz com que o B ra si l se aproxime dos países árabes ,

afastando-se. de I s r a e l . Outros sintomas das mudanças na políti^

ca externa b r a s i l e i r a são o reconhecimento dos governos socia

listas de Angola e Moçambique, assim como o acordo nuclear f i r

mado com a Alemanha O c i d e n t a l , r e al i z a do s sob a oposição nor


t
te-americana.

0 que se pode ver é que o governo de João Ba£

ti s t a de O l i v e i r a Figueiredo dá seguimento ao "pragmatismo res

ponsável" e afirma formalmente a condição do B ra si l como um

país terc ei ro- mun di sta . Não ignora o confronto Leste-Oeste ,

mas condena aceitação iso lada da confrontação b i p o l a r , uma vez

que esta impede a consideração adequada dos problemas g l o b a is .

Reitera os vínculos do B ra si l com os países o ci d en ta is indu^


98

tr i a l i z a d o s e procura aprofundar as ligações b r a s i l e i r a s às

nações era desenvolvimento. São neste sentido, as palavras do

Chanceler Saraiva Guerreiro em pal e st r a r e al i z a d a na Escola Su

perior de Guerra em 1982 . Na ocasião afirmou que "Embora funda

mental, a dimensão Norte-Sul das relações inte rna ci ona is não

ê a única a int ere ss ar o Br a si l e os países em desenvolvimento

em g e r al . Com e f e i t o , as relações entre os próprios países do

Sul constituem o segmento relativamente mais dinâmico do qua

dro atual tanto do ponto de v i s t a estritamente econômico, quan

to pela dimensão p o l í t i c a nova e importante que aportam ao

cenãrio mundial. Partindo de relações praticamente i ne xis te n

t;es hã poucas décadas devido â v e r t i c a l i da d e dos v ín c u lo s, que

p rev al eci a globalmente, nossos países vêm construindo uma rede

cada vez mais d i v e r s i f i c a d a de contatos em variados n í v e i s ’.' ^

Assim, ainda segundo Saraiva Guerreiro, as prin

cipais questões da p o l í t i c a externa do governo b r a s i l e i r o ej;

tão colocadas em termos de um incremento das relações do Bra

si l com os países latino-americanos, da exploração das recen

tes relações com os países da à f r i c a ,


da proteção da ãrea do
i
At lân ti co Sul cnm o fim de mantê-lo.a salvo das confrontações

inte rna ci ona is e preservã-lo como um instrumento p a c í f i c o de

desenvolvimento, e da busca permanente do estreitamento das re

lações com os países industrializados.

6 . A VIOLÊNCIA DA GEOPOLÍTICA

Na medida em que se estabelece alguns vínculos


99

entre o saber sobre o espaço, que é a g e op o lí ti c a, e uma reali.

dade p o l í t i c a bastante próxima, essa própria realidade adquire

voz para a d j e t i v a r os pressupostos e componentes teóricos da

quele saber. Ou s e j a : a realidade f a la por si só.

Esse foi o fio condutor do presente capítulo:

fazer f a l a r acontecimentos próximos que, assim, agiriam como

cr it é ri o s q u a l i f i c a d o r e s da ge o p o lí ti c a. 0 braço de ferro nor

te-americano junto a seus " a l i a d o s menores" latino-americanos;

a proclamação dos "v a lo re s o c i d e n t a i s " que não i n c l u i entre os

povos latino-americanos o d i re i to ã vida em condições mínimas

de d ec ên ci a; o barbarismo m i l i t a r que não he sit a em s a c r i f i c a r

inúmeras v ida s na confrontação ao "in imigo o n i p r e s e n t e " ; o

aproveitamento de uma condição de grandeza, produto da "fataljL

dade g e o g r á f i c a " , com o fim de perpetuar relações injustas.Ej>

te é o quadro pintado sob inspiração das noções geopolíticas ,

e é ele que, p r i v i l e g i a d a m e n t e , permite v i s u a l i z a r os limites

da ge op o lí ti c a enquanto saber democrático e engendrador de re

lações democráticas.

0 próximo capítulo estará voltado à ca r

ção da g e o p o l í t ic a argen ti na, tida como uma Ge o p o lí ti c a defen

siv a, face às pretensões hegemônicas b r a s i l e i r a s . Ainda que

possuindo uma ident ida de p ró p ri a , ver-se-á que a G eop olítica

argentina guarda o que há de es se nc ia l na G eop olítica tradic io

nal.
NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÄFICAS

SPYKMAN, N^choZaó John. Eítadoò UnZdo6 ao mundo,


apud., SCHJLLJNG, Pauto. 0 Q.xpan6ZonZòmo bfiaòZZ&Zfio ;
a ge.opoZZtZc.a do ge.ne.fiat GoZbe.ny e. a dZpZomacZa do Jta
mafiatZ. São PauZo, GZobaZ, 19 81. p. 21.

Além da obra jã ci t a d a , Spykman escreveu outra de igual


importância, i n t it u l a d a The. ge.ogh.aphy o & the peac.e. Meu)
VohM., Haficoutit, Bh.ace £ Company I n c . , 1 944.

COMBLJN, Jo6eph. A ZdeoZogZa da 6eguAança nacZoyiaZ. 3.


ed. RZo do, J aneZh.o, CZvZZZzaçao Bh.a6ZZe.Zfia, 19.80, p. 31,

Considera-se "guer ra f r i a " uma guerra permanente, travada


em todos os planos - m i l i t a r , político, econômico, psi^
cologico - evitan do , porém, o confronto armado entre
as grandes po tê n ci as .

Brasil, 1964; Ar g en ti n a , 1966 e 1976 ; PeriJ, 1968 e 19.76;


Panamã, 1968; B o l ív i a , 19 69 , 1970 , 1971 e 19 74 ; Equa
dor, 1972; Chile e Uruguai, 1973.

Os estados Unidos atuavam, no plano m i l i t a r , junto à Ame


r i c a La t i n a de três formas: por meio de reuniões p£
r i õ d i c a s dos chefes m i l i t a r e s , de programas de . ajuda
m i l i t a r e venda de armas, e através do treinamento de
oficiais e outros e s p e c i a l i s t a s em suas escolas m i l i t a
ta re s.

Segundo C0MBL1N, Jo6eph. A ZdeoZogZa da 6 eguAança nacZo


" —1 ■
— ■" ■
■■------ ■
■ ------- ’ ••
na Z. , op. c Z t . , p. J45, o primeiro sin al desta mudança
t e r i a sido dado num discurso que Robert McNamara, S£
cr etã rio de Estado dos governos de John F. Kennedy e
Lyndon Johnson, fez em Montreal em 19 66 ,
101

08. GJ L , Te.de.fii.c.0 G. Lati.n ArmfiZcan - United States ______ fieZa


ttoné . Meu) Yofik, Haficoufit Bfia.ce Jo vanovtch, I n c . , 1971.
p .267.

09. The Rock^eZZeA. Repofit on the Amefitcai , the. O^tc-LaZ Re


pofit o I a Uni.ted S t a t e s PfieAi.denti.aZ Mi.4-6i.on fion. the
W£6te.fin Hem-cipk&fie ( Ch-ícago : G a a d A a n g Z e B o o k é , 1969
p . 38, apud. , GJ L , Fedefii.c. 0 6. Lattn Amefitcan - Uni.ted
Stateò KQ.ta.tyion ó . o p. ctt., p. 2 71.,

10. COMBLJM, Joòeph. Á Zde.oZogi.CL da iegafiança n acton aZ, op.


c.tt. , p . 146.

TL. S CH1LLI NG, PauZo R.' 0 expanòi.o ntòmo bfiaòi.Zei.fio; a geopo_


poZZtZca do ge.nen.at GoZbe.fiy e a dZpZomacta do Itamafia
ti.. São PauZo, GZobaZ, 1981. p . 33-4.

12. Neste se n ti d o , afirma Shiguenoli Miyamoto que, "na ver


dade (a ESG) fo i conscientemente preparada e dotada
com uma doutrina de segurança n a c i o n a l , para exercer
efetivamente a posse do aparelho do Estado, conseguin
do seu ob jet ivo em 19 64 , quando atinge seu período má
ximo de i n f l u ê n c i a " . M IYAM OTO, ShtguenoZZ. 0 p en & a m e n
to geopoZ.Zti.co BfiaÁiZeJJio (.1920 - 19£0) .t op. ci.t.,p.l3l.

13. JARRÍN, EdgaSido Me.Ac.ado. entfievt-itado pofí CANABRAUA TJ_


LHO, PauZo. A dou.tn.Zna da òegufiança coZettva. Cadefi
noò do Te.)ic.e.i.h.0 Mundo, R-Lo de J ane-ifio, (64): 91 , Mati.
1 984.

14 . C ÕMBL 1 N, Jo&eph. A i.deoZogi.a da -òeguAança n a c Z o n a Z . , o p .


c l t ,, p . t 7 8.
102

■15. CARLOS, Ne.wton. Asige.nt4.na que.h. òoZução pah.a Be.agZe.. F0


Zha de. São Pa u Z o . São PauZo, 15- jan. 1984. Exte.tii.oh..
p. 17. e. TAVARES, FZãvi. 0 . 0& mtZ.itafiei> an.g znti.no ò e
0 ac.oh.do òobtie. Beg.gZe. FoZha de. São P a u to . São PauZo,
7 out. 1 9 84. Exte.h.ton. p. 79.

16. TAVARES, F Zãvto. Oò mi.ZÁ.tah.e.0 ah.genttno-6 e. 0 ac.oh.do 00


bh.e. B e a g l e . F'oZhá dei São PdúZo . São PauZo, 1 out.
19 84 . Exte.h.tofi. p. 19. Em janeiro de 19 84 , Chile e Ar
g en ti na , jã sob governo c i v i l , celebraram acordo
para ga ra n ti r a p az, e em outubro de 1984 firmaram o
acordo mais recente, sob mediação p apa l, ...denominado'
"Tra tado de Paz e Amizade'".,
Os l im it es territoriais segundo o último tratado argen
tino-chileno são indicados por uma li nha geométrica ir
regular que une pontos indicados por coordenadas de la
t it ude e longitude p r e c i s a s , ao invês de acidentes na
tu ra is (ver fi g ur a a s e g u i r ) . A oriente e , _ ocidente
desta li nh a se estendem as ju ri sd i ç õ e s da Argentina e
e do C h i l e . Para o Chile ficam todas as il has em ques^
tão, um mar t e r r i t o r i a l de 3 milhas e uma zona econônn
ca e x c l u s i v a . À Argentina f i c a garantido mar ter rito
rial e zona econômica. e x c l u s i v a , assim como a aplica
ção do p ri nc íp i o bioceânico (Atlântico para a Argenti^
na , P a c í f i c o para o Chile) ao comprimir com o mar àr
gentino a projeção marítima chilena e â.o eleger o
meridiano do cabo de Hornos como limite dos oceanos.
Aléni d i s s o , o Tratado dispõe sobre formas de solução
p a c í f i c a para possíveis desentendimentos, que constam
de negociações d i r e t a s , conciliação e, por fim, arbi_
tragem. Também estabelece relações de cooperação econô
mica e integração f í s i c a .
O acordo entre Argentina e Chile sobre o canal de
Beagle remove mais um motivo que os m i l i t a r e s argentji
nos u t i l i z a v a m . para manter sua i n f l u ê n c i a no processo
político. Na Ar g en ti n a , a hipótese da guerra com o
103

C h i l e , d e u margem à manutenção da i n fl u ên ci a das Forças


Armadas no poder, mesmo após a redemocratização do
país. Este fato é i l u s t r a t i v o , na medida em que atra
vês dele ê p oss ív el$ ve r como' os militar es tendem a
aprofundar as relações con flTtivas com os países vizi_
nhos de maneira a permanecer como ator p ri v i l e g i a d o
da cena p o l í t i c a .
104

"As primeiras i n i c i a t i v a s b r a s i l e i r a s para estudar o


potencial h id r o el ét r ic o de Sete Quedas datam dos decr£
tos n 9 3 6 . 6 4 9 , de 26 de ja ne iro de 79 56, n9 42.957, de
31 de dezembro de 1957 e n 9 4 7 . 0 8 7 , de 22 de outubro
de 19 59 . 0 engenheiro Otãvio Marcondes Ferraz entregou
um primeiro projeto em 14 de dezembro de 1962. O gover
no paraguaio manifestou reservas jã em 12 de março de
1962". CAUBET, ChfiZòtZan Guy. V4.pZ0ma.c-ia., GeopoZZtZca
e VZsieZto na BacZa do Pfi.ata. PoZZtZca e Eòtfi.atégZa.
São PauZo, 2_ [ 2) : 3 45 , abfi../'jun. 1 9 84.

SILl/EIRA, Aze./Le.do. da. na. AòòembZéZa Gen.aZ da O . N . U . , de


2 3 . 0 9 . 84, cZtado pofi. 3ofi.naZ da Tafi.de, de. 06 . 05.1 9 76 ;
apu d . ; CAUBET, Chfi-Z-òtZan Guy. "AAgentZna, BfiaéZZ e
Pafi.agu.aZ 1 9 80 : tudo azuZ na BacZa do Pfi.ata’’ -. é . Z . p . ,
■ò.c.p., 1981. Documento ■ datZZogfi.a^ado: p. 7 e 8.

G1L, Fe.d2.fi.Zc0 , G . LatZn,-ameAZcan - UnZted States fieZatZonó,


op. c Z t ., p. 39-40 .

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tfi.atado ZnexequZveZ - 0 Psioto coZo do RZo de JaneZfi.o, 0_
Eòtado . São PauZo, 4 maZo_, 19 5 8 ; ALERTA na lfi.onteZfi.a '
do Pefi.u e Equado.it. 0 Estado de São PauZo. São PauZo ,
18 jan. 19 84.

