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TRANSIÇÃO
GEOGRAFIA
HISTÓRIA
SOCIOLOGIA
Bons estudos!
O autor
GEOGRAFIA
FRENTE B
A dinâmica da globalização e a geopolítica do poder .............................................................6
Capítulo T1 – Sistema internacional .........................................................................................................................8
Relações internacionais .................................................................................................................................................................. 9
Organizações intergovernamentais ..........................................................................................................................................15
Outras organizações intergovernamentais.............................................................................................................................18
Aplicando conhecimentos..........................................................................................................................................................21
Consolidando saberes .................................................................................................................................................................22
Gabarito ...................................................................................................................................................................... 52
Guenterguni/iStockphoto.com
Gabarito ..................................................................102
Ministério da Cultura da Argentina
(CC BY-SA 2.0)
B
FRENTE
A dinâmica da
globalização e a
geopolítica do poder
Nesta unidade, vamos nos dedicar ao estudo da glo-
balização e da geopolítica do poder.
Muitos dos temas que estudamos em Geografia, com
destaque para a globalização e a industrialização, estão
relacionados a redes e fluxos. A globalização se baseia
na integração dos lugares por meio dos sistemas de
transporte e comunicação e permite a intensificação das
trocas comerciais e de informação entre os mais distan-
tes pontos da superfície terrestre.
A geopolítica mundial descreve e estuda as relações
de poder no mundo. Essas relações ocorrem de formas
diversas e em diferentes instâncias: econômica, cultural,
política, entre outras. A guerra, que segundo Carl von
Clausewitz (1780-1831) – um dos maiores especialistas no
assunto – “é a continuação da política por outros meios”,
representa mais uma dessas instâncias.
nexus 7/Shutterstock.com
mizoula/iStockphoto.com
Edifício-sede da ONU, em Nova York, Estados Unidos, em 2016.
Atualmente, existem 193 países (Estados nacionais) no mundo reconhecidos pela ONU, além de nações
que ocupam territórios não reconhecidos como Estados pela comunidade internacional. O complexo jogo
de poder e influência entre esses países, no espaço mundial, concilia uma dinâmica e intricada rede de
relações. A economia, a cultura e a política de todos os países inseridos no sistema mundial são influen-
ciadas pelas relações desse sistema, o que significa que as relações internacionais, no contexto global,
influenciam cotidianamente a vida de todos os seres humanos, mesmo que isso não esteja muito claro em
diversos momentos.
A organização político-territorial do mundo contemporâneo é relativamente recente. Diversos países
africanos, por exemplo, tornaram-se independentes a partir da segunda metade do século XX e no início
do século XXI, como o Sudão do Sul em 2011. Além disso, ainda hoje há casos de Estados que não são
reconhecidos pela comunidade internacional, como a Palestina. Assim, as nações e o sistema internacional
devem ser vistos como elementos dinâmicos que estão se transformando constantemente. Essa transfor-
mação, no entanto, não é aleatória, está baseada em princípios do Direito, da Economia, da Política e da
Geografia, que vêm sendo estipulados há séculos. Neste capítulo, trataremos desses princípios para me-
lhor compreender o funcionamento das relações internacionais no âmbito de um sistema mundial.
• O que é uma nação? Como ela se insere na dinâmica das relações internacionais?
• Qual é a importância da ONU no sistema internacional? Que funções ela pode assumir?
Estado-nação
O sistema internacional moderno é baseado em uma organiza-
ção político-territorial denominada Estado-nação, ou Estado nacional,
popularmente chamada de país. Essa organização é composta por três
elementos: o Estado moderno, a nação e o território. Vamos estudar um
pouco de cada um desses elementos.
10 GEOGRAFIA / Frente B
12 GEOGRAFIA / Frente B
OCEANO
Trópico de Câncer
PACÍFICO
Equador
0°
OCEANO
OCEANO OCEANO
PACÍFICO
ATLÂNTICO ÍNDICO
Trópico de Capricórnio
Meridiano de Greenwich
Círculo Polar Antártico
OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
shakzu/iStockphoto.com
Santana do Livramento
Rivera
Rivera (Uruguai) e Santana do Livramento (Brasil) na zona Mexicanos conversam com familiares que moram nos Estados
fronteiriça entre os dois países. Não há limites físicos entre as Unidos, através de muro de metal construído na fronteira entre
duas cidades. os dois países, em Playas de Tijuana, 2017.
14 GEOGRAFIA / Frente B
Organizações intergovernamentais
A hegemonia da Inglaterra e da França começou a se deteriorar no
final do século XIX. Novas potências alimentavam pretensões expansio-
nistas, entre elas a Alemanha, o Japão, os Estados Unidos e a Rússia,
situação que gerou uma disputa imperialista, culminando na Primeira
Guerra Mundial (1914-1918).
ONU
A Segunda Guerra Mundial foi o conflito armado que gerou mais mor-
tes na história, com batalhas travadas na Europa, na África e na Ásia.
Além das mortes e da destruição de cidades inteiras, as batalhas pro-
vocaram severas consequências para a economia dos países envolvidos,
com exceção dos Estados Unidos, que só entraram na guerra em 1941 e
cujo território permaneceu, praticamente, salvo de ataque. O crescimento
da economia estadunidense colocou o país em uma posição bastante
privilegiada no final da guerra.
Em 1945, a Europa e o Japão estavam devastados. Era clara a percep-
ção entre os grandes líderes mundiais da necessidade de se garantir o
reequilíbrio econômico e político mundial. Nesse momento e nos anos
posteriores, foram assinados alguns acordos e criadas algumas institui-
ções que contribuíram muito para esse objetivo. Vale destacar:
• o acordo de Bretton Woods (1944), que criou o Fundo Monetá-
rio Internacional (FMI), o Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento (o Bird), hoje chamado de Banco Mundial, e o pa-
drão dólar-ouro;
• o plano Marshall (1947), uma grande ajuda financeira dos Estados Uni-
dos para a reconstrução econômica europeia;
• a OECD (1948), que em 1961 daria origem à Organização para Coope-
ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
16 GEOGRAFIA / Frente B
Drop of Light/Shutterstock.com
Fundada em 1945 por meio da Carta de São Francisco, ela é uma her-
deira direta da Liga das Nações e, portanto, uma continuidade da pro-
posta de Woodrow Wilson, baseada no ideal kantiano de se criar uma
associação entre os países para garantir a paz mundial. A sugestão da
criação da ONU partiu de outro presidente dos Estados Unidos, Franklin
D. Roosevelt (1882-1945), que sugeriu o nome da organização e começou
a negociar seus princípios e sua forma, ainda durante a Segunda Guerra
Mundial, com os líderes do Reino Unido, da União Soviética e da China.
Para que a ONU não tivesse o mesmo fim que a extinta Liga das Na-
ções, foi criado um grande sistema de organizações que deveriam cum-
prir diferentes funções na busca pela garantia da paz e do desenvolvi-
mento econômico e social. A ONU se baseia em cinco grandes órgãos:
• Assembleia Geral: é a reunião de todos os Estados-membros (inicial- Assembleia Geral das Nações Unidas
mente eram 51 e hoje são 193), presidida por um secretário-geral. En- em 2015.
tre as suas funções, estão: julgar recomendações gerais aos países
sobre paz, desenvolvimento, saúde e outros assuntos; analisar a en-
trada de novos membros; e tratar de questões orçamentárias. Além
disso, alguns importantes órgãos, conselhos e programas estão sub-
metidos à Assembleia Geral, como o Conselho de Direitos Humanos;
• Conselho de Segurança (CS): tem como objetivo tratar das questões
relacionadas à segurança mundial, ou seja, debater os conflitos e bus-
car soluções. Ele é composto por 15 países, sendo cinco permanentes e
dez rotativos. Os cinco permanentes são Estados Unidos, Reino Unido,
França, Rússia (que substituiu a extinta União Soviética) e China. Além
de serem permanentes, eles têm o direito de veto, que significa poder
bloquear uma decisão, mesmo que os outros quatorze a defendam; Fique
• Secretariado: composto pelo secretário-geral e um grupo de funcio- ligado
nários altamente qualificados. Tem como função dirigir a ONU como O Tribunal Internacional
um todo. O secretário-geral é o líder da organização, mas sua missão de Justiça não deve ser
é, como o nome do cargo procura indicar, cuidar do funcionamento confundido com o Tribunal
dos outros órgãos; Penal Internacional (TPI),
• Conselho Econômico e Social (ECOSOC): trabalha em parceria di- também chamado de
reta com a Assembleia Geral, tendo como objetivo gerenciar outros Corte Penal Internacional.
órgãos da ONU ou a ela associados, voltados para o desenvolvimento Enquanto o primeiro é um
econômico e social, com destaque para o FMI, o Banco Mundial, o órgão da ONU e tem a
PNUD (Desenvolvimento), o PNUMA (Meio Ambiente), o UNICEF (In- função de julgar processos
fância), a UNESCO (Ciência, educação e cultura), a FAO (Alimentação contra Estados-membros
da Organização, o segundo
e agricultura), a OMS (Saúde) e a Acnur (Refugiados);
não está ligado à ONU,
• Tribunal Internacional de Justiça: é o órgão jurídico da ONU que tem não é aceito por algumas
como função julgar países, considerando regras do direito internacio- potências, como os Estados
nal. Ele é composto por quinze juízes de diferentes nacionalidades e Unidos e a Rússia, e tem
suas decisões, condenando países, não têm aplicação imediata, pre- como função julgar pessoas,
cisando ser votadas dentro do Conselho de Segurança. É o único ór- quando acusadas de crimes
gão dos cinco principais da ONU que não fica na sede em Nova York, contra a humanidade.
mas sim em Haia, nos Países Baixos.
18 GEOGRAFIA / Frente B
20 GEOGRAFIA / Frente B
1 Diferencie as embaixadas dos consulados, conside- 6 O que é nação? Indique dois elementos que podem
rando a função de cada uma dessas representações levar à sua formação e relacione ao ideal de autode-
diplomáticas. terminação dos povos.
5 Explique as ideias de “razão de Estado” e “uso legíti- 10 De que forma a criação da ONU se relaciona à cri-
mo da Força”, tratadas, respectivamente, por Nicolau se do sistema de Vestfália, representada pelas duas
Maquiavel e Thomas Hobbes. Guerras Mundiais?
1 UFPR No livro O fim do Estado-nação, de Kenichi a) Paisagem, por ser um elemento geográfico que
Ohmae, a existência do Estado-nação é questiona- está ao alcance visual da população desses países.
da. Entretanto, ainda se observa que muitos povos b) Espaço, pois explica as relações sociedade/natu-
reivindicam a criação de um Estado para si, como é o reza e as contradições presentes na construção
caso dos palestinos e dos curdos. Caracterize o que histórica desses dois países.
é um Estado e por que os povos buscam criá-lo. c) Território, pois estabelece a linha divisória de
apropriação e delimitação dos poderes entre
2 UFPR 2014 No campo político, o nascimento do
duas nações.
Estado moderno definiu o marco da centralidade
d) Lugar, pois representa o zelo e a necessidade
territorial e institucional do poder político. Esta é
de preservação do povo americano pelo país ao
certamente a instituição política mais importante
qual pertence, vive suas relações cotidianas e
da modernidade, responsável pela delimitação do
dedica o sentimento patriótico.
território para o exercício do mando e da obediência,
e) Região, pois a cidade de Tijuana é o mais im-
segundo normas e leis estabelecidas e reconhecidas
portante centro metropolitano de influência na
como legítimas, sendo possível legalmente a coerção
região de fronteira entre o México e os Estados
física em caso de desobediência.
Unidos.
(CASTRO, Iná Elias. Geografia e Política – Território, escalas de ação e
instituições. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil, 2005, p. 111).
22 GEOGRAFIA / Frente B
24 GEOGRAFIA / Frente B
26 GEOGRAFIA / Frente B
24 Mackenzie-SP
Sob a influência de seu primeiro diretor-geral,
ESTADOS JAPÃO Julian Huxley, a Conferência Geral da UNESCO reco-
UNIDOS
nhecia, já em 1948, que o mundo do pós-guerra tinha
pela frente três grandes focos de problemas: o nacio-
nalismo, o aumento populacional e os obstáculos ao
Fonte: MOREIRA, Igor. Espaço geográfico. Geografia Geral do Brasil. 47. ed. progresso tecnológico.
São Paulo: Editora Ática, 2002. (Urzúa, R. – “O Correio da Unesco” – 1992)
Passados mais de 50 anos dessa conferência, a
O Grupo dos Sete foi criado em 1975, para ser um fó- declaração:
rum de discussões econômicas, políticas, ambientais I. Continua em parte atual, pois o nacionalismo re-
e sociais. Em 1998, o grupo passou a ser o G8, pois crudesceu, principalmente após a desintegração
houve a inserção de um país que recentemente tem do bloco soviético.
sido excluído das reuniões do grupo por questões II. Perdeu em parte a atualidade; pois se verifica,
de ordem geopolítica. Este país é a em praticamente todo o mundo, uma tendência à
a) China. c) Ucrânia. e) Sérvia. redução das taxas de fecundidade, e consequen-
b) Rússia. d) Croácia. temente do aumento populacional.
