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Reino da Suécia

Conselho de Segurança das Nações Unidas


Primavera de Praga

Estocolmo, 21 de agosto de 1968

Com expressivo respeito, a delegação do Reino da Suécia comparece à reunião


proposta pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), para abordar uma crise tão
significativa e buscar sua melhor resolução, por meio da mediação, visando à paz e à
segurança mundial, que andam ameaçadas por divergências ideológicas entre a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e a Tchecoslováquia, inaceitáveis aos burocratas
soviéticos. Sem embargo, o Reino da Suécia acredita na diplomacia e está disposto a dialogar
com todas as demais nações presentes no CSNU, pois, somente assim, as peculiaridades e os
interesses de cada Estado poderão ser devidamente defendidos e representados.
A princípio, a agitação que marcou a Tchecoslováquia, durante meses em 1968, tem
sido motivo de conflito com a URSS, na medida em que o primeiro-secretário do Partido
Comunista da Tchecoslováquia Alexander Dubcek anuncia reformas políticas que garantem
mais liberdade aos seus cidadãos e ao mercado. No entanto, enquanto atua em consonância
aos intelectuais tchecoslovacos que defendem a ideia de promover um “socialismo com rosto
humano”, contraria os interesses da zona de influência da URSS e do setor ortodoxo, quando
passa a promover movimentos revolucionários que geram fissuras no Partido Comunista (PC),
tais quais as reformas propostas no “Manifesto das duas mil palavras”, redigido por Ludvik
Vaculik, do movimento estudantil checoslovaco, apoiado por países como Iugoslávia,
Romênia e Hungria.
Por consequência, os líderes da União Soviética, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia
e Bulgária se reuniram em Varsóvia, para discutir os eventos ocorridos na Tchecoslováquia.
Logo após a publicação de “As Duas Mil Palavras”, os líderes do Pacto de Varsóvia temiam
que os “experimentos” na democracia multipartidária e, mais importante, a expansão da
liberdade de imprensa levariam a Tchecoslováquia a se retirar do Pacto de Varsóvia, um
evento que eles consideram intolerável. A reunião levou ao que ficou conhecido como “A
Carta de Varsóvia”, na qual eles delinearam seus interesses na “situação em deterioração” da
Tchecoslováquia e advertiram sobre as consequências do contínuo “desvio” do marxismo-
leninismo.
Portanto, pode-se inferir que a fração que assumiu o governo Tchecoslováquia
pretende reformar seu aparato politico, depois da morte de Stalin, Secretário Geral do PC,
“desestalinizando-o”, enquanto representa interesses independentes perante Moscou por meio
do Programa de Ação que apregoa “democratização, reabilitação e federalização”, ao mesmo
tempo que burocratas soviéticos intervêm na política tcheca e interferem em assuntos
puramente internos deste Estado. Dessa forma, caracteriza uma manifestação que busca
autodeterminar sua estrutura política e aparato estatal, a fim de obter liberdade frente aos
interesses da URSS, cuja influência restringe o modus operandi de outra nação. Por outro
lado, também, se observa no ocidente situação semelhante, composta por medidas indecorosas
dos Estados Unidos da América, cujas intervenções igualmente ferem a liberdade política das
nações de sua esfera de influência, dado que foram responsáveis por instaurar ditaduras
latino-americanas caraterizadas por forte repressão e censura.
Perante a crise, o Reino da Suécia considera mister garantir a faculdade de uma nação
possuir autonomia sobre suas decisões acerca do seu território e sua população, conforme sua
própria soberania nacional e defende, em função da democracia, a liberdade dos Intelectuais
da União dos Escritores, da Academia das Ciências e do Instituto de Ciências Econômicas que
iniciaram um amplo movimento de questionamento à política econômica do PC e exaltam a
livre manifestação de ideias, a luta contra a censura, a liberdade de expressão e a livre criação
artística e científica, cerceadas pela URSS. E, não obstante, também, considera as
intervenções dos Estados Unidos da América e suas medidas de supressão de ópticas não
alinhadas ao seu sistema econômico e político, nocivas à autodeterminação dos povos de
melhor escolher sua infraestrutura econômica, produtiva e política.
Destarte, como proposta de intervenção, considera-se que a melhor solução do conflito
seja na qual um mediador neutro e imparcial facilite o diálogo entre os representantes da
Tchecoslováquia e da URSS, em amplo debate, para que seja construído, com autonomia e
fluidez, o melhor acordo para ambos os envolvidos, de maneira pacífica e que não agrida o
status quo da atual ordem, nem desestabilize o frágil equilíbrio existente. Para tal propósito,
esta conferência do CSNU deve ter foco no aspecto da soberania nacional dos envolvidos.
Ademais, ser um delegado ausente de autoridade para impor um acordo aos envolvidos e
representante de uma nação neutra ou integrante do Movimento dos Não Alinhados eleito pela
maioria dos delegados neutros presentes, devem ser características do mediador

Respeitosamente,

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Diogo Queiroz de Medeiros
Representante do Reino da Suécia no CSNU

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