GIL, Vedefi-Zco G. LatZn Amefi-Zcan - UnZted S ta te -


ó fizZatZon.6 . ,
0p . c Z t p . 41 .

Atualmente, Be li z e enfrenta ainda o problema de ocupar


uma posição es tr a té gi ca nos planos de Reagan de inter
venção na América Ce ntr al .
105

24. GIL, F zdo.tilc.0 G. L a t in Ame.tilcan - U n ite d S ta te s ______ fiila


tlonA . op. alt., p. 32.

25. A Escola fo i fundada, em 19 4 6 , com o nome de Centro de


Adestramento Latino-Americano. A p ar ti r de 1959 estab£
leceu-se oficialmente o idioma espanhol para seus cur
sos. Na década de 60, apôs a revolução cubana e o apa
recimento de vários movimentos de guerrilha na América
Latina, a Escola das Américas passou a dar ênfase aos
planos de contra- ins urr ei ção .
Na l i s t a de conhecidos graduados encontram-se o pro
rio Omar T o r r i j o s ; Ana stasio Somoza. Debayle e seu fi^
lho Anastasio Somoza P or t o c a r r e r o , membros da di na s tia
que dominou a Nicaragua de 1936 até 19 79; Policarpo '
Paz ' G a r c i a e Gustavo Alvarez M ar ti ne z, respectivamen
te ex-presidente e ex-comandante das Forças Armadas ’
hondurenhas; Alfredo Stroessner que, em agosto dexl984,
completou 30 anos de governo do Paraguai. Entre os
v. ~. ..bolivianos ;que .frequentaram ;a Esc ola, destacá-se . Rèné
Barrientos, presidente da Bolív ia no período de 19 66 /
1969, sob cuja gestão, portanto, o líder guerril he iro
Ernesto " G h e ” Guevara f oi executado por tropas do exér
ci to boli via no no i n t e r i o r do país (1967); assim como
ex-presidente Hugo Banzer. Também fazem parte da l i s t a
Augusto Pinochet, que pre sid e o Chile desde 19 73 , bem
como Jorge Rafael V i d e l a , Roberto V i ol a e Leopoldo For
tunato G a l t i e r i , ex-presidentes da Ar ge n tin a. Novo e.n
dttizço. Re.vi.Ata. Í/EJA. Sâo Paulo, (. ) •* '38, 3 o u t . 19 84
e Ade.u& ãi> afimail Cade.A.no£ do tQ.nc.Q.ln.0 mundo , Rto de
J anç.ln.0 , (.74): 49-50, jan. 19 SS.

26. SCHILLING, P a u lo . 0 Q.xpani>lonlí>mo bfiai,llQ.lh.o; a geopolZ


tlc.a do g<tne.n.al Golbefiy e a d ip lo m a c ia do It a m a n a t l. ;
op. c.lt. , p . 26 .
106

27. Alguns nomes ligados tanto à ãrea m i l i t a r como aos estu


dos g e o p o l í t i c o s , cujas obras foram ou serão citadas
nesta disse rta ção : Hai ford Mackinder, Karl 'Haushofer ,
Edgardo Mercado Jar.rfn, Mario Travassos,' Everardo
Backheuser., Carlos de Meira Mattos, Isaac Francisco Ro
jas, Juan Enrique G u g l i a l m e l l i .

28. 0 ’ VONMELL, Gu.lltQ.fimo. Aò FofiçaA Afimadaò e o Estado auto_


ftZtãfiZo no C o m Sut da AmefiZca LatZna. Vadoi ~ RevZòta
do. CZêncZaé SocZaZ-i . R-to de JaneZfio, 2 4_ ( 3 ) : 2 8 6 ,1 9 8 1 .

29. MiyAMOTO, ShZguènotZ. GeopotZtZça do BAaAZt:'. uma Ze.Ziu.Jia.


Zntfio dutõfiZa.. RevZ òta Matico, São Pauto, [:4) : 13, 2 Aem.
19 85 •

30. KEMNAM, Ge.oA.gz. "The òoun.eei> o £ SovZet C o n d u c t ", em fo


AeZgn A l^a-in.i , jutho de 1 9 4 7 . , apud. , SCHI LL1NG, Pauto .
0 expani>ZonZ&mo bh.a&Á.tei.H.o; a geopotZtZca do genefiat
Gotbefiy e a dZptomacZa do liamafiatZ , p . 206- 7 . que, ao
lado de N. J. Spykman, é considerado um dos destacados
ideólogos dos planos de segurança americanos, assim
como da in s t i t u i ç ã o dos países-chave.

31-, SCHILLING, Pauto. 0 expan-òZonZ-ómo bsiaAZteZfio; a geopotZ


tZca dó genefiat Gotbefiy e a dZptomacZa do 7tamafiatZ. ,
o p , c Z t . , p . 204. ,

32. IbZd. Com relação a estes f a t o s , Paulo S c h i l l i n g lembra


ainda que a representação norte-americana na Argentina
manteve-se a o ,n í v e l de.encarregado de .negócios . . atê
19 16 .

33. Expressão cr ia da por Genaro A r r i a g a d a , autor que sugeriu


que, de um ponto de v is ta h i s t ó r i c o , se ria po ssível '
c l a s s i f i c a r os países como "geopolíticamente favoreci^
dos” e como "geopoliticamente d e s f a v o r e c i d o s " . O cr ite
rio u t i l i z a d o para a caracterização do favorecimento 1
ou não, se ri a a quantidade de t e r r i t ó r i o adquirido ou
perdido ao longo da h i s t ó r i a de cada p a í s . Segundo e.s
107

tes conceitos o Br a si l d e s f ru ta r ia da condição de


país muito favorecido do ponto de v i s t a geopolítico ,
porque alterou seu t e r r i t ó r i o para o Oeste da Linha de
Tordesilhas, aumentando sua superfície em mais de
200%. SARROS, AZe^xandfte. de, Souza Co&ta. PoZZtZca zxtz
fiZon. bft.a.0ZZe.na y e.Z mZto dzZ basion. Fo/io I nte.fLnac.Zo naZ,
Me.xZc.0 2_4 ( 1 ) : ' 7 j uZ/ie-toal 9 73 .

34. MIYAMOTO, ShZguenoZZ. 0 pe,n6amznto ge.opoZZtZco bfia^ZZzZ


no . [1 920- 1 9 80) op. cZt. , $.1 5 0 .

35. Algumas obras dos autores: CARVALHO, EZy&e,o. 0______ ^acton.


gzogtia^Zco na poZZtZaa bfiaòZZzZna. RZo de. Jane.ZAo , S .A.!
MonZtoh. Me.ncantZZ, 19 21; BACKHEUSER, Eve.AaA.do ?n.o bZe.
maò do BsiaòZZ - e-ath-utuna ge.opoZZtZca. São PauZo, LZvfia
n.Za TtiancZòc.0 AZve.6, 1 9 29; CARVALHO, CanZoò Ve.Zgado de,.
Ge.o gfiafaZa humana •• poZZtZca e.conÔmZca. São PauZo, Compa
nhZa EdZtosiá MacZonaZ, 1 9 33; CÍVAVE, TfiandZòao de. Pau
Za. Uotaò de. Ge.o gtia^Za UZZZtah. &uZ-ame.h.Zc.ana. 2 .z d .R Z o
de.LLlane.Zfio, BZbZZotzca MZZZtafi, 1 9 40.

36. TRAVASSOS, MãsiZo . Pnojeção C o n tZ m n ta Z do BtiaòZZ. 3,.e.d.


São PauZo, CompanhZa EdZtofia MacZonaZ, 1938, p. 5.

37. MIYAMOTO, Sh.Zgue.noZZ. 0 penAaménto gzopoZZtZco bfiaòZZe.Zno.


[1 9 20- 1 9 80) .', op. c Z t ., i. 114-5.

38. IbZd. £. 115. No e n t a n t o , como lembra o proprio Miyamoto,


v ar ia s teses de Couto e Sulva não foram implementadas1
integralmente. A p rat ic a governamental veio a demons;
trar o não seguimento de muito do que fo i por ele
escrito. IbZd. 116.
108

39. SI LVA, Gotbe>iy do Couto e. Conj untutia potZtZca nacZonat-


o pode*, executivo l GeopolZtZca' do BtiaàZZ. 2 . e d. Rio
de. Ja.ne.isio, J. ÕZympZo, 1981. p . 144. Em nota introdu
to r ia ao re fe ri do livro, Afonso Arinos de Melo Franco
faz uma menção c r í t i c a ã visão do autor sobre o mundo
ocidental, uma vez que omite os problemas viv id o s em
seu i n t e r i o r para dar lugar " a [uma] visão quase místi^
ca de um 'O cidente ideal, Ocidente p ro põ sit o, Ocidente
pr ogr am a', [parecendo] que se d is ta n ci a um pouco do
quadro ob jet ivo e i n t e r - r e l a c i o n a l , o que não f a c i l i t a
propriamente o enfoque dos problemas concretos do Oci^
dente"., op. c Zt. , p. x Zv .

40. I b Z d . p . 52.

41 . I bZd. p. 38-9.

42. I b Z d . p. 51-2.

43. I b Z d . p. 58.

44. IbZd. p. 55.

45. I b Z d . p. 12 9.

46. 1 bZd. p. 80.

47. IbZd. P- 82.

48. IbZd. p. 137-8.

49. MIYAMOTO, ShZguenotZ. Ô pensamento geopotZtZco


fio ( 1 9 2 0 -1 9 8 0 ) . , op. cZt. , & . 1 23. A esse r e s p e i t o , o
tít ul o da obra que Carlos de Meira Mattos publ ic ou nes
ta época é bastante expressivo; Pfiojeção mundZaZ______do
RsiaòtZ. São Pauto, Gh-ã^Zca LeaZ L t d a . , 1 9 60. Seus tra
balhos na década de 70 seguirão a mesma t ô n i c a : BnaòZZ:
109

geopo-tZtZc.a e de&£Zno. RZo do, JaneZAo, J. OtympZo ,


1 9 7 5; A GeopotZtZca e a-ò pKojeç.õeò do poden.. RZo de
J aneZn. 0 , J. OtympZo, 1 9 77.

50. GUERREIRO, RamZh.0 Sa.sia.Zva.. PoZZtZea ex.tex.na do 'Bh.aòZt.


Segurança, e Ve&envoZvZmento, RZo de JaneZfto, (190): 41,
1 9 82.
C A P I T U L O III

A GEOPOLÍTICA ARGENTINA
111

A GEOPOLÍTICA ARGENTINA

A Arg en tin a, ao lado do B r a s i l , e um dos países

onde mais se publicaram trabalhos sobre geopo lí tic a na America

Latina, No entanto, a anal ise da geo política argentina não pode

ser f e i t a nos mesmos termos da geopolítica b r a s i l e i r a . No Bra­

sil, ainda que se considere a nâo uniformidade do pensamento geo

político., na cional e a impossibilidade de definí-lo com preci­

são, fatos observados por Shiguenoli Miyamoto, a criação da E s ­

cola Superior de Guerra, em 1949 , tornou possível a ex is tê n ci a

de um centro aglutinador das produções sobre a matêrià. Alem

disso, como jã f o i v i s t o , a geopolítica b r a s i l e i r a não permane­

ceu ao nível das teo r iza çõ e s, mas avançou para o campo da ação.

Isto não ocorreu na Ar ge n tin a. Neste p a í s , o In s t it u t o Argentino

de Estúdios Est ra té gi co s y de las Relaciones Intemacionales. (INSAR],

considerado a mais importante ins ti tu i çã o dedicada a elabora -

ção do pensamento geopolítico argentino, sõ fo i criado em 1969.^

Acrescente-se a i s t o , o fato de que as formulações deste i n s t i ­

tuto nao foram u t i l i z a d a s no delineamento da p o l í t i c a externa

deste país-, como aconteceu no B r a s i l . 0 que houve f oi a even­

tual co in c id ê n c ia entre alguns atos do governo argentino e as

e s t r a t é g i a s elaboradas no refe rid o instituto.

0 tema a ser desenvolvido no presente capítulo

tem como imprescindível a atenção âs considerações f e i t a s ac_i

ma. As delimitações temáticas estabe leci das são resul ta nte s das

condições acima c i t a d a s : , Alem d i s s o , devera ser compreendida


112

a p art ir da confrontação fixada pelo proprïo pensamento geopo-

lítíco a r g e n t i n o , que tem s-e preocupado acentuadamente com a

c r í t i c a a ge op olxtica b r a s i l e i r a .

1, ALGUNS' NOMES DA GEOPOLÎTICA ARGENTINA

Afirma Alfredo H. Rizzo Romano que "na Republi


r* 2
ca Argentina fnao se pode] f a la r de uma Escola Geo po lí tic a;. "

Segundo o t r a t a d i s t a de D i r e i t o Inte r na ci on a l, entre os precur

sores do pensamento geopolítico argentino esta Sarmiento que,

no século passado, escreveu entre outras c o i sa s , sobre as arti

culaçoes do Rio da Prata, e propôs a miídança da ca p it a l argen­

tina. Outro precursor seria A l b e r d i , que opos-se a p a r t i c i p a -

çâo da A r g e n t i n a , ao lado do Br a si l e do Uru guai, na Guerra con

tra o Parggtiai (Guerra do Pa raguai, 18 65 -1 87 0). Entendia Alber

di que haveria de deferidèr-sê o . Pàraguai ide modo a impedir os

avanços da i n f l u ê n c i a b r a s i l e i r a .

Ainda segundo Alfredo H .. Rizzo Romano, no fim

do século XIX e iní ci o do a t u a l, Estanislao Zeballos r e a l i z o u

estudos g eo po lí tic os com relação ã zona de Missiones e ao Rio

da Prata, sustentando a tese de que a Argentina te r ia domínio

completo sobre todo este rio (teoria da costa seca para o Uru ­

guai), Rizz o Romano menciona também o vice-almirante Segundo R.