III. Continua em parte atual, pois grande parte das
22 UEL-PR O mundo não é mais apenas, ou principal- nações do mundo ainda não tem acesso ao pro-
mente, uma coleção de estados nacionais, mais ou gresso tecnológico alcançado pelos países in-
menos centrais e periféricos, arcaicos e modernos, dustrializados do Norte.
agrários e industrializados, dependentes ou indepen- IV. Perdeu em parte a atualidade, pois no mundo
dentes, ocidentais e orientais, reais e imaginários. As globalizado o nacionalismo desapareceu e o
nações transformaram-se em espaços, territórios ou progresso tecnológico disseminou-se por todo o
elos da sociedade global. planeta.
(Octávio Ianni. “A Sociedade global”. Rio de Janeiro: Das afirmações acima, são verdadeiras:
Civilização brasileira, 1993. p. 96.) a) apenas I, II e III d) apenas I, II e IV
b) apenas II e IV e) I, II, III e IV
A leitura do texto permite concluir que c) apenas I, II
a) a transnacionalização tem um caráter cultural e
político, mas pouco interfere nos campos sociais 25 UFRGS Assinale a alternativa que preenche corre-
e econômicos dos países. tamente as lacunas do texto a seguir, na ordem em
b) o fortalecimento das grandes empresas e con- que aparecem.
glomerados é acompanhado pelo crescimento O Conselho de Segurança (CS) da Organização das
da ideia de Estado nacional e de ampla defesa Nações Unidas (ONU) é o órgão que toma decisões
da soberania. sobre paz e segurança mundiais. O CS é composto
c) a ideia de Estado do Bem-Estar Social é mais pre- por cinco membros permanentes – Estados Unidos,
sente neste final de século quando há uma preo- Reino Unido, França, Rússia e _____________– e
cupação mundial com as diferenças entre os países. dez membros rotativos eleitos para mandato de dois
d) o enfraquecimento dos Estados-nações é uma das anos. Após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos,
características mais importantes da globalização. sem o consentimento do CS, algumas nações come-
e) nem o capitalismo, nem o neoliberalismo têm çaram a pressionar por uma reforma no órgão. O G-4,
forças suficientes para adaptar os Estados a uma grupo de países formado pela Alemanha, Brasil, Ín-
nova lógica global. dia e __________, apresentou oficialmente sua pro-
posta de resolução para ampliar o número de assen-
23 Ufal tos permanentes no CS.
Uma expansão violenta por parte dos Estados, ou a) China - Japão d) Japão - África do Sul
de sistemas políticos análogos, da área territorial da b) China - Itália e) Itália - Japão
sua infuência ou poder direto, e formas de exploração c) Japão - China
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Bandeiras dos Estados Unidos e da União Soviética, as superpotências da Guerra Fria.
A Segunda Guerra Mundial marcou o fim do cenário que se estabeleceu no século XIX, em que a In-
glaterra exercia liderança econômica, abrindo caminho para o surgimento de outras potências mundiais.
Ao fim da guerra, os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (União Soviética)
ascenderam ao posto de superpotências mundiais, o que instituiu uma nova configuração geopolítica no
contexto global, conhecida como Ordem Mundial Bipolar.
A Ordem Bipolar, que se estendeu de 1945 a 1991, começou com as negociações de paz ao final da
Segunda Guerra Mundial e terminou após a dissolução da União Soviética. Durante o período, as duas
superpotências travaram disputas nos campos econômico, político, tecnológico, científico e ideológico.
A busca por manter ou ampliar o poder e a influência mundiais era uma característica latente da política
externa de ambos os Estados.
30 GEOGRAFIA / Frente B
Círc ul o
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
P ola
Território russo em 1581
rÁ
r tic
Território anexado em 1650 e
o
devolvido à China (1689) pelo
Tratado de Nerchinsk
Território anexado 1581-1589
Território anexado 1689-1725
N
Mar
de L. Baikal
Mar
Cáspio Aral
0 1040 km
Fonte: Atlas da História do Mundo. São Paulo: Folha de S.Paulo, 1995. p. 158.
32 GEOGRAFIA / Frente B
Círcu
ree
deG
o 1 - Rússia
ian
lo P
rid
Me Mar Siberiano
ola
Oriental 2 - Ucrânia
Mar da
Ár r
Noruega
tic
3 - Belarus
o Mar de
Barents
Mar de 4 - Moldova
Kara
0°
Lituânia 5Estônia 5 - Estônia
7 6Letônia
6 - Letônia
3
Bielorrússia
45
Mar de 7 - Lituânia
°N
Okhotsk
4
Moldávia
2
Ucrânia 8 - Geórgia
Rússia
1
9 - Armênia
10 - Azerbaijão
8
Geórgia 11 - Casaquistão
Armênia9 Cazaquistão
11 12 - Usbequistão
10
Azerbaijão
Uzbequistão
Mar da 13 - Turcomenistão
China
13
Turcomenistão 12 N
14
Quirguistão
14 - Quirguistão
Tadjiquistão
15 15 - Tajiquistão
0 610 km
90° L
bissig/Shutterstock.com
propriedade privada dos meios de produção.
O líder bolchevique faleceu em 1927, poucos anos depois de chegar
ao poder. Após a morte de Lenin, houve disputas internas no Partido Co-
munista da União Soviética (PCUS) para decidir quem seria o novo líder.
Nesse momento, o nome mais cogitado era o de Trotsky. Contudo, o pos-
to foi, em meio a várias tensões, assumido por Josef Stalin (1878-1953),
que governou a União Soviética de 1928 a 1953.
O rumo definido por Stalin foi diferente do de Lenin. Sob a liderança
stalinista, o governo soviético promoveu a estatização total de terras, fá-
bricas e bancos e eliminou a propriedade privada dos meios de produ-
ção. Além disso, toda a economia ficou sob controle do Estado soviético,
por meio dos planos quinquenais, feitos a cada cinco anos para decidir
as prioridades de investimento governamental.
A implementação dessa proposta criou um modelo diferente do suge-
rido por Marx, Engels e Lenin. O Estado passou a representar uma espé-
cie de grande capitalista, proprietário dos meios de produção e detentor
dos “lucros” oriundos de fábricas e fazendas. A centralização do poder
estabeleceu-se no campo econômico e político, levando à criação de um Josef Stalin (1878-1953).
0 90 km
13° L
52° N
50° N
0 5 km
Ocupação britânica
Ocupação francesa
Ocupação norte-americana
34 GEOGRAFIA / Frente B
Disputa ideológica
Uma característica marcante da Guerra Fria foi a disputa ideológica
entre Estados Unidos e União Soviética.
Os Estados Unidos desenvolveram-se com base na ideologia da de-
mocracia liberal. Segundo essa visão, a propriedade privada dos meios
de produção, a livre iniciativa e a livre concorrência são capazes de levar
ao desenvolvimento e à justiça social. Além disso, a liberdade política e
a liberdade de expressão, de associação em partidos políticos e em mo-
vimentos sociais e de exercício da democracia por meio do voto seriam
fundamentais para uma boa convivência entre as pessoas.
No caso soviético, a ideologia se baseava no socialismo. A ideia cen-
tral era de que, no capitalismo, a justiça social seria impossível, pois a
permanência da propriedade privada dos meios de produção, segundo
ela, redunda, necessariamente, em exploração dos trabalhadores. Além
disso, a democracia capitalista também seria uma ilusão, porque tanto
Reprodução
Reprodução
36 GEOGRAFIA / Frente B
OCEANO GLACIAL
ÁRTICO
Círculo Polar Ártico
ISLÂNDIA
Meridiano de Greenwich
Mar da Noruega
FINLÂNDIA
NORUEGA
SUÉCIA
Mar do
Norte
UNIÃO SOVIÉTICA
DINAMARCA
IRLANDA REINO
HOLANDA RDA POLÔNIA
UNIDO
BÉLGICA
LUXEMBURGO RFA
TCHECOSLOVÁQUIA
OCEANO
ÁUSTRIA
ATLÂNTICO SUÍÇA HUNGRIA
FRANÇA
ROMÊNIA
IUGOSLÁVIA
Mar Negro
BULGÁRIA
ITÁLIA
ESPANHA ALBÂNIA
PORTUGAL
Mar Tirreno GRÉCIA
TURQUIA
Mar Mediterrâneo
Estados europeus da Otan e aliados ocidentais
Estados europeus do Pacto de Varsóvia
Estados neutros N
Fonte: AFP. In: "The Iron Curtain: Five Things To Know". International Business Times.
Disponível em: https://www.ibtimes.com/iron-curtain-five-things-know-2859163. Acesso em: 12 jul. 2021. (Adapt.).
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Modelo da “Little Boy”, bomba atômica lançada sobre Hiroshima, “Cogumelo nuclear”, nuvem de fumaça formada pela explosão da
no dia 6 de agosto de 1945. bomba atômica em Nagasaki, no dia 9 de agosto de 1945.
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O antigo Salão de Promoção Industrial de Hiroshima, após Memorial da Paz de Hiroshima, que mantém o antigo Salão de
lançamento da bomba atômica pelos Estados Unidos em 1945. Promoção Industrial, uma das poucas construções que resistiram,
em parte, à explosão.
38 GEOGRAFIA / Frente B
Corrida espacial
De forma paralela, mas não desconectada da corrida armamentista,
ocorreu a corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Em primeiro plano, essa corrida tinha uma função propagandista, tanto
no regime socialista como no capitalista, já que ambos buscavam provar
suas superioridades tecnológicas.
Nesse aspecto, a União Soviética liderou a corrida espacial nos pri-
meiros doze anos, com o primeiro satélite a orbitar a Terra (Sputnik 1), em
1957; o primeiro mamífero a ir para o espaço (a cadela Laika), em 1957;
e o primeiro ser humano a entrar em órbita (Yuri Gagarin), em 1961. Mas,
em 1969, os Estados Unidos passaram à frente, com a bem-sucedida mis-
são Apollo 11, que levou e trouxe de volta da Lua três astronautas (Neil
Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins).
Apesar dessa face ideológica, a corrida espacial foi muito mais do
que isso. Durante as décadas em que ela se desenrolou, foram desen-
volvidas as primeiras versões de tecnologias importantes para a socieda-
de contemporânea, como os satélites de comunicação, imageamento e
meteorologia.
Conflitos indiretos
Apesar da ausência de um conflito militar direto entre os Estados Uni-
dos e a União Soviética, ocorreram diversos conflitos armados durante
esse período. Alguns desses conflitos não tinham nenhuma relação mais
clara com a disputa por hegemonia entre as duas potências, mas outros
se constituíram em verdadeiras guerras por procuração.
Chamamos de guerras por procuração (ou proxy wars, em inglês) os
conflitos que interessavam às potências e eram estimulados por elas,
mas travados por terceiros. Esses são chamados de proxies e podem ser
outros países ou grupos paramilitares lutando contra o governo de um
país. Durante a Guerra Fria vários conflitos com esses perfis se desenro-
laram. Vejamos a seguir alguns exemplos representativos.
CHINA
COREIA
DO NORTE
Mar do
Japão
Pyongyang
38° N
Seul
COREIA
Mar da DO SUL
Fonte: “Por que a Coreia do Norte e China
do Sul se separaram?”. Veja, 11 set. Oriental JAPÃO N
2017. Disponível em: https://veja.abril.
com.br/mundo/por-que-a-coreia-do- Capital
norte-e-do-sul-se-separaram/. 0 160 km
125° L
Acesso em: 21 jul. 2021. (Adapt.).
Guerra do Vietnã
A Guerra do Vietnã foi um dos mais marcantes conflitos da Guerra
Fria. Ela começou como uma guerra de independência da Indochina (an-
tigo nome da região) em relação à França. Após a independência, houve
a divisão do país em Norte (socialista) e Sul (capitalista). A partir de 1955,
os dois países iniciaram uma guerra para promover a reunificação, cada
qual sob seu comando. O Norte tinha apoio da China comunista, o Sul era
apoiado pelos Estados Unidos. A participação estadunidense se intensi-
ficou a partir de 1964, após um suposto ataque do Vietnã do Norte a um
navio dos Estado Unidos. A notícia do ataque, até hoje contestado por
historiadores, levou o congresso dos Estados Unidos a aprovar o envio
maciço de tropas para a região.
Cerca de 2,5 milhões de soldados estadunidenses foram lutar no
Vietnã, onde mais de 50 mil deles morreram em batalha. Apesar da su-
posta superioridade militar dos Estados Unidos, o grande empenho dos
norte-vietnamitas e as especificidades das batalhas travadas nas selvas
tropicais do país representaram grandes dificuldades para o oponente.
40 GEOGRAFIA / Frente B
42 GEOGRAFIA / Frente B
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Aplicando conhecimentos
1 Por que a Ordem Mundial Bipolar tem esse nome? 3 Explique o que eram a OTAN e o Pacto de Varsóvia
durante a Guerra Fria. Qual era a função deles?
2 O que foi a disputa ideológica que caracterizou a Guer- 4 O que foi a corrida armamentista e qual sua relação
ra Fria? Indique uma forma pela qual ela se realizava. com o equilíbrio de poder da Guerra Fria?