Stor ni, autor de Interesses argentinos en el mar , ( 1 9 5 2 ) , obra

em que defendeu a vocação marítima argentina e seu destino"ta-

lassocrãtico". Storni foi um dos primeiros estudiosos a por

acento na importância do Canal de Beagle, es cre v en do , incrítisive

Trabalhos hid r og rá fi co s y limites argentinos en el Canal'_____ de_


113

Be agle .(_]'905) .

Outro nome lembrado por Rizzo Romano é o do te-

nente-general J u l i o A . R o c a , Este m i l i t a r a r g e n t i n o . teve uma

grande visão ge op ol íti ca ao e f et i v ar a anexaçao da Patagonia a

Argentina no.'momento da Guerra do Pacífico (1879) , quando o Chi^

le enfrentava o Paraguai e a B o l í v i a .

Alem dos nomes jã ci ta d o s, ê dado destaque para

os m i l i t a r e s P erl in ger e Jasson, que publicaram Manual de geo -

p ol ít ic a há quase quarenta anos. Outros m i l i t a r e s : Juan E. Gu-

glialmelli, At e n c io , Briano, Juan D.P ér on , Osiris G. V i l l e g a s ,

Rodriguez Zía, Isaac F. Roj as, Gomes Rueda, A u e l , Kessler e

B a ll e st er o s.

Entre ôs j u r i s t a s que se dedicaram ä G e o p o l í t i ­

ca,tendo em v i s t a o D i r e i t o Internacional, estão incluídos o

proprio Rizzo Romano, Lucio M o re n o 'Quintana e Luis M. de Pablo

Pardo, Riz zo Romano ê autor de Bases para uma g eo po lí tic a argen­

tina ; Moreno Quintana escreveu D i r e i t o Internacional P u b l i c o , on

de dedicou-se à matêriá, e Pablo Pardo publicou na Revista de

la Facultad de Derecho (1948-50) um estudo sobre a Posicion

geopolítica a r g e n t i n a .

V ita ainda Rizzo Romano: Pablo Sanz ÇE1 espacio

a r g e n t i n o ) , Alb er to Assef ( Proyeccion continental dé Ta A r g e n t i-

na), Mario Fus chini Mejía e Nicolãs Boscovich.

2 , ALGUNS TEMAS DA GEOPOLÍTICA ARGENTINA

Falando-se da geopolítica b r a s i l e i r a fo i lembra


114

do que, por volta, da década, de 196Q., surgejn trabalhos x\ue preco

nizam a projeção internacional que o Brasil est ari a apto a

exercer, e, em co nt rap art id a, aparece, principalmente na ArgentjL

na, um número oonsiderãvel de trabalhos que visam c r i t i c a r esta

pretensão b r a s i l e i r a . Ou s e j a , em um determinado momehto a Geo-

p o l í t i c a arg entina passou a preocupar-se com a formulação de

projetos de fen siv os para fazer frente â Geopolítica ofensiva

do B r a s i l . Neste se ntido, afirma Ch ri st in Guy Caubet que existan

dois tipos de g e o p o l í ti c a : uma de agregação e uma de oposição.

"A geopolítica argentina, pelo menos na sua fase atual,


constrõi-se em oposição. Ela teve uma inegável obses­
são pela atuação do Brasil, especificamente no âmbito do
continente sul-americano. j\..] Outra ê a tradição geopo­
lítica brasileira. Na verdãde, se de um lado ela cumpre
seu papel de homogeneização da consciência nacional(ista),
por outro ela encara o papel internacional do país como
uma projeção natural alêm-fronteiras, e não como uma
m4
necessidade de defesa."

No entanto, como lembra o proprio autor, a uti-


~ +
lização da expressão "de oposição" para q u a l i f i c a r a geopoliti-

ca argentina torna-se d isc ut íve l quando se tem em mente os

pressupostos sobre os quais ela ê elaborada. Ou s e j a , a geopolí^

tica a r g e n t i n a , mesmo tendo ca ra ct erí st ica s que garantem sua

especificidade, não foge aos pressupostos da geopo lí tic a t r a d i ­

cional, que " [ p r i v i l e g i a ] a anal ise das relações i nt ern ac io nai s


„5
em termos de tensão e ag re s si vi d a de .

Alguns dos temas mais apreciados pelos estudi_o

■sos argentinos , nos quais evidenciam sua cposição não so its teses gecpo
115

líticas elaboradas no B r a s i l , cano também a p o l í t i c a externa

brasileira, são: a Bacia do Prata, o A t l â n t i c o S u l , A n tá r ti da e

a hegemonia b r a s i l e i r a .

2,1 , A BACIA DO PRATA

A Bacia do Prata está formada pelos países que

participam do sistema hídrico constituído pelo Rio da Prata e

seus af lue nte s p r i n c i p a i s : os rios Paraná, Paraguai e Uruguai.

Dela, portanto, fazem parte: Argentina, Bolívia, Brasil, Para -

guai e Uru gua i.

Os documentos que i n s ti tu ci o n a l iz a ra m òrigi-'

nariameníe o sistema da Bacia do Prata foram: a Declaração Con

junta de Buenos A i r e s , de 19 67 , e a de Santa Cruz de La Sierra,

de 1968 . A Declaração Conjunta de Buenos Aire s criou o Comitê

Intergovernamental Coordenador ( C I C ) , fixando seus obje ti vo s

mais importantes, dentre õs quais, a coordenação da~ ação con -

junta dos governos que se tenha como n e c e s s á r i a . A Ata de San

ta Cruz de la S i err a dá continuidade ao processo de i n s t i t u c i o ­

nalização da Bacia do Prata, reconhecendo a reunião de M in is -

tros das Relações Exteriores da area como " au to rid ad e supe­

rior", com as atribuiç õe s de elaborar a p o l í t i c a a ser seguida

na região, d i r i g i r a ação do CIC e d e c i d ir sobre a consecução

dos objetivos acordados, estabelecendo também a p e r i o d ic id a d e

das reuniões (ord in a r ia m en te > uma vez ao ano, e, em caráter

ex tr ao r d in ár io , á pedido de três ou mais p a í s e s ) , assim como o

procedimento da tomada de decisões (unanimidade),

Em 23 de abril de 1969 foi assinado, em Brasí -


116

lia, o Tratado da Bac ia do P ra t a , dando a forma d e f i n i t i v a ao

sistema: incorpora ao quadro dos, organismos a reunião de Minis

tros das Relações Exteriores (a r ti go I I } , reconhece o CIC como

órgão permanente (artigo I I I ) e as Comissões ou Secret ari as Na

ci onais como órgãos de cooperação e assess oramento dos Governos.

0 Tratado estabelece como meta p r i n c i p a l o relacionamento coope

ra t i v o entre seus integrantes visando a harmonização do aprovei_

tamento dos recursos da Bacia do Pra ta.

Como já foi lembrado, a B ac ia do Prata tem sido

um dos temas mais estudados p e l a Ge o p ol í ti c a arg en ti n a. Em pou

cas palavras A l f r e d o Ri z z o Romano dã a dimensão da importância

g e o p o lí ti c a que se atribui a região:

"Esta bacia constitui a zona chefe ou Heartland da America


do Sul. Aplicando os ccnceitos Mackinderianos , podemos
afirmar que quem dcmine na rica xegião de 3,5 . a 4,5
- 2 -
milhões de km dcmrnara na ilha sul americana, e quem
domine neste subcontinente tem probabilidade mãxima
de daninar na Ãfrica e em todo o hemisfério Sul."^

Pelas amplas p o s s i b i l i d a d e s que oferece para o

aproveitamento h i d r o —e l é t r i c o , a parte do rio. Paraná que a Ar

g e n t i n a comparte c a n o P a r a g u a i , que se s i t u a a jusante do rio

Iguaçu até a foz dos rios Paraná e P a r a g u a i , destaca-se como

uma re giã o da Bacia do Prata que tem merecido muita atenção por

parte dos g eo po lí tic os argentinos. De maneira g e r a l , seus estu

dos sustentam a tese de uma int erdependência f u n c i o n a l entre os

afluentes de todo o Alto Paraná, , o que significa que qualquer


117

modificação em um de seus trechos acarretará alterações em

seu. funcionamento como um todo. Daí concluem pela ex ig ên cia de

uma u t i l i z a ç ã o p l a n i f i c a d a de sua pote nc ial id ad e h id r o el é tr i

ca, a fim de que se a t i n j a um n íve l ótimo de aproveitamento e

se mantenha um e q u i l í b r i o de in fl u ê n c i a s no subsistema.

0 Tratado de I t a i p u , firmado entre o B r a s i l e

o Paraguai, em 26 de a br il de 19 73, visando a construção da


7 ■ '_ ■
represa de It a i p u , acentuou o numero de teses de ordem geopo-

lítica para a região do Alto Paranã. Dentro os argumentos mais

considerados por tai s teses estã o comprometimento do projeto

h id r o e létriCíQ argentino de Corpus, com a -participação para­

guaia, e a navegação do Paranã. Acrescentam-se a estas ques -

tões outras ,como as re l a t iv a s ã articulação v i á r i a , proteção am

b i e n t a l , segurança etc.

Isaac Francisco Ro ja s , Maria dei Carmen Llaver

e Juan Enrique G i g l i a l m e l l i insistem sobre a e x i s t ê n c i a de uma

si n gul ar ida de geográ fica no Alto Paranã, que diz re sp eit o aos

vínculos f u n c io n a is no i nt eri or de uma parte da re gi ão . A cita­

da expressão foi criada pelo engenheiro Mario Fuschini Mejía,

sendo seus estudos técnicos u t i l i z a d o s pelos autores menciona -

dos .

Descrevendo as ca ra ct erí st ica s da Bacia do Pra^-

ta , Fuschini Mejía voltou sua atenção para a sin g ul a r id a de gecy-

grãfica,

"trecho que inclui o canhão que começa abaixo das catara


tas de Guaíra, o canhão que ccmeça abaixo das cataratas
do Iguaçu e se estende até o oeste, circulando por um
118

leito can um coeficiente de condição restrito até Corpus,


g
onde o rio se expande, [constituindo] um subsistema[-. j] •"

Dado as p ec u li a ri d a de s desse trecho, concluiu

Fuschini Mej í a que qualquer projeto brasileiro-paraguaio para a

região não poderia p re s c in d i r da reali za ção de consulta prévia

ao governo argentino (Figura ’6) .

E SQ U EM A DE LA SIN G U LA RID A D GEOGRÁFICA

(D

<-

1 . C A T A R A T A S DEL G UAYRA. 5 - O IR E C C I O I i DE E S C J Ü R iV IE N T O DE IG 'J A J U


2 . r> !!H .C C I0 .'i DC E S C U fiH IM lE IIT O C EL PARA NA. G . C A T A R A T A S OE 'G u ;:.:.'
J . r‘:i;rcci:.-; EscuaRsrxNTO T£aK>.v.i pel 7 . T .IA * -:^ L'r. C 0 : í C v '.T !V !? A 3 H E S T r ifS O A
(•V.\7 ..Sii r.l ,:'DA A C H I C O T E S r , 'L !!"> ICUA 7 Ü. o . e rs c c íw o * ; : ; c ' j í p < ' í ' £ i !T o c f . i r t .x m
i . iMHr.CC'0'1 Vi ESCURW/riKiX. TEI/fOSAL ÜÍL 5. !&::■:■tiuv:/>r rnt-atí.
I W' n l l , . i*:! U M C U E'.".'A i " t 'l FAKAríA.

Figura 6 . (Rojas , Isaac Francisco. In t e r e s e s ar

gentinos en la Cuenca del P l a t a , op.

cit. , p . 311)
119

.Em 19 de outubro de 1 9 7 9 , foi firmado o acordo

triparti.te entre Ar g en ti n a , B r a s i l e Paraguai ,sobre a compati

b i l i z a ç ã o das obras de It a i p u e Corpus. Resumidamente, o trar

tado estabelece três pontos fundamentais: a cota de 105 me­

tros para Corpus, f l e x i b i l i d a d e operativa de I t a i p u , e a proi

bição de apreciação e q u a l i fi ca çã o u n i l a t e r a i s de p rej uí zo sen

s í v e 1.

Isaac F. Ro ja s que, dentre os geopolíticos aci­

ma citados é quem mais se u t i l i z a das conclusões técnicas de

Fuschini M e jí a , ainda anteriormente ao tratado de 197 9, afiiy-

mava que

"se se construísse a represa brasileiro-paraguaia em


Itaipu, ou seja 17 km águas acima da desembocadura do
Iguaçu, can um nível de restituição baixo (105 m so­
bre o nível do mar) , as águas impedidas de não elevarem
/-se em Iguaçu circularão pelo canhão até Corpus ccm
grande, pendente,e haverão consumido, necessariamente ,a
energia potencial de que dispunham em Iguaçu, não fi -
cando um desnível para utilizar em Corpus, que, por­
tanto, não poderia construir-se. Em consequência, essa
solução parcial que se intenta dar entre Paraguai e
Brasil ao problema da singularidade geográfica não ê
conveniente.” 9

No mesmo se n ti d o , observou Juan Enrique

Guglialmelli que no trechoi da sing ula rid ad e geográfica o

"Brasil levantará, associado com o Paraguai, a represa


de Itaipu, can uma cota de descarga de 105 metros, não
obstante que esta altura afetará o rendimento otimo
120

de Corpus.'!

Desta forma, a posi ção b r a s i l e i r a frente a Itaipu

hav eria que ser entendida como

"um projeto eminentemente político, tendente a consoli­


dar em sua esfera de influência Assunção e a ' impedir
ou pertubar o aproveitamento hidroelétrico do rio Para­
ná pela Argentina no trecho da 'singularidade geográfi­
ca '. Dentro desta ordem de idéias, nosso país deve en -
tender can toda claridade que, se desde um ponto de
vista energético o proposito brasileiro pode consistir
em obter seu predanínio nesse setor, a superioridade em
uma área chave do desenvolvimento, de uma perspectiva ge
ral, não se pode desvincular de sua política na Bacia
do Prata, alimentada por uma histórica vocação hegemcni
P —) t!10
ca [_•. .J •

Realizado o trata do , Maria del Carmen Llaver

assegurou que "não podemos chamar a este documento de compati-

b i l i z a ç ã o ou optimização de ambas as represas [Corpus e Itaipu] ,

senão someíite de entendimento para que ambas funcionem se

paradamente

Quanto à n a v e g a b i l i d a d e , Isaac F. Rqjas e Juan E.

Gug l ia lm el l i assinalam que o B r a s i l , dentro de uma p o l í t i c a fir

me e coerente com seu passado hegemonista, es ta ria intentando

d e s v i a r : aiB a ci a do Prata desta função, que é a sua primordial .

Assim o f a r i a ao pr ej u d ic ar a nave ga bi lid ad e do rio Paraná com

a construção de Ita ip u e ao integrar a Bacia do Prata ao s i s t e ­

ma v i á r i o ligado aos portos b r a s i l e i r o s . Diz Isaac F .R o ja s que,

sendo a navegação para a Argentina o uso predominante do rio


121

Parana , o projeto de I ta i pu estaria o prejudicando ao fazer com

que o sistema de transportes paraguaio e argentino f i ca ss e sob o

controle do transporte terrestre b r a s i l e i r o , encarecendo-se mui


13
to. Da mesma forma entende Juan E. Gu gl ial m ell i , segundo o

qual a construção de Itai pu v i s a r i a , entre outras c o i s a s , per -

turbar a navegação do Alto Paraná através da penetração ao inte^

ri or do B r a s i l .
14

Sobre a mesma questão, Maria dei Carmem Llaver

diz que a construção de It a i p u pode i n u t i l i z a r a navegação do

a lto Paranã ãguas a b a i x o , reiterando assim as pretensões hegemôni.

cas b r a s i l e i r a s na re g ião ,q ue se consolidam com suas obras de

comunicação,

"amplamente desenvolvidas para romper a natural geogra


fia dos rios da Bacia norte-sullpor novas conexões les -
te-oeste, que favorecem a saída da produção até o Atlân-,
tico |através dos portos de Santos, Paranaguá e Rio Gran
de| e busca a saída ão Pacífico para lograr o objetivo de
potência bi-oceânica."15

A propósito do sistema do Prata,' faz-se mister

uiiia nova. remissão ao pensamento de Juan E . Gmglialmelli . 0 autor

propôs a criação de uma nova entidade g e o p o t í l i c a , o Cone S u l,

a fim de s u b s t i t u i r a Bacia do Pr a ta . Diz ele que

"à verdadeira entidade geográfica e histórica é o Ccne


Sul, integrado por Argentina, Brasil, Bolívia, Chile,
Paraguai, Peru e Uruguai. 0 sistema da Bacia do ■ Prata
parcializa'os esforços nacicnais; .acentua as contradições
regicnais de seus membrcs e pede estimular uma divisão
122

internacional do trabalho a escala regional prejudici


al para os países de menor desenvolvimento '.relativo e
benéfica, em particular, para interesses estranhos a
área."16

Além dos aspectos considerados , a p o l í t i c a bra

sileira com relação ao Par ag uai , bem como a propria posição pa

raguaia na questão de I t a i p u foram largamente cr iti ca da s pe­

los geopolíticos arg entinos. Entendem eles Ita ip u como uma e x ­

pressão e consolidação da hegemonia b r a s i l è i r a sobre o Par a­

guai, cujas po lí t ic a ^ considerada p e n du la r,

"joga com habilidade as cartas de suas conveniências i-


mediatas, mas ccmpranete o equilíbrio do chamado Cone
Sul do continente, o que, uma vez destruído, arrastará
atrás de si sua própria liberdade de ação ã maior pro -
fundidade que as do Uruguai e Argentina, menos suj eitas,
- 17
geopoliticamente, a evolução da Bacia do Prata."

2.2. 0 .ATLÂNTICO SUL

Conforme Juan E. G u g l i a l m e l l i , a ãrea do Atlân


^ 4

tico Su l, tendo em v i s t a sua r e l ev a n ci a ge op ol íti ca para a A r ­

gen ti na , compreende a região que se e s te n d e, ao N ort e, desde o

"Corredor" do At l ân ti co (Cabo Sao Roque-Brasil e Cabo Palmas Li

b é r i a ) , entre três m a s s a s . con tine ntais (América do S u l , Á f r i c a

e Antártida). Ao s u l , seus limites são os seguintes :■ com o

Oceano In d i c o , pelo meridiano do Cabo A g u l h a s ; com o P a c í f i c o ,


18
pelo meridiano de Cabo Hornos ,e com o .Antártico, pela Linha

de Convergência Antartíca: que rode ia o continente gelado entre

os paralelos 50^ e 60°' Sul.


123

Segundo o autor, os acessos ao Atlântico Sul

são; para o A t l â n t i c o Norte, através, do "Corredor do Atlânti -

co"; com o P a c í f i c o , através de duas -rotas p r i n c i p a i s - Es

t r e it o de Magalhães e Passagem de Drake-, e uma secundária -Ca

n a l de B e a gl e ; com o Índico por meio de um acesso p r i n c i p a l -

entre o Cabo da .Bo a Esperança e a dorsal das ilhas Crozet/Prín

cipe Ed uardo/Bouvet-, e de outro secundário - entre a dorsal

das r e f e r i d a s ilhas e o Continente A n tá r ti co . Assinala, ainda,r

Juan E. G u g l ia lm e l li que, de um ponto de v i s t a g e o p o l í t i c o , con

vêm adotar o meridiano 20°W de Greenvich enquanto limite do

setor oc id en ta l do Atl ânt ic o N o r t e , uma vez que c o n s t i t u i , ao

Sul do Equador sobre o A t l â n t i c o , o limite do Tratado Interame

ricano de A s s i s t ê n c i a Recíproca(TIAR) - ( f i g u r a 7] .
K
A importância e s tra tég ic a que o Atl ânti co Sul

vem adquirindo tem como contraponto o maior número de obras geo

políticas dedicadas a essa temática. De forma g e r a l , as ques­

tões v inc ul ada s ao At lântico Sul tratam de relevar aspectos co­

mo sua importância econômica, v i á r i a e m i l i t a r , que, por sua

v e z , mantêm relação entre s i . Além destes aspectos, três p ro ­

blemas de limite t e r r i t o r i a l são amplamente a l u d i d o s , envolven

do o Canal de B e a g l e , as Ilhas Malvinas e a A n tá r ti da .

Quanto áo s i g n i f i c a d o econômico, o ...Atlântico

Sul destaca-se por seus recursos de pesaa e pela presença de

m in e r a is , como nodulos de manganês. Sobre a at ividade p e s q u e i ­

ra, os dados disponíveis, apontam que a exploração da região da

va â Ar g en ti n a o 3 8 9 lugar na produção mundial no ano de 19 70 ,

contra a colocação de 3 1 9 no ano de 1950. Isto ind ic a a proc


124

Figura 7. (GUGLIALMELLI, Juan E n r i q u e . Geopolítica

dei Cono Su r. , o p . c i t . , p. 237)


125

gre ssiva desatençao a este setor que, segundo Alb er to 0. Case-

llas ,

"não foi felizmente encarado. A riqueza íctica da Repú­


blica foi ignorada cano tantas outras, sem levar em
conta que os recursos biológicos do mar são mais ou
menos fãceis de extrair sem necessidade da inversão
de somas consideráveis, como pode ocorrer no caso de
19
explotaçao de recursos minerais-"

Alberto 0. Casellas lembra que as p o te nc ial id a

des al imentícias marítimas tornam-se mais importantes ã medida

em que vão se esgotando outras fo n te s , o que, acompanhado do

progresso t éc n i co , torna economicamente v iá v ei s, algumas ati_

vidades até então não compensatórias. 0 mesmo ocorre com a ex ­

ploração de recursos mine ra is, conforme Carlos Juan Moneta,den

tre os quais destaca as reservas de nódulos de manganês presen

tes no Oceano A t l â n t i c o . Estes nodulos são rochas de tamanho

pequeno, encontradas a grandes profundidades marítimas (entre

4.000 e 6 . 0 0 0 m et ro s ), contendo, além do ferro e manganês, ní

q uel , cobre e cobalto, ou s e j a , quatro minerais, es se n ci a is p a ­

ra a i n d ú s t r i a .

Para Juan Carlos Moneta a dependência dos p a í ­

ses centr ais da importação de recursos minerais e s se n ci a is e a

nova p o l í t i c a de agregação de poder que começou a ser seguida

pelos países do Terceiro Mundo, a exemplo da O.PEP, acentuaram

a busca, por parte das. grandes potências e das m u l t i n a c i o n a i s ,

de vantagens, de ordem tecno lóg ic a, l o g í s t i c a e f i n a n c e i r a para

realizar a ex:ploração comercial dos nódulos do manganês que,


126

até a década de 6 0 , sé atraíram o interesse científico, e não

o comercial. Tendo em v i s t a a p o s s i b i l i d a d e de confrontação in

ter nacion al que o uso do nõdulo de manganês pr o v oc a ri a,

"semente a sana da capacidade de inovação tecnológica e


científica das potências.médias e pequenas, mediante a
inversão de muitos recursos e uma política canum de
investigação poderiam talvez canpensar essas desigual­
dades . " 2°

A importância v i á r i a do A t l â n ti c o Sul encontra

-se diretamente associada ã importância m i l i t a r da área, uma

vez que n e l a hã rotas v i t a i s para o Oci de n te . 0 At lâ nt ic o Sul

possui rotas al te r na tiv a s ao Canal de Suez e ao Canal do Pana­

má, considerados muito vulneráveis no caso de um co n fl i to lo­

cal ou g e n e r a l i z a d o . De um ponto de v i s t a estritamente m ili ta r

a região adquirè. um valor maior pe lo controle que p o s s i b i l i ­

ta sobre os acessos ao Oceano P a c í f ic o e ao Oceano Índico.

Relevados alguns aspectos que caracterizam o

A t l â n ti c o Sul como uma área geopolíticamente fundamental para

a A r g e n t in a , hã que se observar como são v i s t a s ^ a s pretensões

brasileiras com relação ã esta região. Vicente A . Palermo en -

tende que é n ec es sár io fazer uma d i st i n çã o entre o e s t i l o ar -

gentino de conceber os problemas geopolíticos e o das grandes

po tên ci as. Neste contexto, a Argentina não poderá estar só. De

verá.', sim, buscar a integração latino-americana a fim de p o s­

s i b i l i t a r formas al te r na ti va s de u t i l i z a ç ã o dos recursos n a t u ­

rais cobiçados pelo império norte-americano, bem como pr een­

cher os espaços v a z i o s , impedindo o avanço s o v i é t i c o . Isto s i g


127

n i f i c a a busca de uma p o l í t i c a a l t er na ti va em que o Br a si l e a

Ar gen tina jogariam como países decisivos:.'

A esse re s p e it o , con tinua, Vicente A. Palermo,

afirmando que o

"Br asi lQ .. ] até o momento tem estabelecido uma estraté


gia isolada na área. 0 conceito de 'mare nostrum' com
que ele maneja é suficientemente ilustrativo a respei -
to."

E continua:

"é necessário conciliar os interesses contrapostos, su­


perar as diferenças, mas demonstrando que é possível
fazêclo propondo-nos continentaImente uma série de gran
des e decisivos objetivos que possam ser executados a-
-* ?!
traves do esforço canum."

Por ultimo, as palavras de Juan E. Guglialmelli que

c r i t i c a as teses geopolíticasde Golberry do Couto e S i l v a , se

gundo as quais o B r a s i l t e r i a responsabilidadesmonopolicas so­

bre o A t lâ n ti c o S u l . Para t a l , Couto e S i l v a '

"vale-se não so de uma análise incompleta da configura­


ção do Atlântico Sul, senão ademais, desde uma perspec­
tiva militar, atribuindo,a alguns países diretamente vin
culados a este setor atitudes hostis ou projeções polí­
ticas arbitrárias e excêntricas ao tema de seu interes­
se. Assim, trata de destacar ao estreitamento Natal -
Dakar, ccmo área de maior seguridade e , ao Nordeste bra
sileiro como um fator chave de largura marítima. Ao con
trário ao setor Sul, apresenta-o ccmo um amplo espaço
128

sem adequadas bases geográficas, para sua vigilância e


proteção]"..

Esta interpretaçãoV;segundo G u g l i a l m e l l i , re v e -

la-se ar b it rá r ia e dirige-se a fundamentar os objetivos da p o ­

l í t i c a externa do B r a s i l . Superestima a importância es tratégia

ca do Br a si l para a defesa dos interesses dos Estados Unidos ,

em contrapartida a uma subestimação dos papéis a serem e x e r c i ­

dos por países como a Ar g e n ti n a , que têm uma presença firmada

geograficamente para exercer a defesa do At lântico Sul .

2.3. A ANTÁRTIDA 23

0 continente antártico possui aproximadamente

14 milhões de quilômetros quadrados,e , diversamente do Árti­

co, que se compõe de massa oceânica congelada, constitui-sepra

ticamente de uma massa terres tre coberta de g e l o . .

Conforme Miryam Colcacrai de T r e v i s a n , a déca­

da de 1970 está mar.cada pela acentuação do interesse . mundial

por este cont in ent e, embora já se conhecesse d e 'l o n g a data suas

p ot e n c i a l i d a d e s. Para a autora , a crise energética e a escas -

sez alimentãria cr esce nte,,foram os elementos responsáveis pela

tomada de atenções da humanidade sobre esta região como reser-

vatorio de recursos .