44 GEOGRAFIA / Frente B
1 IFSul-RS 2017 Configuração política internacional enviaram tropas em defesa da Coreia do Sul, comanda-
que caracterizou a Guerra Fria (do final da Segunda das pelo general norte-americano Douglas MacArthur.
Guerra Mundial a 1989-1991), centrada em dois Esta- Após três anos de combate, foi assinado um armistí-
dos, os Estados Unidos e a URSS, aos quais, de modo cio em 27 de julho de 1953, mantendo a divisão entre
mais ou menos consentido, os demais Estados alinha- as Coreias.
ram-se militar, política e ideologicamente. Adaptado de cpdoc.fgv.br.
DURAND, Marie-Françoise. Atlas da mundialização: compreender o espaço
mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 157. O governo norte-coreano anunciou recentemente
que não mais reconheceria o armistício assinado em
A que importante período da Geopolítica mundial o 1953, o que trouxe novamente ao debate o episódio
texto faz referência? da Guerra da Coreia.
a) Liberalismo O fator que explica a dimensão assumida por essa
b) Bipolaridade guerra na década de 1950 está apresentado em:
c) Globalização a) mundialização do acesso a fontes de energia
d) Macarthismo b) bipolaridade das relações políticas internacionais
c) hegemonia soviética em países do Terceiro Mundo
2 Unicamp-SP 2020 No período da Guerra Fria, os d) criação de multinacionais japonesas no extremo
conflitos geopolíticos implicavam riscos nucleares e Oriente
ataques físicos a infraestruturas como estradas, re-
des elétricas ou gasodutos. Hoje, além dessas impli- 5 IFCE 2014 Sobre a Guerra Fria é falsa a afirmativa
cações, a Ciberguerra ou Guerra Fria Digital a) é o momento em que se inicia a bipolarização
a) representa uma possibilidade real de interferência mundial, com a divisão do mundo em dois polos
em sistemas informacionais nacionais, mas seu de poder.
uso efetivo mantém-se apenas como uma ameaça. b) a corrida espacial foi um marco na disputa entre
b) baseia-se na capacidade integrada de sistemas os blocos capitalistas e socialistas.
computacionais espionarem governos antagôni- c) durante a Guerra Fria, eliminou-se a possibilidade
cos, com o objetivo de manipular informações de de uma corrida armamentista, uma vez que o
todo tipo. cerne do conflito era apenas ideológico e as prin-
c) envolve o uso de softwares (malwares) e progra- cipais nações envolvidas temiam o desencadea-
ma robôs para invadir redes sociais e computado- mento de um conflito de maior porte.
res, mas nunca interferiu em processos eleitorais. d) os soviéticos foram os primeiros a lançar um sa-
d) visa ao controle da informação como uma forma télite e a enviar um homem ao espaço, enquanto
de poder político, mas inexistem, no mundo, ci- os estadunidenses organizaram a primeira expe-
bercomandos, ou seja, a quarta força armada. dição tripulada até a Lua. Desse modo, a Guerra
Fria teve sentido tecnológico, ideológico e cultural.
3 IFSP 2016 Para Almeida, “considerando que o foco e) além da corrida espacial, durante a Guerra Fria,
geográfico principal da Guerra Fria era a Europa cen- ocorreu a chamada corrida armamentista, que
tral e partes da Ásia e que, no plano estratégico global, teve início com o lançamento das bombas atô-
o que estava em causa era, essencialmente, uma”: micas sobre o Japão. Estados Unidos e União
(Fonte: ALMEIDA, Paulo Roberto. O Brasil e as relações internacionais no Soviética esforçavam-se em produzir bombas nu-
Pós-Guerra Fria. In: ______. Vinte Anos da Queda do Muro de Berlim. cleares com poder de destruição cada vez maior.
Palhoça: Unisul, 2009, p. 23 e 24).
a) competição pela hegemonia mundial entre as 6 Ifal 2018 A doutrina da dissuasão nuclear, que passa
duas superpotências. por um teste na atual crise entre Estados Unidos e
b) crise entre todas as potências mundiais, exceto Coreia do Norte, nasceu na Guerra Fria, quando as
União Soviética, Estados Unidos e China. duas potências da época afirmavam que qualquer
c) disputa pelo Oriente Médio e posterior aproxima- ataque teria represálias apocalípticas.
ção diplomática entre todas as potências. Esse possível conflito envolve diretamente alguns
d) ideia de superioridade interglobal ameaçada. países, entre eles:
e) destruição nuclear inevitável entre as potências. a) Rússia, China, Japão, Austrália e Nova Zelândia.
b) China, Japão, Singapura, Indonésia e Rússia.
4 Uerj 2014 Em 25 de junho de 1950, tropas da Coreia c) Coreia do Sul, China, Japão, EUA e Coreia do Norte.
do Norte ultrapassaram o Paralelo 38, que delimita- d) Japão, Coreia do Norte, Rússia, Síria e Coreia
va a fronteira com a Coreia do Sul. Com a aprovação do Sul.
do Conselho de Segurança da ONU, quinze países e) Coreia do Norte, EUA, China, Malásia e Japão.
UNIÃO SOVIÉTICA
EUROPA
EUROPA ORIENTAL
ESTADOS OCIDENTAL
UNIDOS CHINA
JAPÃO
ORIENTE
CUBA MÉDIO
OCEANO
Mundo
ÁFRICA
Indiano PACÍFICO
OCEANO AMÉRICA
PACÍFICO LATINA OCEANO
ÍNDICO OCEANIA
OCEANO
ATLÂNTICO
CAPITALISMO SOCIALISMO
Com base no mapa e nos conhecimentos da geopolítica mundial no século XX, atribua V (verdadeiro) ou F (falso)
às afirmativas a seguir.
( ) O término da Segunda Guerra Mundial inaugurou o período denominado Guerra Fria marcado pelo confronto
ideológico entre a URSS e os EUA, gerando diversos conflitos por disputas de territórios.
( ) Fidel Castro se aproximou do bloco socialista, do qual nasceu um plano que levou a uma das maiores crises
políticas da Guerra Fria: o conflito entre a União Soviética e os Estados Unidos (1962), designado como a Crise
dos Mísseis em Cuba.
( ) A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar fundada no princípio da segurança
coletiva com o objetivo de manter a paz entre os países membros e a democracia dentro deles.
( ) A corrida armamentista constitui-se em uma característica secundária desse período, já que a questão central
da geopolítica, pós Segunda Guerra Mundial, foi a disseminação da organização espacial mundial multipolar.
( ) A designação de “fria” vinculou-se a um período geopolítico no qual se destacava a abstenção das superpo-
tências nos conflitos militares nas áreas periféricas do mundo, de forma que os norte-americanos e os soviéti-
cos se desvincularam de guerras localizadas em outras partes do mundo.
Adaptado de: VESENTINI, J. W. O Ensino de Geografia e as Mudanças Recentes do Espaço Geográfico Mundial. São Paulo: Ática, 1992.
46 GEOGRAFIA / Frente B
48 GEOGRAFIA / Frente B
1 Enem De todas as transformações impostas pelo 3 Enem PPL 2016 Os gargalos rodoviários do Brasil
meio técnico-científico-informacional à logística de e o caótico trânsito das suas metrópoles forçam
transportes, interessa-nos mais de perto a intermo- os governos estaduais e federal a retomar os pla-
dalidade. E por uma razão muito simples: o potencial nos de implantação dos trens regionais. Durante
que tal “ferramenta logística” ostenta permite que as últimas quatro décadas, a malha ferroviária foi
haja, de fato, um sistema de transportes condizente esquecida e sucateada, tanto que hoje, em todo o
com a escala geográfica do Brasil. país, apenas duas linhas de passageiros estão fun-
HUERTAS, D. M. O papel dos transportes na expansão recente cionando. Transportam 1,5 milhão de pessoas entre
da fronteira agrícola brasileira. Revista Transporte y Territorio, Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES) e entre São Luís
Universidade de Buenos Aires, n. 3, 2010 (adaptado).
(MA) e Carajás (PA) – as duas operadas pela mine-
A necessidade de modais de transporte interligados, radora Vale. Nos anos 1960, mais de 100 milhões
no território brasileiro, justifica-se pela(s) de passageiros utilizavam trens interurbanos no
território nacional.
a) variações climáticas no território, associadas à in- Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 2 set. 2010.
teriorização da produção.
b) grandes distâncias e a busca da redução dos O sucateamento do meio de transporte descrito foi
custos de transporte. provocado pela
c) formação geológica do país, que impede o uso a) redução da demanda populacional por trens
de um único modal. interurbanos.
d) proximidade entre a área de produção agrícola b) inadequação dos trajetos em função da extensão
intensiva e os portos. do país.
e) diminuição dos fluxos materiais em detrimento de c) precarização tecnológica frente a outros meios
fluxos imateriais. de deslocamento.
d) priorização da malha rodoviária no período de
2 Enem 2017 Os maiores consumidores da infraestru- modernização do espaço.
tura logística para exportação no Brasil são os produ- e) ampliação dos problemas ambientais associados
tos a granel, dentre os quais se destacam o minério de à conservação das ferrovias.
ferro, petróleo e seus derivados e a soja, que, por pos-
suírem baixo valor agregado, e por serem movimen- 4 Enem PPL 2018 Os objetivos da ONU, de acordo
tados em grandes volumes, necessitam de uma in- com o disposto no capítulo primeiro de sua Carta, são
fraestrutura de grande porte e baixos custos. No caso quatro: 1) manter a paz e segurança internacionais; 2)
da soja, a infraestrutura deixa muito a desejar, resul- desenvolver ações amistosas entre as nações, com
tando em enormes filas de navios, caminhões e trens, base no respeito ao princípio de igualdade de direi-
que, por ficarem grande parte do tempo ociosos nas tos e de autodeterminação dos povos; 3) conseguir
filas, têm seu custo majorado, onerando fortemente uma cooperação internacional para resolver os pro-
o exportador, afetando sua margem de lucro e amea- blemas internacionais de caráter econômico, social,
çando nossa competitividade internacional. cultural ou humanitário; 4) ser um centro destinado
FLEURY P. F. A infraestrutura e os desafios logísticos das exportações a harmonizar a ação das nações para a consecução
brasileiras. Rio de Janeiro: CEL; Coppead; UFRJ. 2005 (adaptado). desses objetivos comuns.
GONÇALVES, W. Relações internacionais.
No contexto do início do século XXI, uma ação para Rio de Janeiro: Zahar, 2008 (adaptado).
50 GEOGRAFIA / Frente B
52 GABARITO
GABARITO 53
B
FRENTE
Corte portuguesa
no Brasil e formação
do Estado Nacional
brasileiro
Nesta unidade, vamos traçar uma retrospectiva histó-
rica do período colonial, buscando compreender como
diferentes setores sociais resistiram ao pacto colonial e
demonstraram que a História é feita por pessoas e movida
por ideais, como a liberdade, a igualdade e a tolerância.
Nesse sentido, será estudado o período do Governo Joa-
nino, que levou ao processo de independência do Brasil.
Destacam-se também, as rupturas e as permanências
ao longo desse processo histórico. Nesse sentido, lati-
fúndio, monocultura, escravidão e uma noção restrita de
direitos contribuíram para alimentar diversas lutas da so-
ciedade em busca de condições sociais e políticas mais
justas. Assim, têm-se aqui as bases da origem histórica
da nação brasileira.
A construção histórica da Independência do Brasil gira em torno de dois eventos do ano de 1822: o Dia
do Fico, em 9 de janeiro, e o Grito do Ipiranga, em 7 de setembro. Em ambos, a personagem central é o
príncipe regente Pedro de Alcântara e a dimensão pública de sua voz política.
Entretanto, é preciso levar em consideração as delicadas articulações políticas que antecederam os
eventos às margens do paulistano riacho do Ipiranga. Os arranjos entre Dom João VI, Pedro de Alcântara
e as negociações da arquiduquesa Leopoldina e de José Bonifácio conduziram os passos decisivos rumo
à soberania nacional.
Dessa maneira, a independência ganha maiores contornos se analisada como um processo, pois, mes-
mo após a declaração de autonomia, houve conflitos e guerras em províncias onde grupos sociais ten-
tavam manter-se leais à Coroa portuguesa, tal como ocorreu na Bahia e em Piauí. Neste capítulo, será
analisado o processo de independência e suas permanências no Brasil contemporâneo.
58 HISTÓRIA / Frente B
Edital do periódico Diário do Rio de Janeiro, de 10 Edital do periódico Diário do Rio de Janeiro, em 11 de
de janeiro de 1822, noticiando a decisão de D. Pedro janeiro de 1822, com retratação sobre a fala de D. Pedro
quanto a sua permanência no Brasil, trazendo as na ocasião do Dia do Fico.
palavras do príncipe regente que selaram esse evento.