Os recursos antárticos podem ser d i v i d id o s em

renováveis e não renováveis. Entre os. recursos renov áv eis , o

" k r i l T ’ (Euphasia Superba) é considerado o mais importante. Tra

ta-se dejpequenos crustáceos, parecidos com camarões, com alto


129

valor p r o t e i c o , e cuja captura é r e l a t i v a m e n t e . f ã c i l . As maio­

res concentrações, de " k r i l l " estão, p rinc ipalme nte, dentro

do limite costeiro de 200 milhas da península antártica e

nas águas do mar de Weddel ao redor das. Ilhas O r ç a d a s , Geõr -

gia do Sul e Sandwich do S u l , setores antárticos disputados pe^

la Ar gentina e Grã-Bretanha.

Por outro lado, os recursos antárticos não re

novãveis dividem-se em: m in e r a is , hidrocarbonetos e ^ e n e r g i a

térmica. Entre eles os que têm despertado maior interesse são

os h id r o c a r b o n e t o s , pelo maior grau de f a c t i b i l i d a d e econômi­

ca de sua ex pl oração a curto p raz o, como a ss in a l a Néstor H.

Fourcade. Segundo este autor, através dos conhecimentos que

se tem até o momento, estabeleceü-se três grandes áreas para

v e r i f i c a r as p o s s i b i l i d a d e s de busca de hidrocarbonetos nas

plataformas c o n t i n e n t a i s : a bacia do mar de Weddel, a de


25
B el li n gs h a us en e a do mar de Ross.

26
O Tratado d o . Antártida , firmado em Washington,

a lç de dezembro de 19 5 9 , no f i n a l do Ano Geofísico In -

ternacional, é o es ta tuto ju r í d ic o de D i r e i t o In ternacio nal Pu



f

b l i c o válido para a região que rodeia o ponto de convergência

do Polo Sul e se estende até o par al elo 6 0 ° de la titude Sul

(Artigo V I ) . Dele são membros o r i g i n á r i o s : Á f r i c a do S u l , A r ­

gentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unid os, F ra n ça ,J a

pão, Inglaterra, Nova Ze l â n d i a , Noruega e União S o v i é t i c a . O

tratado entrou em vigor a 23 de junho de.. 19.61, quando o ú l t i ­

mo dos doze. países contratantes r e a l i z o u o deposito dos. res -

pectivos instrumentos de r a t i f i c a ç ã o perante o governo dos E^


130

tados Unidos , .designado como país deposi tár io (Artigo X I I I , Pa

râgrafo 3 ) .

Do Tratado Antártico pode fazer parte por "ad£

são" qualquer país membro das Nações Unidas ou convidado, com

o consentimento de todos os s i g n a t á r i o s , cujos representantes

estejam àptos a p ar ti ci p a r das Reuniões Consultivas (Membros

Consultivos - Arti go X I I I , Parágrafo 1 ) . Desta categoria de

signatários fazem parte: Brasil, B u lg á r ia , Cuba, China Popular,

Dinamarca, Espanha, F i n l â n d i a , Hu n g ri a , índi a, Itália, Países

Baixios., Papua Nova Guiné, Peru, Polônia, República Democrática

Alemã, República Federal da Alemanha, Romênia, S u é ci a, Tchecos

liováquia e Uruguai.

A q ua l i fi c a ç ã o de Membro Consultivo correspon­

de aos países que originariamente firmaram o Tratado Antártico,

sendo também concedida âs partes 'contratantes mediante demons-r

tração do respectivo inte res se pe la An t á r t i da , através da p r o ­

moção s u b st a n ci a l de at ividade c i e n t í f i c a , como instalação de

estação c i e n t í f i c a ou envio de expedição c i e n t í f i c a (Artigo IX,

Parágrafo 2 ) . Esta categoria de país tem voz e voto nas Reu-


t'
niões Consultivas do Tratado é. nas Reuniões E s p e c i a i s . A P ol ô­

n ia (1977), a Alemanha Federal (.1981), O B ra si l e a índia

(1983), além dos doze países originários., são Membros Consulti^

vos do Tr atado. A República P o p u la r . d a China e o Uruguai são

candidatos a essa qual id ade .

Conforme p re vis ta s no próprio Tratado (Artigo

IX, Parágrafo 1 ) , já foram r e a l i z a d a s treze Reuniões de Cons.ul^

ta do Tratado da An tár ti da: Camberra (1261), Buenos Aires (1962),


131

Bruxelas (.1972) , Santigago (1966) , P a r i s "(1968) T õq ui o (1 97 0) ,

Wellingtan (.1972), Oslo (1974), Londres . (19.77) , Washington (1979), Bue­

nos Aire s (.1980) , Çamberra (.1983) e Bélgica (..198 5 ) .

0 Tratado da Antártida estabeleceu basicamen­

te: o uso ex cl u si vo do continente para fins p a c í f i c o s , a :.li- .

berdade de p es qui sa c i e n t í f i c a , a proibição de explosões nu

cleares e o fortalecimento dos fins e princ ípio s da Carta das

Nações Unid as. Poderá ser revisto a qualquer tempo, mediante

o acordo unânime dos. Membros C o n s u l t i v o s , sendo que as even -

tuais modificações serão impostas âs demais Partes Contratan­

tes (às Partes que aderiram ao Tratado e que não- têm o status

de Membro Consultivo) (Artigo X I I , Subparãgrafo l ( a ) el(b)).

Quanto âs reivind ic aç ões territoriais , o Tra­

tado est abe lec e o congelamento durante o período de sua vi­

g ên ci a , determinando que nenhum at>ò ou ativi dad e r e a l i z a d a nes

te lapso de tempo co n st it u i rá base para proclamar, apoiar oú

contestar reclamações de ordem t e r r i t o r i a l sobre o continente

antártico (Artigo I V ) .

Ainda com relação ao Tr at ado da A n t á r t i d a , ê

i nteressante notar dois pontos fundamentais que dizem r e s p e i ­

to à sua v i g ê n c i a e â extensão de poderes de seus Membros Con

s u l t i v o s , consubstanciados, em seu Artigo X I I , Pãrãgrafo 2. So

bre estes poiitos e x p l i c a Ch ri st ia n G. Caubet que , ao. contrã -

r i o do que comumente se i n t e r p r e t a , o A r t i go X I I , Parágrafo 2

não defi ne o prazo de v i g ê n c i a do Tratado, que ex ti ng úi r - s e-

ia t r in t a anos depois de r a t i f i c a d o .
132

"Na realidade o art. XII-2 faculta às partes consulti­


vas requerer, trinta anos após a entrada em vigor do
tratado, a reunião de uma conferência para rever seu
funcionamento. Nessa eventualidade as possíveis modi-
ficàçõçs .. deveriam ser aprovadas pela maioria dos
membros [consultivos e aderentesj, nela incluída a
maioria das partes consultivas. Entretanto, essas re -
servam-se tambem um direito de veto, pois as modifica­
ções aprovadas devem ser igualmente ratificadas (e
portanto aceitas) por todas as partes consultivas,pa­
ra entrarem em vigor. [^Têm, as últimas, como se vê, di
reito â voz, voto e VETO^Os.) insatisfeitos só pode­
riam permanecer membros submetendo-se à decisão das
partes consultivas (de não alterarem o tratado), ou
retirar-se. Isso significa que o tratado ê caça reser­
vada das partes consultivas e que a opção dos tercei -
27
ros reduz-se a alternativa: love it or leave it."

Pode-se di zer q u e , politicamente , hã duas posiL

ções tomadas por países diretamente interessados na A n t á r t i d a : a

"territorialista" e a " i n t e r n a c i o n a l i s t a " . Os que defendem a te

se " t e r r i t o r i a l i s t a " consideram o continente austral res nulliús,

isto ê, que não pertence a ninguém, sendo po rtan to, p a s s í v e l de

apropriação e aplicação de s o b e r a n i a s n a c i o n a i s . 'Por outro lado,

os " i n t e r n a c i o n a l i s t a s " entendem a Antár tida como res comunis ,o u í

seja, de todos e não passível de apropriação e soberania n a c i o ­

nal.

A Argentina é um dos. países defensores da tese

"territorialista". Sua Comissão Nacional do A n t á r t i c o , por atr_i

buições conf er ida s pelo Poder Executivo N ac i o n a l , definiu o se­

tor antártico a rge nt in o "como o que se encontra sit uado entre os

meridanos 2 5 ° e 7 4 ° de latitude Oeste de Greenwich,ao sul dos


133

6 0 ° de la ti tu d e Sul” (Comunicado n 9 4 , de 12 de março-^deT" 1 9 4 7 ) ,

com uma sup erf íc ie de 1.23Q.Q0Q km2 . 2 ^

0 regime legal disposto pelo Tratado Antártico

s i g n i f i c a a inte rn a ci o na li za ç ão do co n ti ne nt e, afirma D e l ia
29
Be atriz C a r ub i ni . Neste se nt i d o , Vicente A. Palermo..aduz que

as ameaças da situação j u r í d i c a de t e r r i t ó r i o de caráter inter

nacional da Antártida estão sendo sentidas pela Argentina nos

últimos anos:

"a ambição das grandes potências, as diferenças com o


Chile, ccm- a Inglaterra, com o Brasil, etc, a presença
em nosso território de grande quantidade de bases e_s
trangeiras, o fato de que nada pode impedir - nem se-
30
quer protestar por - o estabelecimento de outras,etc.,”

Segundo o autor, a condição de países não re -

clamantes de soberania t e r r i t o r i a l em que se encontram Rússia


31
e Estados Unidos nao s i g n i f i c a , em ab soluto, uma atividade

generosa destas potên ci as. Deve, isto sim, ser entendida como

uma es tr a té g i a q u e , atribuindo igualdade de condições formais

entre os países interessados na A n t á r t i d a , permite a imposi -

ção do peso daqueles países que detêm melhores condições p o l í ­

ticas , econômicas, m i l i t a r e s , c i e n t í f i c o - t e c n o l õ g i c a s , ou S£

j a , melhores condições roais de atuação na A n tá r ti da .

Nestes termos., o Tratado Antártico congelaria

apenas, formalmente as relações de força entre os países inte­

ressados na An t á r t i da , representando tão somente uma falsa con

cessão das grandes p ot ê n c i a s , que não fizeram reclamações ter


134

ritorisis sobre a área. Para Vicente A. Palermo, a :respòsta

vi áv el para fazer frente a esta situação p a r t i r i a de uma vi­

são c o n ti n en t al , onde a Antártida s e r i a o .eixo da integração

latino-americana. Propõe ele a estruturação dos interesses n a ­

cionais latino-americanos dentro de uma p o l í t i c a continental ,

tendo em v i s t a fatores como seguran-ça e desenvolvimento.

Ainda com relação aos problemas t e r r i t o r i a i s ,

embora o Br a si l não tenha formulado nenhuma reclamação . .desta

ordem sobre a A n t á r t i d a , sua es tr até gi a de ocupar posições nes

se continente ê v i s t a por Bernardo N . . Rodriguez como "parte de


32
um clima de expansao 'i m p e r i a l ' de nossos v i z i n h o s . " Assim,

o envio de expedições c i e n t í f i c a s e o estabelecimento de e s t a ­

ções de observação metereolõgica p e l o . B r a s i l deveriam ser enca

radas com maior m al íc ia: "não duvidamos' que possam servir a

estes, objetivos lou váveis, mas tampouco duvidamos que por de


33
tras deles éxistem outros menos d e s i n t e r e s s a d o s . " Entre os

objetivos b r a s i l e i r o s escusos, o mais importante se ri a de cara

ter e s t r a t é g i c o . 0 estabelecimento de bases b r a s i l e i r a s na An­

tárt ida se ri a desaconselhãvel para a A r g e n t i n a , considerando-

se a hipótese de um co n fl it o li mitado, onde e x i s t i r i a a possi­

b i l i d a d e de Ar gen tina e B r a s i l se enfrentarem. "De todo modo,

em p r i n c í p i o , . ocmais convéniente para nos é que o B r a s i l não


34
tenha bases na A n t a r t i d a . "

Não obstante o B r a s i l não se enquadrar dentro

da categoria de país t e r r i t o r i a l i s t a , o que já foi frisado, a

p o s s i b i l i d a d e de que possa futuramente v i r a reclamar sobera

n i a sobre algum setor na Antártida assusta aos geopolíticos ar


135

g e n t i n o s , que já têm problemas desta natureza com o Chile e com

a In g la te rr a . 0 setor argentino e pretendido totalmente pela

Inglaterra, cujo setor esta situado entre os meridianos 20° e

80° W Sul, e s.e superpõe parcialmente ao setor ch ile no , localis

zado entre os meridianos 53 ° e 9.0° W. Sul (.o Chile aceita como

aetor argentino somente o setor 25 ° e 53° W Sul) (Figura 8j .

Analisando a posição b r a s i l e i r a com relação a

Antártida e como o B ra si l tem encaminhado sua p o l í t i c a a n tá rt i ­

ca para alcançar seus o b je t i v o s . n o f u t u r o , Miryam Colacrai de

Trevisan a s s i n a l a algumas coi ncidências que reputa como impor -

tantes entre as atitudes governamentais b r a s i l e i r a s e posturas

dos teóricos defensores de um setor para o B r a s i l na Antártida.

Ou s e j a , i nt ent a demonstrar que, embora a . t e o r i a da defronta -

ção não s e j a sustentada oficialmente pe lo governo b r a s i l e i r o ,

subjaz seus fundamentos e pretensões nas considerações ex pre s­

sadas pelo B r a s i l ao aderir o Tratado A n t á r t i c o .

A Teoria da Defrontação foi enunciada par Delgado


35
dè Carvalho e Therezinha de Castro em 19 56 . Sustenta

que, desde um ponto de v i s t a g e o p o l í t i c o , o B r a s i l está em

condições de r e i v i n d i c a r d i re i to s t e r r i t o r i a i s entre os meri -

dionais 45°W e 25°W de lati tud e S u l , que corresponde a proje -

ção dos limites do país até o v ér ti ce do Polo. (Figura 9)..