60 HISTÓRIA / Frente B
As guerras de independência
Apesar do grito às margens do Rio Ipiranga e de ser aclamado impe-
62 HISTÓRIA / Frente B
Batalha do Jenipapo
Essa batalha foi o mais sangrento conflito ocorrido durante o proces-
so de consolidação da independência do Brasil. Para compreendê-lo,
é preciso levar em consideração um acordo selado entre D. João VI e
D. Pedro I, para manter as províncias do Norte unidas a Portugal.
Como já vimos, as províncias do Maranhão, Pará, Ceará e Piauí tinham
destaque na produção de charque, derivados de couro e algodão, ma-
térias-primas fundamentais para a nascente indústria manufatureira eu-
ropeia. Para fazer frente aos movimentos independen-
tistas que se alastravam na região, o major João José Batalha do Jenipapo (1823)
Fidié, no comando de milhares de homens, entrou em
OCEANO ATLÂNTICO
conflito com os rebeldes. Esses combates passaram por Parnaíba
diversas fases.
Em meados de outubro de 1822, a cidade litorânea
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de Parnaíba, no Piauí, importante porto de escoamento Rio Gam
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de matérias-primas, aderiu à independência do Brasil. N
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naíba – e se encontraram com tropas lusitanas que esta-
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parar sua jornada de volta à capital para sufocar esse ei
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As tropas de Fidié, por sua vez, além de numerosas rim
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Mais
Reprodução
Bernardo Aurélio e Caio Oliveira.
Teresina: Quinta Capa, 2018.
Esse episódio histórico foi produzido em HQ
pelos irmãos Caio Oliveira e Bernardo Aurélio.
Intitulada Foices e facões, já serviu de roteiros para
espetáculos teatrais e musicais.
Leitura de documentos
A inglesa Maria Graham foi desenhista, pintora, escritora e historiadora. De passagem pelo Brasil por três anos
no século XIX, registrou suas impressões em diário publicado com o título Diário de uma viagem ao Brasil e de
uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823 (Journal of a Voyage to Brazil and Residence
there During Years 1821, 1822, 1823).
Apêndice II nos; uma até ficou conservada entre as folhas do livro.
Acerca de um exemplar desta obra que pertence- Conscienciosamente desempenhou a sua missão, pro-
ra à própria Maria Graham escreveu Oliveira Lima o curando convencer Manuel de Carvalho a ceder, já que
artigo que se segue, e que transcrevemos da Revista eram tão superiores as forças legais e que só podiam
do Instituto Arqueológico e Geográfico pernambucano resultar do conflito “derrota e miséria e um desperdí-
(vol. xii, 1906, p. 306) cio da vida humana que eu estava segura de que ele e
Mrs. Graham e a Confederação do Equador qualquer homem de bem devia desejar evitar”.
[...] [...]
Mrs. Graham conhecera muito no Chile Lord Co- Nas folhas em branco que encheu no Recife, faz
chrane, a quem estava confiada a missão de reduzir Mrs. Graham faz menção do “espírito republicano que
por mar a revolução, e que logo a foi visitar e almoçar sempre distinguiu Pernambuco e que estava diaria-
com ela a bordo, incumbindo-a de entender-se em ter- mente adquirindo forças; do sentimento federalista”,
ra onde ia hospedar-se em casa de seu compatriota queixando-se a província de ter-se esforçado e sofrido
Stewarts com o chefe rebelde e aconselhar-se a sujei- muito pela causa da Independência, haver sido a pri-
ção. A viajante estivera anteriormente em Pernambu- meira a tornar a Bahia capaz de resistir e expulsar os
co, sendo hospede de Luís do Rêgo e assistindo às pri- “pés de chumbo” e, entretanto, de serem todos os seus
meiras lutas constitucionais e à organização e vitória rendimentos sugados pela capital, “ficando despreza-
da Junta de Goiana. Conhecia por isso Manuel de Car- dos seus próprios trabalhos públicos, mantidos inati-
valho Pais de Andrade, presidente da Confederação, o vos na Corte ou bruscamente demitidos seus funcio-
qual, segundo ela nota no exemplar de que trato, fala- nários e não cumpridas as promessas de reformas em
va bem inglês e parecia ser um homem notável. todos os departamentos”.
Carregou Mrs. Graham consigo algumas cópias Lembra Mrs. Graham que Manuel de Carvalho se
impressas da Proclamação dirigida por Lord Cochrane, fizera revoltoso por motivo da dissolução da Consti-
de bordo da nau Pedro I, aos insurgentes pernambuca- tuinte, ocorrida “quando ele aconselhava o Imperador,
64 HISTÓRIA / Frente B
b) Segundo o texto, como Graham analisa as relações políticas entre os revolucionários e a Coroa?
c) Esclareça como Graham contribuiu como mediadora das tensões entre Pernambuco e o governo central.
1 Identifique a influência dos ideais iluministas nos processos de desintegração da América hispânica e da América
portuguesa.
2 UFJF-MG Observe os mapas da América antes e depois dos processos de independência no século XIX.
Fonte: Disponível em:
<http://navegandonoestudo.blogspot.com.br/2010/07/
as-coloniasespanholas-na-america.html>. Acesso em: 3 ago. 2021.
N N
0 1060 km 0 1110 km
50º O 60º O
Mapa da América antes do processo de independência. Mapa da América depois do processo de independência.
a) Analise os mapas e aponte a principal diferença na composição dos territórios nacionais das antigas colônias
espanhola e portuguesa na América.
b) Aponte e analise uma semelhança histórica nos processos de independência da América Espanhola e da Amé-
rica Portuguesa.
66 HISTÓRIA / Frente B
1 UFRGS (Adapt.) Embora a independência política c) os acordos comerciais com a Inglaterra garantiam
do Brasil tenha sido declarada somente em 1822, o comércio português de escravos para a agricul-
o início do processo de emancipação pode ser re- tura brasileira.
lacionado com uma conjuntura anterior, na qual um d) a vinda da família real limitou o comércio de ex-
acontecimento, do início do século XIX, de grande portação para portugueses e ingleses, assegu-
impacto desencadeou as mudanças que levaram à rando o monopólio da metrópole.
separação entre o Brasil e Portugal. Esse fato, que e) as antigas colônias espanholas, recém emancipa-
assinalou o final efetivo da situação colonial, foi das, auxiliaram os brasileiros nas guerras contra a
a) a Inconfidência Mineira, ocorrida em 1789, que metrópole portuguesa.
introduziu no Brasil as ideias iluministas e republi-
canas, minando a monarquia portuguesa. 4 Fuvest-SP 2018 Na edição de julho de 1818 do Cor-
b) a Inconfidência Baiana, ocorrida em 1798, que in- reio Braziliense, o jornalista Hipólito José da Costa,
troduziu no Brasil as ideias jacobinas e revolucio- residente em Londres, publicou a seguinte avaliação
nárias, levando ao fim do domínio lusitano. sobre os dilemas então enfrentados pelo Império
c) a transferência da Corte para o Brasil em 1808, português na América:
que significou a presença do aparato estatal me-
tropolitano na Colônia, a qual passou a ser a sede A presença de S.M. [Sua Majestade Imperial] no
da Monarquia portuguesa. Brasil lhe dará ocasião para ter mais ou menos in-
d) a Revolução Pernambucana de 1817, que trouxe fluência naqueles acontecimentos; a independên-
para o cenário político brasileiro o ideário maçô- cia em que el-rei ali se acha das intrigas europeias o
nico e republicano. deixa em liberdade para decidir-se nas ocorrências,
e) a convocação das Cortes de Lisboa em 1820, que segundo melhor convier a seus interesses. Se volta
exigiram o retorno de Dom João para Portugal e a para Lisboa, antes daquela crise se decidir, não pode-
recolonização do Brasil. rá tomar parte nos arranjamentos que a nova ordem
de coisas deve ocasionar na América.
2 PUC-Minas “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja
para ti, que me hás de respeitar, do que para algum Nesse excerto, o autor referia-se
desses aventureiros.” A recomendação feita por a) aos desdobramentos da Revolução Pernambuca-
D. João VI ao filho D. Pedro, que permaneceria como na do ano anterior, que ameaçara o domínio por-
Regente do Brasil, logo após a partida de seu pai para tuguês sobre o centro-sul do Brasil.
Portugal em 1821, está diretamente relacionada com: b) às demandas da Revolução Constitucionalista
a) a vitória do movimento liberal da cidade do Porto, do Porto, exigindo a volta imediata do monarca
em 1820, que estabeleceu a monarquia constitu- a Portugal.
cional em Portugal, limitando os poderes absolu- c) à posição de independência de D. João VI em
tistas do Rei. relação às pressões da Santa Aliança para que
b) a divergência entre os representantes políticos interviesse nas guerras do rio da Prata.
brasileiros na Maçonaria e D. Pedro, que queria d) às implicações que os movimentos de indepen-
preservar os direitos da dinastia de Bragança. dência na América espanhola traziam para a do-
c) a revolta das tropas aquarteladas no Rio de Ja- minação portuguesa no Brasil.
neiro, contrárias à decisão do Príncipe regente, e) ao projeto de D. João VI para que seu filho D. Pedro
que pretendia permanecer no país. se tornasse imperador do Brasil independente.
d) a adesão imediata do "Partido Brasileiro" à polí-
tica defendida pelas "Cortes de Lisboa", favorá- 5 UnB-DF (Adapt.) A historiografia que trata da eman-
veis à manutenção do Reino Unido a Portugal e cipação política do Brasil põe quase sempre em evidên-
Algarves. cia a singularidade do nosso movimento com relação à
América Espanhola. Enquanto nesta última o processo
3 Unesp Sobre o processo de independência da de ruptura com a metrópole resultou na constituição
colônia portuguesa na América, no início do século de várias repúblicas, no Brasil, a independência monár-
XIX, é correto afirmar que: quica garantiu a integridade do território. Entretanto, o
a) foi liderado pela elite do comércio local, por inter- processo iniciado em 1808 e que alcançou o seu ponto
médio de acordos que favoreceram colonizados máximo em 1822 possui múltiplos aspectos.
e a antiga metrópole. Convém lembrar, Portugal não tinha condições
b) a ruptura com a metrópole europeia provocou re- de fazer frente às tropas francesas. Exercendo um
ações e, dentre elas, guerras em algumas provín- papel secundário na Europa, sua margem de ma-
cias, entre portugueses e brasileiros. nobra era extremamente limitada. O tratado de
68 HISTÓRIA / Frente B
70 HISTÓRIA / Frente B
SUPERAÇÃO
FICSAE-SP 2017 A vinda da Corte com o enraizamento do Estado português no Centro-Sul daria início à transforma-
ção da colônia em metrópole interiorizada. Seria esta a única solução aceitável para as classes dominantes em meio à
insegurança que lhes inspiravam as contradições da sociedade colonial, agravadas pelas agitações do constituciona-
lismo português e pela fermentação mais generalizada no mundo inteiro da época, que a Santa Aliança e a ideologia
da contrarrevolução na Europa não chegavam a dominar.
Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005.
O biógrafo de D. Pedro I, Paulo Rezzutti, autor do livro D. Pedro, a história não contada, nos ajuda a
dimensionar a personalidade de Pedro de Alcântara. Criado nas ruas cariocas, o futuro imperador do Brasil
era escrachado e autêntico no trato com as pessoas. Por isso, hoje D. Pedro I pode ser visto como um ho-
mem que tinha proximidade com o povo.
Em seus 36 anos de vida, dedicou-se ao Brasil e a Portugal, vivendo sob duas coroas. Apesar de grande
parte da sua vida pessoal – permeada por romances extraconjugais – ter se destacado em sua biografia
ao longo dos anos, D. Pedro também foi responsável por duas Constituições – a do Brasil, em 1824, e a de
Portugal, em 1834 – e foi um dos principais atores políticos na organização do Estado nacional brasileiro a
partir de 1822.
Neste capítulo, vamos analisar a formação desse Estado-nação, assim como seus desdobramentos
históricos.
• Como se constrói uma nação? Qual seria o projeto de desenvolvimento de um Estado nacional?
• Como se processa a história constitucional de um país?
Identidade nacional
Você já refletiu sobre o que define
a identidade nacional brasileira
hoje em dia? Em outras palavras,
ainda compartilhamos os mesmos
símbolos, pavilhões e valores
nacionais desde a formação do
Estado nacional no século XIX?
Seria, então, válido perguntar: nós,
brasileiros e brasileiras, somos
antes nacionalistas ou patrióticos?
Reflita a respeito e debata em sala Jean-Baptiste Debret. Pano de boca executado para representação extraordinária no
de aula! teatro da corte, por ocasião da coroação do Imperador D. Pedro I, 1839. Litografia em
cores; 22,1 x 33,4cm. Biblioteca Pública de Nova York, Coleção Digital. Um dos muitos
símbolos construídos para reforçar a ideia de união e identidade nacional, essa obra de
Debret promovia uma comunicação eficiente com o público a partir de suas alegorias.
As contradições da realidade
No contexto da política externa, a realidade histórica tinha pouco a ver
com as idealizações que o Império promovia em suas alegorias. O pro-
cesso de independência da América hispânica transformou os quatro
vice-reinados coloniais em 14 diferentes Repúblicas, e, particularmente,
as nações latino-americanas do Cone Sul viam a ascensão do Brasil com
desconfiança, com receio de ações expansionistas brasileiras.
Já os Estados Unidos, que defendiam a “América para os america-
nos”, de acordo com a Doutrina Monroe, viam com bons olhos a eman-
cipação do Brasil e, por isso, foram a primeira nação a reconhecer a
independência brasileira, em 1824.
Portugal, por sua vez, reconheceu a independência brasileira somen-
te em 1825, por meio de um acordo mediado pela Inglaterra, que também
tinha interesse econômico nessa negociação. Segundo esse acordo,
Portugal concederia a independência ao Brasil após o pagamento, à ex-
-metrópole, de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas – algo
como metade de suas exportações anuais.
Uma vez satisfeita a vontade lusitana, vinha também o reconhecimento
da soberania brasileira pela Inglaterra. Para isso, o Brasil deveria manter,
por mais 15 anos, todas as vantagens comerciais que os ingleses haviam
negociado com Portugal com a vinda da Corte de D. João VI, em 1808:
tarifas alfandegárias de 15% para os produtos ingleses, enquanto todos os
demais pagavam 24%; um juizado especial para os crimes ingleses em
território brasileiro e liberdades religiosas para seus súditos. O Brasil ainda
comprometia-se a extinguir o tráfico negreiro no prazo de cinco anos.
Essas arranjo realizado com os ingleses foi estabelecido pelo Tratado
Mais
de Amizade e Aliança, de 29 de agosto de 1825, e foi desastroso para o
Brasil, pois, segundo o historiador Jorge Caldeira, estima-se que os acordos
Por que o Politize! existe?,
chegaram a custar aproximadamente 18% do PIB aos cofres brasileiros no
Politize! Primeiro Reinado.
Uma sugestão para acompanhar Já em relação à política interna, a centralização do território continuava
a história das diferentes escolas sediada na região Centro-Sul, a partir do Rio de Janeiro, de onde partiam as
econômicas é o portal de leis e as cobranças de impostos. No entanto, era no interior do país recém-
educação política Politize!
-constituído que se produziam as riquezas agroexportadoras. Mesmo com a
Disponível em: http://p.p4ed.com/
QWPWQ.
emancipação, o tripé colonial, latifúndio, monocultura e escravismo, manteve-
-se, marcando, assim, uma permanência histórica em meio às rupturas oriun-
das do processo.
Isso nos leva, também, a dimensionar o que era a escravidão no Brasil
naquele momento, especialmente para justificar a manutenção do caráter
74 HISTÓRIA / Frente B
A Constituição de 1824
O espírito de emancipação política foi capaz de aglutinar as tendên-
cias políticas contra um inimigo comum: Portugal. Mas, passada a euforia,
surgiram as crises internas.
Após a independência, não se sabia ao certo sobre quais estruturas o
novo Estado iria se sustentar. Por isso, entre 1822 e 1824, os debates fo-
ram centrados no teor da Carta Constitucional, que seria a coluna cervical
da nova nação. Assim, em maio de 1823, ocorreu a primeira reunião da
Assembleia Constituinte. Naquele momento, pode-se dizer que três gru-
pos políticos distintos tentavam impor seus ideais:
• Os liberais moderados formavam um grupo composto de senhores
de engenho, burocratas e negociantes ligados à agroexportação e ao
tráfico negreiro. Eles defendiam reformas sociais no campo da econo-
mia e certas liberdades civis e políticas, mas sem transformar as es-
truturas sociais, apoiando a manutenção da escravidão, por exemplo;
além disso, buscavam restringir ao máximo o poder imperial e garantir
maior autonomia da Câmara dos Deputados e do Judiciário. Fique
• Os liberais exaltados constituíam um grupo variado, com setores ligado
ilustrados da sociedade. Apostavam em reformas amplas e profun-
Lembrando que, quando se
das da sociedade, tais como a separação entre Igreja e Estado, o fala em “partido português”
federalismo, a abolição lenta e gradual da escravidão, o sufrágio uni- ou “partido brasileiro”, não
versal e, em alguns casos, um regime republicano. se trata de partidos tal como
• Os bonifácios, como o nome indica, estavam articulados em torno os conhecemos atualmente,
da liderança de José Bonifácio. Os membros desse grupo defendiam com um projeto político e
uma monarquia centralizada, mas submetida à Constituição, bem uma burocracia próprios e
como a abolição gradual da escravidão. cujos membros normalmente
defendem ideias parecidas.
A facção política dos liberais moderados e a dos exaltados, juntas, No caso exposto no texto,
compunham o chamado “partido brasileiro”, e pregavam a divisão dos são grupos políticos que se
três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), mas defendiam maior juntavam em torno de um
autonomia do Legislativo em relação à pessoa do imperador. Ao contrário mesmo interesse, no sentido de
daqueles reunidos em torno do “partido português” (composto também serem contra ou a favor de algo.
76 HISTÓRIA / Frente B
78 HISTÓRIA / Frente B
Leitura de documentos
Analise as imagens a seguir:
Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque
a) Indique a principal semelhança entre as pinturas apresentadas e uma possível razão para as afinidades artísticas
entre elas.
Aplicando conhecimentos
1 Quais eram as principais atividades econômicas da 3 Leia com atenção o texto e faça o que se pede.
sociedade brasileira na década de 1820? As ruas estão, em geral, repletas de mercadorias
inglesas. A cada porta, as palavras Superfino de Lon-
dres saltam aos olhos: algodão estampado, panos
largos, louça de barro, mas, acima de tudo, ferragens
de Birmingham, podem-se obter um pouco mais
caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil, além
de sedas, crepes e outros artigos da China.
GRAHAM, Maria. “Diário de Uma Viagem ao Brasil”. In: CAMPOS,
Raymundo. História do Brasil. São Paulo: Atual, 1991, p. 98.
80 HISTÓRIA / Frente B
1 Uece 2017 Atente ao seguinte excerto: “[...] Resul- 04. De acordo com o autor, os catarinenses de algu-
ta daí que a Independência se fez por uma simples mas vilas cometeram tamanhos excessos que tive-
transferência política de poderes da metrópole para ram de ser reprimidos pelas tropas portuguesas.
o novo governo brasileiro. E na falta de movimentos 08. Ao contrário do que o autor presenciou em Santa
populares, na falta de participação direta das massas Catarina, em outras províncias, como a da Bahia,
neste processo, o poder é todo absorvido pelas clas- Pará e Cisplatina, ocorreram reações desfavorá-
ses superiores da ex-colônia, naturalmente as únicas veis ao ato de D. Pedro.
em contato direto com o regente e sua política. Fez- 16. Segundo o texto, a notícia da independência foi
-se a Independência praticamente à revelia do povo; recebida com grande entusiasmo nas Vilas do
e se isto lhe poupou sacrifícios, também afastou por Desterro, Laguna e São Francisco.
completo sua participação na nova ordem política. A 32. Não obstante as reações de alguns portugueses
Independência brasileira é fruto mais de uma classe que temiam o fim dos seus privilégios, o governo
que da nação tomada em conjunto”. de Lisboa, forçado pela França, aceitou de pronto o
Caio Prado Jr. Evolução política do Brasil: Colônia e Império. rompimento. Em outubro de 1822 foi assinado o tra-
São Paulo: Brasiliense. p. 53. tado de reconhecimento, havendo grande júbilo em
Na perspectiva de Caio Prado Jr., caracterizam o todo o país, como bem atesta Dupperrey Lesson.
processo de independência do Brasil os seguintes Soma:
aspectos:
a) presença de movimentos populares, participação 3 Mackenzie-SP A respeito dos princípios presentes
do povo no poder e elitismo. na Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, é
b) poder absorvido pelas classes inferiores, indepen- correto afirmar que:
dência feita à revelia da elite local e com grandes a) garantiam ampla liberdade individual e resguar-
sacrifícios para o povo que se envolveu no processo. davam a liberdade econômica, assegurando a
c) projeto de toda a nação, afastamento das classes participação política desvinculada da necessida-
superiores do poder e grande participação popular. de de uma renda mínima por parte do cidadão.
d) poder nas mãos das classes superiores, ausência b) garantiam as liberdades individuais inspiradas na
de participação do povo e independência feita a Declaração dos Direitos do Homem, elaborada
partir do interesse de uma classe e não da nação pelos revolucionários franceses em 1789.
como um todo. c) estabeleciam a igualdade de todos perante a lei,
estatuto que foi observado com rigor por toda a
2 UFSC O navegador Dupperrey Lesson, que em 1822 sociedade brasileira.
estava em Santa Catarina, assim descreveu a reação d) estabeleciam o princípio da liberdade religiosa,
dos catarinenses à independência do Brasil: segundo o qual o Estado permaneceria distante
“... Cheios de confiança em seus propósitos, os das questões religiosas.
partidários numerosos da independência estavam e) determinavam disposições jurídicas que eram as
inspirados com um entusiasmo (...) que seu espírito mais adequadas à realidade nacional da época,
ardente havia reprimido há longo tempo. No excesso não apresentando, portanto, contradições.
da sua alegria, eles haviam coberto de luzes as Vilas
de Nossa Senhora do Desterro, de Laguna e de São 4 UFPR Temos a tendência de pressupor que todas
Francisco, onde percorrendo as ruas entoavam can- as mudanças que decorreram de um movimento de
ções em honra de D. Pedro ...”. independência foram para o melhor. Raramente, por
DUPERREY, Louis Isidore. Voyage autour du monde. In: Ilha de Santa exemplo, consideramos um movimento de indepen-
Catarina, relatos de viajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. dência como uma regressão, um triunfo do despotis-
Florianópolis: UFSC, 1984.
mo sobre a liberdade, de um regime imposto sobre
Assinale a(s) proposição(ões) VERDADEIRA(S) com um regime representativo. Apesar disso, no caso da
base no texto e nos seus conhecimentos sobre o independência do Brasil, essas acusações foram na
processo de independência do Brasil. época imputadas ao novo regime.
01. A declaração de independência do Brasil, feita (Adaptado de MAXWELL, K. “Por que o Brasil foi diferente? O contexto
por D. Pedro I em 1822, foi aceita em Santa Cata- da independência”. In: MOTTA, C. G. (org.). Viagem incompleta: a
experiência brasileira. São Paulo: Editora Senac, 2000, p. 181.)
rina e em todas as demais províncias brasileiras,
com grande júbilo. Qual dos eventos citados a seguir gerou as acusa-
02. Segundo o visitante, houve nas ruas de algumas ções mencionadas no texto?
vilas de Santa Catarina um conflito entre os par- a) A outorga da Constituição de 1824, feita por
tidários da independência (que eram muito nu- D. Pedro I depois de dissolvida a Assembleia
merosos) e os que eram contrários a ela. Constituinte que elaborava o texto constitucional.
82 HISTÓRIA / Frente B
Dois desafios marcaram a história do Brasil imperial: a manutenção da integridade territorial e da unida-
de política. Desde a independência, o Império se esforçou em garantir a hegemonia do poder central sobre
os interesses regionais, assim como buscou um equilíbrio político entre conservadores e progressistas. Po-
rém, o problema da unidade política continuou no cenário político brasileiro em outros contextos históricos.
A instabilidade social que tomou conta do país a partir de 2013 estimulou a organização de um movimento
emancipacionista chamado “O Sul é o meu país”, que pedia a autonomia de Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul.
Em 2016, uma consulta informal e sem valor científico contou com 340 422 votos e indicou que 96,12%
dos envolvidos defendiam a separação dos estados do Sul do país. Apesar de o número ser menos de 2%
do total dos eleitores da região, isso evidencia como as ideias emancipacionistas continuam presentes no
imaginário político brasileiro, podendo legitimar projetos que ameacem a integridade territorial brasileira.
Neste capítulo, vamos analisar as lutas sociais que ameaçavam a unidade do território nacional durante
a Regência.
Regências trinas
A primeira regência ficou conhecida como Regência Trina Provisória
e foi composta de três senadores: Francisco de Lima e Silva, tradicional
militar com forte atuação política; Nicolau Campos Vergueiro, advogado
84 HISTÓRIA / Frente B
Cabanagem (1835)
Em janeiro de 1835, um levante popular tomou conta da cidade de
Belém, capital do Pará, com saques, destruições e motins. O movimento
durou oito meses e se alastrou pelas margens dos rios até alcançar os
estados do Piauí, Maranhão e o interior nordestino.
A região passou por um importante desenvolvimento econômico
a partir do final do século XVIII. Porém, a Corte carioca impunha uma
onerosa cobrança de impostos e adotava uma política repressiva con-
O Memorial da Cabanagem foi inaugurado
tra qualquer manifestação que contestasse essa situação. Além disso, em janeiro de 1985 para a celebração dos
apesar do crescimento econômico, grande parte da população da região 150 anos do evento. O monumento foi
Norte vivia na miséria e em péssimas condições de vida. projetado por Oscar Niemeyer.
CAPÍTULO T3 / Regência 85
86 HISTÓRIA / Frente B
Sabinada (1837)
As mudanças políticas não impediram que novas revoltas ocorressem
em diferentes regiões do Brasil. Em 6 de novembro de 1837, teve início
na Bahia um movimento ocasionado pelas insatisfações com os baixos
soldos militares, a contínua alta dos impostos e a crise econômica.