Miryam Colacrai de Trevisan, observa que esta

concepção joga com dois. elementos g e o p o l í t i c o s : dá prioridade:

à lo calização geográfica do B ras il como país que defronta a ma’

ior costa a tl ân ti ca com a A n t á r t i d a , e privilegia o fator es-

tr atêgicc-defensi vo quando imputa ao B r a s i l re spo nsa bil id ade


136

Figura 8. (JLa A t l a n t ã r t i c a , op. c it.,

p. 227)
137

Figura Henriques., Eld er de M ell o. Uma vis ão da

A n t á r t i c a . Rio de J a n e i r o , _Biblioteca

do E x é r c i t o E d i t o r a , 1984 . p. 37.)
138

sobre a zona de seguridade americana, por ser país firmante do

Tratado Interamericano de A s s i s t ê n c i a Recíproca (TIAR). 0 que

para a autora deve ser lembrado é que os dois elementos aci­

ma guardam si m ili tu de com dois dos cinco princ ípio s enunciados

pelo B r a s i l para fundamentar seu depósito de adesão ao Tratado

An tár ti co, que são os se gu int es:

"Brasil, em virtude de possuir a mais extensa costa ma­


rítima do Atlântico Sul, costa esta.em sua parte expos­
ta fdevassada), ao continente austral, tem interesses
diretos e substanciais na Antártida", e "A propósito da
significação particular da Antártida, caberia acentuar
que seu reconhecimento determinou a inclusão de parte
do território antártico.na zona descrita pelo art. 49
do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca,sen­
do o Brasil, portanto, corresponspavel pela defesa da
,,36
região : .

Tendo em mente esta coin cid ên ci a de pontos en ­

tre a te o r ia g eo po lí tic a b r a s i l e i r a e os atos governamentais

brasileiros, infe re Miryam Colacrai de Tr evisan que tudo apon­

ta para avanço das pretensões . t e r r i t o r i a l i s t a s do B-rasil sobre

a A n tá r ti da , que possivelmente as o f i c i a l i z a r á no fu t u r o , a

partir, por exemplo, das fundamentações da Teor ia da Defronta-

ção.

Em conclusão, diz a autora que a

"Argentina como membro do Tratado Antártico.e como país


latino-americano deve [colaborar com o Brasil), mas na
justa medida, para não ver lesados ou diminuídos _seus

>
139

próprios interesses nacionais. Deve levar-se em conta,


ademais, que a atividade que tem desenvolvido ininter­
ruptamente na região [jantãrtica] desde 1904 se traduz
em experiência; por isso devera planificar cuidadosa -
«1 —
mente os termos em que dita colaboração havera de con-
cretizar-se. ,.37

2.4. A HEGEMONIA BRASILEIRA

Tendo-se em conta a perspectiva dada por teóri^

cosíimportantes da Çeopolítica argentina sobre questões como a

Bacia do P ra t a , o A t l â n t i c o Sul e a A n t ã r t i d a , assim como o mo­

do que os mesmos têm encarado o comportamento do B r a s i l na

condução dos temas mencionados, foi possível v e r i f i c a r a ten -

dência a uma postura que v a r i a da cr ít ic a a uma v i s í v e l h o s t i ­

lidade .

De f a t o , existe uma atenção p r i v i l e g i a d a por

parte dos geop ol íti co s argentinos com relação ã hegemonia e â

p o l í t ic a t e r r i t o r i a l que o Brasi l t e r ia exercido ao longo de

sua h i s t o r i a , não so com respeito ã Ar g e n ti n a , mas também a

todo o conti ne nt e. Essa tradição b r a s i l e i r a te r ia continuidade

na a t u a li d a d e , fundamentada, por exemplo, nos laços de conivên

cia do B ra si l com a p o l í t i c a norte-americana, a fim de tor­

nar-se um socio-menor da relação im pe r ia li st a da grande p o tên ­

cia com os países latino-americanos.

.Os termos da r i v al i d a de entre o B r a s i l e a Ar-


38
gentina foram caracterizadas , por Juan E. G u g li a l m e ll i que,

seguindo um panorama mais geral de a n ã l i s e , entendeu que as


140

c o n st an te s .d a p o l í t i c a b r a s i l e i r a no Cone Sul seriam:

1. Até o período do Barão do Rio Branco, com o apoio

britânico, os objetivos do Brasi l eram os de ampliação de seu

t e r r i t ó r i o até as " f r o n t e i r a s n a t u r a i s " ou para além das mes­

mas; abertura do rio Paranã ã livre navegação, tendo em v is ta

seu caráter de articulação v iá r ia com o i nt er i o r do p a í s ; atua

ção hegemônica junto ao Paraguai e .dèbilitajnsnto..'''' ' da poderosa

v iz i n h a arg en ti n a.

2. Durante o período do Barão do Rio Branco o Brasil

abandona a a l ia n ç a com a Ing la ter ra e , em su b s t i t u iç ã o , estabe

lece uma associação com os Estados Unidos, potência então emer

gente. Esta "as sociação íntima” , do B ra si l com os Estados Uni -

dos e s t a r i a baseada.em "s ól i d o s argumentos g eo g rá f ic o s " e na

complementariedade de int eresses econômicos e p o lí t ic o s entre

os dóis p a í s e s , Neste período existe uma continuidade da p o l í ­

tica de expansão t e r r i t o r i a l b r a s i l e i r a e um assentamento da

importância do fator espaço como elemento de poder do Estado.


i

3. A p a r t i r daí a p o l í t i c a b r a s i l e i r a se c a r a c t e r i z a

através de sua atuação no processo de formação do Sistema Int£

ramericano, seus posicionamentos na O . E . A . e nas duas Grandes

Guerras. Neste período o B ras il enfrenta diplomaticamente a Ar

gent ina , que tem o apoio b r i t â n i c o ; p l a n i f i c a e desenvolve in­

dústrias pesadas e setores básicos, da economia, e assume o p a ­

pel de "país. c h a v e " , designado pelo governo norte-americano.


141

4. Atualmente [19.7 5] a pedra de toque da p o l ít ic a br

si.lei.ra no Cone Sul e s t a r i a colocada dentro do marco de um de -

senvolvimento acelerado de seu potencial econômico e sua inte -

gração territorial. Alguns direcionamentos: Itaipu, como forma

de controle de recursos hid ro elé tr ico s no Alto Paranã e hegemo­

n i a sobre o Paraguai; construção acelerada de um sistema viário

que sirva ao porto de Rio Grande; o predomínio sobre o Uruguai,

n e u t ra l iz a n d o os esforços de cooperação por parte da Ar ge n tin a ;

a consolidação de sua hegemonia sobre a B o l í v i a , particularmen­

te no que di z re spe it o ao controle sobre os minérios e hidrocar

bonetos b o l i v i a n o s ; o estabelecimento de firmes vínculos econô­

micos e de seguridade com o C h i l e , com v is ta s a aproveitar al­

guns recursos minerais desse p a í s , bem como afastá-lo da Argen­

tina;, a neuitralização das relações entre a Argentina e o Perü ,

através de uma " o f e n s i v a de entendimento", e o avanço, a médio

p raz o, junto à Ant ártida e ao At lântico Su l.

Consoante o que entende como tradicional na

atuação externa do B ra si l e , sobremaneira, o momeúto presente

das relações entre a Ar gen tina e o B ra si l [ l 9 7 5 ] , Juan E.

Guglialmelli cpta por uma atitude de negociação, já 'que ambos os

países são importantes dentro de suas respectivas p o l í t i c a s e x ­

ternas. A d u z , no entanto, que,

"sem renunciar à negociação, a Argentina deverá preparar-


se para uma alternativa de rechasso, que seguramente pode
ser dissimulada com expressões de b.oas intenções coopera­
tivas,, mas de dilatada e inacahãvel concreção. Contra es­
ta possibilidade., nada melhor qué negociar a partir de
adequadas condições de força e ccm a firme convicção de
142

enfrentaram caso necessário, as piórés . alternativas ,


39. '
incluindo o CCTif litò ántiádo>"

A i n d a no que diz r e s p e i t o a conduta do Brasil

com relação a seus v i z i n h o s , observa A lf r e d o R i z z o Romano que

ha uma

"velha pratica ihtervencicnista na.America Espanhola, [de


mcnstrada pelasjreiteradas invasões [brasileiras | ao
território da Banda Oriental do Uruguai, a chamada Guer
ra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-1870) , a
derrota do General Rosas em Caseros (3/2/52) ccm inter
venção de tropas brasileiras,o assenhoreamento de
180.000 km^ de território do Acre (Tratados de 1867-
1902) ccm os hábeis manej os de Rio Branco, o pagamento
de libras esterlinas à Bolívia e a promessa de construir
um ramal ferroviário Mamaré-Madeira, a exitcsa disputa
can o Peru, na questão de território dos rios Madeira e
Javari, e ccm a Colcmbia na questão do Amazcnas , ademais
do exito logrado no laudo, arbitral do presidente norte-
americano Grover Cleveland (1895) , pelo qual [-a Argen
tina perdeu} uns 20.000 km do território de Missicnes ,
entre os rios Papiri em San AntanioMini , assim demoni
nades, atualmente, e os rios Chcpin e Jangada, segundo
nanenclatura portuguesa.

Continua A. R i z z o Romano dizendo que o Brasil

também obteve vantajosas fr on te ira s da Venezuela e que seus

impulsos expansionist as só.foram contidos nos extremos Norte e

Sul por causa de seus problemas com a França, a Inglaterra e a

Holanda nas Guianas e porque a Ar ge n tin a lhe impediu a conquis^

ta da Banda O r i e n t a l do Uruguai e o livre acesso ao r i o da Pra

ta.
143

No entanto,, o que há de mais interessante nas

anotações de A l f r e d o Ri.zzo Romano é q u e , apesar do seu tom críti

co ao abordar a h i s t o r i a da relação do B r a s i l com seus vizi^

nh.os , conclui suas. .ob.se.rvações dizendo que enquanto " o B r a s i l se

manteve em uma concepção de certa gra ndeza e s u p e r i o r i d a d e " , na

Ar g e n ti n a "nos destruimos em es té re is disputas internas e com

as irmãs Repúblicas H i s p a n o - a m e r i c a n a s . " ^

E s t a aparente, contradição'encontra-se mais evi

dente no pensamento de Isaa c F. Rojas que , r e i te ra d am en te , tece

cr ít ic a s contundentes ao B r a s i l , ao mesmo tempo em que faz co

mentãrios el og io sos . Neste se n ti d o o seguinte trecho é bastan

te e lu c i d a t i v o :

"0 Brasil herdou uma vocação imperialista que sublima


sem desfalecimento, ccm tenacidade e ccm determinação a
tavicas , para'projetar-se ao futuro grandioso que fi
xou para si. Preparou uma classe dirigente lúcida, pre
visara e culta que cumpre sua missão e que .dará todos
os passos e realizara todos' os esforços, sem cantem
:plação para os custos, a fim de alcançar os objetivos
nacionais. Agora acelerou a marcha e crava os pilares
que sustentarão seu poderio, ccm não menor .habilidade
e resolução da que vanglarizavarii-se seus mestres e an
tepassados, os antigos lusitanos

Assim , n ec es sár io é que se tente avançar um pou

co na re fle xã o sobre a c r í t i c a da G e o p o l í t i c a arg entina à poli

t i c a externa b r a s i l e i r a . Faz-se mister a v a l i a r os limites dessa

c r í t i c a e o que hã de subjacente n e l a . Ou s e j a , é p r ec i so perce

ber que a c r í t i c a não transmite a mera i d é i a da não aprovação,


144

mas, p rin ci pa lm en te , a i d é ia da não aprovação pela i n e x i s t ê n ­

ci a da p o s s i b i l i d a d e de agir da forma " c r i t i c á v e l " . E evidenr.

te que a p o l í t i c a externa do B r a s i l , neste contexto, torna-se

criticável não propriamientè ,pelas opções que tem f e i t o , mas

meramente por não v ir ao encontro dos desígnios " n a c i o n a i s "a r

gentinos.

3. DO PRINCÍPIO DA CONTENÇÃO AO ENTENDIMENTO

No decorrer deste capítulo procurou-se eviden­

ciar q u e , de uma forma ou de outra a Geopolítica argentina e s ­

tá presa nas. malhas do previlègiamento do c o n f l i t o ,■ que ê a tô

n i c a da G eop olítica t r a d i c i o n a l . A b el i co si d a d e das relações in

te rna ci on ais torna-se, assim, a chave, para a compreensão dos a

contecimentos pas sados, a j u s t i f i c a t i v a dos fatos presentes e

a a v a l i s t a das atitudes f u t u r a s . A v i o l ê n c i a afigura-se como a

constante através da qual a h i s t o r i a hã que ser enten dida , e

como um fato r delimitador ou eliminador das p o s s i b i li d a d e s da

con st it u i çã o de formas al te r na ti va s do relacionamento interna-


i
cional.

Viu-se que o -.aproveitamento h id r o el é tr ic o da

Bacia do Prata con stitui um dos temas mais apreciados pelos

geop olític os arg entinos, sobremaneira a p a r t i r da assinatura do

Tratado do I t a i p u , firmado entre o B r a s i l e o P a ra gua i, em

19 73 . Nesta época acentua-se a produção de estudos sobre a Ba

cia do Prata enfocando diversos aspectos. Estes estudos têm co

mo denominador ccmum a visão de Itaipu ccmo um projeto p o l í t ic o b r a ­


145

s i l e i r o voltado a estender e a consolidar a hegemonia brasilei.

ra sobre o Paraguai e a Ar g en tin a . A assinatura do tratado tr i

p ar ti te entre A r g e n t in a , B ra si l e Pa ra gu a i, em 19.79, objetiuan

do a compatib.i lização das. represas de I ta i pu e Corpus , não mó


d i f ic o u a tendência â refericfa v is ã o .