Liderado pelo médico e jornalista Francisco Sabino, o levante ficou co-
nhecido como Sabinada e teve a adesão de setores médios da sociedade
baiana, como militares que receavam a convocação para combater outras re-
voltas provinciais. O movimento não foi homogêneo e suas pautas não eram
um consenso: quanto à abolição, por exemplo, existiam divergências, mas Sa-
bino apoiou a libertação dos escravizados que aderissem à causa da revolta.
Inicialmente, os revoltosos conseguiram emancipar a província, mas
isso durou apenas alguns meses. A partir de março de 1838, as tropas re-
genciais reprimiram o movimento, e mais de 2 mil pessoas foram mortas
e outras 3 mil presas ou deportadas.
Balaiada (1838-1841)
Mais
O realinhamento do governo provincial ao conservadorismo de Araú-
jo Lima contribuiu para aprofundar o sentimento de insatisfação já exis-
tente nas províncias do Pará e do Maranhão. Isso deu início a uma grande
Uma história de amor
insurreição no Maranhão, em 1838. e fúria.
O movimento tomou conta de São Luís e conseguiu apoio de outros Direção: Luiz Bolognesi. 2013.
grupos sociais, inclusive de africanos libertos. A rebelião se intensificou, Classificação indicativa: 14 anos.
e os intelectuais liberais que inicialmente tinham aderido à insurgência se Animação que conta a história
afastaram. Em agosto de 1839, Araújo Lima convocou Luís Alves de Lima de um homem com quase 600
e Silva, um militar de carreira, para reprimir a Balaiada desde a capital. anos de idade que acompanha a
A insurreição foi contida em 1841, deixando um saldo de 12 mil pessoas história do Brasil enquanto procura
mortas. A vitória deu a Luís Alves o título de Barão de Caxias – mais tarde, a ressurreição de sua amada
devido à atuação na Guerra do Paraguai, ele adquiriu o título de duque. Janaína.
San Christovao. In: Johann Moritz Rugendas. Viagem
pitoresca através do Brasil. Paris: Lith. de Engelmann,
1835. Prancha 14
CAPÍTULO T3 / Regência 87
Guilherme Litran. Carga de Cavalaria, 1893, óleo sobre tela. Acervo do Museu Júlio
de Castilhos, Porto Alegre. Essa pintura idealiza as tropas farroupilhas como um grupo
homogêneo de homens brancos empunhando a bandeira germânica.
88 HISTÓRIA / Frente B
Leitura de documentos
Leia o texto a seguir e faça o que se pede: Este viés interpretativo prevê a traição de Cana-
barro aos negros que estavam sob seu comando. Esta
Apesar de serem omitidos por grande parte da his- traição estaria relacionada a uma “facilitação” da as-
toriografia tradicional, os negros tiveram participação sinatura do tratado de paz, já que o Império mostra-
fundamental junto às forças rebeldes republicanas va-se contrário à libertação dos escravos insurretos
que lutaram contra o Império. Eles teriam compos- que estavam ao lado dos rebeldes. Outro grupo de
to, durante a Farroupilha, de um terço à metade do estudiosos argumenta que tal carta teria sido falsifi-
exército republicano e foram integrados ao exército cada pelos imperiais com a intenção de desmoralizar
farrapo em duas divisões: a cavalaria e a infantaria, o chefe da farroupilha e criar “tensões” no grupo. Se-
respectivamente, em 12/09/1836 e 31/08/1838, sendo gundo esse grupo, o episódio deveria ser classificado
denominadas “Corpos de Lanceiros Negreiros”. como uma “surpresa”, e não traição, já que todos (in-
Estes corpos eram compostos por negros livres e clusive Canabarro) estariam desprevenidos no mo-
escravos libertados pela República sob a promessa de mento do ataque. (...)
libertação ao fim de tal revolução. Os negros já haviam SALAINI, Cristian. Nossos heróis não morreram: um estudo antropológico
desempenhado papel fundamental antes mesmo da sobre as formas de “ser negro” e de “ser gaúcho” no estado do
Rio Grande do Sul. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do
criação destes corpos, na tomada de Porto Alegre, em Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006. p. 36-7.
setembro de 1835 e a de Pelotas, em abril de 1836. Ne-
gros na condição de libertos e alforriados, assim como a) De acordo com o autor do texto, qual foi o papel
na de fugidos do Uruguai, contribuíram com a causa dos negros no exército republicano da Farroupilha?
farroupilha não somente como soldados. Foram tropei-
ros, mensageiros, campeiros e fabricadores de pólvoras.
O “Massacre de Porongos”, conhecido também
como “Surpresa”, “Batalha” ou “Ataque” de Porongos
ocorreu nos momentos finais da Farroupilha, quando
seria assinado o tratado de paz entre republicanos e
imperiais, conhecido como Tratado de Poncho Verde.
A morte de parte de um dos corpos de lanceiros negros
ocorreu na madrugada de 14/11/1844, no Cerro de Po-
rongos, então município de Piratini.
Esse episódio gerou polêmicas entre os historiado-
res e, atualmente, entre os protagonistas que revivem
tal acontecimento na atualidade. O elemento central
da discussão está na possibilidade do general David
Canabarro ter desarmado e separado os lanceiros ne-
gros das tropas momentos antes do ataque imperial.
O elemento que vai ao encontro dessa tese é a famosa
carta que teria sido enviada ao Coronel Francisco Pe-
reira de Abreu (comandante imperial) pelo líder impe-
rial Duque de Caxias.
CAPÍTULO T3 / Regência 89
c) Com base no texto, é possível afirmar que as políticas de anistia da Corte valeram para todos os grupos sociais
envolvidos na Farroupilha? Justifique sua resposta.
Aplicando conhecimentos
1 Enem Após a abdicação de D. Pedro I, o Brasil atra- Identifique duas causas para a ocorrência da Farroupilha.
vessou um período marcado por inúmeras crises:
as diversas forças políticas lutavam pelo poder e as
reivindicações populares eram por melhores condi-
ções de vida e pelo direito de participação na vida
política do país. Os conflitos representavam também
o protesto contra a centralização do governo. Nes-
se período, ocorreu também a expansão da cultura
cafeeira e o surgimento do poderoso grupo dos “ba-
rões do café”, para o qual era fundamental a manu-
tenção da escravidão e do tráfico negreiro.
O contexto do Período Regencial foi marcado 3 Identifique e analise um fator que permite caracteri-
a) por revoltas populares que reclamavam a volta da zar a Regência como uma “experiência federalista”.
monarquia.
b) por várias crises e pela submissão das forças po-
líticas ao poder central.
c) pela luta entre os principais grupos políticos que
reivindicavam melhores condições de vida.
d) pelo governo dos chamados regentes, que pro-
moveram a ascensão social dos “barões do café”.
e) pela convulsão política e por novas realidades 4 Cite e esclareça duas medidas adotadas pela Corte
econômicas que exigiam o reforço de velhas re- para pacificar o país na Regência.
alidades sociais.
90 HISTÓRIA / Frente B
1 EsPCEx-SP De 1831 a 1840, o Brasil vivenciou um pe- d) A revolta dos malês representou uma resistên-
ríodo [...] em que diferentes grupos disputavam o po- cia importante às estruturas sociais vigentes no
der. Como resultado, instalou-se um clima de grande Brasil, sobretudo à ordem social ligada à escra-
instabilidade que propiciou a irrupção de conflitos vidão africana.
em inúmeros pontos do país.
(KOSHIBA; PEREIRA, 2003) 3 UFPE Leia as afirmativas, a seguir, relacionadas com as
Regências Una e Trina na época do Império no Brasil.
A cabanagem foi um dos conflitos ocorrido nesse I. Foi criada a Guarda Nacional que reforçou os po-
período. Assinale a alternativa que corresponde a tal deres políticos da aristocracia.
conflito. II. Havia grupo político que defendia a volta de
a) ocorreu no atual estado do Rio Grande do Sul, D. Pedro I ao poder.
liderado pelos criadores de gado das fronteiras III. A Revolta dos Cabanos (1831-1832) mostrou a for-
com o Uruguai. ça dos comerciantes pernambucanos aliados aos
b) foi planejado e contava com participantes que grupos mais pobres da população da província.
haviam tido experiências anteriores de combates IV. O período Regencial contribui para estabilizar po-
na África, e objetivava promover a independência liticamente a sociedade, evitando a existência de
de Salvador e do Recôncavo Baiano. rebeliões.
c) foi um movimento conduzido por camadas popula- V. A Revolta dos Malês expressou descontentamen-
res do atual estado do Pará, que viviam margina- to social e articulação política dos escravos con-
lizadas na Região Amazônica. tra a opressão existente.
d) foi uma rebelião contra o poder central, ocorrida
na Bahia, e que contava com a camada média da Estão corretas apenas as afirmativas
sociedade baiana. a) I, II e IV. d) I, II e III.
e) ocorreu no atual estado do Maranhão e foi con- b) II, III e V. e) I, II e V.
duzida por um grupo de vaqueiros que visava c) III, IV e V.
combater os privilégios dos cidadãos de origem
portuguesa e o absolutismo de D. Pedro. 4 UFMG De 1835 a 1845, ocorreu o mais longo conflito
militar interno da história do Brasil – a chamada
2 UFU-MG Os malês encontraram na Bahia de 1835 Guerra dos Farrapos, ou Rebelião Farroupilha. Con-
um campo fértil onde semear a rebeldia escrava e siderando-se esse conflito, é CORRETO afirmar que
tentar mudar a sociedade em favor dos africanos. a) o apelido dado aos revoltosos – farroupilhas – fazia
Fundada na desigualdade étnico-racial e social, a alusão ao caráter do movimento e de seus principais
Bahia vivia nesse período uma crise econômica e líderes, oriundos das camadas populares gaúchas.
política. As revoltas das classes livres pobres e dos b) o Governo Central, a fim de possibilitar o final do
dissidentes liberais de um lado e, de outro, as dos es- conflito, atendeu a uma das principais reivindica-
cravos africanos, ameaçavam a hegemonia política ções dos rebeldes: a libertação dos escravos ne-
dos grandes senhores da Bahia e a própria ordem gros da Província.
escravocrata. c) o movimento rebelde, com diferentes correntes in-
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos ternas, defendia interesses rio-grandenses – como
malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 545. diminuição de impostos e maior autonomia política.
d) os rebeldes rio-grandenses se uniram aos republica-
Considerando o texto acima, assinale a alternativa nos argentinos, com o objetivo de fortalecer as
correta sobre a revolta dos malês de 1835. tropas, aumentar o poderio bélico e reafirmar os
a) Os malês representavam uma identidade étnica ideais federalistas.
africana que foi recusada pela maioria dos outros
grupos de escravos, que vinham de regiões dife- 5 EsPCEx-SP O mais duradouro movimento rebelde
rentes da África. do Império foi a Revolução Farroupilha, ocorrida
b) Os malês estavam em uma camada intermediária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina entre
entre as classes livres pobres e os escravos, pois 1835-1845. […] Em 1836, após importantes vitórias
estavam em uma situação social superior à dos sobre as tropas legalistas, os farroupilhas proclama-
escravos. ram a República Rio-Grandense.
c) As classes livres e pobres uniram-se aos grandes (BOULOS JR, 2011)
proprietários de terra na Bahia para derrotar os ma-
lês em sua revolta, pois ambos os grupos queriam Em 1842, Luís Alves de Lima e Silva, então Barão de Ca-
preservar a supremacia branca sobre os escravos. xias, é enviado pelo Império para comandar as forças
CAPÍTULO T3 / Regência 91
92 HISTÓRIA / Frente B
11 UFRGS 2015 A organização do Império brasileiro, no 13 UFPB Sobre as insurreições ocorridas durante o Pe-
século XIX, foi marcada por uma série de tensões ríodo Regencial e o II Reinado, relacione o movimen-
sociais, políticas e militares. Um dos episódios mais to social com sua característica.
relevantes desse período foi a chamada Guerra dos ( ) Rebelião iniciada 1. Praieira
Farrapos (1835-1845). Sobre o conflito, considere as em 1835 na provín- 2. Balaiada
seguintes afirmações. cia do Grão-Pará, 3. Sabinada
I. A promulgação da Lei Feijó (1831), que tinha por que levou as ca- 4. Farroupilha
objetivo fomentar o tráfico de africanos para o Bra- madas populares 5. Cabanagem
sil, contrariando assim os interesses republicanos ao poder.
das elites políticas da Província de São Pedro, foi ( ) Revolta ocorrida
um dos fatos desencadeadores da Guerra. na Bahia em 1837,
II. A Guerra dos Farrapos também pode ser inserida com predominân-
dentro de uma conjuntura platina na qual têm im- cia das camadas
portância as relações mantidas entre lideranças médias urbanas
sul-rio-grandenses e elites político-econômicas de Salvador.
uruguaias. ( ) Revolta de serta-
III. O Corpo de cavalaria dos Lanceiros Negros, for- nejos (vaqueiros
mado por parte da população escrava habitante e camponeses) e
da Província, foi dizimado pelas tropas imperiais, negros escravos,
na chamada “surpresa de Porongos”. que abalou o
Maranhão de 1838
Quais estão corretas? e 1841.
a) Apenas I. d) Apenas lI e III. ( ) A mais longa re-
b) Apenas II. e) I, II e III. volta da história do
c) Apenas I e II. Império brasileiro,
ocorrida no Rio
12 UFPR O imperador D. Pedro I abdicou em favor de Grande do Sul, de
seu filho, Pedro de Alcântara, em 7 de abril de 1831. 1835 a 1845.
CAPÍTULO T3 / Regência 93
94 HISTÓRIA / Frente B
1 Enem O alfaiate pardo João de Deus, que, na altura e Castro, em 18 de agosto de 1694, para comunicar
em que foi preso, não tinha mais do que 80 réis e oito ao Rei de Portugal a tomada da Serra da Barriga.
filhos, declarava que “Todos os brasileiros se fizessem (...) Não me parece dilatar a Vossa Majestade da
franceses, para viverem em igualdade e abundância”. gloriosa restauração dos Palmares, cuja feliz vitória
MAXWELL, K. Condicionalismos da independência do Brasil. SILVA, M. N. senão avalia por menos que a expulsão dos holande-
(Org.). O império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Estampa, 1986. ses, e assim foi festejada por todos estes povos com
seis dias de luminárias. (...) Os negros se achando de
O texto faz referência à Conjuração Baiana. No con- modo poderosos que esperavam o nosso exército
texto da crise do sistema colonial, esse movimento metidos na serra (...), fiando-se na aspereza do sítio,
se diferenciou dos demais movimentos libertários na multidão dos defensores. (...) Temeu-se muito a
ocorridos no Brasil por ruína destas Capitanias quando à vista de tamanho
a) defender a igualdade econômica, extinguindo a exército e repetidos socorros como haviam ido para
propriedade, conforme proposto nos movimen- aquela campanha deixassem de ser vencidos aque-
tos liberais da França napoleônica. les rebeldes pois imbativelmente se lhes unir-se os
b) introduzir no Brasil o pensamento e o ideário libe- escravos todos destes moradores (...).
ral que moveram os revolucionários ingleses na Décio Freitas, República de Palmares – pesquisa e comentários em
luta contra o absolutismo monárquico. documentos históricos do século XVII. Maceió: UFAL, 2004, p. 129.
CAPÍTULO T3 / Regência 95
96 HISTÓRIA / Frente B
CAPÍTULO T3 / Regência 97
98 HISTÓRIA / Frente B
15 Enem 2015 É simplesmente espantoso que esses nú- 17 Enem Eleições, no Império, eram um acontecimento
cleos tão desiguais e tão diferentes se tenham man- muito especial. Nesses dias o mais modesto cidadão
tido aglutinados numa só nação. Durante o período vestia sua melhor roupa, ou a menos surrada, e exi-
colonial, cada um deles teve relação direta com a me- bia até sapatos, peças do vestuário tão valorizadas
trópole. Ocorreu o extraordinário, fizemos um povo- entre aqueles que pouco tinham. Em contraste com
-nação, englobando todas aquelas províncias ecológi- essa maioria, vestimentas de gala de autoridades ci-
cas numa só entidade cívica e política. vis, militares e eclesiásticas tudo do bom e do melhor
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: formação e sentido do Brasil. compunha a indumentária de quem era mais que um
São Paulo: Cia. das Letras, 1988. cidadão qualquer e queria exibir em público essa sua
privilegiada condição.
Após a conquista da autonomia, a questão pri- CAVANI, S. Às urnas, cidadãos! In: Revista de História da Biblioteca
mordial do Brasil residia em como garantir sua Nacional. Ano 3, nº- 26, nov. 2007.
CAPÍTULO T3 / Regência 99
Aplicando conhecimentos C
1 A fragmentação territorial da América hispânica contribuiu para
o avanço dos ideais republicanos, enquanto a centralização
monárquica manteve a integridade territorial brasileira. CAPÍTULO T2
2 Primeiro Reinado: cultura e política
a) É possível observar que, com a independência, houve a
fragmentação do território das colônias espanholas, en- Leitura de documentos
quanto o Brasil manteve sua unidade territorial tal como a) As duas imagens indicam a exaltação de um herói em ato
era na colônia portuguesa. militar. No quadro de Pedro Américo, há uma tentativa de
b) Ambos os processos independentistas foram resultado enaltecer D. Pedro I e o grito de independência, comparan-
das guerras napoleônicas, além de contar com ideais do do o imperador brasileiro ao imperador francês e seus feitos
liberalismo e do iluminismo. militares.
3 Porque diminuiria significativamente a mão de obra – o b) O momento da Proclamação da Independência não contou
que geraria uma crise econômica – e contrariava as elites que com a participação popular, assim como não foi um ato gran-
apoiavam a independência do país e o estabelecimento de dioso, como o demonstrado na imagem.
uma monarquia.
4 Aplicando conhecimentos
a) Com a chegada da família real houve a abertura dos por- 1 O charque no Sul e Sudeste, o comércio local no entorno das
tos, selando, assim, o fim do pacto colonial. Minas Gerais, a produção de açúcar no Nordeste e de algodão
b) As guerras de independência marcaram a expulsão defi- no Norte.
nitiva dos portugueses que ainda tentavam restabelecer o 2 Sim, como a unidade territorial e a configuração da maior parte
controle sobre o Brasil. das fronteiras.
5 O Bloqueio Continental imposto por Napoleão para tentar isolar 3 A estreita relação comercial entre Brasil e Inglaterra desde o
a Inglaterra economicamente foi desobedecido por Portugal, período colonial.
que manteve a aliança comercial com os ingleses. Diante dis- 4 Dependência econômica em relação aos países industrializa-
so, as tropas napoleônicas invadiram Portugal, levando a famí- dos do Hemisfério Norte e agroexportação.
lia real e toda a Corte portuguesa a refugiar-se no Brasil. Che-
gando ao Brasil, Dom João VI decretou a abertura dos portos, Consolidando saberes
o que significou o fim do pacto colonial e contribuiu para o 1 D 5 C
fortalecimento das elites nacionais, criando as condições para 2 Soma: 08 + 16 = 24 6 D
o processo de independência. 3 B 7 D
6 D 4 A 8 Soma: 04 + 16 = 20
102 GABARITO
GABARITO 103
Surgimento da
Sociologia como ciência
O texto a seguir é parte de uma matéria de agosto
de 2019 do jornal eletrônico Correio da Paraíba e noticia
o lançamento de um livro sobre consciência e universo
digital, do brasileiro Fabio Pereira.
[...] Na prática, trata-se de um manual para ajudar pes-
soas a tomarem as rédeas de suas vidas e, assim, cons-
truírem um futuro melhor. A obra apresenta os “5 Cs” da
Consciência Digital e aborda ainda temas como o contro-
le do uso do celular, a identificação de ferramentas digi-
tais manipuladoras, e o direcionamento da tecnologia em
prol de uma sociedade evoluída.
Especialista lança livro e discute foco, autocontrole e segurança na era digital. Portal
Correio, 19 jul. 2019. Disponível em: https://portalcorreio.com.br/palestra-em-jp-discute-
autocontrole-foco-e-seguranca-na-era-digital/. Acesso em: 3 jul. 2021.
T1
CAPÍTULO
pensamento social
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Bandeira brasileira. Ao fundo, o morro do Corcovado, no Rio de Janeiro (RJ). Qual será o sentido sociológico da expressão
“Ordem e Progresso”?
O texto, reproduzido a seguir, faz parte de uma matéria de 2018 da BBC Brasil publicada por ocasião do Dia da
Bandeira, comemorado em 19 de novembro. Leia-o com atenção. Em seguida responda às questões propostas.
Segundo o professor do Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP
André Figueiredo Rodrigues, o uso de bandeiras para representar uma nação começou entre os
séculos 18 e 19, quando os países, ao passarem por revoluções, começaram a pensar em símbolos que
os identificassem como nação unida e soberana.
[...]
O lema escrito na bandeira [brasileira], “Ordem e Progresso”, tem inspiração em uma frase de
Auguste Comte, criador da filosofia positivista, que diz: “O amor por princípio e a ordem por base; o
progresso por fim”.
“Comte acreditava que o funcionamento da sociedade deveria promover o bem-estar. Para isso, seus
membros deviam aprender desde crianças a importância da obediência e da hierarquia. Daí vem o nosso
lema: o ‘progresso’ é resultado do aperfeiçoamento e do desenvolvimento da ‘ordem’”, explica Rodrigues. [...]
MODELLI, Laís. Dia da Bandeira: 10 coisas que você talvez não saiba sobre o símbolo brasileiro. BBC Brasil, 19 nov. 2018. Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/brasil-46259929. Acesso em: 2 ago. 2019.
Granger/Shutterstock
te, o pai da Sociologia. Foi ele quem empregou pela primeira vez esse
termo, no quarto volume do seu Curso de Filosofia Positiva, em 1839
(publicação em seis volumes, entre 1830 e 1842).
Nessa obra, o teórico defende que os conhecimentos, no decorrer da
história, passaram por três estágios ou fases, tanto no indivíduo como na
espécie humana.
Essa doutrina, uma das bases principais do pensamento de Comte, Metafísico: referente à Metafísica,
ficou conhecida como lei dos três estados. Dessa forma, ele entendia o estudo filosófico das ideias de
que considerava ser uma evolução da humanidade. E fazia uma compa- ser e de tudo o que transcende a
experiência física ou sensível.
ração das sociedades com o próprio indivíduo humano, que, assim como
esse, também passaria por essas etapas ao longo da vida: o primeiro
estado seria a infância (teológico); o segundo, a juventude (metafísico); e
o terceiro, a fase de maturidade (positivo).
lemony/Shutterstock.com
No texto reproduzido abaixo, do Curso de Filosofia Positiva, Comte disserta sobre sua concepção da lei dos três es-
tados. Ela é o fundamento do pensamento positivista e representa tanto uma teoria do conhecimento como uma teoria
sobre a história. O conhecimento propriamente dito seria o científico, ou positivo, como Comte o chamava. Por sua vez, a
história mostraria como o conhecimento nas sociedades teria evoluído das noções teológicas, passando pelas metafísicas
até chegar ao estado positivo, mais avançado, científico e maduro. O mesmo poderia ser percebido na evolução de um
indivíduo.
Em primeiro lugar, basta, parece-me, enunciar tal lei para que sua justeza seja imediatamente verificada por todos
aqueles que possuam algum conhecimento aprofundado da história geral das ciências. Não existe uma única, com
efeito, que, tendo chegado hoje ao estado positivo, não possa ser facilmente representada por qualquer pessoa como
essencialmente composta, no passado, de abstrações metafísicas e, se se remontar ainda mais no tempo, como intei-
ramente dominada por concepções teológicas. Teremos, infelizmente, mais de uma ocasião formal de reconhecer, nas
diversas partes deste curso, que as ciências mais aperfeiçoadas conservam, ainda hoje, alguns traços muito sensíveis
desses dois estados primitivos.
Essa revolução geral do espírito humano pode ser facilmente constatada hoje, duma maneira sensível embora
indireta, considerando o desenvolvimento da inteligência individual. O ponto de partida sendo necessariamente o
mesmo para a educação do indivíduo e para a da espécie, as diversas fases principais da primeira devem represen-
tar as épocas fundamentais da segunda. Ora, cada um de nós, contemplando sua própria história, não se lembra
de que foi sucessivamente, no que concerne às noções mais importantes, teólogo em sua infância, metafísico em
sua juventude e físico em sua virilidade? Hoje é fácil esta verificação para todos os homens que estão ao nível de
seu século. [...]
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. José Arthur Giannotti e Miguel Lemos (Trad.). São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 38.
Preocupado com a dissolução social que poderia causar crises, Comte vê na Sociologia uma ferramenta para
compreender a realidade social, de forma a organizá-la sob critérios científicos e, assim, promover o progresso e o
bem-estar geral. Uma boa parte de seu pensamento não exerce influência direta nas escolas de Sociologia atuais,
mas sua obra deixou uma significativa herança, uma vez que ele foi um dos primeiros a considerar a importância da
observação sistemática como parte necessária dos estudos sociológicos. Entre seus principais trabalhos, incluem-se
Curso de filosofia positiva (1830-42); Discurso sobre o espírito positivista (1844); Visão geral do positivismo (1848); e
Religião da humanidade (1856).
Positivismo em contexto
A primeira metade do século XIX, na França, foi marcada por diversos
conflitos políticos e sociais, decorrentes das transformações posteriores
à Revolução Francesa (1789-1799). A produção de Comte acontece ma-
joritariamente nesse período. Entretanto, a era de disseminação do posi-
tivismo viria sobretudo depois, se estendendo, aproximadamente, do fim
da primeira metade do século XIX aos primeiros anos do século seguinte.
Na Europa Central e Oriental, em 1848, ocorria a Primavera dos Povos,
conjunto de revoluções que se insurgira sobretudo contra crises econô-
Autocrático: vem de autocracia. micas e governos autocráticos. A onda revolucionária, no entanto, seria
Um Estado é autocrático quando contida em menos de um ano, pelas forças contrarrevolucionárias. Dessa
governado por um único líder, tal forma, à exceção desses eventos, bem como de uma guerra na Crimeia
como um ditador. Muitas vezes em 1854 e de um conflito franco-prussiano no começo dos anos 1870, a
ao longo da história, como nas era de disseminação e de maior influência do positivismo foi pacífica no
sociedades agrárias, o Estado continente europeu.
autocrático foi formado por
Essa época foi também de expansão de domínios europeus na Ásia e
famílias reais que governavam
por direito tradicional.
na África. Era o chamado neocolonialismo ou imperialismo. Nesse cenário,
potências industriais (sobretudo Inglaterra, França, Alemanha) consolida-
ram as transformações da Revolução Industrial como modo de produção.