No entanto, outra realidáde merece r e g i s t r o .A o

contrario do que os geopolíticos argentinos reiteradamente ten

tam vislumbrar nas relações entre o B ra si l e a Ar g en ti n a , espe

cialmente no que toca ã construção de I t a i p u , hã uma evidência

de fatos que demonstram que , não obstante marchas e contra-mar

chas , os governos de ambos os países, seguiram sesmpre gerindo d^


43
plomaticamente suas d i v e r g e n c i a s . Alem d i s s o , o ano de 1979

pode ser v i s t o como um r e f e r e n c i a l no crescimento da confiança

mútua e no estabelecimento de formas i n s t i t u c i o n a i s visando a

maior cooperação entre B r a s i l e Ar g e n ti n a .

Neste sentido., afirma Wayne A. Selcher que a

p a r t i r de 1979 o relacionamento b r a s il ei ro - a rg e nt i n o passa a

ser r e a l i z a d o

"mais em termos de oportunidades do que de controvérsias.


Excelentes relações diplcmãticas estão sendo estendidas
a vãrios. setores de atividade. Ambos os governos estão
agora dispostos a discordar em alguns pontos de política
externa e a buscar objetivos diferentes sem imputar moti
vos inconfessos. ao outro lado, quando este recusa-se a
44
aceitar alguma proposta."

A direção dos argumentos da ge op o lí ti c a argen-


146

ti na quando do tratamento dos problemas concernentes ao Atlãnti_

co Sul e a Antártida não foge à regra g e r a l . Com relação a es­

tes temas, os rac iocíni os geopolíticos levaram, da mesma forma,

a considerar o B r a s i l como um país com uma preocupação expansio

nista. Prin cip al me nt e, e podemos d i ze r que sintomaticamente, a

l ei tu r a dos teõricos geopolíticos b r a s i l e i r o s , como Golbery do

Couto e S i l v a e Therezinha de Castro, não foram colocados nas

devidas proporções em termos de seu si g n i f i c a d o para a inter -

pretação da p o l í t i c a externa b r a s i l e i r a . Não se pesou devidamen

te a procedência e re pre sen tatividade do pensamento de tais au­

tores no, governo b r a s i l e i r o .

F in a lm en te , parece não haver dúvida de que a

Geopolítica argentina r e f le t e uma ca ra c t e r í s t ic a geral da Geopo

lítica tradicional. A visão que capta das relações b i l a t e r a i s en

tre o B r a s i l e a Ar ge n ti n a , por exemplo, não deixa .de fazer

eco aos p ri nc íp i os da restrição ao entendimento e da preserva -

ção do ressentimento.

i
147

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Com a morte de seu fundador, Juan Enrique Guglial me lli (9


de junh o.d e 1983), o In st it u to Argentino de Estudos Estra
tégicos e Relações In ter nac io na is (INSAR) passou a cha­
mar-se Centro Argentino de Estudos Est ra té g ic o s.

2. RI 1 I 0 ROMANO, Al^ftedo H. Manual de Ven.ecko Inten.nacZo nal


PublZco . Buenos AZn.es, Plus Ultn.a, 1981, p. 6 37.

3. Referências b i b l i o g r á f i c a s que constam na obra de Rll lO R()


MANO, Albedo H. Manual de Ven.echo I nten.nacZonal PúblZ-
co., op. cZt. , por ordem de ci ta ção : ST0RN1, Segundo R.
Tn.abajos hZdn.o gnã^Zcos y iZmZtes an.gentZnos en el Canal de
B e a g l e . Buenos AZn.es, MZni.sten.Zo da MatiZnha, 1 905 ; RI I I O
ROMANO, Alfifiedo ff. Bases patia uma geopolZtZca angentZna .
Buenos AZn.es, Las X I I T a bla s, 1 9 73 ; QUINTANA, LãcZo More­
no. Tn.atado de VZn.eZto I nten.na.cZonal PublZco . Buenos AZ-
n.es , 1 963 ; PARVO, LuZs Man.Za P a b l o . PosZcZon geopolZtZca
cLfigentZna. RevZsta de la Facultad de Veniecho. Buenos AZ-
Aes, 1 948-50; SAWZ, Pablo. El espacZo afigentZno . Buenos
AZn.es, Pleaman., 1916; ASSEF, Alben.to. Pn.oyeccZÕn contZ -
nental de l a AfigentZna. Buenos AZn.es, Pleaman., 1 9 80.

4. CAUBET, Chn.ZstZan Gn.ey. A geopolZtZca como <Teon.Za das Re­


lações lnten.nactonaZs . SequêncZa. Vlon.ZanÕpolZs', 18)-.71
dez. 1983. p . 41.

5. Ib Z d . p .7 1 .

6. RIZZO ROMANO, Al^fiedo H. Manual de Ven.echo InteunacZonal


PúblZco. , op. c Z t ., p . 62 5.

7. "Com a capacidade de 1 2 , 6 milhões de KW e a custo calculado


em 2 . 5 0 0 a 3 . 5 0 0 de milhões de d õ l a r e s , a h i d r e l é t r i c a se
rá a maior do mundo, superando as de Grand C o u l é e , n-os .EUA
148

( 9 , 7 milhões de KW), Krasnoyarsk,na URSS ( 6 , 9 milhões de


KW). Serã seis vezes maior que a de Assua:pc, no Egito."
SCHILLING, Pauto R. 0 expanAZonZómo bh.aòZteZh.0 ; a g&opo-
tZtZca do gene.h.at Gotbeny e. a dZptomacZa do I tamah.atZ. ,
op. cZt., p . 1 2 1.

8. FUSCHIWí MEJ.ÏA, \kah.Zo. La òZngutah.Zdad ge.ogh.ã{sZca guayh.en-


6e. .
- Buenos AZh.ei , ÕZko-ô , 1 9 78 . p . 56-8. , a p u d ., LLÁVER,
Mah.Za det Canmen. Et pA.obte.ma det aph.oveckamZento kZdh.oeté_
tfiZco dut Atto Pafianã. RevZòta An.go.yiti.Yia de. Re.tacZone.-6 In
teh.nacZonate-ò . Buenot> Ai.net>, (7 5) .-2 6 .

9. ROJAS, Jòaac Eh.ancZico. J ntefieò e-6 ah.gentZnoò en ta Cuenca


det Ptata. 3. ed. Buenos AZh. et>, EdZç.õe.6 LZbe.h.a, 1 97 5 . p.
256-7.

70. GUGLI ALMELLl, Juan EnnZque. GeopotZtZca det Cono S u n . Bue­


nos AZh.e.0 , Et CZd EdZtoh., 1 9 79. p . 164-5.

11. LLAl/ER, Mah.Za de.t Cah.me.n. Et ph.obte.ma det aph.ovechamZento


kZdh.oete.th.Zco de.t Atto Vananã. RevZita AngentZna de Re-
tacZone ..6 I nteh.nacZonatei>. Buenos AZh.et>, [ 1 5 ) : 31.

12. RÖJAS, I òaac FfiancZòco . I nte.h.e.i> eh ah.gentZnot> en ta Cu&nca


det P t a t a . , op. c Z t . , p. 191-2.
V

13. I b Z d . p . 2 3 7.

14. GUGLI ALMELLl, Juan Enh-Zque. Th.e-0 batattaò pe.h.dZdat> poh, ta


AfigentZna y ahofia petZgfioòaò penòpectZvaò : et pap&t de
"aÕcZo menoh." det BfiaòZt. Eòth.atêgZa. Buenos AZh.eò. (61-
62): 1 8-9 , 28. nov. 1980/he.v. 1981., a p u d ., CAUBET, ChfiZò -
tZan Guy. VZptomacZa, GeopotZtZca e. V.Zh.e.Zto na BacZa do
Ph.ata. PotZtZcà e EòtndtégZa . p. 34 1-2.

15. LL Al/ER, M afiZa de.t Cafimen. Et pfiobtema det aph.ovncke.mZe.nto


hZdh.oete.th.Zco det Atto Pafianã. R e v Z i t a . Ah.ge.ntZna de. Reta-
cZone.& lnte.h.nacZonatz& . , op. c Z t . , p. 36.
149

16. GUGL1ALUELLÍ, Juan EnfiZqun. Ge.opotZtZca de.t Cono Sun.., op.


ci.t. , p .1 98 .

17. ROJAS, lia a c F fianctico. I nte.fie.i e,i. afLge.nti.noi &n ta Cuenca


de.t P t a t a . , op. ci.t. , p . 180. A construção de Itai pu cau­
sou polêmica também no Brasil e no Paraguai. Em a b ril de
1985, o pr ofes sor paraguaio e estudioso dos temas energé­
ticos, Ricardo Canese, assinalou que o aspecto mais crit_i
cãvel dos termos do Tratado de Itai pu para o Paraguai é
a i r r i s ó r i a compensação que este país receberá por ceder
ao Br a si l toda a energia que não possa consumir. Nestes
termos, admite que "o Brasil pode, sem dúvida, conseguir
que perdurem os atuais injustos termos do Tratado de Itai_
pu. Tem força econômica e m il i ta r para i s t o . " No entanto,
conti nua , " é o novo governo democrático b r a s i l e i r o que
deve d e c i d i r continuar o penoso caminho da i n j u s t i ç a e da
confrontação ou, mudando o rumo seguido por regimes m i l i ­
tares do p as sad o, eleger a v i a larga da cooperação e da
justiça." CANESE, Rtcafido. ltai.pu: co ope.ftaç.ão ou con^ti-to.
Fotha de. São PávLto. São Pauto, 21 abfi. 19 85. OpZnZão. p . 3.

18. Sobre esta d eli mi ta ção , o autor chama a atenção para a exi_s
tência de um c r i t é r i o oceanogrãfico d i s t i n t o , sustentado
pelo C h i l e . Esta diferença co n st it u i uma das questões mais
delicadas na região do Atlântico S u l, cuja solução foi
obtida com o Tratado de Paz e Amizade, celebrado entre o
Chile e a Ar g e n ti n a , em outubro de 1984 (v er nota do capí^
tulo a n t e r i o r ) .

19. CÁSELLAS, Atbzfito 0. Et pA.obto.ma pe.ique.fio. La Atlantãfiti.da.


Bue.noi A-in.e.6, Pte.amafi, 1 9 78 . p. 153.

20. MONETA, Cafitoi Juan. Inte.fie.ie.i afige.nti.no0 e.n e.t A ttá nttco
Sufi: zt c.aio de. t a i fii.que.zai m tm fiai e.n a t t a mafi. La
A tta h tã fitZ d a . , op. c Z t ., p . 123.
150

21. PALERMO, VZcente A. Lati.no am eh.i.ca puede ma-ó: Qe.opoZ.Zti.ca


deZ AtZantZco Safi. La AtZantcLh.ti.da. , op. ci.t. , 176 -7.

22. GUGL1ALMELL1, Juan Enh.i.que. GeopoZZttca deZ Cono Safi. , op.


c Z t . , p . 2 0 9 -1 0 .

23. "A palavra Antártica é o r i g i n á r i a do grego 'Antarktikõs' ,


pela inclusão do p re fi x o 'anti' (oposto, contrário, con­
tra) ao termo 'Arktikõs', usado desde a antiguidade grega
para designar as constelações da Ursa, termo este que
passou para o latim como o ad jetivo 'Arcticus', para sig
nificar ’ setentrional, do n o r t e ’ . A inclusão do prefixo
'a n ti', ao termo 'Arktikõs', compondo o adjetivo 'A n ­
ta rk ti k o s' (no latim Ant arc tic us) passou a significar,
evidentemente, 'austral, me rid io na l, do s u l ’ . No p ort u­
guês a palavra An tá rc ti d a, ou, pela nova o r t o g r a f i a , An
tãrtida, é usada para designar o substantivo, com o s u f i ­
xo 'ida' [...]. Alguns f i l ó l o g o s , entretanto, consideram
o termo Antártida como um espanholismo, argumentando que,
em português, a palavra correta seria An tá r ti ca . (Utilizar
se-ã aqui] a palavra A n tá r ti da , por ter sido esta a usada
pelo governo [ bra sil ei ro] em seus decretos sobre o assun­
to." EAKKER, MúcZo PZtiagZbe Ri.bei.h.0 de.. AntãfitZda, um de
òa^Zo e uma eàpefiança. RevZ&ta bfiaòZZeZfia de tecnoZogZa .
73( 3 ) r 2 7, jun./juZ. 1 982. 0 almirante Múcio Piragibe Ri-
i
beiro de Bakker, ligado ao ex-Ministro da Marinha Maximiano
dà Fonseca, f oi o criador do Programa Antártico
Brasileiro (PROANTAR) e secretário da Comissão Intermini£
terial de Recursos do Mar (CIRM) até 1983.

24. COLACRAl VE TREV1SAN, MZfiyam. BfiaòZZ y Za AntãhtZda: Znte-


h,et>ei> y peh.0 pec.tX.va0 . E&tfiatégZa. Buenoò AZfieò, [7 3- 7 4 ) :
135, out./nov./dez. 1 9 82 e j a n . / fiev . /mah.. 1 9 83.

25. FÕURCAVE, Neàtoh. H. AZgumaò conòZdeh.acZone-í> òobfte Z oò fie-


cuti&o& no fienovabZe& deZ Antah.ti.co. Lá AtZantáfitZda. , op.
cZt ., 222-3 .
151

26. As informações sobre o Tratado da Antártida que constam no


presente item foram colhidas no Voc. Al 3 9 / 5 8 3 (PaAte 1.
31.10.S4) p. 23-ó.i . Õ. N. U . Aò&embtéZa GeAat.

27. CAUBET, ChAZòtZan Guy. VZmenòõei> ameAZcanaA da AntaAtZca .


Eòtudo apAeò entado no IX Encontro Anuat da AòòocZação Na-
cZonat de. PÕA-GAaduação e PeiquZòa em CZencZaó SocZaZé -
(A NPÕCS) [Ãguaò de São PedAo, S. P . ) . GAupo de TAabatho Re
taçõeó InteAnacZonaZé e PotZtZca ExteAna. 13 out. 1985 ,
p. 6 .