108 SOCIOLOGIA
Sociologia
Biologia
Complexidade crescente
Química
Física
Astronomia
Matemática
110 SOCIOLOGIA
A primeira imagem é a ilustração de um ambiente feudal em um livro de orações do século XV; a segunda, de Houël (1735-1813), retrata
um dos eventos da Revolução Francesa (A Tomada da Bastilha); a terceira, de Robert Stieler (1847-1908), ilustra uma área industrial.
Podemos dizer que, para Comte, cada acontecimento desses se encaixaria em um dos três estágios.
Influência de Saint-Simon
Claude-Henri de Saint-Simon (1760-1825) foi um aristocrata fran-
cês cuja obra no campo social inspirou profundamente importantes
autores da Sociologia, como o próprio Auguste Comte, mas também
Karl Marx e Émile Durkheim (cujas obras estudaremos nos próximos
capítulos). Três ideias fundamentais de Saint-Simon são responsáveis
por tal influência. Em primeiro lugar, o conceito conforme o qual a
história é evolutiva e se desenvolve por meio da relação entre novas
formas de pensar, como o Iluminismo e o positivismo, e de novas for-
mas de organização social, como o feudalismo e a industrialização.
Em segundo lugar, a ideia de que a vida social é regida por leis que
podem ser descobertas pela ciência. E, por último, a visão de acordo
com a qual os cientistas e os industriais seriam os mais aptos para
solucionar os problemas sociais, devendo, por esse motivo, ser os
organizadores da sociedade.
Comte foi colaborador e discípulo de Saint-Simon, mas, posterior-
mente, os dois romperiam a parceria, por alguns desentendimentos
ou divergências teóricas. Entre as ideias sansimonistas com as quais
Comte trabalhou mais especificamente estavam a de que a história
humana é marcada pela lei do progresso; a de que o progresso nas
ciências teria levado à superação de concepções teológicas e me-
tafísicas; e a do desenvolvimento do empreendedorismo industrial.
112 SOCIOLOGIA
O desenvolvimento da Europa no século XIX foi importante para a consolidação do imaginário positivista. No desenho, Berlim (Alemanha).
Culto à humanidade
Em Sistema de política positiva, obra publicada na década de 1850,
Comte, movido por um desejo de contribuir para o que ele entendia como
necessidade de profunda regeneração social, preconiza a fundação de
uma religião positivista. Em lugar da veneração a divindades, Comte pro-
põe a veneração da humanidade, apresentada como Grande Ser, englo-
bando vivos, mortos e os que ainda não nasceram.
Inspirado por sua admiração pela estrutura e pela universalidade da
Igreja Católica, o teórico baseou-se em certos conteúdos dessa religião
para elaborar sua proposta religiosa: a doutrina seria composta pelo
pensamento positivista e pelas ciências; haveria sacerdotes e ritos de ini-
ciação, como uma espécie de batismo, entre outros ritos de passagem;
Rito de passagem: celebração
os dias da semana seriam consagrados a uma das ciências tidas como
que, em determinada cultura,
marca alguma mudança de fase
fundamentais (incluindo-se a Moral); haveria dias e meses dedicados a
ou evento de significado especial comemorar pensadores ou autores consagrados (o que faz lembrar as
para um indivíduo ou um grupo, celebrações de datas e santos católicos); e a mulher figuraria como pro-
como aniversários, formaturas, tetora e anjo da guarda (o que foi inspirado em uma amada de Comte
casamentos, funerais etc. associada, ainda, à figura de Maria, mãe de Jesus).
O lema desse sistema religioso é a máxima positivista “O amor por
princípio e a ordem por base; o progresso por fim”, que, como vimos
na abertura deste capítulo, inspirou o lema da atual bandeira brasileira.
Templos positivistas chegaram a ser edificados, inclusive no Brasil.
114 SOCIOLOGIA
O positivismo teve aplicações em áreas como a Medicina, no século XIX. A tela aqui reproduzida é Claude Bernard com seus alunos, do
artista Léon Lhermitte (1844-1925).
116 SOCIOLOGIA
pretendiam compreender
os personagens com base
em uma perspectiva próxima
à científica, analisando a
influência do meio natural, do
contexto histórico e social,
na formação desses.
118 SOCIOLOGIA
Library of Congress
b) Explique em que consiste essa teoria, descre-
vendo seus principais componentes.
Texto 1
A história da Religião da Humanidade está li-
gada ao encontro de Auguste Comte e Clotilde de
Vaux (1815-1846), em Paris, em 1845. Comte ao
conhecer Clotilde se apaixonou imediatamente
por essa jovem mulher casada, porém abando-
nada pelo marido, que se exilou na Bélgica para
escapar de dívidas de jogo. Embora Clotilde não
tenha manifestado o mesmo tipo de sentimentos
pelo filósofo, os dois iniciaram uma intensa ami-
zade e relação intelectual e epistolar – foram 183
2 [...] Já que tais exercícios preparatórios constata- cartas trocadas em um ano, até o falecimento de
ram espontaneamente a inanidade radical das Clotilde, vítima de tuberculose. Essa experiên-
explicações vagas e arbitrárias, próprias da filo- cia dolorosa firmou a compreensão, aos olhos de
sofia inicial, teológica ou metafísica, de agora em Comte, da supremacia do sentimento sobre a racio-
diante o espírito humano renuncia de vez às pes- nalidade para a elevação moral dos homens. Inspi-
quisas absolutas, que só convinham à sua infância. rado portanto no sentimento amoroso despertado
Circunscreve seus esforços ao domínio, que agora por Clotilde, Comte começa a elaborar, a partir dos
progride rapidamente, da verdadeira observação, anos 1850, as bases de uma “religião positiva”, em
única base possível de conhecimentos verdadeira- torno de princípios cívicos e morais como o altru-
mente acessíveis, sabiamente adaptados a nossas ísmo e a honestidade. [...]
necessidades reais. [...] A RELIGIÃO da Humanidade. Templo da Humanidade, s.d. Disponível em:
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. José Arthur Giannotti e http://templodahumanidade.org.br/a-religiao-da-humanidade/.
Miguel Lemos (Trad.). São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 127. Acesso em: 19 maio 2019.
120 SOCIOLOGIA
CONSOLIDANDO SABERES
1 Unimontes-MG 2015 O Positivismo foi uma corrente b) O Positivismo persegue um objetivo principal:
de pensamento filosófico predominante no século XIX descobrir as leis gerais que regem os fenômenos
e início do século XX. Seu mais eminente representan- sociais.
te foi Auguste Comte (1798-1857), que é considerado o c) O Positivismo é uma doutrina filosófica que enfa-
precursor da Sociologia. No que tange às características tiza a busca pelo conhecimento das singularida-
fundamentais do Positivismo, pode-se afirmar, EXCETO: des sociais, dando ênfase ao estudo interpretati-
a) Para o Positivismo, o conhecimento científico é vo das ações de indivíduos em uma determinada
a “bússola da sociedade”. Nesse sentido, é im- coletividade.
prescindível que se tenha o conhecimento acer- d) O Positivismo preza pela regularidade, estabi-
ca dos fenômenos sociais, para que se consiga lidade e bom funcionamento das instituições
prever os mesmos e agir com eficácia. sociais.
122 SOCIOLOGIA
SUPERAÇÃO
UFPR 2017 A sociedade do século XIX era marcada por novas formas de produção material e pela intensa di-
visão do trabalho social entre os homens. É sobre esse assunto, por exemplo, que Auguste Comte (1798-1857)
se debruçou [...]. Segundo ele, a humanidade passaria por três estágios de conhecimento: o teológico, em que
os homens atribuiriam aos deuses as causas dos fenômenos objetivos; o metafísico, no qual os homens re-
correriam a conceitos abstratos para entender o mundo; e o estágio positivo, caracterizado pela organização
racional do trabalho, em que os homens aplicariam métodos científicos para compreender as causas dos fe-
nômenos. [...]. Comte acreditava que a sociologia – ou física social – estaria relacionada a uma hierarquia de
ciências, partilhando com outros ramos do conhecimento humano o mesmo espírito positivo que marcaria
modernidade industrial, mas diferenciando-se pela singularidade de seu objeto de estudo, que não poderia
ser explicado por aspectos biológicos, psicológicos etc. Assim, ao olharmos para a sociedade, deveríamos
buscar as leis sociais que determinariam o curso de evolução da humanidade [...]. Comte legou à imaginação
sociológica uma visão grandiosa dos poderes da disciplina, destacando a possibilidade de se usar o conheci-
mento das leis da sociedade para organizá-la de forma técnica, na direção do progresso pacífico.
MAIA, J. M. E.; PEREIRA, L. F. A. Pensando com a sociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p. 10-11.
Com base nesse fragmento e nos conhecimentos sociológicos, caracterize a Sociologia na perspectiva comtiana, dis-
correndo sobre os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no texto-base e sua relação com o século XIX.
1 Enem PPL 2015 O filósofo Auguste Comte (1798- c) a unidade metodológica entre ciências naturais e
-1857) preenche sua doutrina com uma imagem do ciências sociais.
progresso social na qual se conjugam ciência e polí- d) que o conjunto das ações individuais constitui a
tica: a ação política deve assumir o aspecto de uma sociedade.
ação científica e a política deve ser estudada de ma- e) a formulação de tipos ideais vazios de conteúdo
histórico.
neira científica (a física social). Desde que a Revo-
lução Francesa favoreceu a integração do povo na
vida social, o positivismo obstina-se no programa 3 Uece 2020 Dentre os primeiros teóricos e metodólo-
de uma comunidade pacífica. E o Estado, instituição gos da Sociologia, Auguste Comte (1798-1857) é pos-
to como um dos seus mais importantes iniciadores.
do “reino absoluto da lei”, é a garantia da ordem que
Ele cunhou o termo “Sociologia” para designar esta
impede o retorno potencial das revoluções e engen-
nova ciência social e procurava identificar as causas
dra o progresso.
necessárias ou as leis e lógicas sociais que regem e
BY, C. Introdução à filosofia política. São Paulo: movimentam as sociedades. Comte é um dos inven-
Editora da Unesp, 1998. (Adaptado). tores de uma das mais importantes correntes teórico-
A característica do Estado positivo que lhe permite -metodológicas do século XIX que foi base de muitas
garantir não só a ordem, como também o desejado outras ciências à época.
progresso das nações, é ser A corrente teórico-metodológica postulada por
a) espaço coletivo, onde as carências e desejos da Auguste Comte foi
população se realizam por meio das leis. a) o Positivismo, que procurava explicar, com base
b) produto científico da física social, transcendendo no raciocínio lógico e em métodos, as leis efeti-
e transformando as exigências da realidade. vas que atuam na organização dos organismos
c) elemento unificador, organizando e reprimin- sociais.
do, se necessário, as ações dos membros da b) o Materialismo Histórico Dialético, que demons-
comunidade. tra as bases materiais e históricas fundadoras das
d) programa necessário, tal como a Revolução contradições de classes sociais no capitalismo.
Francesa, devendo portanto se manter aberto a c) a Sociologia Compreensiva, que analisa os sig-
novas insurreições. nificados da ação social que é subjetivamente
e) agente repressor, tendo um papel importante a orientada pelas ações dos indivíduos em socie-
cada revolução, por impor pelo menos um curto dade.
período de ordem. d) a Sociologia Formal, que estuda como os interes-
ses e as finalidades dos indivíduos em interação
constante determinam as formas das sociedades.
2 UEG 2020 A sociologia nasce no contexto da
consolidação da ciência enquanto forma de pen- 4 UPE 2018 Leia os textos a seguir:
samento dominante. Com o desenvolvimento do TEXTO I
capitalismo e a progressiva urbanização, alguns Convicto de que a reorganização da sociedade exi-
pensadores começaram a refletir sobre os pro- giria a elaboração de uma nova maneira de conhecer
blemas da sociedade em transformação, como a a realidade, Comte procurou estabelecer os princípios
fome, o saneamento básico, as longas e fatigan- que deveriam nortear os conhecimentos humanos.
tes jornadas de trabalho etc. A partir desse mo- Seu ponto de partida era a ciência e o avanço que ela
mento, emerge a sociologia, como uma ciência vinha obtendo em todos os campos de investigação.
com objeto e método específicos, e surgem os [...] O advento da sociologia representava para Comte
primeiros sociólogos. Um destes sociólogos foi o coroamento da evolução do conhecimento científi-
Auguste Comte, que fundamentou a sociologia co, já constituído em várias áreas do saber.
a partir do método positivista. O positivismo de MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense,
Comte defende 2006, p. 44.
124 SOCIOLOGIA
126 GABARITO
ANOTAÇÕES 127
128 ANOTAÇÕES