28. Apud. , Rl l l õ ROMANO, At^Aedo H. Manuat de VeAecho InteAna-


cZonat PúbtZco . , op. c Z t ., p. 776 e 176.

29. 'CARUBINI, VetZa B e a t A t z . AAgentZna y toò fiZne-i det tAatado


antaAtZc. 0 . AAgentZna ante et mundo. Buenoi AtAeò, [ 13) :
5 7 , mafi. / abfi. 1 9 82 .

30. PALERMO, VZcente A. LatZnoameAZca .puede ma-6 : geopotZtZca det


AttãntZco S u a . La AttantaAtZda. , op. c Z t., p. 177.

31. Além dos Estados Unidos e da União S o v i é t i c a , são países


não reclamantes de soberania os se g ui nt es : Japão, Bélgi­
ca, Ã f r i c a do Sul e B r a s i l . Os países t e r r i t o r i a l i s t a s ,
reclamantes de soberania t e r r i t o r i a l sobre algum setor
da An tá r ti d a , são: Austrália, França, Nová Zel ândia, No­
ruega , Ar gen tin a, Grã-Bretanha e C h i l e .

32. ROVRTGUE1, BeAnaAdo N. SobeAanZa aAgentZna en ta ÁntaAtZ-


da. La A ttantaAtZda. , op. c Z t . , p. 195. 0 artigo tem data
anteri or a adesão do Brasil ao Tratado da A n t á r t i d a , ocor
r i d a em 16 de maio de 1975, e promulgada pelo Decreto n9
75.963, de 11 de julho de 1975. Ê também a n t e r i o r , por ­
ta nt o, âs expedições b r a s i l e i r a s â A n t á r t i da , re al i z a d as
a p a r t i r de 1982 (primeira, de dezembro de 1982 até feve
reiro de 19 83; segunda, de ; te r c e i r a ,
de ja n ei r o até março de 1985) pelos navios da U . S . P . , " P r o
152

fessor Wladimir Be sn a rd ", e da Marinha, "Barão de T e f f é " ,


e à instalação da base Comandante Ferraz, na Ilha Rei
Georg, arquipélago das Shetlands do Sul ( f eve re iro de
1984).

33. Ib l d . p . 210.

34. I b-íd . p .21 2 .

35. CARVALHO, Can.Zo6 Ve.Zga.do de. í CASTRO, The.Aezi.nha de. A qu.e6


tão da Antãfittda. Revi.6ta do CZu.be Mi.Zi.taA.. Ri.o de Janei.-
A.0 , [142), abfi. / jun. 1 956.

36. Itens " D " e "E" dos princípios enunciados no instrumento de


adesão do B ras il ao Tratado da An tár ti da, depositado pe
lo Mini stro das Relações Exteriores b r a s i l e i r o , Azeredo
da S i l v e i r a , perante o governo dos Estados Unidos (16 de
maio de 1 9 7 5 ) . , a p u d ., COLACRAIVE TREVlSAbl, Mi.n.yam. Bfia
6Í.Z y Za Antan.ti.da: -intefie&eò y peA.6pecti.va6. E6tn.ategi.a.,
o p . ci.t. , p . 14 7 -8 .

37. C0LACRA1 VE TREV1SAN, MLfiyam. Bn.a6tZ y Za Antah.ti.da: i.nte-


fteòe-
6 y pen.6pecti.va6. E6tA.ategta. , op. c i ,t . , p . 148-9.

38. GUGL1ALMELL1, Juan Enn.i.que. GeopoZZti.ca deZ Cono S u Z . , op.


ci.t. , p . 1 7 7 e 6 6 .

3 9. I bi.d. p . 1 96 .

40. R1ZZ0 ROMAHO, AZ£n.edo H. ManuaZ de Vefiecho JnteA.naci.onaZ Pu


bZi.co . , op. ci.t., p. 697.

41 . Tbid. p. 697 .

42. ROJAS, l6aac Tn.anci.6co. Inten.e6 e6 an.genti.no6 en Za Cuenca


deZ P Z a t a . , op. c i , t ., p. 2 64.
153

43. ê neste sentido que CAUBET, ChfiZòtZan Guy. VZpZomacZa, G.zo-


poZZtZca z DZ/izZto na BacZa do Pfiata. PoZZtZca z Eí,t>iatz-
g Z a . São PauZo, 1[ 2 ) : 3 3 5 . a b n . / j u n . 1984. afirma o se­
guin te: "enquanto diplomatas e ju ri st a s procuravam res­
guardar ou i d e n t i f i c a r os interesses em jogo, muitas ana­
lises geop olític as ressaltavam a importância dos antago­
nismos ex ist en te s e ins is ti am sobre os riscos de c o n f l i t o
entre a Argentina e o B r a s i l , por causa da construção de
Itaipu." Sobre este assunto ver outros trabalhos do men­
cionado autor como: Lz ban.H.agz d 'l£ aZ p u zt Zz VnoZt 7 ntzn
natZonaZ FZ u v Z a Z .TouZouóz, UnZvzsLóZtz dzò SaZznczò SocZa
Zz-6 dz TouZouòz, 1 983 . /T h zk z poiLfi Zz Voztofiat d ' E £ a t / 2 V . ;
A g zopoZZtZca como tzofiZa daò fbzZaçõz& ZntzftnacZo n a Z & ; uma
avaZZação cnZtZca. Szquznc.Za. EZonZanópoZZ-ò , 8_: 55- 74 , dzz.
1983 .

44. SELCHER, Waynz A. A& tizZaç.õz& Bna&ZZ - AngzntZna na dzcada


dz 80: da tiZvaZZdadz psizcavZda ã compztZção amZàtoòa. Po-
ZZtZca z E òtn atzg Za. São PauZo, 1_[3): 96, jan. /mafi. 1985 .

i
CONSIDERAÇÕES F IN A IS
155

CONSIDERAÇÕES F IN A IS

Nossa intenção p r i n c i p a l , nas paginas an te ri o re s, foi


a de rever a Geopolítica t r a d i c i o n a l . Para tanto, seguimos um
caminho que se resume em três etapas que aqui apresentamos na
forma de três capít ulo s. A primeira etápa teve como fim trazer
ã discussão as questões rel ati va s ã Geopolítica enquanto saber,
ou s e j a , d i s c u t i r as condições de produção da Geopolítica como
um discurso que se pretende c i e n t í f i c o . Quanto a este aspecto,
vimos que era imprescindível nos dedicarmos a uma reflexão so­
bre o prõprio saber geo gráfico, uma vez que ê graças ao seu
"indiscutível caráter c i e n t í f i c o " que a Geopolítica vê assegura
do seu poder instrumental. Os geopolíticos buscam legitimar suas
conclusões e projetos po l ít ic o s tendo por base noções da Geogra
f i a , as quais vêem como um saber neutro.

Vimos, no entanto, que a Geo gr afi a, como qualquer ou­


tro campo de conhecimento, está longe da n eu t ra li d a d e. Ao con­
trário, a Geografia tem como função p r i n c i p a l dissimular aos
olhos do cidadão o poder q u e . a apreensão da organização es pa ­
c i a l representa. 0 cidadão comum é parte de uma engrenagem espa
c i a i maior que sua percepção p a r c e l a r . Escapa-lhe por completo
o domínio do conjunto e s p a c i a l , assumindo, assim, uma função no
espaço sem percebê-lo. Pensar sobre o espaço e sobre as formas
que os homens nele se organizam s i g n i f i c a a p o s s i b i l i d a d e de v^
s u a l i z a r as estruturas de poder no espaço e de poder nele a g ir .
Por outro lado, a Geo po lí tic a, ainda que ex pl ici tan do seu cará­
ter p o l í t ic o e seu objetivo de promover a integridade e coesão
n a c i o n a i s , tem na Geografia o cabedal de c i e n t i f i c i d a d e que lhe
proporciona a garantia para suas co n c l u s õ e s .

A p a r t i r do que refletimos no primeiro ca pít ulo , pode


mos d ize r que se existe uma di ferença entre a Geografia e a Geo
política, esta diz respeito apenas ao papel que cumprem socia.1
mente, com uma sõ f i n a l i d a d e : assegurar o mecanismo de controle
das relações s o c i a i s . A Geografia funciona ideologicamente no
sentido de el u d ir a função político-militar-econômica do conhe-
156

cimento sobre o espaço, função esta que é consubstanciai ao seu


próprio aparecimento.- A Geo política, evidenciando seu caráter
político, encobre o fato de que a Geografia é sempre uma Geopo
lítica, ou s e j a , que a Geografia tem rio elemento po lítico seu
p ri n c ip a l engendrador e sua f i n a l i d a d e máxima.

Na segunda etapa de nosso tr aba lh o, procuramos eviden­


ciar como se manifestam concretamente as elucubrações geopolíti-
ca s, preocupando-nos, e.m primeiro p l a n o , com a realidade p ol ít ^
ca latino-americana, as relações de v iz in h a n ça entre os países
latino-americanos e as relações que estes mantêm com os Estados
Unidos.

Vimos que, na America L a t i n a , cada país reproduz, em


maior ou menor grau, os interesses ditados pela potência norte-
americana, que postula para si o papel de líder continental con
tra o comunismo i nt ern ac io nal . A al ia n ça que daí advém entre os
países menores e a grande potência se consubstancia na Doutrina
de Segurança Nac ional. Esta do ut rin a, que teve seu período de
máxima v igê nc ia nas décadas de 1960 e 19 70 , tem inspiração na
b i pol ari da de Leste-Oeste e como objetivo formular mecanismos que
assegurem a homogeneização das nações latino-americanas em tor
no dos valores o ci d e n t a is , "democratas e c r i s t ã o s " .

Também no segundo ca pít ulo , estudamos a relação entre


os m il i ta re s e a Geo política, tendo em v i s t a a presença marcan­
te daqueles na implementação dos desígnios da Doutrina da Segu­
rança N a c i o n a l, assim como o fato de que grancle parte dos
teóricos geopolíticos pertencerem aos quadros castre nse s. Obser
vamos que m ili tar es e geopolíticos guardam em comum uma visão
a ut o r i tá ri a e o rga nicista da soc ied ad e, a qual devem guiar e
contr ol ar. Atribuem a si a competência e o dever de zelar pela
"vontade n a c i o n a l " , desenvolvendo projetos de combate ao i ni m i­
go da "c a us a n a c i o n a l " . Neste se nt id o, tanto os m ili ta re s quan­
to os g e o p o lí ti c o s, vêem no t e r r i t ó r i o um fator determinante da
e x i s t ê n c i a de um "s er n a c i o n a l " , e, conseqüentemente, sua m is ­
são de resguardá-lo.

Tivemos oportunidade de rever a Geopolítica produzida


157

no B r a s i l , bem como a p o lí t ic a externa e interna b r a s i l e i r a , d e n


tro das metas da segurança n a ci o n a l. Vimos que o Br a si l tem
uma larga tradição na produção teórica g e o p ol í ti c a, que começa
a se esboçar na década de 1920, e que terá na criação da Escola
Superior de Guerra, em 1949, um elemento aglutinador do pensa -
mento na cional sobre a matéria. Os geopolíticos viram na gran­
deza do t e r r i t ó r i o b r a s i l e i r o a razão para o Brasi l desempenhar
uma função relevante na América Latina.

Numa reação contra este pensamento, no f i n a l dos anos


de 1960, começam a surgir numerosos trabalhos sobre Geopolíti^
ca na Arg en tin a. Sobre ela tratamos no terceiro ca pít ulo , tra­
zendo â reflexão temas importantes por ela estudados. Caracter^
zamos a Geopolítica argentina como uma Geopolítica que se faz
em oposição â do B r a s i l . Ela tem como objeto de anãlise p r i v i l e
giado a atuação do B ras il no continente latino-americano, e,
mais espec ifi ca me nt e, no Cone Sul. Entre outros assuntos, tem
apreciado demoradamente quatro temas: a p o l í t i c a b r a s i l e i r a com
relação â Bacia do Pra ta , ao continente antártico e ao A t l â n t i ­
co S u l , assim como, de modo g e r al , a hegemonia h i s t ó r i c a do Bra
sil sobre seus vizi nho s latino-americanos. Pudemos constatar
que o eixo em torno do qual giram as argumentações é, como de
regra na Geopolítica c l á s s i c a , o enaltecimento do co n f li to e a
subestimação dos instrumentos p ac ífi ços para dirimí-los. Foi-
nos possível observar que a Geopolítica a r g en ti n a, em consonan-
cia com a Geopolítica como um todo, é, como bem a ss in a l a Shigue
n o li Miyamoto, o discurso da guerra. Ou s e j a , a avaliação de tis
mas importantes tratados pela Geopolítica argentina nos mostra,
de forma e v id e n t e , como os geopolíticos manipulam dados e infor
mações com vis ta s a fundamentar uma visão das relações interna
cionais, na qual a tensão e a agressividade são os pressupostos
principais.

Enfim, o que tentamos neste trabalho foi mostrar que


a G e op o lí ti c a, assim como se apresenta, possui muitas limita­
ções de ordem epistemolõgica e, o que é e s s e n c i a l , de ordem p o ­
lítica. Vimos que as categorias ge og rá fic as , e, sobremaneira, o
território, serve de motivação para a e x i s t ê n c i a da cobiça es­
158

trangeira e para o estabelecimento do "consenso n a ci o n a l " para


combatê-la. Em outras p a la v ra s, tivemos a oportunidade de ver,
como aponta Ch r i s t ia n Guy Ca u be t, que "pode haver uma certa i n ­
compatibilidade entre as exigê nc ias da Geopolítica e as da de­
mocracia . . ." .
B IB L IO G R A F IA
160

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